Portugal é um país de emigração, mas de emigração tradicional de homens sós, onde as mulheres foram ganhando espaço contra a vontade do Estado e da “inteligência” nacional, contra proibições e obstáculo de toda a ordem.
As migrações maciças no feminino foram um fenómeno fortemente combatido, que cresceu, sem cessar a partir de novecentos, nas correntes intercontinentais, e atingiu a quase paridade a partir de meados do século XX, com o êxodo imparável de famílias inteiras para a Europa.
A proibição ou severo condicionamento das migrações femininas constituiu assim uma primeira política de género, absolutamente discriminatória, e a sua razão de ser deve-se, antes de mais, a uma clara perceção do facto de alterarem ou reconverterem o projeto migratório, no sentido enraizamento, do não retorno, ou, pelo menos do alongamento das estadias, compensada, é certo, pela (à partida imprevista e inimaginável…)formação de numerosas comunidades orgânicas, coesas e resistentes à transição das gerações, que constituíam verdadeiros espaços extra territoriais de presença cultural portuguesa, através da preservação da língua, das tradições, de uma “maneira de estar no mundo” com os outros.
Assim, se criam, afinal, novas Diásporas, onde a Mulher tem um papel central, ainda que não suficientemente estudado e reconhecido. O associativismo é ainda formalmente liderado, sobretudo, por homens, que são o rosto das instituições, enquanto uma anacrónica invisibilidade domina a verdade e o significado da emigração e a Diáspora feminina. Neste encontro de Monção, vamos tentar desocultá-los.
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