quinta-feira, 2 de outubro de 2014


MULHERES E CIDADANIA NA I REPÚBLICA: MOBILIZAÇÃO E MIGRAÇÃO NA GUERRA DE 1914-1918

 

                                                                                                      Natividade Monteiro[1]

Resumo:

            Este artigo pretende abordar a mobilização, activismo e participação pública das mulheres nas primeiras décadas do século XX, período em que se verificou a emergência e consolidação do primeiro movimento feminista português, a implantação da República e a I Guerra Mundial. Através do associativismo, as mulheres tomaram a palavra, denunciaram problemas, propuseram soluções, defenderam ideias e ideais, reivindicaram direitos e serviram causas que julgaram justas, nobres e patrióticas. O movimento feminista português não esteve isolado; esteve presente nas organizações internacionais e na diáspora. As organizações femininas que surgiram durante a guerra, partindo embora de diferentes pressupostos e motivações, empenharam-se no apoio material e moral aos combatentes e na assistência aos feridos da guerra, apresentando diferentes vias de participação política e novas formas de cidadania. Feministas, republicanas, monárquicas e católicas afirmaram-se como elementos agregadores da sociedade e trabalharam pelo bem comum, agindo como cidadãs de pleno direito.  

 

Palavras-chave: mulheres, associativismo, cidadania, internacionalismo, diáspora, I Guerra Mundial.       

 

Associativismo e cidadania

            A mobilização e o activismo das mulheres portuguesas durante a Guerra de 1914-1918 não se pode desligar do movimento associativo feminino e feminista que se iniciou em 1906 e que ganhou maior expressão com o advento da República. Um grupo de intelectuais, escritoras, médicas e professoras, que se vinham destacando pela escrita em periódicos generalistas, regionais, femininos e feministas, reunia-se regularmente em casa de Ana de Castro Osório (1872-1935) e de Olga Morais Sarmento da Silveira (1881-1948), onde se debatiam questões de cultura, literatura, ciência, educação, arte e emancipação feminina. Do intimismo das tertúlias literárias, as mulheres deram o salto para o espaço público com a criação das primeiras associações pacifistas e feministas que se propunham promover a paz entre os povos, reduzir os exércitos e o armamento a nível mundial e resolver os conflitos através da arbitragem de comités femininos instalados em todos os países. O pacifismo e a fraternidade internacional tornaram-se assim uma via de participação pública das mulheres.

            A atribuição do Prémio Nobel a Bertha von Sutner (1843-1914), em 1905, a autora da obra pacifista “Abaixo as Armas”[2], publicada em 1889, que denunciava o crescente militarismo na Europa, as consequências do nacionalismo exacerbado e os efeitos da guerra, deve ter reforçado a adesão das mulheres à causa da Paz. Magalhães Lima (1850-1928), o lídimo defensor da paz universal[3], e Alice Pestana (1860-1929), a pioneira que fundou em Portugal a Liga Portuguesa da Paz em 1899[4], deram o impulso para o aparecimento deste movimento que se traduziu em 1906 pela criação da Secção Feminista da Liga Portuguesa da Paz e do Comité Português da associação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes. A escritora Olga Morais Sarmento da Silveira, a jornalista Virgínia Quaresma (1882-1973), as médicas Domitila de Carvalho (1871-1966), Maria do Carmo Lopes (1875-?), Emília Patacho (1870-1940), Adelaide Cabete (1867-1935), Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911) e outras feministas como Jeanne de Almeida Nogueira, Madaleine Frondoni Lacombe (1858-1936) e Albertina Paraíso (1864-1954) foram as protagonistas deste movimento pacifista de fraternidade internacional que se esboroou por ocasião da fundação da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 1908-1909. O aparecimento desta associação feminista e política marcou a separação entre monárquicas e republicanas que até à data tinham convivido e trabalhado por objectivos comuns. Durante a Grande Guerra os ideais pacifistas foram olvidados por umas e por outras que estarão novamente presentes no espaço público e unidas pelo ideal do “bem da Pátria”, no apoio aos combatentes, mas trabalhando separadamente e em clima de conflito ideológico, alimentado sobretudo pelos homens que transpunham para as organizações femininas as divergências quanto ao regime político e às crenças religiosas. No período entre as duas guerras, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas[5] e a Associação Feminina Portuguesa para a Paz[6], alinhados pelo movimento protagonizado pela Liga Internacional das Mulheres para a Paz e a Liberdade, vão manter vivo o ideal pacifista através de uma pedagogia e acção a favor da paz universal. Muitas das mulheres que nesta época militavam no pacifismo eram opositoras declaradas do regime autoritário salazarista que extinguiu o CNMP em 1947 e a AFPP em 1952.         

            Com a participação pública no movimento internacional pacifista as feministas portuguesas iniciaram um caminho de afirmação da sua identidade, tomando voz sobre assuntos de interesse colectivo e firmando publicamente compromissos em torno de ideais comuns de paz, liberdade, emancipação e igualdade de direitos jurídicos, cívicos e políticos. As associações feministas, maçónicas, políticas, sufragistas, patrióticas e nacionalistas que se lhe seguiram, antes e depois da implantação da República, foram laboratórios de ideias, de discursos alternativos ao sistema vigente, de invenção de novas estratégias de luta e espaços criativos de acção e de cidadania. Foi através do associativismo e da sua imprensa que as mulheres deram voz às suas reivindicações, combateram leis e preconceitos seculares que perpetuavam as desigualdades e questionaram os papéis e esferas de influência de homens e mulheres na família, na sociedade e na política. Elas tomaram consciência de que associadas seriam uma força colectiva de interacção social que poderia revolucionar a sociedade e mudar o estatuto de inferioridade em que se encontravam.

            Nas associações, as mulheres desafiaram a ordem legal porque foram além do socialmente permitido ao seu sexo, combateram a subalternidade e a marginalização a que tinham sido votadas e protagonizaram a modernidade que pretendiam imprimir à sociedade e ao país. Adoptaram um contra discurso que se afirmou lentamente e se difundiu através da imprensa associativa, criando uma comunidade alargada de leitoras e leitores e reforçando o sentimento de pertença a um corpo social comum, na acepção de Benedict Anderson[7]. O associativismo e a sua imprensa foram uma janela aberta sobre o movimento feminista nacional e internacional, sobre o país e o mundo, ao trazerem para o debate os problemas sociais e políticos e reclamarem para as mulheres o lugar a que tinham direito. Durante a guerra, a imprensa associativa fez-se eco da contribuição das mulheres dos países beligerantes para o esforço de guerra tanto na frente interna como na frente de combate, apontada como exemplo a seguir pelas portuguesas. Através das associações, as mulheres, embora privadas de muitos dos direitos que reivindicavam, agiram no quotidiano como cidadãs, ultrapassando muitas das barreiras que lhes tinham sido impostas.   

