domingo, 18 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Acção e Representação das Mulheres nos media - Seminário de New Bedford

PROJECTO DE CONCLUSÕES
(referentes à sessão de 24 de Junho)

1 - Foi feita uma referência breve à história do "jornalismo de intervenção" na luta pela igualdade entre mulheres e homens, a começar no período da 1ª República, quer em jornais de âmbito nacional, quer nos jornais próprios das associações feministas. É um exemplo a lembrar sempre, pela importância que teve na formação de um nova imagem da mulher, das suas capacidades e direitos enquanto cidadã.

2 - Traçou-se o percurso das acções destinadas a incentivar a participação das mulheres migrantes nos "media", desde o "1º Encontro das Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo", em 1985 - uma iniciativa do Governo português, através da Secretaria de Estado da Emigração, para cumprimento de uma recomendação do CCP - que veio a ser prosseguida por ONG's, sobretudo pela Associação Mulher Migrante, que em 1995 organizou um Congresso Mundial de mulheres emigrantes, (o maior de sempre neste domínio, envolvendo cerca de 400 participantes dos cinco continentes) em colaboração com o Governo, sendo a Secretaria de Estado da Comunicação Social e a Secretaria de Estado da Juventude os principais patrocinadores, a indiciar o acento posto na questão geracional, e também na importância dos media para a consciencialização e mobilização de mulheres e de jovens de ambos os sexos para o envolvimento nas comunidades.
Jornalistas da Diáspora e de Portugal tiveram sempre um papel importante nos projectos levados a cabo por esta Associação, ao longo de mais de 15 anos, e, em particular, nos "Encontros para a Cidadania" (2005-2009), uma "joint-venture" da SECP com a "Mulher Migrante" e outras ONG's, mas só em 2009 se desencadeiam, no mesmo esquema de parceria, os seminários sobre "Acção e Representação das Mulheres nos Media e nos Multimedia": os primeiros especificamente dedicados a esta temática.

3 - Considera-se que a estreita colaboração entre o governo e organizações cívicas existentes na sociedade, nomeadamente nas comunidades, tem revelado as suas virtualidades na compreensão da realidade e no objectivo de a aperfeiçoar, e deu origem a um paradigma que vale a pena continuar.
A Associação "Mulher Migrante" tem ajudado, de facto, a construir esse paradigma como um parceiro de vários departamentos do Governo - da Comissão para a Igualdade, Secretaria de Estado do Conselho de Ministros, com a finalidade de colocar o acento nas questões específicas da emigração, e, mais recentemente, com a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, visando pôr o acento nas questões de género.
A partir de 2005 esta componente de género assumiu nas políticas de emigração uma relevância inédita, sendo os "Encontros para a cidadania - igualdade entre mulheres e homens" realizados em quatro continentes do mundo, com o apoio das Embaixadas e Consulados de Portugal, a presença de membros do governo, e a adesão de colectividades locais, com o objectivo de reconhecer os contributos das mulheres nas suas comunidades e de lhes abrir novas oportunidades.
É um movimento em que não deve haver hiatos nem retrocessos e que se continua verdadeiramente em seminários como este, de Newark. Ao levantamento global da situação das mulheres da diáspora, prosseguido nos Encontros para a Cidadania, segue-se, agora, o enfoque em áreas específicas, de uma importância fundamental, como é a dos ”media” - não só enquanto difusor de progressos já conseguidos e nem sempre constatados, como de alavanca de mais progressos a alcançar.

4 - A qualidade do jornalismo que se conhece na nossa diáspora não é uniforme: há que se limita a reproduzir notícias de agências ou a cobrir festas da comunidade e o que, no outro extremo, faz boas análises e comentários inteligentes, que enobrecem a língua portuguesa e ajudam a sua preservação e divulgação.
Onde falta a qualidade torna-se urgente a reestruturação, através de acções de formação que deviam ser fortemente apoiadas pelo governo português - formação que deve estender-se aos aspectos de gestão.
A vertente da vivência da cidadania, da questão de género, assim como do bom manejo do idioma e da informação sobre o presente e sobre a história do País e da comunidade devia, ser aspectos a integrar nesse projecto de mudança.

