domingo, 9 de agosto de 2020

2015 Homenagem a MARIA BARROSO

MARIA BARROSO NA LUTA PRO DIGNITATE Há 20 anos, a "Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade", dava-se a conhecer no maior congresso de portuguesas da Diáspora jamais organizado no país, sob o lema “Diálogo de género e de geração - para dar a conhecer a emigração feminina e contribuir para que esta se sentisse e fosse tratada como uma metade igual à outra, no mundo das comunidades portuguesas. Nesse mês de Março de 1995. Maria Barroso esteve lá, em Espinho, connosco – e nunca mais deixou de estar Marcou indelevelmente a memória desse congresso fundador e o seu futuro, pela força da sua palavra – a fascinação do mito e da pessoa, reunidos num momento privilegiado das nossas vidas. Não, não foi um discurso de circunstância em sessão solene de encerramento, seguido de uma saída apressada. Ficou ainda por algumas horas, no meio de todos. Sabia ouvir, compreender, passar da doutrina à prática, da defesa de valores em abstrato à solidariedade, que conforta e mobiliza. Era tão inteligente e culta, tão naturalmente amável e afetiva, e tão pragmática também!
Depois, contámos invariavelmente com ela, em outros congressos, nos “encontros para a cidadania” por onde começaram as políticas públicas para a igualdade de género na emigração  e em tantas outras acões para o aprofundamento da cidadania, nesse outro Portugal, sempre mais esquecido…
2015 encerra duas décadas de trabalho em comum com Maria Barroso.
É o ano em que partiu, pouco depois de ter dito, numa última entrevista à televisão, serena e risonha, com a sua imagem, a sua voz eternamente jovem: “Em breve vou partir”.
Maria Barroso deixou um país inteiro saudoso de si, definitivamente órfão do seu sorriso maternal, da sua demanda de justiça, de uma cultura de paz e tolerância.
Tem, assim, o seu lugar na história da democracia e do feminismo em Portugal e um lugar muito especial no coração do Povo. Foi no momento em que se despedia dela, surpreso e comovido, que o País redescobriu - ou descobriu - a inteira dimensão da sua personalidade, o pleno significado de uma longa e variada história de vida, que atravessou épocas e regimes, sempre norteada pela coerência de interesses cívicos e humanistas. Uma infinidade de testemunhos, de comentários, de artigos, de reportagens, de entrevistas, acabou por dar uma ideia mais exata da excecionalidade da sua ação, que foi em crescendo, a força da experiência aliada à capacidade de antever e convocar o futuro.
As suas prioridades há muito não passavam pela intervenção nas instituições do Estado, nem pela atividade partidária, mostrando, limpidamente, como se podem afirmar os valores humanistas, fazer a diferença, mover o mundo, a partir da sociedade civil. A "sua" Fundação Pro Dignitate foi a sede de um sem número de iniciativas, de grande projetos,  que ultrapassaram fronteiras, sobretudo na esfera da lusofonia  e da Diáspora.
Para Maria Barroso, na sua luta pela dignidade de cada ser humano, não havia favoritos : portugueses, africanos, timorenses, refugiados, imigrantes, velhos, jovens, mulheres, homens... Pró Dignitate, ideia- força para responder aos desafios maiores no novo milénio - os combates por um mundo sem guerras, sem violência, em diálogo sobre um futuro comum, a partir de uma diversidade de heranças culturais, que se possam descobrir e aceitar mutuamente. Uma perfeita consonância coma a divisa da Mulher Migrante”: Não há estrangeiros numa sociedade que viva os direitos humanos!
20 anos passados, muitos anos de trabalho há pela frente!
 Um olhar retrospetivo ou prospetivo, leva-nos sempre, neste 2015, a Maria Barroso, porque nos mostrou, no movimento da sua própria vida finita, como todos, individualmente, podemos procurar o progresso coletivo, e porque o seu legado de cidadania é verdadeiramente intemporal.

Maria Manuela Aguiar


1.       NA NOSSA MEMÓRIA

Drª MARIA BARROSO
MARIA DE JESUS BARROSO – UMA MULHER DE TODOS OS TEMPOS
A forma súbita e abrupta como se desenrolaram os eventos dos primeiros dias de julho de 2015, provocaram em nós uma enorme onda, inicialmente de incredibilidade e subsequentemente de sentimento de perda indescritível. É sempre difícil, se não impossível, descrever o que sentimos quando somos confrontados com a perda de uma referência de cidadania e humanismo como sempre foi a Dr. Maria de Jesus Barroso.  
Enumerar, mesmo muito ligeiramente, cada um dos objectivos que alcançou e cada uma das suas contribuições para a sociedade portuguesa em particular e para a humanidade em geral seria um processo quase impossível de alcançar, pois muitas foram as suas áreas de intervenção tanto na sociedade privada e pública, como na política, nas artes, e no mecenato. Distinguiu-se em todas estas atividades fruto ao rigor e zelo que dedicava a tudo o que fazia, mas acima de tudo pela sua entrega total a todas e cada uma das causas que defendia. Aliás a sua capacidade de entrega absoluta era precisamente uma das suas caraterísticas mais impressionantes. Sempre que a sua presença era solicitada, em prol de qualquer causa ou em representação de alguma das muitas instituições que representava, estava sempre presente e ativamente participante.
Uma das melhores recordações que guardo está relacionada com a sua ida à Califórnia, mais precisamente à Universidade da Califórnia, Berkeley para participar no 5º Encontro para a Cidadania promovido pela Associação Mulher Migrante e o Programa de Estudos Portugueses da referida Universidade. Tive a honra de ser designada para fazer o transporte entre o aeroporto de San Francisco e a cidade de Berkeley. Como a viagem entre Portugal e San Francisco é consideravelmente longa, o plano era ir diretamente para o hotel, mas para minha surpresa, foi levantada a sugestão que seria muito agradável fazermos um pequeno passeio por San Francisco antes de nos dirigirmos para Berkeley. Assim fizemos por várias horas, e quando estávamos a atravessar a famosa ponte do Golden Gate, a Dr. Maria Barroso disse calmamente: “o que eu gostava muito de fazer era molhar os pés no Pacífico, com todas as viagens que fiz com o meu marido, nunca tive a oportunidade de molhar os pés no Pacífico.” Claro que fizemos o desvio, e nesse dia todos molhamos os pés no Pacífico, gelado e magnífico. Sei que o Congresso e outros eventos relacionados com o Encontro tiveram todo o sucesso, mas do que nunca me esquecerei foi a alegria desse fim de tarde numa pequena praia a norte de San Francisco. Alegria esta que se repetiu quando visitamos a sede da campanha eleitoral do então candidato para a Presidência dos Estados Unidos -  Barack Obama. A visita da Dr. Maria Barroso a esse pequeno centro cheio de voluntários a preparar cartazes, encher envelopes e ao telefone com prováveis eleitores, fez com que o mesmo parasse completamente quando entramos e apresentamos a visitante como a ex-primeira Dama de Portugal. A sua simplicidade e simpatia cativou os jovens voluntários que ficaram com uma ótima imagem de Portugal e dos Portugueses. Melhor que ninguém, a Dr. Maria Barroso sempre foi uma excelente representante do nosso país e da nossa gente. Para todos ela tinha um ouvido atento, e uma palavra afável.
A Drª. Maria de Jesus Barroso era sem dúvida uma mulher admirável e inesquecível, por muitas razões e um exemplo a seguir. No meu caso, agradeço-lhe o ter-me ensinado que só se pode ser integra e digna se fizermos todo o possível para que os nossos cocidadãos também tenham oportunidade de o ser. A Drª. Maria de Jesus Barroso nunca deixou de ser mulher para ser militante política, ou deixou de ser militante política para ser humanitária. Nela tudo se conjugava e complementava sem conflito. Durante a sua vida serviu Portugal e os Portugueses de forma exemplar, teremos muitas saudades, mas os grandes, os verdadeiramente grandes, nunca morrem e Maria de Jesus Barroso viverá eternamente na memória de todos nós e nas páginas de honra da história de Portugal.
Saudosamente
Deolinda Adão, Professora catedrática da Universidade de Berkeley, Califórnia

