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O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades celebra o espírito de um Povo – não um acontecimento, uma batalha decisiva, a matriz oficial do nascimento do Reino, a sua fundação ou o seu fundador, mas um traço identitário, que nos levou a desempenhar na História do mundo um papel singular e pioneiro. A aventura da expansão! Vivida por gerações sucessivas, e pelo próprio Camões, que soube enaltece-la num poema épico, que, por si só, o imortaliza e nos imortaliza.
Uma aventura antiga, continuada de outros modos, num encadear de séculos, no curso imparável da nossa emigração, até aos dias de hoje.
Se em quatrocentos e quinhentos os “Lusíadas” rasgaram os horizontes à Humanidade, criaram a era moderna, aproximaram os Povos todos no primeiro movimento de globalização, os Portugueses de agora prosseguem, no mesmo espaço geográfico (que é o das sete partidas do mundo), com os mesmos padrões de comportamento, de convivialidade e vontade de progresso, a construção quotidiana de futuro em sociedades distantes da sua terra, sem nunca esquecerem a Pátria - a “Pátria amada”, como diria o Poeta .
“Os Lusíadas não são nem pretendem ser um poema profético e seria abusivo querer achar nele soluções feitas para os tempos críticos que atravessamos, mas a claridade e a força com que o mundo cultural lusíada permanece vivo no Poema, trazem até nós coordenadas essenciais do ser português que nenhum projecto ou acção nacionais poderão ignorar” .
São palavras ditas no primeiro 10 de Junho que festejei numa comunidade da Diáspora… A meu ver, Camões não podia prever o surgimento das comunidades da emigração, nem a forma actual como elas redimensionam e agigantam a sociedade portuguesa do nosso século, muito para além de um pequeno território, mas a razão de ser desse fenómeno espelha-se já no retrato de um Povo que ele traçou, com a clarividência do seu génio.
Os emigrantes podem reclamar a pertença não ao tempo concreto de uma viagem de aventura, mas a um mundo cultural lusíada, constantemente renovado e sempre marcado pela vontade de “correr mundo”. Com eles, vai a nossa cultura - uma cultura expansiva! (Portugal, no pensamento de Sá Carneiro era “mais uma Cultura do que um território”). Uma razão de esperança, quando Portugal atravessa a maior crise da era moderna.
A interligação e a solidariedade no espaço deste País maior hão-de permitir vencer todos os riscos de uma longa caminhada, em que sempre soubemos transcender-nos, ultrapassar limites, tentar o impossível… e consegui-lo .
Maria Manuela Aguiar
10 de Junho de 2011