5 - Em muitos dos jornais das comunidades há secções ou páginas femininas, que, regra geral, se limitam a reforçar a imagem tradicional da mulher voltada para as tarefas domésticas, como dona de casa, sem grandes interesses, para além da culinária, da moda, das crónicas mundanas e histórias "cor-de-rosa".
Este estereotipo é redutor e não traduz a verdade da vida das mulheres de hoje, significando, pelo contrário um acantonamento das emigrantes, praticamente ausentes nas demais páginas do jornal, das secções mais prestigiadas da cultura, da política, do desporto.
A renovação deste "mini-jornal “dentro do jornal, onde permaneça, como é legítima opção de qualquer periódico, deveria passar pela introdução de outras temáticas - o que as próprias leitoras deveriam exigir e exigirão, se ganharem uma nova consciência do que está em causa. Por exemplo, incluindo histórias de vida de mulheres de grande coragem, de grande rasgo, de sucesso nos mais variados domínios da ciência, às artes, à política, ao desporto. E, evidentemente, também, a história da sua participação na vida comunitária.

6 - A substância do papel da mulher no interior das instituições da sociedade de acolhimento e das comunidades portuguesas mudou muito, nos últimos tempos, e essa grande transformação mal se reflecte num significativo número de meios de comunicação das comunidades,
Entendemos que é essencial denunciar esse desfasamento - revelando experiências, factos, estatísticas, que constituem uma linguagem clara e argumentos concludentes.
Há, pois, que promover estudos sobre o desajustamento da notícia e da iconografia de jornais n0 que respeita à representação da mulher, e encorajar uma leitura dos textos e imagens atenta à discriminação de género.

7 -Considera-se essencial a sensibilização dos leitores dos vários tipos de "media" para as muitas formas de discriminação larvada, que são formas subtis de iludir a igualdade de tratamento de mulheres e homens nas páginas dos jornais, na rádio e na TV. Isto é, ensinar a ler os jornais, nesta perspectiva, com a ajuda de estudos e iniciativas como as que foram referidas no ponto anterior, seguidamente a serem divulgados e discutidos em colóquios ou seminários, como o actual.

8 - Aquém da "leitura" da imprensa escrita, e da informação difundida em outros “media”, importa atentar na sua "feitura", um campo que se fecha ou abre, em muitas variantes, à acção das mulheres, em regra, ainda menos presentes do que aos homens, nas direcções, nas redacções, nos níveis de tomada de decisão.
Esta situação pode explicar, em boa parte, as falhas apontadas ao conteúdo da informação no que respeita à subvalorização do género feminino.
Reconhece-se que há um número crescente de mulheres nos media, mas quase sempre afastadas das secções mais prestigiadas ou mais populares.
E que são ainda escassas as possibilidades de influenciar, realmente, a tomada de decisões, pelo que mesmo que estejam dentro do sistema, não estão em pé de igualdade, nem em posição de mudar o "estado de coisas", a sistemática desvalorização do que é feminino, na vivência das comunidades, ou do associativismo, nos novos papeis que aí a mulheres já estão desempenhando.
Análise crítica, estudos reveladores desta realidade de facto são também objecto de sugestão da nossa parte a centros de investigação, universidades, ONG's e ao Governo, através de apoios ou solicitações no âmbito de protocolos, como aquele em que se estabeleceu o Observatório da Emigração.

9 - Na nossa perspectiva, um jornalismo de qualidade não pode deixar de lado questões como estas, pois a preocupação com o rigor e a objectividade tem de estar sempre a norteá-lo, para "repor a verdade": para projectar uma imagem autêntica, justa e dinâmica da comunidade.
Há que distinguir a boa e a má imprensa e apostar decididamente na primeira, para as acções de sensibilização a empreender - por exemplo, chamando a colóquios e mesas redondas empresários, directores e chefes de redacção dos melhores "media" de língua portuguesa na Diáspora.

10 - Fazemos nossas as recomendações de seminários anteriores realizados sobre estas temáticas na Universidade de Dartmouth, em Massashussets, e em Montreal, sobre a recolhas e divulgação de histórias de vida de emigrantes portuguesas, em parceria com instituições académicas, e apelando a jovens que completam teses de mestrado ou doutoramento.