MARIA BARROSO
Hablar de María Barroso, es realmente hablar de una de las Mujeres más destacadas de Portugal, de todos los tiempos.
Bajo mi óptica puedo decir que fue una Mujer multifacetica, Diputada, Profesora, artista, defensora de los derechos humanos, defensora del sentido de familia, fundadora de la ONGD Pro Dignidade, se ocupó de la lucha contra el Racismo, la Xenofobia, la Violencia, fue creadora del Movimiento de Emergencia de Mozambique, se ocupó de los niños, fue la primera mujer portuguesa presidente de la Cruz Roja, una gran presidente.
Por esta y otras creaciones que ha realizada , María Barroso, está en el corazón de todas las personas que la conocieron, nunca pasaba inadvertida donde se hallara por su gran personalidad, dando el comentario necesario, la palabra justa.
María Barroso era una Mujer con un gran conocimiento de la Historia Portuguesa, siendo parte activa de su Patria al lado de su esposo , Presidente de la Nación, Dr. Mario Soares, se dice de detrás de un gran Hombre siempre hay una gran Mujer y la Dra. María Barroso reunía todos esos conceptos.
Tuve el Honor de recibir a la Dra. María Barroso el día 12 de Noviembre del año 2005 en Buenos Aires, Argentina, donde la Asociación Mulher Migrante Portuguesa de Argentina, organizó en la Sala Jorge Luis Borges, el Seminario Encontros para a Cidadania, que duró varios días, donde participaron 38 panelistas. Hombres y Mujeres de Portugal, de Brasil, de Venezuela, Uruguay,Argentina, Suecia,
Con la presencia del Secretado de Estado Dr. Antonio Braga, del Embajador António de Almeida Ribeiro y su Sra. esposa Sra. Embaixatriz Isabel de Almeida, la Dra. María Manuela Aguiar, Dra. Rita Andrade Gomes Pte. de la Mujlher Migrante de Portugal, Maria Kodama, la viúda de Borges, y muchas personalidades más, con la presencia de personalidades de la RTP de Portugal, Periodistas de la prensa Escrita y Radial, la mayor Delegación que tuvimos en la Argentina.
En otras oportunidades tuve la oportunidad de estar, en Lisboa, luego en Maia, donde pude ver su participación siempre dejando una enseñanza en todos los órdenes , reflejaba su don del saber, fue es y será siempre admirada por todos, ya que Mujeres con estas características quedan en la retina de todos que la conocieron.
Admiro a María Barroso porque le tocó luchar en una época machista, cuando una Mujer conseguía un derecho era todo una lucha personal muy costoso, ya que el papel de la Mujer no tenía ninguna oportunidad para lucirse. La que logró, logró porque tenía muchas virtudes, del conocimiento y de la ubicación personal para poder llegar a donde pretendía con sobrantes valores.
María Barroso una Mujer a imitar, por todas hoy y para siempre

Natália Renda Correia

 MARIA BARROSO, CIDADÃ DO MUNDO
Cidadã do mundo, a Drª Maria de Jesus Barroso Soares atravessou a existência, plena de humanidade e de são inconformismo, recriando-a através da promoção da realidade cívica e do culto da arte.
A edificação da Cidade é sempre irmã – gémea da criação cultural: em todos os instantes urge defender a realidade pública do viver  humano e pronunciá-la  como  obra  sempre inacabada.
Quem teve a dita e o usufruto pessoal de contactar com esta Senhora, acolheu do seu exemplo esta vertigem da responsabilidade: a comunidade das pessoas exige direitos e deveres, à semelhança de um reduto onde deverá ser impossível a violência.
O espaço da paz é uma instância aberta aos seus protagonistas, cultivando a justiça, a liberdade, a cooperação solidária, iluminando-as, ao mesmo tempo, com o cultivo do bom gosto e da arte. A Vida real é feita de acontecimentos, tanto mais reais quanto sentidos pelos outros.
Mais singulares que os nossos, são sempre os valores (presentes ou ausentes) alheios. O exílio da realidade é o estado normal da desumanização.   Pois  bem.   O  tom  humano  e  humanizado  da Drª Maria de Jesus, manifesto da forma mais espontânea, representou sempre uma lição de sensibilidade, de envolvência cívica, de unidade franca e afectiva.
As pessoas e os seus acontecimentos foram uma sua porção, uma sua pátria, uma sua comunidade, uma sua família, sem exibicionismos nem saltos à visibilidade. O mundo humano e desumano era a sua casa, sempre a habitar e a prover das entidades com que se transforma o mundo.
Esta a exigência de uma ética planetária, a qual rege o comportamento comum, sem monopólios nem discriminações.
É missão de qualquer convivente do universo a prática da justiça, a incomodidade face ao desrespeito dos direitos, o devotamente aos vazios, para que cessem, de acordo com a sentenças clínica e transversal a diferentes culturais: “faz aos outros o que querias que os outros te fizessem”.
A “Pro Dignitate”, instituição que dirigiu, teve sempre o sentido de um brasão: a favor da dignidade: Mas, mais do que um emblema, sempre personificou um compêndio de convicções ou da certeza de princípios. A luta a favor da erradicação da pobreza, o serviço á paz nas suas dimensões plurais, a sensibilidade à educação e à pedagogia, o culto da verdade e da isenção da comunicação social, a vivência da diáspora portuguesa e da sua condição migrante, o diálogo inter-religioso, a cultura nas suas várias manifestações com relevo para a arte da representação e da dicção, e demais sectores humanos, traduziram respostas concretas a problemas da cidadania.
Desde sempre foi este universo de saberes e preocupações, um gesto e uma predilecção. De igual modo, as suas naturais boas maneiras constituíram um modelo de respeitabilidade. Talvez por esse motivo, que nunca por tom palaciano, a opinião pública sempre a distinguiu como “Senhora”, que era!
A naturalidade, a dedicação sem limites, a abertura de espírito, a adesão a causas de exclusão, a tolerância, a cordialidade solidária, o carisma do diálogo, a coerência prática diante de opções cívicas, políticas e até confessionais, são muitas das cores com que pinto, interiormente, o retrato que me deixou da sua vida!
A alguns meses de sua morte, confidenciou-me que se andava a desprender da vida.
E acrescentou: “Vivo em paz e em serenidade”.
Uma mulher portuguesa, digna, recta, justa e solidária, a Senhora Drª Maria de Jesus Barroso Soares!
O seu sonho de mudar o mundo nunca foi em vão!
Há pessoas que não morrem. Foi o caso!     
   D. Januário Torgal Mendes Ferreira,    Bispo emérito