          A luta de um grupo alargado de mulheres das elites urbanas letradas que, ao longo de quase três décadas protagonizou o primeiro movimento feminista, saldou-se por algumas conquistas, como a lei do divórcio, as leis da família que conferiam igualdade de direitos aos cônjuges, a investigação da paternidade ilegítima, o acesso à função pública e às carreiras jurídica e universitária e a licença de maternidade para as professoras. A maior derrota foi, sem dúvida, a não concessão do direito de voto, derrota mais difícil de aceitar pelo valor simbólico que as feministas lhe atribuíam a ponto de se tornar a principal bandeira reivindicativa do feminismo internacional, porque na perspectiva das activistas só o voto lhes podia conferir a condição de membros da pólis, dar-lhes a palavra na ágora e permitir-lhes a participação política na condução da res publica. As feministas republicanas, tal como os seus correligionários, pretendiam ser cidadãs livres, emancipadas e iguais em direitos, mulheres modernas numa sociedade democrática que queriam construir ao lado dos homens. Os símbolos da República eram inspiradores na luta por um mundo mais justo e melhor, em que os ideais da liberdade, da igualdade e da fraternidade fossem uma realidade num mundo em constante progresso material e cultural.[8]

As dirigentes feministas, Ana de Castro Osório, Maria Veleda (1871-1955), Adelaide Cabete, Carolina Beatriz Ângelo, mas também Ana Castilho (?-1916), Mariana Silva (1867-1950), Filipa e Lídia de Oliveira, Beatriz Pinheiro (1872-1922), Evelina de Sousa (1879-1946), Alice Moderno (1867-1946) e ainda Elzira Dantas Machado (1865-1942) e as suas filhas, entre muitas outras, constituíram-se na vanguarda mobilizadora do movimento com um plano reivindicativo, apoiado no associativismo. Reivindicaram a igualdade de direitos e intervieram nos acontecimentos, desde a propaganda republicana até à defesa e consolidação do regime. Sempre que os ideais da República estavam em perigo, elas marcavam presença, escrevendo, discursando, reunindo, conspirando, protestando e manifestando-se. Aconteceu nas incursões monárquicas, na ditadura de Pimenta de Castro e na participação de Portugal na I Guerra.

 

O feminismo português nas organizações internacionais e na diáspora

Nas primeiras décadas do século XX, as mulheres portuguesas fundaram cerca de duas dezenas de grupos e associações com fins diversos mas todos eles pautados por uma maior intervenção social, cultural, cívica e política, no desejo e na prática quotidiana de uma mais ampla cidadania. Este movimento associativo não caminhou isolado mas sim integrado internacionalmente, através das relações estreitas entre organizações similares e federações, a permuta de periódicos,[9] a correspondência e as relações de amizade entre as feministas portuguesas e estrangeiras, sobretudo com as da Europa e da América Latina. De salientar a convivência das feministas portuguesas com figuras estrangeiras de destaque que visitaram Portugal, como Gabrielle Alphen-Salvador (1856-1912), secretária do Conseil National des Femmes Françaises; Belén de Sárraga (1854-1951), médica feminista, republicana e livre-pensadora; Madeleine Pelletier (1874-1939), médica feminista e jornalista que pretendeu reportar a campanha sobre o voto feminino em Portugal; Paulina Luisi (1875-1949), que visitava frequentemente Portugal e onde viveu alguns meses entre as suas deslocações aos Congressos Feministas e Abolicionistas, nomeada sócia honorária do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e filiada nas Lojas Maçónicas Humanidade do Grande Oriente Lusitano Unido e Humanidade do Direito Humano; Carmen de Burgos (1867-1932), escritora feminista que visitou amiúde Portugal desde 1915 e onde viveu por largos períodos entre 1919 e 1926; Louise Ey (1854-1936) professora e feminista que trabalhou muitos anos em Portugal e se empenhou na divulgação do voto de Carolina Beatriz Ângelo na imprensa alemã; Elisa Soriano Fischer (1891-1964), médica oftalmológica e presidente da Juventude Universitária Feminista de Espanha que participou no Congresso Feminista e da Educação, em 1928.[10]

O Internacionalismo do movimento português, iniciado com o pacifismo, prosseguiu com a filiação da Associação de Propaganda Feminista na International Women Suffrage Aliance, em 1911, e do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas no International Council of Women, em 1914. Porém, a presença das portuguesas nos Congressos Internacionais foi escassa, devido sobretudo à falta de recursos financeiros. Em 1911, a Associação de Propaganda Feminista, convidada a comparecer no 6.º Congresso da International Women Suffrage Aliance, realizado em Estocolmo, fez-se representar pela secretária desta organização, Martina Kramers (1863-1934). Em 1913, as portuguesas também não estiveram presentes no 7.º Congresso realizado em Budapeste, apesar de terem nomeado uma delegação de sete dirigentes feministas para o efeito. O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas também se fez representar por Avril de Sainte-Croix no Congresso de Roma, em 1914, e por Paulina Luisi[11], nos Congressos de Genebra e de Oslo, em 1920. O privilégio da representação portuguesa coube a Adelaide Cabete, nos Congressos de Roma e de Washington, em 1923 e 1925, respectivamente.[12] Durante a Grande Guerra, as feministas das três associações mais representativas declinaram os convites para participarem nos Congressos Internacionais Pacifistas e alinharam pelo discurso patriótico e nacionalista em detrimento do internacionalismo pacifista. 

A influência do feminismo português no estrangeiro também se verificou através da circulação da imprensa associativa, da correspondência, sobretudo, a de Ana de Castro Osório com as feministas francesas, espanholas e sul-americanas, e da mobilidade de algumas feministas. Depois de Alice Pestana se ter fixado em Espanha, após o seu casamento com o professor Pedro Blanco Suárez, em 1901, Ana de Castro Osório foi a dirigente feminista que mais influência terá exercido no país vizinho. Graças à amizade com a escritora espanhola Carmen de Burgos, deslocou-se a Madrid em 1920 a convite desta, contactou com as feministas espanholas e influenciou a fundação da Cruzada das Mulheres Espanholas à semelhança da Cruzada das Mulheres Portuguesas, fundada em 1916, de que adiante se falará.

A Cruzada das Mulheres Espanholas foi fundada em 1 de Agosto de 1920, por iniciativa de Carmen de Burgos e com a participação das dirigentes do Conselho Nacional das Mulheres Espanholas e da União das Mulheres de Espanha, entre outras. Com objectivos diferentes da associação portuguesa, a Cruzada das Mulheres Espanholas era eminentemente sufragista. Reivindicava a reforma do código civil, o divórcio, a investigação da paternidade ilegítima, a igualdade entre filhos legítimos e ilegítimos e o direito de voto. Em 30 de Maio de 1921, organizou a primeira manifestação nas ruas de Madrid para entregar no Congresso um manifesto com nove pontos que resumiam as aspirações de igualdade jurídica, civil, social, económica e política e a abolição da prostituição regulamentada. O manifesto foi apoiado por mulheres aristocratas, intelectuais, professoras, estudantes, artistas e operárias e a manifestação surpreendeu os deputados, de acordo com as noticias dos jornais O Heraldo e El Liberal.[13]

Ana de Castro Osório e Elzira Dantas Machado terão pertencido à Liga Internacional de Mujeres Ibéricas e Hispanoamericanas, também conhecida como Liga de Mujeres de la Raza, fundada pela mexicana Elena Arizmendi (1884-1949)[14] após o Congresso de Baltimore em 1922, para contrariar a hegemonia das organizações anglo-saxónicas que se sobrepunham às do resto do continente e menorizavam as mulheres hispanoamericanas. A intenção era contrapor àquelas a força resultante da união das figuras e organizações ibero-americanas, numa grande federação de raças que desvalorizasse as nacionalidades, uma utopia da “raça cósmica”, pelo que as feministas Carmen de Burgos e Paulina Luisi figuravam na presidência da nova Liga Internacional, com sede em Madrid e comités em todos os países.[15]        

Ana de Castro Osório acompanhou o marido no seu consulado em São Paulo, entre 1911 e 1914, onde contactou com as feministas brasileiras, participou na vida cultural paulista e publicou na imprensa local, como aliás, já o tinha feito antes, ainda que esporadicamente. Manteve correspondência com Maria Lacerda de Moura,[16] a feminista rebelde brasileira[17] que facultou aos leitores da sua revista Renascença textos da feminista portuguesa. Ana de Castro Osório ultrapassou os círculos feministas quando em 1923 revisitou o Brasil, por ocasião do centenário da independência, e proferiu conferências em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Pelotas, Porto Alegre e Santa Maria, das quais resultou o livro “A Grande Aliança”[18], e alargou também o seu campo de influência ao público escolar com os seus manuais didácticos, aprovados pelo governo brasileiro.  No Rio de Janeiro, viveu também a feminista Virgínia Quaresma que trabalhou como jornalista-repórter no jornal A Época e em Curitiba, fixou-se a escritora Mariana Coelho (1857-1952) que se destacou nos meios culturais, educativos e feministas do Brasil, caracterizada posteriormente como a “Beauvoir Tupiniquim”.[19]