11 - Neste contexto, não pode esquecer-se o esforço de preservação da língua portuguesa através dos “media”, para o qual a maior participação feminina pode contribuir. As mulheres são muitas vezes atraídas ao centro da vida comunitária, com o intento de ajudar a preservação da língua e da identidade cultural.
Para que os media sirvam perfeitamente este objectivo há que proporcionar aos jovens jornalistas ou candidatos a jornalistas acções de formação, para que possam ajudar outros jovens a dominar melhor a nossa fala.

12- Os multimédia não podem ser esquecidos nesta campanha pela sensibilização para a igualdade: sites e blogues podem constituir os melhores aliados na caminhada para a mudança neste campo. Blogues como o "I Future", surgido em Toronto, e dedicado a jovens dos 8 aos 14 anos, são um exemplo do que se pode conseguir em relação a outros grupos etários ou à questão de género.
Nos multimédia, o acesso geral as possibilidades de comunicação, são muito maiores, para quem quer que seja, nomeadamente para as mulheres. Também a Associação Mulher Migrante fez, em 2008-2009 a preparação do Encontro "Cidadãs da Diáspora" (no qual se apresentaram as conclusões do "Encontros para a Cidadania"), em Espinho, em Março de 2009, com um congresso “on line” ( "Mulher Migrante em Congresso"), mantendo actualmente dois outros blogues: "Biblioteca Mulher Migrante" e "Tertúlia da Diáspora".

13 - Em suma, um duplo desafio se põe às mulheres das comunidades, na sua procura de igualdade de tratamento: como leitoras, que exigem ser retratadas com verdade e como autoras, com liberdade e poder para forçar mudanças.

14 - À SECP se dirige uma palavra de apreço pelas iniciativas pioneiras que foram os "Encontros para a Cidadania" e estes seminários sobre a mulher e a "media" e se recomenda a sua continuação, atendendo ao vasto conjunto de acções que estão implicadas no grande projecto de cidadania e igualdade que as anima, e à utilidade que deve ser atribuída a seminários como o presente, em que todos os participantes se esforçaram por dar uma cooperação empenhada e eficaz, na apreciação da situação actual e no traçar de estratégias para o futuro.
Maria Manuela Aguiar
Junho 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Acção e Representação das Mulheres Migrantes nos "Media" - Newark 2010

CONCLUSÕES
(referentes à sessão de 24 de junho)

1 - Foi feita uma referência breve à história do "jornalismo de intervenção" na luta pela igualdade nentre mulheres e homens, a começar no período da 1ª República, quer em jornais de âmbito nacional, quer nos jornais próprios das associações feministas. É um exemplo a lembrar sempre, pela importância que teve na formação de um nova imagem da mulher, das suas capacidades e direitos enquanto cidadã.

2 - Traçou-se o percurso das acções destinadas a incentivar a participação das mulheres migrantes nos "media", desde o "1º Encontro das Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo", em 1985 - uma iniciativa do Governo português, através da Secretaria de Estado da Emigração, para cumprimento de uma recomendação do CCP - que veio a ser prosseguida por ONG's, sobretudo pela Associação Mulher Migrante, que em 1995 organizou um Congresso Mundial de mulheres emigrantes, (o maior de sempre neste domínio, envolvendo cerca de 400 participantes dos cinco continentes) em colaboração com o Governo, sendo a Secretaria de Estado da Comunicação Social e a Secretaria de Estado da Juventude os principais patrocinadores, a indiciar o acento posto na questão geracional, e também na importância dos media para a consciencialização e mobilização de mulheres e de jovens de ambos os sexos para o envolvimento nas comunidades.
Jornalistas da Diáspora e de Portugal tiveram sempre um papel importante nos projectos levados a cabo por esta Associação, ao longo de mais de 15 anos, e, em particular, nos "Encontros para a Cidadania" (2005-2009), uma "joint-venture" da SECP com a "Mulher Migrante" e outras ONG's, mas só em 2009 se desencadeiam, no mesmo esquema de parceria, os seminários sobre "Acção e Representação das Mulheres nos Media e nos Multimedia": os primeiros especificamente dedicados a esta temática.