MARIA BARROSO – DESPEDIDA EMOCIONANTE, INESQUECÍVEL!
    Desde jovem, pude acompanhar a vida da Drª Maria Barroso, com a maior admiração  pelas excepcionais  virtudes que foi revelando.
   Recordo-me ainda e muito bem, por exemplo, de a ter visto como Atriz, no Teatro Nacional Dona Maria II, onde se estreou em 1944. Apreciei igualmente o seu talento de atriz no cinema. Foi uma revelação fantástica, uma artista inovadora, cheia de sensibilidade e força anímica!
   Através de notícias, através dos Jornais, Revistas da TV, continuei a acompanhar o seu trajeto, nas suas mais diversas facetas: na política, na cultura, na literatura, na poesia, como a de  grande defensora dos direitos humanos, lutadora pela liberdade e pela democracia,  antes e depois do 25 de Abril. Comoveu-me o modo como se converteu ao catolicismo, coma maior dignidade e convicção, num tempo dramático da sua vida
  Como conheci pessoalmente a Drª Maria Barroso?
 Por motivos de trabalho (voluntário), após a minha aposentação do lugar de Presidente do Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas, passei a participar na «Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade», que me proporcionou um conhecimento pessoal da Drª Maria Barroso, na sua qualidade de Presidente da Fundação PRO –DIGNITATE.
  Pude, então vê-la em ação, com as qualidades excecionais que possuía, e também com a sua simpatia, com a atenção que concedia a todas e a todos os que com ela contatavam.
  A sua serenidade, a sua elegância, a sua cultura, par do vigor da sua palavra,  deram-me momentos inesquecíveis,  em muitos dos trabalhos de parceria entre a PRO-DIGNITATE e a Associação Mulher Migrante.
  Lembro, em especial, o dia do lançamento do último Livro de Maria Barroso “A Violência na Comunicação Social”, na Fundação PRO- DIGNITATE, em 02/06/2015.
  Fez uma fantástica Intervenção, nas belas e acolhedoras instalações da Fundação, nesse dia cheias de amigos. Para mim, como para muitos, entre eles algumas associadas da Mulher Migrante, foi o derradeiro Encontro.. Terminou com uma sessão de autógrafos, durante a qual, a autora manteve  sempre o seu sorriso, a sua simplicidade.
   Quem nos havia de dizer que de forma tão inesperada a perderíamos para sempre, no dia  7 de Julho de 2015 ?
  Nesse dia acordei  com tão triste notícia e logo decidi ir prestar homenagem à estimada Amiga, a quem tanto ficámos a dever, para todo o sempre.
 Fui até ao Colégio Moderno ( o seu Colégio), pelo qual tanto lutou, impulsionando-o para o topo dos melhores que há no País.
  A «câmara ardente» estava instalada no Colégio. Ali a vimos, rodeada das mais belas flores e de lindíssimas ornamentações e, sobretudo de uma multidão imensa de admiradores, que lhe dizia adeus, sentidamente -entre eles muitos membros da «Associação Mulher Migrante».
  Jamais esqueceremos esses momentos. Foi impressionante assistir a  esse sincero testemunho de condolências à Família e aos Amigo - por parte de Altos Titulares de cargos políticos , Artistas ( do Teatro, do Cinema, da TV), Representantes da Igreja Católica, e da Comunicação Social, e por parte de cidadãos comuns.
  Esta excepcional  homenagem foi um agradecimento á ação  da  “Primeira Dama do Povo”, como também lhe chamavam, pelo conjunto de portuguesas e  portugueses de várias classes sociais, dos vários quadrantes políticos, de Jovens e Idosos...do País inteiro!
   2 de Novembro 2015
   Rita Gomes, Presidente da Associação" Mulher Migrante"

ATÉ SEMPRE, DRª. MARIA DE JESUS BARROSO
O que dizer mais nesta minha singela, mas muito sentida homenagem a esta grande Mulher, que há tão pouco tempo nos deixou e de quem já tantas saudades nos invadem? E, tal como
Manuela Aguiar afirma nesta publicação… deixou um país inteiro saudoso de si, definitivamente órfão do seu sorriso maternal, da sua demanda de justiça e de bem estar para todos, da mobilização para uma cultura de paz e de amizade.
O que dizer mais, depois de ter lido tantos textos magníficos e que tive o privilégio de conhecer, uma vez que integro o grupo que coordena esta edição?
É uma tarefa difícil, impossível até, reduzindo-me a um resumo dos momentos de partilha e de aprendizagem que me foram proporcionados pela Associação ECS Mulher Migrante, aquando dos muitos eventos que realizou e onde estivemos juntas.
E tudo começou em 1995, no aeroporto de Pedras Rubras, agora Sá Carneiro, quando tive a honra de a ir esperar para trazer para Espinho ao encerramento do Encontro Mundial Mulheres Migrantes –Gerações em Diálogo ao que iria presidir. Tal como diz a Arcelina no seu texto, também quando nos cumprimentamos, … o seu sorriso aberto e franco, dava a entender que já nos conhecíamos há muito tempo.
De então para cá, muitas oportunidades houve para a conhecer e que me levam a ter a ousadia de fazer minhas, todas as palavras das restantes autoras.
Viajamos juntas, ficamos alojadas no mesmo hotel em Buenos Aires, em Estocolmo, em Joanesburgo aquando da nossa deslocação para os Encontros para a Cidadania. Oportunidades fantásticas para ouvir as suas conferências, sempre brilhantes e poéticas, para conversarmos durante as refeições, para andarmos às compras ou visitar museus, sempre interrompidas por anónimos que a cumprimentavam e com quem conversava amenamente, não para dizer palavras de circunstância, mas para as conhecer melhor, com aquela simpatia e simplicidade que magistralmente a caraterizavam.
Mas também em Portugal, sempre em organizações da Associação Mulher Migrante.
Em todos esses momentos pude perceber a dimensão multifacetada da sua personalidade vanguardista, que felizmente é dada a conhecer nos testemunhos incluídos nesta publicação, qual instrumento precioso para nunca esquecermos esta Mulher e dar a conhecer às gerações vindouras, o seu… legado de cidadania verdadeiramente intemporal, tal como nos diz Manuela Aguiar.
Graça Guedes, Professora Catedrática Universidade do Porto