O feminismo português também se estendeu a África e ao Oriente. Em 1929, a dirigente feminista Adelaide Cabete, desiludida com a ditadura militar instalada em 28 de Maio de 1926, emigrou para Angola e fixou-se em Luanda até 1934, onde exerceu a medicina, defendeu os direitos dos indígenas e votou a Constituição de 1933. Domingas Lazary do Amaral, professora feminista e republicana, foi a representante da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas em Luanda e colaborou nas organizações feministas da época. Escreveu na imprensa associativa e em 1916 denunciou nos jornais A Capital e A Semeadora a situação das mulheres que se encontravam no Depósito Geral de Degredados, sujeitas aos abusos sexuais dos próprios carcereiros e promoveu uma campanha pela “moralização dos usos e costumes dentro do Depósito…”[20] que se estendeu à imprensa angolana e à de Lisboa e Porto. Apesar dos cortes da censura aos seus artigos e de ser processada judicialmente, ela não receou reclamar uma investigação sobre o que se passava naquele estabelecimento prisional para que se acabasse com a impunidade e se fizesse justiça. Fixada em Lisboa, pertenceu aos órgãos directivos do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e, na década de vinte, colaborou na organização do Congresso Feminista e da Educação e do Congresso Abolicionista. A Cruzada das Mulheres Portuguesas também teve uma subcomissão em Amboim, Gabelas, Angola, constituída por Beatriz Alves Ferreira, Ema Alves Ferreira e Idalina Carvalho, para apoiar os combatentes na frente africana.

De Ribandar, na Índia, a professora feminista Maria Ermelinda de Stuart Gomes fazia chegar ao jornal A Semeadora e às revistas Alma Feminina e Portugal Feminino textos sobre a situação das mulheres indianas e asiáticas. Foi conferencista na I Exposição Colonial Portuguesa[21], em que dissertou sobre o mesmo tema e escreveu também algumas obras sobre a história dos portugueses na Índia. Quando fixou residência em Portugal presidiu à Secção de Educação do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Já na década de 30 do século XX, outra escritora feminista se destacou em Goa, Rosalina Filomena da Cunha e Soares Rebelo (1908-2007) que escreveu na imprensa local e na revista Portugal Feminino. Os seus escritos feministas e literários estão reunidos no livro intitulado “Ao sopro das brisas fagueiras do Índico”,[22] destacando-se os dez artigos sobre o movimento feminista no mundo, na Ásia e na Índia portuguesa, escritos em Nova Goa, entre 1930 e 1935.                                    

 

Mobilização e migração feminina na Guerra de 1914-1918

A I Guerra Mundial surpreendeu as feministas portuguesas ainda mal refeitas da não concessão do voto feminino na lei eleitoral de 1913. Entre as esperanças das petições e representações aos órgãos de soberania e as desilusões que se seguiam a cada legislação e a cada acto eleitoral, as feministas confessavam-se atraiçoadas pelos correligionários mas continuavam fiéis à República, porque os ideais estavam acima dos homens. Aos olhos das pacifistas que, como Maria Veleda,[23] partilhavam a ideia do “natural” pacifismo feminino, ligado ao mito da maternidade, a Guerra desencadeada em Agosto de 1914 era fruto da tirania do imperialismo militarista que, movido pelos interesses económicos e coloniais, fazia tremer o mundo no regresso à barbárie e punha em perigo os valores da civilização, da liberdade, da democracia e da igualdade de povos, raças e sexos. Todavia, com a guerra a alastrar por toda a Europa, as feministas puseram de lado os compromissos com o pacifismo e a fraternidade internacional e abandonaram a luta pelo voto para apoiarem os projectos belicistas dos governos nacionais, em nome do patriotismo, apresentado como “benigna e respeitável forma de nacionalismo”.[24]

No início, a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, pela voz da dirigente Maria Veleda, declara “guerra à guerra” e apela à revolta do povo para esmagar nas suas mãos ciclópicas “a cabeça da víbora da tirania”[25] mas, perante a inevitabilidade do conflito, apoia também o programa do Partido Democrático e defende a participação de Portugal ao lado da Inglaterra. Ana de Castro Osório, que não acreditava na paz perpétua e defendia o militarismo, via na guerra uma oportunidade para as mulheres mostrarem o valor e capacidades de gestão da vida familiar e social, intervir na economia, trabalhar em todas as actividades e participar nas decisões políticas do país. O exemplo do voluntarismo e empenho das mulheres dos países beligerantes, belgas, francesas, inglesas e russas, que trabalhavam no campo, nas fábricas, nos serviços e no apoio aos exércitos, chegavam a Portugal através da imprensa e serviam de incentivo para a mobilização das portuguesas. Todas acreditavam que trabalhando na frente interna em prol dos interesses da Pátria seriam recompensadas com a concessão de direitos de cidadania.[26] O futuro iria demonstrar que as mulheres ficam sempre reféns das políticas de guerra. Durante o conflito, substituíram os homens e asseguraram a manutenção da sociedade civil, ganharam autonomia e desenvolveram competências e responsabilidades mas no pós-guerra foram remetidas para o lar para dar lugar os homens e incentivadas a repor a população perdida; valorizou-se a maternidade e reforçaram-se os mitos das identidades de género.           

Ainda em 1914, Ana de Castro Osório, Ana Castilho (?-1916), Antónia Bermudez e Maria Benedicta Mouzinho de Albuquerque Pinho (1864-1939) fundaram a Comissão Feminina “Pela Pátria” para fazer propaganda patriótica e orientar o trabalho feminino no esforço de guerra. Comprometeram-se a bordar uma bandeira para os soldados portugueses levarem para a frente, a confeccionar agasalhos e a recolher donativos para apoiar os combatentes. Esta Comissão, nascida no seio da Associação de Propaganda Feminista e apoiada pela Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, mobilizou sobretudo as militantes professoras que ensinavam as alunas a tricotar e a costurar peças de vestuário para os soldados que já combatiam em África. Com a declaração do estado de guerra em Março de 1916, monárquicas e republicanas automobilizam-se para o apoio material e moral aos combatentes, famílias e órfãos, antecipando-se a qualquer iniciativa governamental de mobilização feminina. Apesar de a guerra das trincheiras se mostrar longa e devoradora de homens e de armas, os governos demoraram a admitir que as mulheres eram necessárias para substituir os homens em todos os sectores de actividade e nem todos as mobilizaram oficialmente. Em Portugal, apesar de Ana de Castro Osório chamar a atenção do governo para recorrer ao concurso das mulheres, este preferiu delegar na Cruzada das Mulheres Portuguesas a função de uma mobilização oficiosa, através da “Inscrição Patriótica”[27] lançada em Abril de 1916.

 As monárquicas e católicas também vieram a público manifestar o seu apoio material e moral aos combatentes, criando para o efeito a Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra. Sob a presidência da Condessa de Burnay, Maria Amélia de Carvalho Burnay (1847-1924), que mais tarde cedeu o lugar à Condessa de Ficalho, Maria Josefa de Mello (1863-1941), esta associação reunia as senhoras da aristocracia e da alta burguesia que ainda há pouco tempo frequentavam a Corte e os corredores do poder e que a República relegou para o plano das vencidas. Detentoras de grande poder económico, ligadas à propriedade fundiária, aos grandes negócios e à alta finança, sempre exerceram a filantropia, a caridade e a beneficência nas associações pias de inspiração cristã. Apesar de estarem alguns anos afastadas do espaço público, com a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, mobilizaram-se, tomaram a palavra e dispuseram-se a agir, procurando restabelecer o lugar e a influência que detinham na sociedade. Sob o lema da caridade e do bem-fazer ou porque pretendiam contribuir para a modernização da assistência hospitalar com a introdução da enfermagem laica feminina, apesar de discordarem do regime político e, quiçá, da política intervencionista do governo da União Sagrada, demonstraram o seu patriotismo ao contribuírem para o esforço de guerra.