3 - Considera-se que a estreita colaboração entre o governo e organizações cívicas existentes na sociedade, nomeadamente nas comunidadades, tem revelado as suas virtualidades na compreensão da realidade e no objectivo de a aperfeiçoar, e deu origem a um paradigma que vale a pena continuar.
A Associação "Mulher Migrante" tem ajudado, de facto, a construir esse paradigma como um parceiro de vários departamentos do Governo - da Comissão para a Igualdade, Secretaria de Estado do Conselho de Ministros, da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, visando pôr o acento nas questões de género.
A partir de 2005 esta componente de género assumiu nas políticas de emigração uma relevância inédita, sendo os "Encontros para a cidadania - igualdade entre mulheres e homens" realizados em quatro continentes do mundo, com o apoio das Embaixadas e Consulados de Portugal, a presença de membros do governo, e a adesão de colectividades locais, com o objectivo de reconhecer os contributos das mulheres nas suas comunidades e de lhes abrir novas oportunidades.
É um movimento em que não deve haver hiatos nem retrocessos e que se continua verdadeiramente em seminários como este, de Newark. Ao levantamento global da situação das mulheres da diáspora, prosseguido nos Encontros para a Cidadania, segue-se, agora, o enfoque em áreas específicas, de uma importância fundamental, como é a dos media - não só enquanto difusor de progressos já conseguidos e nem sempre constatados, como de alavanca de mais progressos a alcançar.

4 - A qualidade do jornalismo que se conhece na nossa diáspora não é uniforme: há os media que se limitam a reproduzir notícias de agências ou a cobrir festas da comunidade e os que fazem boas análises e comentários, e que usar e enriquecer a língua portuguesa.
Onde falta a qualidade torna-se urgente a reestruturação, através de acções de formação que deviam ser fortemente apoiadas pelo governo português - formação que conviria estender aos aspectos de gestão.
A vertente da vivência da cidadania, assim como do bom manejo do idioma e da informação sobre o presente e sobre a história do País e da comunidade e as questões de género deviam ser aspectos a integrar nesse projecto de mudança.

5 - Em muitos dos jornais das comunidades há secções ou páginas femininas, que, regra geral, se limitam a reforçar a imagem tradicional da mulher voltada para as tarefas domésticas, como dona de casa, sem outros interesses para além da culinária, da moda, das crónicas mundanas.
Este estereotipo é redutor e não traduz a verdade da vida das mulheres de hoje, significando,pelo contrário um acantonamento das emigrantes, praticamente ausentes nas demais páginas do jornal, das secções mais prestigiadas da cultura, da política, do desporto.
A renovação de um tal "mini-jornal dentro do jornal", onde permaneça, como é legítima opção de qualquer periódico, deveria passar pela introdução de outras temáticas - o que as próprias leitoras podem exigir e exigirão. Por exemplo, incluindo histórias de vida de mulheres de grande coragem, de grande rasgo, de sucesso nos mais variados domínios da ciência, às artes, à política, ao desporto. E, evidentemente, também, a história da sua participação na vida comunitária.

6 - A substância do papel da mulher no interior das instituições da sociedade de acolhimento e das comunidades portuguesas mudou muito, nos últimos tempos e essa grande transformação mal se reflecte num significativo número de meios de comunicação das comunidades.
Entendemos que é essencial denunciar esse desfasamento - revelando experièncias, factos, estatísticas concludentes.
Há, pois, que promover estudos sobre o desajustamento da notícia e da iconografia de jornais no que respeita à representação da mulher e encorajar uma leitura dos textos e imagens sempre atenta às discriminações de género.

7 -Considera-se essencial a sensibilização dos leitores dos vários tipos de "media" para as muitas formas de discriminações larvadas, que são formas subtis de iludir a igualdade de tratamento de mulheres e homensnas páginas dos jornais, na rádio e na TV. Isto é, ensinar a ler os jornais, nesta perspectiva, com a ajuda de estudos e iniciativas como as que foram referidas no ponto anterior, a serem divulgados e discutidos em colóquios, seminários, reuniões.