 O SEGREDO DE MARIA DE JESUS BARROSO
Em 2002, em nome da Universidade de Toronto, e por sugestão da nossa Leitora do Instituto Camões, Dra. Aida Baptista, enderecei um convite a Maria de Jesus Barroso, para fazer a abertura do I Congresso Internacional A Vez e a Voz da Mulher Imigrante Portuguesa.  Esse congresso seria parte das comemorações do cinquentenário da imigração portuguesa para o Canadá.  Como não conhecia pessoalmente Maria Barroso, imaginava que tivesse uma agenda muito preenchida, e receava que não aceitasse viajar para Toronto.
Para grande regozijo das organizadoras e de cerca de centena e meia de participantes, em setembro de 2003, tivemos o privilégio de contar com a sua comunicação de abertura no auditório do edifício Northrop Frye, Victoria College.  Nessa e noutras sessões do congresso, apercebemo-nos da simpatia, afabilidade e simplicidade no trato, ao partilhar connosco os seus conhecimentos e preocupações.
Creio que esse encontro de 2003 sobre a temática da imigração, com enfoque na mulher imigrante portuguesa, foi inesquecível também para Maria Barroso. Confessou-nos que algumas das questões abordadas nos trabalhos do congresso lhe pareciam dizer respeito, dada a sua experiência de exilada em Paris, na década de sessenta e mulher de um ativista constantemente preso e exilado. Afirmou a certa altura:
“A situação da mulher migrante é, em geral, mal conhecida. [...] eu própria convivi de perto com o problema da emigração, quando acompanhei o meu marido no exílio político a que o antigo regime o votou. Aí vivi esse problema, experimentando os mesmos dramas e dificuldades com que os nossos concidadãos se confrontavam.” (Marujo, Batista, Barbosa, 2003, p. 12).  
Bem informada também sobre as questões que diziam respeito ao Canadá, realçou a importância da educação das crianças e jovens luso-canadianos, o valor do ensino do português como língua de herança e de identidade, a taxa de emprego das mulheres imigrantes portuguesas, o envelhecimento e, sobretudo, referiu a importância da integração na sociedade canadiana. Deixou uma mensagem muito clara sobre os direitos devidos às mulheres e salientou que “a voz da mulher migrante tem de começar a ser ouvida. Através da sua participação política, individual ou concertada, é menos provável que se atinjam os graves problemas da exclusão”.
A Dra. Maria Barroso participou nos debates com interesse, sensibilizou-se com alguns dos testemunhos, e mostrou-se grata pela oportunidade de estar a conviver não só com académicos do Canadá mas também da Austrália, do Brasil, dos EUA, da Inglaterra, de Portugal continental e do arquipélago dos Açores.
Voltei a encontrar em 2007, a Dra. Maria Barroso, em Toronto, a convite da organização Associação Mulher Migrante, e da Dra. Amélia Paiva que, nessa altura, exercia as funções de Cônsul-Geral de Portugal. Nesses “Encontros para a Cidadania”, uma vez mais nos impressionou pela sua participação ativa, entusiasta e conhecedora das questões. O cansaço de uma viagem intercontinental não era razão para recusar o desafio, sempre que a sua presença fosse considerada essencial.
Em 2008, atrevi-me a convidá-la para ir a Ponta Delgada participar no I Congresso Internacional A Voz dos Avós: Migração e Património Cultural.  Este Congresso foi organizado pela Universidade de Toronto em parceria com a Universidade dos Açores.  O reitor, Professor Avelino Menezes, e a Doutora Rosa Simas, do Departamento de Línguas e Literaturas Modernas, deram apoio incondicional para a organização de um primeiro congresso memorável. Na sessão de abertura, a Dra. Maria Barroso lembrou comovida o papel que a sua avó materna tivera na sua formação, sublinhando:
“É indispensável e fundamental não esquecer o papel dos avós, que urge recuperar. Tão importantes são os avós sobretudo no acompanhamento dos netos. São um enorme reservatório de afetos.
Temos de encurtar o salto geracional entre os anciãos e os jovens para que estes possam beneficiar de toda a sua sabedoria – como disse alguém ‘a sabedoria amadurecida no coração, a sabedoria que é como a plenitude de Outono, rica de cores e de tonalidades’”. (Marujo, 2010, p. 13).
A estadia na ilha de São Miguel, na companhia desta senhora sempre conversadora, dinâmica e amável, foi uma dádiva. O apoio do Presidente do Governo Autónomo Carlos César e de Maria Luísa César foi imprescindível. A Dra. Maria Barroso teve o acolhimento que lhe era devido como ex-primeira-dama do governo da República, celebrado com um jantar dado em sua honra, no elegante palácio da Conceição, sede do governo Regional, e para o qual foram convidados todos os participantes. Foi, então, motivo de comentários de admiração geral, a belíssima e maior carpete de Arraiolos que cobre o soalho de um dos salões do palácio, oferecida por Mário Soares nos anos da Presidência Aberta, e que a esposa nunca tivera oportunidade de apreciar. Nesse ambiente de festa, uma Maria de Jesus divertida e cheia de humor animou um serão que se prolongou noite fora.
O congresso com a temática “Avós”, que a levara aos Açores, impressionou de forma muito positiva a Doutora Maria Barroso. Por esse razão, prontificou-se, de imediato,  a ceder as instalações da Fundação Pro Dignitate em Lisboa, para a realização do segundo, dois anos depois.  Assim, foi nossa graciosa anfitriã no II Congresso A Voz dos Avós: Migração, Memória e Património Cultural realizado em 2010. Este congresso foi organizado pela Universidade de Toronto, em parceria com a  Universidade Aberta (CEMRI – Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais) e a Fundação. Maria Barroso esteve presente em todas as sessões, acolheu os participantes dos vários países, atendeu jornalistas e entidades especiais presentes nesse encontro, que teve a amabilidade de convidar. Graças a esse valioso patrocínio da Fundação foi publicado o livro  A Voz dos Avós – Migração, Memória e Património Cultural, já em segunda edição.
Depois destas manifestações de simpatia, sempre que me deslocava a Lisboa, nunca deixei de a ir cumprimentar à Fundação Pro Dignitate. Ia com o coração aberto para a ouvir e com ela aprender. A sua memória e cultura geral fascinavam-me. O seu interesse pelas causas que lhe tocavam a alma  eram contagiantes.
Em dez anos de convívio espaçado, passei bons momentos no seu belo e histórico gabinete - denominado A Sala da Rainha (ou de D. Maria I), junto à Basílica da Estrela, parte do antigo Convento do Sagrado Coração de Jesus -, a partilhar conversa, cafezinhos e chocolates que ela muito apreciava. E até um almoço amigável e inesquecível, no seu apartamento do Campo Grande, com a amiga comum Aida Baptista. Muito ao jeito português, mostrou-nos a casa, fotografias e objetos queridos.
Ficar-lhe-ei para sempre grata, em particular pela sua compreensão pelas minhas causas, sua generosidade e extrema/inexcedível simpatia. Perguntei-lhe muitas vezes a brincar, “Gostaria de ser como a senhora! Qual é o seu segredo?” e ela respondia: “Não se pode parar, o segredo é não parar”.  
Maia Barroso parou, por fim, a sua atividade. Porém, a sua incansável energia, cultura e maneira de estar no mundo não vão parar de me inspirar!
Manuela Marujo, Diretora Associada - Departamento de Espanhol e Português
Universidade de Toronto

TESTEMUNHO
Maria Barroso uma mulher muito ativa, solidária com inúmeros projectos desenvolvidos para destacar o papel da mulher, para conseguir  o reconhecimento da igualdade de capacidade, de visão, deforça e  coragem de um e outro género! Para mim, foi importante como exemplo de todas aquelas qualidades, e como inspiração no trabalho voluntário. Foi uma honra estar com Ela em diversos seminários em Portugal e, especialmente,  no que se realizou realizado aqui na Argentina, na Biblioteca Nacional, pela forma como nos deu ideias e auto confiança e nos abriu perspetivas.  Trouxe Portugal até nós, mostrou como pertencemos ao mesmo passado e como podemos continuar a trabalhar no futuro comum, onde quer que estejamos, longe ou perto uns dos outros. 
Uma Grande Senhora, uma simpatia, um lindo ser humano e, principalmente, uma Grande Portuguesa
Maria Violante Martins, Presidente da Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina
Conselheira do CCP (Conselho das Comunidades Portuguesas)

HOMMAGE À UNE FEMME D’EXCEPTION
Les gens dépassionnés, je les plains.
Je trouve qu'il faut être passionné.
Si on veut donner un sens à sa vie,
il faut aimer quelque chose au-delà de soi-même. (Jenny Alpha)