À semelhança do que acontecia nos outros países beligerantes, pretendiam servir o país como enfermeiras, ombreando com as mulheres do povo, animadas “na mesma fé, no cumprimento nobilíssimo do dever”[28]. Tendo em conta a natureza da guerra que se travava e o poder das armas utilizadas, haveria muitos feridos para tratar e as baixas seriam enormes, o que suscitava outra preocupação às católicas face à laicização do Estado e da sociedade; a assistência religiosa aos combatentes estava em risco. O Dr. Thomas de Melo Breyner (1866-1933), monárquico e católico que as incentivava e as apoiava na retaguarda[29], foi um dos mais visíveis defensores da presença dos capelães junto dos soldados, combatida pelos sectores mais radicais do anticlericalismo republicano e protelada pelo governo que se recusou a despender qualquer verba para os remunerar.  

O projecto de formar enfermeiras de guerra, acarinhado pelos médicos Tomás de Melo Breyner, Reinaldo dos Santos e Domitila de Carvalho, não vingou por decisão do governo que receava o poder e influência do movimento monárquico e católico. O Ministro do Interior determinou que as candidatas a enfermeiras frequentassem os cursos de enfermagem entretanto abertos pela Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha. Esta instituição já tinha aberto seis cursos de enfermagem no início de 1915 e, após a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, abriu outros tantos, entre Abril e Julho de 1916, em que se inscreveram cerca de 130 mulheres, muitas delas ligadas à aristocracia monárquica, como a Condessa de Ficalho, então com 53 anos. De salientar que grande parte destes cursos foram ministrados pela médica feminista e pacifista Maria do Carmo Lopes, membro da Comissão Central da Cruz Vermelha. Nos três anos de guerra que se seguiram a Cruz Vermelha manteve sempre cursos abertos para suprir as necessidades dos seus hospitais, visto que nem todas as diplomadas exerciam depois a profissão.  

Coarctada nas suas ambições, a Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra limitou-se à recolha de fundos para auxiliar as famílias dos soldados, as crianças mais desfavorecidas e os órfãos de guerra, à confecção de agasalhos e ao apoio moral aos combatentes. Fundou a Casa da Assistência, a Casa Maternal e um Dispensário para assistência médica, medicamentosa e alimentar. A recolha de donativos tomou maior expressão com a Festa da Flor realizada em 1916, por iniciativa do jornal O Século e em que participaram monárquicas e republicanas. Realizada depois de forma autónoma, em 1917 e 1918, sob a coordenação de Genoveva de Lima Mayer (1886-1963), envolveu mulheres de Lisboa, Porto e Coimbra e rendeu quantias consideráveis de modo que aquela responsável pretendeu aplicá-las na criação de um hospital para os combatentes psicologicamente afectados pelo trauma da guerra, ideia inovadora que antecipa em mais de 50 anos o reconhecimento do “stress de guerra”.

Sofia de Carvalho de Melo Breyner (1875-1948), tomou a direcção da Obra das Madrinhas de Guerra, ideia importada de França por Jane Bensaúde e que mobilizou mulheres de várias idades e diversos estratos sociais para o apoio material e moral aos combatentes e respectivas famílias. Os capitães militares mediavam o processo de envio de cartas, livros, instrumentos musicais e objectos religiosos. Os republicanos acusavam-nas de sectarismo político e religioso e de se aproveitarem da fragilidade psicológica de quem convivia diariamente com a morte para catequizar e apelavam ao governo para que se acautelasse o respeito pelo dever de elevar o ânimo patriótico dos soldados. Se os anticlericais consideravam o movimento das madrinhas de guerra “um filão de propaganda religiosa, nociva aos combatentes”, um capelão do CEP, o padre Avelino de Figueiredo, elogiava-as porque “consolavam muita lágrima, matavam muita fome e suavizavam muita amargura”.[30]  

       Com os mesmos fins nasceu em Coimbra a Sociedade da Cruz Branca, sob os auspícios de Maria Isabel Oliveira Pinto da França de Tamagnini de Abreu e Silva (1861-1949) que, depois de o seu marido ter sido nomeado comandante do CEP, cedeu a presidência à Condessa do Ameal, Maria Benedita Barbosa Falcão de Azevedo Bourbon (1879-1957). Não se lhe conhecem iniciativas próprias mas colaborou com a Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra na Festa da Flor e no movimento das madrinhas de guerra. No Porto, a enfermeira da Cruz Vermelha, Ana José Guedes da Costa (1860-1947), criou a Liga das Mulheres Portuguesas, em 1917, para apoiar os feridos de guerra e as suas famílias e organizou também a Festa da Flor para recolha de fundos. Chefiou o corpo de enfermeiras no Hospital da Cruz Vermelha, instalado no Hospital de Crianças Maria Pia, que tratou os combatentes e os civis vítimas do tifo exantemático, e fundou no seu próprio solar em Mancelos, Vila Meã, um hospital para tratar os doentes da gripe pneumónica. Visando os mesmos fins, outras associações foram criadas por esse país fora, das quais resta apenas um efémero rasto nos periódicos da época. A falta de tradição na preservação dos espólios documentais respeitantes às actividades femininas cria grandes entraves à reconstituição historiográfica do passado e, sobretudo, à reescrita da História das Mulheres.    

A conjuntura política beneficiaria as pretensões das republicanas. Declarado o estado de guerra em Portugal, elas apressaram-se também a informar a opinião pública de que estavam dispostas a protagonizar a manutenção da sociedade civil e a ter um papel relevante na frente interna e externa. Por iniciativa de Elzira Dantas Machado, esposa do Presidente da República, fundaram a Cruzada das Mulheres Portuguesas, “uma instituição patriótica e humanitária, destinada a prestar assistência ao que dela necessitarem por motivo do estado de guerra com a Alemanha”.[31]  O núcleo fundador na nova associação era constituído por quase uma centena de mulheres da elite republicana, entre as quais se contavam as esposas, filhas e parentes próximas dos membros do governo da União Sagrada com relevo para os do Partido Democrático. Foi a única colectividade que agregou mulheres sem qualquer militância associativa e as velhas activistas do movimento feminista republicano.[32] A Cruzada, ao assumir-se como herdeira da Comissão Feminina «Pela Pátria», propondo-se ampliar as valências e o alcance da mesma, veio confirmar a matriz feminista e a sua origem no seio da Associação de Propaganda Feminista, cujas mentoras foram as dirigentes, Ana de Castro Osório, Antónia Bermudez, Elzira Dantas Machado e suas filhas. Constituída por nove comissões autónomas, o trabalho era coordenado pela Comissão Central e pela Comissão Administrativa e direccionado para áreas específicas, como a propaganda e organização do trabalho, a enfermagem, a hospitalização, o apoio aos mobilizados, às mulheres e às crianças e jovens.

Na retaguarda estavam também os homens. O debate de ideias, os compromissos e as alianças políticas tecidas em torno das relações familiares e dos círculos de amizades terão pesado na criação da Cruzada das Mulheres Portuguesas, que nasceu sob a égide do governo e teve a sua protecção até ao advento do Sidonismo. As esposas dos governantes e republicanos mais influentes presidiam às comissões e obtiveram benefícios que facilitaram a sua organização e actuação. Foram-lhes concedidos edifícios, a isenção de franquia postal, autorização para uma lotaria patriótica e direitos e garantias nacionais e internacionais que pertenciam exclusivamente à Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha, pela Convenção de Genebra.[33] A Cruzada vai cumprir assim a antiga ambição da Liga Republicana de formar enfermeiras, abrindo uma nova profissão de prestígio às mulheres e contribuir para a modernização das estruturas de saúde, começando pela ampliação da rede hospitalar do exército.