8 - Aquém da "leitura" da imprensa escrita, e da informação difundida em outros media, importa atentar na sua "feitura", um campo que se fecha ou abre, em muitas variantes, à acção das mulheres, em regra, ainda menos presentes do que aos homens, nas direcções e nas redacções (ao nível da tomada de decisão).
Esta situação pode explicar, em boa parte, as falhas apontadas ao conteúdo da informação no que respeita à subvalorização do género feminino.
Reconhece-se que há um número crescente de mulheres nos media, mas quase sempre afastadas das secções mais prestigiadas ou mais populares e com escassas possibilidades de influenciar, realmente, a tomada de decisões, pelo que mesmo quando estão presentes, não estão em pé de igualdade, nem em posição de mudar o "estado de coisas", a sistemática desvalorização do que é feminino, na vivência das comunidades, ou do associativismo, nos novos papeis que aí a mulheres já estão desempenhando.
Análise crítica, estudos reveladores desta realidade de facto são também de sugerir a centros de investigação, universidades, ONG's e ao Governo, que, através de apoios ou solicitações no âmbito de protocolos, como aquele em que se estabeleceu o Observatório da Emigração, pode e deve ter acção neste campo.

9 - Na nossa perspectiva, um jornalismo de qualidade não pode deixar de lado questões como estas, pois a preocupação com o rigor e a objectividade tem de o nortear, sempre, para "repor a verdade": para projectar uma imagem autêntica, justa e dinâmica da comunidade.
Há que distinguir a boa e a má imprensa e apostar decididamente na primeira, para as acções de sensibilização a empreender - por exemplo, chamando a colóquios e mesas redondas empresários, directores e chefes de redacção dos melhores "media" de língua portuguesa na Diáspora.

10 - Fazemos nossas as recomendações de seminários anteriores realizados sobre estas temáticas na Universidade de Dartmouth, em Massashussets, e em Montreal, sobre a recolhas e divulgação de histórias de vida de emigrantes portuguesas, em parceria com instituições académicas, (por exemplo, apelando ao trabalho de jovens que estão em vias de completar teses de mestrado ou doutoramento).

11 - Neste contexto, não pode esquecer-se o esforço de preservação da língua portuguesa através dos media, para o qual a maior participação feminina pode contribuir. As mulheres são muitas vezes atraídas ao centro da vida comunitária, com o intento de ajudar a preservação da língua e da identidade cultural.
Para que os media sirvam perfeitamente este objectivo há que proporcionar aos jovens jornalistas ou candidatos a jornalistas acções de formação, para que possam ajudar outros jovens a dominar melhor a nossa fala.

12- Os multimedia não podem ser esquecidos nesta campanha pela sensibilização para a igualdade: "sites" e blogues podem constituir os melhores aliados na caminhada para a mudança. Blogues como o "I Future", surgido em Toronto, e dedicado a jovens dos 8 aos 14 anos, são um exemplo do que se pode conseguir em relação a outros grupos etários ou à questão de género.
Nos multimedia, o acesso está hoje facilitado para quem quer que seja, nomeadamente para as mulheres. Mas fica a pergunta: como estarão elas a utiliza-la? igualmente ou diferentemente dos homens?
A Associação Mulher Migrante fez, em 2008-2009 a preparação do Encontro "Cidadãs da Diaspora" (no qual se apresentaram as conclusões do "Encontros para a Cidadania"), em Espinho, em Março de 2009, on line, no blogue "Mulher Migrante em Congresso", mantendo actualmente dois outros blogues: "Biblioteca Mulher Migrante" e "Tertúlia da Diáspora".

13 - Em suma, um duplo desafio se põe às mulheres das comunidades, na sua procura de igualdade de tratamento: como leitoras, que exigem ser retratadas com verdade e como autoras, com liberdade e poder para comandar a mudança...

14 - À SECP se dirige uma palavra de apreço pelas iniciativas pioneiras que foram os "Encontros para a Cidadania" e estes seminários sobre as mulheres e a "media". Esperamos que seja possível continua-los, porque este é um domínio em que a continuação das acções é essencial para atingir os objectivos que em parceria temos prosseguido.