L’exercice en forme de récit auquel je me livre aujourd’hui est étourdissant, et il est vrai que j’ai le droit de le craindre. On ne sort pas indemne d’une rencontre avec Maria de Jesus Barroso Soares, femme exemplaire, généreuse, avec une sincérité désarmante.
Des mots qui traversent les âges et ré-inventent le passé.
Cette Grande Dame petite par la taille mais grande par sa conviction a consacré sa vie à se battre contre les systèmes qui brisent femmes et hommes, pour plus de Justice, pour l’humanité, pour la vie tout simplement.
Vous avez été certainement abreuvée de jalousie par une minorité, mais une large majorité continue à vouer une sorte de culte à l'icône que vous êtes devenue.
Avec une rigueur à toute épreuve, vous êtes, en vérité, une éternelle rebelle sous un habit de douceur. Vous êtes féministe, vous défendez la cause des femmes avec une fermeté implacable, mais vous n'adhérez pas aux thèses de celles qui, à l'image de Simone de Beauvoir, nient les différences entre les sexes. Vous êtes du côté des plus faibles, mais vous refusez toute victimisation. La vie, qui n’a pas toujours été tendre avec vous, n’a cessé, cependant, comme pour s'excuser, de vous offrir des chances qui sont autant d'hommages à votre personne, à votre intégrité et à votre talent. Vous avez toujours été libre, véhémente et sereine. Vous le resterez, tout au long de vos fonctions, et au-delà. Sur plusieurs points, vous avez su marquer votre indépendance.
À plusieurs reprises, dans des bouches modestes ou dans des bouches augustes, j'ai entendu parler de votre caractère. C'était toujours dit avec respect, avec admiration, avec affection, mais avec une certaine conviction : il semblerait, Madame, que vous aviez un caractère difficile. Difficile ! Oui, Madame Maria de Jesus Barroso était une femme de caractère et avant-gardiste dans bien des domaines, elle savait exactement ce qu’elle voulait.
Il y a en vous comme un secret : vous êtes la tradition même et la modernité incarnée. Je vous regardais, Madame : vous me faisiez alors penser à ces grandes dames d'autrefois dont la dignité et l'allure imposaient le respect. Et puis, en regardant votre parcours, je vous ai toujours vu comme l’une de ces figures de proue en avance sur l'histoire. Votre curiosité intellectuelle insatiable et votre sens aigu des détails signalaient une nature inquiète et fiévreuse qui a fait avancer le monde. J’ai retenu de vous qu’on apprenait souvent davantage de vos interrogations que de vos réponses.
Oui, il y avait de l'énigme en vous : une énigme limpide et lumineuse jusqu'à la transparence qui suscitait de l’admiration mais, dans votre cas, quelque chose d'autre s'y mêlait : du respect, de l'affection, une sorte de fascination. Beaucoup, au Portugal et au-delà des frontières, auraient voulu vous avoir, pour confidente, pour amie. J’ai eu la chance inouïe d´être votre amie et le bonheur de passer des instants inoubliables à vos côtés, d’apprendre de votre exigence, de votre savoir, de votre humanisme et de votre liberté. 
De toutes les figures de notre époque, vous êtes sans l’ombre d’un doute l'une de celles que préfèrent les portugais, mais non seulement. Les seuls sentiments que vous pouvez inspirer et à eux et à nous sont l'admiration et l'affection. Vous incarnez avec plus d'éclat que personne les temps terrifiants où nous vivons, où la violence s'est déchaînée comme peut-être jamais tout au long de l'histoire de l’humanité et où quelques-uns, comme vous, ont lutté contre elle avec détermination et courage et illustré les principes, qui ne nous sont pas tout à fait étrangers, de liberté, d'égalité et de fraternité.
En guise de conclusion, il y a encore des personnes hors du commun qui vous font changer votre façon de voir les choses et de croire en ce rêve d’un monde meilleur.Non pas par la force brute, mais par la force de la vie, la beauté et la puissance de leur personnalitéVotre seul défaut, Madame, était de vous oublier pour les autres, mais comment pouvait-on vous le reprocher? Aujourd’hui, je veux avant tout me souvenir de ces moments que nous avons partagés et je continuerai à porter avec d’autres, les mêmes combats que vous avez portés. Votre mémoire perdure à jamais parmi nous ! Soyez-assurée que votre survie est un pont entre deux mondes !
Isabelle Oliveira,  Vice Reitora da Universidade Sorbonne

“SOS-África”- um combate de Maria Barroso pela dignidade dos media, também a partir de Cabo Verde
A génese
Maria Barroso saíra magoada da Cruz Vermelha Portuguesaem 2003. Não era o afastamento em si, decidido pelo ministro da altura. Oque a incomodava era o “modus faciendi", pouco digno de pessoas de caráter: os maneirismos,os complots, os jovens de gabinete do ministro, promovendo notícias e boatos sobre a gestão “danosa” da Presidente deixaram-na de rastos.
A nível internacional Maria Barroso estava a trabalhar, a partir do segundo mandato , no fortalecimento dos laços entre as CVlusófonas. Era um projeto inovador e que reforçava o peso e a presença da língua portuguesa no espaço internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Em 2003, na reunião de Maputo lançava a “CPLP da Cruz Vermelha de Língua Portuguesa” que ficaria conhecida como o “fórum das sociedades nacionais de língua portuguesa”, uma ideia que seria aprovada por unanimidade e com estatuto legal autorizado em Dezembro de 2003.
Mas toda a gente sabia e era correntemente admitido e pressentido pelas direções das CP do espaço lusófono que o Ministro Paulo Portas queria afastar a curto prazo a Presidente da CVP. Tinham comigo conversas de corredor sobre essa convicção. Eu também sabia que quando do final do primeiro mandato, numa reunião entre Paulo Portas e Maria Barroso pouco se tinha falado dos problemas da CVP; o Ministro passou a maior parte do encontro a falar da “importância e relevo” que a Presidente da CVP tivera, como cidadã, na eleição do Mário Soares para a Presidência da República. Eu sempre achara esta conversa desapropriada e relacionada com o risco do prestígio de Maria Barroso vir a influenciar e promover próximas candidaturas presidenciais. Era desconhecer Maria Barroso…mas para mim, o destino da Presidente ficara traçado nesse momento.
Em 2003, de forma discreta mas eficaz, os presidentes das sociedades lusófonas presentes quiseram ultrapassar o risco do afastamento de Maria Barroso, institucionalizando o cargo de presidente do “Fórum das sociedades de língua portuguesa”, propondo, por unanimidade o seu nome para tais funções.
Um dos grandes promotores deste projeto foi o Dr. Dário Dantas dos Reis, um distinto médico cabo verdiano que regressara ao país depois da independência e que assumira as funções de Presidente da Cruz Vermelha de Cabo Verde.
De volta a Cabo Verde
Em 2004, ainda por influência e sob os auspícios do Dr. Dantas, a Presidente da Cruz Vermelha de Cabo Verde e o ministério da defesa, então dirigido pelo comandante Armindo Maurício lançam um repto à Pro Dignitate, aquele que seria um dos grandes projetos dos últimos anos da vida de Maria Barroso : O combate contra a violência nos media, sobretudo nas rádios e televisões. Uma luta que conduzira também a partir da Cruz Vermelha, com mesas redondas envolvendo jornalistas prestigiados, as “ong” e a organização internacional “repórteres sem fronteiras”.
Ano de debate em Cabo Verde. Havia um verdadeiro caso estudo: o desastre de aviação no aeroporto de Santo Antão. Reinava ainda no ar a poeira dos boatos, má-informação e o “diz-que-diz” à volta de um terrível desastre aéreo que ocorrera alguns anos antes no aeroporto de Santo Antão, que levara ao encerramento do aeroporto por longos anos:
- e a sociedade civil como se tinha comportado?
- os órgãos de comunicação social tinham sido capazes de transmitir o drama com objetividade, com distanciamento jornalístico, quimicamente puro?
- tinham as organizações chamadas para atuar na ocasião -serviço de proteção civil, bombeiros, polícia e outras forças de segurança atuado de forma correta?
- tinham prestado a informação correta, esclarecedora às populações, através de comunicados transmitidos na rádio e nos restantesmedia? Era necessário fazer uma reflexão. Estava tudo debaixo do tapete e em aberto.
A proposta que nos fora endereçada, através do ministro da defesa era: está a Presidente da Fundação Pro Dignitate e antiga presidente da CVP disposta a organizar, aqui em Cabo Verde, um debate sobre esta matéria? Tem equipa para o fazer?
Esta matéria ligava-se a outras duas também fundamentais. É que o jornalismo em situação de crise levanta questões de "direito internacional humanitário” –como proteger e o que proteger. Colocava outro problema: a Fundação devia alargar a sua tarefa à formação de quadros africanos permanentes nas áreas de da atuação do jornalista em situações de crise e de conflito: o tal jornalismo ao serviço da paz .
Todo o sucesso da iniciativa se ficou a dever a uma série de nomes de pessoas de Cabo Verde:
O Ministro da defesa participou e coorganizou o colóquio sobre “o comportamento dos media em situações de crise” que constituiu uma ação de formação para jornalistas, animadores sociais de todo Cabo Verde e que para esse efeito se deslocaram ao Mindelo. Do lado da Pro Dignitate, fora escolhido Ronaldo Monteiro, um estagiário e bolseiro da Fundação para preparar o evento e organizar, in loco, toda a viagem de Maria Barroso a Cabo Verde.
Presente também Isaura Gomes, Presidente da Câmara de São Vicente, uma grande Amiga de Maria Barroso. Em muitas ocasiões ouvi Maria Barroso incentivar Isaura: “Não se fique pela Câmara, você tem estofo para vir a ser a primeira Mulher a ocupar o cargo de Presidente da República de Cabo Verde” e perante o silêncio dos presentes acrescentava: “já viu a importância e o exemplo que seria para todo o espaço de língua portuguesa”? E não resisto a uma observação pessoal: acho que Maria Barroso gostaria de ter ocupado tal cargo em Portugal. Recordo a esse propósito uma outra nota: Maria Barroso costumava contar que a Rainha de Espanha a incentivara diversas vezes: “porque não concorres à Presidência?” Nunca respondera mas sempre entendera, julgo eu, que tal facto não seria bem aceite pelo Marido.
Outro dos grandes Amigos com que ficou na altura foi o Presidente da Câmara de Porto Novo, Dr. Amadeu Cruz. que a convidou para proferir, a 10 de Dezembro, uma palestra sobre os Direitos Humanos e o Direito Internacional Humanitário. Ficou encantada com a visita a Porto Novo, que incluiu visitas ao hospital e a escolas primárias. Ficou sempre ligada à ilha de Santo Antão que tentou apoiar em diversas ocasiões e através de distintos projetos.
Os nomes da Rádio Nova, e do seu diretor dessa altura também não podem ser esquecidos.
Não é por acaso que nasce de dois destes Homens, Amadeu Cruz e Ronaldo Monteiro, a ideia de que se dê continuidade à Pro Dignitate e aos seus programas na área do combate à violência nos media, sobretudo em África, pela criação da ONG-SOS-África, sedeada precisamente em Mindelo, onde se iniciara em 2004, o envolvimento da Pro Dignitate no projeto de jornalismo ao serviço da paz e do desenvolvimento. Trabalharam com Ela nas últimas décadas.
A Comunicação Social no Terceiro e Quarto Mundo infelizmente não acompanha a realidade dos países e das regiões fora do espaço do mundo industrializado; o poder e os lobbies dos media são controlados por preocupações que nada têm de ético; as escolas de jornalismo, dentro de uma tradição eurocêntrica e colonial , reforçam a perspetiva de uma informação acética que não sabe ler, escutar e ver as comunidades em que se inserem. Esta será a luta que, em nome de Maria Barroso, vamos continuar num verdadeiro esforço SOS.
António Pacheco, Secretário-Geral da Fundação PRO DIGNITATE