No antigo Colégio Jesuíta de Campolide fundou o Instituto Médico-Cirúrgico, no antigo Convento dos lazaristas, em Arroios, organizou o Instituto de Reeducação dos Mutilados de Guerra e no Hotel Plage de Hendaia, cedido pelo casal Martineau, criou o Hospital de Recuperáveis que recebia os feridos em trânsito de França para Portugal. Preocupadas com as mulheres dos mobilizados que ficaram sem meios de sobrevivência com a partida dos maridos, a Cruzada fundou a Casa do Trabalho em Xabregas para ensinar uma profissão e dar trabalho às que pudessem e quisessem trabalhar. Também se substituiu ao Estado, atribuindo subsídios às mais desfavorecidas, aconselhando e ajudando na obtenção de pensões de sangue, legalizando casamentos e filhos ilegítimos, encaminhando outras para empregos previamente referenciados e sensibilizando entidades públicas e privadas para empregarem as mulheres dos combatentes. A Casa do Trabalho dedicava-se à confecção de roupa branca, costura, bordados, alpercataria, chapéus e outros adereços. Fornecia casas comerciais da Baixa de Lisboa e costurou toda a rouparia dos hospitais fundados pela Cruzada. Junto das oficinas criou-se a creche “O Viveiro” onde as mães podiam deixar os filhos pequenos. A educação, tão cara às feministas republicanas, fez parte do programa de acção da colectividade. Para as jovens raparigas, filhas dos mobilizados, fundou-se a Escola Profissional n.º 1, no Largo da Graça, e a Escola Agrícola Feminina no Posto de Alcobaça. As rendas e bordados tradicionais também foram incentivados através da criação de escolas em Setúbal, Viana do Castelo e Farminhão-Viseu. Os órfãos foram acolhidos e educados na Obra Maternal, fundada pela Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 1909 e que transitou para a Cruzada em 1916. Instituiu também a Obra dos Afilhados de Guerra, promoveu as Festas da Flor no Jardim da Estrela, recolheu e enviou donativos, livros e revistas para os combatentes e apoiou os prisioneiros de guerra.

A Cruzada fundou 72 subcomissões no país e algumas nas colónias e nas comunidades portuguesas emigradas, sobretudo no Brasil. A subcomissão feminina da Grande Comissão Portuguesa «Pró-Pátria»,[34] fundada no Rio de Janeiro em Março de 1916, secundou no Brasil a obra “benemérita e patriótica” da Cruzada, recolhendo donativos junto dos portugueses, através de subcomissões locais, como a de S. Paulo e de Juiz de Fora, que eram canalizados para as obras de guerra da Cruzada. A subcomissão feminina «Pró-Pátria» era constituída por Eulália Falcão Leite, esposa do embaixador Duarte Leite Pereira da Silva, a esposa do Cônsul-geral do Rio de Janeiro, Alberto de Oliveira, a Condessa de Avelar, provavelmente, esposa do Conde António Gomes de Avelar, e ainda outras senhoras da elite portuguesa emigrada, como a Baronesa de Peixoto, Eugénia Rainho da Silva Carneiro, Margarida Cândida Teixeira Taborda, Margarite Emerat Gomes Barbosa, Maria de Carvalho Santiago Silva, Maria Pinheiro Carvalhaes e Zulmira Constante.[35] A Grande Comissão «Pró-Pátria» que uniu os portugueses do Grémio Republicano e da Liga Monárquica, tinha como objectivo principal a criação de uma instituição que acolhesse e educasse os órfãos de guerra. Apesar dos entraves do governo, construiu o Asilo-Escola Pró-Pátria para os Órfãos de Guerra, na Quinta dos Vales, em Coimbra, património que viria a ser doado ao Estado Português nos anos 30 e transformado no Hospital Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil e mais tarde conhecido como Hospital dos Covões. A comunidade portuguesa do Brasil, através da Grande Comissão Pró-Pátria, foi a maior contribuinte da Cruzada das Mulheres Portuguesas e a maior doadora da subscrição de guerra aberta pela Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha em Março de 1916. Esta baptizou uma enfermaria do seu Hospital em Ambleteuse com o nome “Portugueses do Brasil”.      

A elite republicana do Porto também se mobilizou em torno da Junta Patriótica do Norte, fundada em 8 de Março de 1916. Apresentada como uma colectividade de carácter cívico, “apenas fiel aos sentimentos republicanos”, destinava-se a apoiar material e moralmente os combatentes, defendendo os seus direitos e exaltando a memória dos que tombassem em defesa da Pátria, e prestar assistência aos filhos órfãos ou necessitados.[36]O Núcleo Feminino de Assistência Infantil da Junta Patriótica do Norte[37], sob a presidência de Filomena Nogueira de Oliveira e constituído por 21 mulheres que se assumiam como democratas e patriotas, organizaram e dirigiram a Casa dos Filhos dos Soldados para acolher e educar os órfãos de guerra. Recolheram donativos, organizaram actividades culturais e de lazer para angariar fundos, estabeleceram um sistema de quotas de associada/os, benfeitora/es, subscritora/es, doadora/es e contribuintes fixos, singulares e colectivos e promoveram a figura do “padrinho de guerra” que adoptava um ou mais órfãos e suportava as despesas da sua educação. A Casa garantia aos internados a instrução primária, a formação complementar de ginástica, música e teatro e a educação moral e cívica. Os rapazes eram encaminhados para a aprendizagem de uma profissão técnica e as raparigas aprendiam costura, rendas, bordados e cozinha. Havia também a preocupação em lhes proporcionar os divertimentos indispensáveis a um crescimento harmonioso e desenvolver-lhes o “espírito de solidariedade, de união e utilidade social.”[38] Esta obra de guerra sobreviveu até aos nossos dias, como orfanato, escola e lar dos filhos dos combatentes, adaptando-se às contingências da história do país.  

Os prisioneiros de guerra foram uma das grandes preocupações do Comité Internacional da Cruz Vermelha que fundou a Agência Internacional dos Prisioneiros de Guerra para centralizar a informação fornecida pelas sociedades nacionais da Cruz Vermelha de todos os países beligerantes. Desde que Portugal entrou na guerra, a Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha nomeou uma Comissão que se encarregava de informar sobre a localização dos prisioneiros, estabelecer a comunicação com os familiares e entregar encomendas, além de hospitalizar e tratar os doentes alemães detidos em depósitos concentracionários portugueses em África, Angra do Heroísmo, Peniche e Caldas da Rainha. Com a batalha de La Lys foram cerca de 7.000[39] os prisioneiros portugueses que caíram em poder dos alemães, distribuídos depois por 52 campos. A Comissão dos Prisioneiros de Guerra da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha publicava as listas com os nomes e os campos em que se encontravam e enviava cartas, alimentos e agasalhos. O Comité Internacional diligenciava junto dos governos para que os direitos dos prisioneiros fossem respeitados e se procedesse à sua libertação de forma faseada, mas Portugal ficou de fora dos tratados entre países beligerantes. As mulheres, esposas, mães, irmãs e filhas dos prisioneiros ou desaparecidos na guerra, criaram em 1919 a Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses,[40] em resposta ao apelo de Lívia Magalhães Coutinho Fachada, visando recolher donativos e exercer pressão sobre o poder político para negociar o repatriamento ou o internamento em país neutro, quando os prisioneiros se encontrassem incapazes de resistir à viagem de regresso. A Comunidade portuguesa emigrada em Lausanne fundou também em 1917 o Comité de Socorros aos Militares e Civis Portugueses Prisioneiros de Guerra[41]. A iniciativa partiu do embaixador de Portugal em Berna, António Bartolomeu Ferreira e do Visconde de Faria, cônsul-geral de Portugal em Lausanne. O Comité trabalhou em colaboração com a Agência Internacional de Prisioneiros de Guerra da Cruz Vermelha e a Associação Pietas, dirigida por Óscar Watteville, e contou com o empenho da Condessa de Penha Garcia para o envio das encomendas, colis, para os campos de prisioneiros na Alemanha.        