ENTREVISTA a MANUELA AGUIAR por HUMBERTA ARAÚJO; em Newark, durante o seminário sobre "Acção e Representação da Mulher nos mMdia"

1 - A Associação Mulher Migrante tem tido um papel importante na abordagem das questões do género e do fenómeno das migrações. Em termos práticos como avalia o papel da mesma?
Para quem não conhece a “Associação Mulher Migrante” diria duas palavras sobre a sua instituição, em 1994 : com ela se pretendia dar continuidade ao primeiro Encontro Mundial de Mulheres Migrantes no Associativismo e no Jornalismo, que se realizou em Junho de 1985, pela mão do governo português, cumprindo uma recomendação de Maria Alice Ribeiro, feita através do Conselho das Comunidades em finais de 84 (Maria Alice Ribeiro, a inesquecível jornalista de Toronto e Conselheira das Comunidades!).
Uma das propostas do Encontro (que foi, graças a qualidade e ao entusiasmo dessas mulheres de elite que nele participaram, um sucesso, para alem de ser um evento pioneiro a nível nacional e europeu), pretendia que fosse criada uma organização transnacional capaz de continuar o trabalho encetado de motivar crescentemente as mulheres para a vida comunitária, promovendo reuniões e congressos periódicos.
Eis o que se propunha fazer a Associação, considerando-se herdeira desse projecto e agregando um núcleo de mulheres e homens interessados na problemática das migrações femininas - tanto nos aspectos teórico, de estudo, de conhecimento da realidade, tal como nos aspectos práticos, de acção concreta.
Fazendo um breve balanço destes 16 anos de vida, eu diria que a Associação, enquanto rede de organizações internacionais, tem tido dificuldade de expansão, e de assegurar um funcionamento regular a esse nível, continuando aquém do que desejaríamos que fosse.
Pelo contrário, dentro do pais excedeu as expectativas, tornando-se um verdadeiro parceiro dos departamentos governamentais para a igualdade e para a Emigracao, ao longo destes anos, de uma forma constante e eficaz. Tem contribuído, assim, decisivamente, para a emergência de uma componente de género nas politicas de emigração, que, antes e depois do 25 de Abril, quase não existia ( a menos que, antes de 74, se considerasse como tal as proibições ou limitações acrescidas que as mulheres sentiam para sair do pais...).
Foi sobretudo através do que alguns chamam “congressismo” – dialogo e reflexão em congressos, seminarios, colóquios, reuniões conjuntas entre ONG’s e governo – que se avançou neste domínio, desde o grande encontro de 85.
A Mulher Migrante foi organizadora do segundo Encontro Mundial de Mulheres Migrantes em 95, responsável por muitas iniciativas num circulo mais restrito de especialistas no pais e no estrangeiro, e, mais recentemente, pelos “Encontros para a Cidadania”, que, entre 2005-2009, se levaram a efeito em quatro continentes do mundo para apelar a intervenção civica e politica das mulheres, contando com o patrocínio e a presença de membros do Governo - os Secretários de Estado Jorge Lacão e Antonio Braga.


2- Sabemos que se deve a mulher imigrante o transporte de muitas das tradições e tem sido elas a base invisível do sucesso de muitas das empresas que em diversos ramos da economia estabeleceram o nome de Portugal no estrangeiro: da restauração, limpeza, importação de produtos ligados a gastronomia tradicional, agências de viagens, instituições culturais, imobiliária, creches privadas entre muitos outros. Todavia este poder não tem equivalência em termos de visibilidade ou de poder de decisão. Porque do seu ponto de vista?


Concordo em absoluto com as afirmações sobre a importância do papel das mulheres na vida das comunidades do estrangeiro. Sem elas nem sequer haveria verdadeiras comunidades de língua e cultura portuguesa, pois foi decisiva a entrada das família inteiras nos clubes, mulheres, jovens, para alem dos homens que tradicionalmente os encabeçam, para lhes dar a sua vertente cultural – o ensino da língua, a musica, a dança, o teatro, as festas tradicionais, a gastronomia.
Mas as mulheres, no passado, (no presente as coisas estão a deixar de ser assim...) reproduziam nestes espaços colectivos, o seu papel tradicional no interior da família, aceitando um lugar apagado, ainda que relevante, o que as tornava praticamente invisíveis.
Só se pode sair desta situação por determinação das próprias mulheres e de todos os que compreendem que esse apagamento das suas potencialidades não aproveita a ninguém. As comunidades precisam, cada vez mais, da activa intervenção, do entusiasmo de mulheres, das jovens. Há que lhes dar autoconfiança e orgulho de serem o rosto feminino da comunidade, em instituições mais fortes e equilibradas, do ponto de vista de género e de geração. Em alguns pontos do mundo a sobrevivência das comunidades ja depende dessa sua atitude inovadora!



