Foi com muito prazer que elaborei as breves notas finais deste Encontro que , tal como os anteriores, acolhe sempre conteúdos ricos, mas este, dotado de grande simbolismo porque marcou o início das comemorações dos 20 anos da Associação de Estudos Mulher Migrante ( AEMM) em torno das questões de igualdade de género em contexto migratório. Dar inicio a esta efeméride, integrada na II
Bienal "Mulheres d' Artes”, promovido pela Câmara Municipal de Espinho, que reuniu muitas artistas da diáspora, foi uma oportunidade de ouvir as próprias artistas sobre interrogações a que é importante dar resposta, e que também suscitaram curiosidade dos jovens estudantes, presentes neste Encontro. Esta bienal de artes no feminino, por ser representativa do universo de mulheres das artes
e, neste caso, da diáspora, é algo de único no país e, por isso, coloca Espinho como pioneira na rota deste tipo de evento o que muito nos orgulha.
Também a parceria com o jornal " As artes e as letras merece um destaque especial na concretização deste Encontro.
"Expressões da cidadania no feminino" será o tema recorrente, como referiu a Dr. Manuela Aguiar da AEMM e que procurará pôr em foco a realidade da vida e obra das mulheres em diferentes domínios da cultura, da intervenção cívica e política, da diplomacia, do empreendedorismo económico.
A Associação, através das suas Presidentes da Assembleia Geral e da Direção, respetivamente Drª
Manuela Aguiar e Drª Rita Gomes, agradeceram e enalteceram a colaboração da Câmara Municipal , em particular da Senhora vereadora, Drª Leonor Fonseca, alma deste evento e do Dr. Armando Bouçon, diretor do Museu Municipal – FACE, que conseguiram acolher uma
exposição com esta dimensão.
Destacaram também o conjunto de atividades desenvolvidas pela AEMM, realçando-se que só foi
possível tal ação graças ao apoio dado pela Secretaria de Estado daa Comunidades Portuguesas.
A mensagem cheia de significado do Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário, cuja presença honrou a Associação, foram reveladoras de que esta continua a
exercer o seu papel na defesa das mulheres em contexto migratório, no reforço da lusofonia e da Portugalidade e divulgação das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Destacou também a importância destas não apenas na perspetiva empreendedora, da área dos negócios e comércio, das remessas, mas também no potencial cultural que elas possuem. Referiu-se à outra metade dos portugueses e seus descendentes que habitam em tantos lugares do mundo e que fazem de Portugal um grande país, não apenas o país de 10 milhões mas muito mais e que a importância do nosso
país é notória e reconhecida em todo o mundo. Daí haver representantes portugueses em todo os organismos de caracter internacional.
Os poemas declamados pelos dos alunos da Escola Básica e Secundária Domingos Capela, sobre o mar e sobre a diáspora, temas de autores portugueses, foram palavras inspiradoras e carregadas de simbolismo , como refere Vergílio Ferreira “ da minha língua vê-se o mar” . Também simbólico foi a exposição das magníficas caravelas feitas de material reciclado pelos alunos, representando "a partida" que faz parte da nossa longa história da diáspora portuguesa.
A Introdução ao tema pela Profª Doutora Isabel Ponce de Leão – Universidade Fernando Pessoa - levou-nos à reflexão em torno de questões que se prendem com o papel das mulheres no mundo artístico e de mobilidade cultural. Referiu o marco da nova corrente estética, o pós-colonialismo, onde ocorre um novo paradigma de sociedade e onde a mulher ganha um novo estatuto e
importância própria.
A segunda comunicação , pela Profª Doutora Ana Gabriela Macedo da Universidade do Minho (“Novas Corpografias de Arte no feminino”) deu-nos a conhecer, de forma muito breve, o seu estudo académico sobre a representação do feminino e da sua identidade na área da pós –modernidade
com incidência na obra de Paula Rêgo, obra inspiradora que provoca admiração e, por vezes, choque. A relação que as mulheres têm com o mundo e com os outros remete-nos para as artistas controversas como uma forma de questionamento e reflexão. A alteridade afirmada não é
apresentada como algo menor mas enquanto diferente e de forma positiva. Por fim, realçou as novas corpografias nos feminino e a arte ligada à cidadania onde as mulheres continuam a ter dificuldade em expor a sua arte.
As intervenções de algumas artistas levou-nos a concluir muito da sua forma de estar no mundo das artes e o seu papel enquanto cidadãs da diáspora e quão rica foi a interligação cultural para o seu desenvolvimento como pessoas e artistas. Foram levantadas questões diversas a suscitar reflexão: redução das horas dedicadas à Educação Visual no sistema de ensino em Portugal; das dificuldades
burocráticas portuguesas no transporte de obras de arte ; a necessidade de uma maior intervenção do Estado em prol das artes; o elevado custo dos mestrados em Portugal em relação ao estrangeiro; os subsídios e sua dependência ou até que ponto o artista terá de ficar enformado pelo circuito comercial para poder sobreviver em vez de ser um criador pleno…
Algumas artistas da diáspora de várias áreas( fotógrafa, pintora, galerista, poetisa…) deram testemunho das suas histórias de vida, onde ficou patente o seu ecletismo cultural e desassossego permanente , importante para o seu sucesso enquanto mulheres, cidadãs e artistas.
A intervenção dos alunos da EBSDC jovens criadores , orientados pelas suas professoras, Filomena Bilber da Artes e Nelma Patela da Língua Portuguesa foi uma forma inspiradora e reveladora de que a AEMM, ao fazer os seus 20 anos de atividade, tem já os olhos postos no futuro, simbolizado aqui pela presença destes jovens. O envolvimento dos mais jovens sobre as questões aqui em
apresentadas torna-se na verdade enriquecedor.
O projeto que aqui começou terá continuidade com as entrevistas que cada jovem irá realizar às artistas plásticas da diáspora aqui presentes nesta exposição e que elegeram tendo em conta a obra que mais gostaram .
Desta forma, obter-se-á uma visão dos jovens sobre a questões da cidadania , das mulheres nas artes da diáspora.
Este é um bom sinal de vitalidade desta Associação que, este ano, celebra 20 anos.
Arcelina Santiago
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