 

As enfermeiras foram à guerra

Outro grupo bastante numeroso de voluntárias dedicadas ao serviço dos feridos e doentes de guerra foram as enfermeiras formadas pela Cruzada da Mulheres Portuguesas e pela Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha. As duas instituições impunham regras bastante exigentes às candidatas mas isso não impediu que muitas frequentassem os cursos, apesar de uma grande parte não exercer depois a profissão nos hospitais militares. Exigia-se, além das qualidades profissionais, grande abnegação, máxima disciplina, absoluto desinteresse, altas virtudes cívicas e comportamento moral irrepreensível. Todas desejavam corresponder ao apelo patriótico que mobilizava a sociedade portuguesa mas, acima de tudo, pretendiam aceder a uma profissão digna do seu estatuto social, muito valorizada na conjuntura da guerra. Parece haver uma clara distinção de classe e de ideologia política entre as enfermeiras da Cruzada e as da Cruz Vermelha. Salvo raras excepções, as primeiras situavam-se na média burguesia enquanto as segundas pertenciam à alta burguesia e algumas tinham fortes ligações à aristocracia, estando estas muito próximas da Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra. É o caso da Chefe das Enfermeiras do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa em Ambleteuse, Maria Antónia Jervis d’Atouguia Ferreira Pinto Basto (1852-1930),[42] a Chefe das Enfermeiras do Hospital da Cruz Vermelha no Porto, Ana José Guedes da Costa, as Damas Enfermeiras Eugénia Manoel, Luísa Zarco da Câmara, Maria da Câmara Leme, Maria de Jesus Zarco da Câmara, Maria Eugénia da Gama Ochôa e Maria Mayer.       

As enfermeiras da Cruzada prestaram serviço, sobretudo, nos Hospitais Militares da Estrela e de Belém, no Instituto Médico-Cirúrgico de Campolide e no Instituto de Reeducação dos Mutilados de Guerra. Receberam formação especializada em tratamento e técnicas de reabilitação de feridos graves, sendo louvadas pelo profissionalismo, os cuidados e o carinho dispensados aos mutilados, muitos dos quais se reinseriram social e profissionalmente. Algumas viveram a guerra mais perto das linhas da frente, ao prestarem serviço no Hospital de Recuperáveis de Hendaia e nos hospitais do Corpo Expedicionário Português.

As Damas-Enfermeiras da Cruz Vermelha foram as primeiras a pisar solo francês, em Novembro de 1917. O governo conferiu a Antónia d’Atoughia Ferreira a equiparação à patente militar de tenente e às Damas-Enfermeiras a equiparação a alferes. Ao partirem para França já levavam na bagagem, além do diploma, bastante experiência dos cuidados prestados aos feridos e doentes da guerra no Hospital Temporário da Cruz Vermelha, instalado na Vila de Santo António na Junqueira, edifícios oferecidos pela Condessa de Burnay. Muitas delas levavam também a experiência da montagem de enfermarias, salas de operações e laboratórios do mesmo hospital, em que participaram sob a chefia de Antónia d’Atouguia Ferreira. Quando chegaram a Boulogne-sur-Mer, o Hospital da Cruz Vermelha em Ambleteuse ainda não estava concluído e elas ofereceram-se para prestarem serviço no Hospital da Base do CEP.

O Hospital da Cruz Vermelha foi inaugurado no dia 9 de Abril de 1918 que, por coincidência, teve de receber um número extraordinário de feridos graves, devido à Batalha de La Lys.[43] Algumas destas Damas-Enfermeiras, por discordância dos termos do contrato de trabalho ou porque pretendiam estar mais próximas das linhas da frente, trabalhando em hospitais de sangue ou em ambulâncias, desligaram-se da Cruz Vermelha e colocaram-se ao serviço do Exército, em Agosto de 1918. No fim da guerra, com o desmantelamento do Hospital da Cruz Vermelha, em princípios de 1919, outro grupo de enfermeiras transitou também para a dependência directa do Exército, de modo a assegurar a continuidade do exercício da profissão nos hospitais militares em Portugal.[44] De assinalar estes factos, por ser inédita, há quase cem anos, a incorporação das mulheres nos quadros militares.        

Ir para a guerra e viver a experiência de guerra terá representado a oportunidade de participar, tal como os homens, na honra e grandeza da Pátria, mas também protagonizar a construção de uma profissão de mérito, ganhar uma nova liberdade e maior consciência política e contribuir para o avanço da conquista de direitos e da emancipação feminina. Deixaram o conforto do lar e os afectos da família e migraram para França, para o doloroso quotidiano da guerra na Flandres, junto da Base do Corpo Expedicionário Português. As tropas portuguesas encontravam-se na região do rio Lys, num corredor de 12 a 18 kms, entre as colinas de Aras e Armentiéres, uma planície muito fria e húmida, cortada por canais e drenos que, após as chuvas e a neve, se transformavam em lamaçais intransitáveis. Era um clima doentio ao qual algumas enfermeiras e médicos resistiram com muita dificuldade.

Enfrentaram a barreira da língua francesa com os habitantes locais, pois a convivência e os cuidados prestados por ocasião da pneumónica assim o exigiram e com a língua inglesa porque havia relações profissionais e sociais com as enfermeiras e médicos dos hospitais ingleses. Apesar das dificuldades, privações e provações, nunca lhes faltou o ânimo para socorrer os feridos, cuidar dos doentes, amparar os moribundos, consolar e animar os amputados, escrever cartas de saudade e de despedida em nome daqueles que não sabiam ou não podiam escrever, espantar os medos, tomar o lugar de confidentes, irmãs, companheiras e mães espirituais e ter ainda tempo para amenizar o ambiente hospitalar com o toque feminino das flores e plantas, dos enfeites nas celebrações do Natal, na improvisação do palco para o teatro e a música.

O rigor, a ordem, a higiene, a obediência e a disciplina eram as palavras de ordem nestes hospitais dirigidos por militares exigentes, por vezes pouco condescendentes com as pequenas insubordinações ou pequenas falhas no respeito pelas hierarquias. Todavia, foram exemplares no desempenho da profissão; elogiadas pela educação e cultura, reconhecidas pela competência técnica e louvadas pela abnegação, dedicação e virtudes cívicas. As que participaram na assistência aos feridos da Batalha de La Lys foram louvadas oficialmente pelo CEP pela inexcedível ajuda prestada aos médicos, pelo voluntarismo e o carinho dispensado aos feridos.    

As enfermeiras tiveram um papel fundamental no quadro da guerra, pela dedicação e empenho ao serviço dos outros e pelo pioneirismo no exercício de uma profissão militarizada que invadiu o território masculino e testou os limites da resistência física e psicológica feminina. Num mundo de homens, enfrentaram resistências e preconceitos mas tornaram mais fluidas as fronteiras de género. A aventura da experiência de uma maior liberdade, autonomia e independência pessoal que representou partir para trabalhar num cenário de guerra revelou-se áspera e difícil, física e psicologicamente. Elas tentaram que o sofrimento e a revolta perante a mutilação e a morte de tantos jovens não lhes tolhessem a coragem e não lhes quebrassem a resistência moral. Resistiam para que o sofrimento, o medo e a morte não as fizessem descrer nos valores da honra e do patriotismo e no orgulho do dever cumprido. A Pátria estava longe mas também presente na alma destas mulheres que no quotidiano contribuíam para a dignificação e elevação da imagem das portuguesas e para a transformação das relações de género.