3 O debate da mulher imigrante nos Órgãos de Comunicação Social tarda. Os problemas são inúmeros. Este e sem duvida um encontro de toda a utilidade. O que espera ele possa trazer para melhorar a situação da mulher repórter na diáspora?

– Sim, tarda e, por achar que sim e que resolvemos apresentar ao SECP Antonio Braga este projecto de organizar em colaboração com os consulados de Portugal de cada área, com meios de comunicação e associações das comunidades e com universidades locais, seminarios sobre “a Acção e representação das mulheres nos media e nos multimédia”.
Com estas iniciativas, queremos, antes de mais, chamar a atenção para o desfasamento entre as contribuições da mulher para a comunidade e para o pais e a sua imagem nos media, quer nacionais, quer também, em gradações diferentes, nos das comunidades da diáspora. Dizia Elina Guimarães que a mulher estava ausente da história porque a sua parte nela não era contada. O mesmo se pode, em certa medida dizer da história do quotidiano, que se regista nos media: lemos as noticias do jornal, assistimos ao telejornal e não ficamos a conhecer o que faz a metade feminina nas artes, na politica, no desporto, na universidade... A proporção de noticias, de reportagens de fotografias sobre os feitos de homens e mulheres e espantosamente desequilibrada, indo alem do próprio desequilíbrio que persiste em certos domínios da vida societal e politica, em desfavor do sexo feminino.
Acho que este fenómeno se pode combater de varias formas, começando por estudos sobre o conteúdo e a iconografia dos media e a sua divulgação e discussão publica – uma legitima e elegante forma de pressão. E, bem assim, por acções concretas, por uma exigência maior das próprias mulheres em ganharem o seu espaço, escrevendo artigos de opinião, utilizando os novos meios tecnológicos - mais acessíveis a todos - lançando campanhas na Net, em blogues, contando as suas experiencias de vida, fazendo carreira nos media, pela qualidade da formação e pela vontade de intervir. Fazer pedagogia, estimular a leitura dos media, com uma maior sensibilidade para os estereotipo sexistas, para a ausência de atenção aos problemas e as realizações das mulheres, na sociedade de hoje. Das mulheres em geral e das mulheres migrantes em particular (eu acrescentaria, no que respeita aos media nacionais, de mulheres e de homens migrantes, porque a nossa emigracao e diáspora anda muito esquecida da Opiniao publica ...).



4 - Falta de formação profissional contínua, a inexistência de uma ligação laboral/sindical que garanta justiça salarial e contratual, acesso aos lugares de decisão nas redacções, um sistema de apoio, informação e uma regulamentação que reconheça o seu trabalho a par dos colegas portugueses para fins de segurança social é algumas das questões levantadas por muitas jornalistas nas comunidades.
Que reposta pode ser dada por parte das entidades portuguesas?

- A resposta a essa questões justas e pertinentes, em termos de medidas concretas, não esta ao alcance de uma ONG com a Mulher Migrante, mas cabe perfeitamente no ambito dos nossos objectivos de estudo e de proposta de soluções, nomeadamente após debates públicos, em colóquios ou reuniões de trabalho, metodologia que, como referi, temos privilegiado.
Assim, num próximo seminário poderíamos dedicar-lhe um espaço adequado. Se houver interesse na nossa colaboração para o fazermos em Toronto ou em Lisboa, em Espinho, num futuro próximo, desde já manifesto toda a disponibilidade.
Poderíamos chamar a essas reuniões as autoridades competentes e ouvir da sua boca a reacção – positiva, esperemos, embora nem tudo possa, eventualmente, ser resolvido do mesmo passo... Pela minha parte, entendo que, como regra geral, devemos olhar solidariamente os portugueses do estrangeiro, como nacionais com os mesmos direitos face ao Estado. No domínio do jornalismo há que saber encontrar a formula concreta para aplicar o principio geral. Em diálogo, naturalmente!