A MINHA HOMENAGHEM A MARIA BARROSO
Do palco do teatro ao da política foi “grande Mulher”, “grande Senhora” e “grande Humanista”. Foi uma mulher que pela sua forma de estar, de ser e de fazer, marcou o seu tempo, e irá perdurar nas nossas memórias, como uma mulher da cultura, da solidariedade, da família e da Fé.
Enriqueceu a sua vida dedicando-se a grandes causas sociais e humanitárias e por esse mundo fora lutou pelos direitos de igualdade através da “Associação Mulher Migrante”.
Os meus agradecimentos pelos serviços que prestou às nossas comunidades.
Bem haja.
Até um dia, certamente nos voltaremos a encontrar.
 Luísa Prior 

TESTEMUNHO
A Senhora Doutora Maria de Jesus Barroso era uma das personalidades públicas mais estimadas do País.
O seu desaparecimento provocou um sentimento muito alargado de consternação. Eram infindáveis a s filas de pessoas que quiseram prestar-lhe uma última homenagem, num movimento a que raramente se assiste em Portugal. Apesar da sua avançada idade, a doçura do seu sorriso fazia-nos pensar nela como uma Mãe de todos nós.
Dizia sempre “presente” quando lhe pediam conselho, colaboração ou participação. Nunca abandonou as causas da sua vida e não recusava qualquer convite onde pudesse exprimir e verbalizar a importância de lutar por aquilo em que acreditava.
A primeira das suas batalhas, a da defesa da Liberdade, condição de base para o exercício dos direitos humanos que sempre defendeu e promoveu. Fê-lo com denodo, coragem e verticalidade quando era difícil e perigoso e nunca se amedrontou.
A segunda das batalhas que empreendeu ao longo de toda a sua vida foi a do ensino e do ensino com qualidade. Pedagoga de méritos reconhecidos e com provas dadas, orgulhava-se das diferentes gerações das mesmas famílias que tinha tido o gosto de ensinar e conhecia todos pelo nome! Lia-se-lhe nos olhos o afecto com que tinha exercido a docência e como continuava a acompanhar, todos os dias, o que se passava no seu Colégio.
A terceira das batalhas, a defesa e a promoção da Cultura.
Declamadora respeitada e reputada, contribuiu para a divulgação da obra das nossas grandes poetisas e dos nossos grandes poetas.
Era incansável, generosa, afectiva, corajosa e doce. Nunca receou envolver-se na defesa de princípios, mesmo quando essa defesa era incómoda, como a da denúncia da cultura de violência veiculada pelos meios de grande difusão. Entregava-se às ideias que defendia de corpo inteiro: com convicção e sólida argumentação!
Foi uma Mulher enorme, na sua vida privada e na sua vida pública. E soube estar sempre junto das portuguesas e dos portugueses lá onde quer que elas e eles se encontrassem –em qualquer parte do Mundo.
O que dela podemos dizer, em tempos conturbados como aqueles que estamos a viver, é que esta grande Senhora, que espalhou portugalidade pelo Mundo inteiro, que soube sofrer com os que sofriam e construir esperança junto de quem não a tinha, nos faz falta!
Faz-nos, mesmo, muita falta, sobretudo pela imensidão do que ainda teríamos que aprender com ela e com a sua generosa forma solidária de estar no Mundo!