George Mosse[45] afirma que o mito da experiência da guerra reforçou a imagem da virilidade masculina e não alterou a imagem da feminilidade, apesar de as enfermeiras no campo de batalha serem louvadas e admiradas e a sua coragem sublinhada, elas continuaram a ser olhadas como anjos de misericórdia à margem do combate, numa atitude meramente passiva. Ora, não é esta a imagem que ressalta dos estudos de Françoise Thebaud, Susan Grayzel e Luc Capdevila,[46] entre outros: as mulheres de todos os países aderiram aos programas dos governos nacionais, criando obras que suavizassem o sofrimento resultante da experiência bélica, substituindo os homens em todas as actividades, esforçando-se por manter a ordem familiar e social, conquistando terreno tradicionalmente masculino, ganhando autonomia, reconstruindo identidades, esbatendo fronteiras nas relações de género e avançando no processo de emancipação e igualdade entre os sexos.
Todavia, estes ganhos foram provisórios, visto que no pós-guerra houve um retorno à ordem social anterior, com o reforço dos mitos das identidades, das relações de género e dos valores da maternidade. Stefania Bartoloni[47] afirma que na guerra, as enfermeiras militares, actuando em nome da Pátria, alteraram a imagem de si próprias, justificaram acções que antes lhes eram interditas, ousaram o impensável, viveram a experiência de guerra, isto é, fizeram a guerra. A guerra foi um tempo intermédio, uma fase de suspensão das regras, um parcial descongelamento das identidades, inclusive das identidades de género. A guerra não revolucionou a condição feminina nem modificou a assimetria entre os dois géneros mas favoreceu a mobilidade, a visibilidade e a autonomia de muitas mulheres, facto relevante para a época, dando um golpe definitivo no rígido modelo oitocentista e delineando uma nova identidade feminina mais complexa que se irá afirmando e reconstruindo ao longo do século XX e continua, por ventura, em permanente e eterna reconstrução


[1] Investigadora do CEMRI-Universidade Aberta.
[2] Bertha von Sutner (1892), Lay Down Your Arms. The Autobiography of Martha von Tilling, London, Longmans, tradução do original Die Waffen Nieder. Entre 1889 e 1905, o livro teve 37 edições e foi traduzido em mais de dez línguas. Bertha von Sutner conviveu e foi amiga de Alfred Nobel.
[3] Magalhães Lima escreveu muito sobre pacifismo; vejam-se alguns exemplos: O Livro da Paz, 1895; Paz e Arbitragem, 1897; O Federalismo, 1898; A Paz e a Guerra, 1900. Ver Maria Rita Lino Garnel (2004), A República de Sebastião de Magalhães Lima, Lisboa, Livros Horizonte; Maria Manuela Tavares Ribeiro (2004), “Intelectuais e Ideia de Europa nos alvores do século XX”, O Estudo da História, n.º 5, Lisboa, Associação de Professores de História, pp. 9-17.
[4] Alice Pestana (1898), La Femme et la Paix. Appel aux mères portugaises, Lisboa, Imprensa Nacional.
[5] João Esteves (2011), “Feminismo, Feminismos e Sufragismo na 1.ª República”, As Mulheres na I República. Percursos, Conquistas e Derrotas, Lisboa, Faces de Eva-CESNOVA-FCSH-UNL, Edições Colibri, pp. 19-46.
[6] Lúcia Serralheiro (2011), Mulheres em Grupo Contra a Corrente, Rio Tinto, Edições Evolua.
[7] Benedict Anderson (2013), Comunidades Imaginadas. Reflexões sobre a origem e expansão do nacionalismo, Lisboa, Edições 70.
[8] Os símbolos da liberdade eram os mais representados na figura da República: o barrete frígio vermelho e a grinalda verde, tecida com os ramos da mítica árvore da liberdade, que lhe cobrem a cabeça, o peito desnudado que simboliza a luta contra o preconceito, as cadeias abertas que marcam o fim da escravidão, e ainda, o livro das novas leis que instituiria a igualdade e a justiça social, o facho com a chama que ilumina a esperança num mundo novo e a espada para combater os inimigos da Pátria e da Revolução.
 
[9] A Madrugada e A Mulher Portuguesa, órgãos de imprensa da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e da Associação de Propaganda Feminista, respectivamente, e o Boletim Oficial do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas tinham secções específicas em francês destinadas ao estrangeiro “Bulletin pour l’étranger”, “Féminisme en Portugal”, davam conta dos progressos do movimento feminista português.   
[10] João Esteves (2011), “Contactos Internacionais do Feminismo Português (1906-1928)”, Olhares sobre as Mulheres, Lisboa, Faces de Eva-CESNOVA-FCSH-UNL, pp. 163-175.
[11] Paulina Luisi, médica uruguaia, feminista e abolicionista escreveu sobre o combate à prostituição regulamentada e o tráfico de brancas e conviveu com as feministas portuguesas, entre as quais fez amizades. Maria Veleda entrevistou-a para o jornal O Século, em 12.04.1920, correspondeu-se com ela e recordou-a com carinho e admiração nas suas Memórias. Natividade Monteiro (2011), Memórias de Maria Veleda. Introdução e Notas, Leiria, Imagens & Letras, p. 130.  
[12] João Esteves (1911), “Feminismo, Feminismos e Sufragismo na 1.ª República”, As Mulheres na I República. Percursos, Conquistas e Derrotas, Lisboa, Edições Colibri, pp. 19-46.
 
[13] Concepción Nuñes Rey (2005), Carmen de Burgos Colombine en la Edad de Plata de la Literatura Española, Sevilha, Fundación José Manuel Lara, pp. 488-508.
[14] Elena Arizmendi foi enfermeira diplomada, empenhou-se na democratização do seu país e fundou a “Cruz Blanca Neutral” por ocasião da Revolução Mexicana para acudir aos feridos e doentes, em alternativa à “Cruz Roja Mexicana”. Fixou-se nos EUA, entre 1913 e 1938, “donde florecen sus inquietudes feministas y literárias”. Escreveu Vida Incompleta. Ligeros apuntes sobre mujeres de la vida real (1927). Ver Juan Rodolfo Collado Soto (2012), “Se lhamava Elena Arizmendi”, Desarrollo Cientif Enferm. Vol. 20, N.º 3, Abril 2012, pp. 102-106, disponível em    http://www.index-f.com/dce/20pdf/20-102.pdf; Gabriela Cano (2010), Se lhamava Elena Arizmendi. Biografia, México, Tusquets Editores.
[15] Ver João Esteves (2011), “Feminismo, Feminismos e Sufragismo na 1.ª República”, As Mulheres na I República. Percursos, Conquistas e Derrotas, Lisboa, Faces de Eva-CESNOVA-FCSH-UNL, Colibri, p. 36.
[16] Isabel Lousada e Angela Laguardia (2013), Maria Lacerda de Moura e Ana de Castro Osório: correspondência em trânsitos atlânticos e feministas, Navegações, v. 6, n.º 1, pp. 99-104.
[17] Míriam Lifchitz Moreira Leite (1984), Outra Face do Feminismo: Maria Lacerda de Moura, São Paulo, Editora Ática.
[18] Ana de Castro Osório (1924), A Grande Aliança, A minha propaganda no Brasil, Lisboa, Lusitânia.
[19] Mariana Coelho (2002), A Evolução do Feminismo: Subsídios para a sua história, Organização Zahidé Lupinacci Muzart, Curitiba, Imprensa Oficial do Paraná.
[20] Domingas Lazary Amaral, “Condenadas”, A Semeadora, 15.10.1916, p. 2; Idem, 15.11.1916, p. 4. Ver João Esteves (2005), “Domingas Lazary do Amaral”, Dicionário no Feminino, Lisboa, Livros Horizonte, pp. 283-284..  
[21] Maria Ermelinda de Stuart Gomes (1934), A Mulher Indiana, Porto, Edição da I Exposição Colonial Portuguesa.
[22] Lúcia Serralheiro (2014), “Rosalina Filomena da Cunha e Soares Rebelo”, Feminae. Dicionário Contemporâneo, Lisboa, CIG, pp. 846-849.
[23] Maria Veleda, embora não tivesse pertencido às primeiras associações pacifistas, criadas em 1906, fez parte da comissão organizadora da Liga Antimilitarista, constituída no I Congresso Nacional do Livre-Pensamento de 1908. Além de Maria Veleda, faziam parte Magalhães Lima, Botto Machado, Rosalina Ferreira, Jaime Castelo Branco, António Maria da Silva, Weiss de Oliveira, Lucinda Tavares, Pinto Quartim e Ramos da Cruz. Ver Natividade Monteiro (2012), Maria Veleda (1871-1955) – Uma professora feminista, republicana e livre-pensadora. Caminhos trilhados pelo direito de cidadania, Olhão, Gente Singular, p. 143.   
[24] Barbara Caine y Glenda Sluga (2000), Género e Historia. Mujeres en el cambio sociocultural europeo, de 1780 a 1920, SEPS, European Secretariat for Scientific Publication, Madrid, Narcea, p. 179.
 