5 - Sem dúvida que a entrada da mulher na tomada de poder nos OCS tem trazido consigo mais justiça e uma imagem mais real dos assuntos abordar pelos media. O que acha pode ser feito junto dos empresários e direcções redactoriais para que haja mais pluralidade e justiça nas redacções comunitárias? Sem dúvida que a entrada da mulher na tomada de poder nos OCS tem trazido consigo mais justiça e uma imagem mais real dos assuntos abordar pelos media. O que acha pode ser feito junto dos empresários e direcções redactoriais para que haja mais pluralidade e justiça nas redacções comunitárias.



Como em todas as profissões e domínios da vida social uma intervenção maior das mulheres, enquanto metade da humanidade tradicionalmente discriminada, assim com a intervenção de grupos minoritários, de estrangeiros representa um enorme enriquecimento, para alem de ser um acto de justiça.
Em Portugal, como e sabido, as jovens são, por puro mérito das classificações, hoje, uma maioria nas universidades e começam a ser maioritárias em muitas profissões que lhes estavam vedadas pela lei , como a magistratura ou a diplomacia, ou pelos usos, como o jornalismo. Mas a sua presença, em massa, nos media portugueses, hoje em dia, contribuindo para a qualidade do jornalismo que temos, com já contribui, não significa por si so uma mudança na forma de representar as mulheres nos media. Para isso seria necessário que elas próprias estivessem conscientes do problema existente (umas estarão, outras não...) e que tivessem acesso aos centros de decisão, de forma igualitária. Estamos longe disso... Uma razão mais para não parar o trabalho, que, na medida das nossas modestas possibilidades, estamos determinadas a continuar: porque não, por exemplo, novas acções de sensibilização desses aliados preciosos que são os directores e empresários dos media.




5 - A terminar questões da língua.
As questões salariais e laborais não atraiam jovens para os OCS. A par disso há o problema da língua Portuguesa. Muitos dos que escrevem para os jornais em português, por questões de idade e outras, acabarão por abandonar o que para muitos não passa de hobbies. Como chamar jovens profissionais interessados/as pela profissão ou pela língua para garantir o futuro da nossa média.


– Na agenda da Mulher Migrante para a promoção da participação feminina, os media tem um lugar central, a par do associativismo, porque são os pilares em que se fundam as comunidades, os meios através dos quais se afirmam e se dão a conhecer. Por isso e tão importante que as portuguesas neles estejam presentes e deles se sirvam para potenciar meios de valorização e de transmissão da língua, dos projectos, das aspirações. Estamos conscientes da importância de lutar pela língua, através da “media”, de a engrandecer literariamente e como veiculo de formação e informação. Acho que seria possível por em pratica um sistema de intercâmbios com estudantes dos cursos de jornalismo existentes nas universidades portuguesas, ou dar bolsas de estudo para sua frequência, ou facilitar, em larga escala, estágios nos meios de comunicação “de referencia”. Independentemente do problema do estatuto salarial e laboral, sem negar a sua importância num jornalismo de qualidade, que possa atrair os melhores (o que tem muito a ver com outra questão impossível de abordar em poucas palavras - a capacidade empresarial dos próprios meios de comunicação e a receptividade e apoios que encontram nos meios associativos e empresariais de cada comunidade), creio que também e preciso motivar os jovens para a aprendizagem da língua e para a admirável “aventura” de fazer com essa bela língua, ainda que sem as condições materiais mais aliciantes, jornalismo de causas, de ” intervenção” – intervenção em prol da cultura, da democracia, da igualdade, das tradições portuguesas, e também da historia, que o grande jornalismo pode e deve traçar em cada época, em cada comunidade. Eu sei que há nas nossas comunidades profissionais tão bons ou melhores do que os melhores que estão no pais. Preciso e que os jovens, de ambos os sexos, sejam apoiados, nas suas comunidades e, também através de programas governamentais, como os que referi, e outros, para que aceitem o grande desafio do jornalismo em português