Maria de Belém Roseira

O ENCONTRO INESQUECÍVEL EM ESPINHO
Conhecer Maria Barroso pessoalmente foi para mim a confirmação daquilo que eu imaginava desta cidadã que se afirmou na sociedade portuguesa pela sua ação e postura. Sempre a admirei muito e penso que é um sentimento generalizado a todos os portugueses. Habituamo-nos a admirá-la não apenas pela sua ação enquanto primeira dama do país, como mulher do primeiro ministro, e depois como mulher do Presidente da República, mas por aquilo que ela foi enquanto cidadã, defensora de causas, pedagoga, mulher sensível e com uma capacidade de comunicação excepcional.
Foi em Espinho, na altura do Encontro Mundial da Associação Mulher Migrante. Cumprimentámo-nos e sorrimos. Encetámos uma conversa onde temas diversos foram aflorados. Mais adiante, revelámos projetos, e trocámos ideias. Parecia que nos conhecíamo-nos há muitos, muitos anos. Certamente que tínhamos muito em comum, mas a empatia que se apoderou de nós foi determinante. E não me esqueço da expressão acolhedora, simpática , sempre atenta e atenciosa, escutando tudo serenamente. No fim, disse-me " tem já tanta experiência, faz tantas coisas e é tão novinha!" Foi um elogio marcante, embora eu lhe tenha dito que não era assim tão nova...
Mais tarde, outra vez em Espinho, encontramo-nos nas comemorações do Centenário da República. Maria Barroso presenteou-nos com uma comunicação fantástica, fazendo jus às mulheres mais marcantes da Primeira República.
Apresentei-lhe um grupo de alunos que ansiavam conhecê-la. Maria Barroso foi a inspiradora da vontade destes alunos quererem estudar a vida dessas mulheres naquele período da nossa história. O papel das mulheres na Primeira República apresentado pela Dra Maria Barroso deu-lhes a conhecer os papéis relevantes de mulheres numa sociedade marcada pelo masculino. Quando mais tarde aconteceu uma réplica de um serão republicano , promovido pela Câmara Municipal de Espinho, alguns destes alunos encarnaram algumas dessas personagens. Entretanto, estava prestes a chegar o dia 28 de Maio. Esse dia era muito especial pois fazia 99 anos que a primeira mulher portuguesa votou. Ela foi pioneira em Portugal e na Europa. Com base numa carta que a própria Carolina Beatriz Ângelo escreveu ao director do jornal A Capital, tentando repor a verdade e esclarecer sobre o que se passara no dia anterior, foi elaborada uma dramatização, recriando esse momento histórico. Vivemos intensamente toda a envolvência da época, do vestuário ao local, sentimentos, opiniões, tomadas de posição, ou seja, um cenário revelador de um tipo de sociedade, numa República ainda a despontar. Fomos convidados pela senhora Vereadora da Cultura, Dra. Manuela Aguiar, para a representar na Tertúlia “ O Papel das mulheres na República dos homens” na Biblioteca Municipal de Espinho, no dia 28 de Maio e aceitámos o desafio. Poderemos concluir que tudo isto aconteceu graças à  Dra.Maria Barroso.
Os alunos, quando a conheceram  ficaram surpresos com a sua jovialidade, entrega, simpatia e simplicidade. Na verdade, todos concordaram que estávamos perante uma grande senhora que ficará para sempre na memória coletiva de um povo.
Foi uma mulher inspiradora, mulher de pensamento e de ação. Mulher sábia, mulher solidária, mulher acolhedora, mulher de paz, mas mulher guerreira na defesa de causas e valores. Partiu, mas deixou-nos um precioso legado, um exemplo como pessoa e cidadã . Foi para mim um privilégio conhecê-la de perto e ter tido a honra de estar em algumas iniciativas promovidas pela Associação Mulher Migrante. A última aconteceu em Lisboa na Fundação Pro Dignitate que acolheu a exposição de arte no feminino e onde celebrámos os vinte anos da Associação e os da nossa inesquecível anfitriã - Maria Barroso!
Arcelina Santiago, Professora, membro da Direção da AMM

HOMENAGEM À DRa MARIA DE JESUS BARROSO
Nesta tão justa e merecida homenagem à Dra. Maria de Jesus Barroso tenho muita honra e gosto em associar-me à comemoração que assinala a vida desta notável portuguesa.
A actuação da Dra. Maria Barroso, numa vida longa e plena de causas e projectos, pautou-se sempre pela coerência na defesa dos valores da democracia, neles se integrando a sua postura de defesa e promoção da igualdade de género pelo que com estas minhas palavras, quero prestar o meu apreço e reconhecimento público pela acção consistente em prol desses valores.
Ao longo dos anos tive o privilégio e o gosto de poder, em diversas ocasiões, privar da companhia e da sabedoria da Dra. Maria de Jesus Barroso, quer quando pela primeira vez tive a oportunidade de a conhecer no papel de Primeira-Dama em Nova Iorque, por ocasião da celebração do 50º aniversário das Nações Unidas, quer mais tarde na minha qualidade de Presidente da Comissão para Igualdade e para os Direitos das Mulheres. Uns anos mais tarde voltámos a encontrar-nos, em Toronto, onde fui co-organizadora dos “Encontros para a Cidadania: A Igualdade entre Mulheres e Homens nas Comunidades Portuguesas” naquela cidade, em 2007, promovidos pela Associação Mulher Migrante. Tive então o grande gosto de receber a Dra. Maria de Jesus Barroso que, com as suas intervenções, muito enriqueceu os debates que, nesse contexto, aí tiveram lugar. Cruzei-me e tive ainda a oportunidade de trocar ideias com a Dra. Maria de Jesus quando coincidimos em várias Conferências e Congressos, o último dos quais nos Açores.
A sua postura pautou-se sempre pela inteligência, sensibilidade e integridade na defesa do respeito dos direitos humanos e, dos direitos das mulheres, em particular. Nas suas intervenções, de grande qualidade e entendimento das realidades sobre as quais se debruçava, mostrou sempre um enorme empenhamento na defesa da igualdade de género e da cidadania em geral, que sempre ancorou num profundo humanismo.
Mª Amélia Paiva, Embaixadora de Portugal em Varsóvia

MARIA DE JESUS SIMÕES BARROSO SOARES
Todos os portugueses saberão tudo sobre Maria de Jesus Simões Barroso Soares. Sobre a mulher, a esposa, a atriz, a ativista, a professora, a lutadora pela cidadania e pela igualdade entre homens e mulheres. A Senhora das grandes causas ou, sobre a “outra metade” de Mário Soares e eu francamente nada mais sei que os meus compatriotas, sobretudo dos que mais a estimam.
Foi graças à Manuela Aguiar que organizou o Encontro Mundial de Mulheres Migrantes, na cidade de Espinho, em Março de 1995, que me levou a conhecer a Doutora Maria Barroso. Encontrei-A, nesta e em tantas outras ocasiões, mas Ela nunca me reconhecia a não ser que eu falasse; -já me lembro, o senhor é da Madeira, olhe que a sua Terra é muito bonita, já lá estive com o Mário.
A primeira vez também foi assim. O Mário estava em todas as frases, em todas as vírgulas em todos os pensamentos. Eu gostava de ter uma mulher que falasse de mim em todos os momentos. Uma mulher que tirasse as vírgulas das frases e as substituísse pelo meu nome. Uma mulher que visse em todos os homens a minha cara e que mesmo assim fosse tão independente e livre como Ela era.
No tal jantar, na primeira vez que nos encontramos, ficamos um ao lado do outro. Os nomes de chefes de estado, de presidentes, de viagens e de lugares surgiam a uma velocidade que ultrapassava o sonho e nenhum sonho de nenhum mortal poderia ser tão completo. Fiquei quieto. Às tantas fez-me uma pergunta que eu não percebi. Pelo que e muito bem, deu a resposta e desatamos a rir. Sorria inclinando-se ligeiramente para a frente para que ninguém percebesse. Falava amiúde de nobres causas mas notava-se que das suas palavras saiam ações. Militante da liberdade, admiradora da Humanidade e da Obra sublime da Criação entendia que o Seu dever para com todos ultrapassava de longe a sua própria e frágil forma física. Não julguei nunca que necessitasse de reconhecimento. Bastava-lhe o Povo português, a sua família e, claro está o Mário.
Tiramos uma foto, a Manuela a falar, a Rita Gomes a olhar para mim, a Maria Beatriz muito séria, a Doutora Maria de Jesus Barroso e eu, olhando um para o outro, rindo de nós próprios, não me lembro porquê. Guardo esta foto no meu “ wall of fame”, onde estão outras individualidades que a vida me levou a conhecer.
Das outras vezes que falamos recordo sempre o carinho, a simpatia mas sobretudo a determinação de Maria Barroso e o seu empenho em executar algo de extraordinário. Tratava-se de uma Figura de Estado ímpar que incorporava em si o que de melhor a Pátria tem para oferecer, de uma dimensão que ultrapassava o comum dos mortais. Sempre que podia, sentava-me ao seu lado, mesmo que não me reconhecesse, mesmo que fosse para dizer nada.
Aqui têm o meu motivo. Falo pois e tenho legitimidade de falar, de quem vive comigo na minha casa, na casa dos meus sonhos, não tenho outros amigos senão os que vivem em mim e admiro, pois é graças a eles que encontro o meu caminho e a minha responsabilidade de servir o coletivo, Maria Barroso foi um grande exemplo para muitos de nós.
Paz à Sua Alma

