É com muitíssimo gosto,
podeira escrever honra ou prazer, que me encontro a escrever estas palavras sobre
a minha participação no “Encontro da Mulher Migrante em Congresso”, e como não
podia deixar de ser aqui Vos apresento mais de meia dúzia de palavras sobre a minha
vida desde há um quarto de século na diáspora:
- Sou filha de um homem,
negociante alentejano, que emigrou para a Alemanha nos anos 60 pelo seu
descontentamento total com a situação em que se encontrava; tinha muitíssimos
clientes, tanto na mercearia-padaria como na tasca-casa-de-pasto, mas a grande
maioria deles não tinha um tostão para pagar a conta. A minha mãe continuou a
dirigir o negócio, até que um ano depois o meu pai a chamou para a terra das grandes indústrias;
não me levou para que eu continuasse a ser uma menina de boas famílias e não
tivesse que ir viver como filha de “Gastarbeiter”, o termo pejorativo para
os imigrantes na Alemanha, e frequentar uma escola cujo sistema e
professores eles não conheciam, a única do conhecimento de meu pai era a escola
Berlitz, onde logo se matriculou para aprender as bases da língua do
Goethe. Como se diz na zona de Odemira,
fiquei entregue aos meus avós e mais tarde fui para um colégio interno. As
férias-grandes, essas costumava passá-las junto deles, na cidade do Julgamento,
em Nuremberga. A minha entrada na
diáspora deu-se pelo meu casamento com o pai da minha filha, um alemão,
germanista virado para a arte e que queria melhorar o mundo, era e continua a
ser membro ativo do partido dos verdes “Die Grünen”, na mesma cidade onde meus
pais viviam. Eu, uma vez que tinha estudado alemão na Escolar Superior de
Tradutores e Intérpretes assim que a minha filha entrou para o
“Kindergarten”//Jardim de Infância, comecei a trabalhar num escritório de
advogados especializado em direito de estrangeiros e asilo-político tal como
direito de família. O meu, nessa época,
ainda marido era o secretário-geral do conselho de estrangeiros da mesma cidade,
tendo eu automaticamente a possibilidade de conhecer migrantes de muitas
cidadanias e culturas, tal como os seus problemas politico-socias. Na minha
ingenuidade entrei para o partido “Die Grünen” para melhor poder lutar pelos
seus interesses. Também entrei para o grupo de trabalho “Mulheres” do mesmo
partido. No ano de 1991 fui eleita
secretária da Associação Portuguesa de Nuremberga, onde até aí as mulheres,
execepto a professora portuguesa que ajudou à criação da mesma, só serviam para
trabalhar na cozinha. Um ano a seguir fui eleita por unanimidade como
presidente da Associação. Tentei durante
esse período de tempo conseguir aqui e ali, ir mais além que os meus
antecessores. Para além da gastronomia e da equipa de futebol, conquistas dos
meus antecessores, dei aulas de alfabetização, alemão escrito e falado para
iniciados. Uma vez que essa casa era
frequentada por oriundos das antigas colónias portuguesas e tinha mandantes no
escritório onde trabalhava, como requerentes de asilo-politico vindos de Angola
e Moçambique, organizei uma sessão de esclarecimento sobre as eleições em
Angola no ano de 1992, com a participação e depoimento de um observador da ONU
que lá tinha estado para essas funções. Muita coisa mais aconteceu e teve o seu
lugar. Muito mais teria para contar, mas
não é esse o meu fim! O mais importante
é que a partir dessa altura os homens, sócios dessa comunidade aprenderam que
uma mulher também pode desempenhar a função de presidente e ser membro da sua administração.
Não aceitei o convite a participar neste congresso para vir aqui contar simplesmente
a minha vida na diáspora. E, como tal vou passar ao tema que muito me aflige, o
Ensino da Língua Portuguesa para os filhos das Migrantes. É certo que a crise
em que Portugal se encontram afeta todos os sectores da vida dos portugueses em
Portugal e agora também na diáspora.
Numa altura em que a emigração portuguesa está a crescer a olhos vivos
foi reduzido o contingente de docentes, em 3 anos, de 625 a 355., e foi
instituída uma propina de 100,-EUR por aluno para países como a Suiça, Luxemburgo,
Reino Unido e Alemanha para 3 horas de “escola” por semana para aulas de
“português para estrangeiros”. Estes
alunos, estas crianças, não só são filhos de portuguesas como também usufruem
da cidadania portuguesa. Independentemente de qualquer teoria eles deveriam era
de aprender o português como língua materna.
E, eu a sonhar com a criação do sistema Pré-Primário a fim de evitar que
não se repita o que aconteceu com a minha filha, que um dia por volta dos seus
quatro anos quando íamos pela rua, eu a falar com ela a nossa língua materna e
a menina levou as suas mãozinhas aos ouvidos e disse: - “Pára, mamã! A partir
de agora não falas mais português comigo!”
“Porquê, Sarah?” “Porque não quero ser tratada como uma estrangeira e
vir a ser discriminada como o papá diz.” O que para nós migrantes portuguesas é uma
utopia é para os filhos dos migrantes italianos e espanhóis uma realidade vera!
Alguém se esqueceu, que uma das principais fontes de divisas de Portugal
vem dos portugueses e portuguesas na diáspora!
Vou terminar com uma frase do nosso grande mestre Fernando Pessoa
„ A minha pátria é a língua portuguesa”.
Nuremberga, 26.09.2013
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