[25] Maria Veleda, A Madrugada, nº 35, 31.08.1914, p. 1.
[26] Natividade Monteiro (2011), “Pela Pátria e pela República. As Mulheres Republicanas na I Guerra Mundial”, Mulheres na I República, Percursos, Conquistas e Derrotas, Lisboa, Faces de Eva-CESNOVA-FCSH-UNL, Colibri, pp. 179-215.
[27] A “Inscrição Patriótica” visava mobilizar as mulheres para o esforço de guerra na frente interna. As inscritas ofereciam-se para trabalhar voluntariamente em determinada área ou actividade.
[28] Maria Teresa Viegas Pimenta, “As Mulheres Portuguesas na Guerra de 1914/18”, in As Mulheres. A Identidade Cultural e a Defesa Nacional, Cadernos Condição Feminina, n.º 29, Lisboa, Comissão da Condição Feminina, 1989, pp. 81-86.
[29] Maria Lúcia de Brito Moura (2006), “A Assistência aos Combatentes na I Guerra Mundial – Um Conflito Ideológico”, Revista Portuguesa de História, Tomo XXXVIII, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pp. 41 75.
[30] Maria Emília Stone (2011), “Vivências Monárquicas”, Mulheres na I República. Percursos, Conquistas e Derrotas, Lisboa, Faces de Eva-CESNOVA-FCSH-UNL, Colibri, p. 137.
[31] Estatutos da Cruzada das Mulheres Portuguesas (1916), Lisboa, Imprensa Nacional.
[32] Natividade Monteiro (2011), “Pela Pátria e pela República. As Mulheres republicanas na I Guerra Mundial”, Mulheres na I República. Percursos, Conquistas e Derrotas, Lisboa, Faces de Eva-CESNOVA, FCSH-UNL, Colibri, pp. 179-215.
[33] Decreto n.º 2493 de 3 de Junho de 1916 que autoriza a criação da Escola de Enfermeiras de Guerra e a levantar e tratar feridos e doentes em hospitais militares e corpos expedicionários.
[34] Arquivo Histórico Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 3.º P. A7, Maço 20; Arquivo Histórico da Cruz Vermelha Portuguesa, Pasta 1.ª Guerra, “Grande Comissão Portuguesa Pró-Pátria”; Documentos da “Grande Comissão Portuguesa Pró-Pátria, gentilmente cedidos pelo Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro.
[35] “A reunião da Grande Comissão Pró-Pátria. Grande entusiasmo e ardente patriotismo. Foi creada a protecção aos orphãos da Guerra”, O Paiz, 17 de Março de 1917, pp. 5-6.
[36] Alberto de Aguiar (1932), Junta Patriótica do Norte, Porto, Junta Patriótica do Norte, p. 33.
[37] Natividade Monteiro (2014), “Núcleo Feminino de Assistência Infantil da Junta Patriótica do Norte”, in João Esteves e Zília Osório de Castro (Dir.), Feminae. Dicionário Contemporâneo, Lisboa, CIG-Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, pp. 771-779. 
 
[38] Alberto de Aguiar (1932), op. cit., p. 211.
[39] Os números divergem de autor para autor. Enquanto alguns falam de 6.585 outros falam de 7.740. Ver Pedro Ferreira da Silva (capitão) (2004), “A entrada de Portugal na Grande Guerra”, Revista Militar, Janeiro. Disponível em http://www.revistamiltar.pt/artigo php?art_id=372; Fátima Mariano (2012), “Os esquecidos da guerra: o apoio das mulheres aos prisioneiros da 1.ª Guerra”, Revista Militar, Maio. Disponível em http://www.revistamilitar.pt/artigo php?art_id=699.
[40] Fátima Mariano, Idem.
[41] Boletim do Comité de Socorros aos Militares e Civis Portugueses Prisioneiros de Guerra (1917-1919), n.º 1 e n.º 2, Lausanne, Typ. Fritz Ruedi; Typ. K.-J. Wiss Erben.
[42] Antónia d’Atouguia Ferreira Pinto Basto, mulher culta, inteligente e voluntariosa, fez parte da Comissão da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha que negociou com a British Red Cross e com as chefias militares inglesas a localização, modelo e construção do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa em Ambleteuse e preparou a instalação dos serviços de saúde, médicos e enfermeiras nos Hospitais da Base do CEP. Viveu praticamente em França entre Abril de 1917 e Julho de 1919, vindo a Portugal de licença muito esporadicamente.  
[43] Ver Pedro Ferreira da Silva (capitão) (2004), “A entrada de Portugal na Grande Guerra”, Revista Militar, Janeiro. Disponível em http://www.revistamiltar.pt/artigo php?art_id=372. Este autor aponta para 4.626 feridos, 1.932 desaparecidos e 1.341 mortos, embora outros autores apresentem números um pouco  mais modestos.
[44] Luís Alves de Fraga (2003), “Organizações Femininas Portuguesas”, Portugal. Grande Guerra 1914-1918, Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (Coord. ), Lisboa, Diário de Notícias, p. 253.
[45] George L. Mosse, Le Guerre Mondiale. Dalla Tragedia al mito dei Caduti, Bari, Editori Laterza, 2008.
[46] Françoise Thebaud, «A Grande Guerra. O triunfo da divisão sexual», Georges Duby, Michelle Perrot, História das Mulheres no Ocidente, O Século XX, Vol. V, Porto, Edições Afrontamento, 1994; Susan R. Grayzel, Women’s Identities at War: Gender, Motherhood and Politics in Britain and France during the First World War, Chapel Hill, University of North Carolina Press, 1999; Luc Capdevila, “As guerras na transformação das Relações de Género”, Estudos Feministas, Florianópolis, 13 (1), Janeiro-Abril, 2005, pp. 81-102; Idem, «Le mythe du guerrier et la constrution sociale ‘éternel masculin’aprés la guerre», Revue Française de Psychanalyse, 2 (19989), pp. 607-623.
[47] Stefania Bartolono, Italiane alla Guerra. L’Assistenza ai feriti 1915-1918, Venezia, Marsilio Editori, 2003; Idem (2005), Donne della Croce Rossa Ilaniana. Tra Guerre e impegno sociale, Venezia, Marsilio:
 

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