Gonçalo Nuno Mendonça Perestrelo dos Santos


 MARIA BARROSO - Ausente Presença
Nela, vejo a liberdade como princípio de vida, a família como força e estrutura de caráter, a política como disciplina de comportamento, a fé como misteriosa e firme revelação em idade madura. Vinte anos depois de me ter perguntado se eu queria escrever a sua biografia, penso em Maria Barroso com a alegria de bem a ter conhecido e o fundo desgosto de a ter perdido. Ausente presença a guardo e a revejo, até hoje sou capaz de ouvir o som da sua voz.
Nas celebrações da morte, perguntaram-me a sua maneira de ser, o ambiente em que nasceu, os estudos, os amigos, o teatro, o amor, a política. Falou-se dos seus gestos de atenção aos outros, aos mais simples, aos anónimos. Foi relembrada a sua maneira clássica de vestir, a determinação no estilo, a harmonia nas cores, conforme as variadas circunstâncias em que estava presente. Forte e claro era o seu discurso amoroso constante, sempre que falava do seu amor de juventude, com devoção. As prisões, os exílios, as separações, os medos. Compensados pela coragem, pelo atrevimento, pela liberdade com que sempre se exprimiu nas causas que desde sempre defendeu.
 Na sua expressão pública, Maria Barroso disse a importância da família na ordenação da sociedade, o perigo da violência, o valor da educação, a firmeza da palavra dada. Empenhou-se na assistência, aos flagelados, às vítimas de seca ou de chuva, no socorro às margens da sociedade. Nas questões políticas e sociais, intervinha, bem conhecendo os problemas comuns a todos e a todas, neste tempo. Podendo ser intolerante e até radical quando discordava, ela sentia a compaixão e praticava a misericórdia, a solidariedade, a doçura.
Na sua postura, vejo a marca de formação que recebeu como atriz nos anos 40 da sua juventude. Desde que no Teatro Nacional pertenceu à Companhia de Amélia Rey-Colaço-Robles Monteiro, para sempre lhe ficou a clareza na maneira de falar, a certa medida das frases, a colocação de pausas e pontos finais, o momento justo da respiração. As costas direitas, o olhar determinado, a expressão dos olhos a confirmar o que dizia e como dizia.
 Desde o fim do segundo mandato do Presidente Mário Soares e até à morte, Maria Barroso teve uma média de duzentas intervenções públicas por ano. Dezenas de percursos pelo país inteiro. Uma vintena de viagens anuais, para destinos de curta e de longa distância. Fez conferências em escolas e universidades, participou em debates e congressos. Pela defesa dos direitos humanos, e pela cooperação lançou campanhas, procurou e conseguiu ajudas, apoios, parcerias. Na urgência de realizar, acreditava que as soluções possíveis existem.
 E até hoje recordo e aqui cito o testemunho que deixou: “O meu reencontro com a fé deu-me uma serenidade muito grande para olhar todo o percurso da minha vida, despedir-me deste mundo sem receio nem angústia.” Escrevi-o no último capítulo da sua biografia. Sem imaginar que algum tempo depois, a hora da morte lhe chegava.

Leonor Xavier

In Memoriam: Dr. CARLOS CORREIA~

Evocar a memória do Dr. Carlos Correia obriga-nos a recuar algumas décadas, ao início dos anos oitenta, quando o conhecemos como técnico do Instituto de Apoio à Emigração, onde fazia parte de um grupo extenso de personalidades, que se distinguiam pela sua generosidade e trabalho.
As muitas tarefas exigidas pela administração pública em período pós-revolucionário, acordado pela intensidade dos movimentos emigratórios e expansão das comunidades portuguesas - em curso desde o início dos anos sessenta -, tornavam os serviços centrais da emigração bastante solicitados. Parcos em meios, sofriam ainda os impactos de uma reforma da administração, melhorada com a entrada de jovens licenciados e o interesse do tema pelos meios de comunicação social e população académica interessada no desenvolvimento de estudos científicos sobre a emigração portuguesa.
Os dados então centralizados relativos à dimensão, características e extensão deste fenómeno no território e na sociedade, passam a ser requisitados por diversos investigadores e interessados, que não pertencendo aos quadros da administração central do Estado, desejam aprofundar o assunto, conhecer a sua história recente, permitir novas leituras e incidências nas comunidades locais.
A emigração passa a ser um tema de investigação científica e o estigma das suas histórias, reflexos e incidências sociais e políticas, constituem-se como temas de análise de investigadores isolados e de grupos de investigação. É neste contexto, de procura de informação e pesquisa de fontes, que tivemos o ensejo de conhecer o Dr. Carlos Correia.
Reservado no trato, afável e compreensivo no diálogo, eficiente no exercício das suas funções, foi assim que o conhecemos em Portugal e sobretudo no estrangeiro, onde teve possibilidade de desenvolver um extenso trabalho junto das comunidades portuguesas.
Meses antes da sua partida confirmámos a sua disponibilidade e interesse de sempre: dar de si às comunidades e serviços que o viram crescer e formar neste meio complexo marcado pela mobilidade humana, a emigração e as comunidades portuguesas.
Nesta ocasião e homenagem em sua memória, saudamos a família que tão cedo o viu partir e os colegas e amigos que nos acompanham na partilha dos mesmos sentimentos.

J. Arroteia



“Conheci o Carlos Correia há 20 anos. Na altura, estava eu colocado na Embaixada em Luanda. O Carlos chegou uns meses depois, vindo do gabinete de um anterior secretário de Estado das Comunidades . Ao fim de pouco tempo já éramos amigos, e a nossa amizade foi-se reforçando, mais e mais, até ao dia em que foi tragicamente interrompida, quando ele “se apagou”, à minha frente, no início de mais um daqueles almoços, onde falávamos de tudo e de nada, em cavaqueira aberta e cúmplice.
Era um homem naturalmente tímido e conciliador, que só se abria verdadeiramente com quem ele considerava ser seu amigo. Mas também era de uma inexcedível amabilidade, lealdade e sensibilidade (facilmente se comovia) para com aqueles com quem trabalhava, muitas vezes com o sacrifício da sua vida familiar. Era um homem de família –  adorava a filha, que era a menina dos seus olhos, a mulher, os netos e o genro.
 Orgulho-me de que tivesse sido meu amigo, e estou certo de que o mesmo sentimento é partilhado por todos os que tiveram o privilégio de ser seus amigos. Sempre o lembraremos com imensa saudade, e também pelos maravilhosos momentos de convívio, que juntos todos tivemos.

Embaixador Luís Cristina de Barros

    Ausente de Portugal e a participar  no Capítulo Geral da Ordem   Franciscana, que decorre em Assis, Itália, entre 10 de maio e 7 de junho, fico-lhe muito grato por esta oportunidade de poder associar-me, através de mensagem de e-mail, à justíssima e tão oportuna homenagem, que o Colóquio promovido pela Associação Mulher Migrante com tanta felicidade e justeza decidiu prestar a esse grande português e impar defensor dos direitos e dignidade das pessoas migrantes, que foi o saudoso Dr. Carlos Correia.
       Tive o privilégio de com ele privar e servir a causa dos  migrantes na Presidência da então Caixa Central dos Trabalhadores Migrantes bem como nas mais diversas missões que de modo tão competente e generoso desenvolveu em Portugal, no Luxemburgo e em tantas outras partes do mundo.
       Ele é de verdade o paradigma do homem de valores e causas, que consagrou a sua vida ao serviço de Portugal e dos trabalhadores migrantes e suas famílias precisamente em função desses valores e da nobre causa da dignidade dos direitos da pessoa humana.
        Portugal e o mundo da migração devem-lhe memória e reconhecimento sem limites.
        Honra e glória ao seu nome, Paz eterna à sua alma.
        Felicitando o Colóquio por esta tão louvável iniciativa e agradecendo a oportunidade que me é facultada de homenagear tão querido amigo e tão ilustre servidor de Portugal, a todos saúdo com a maior estima, consideração e apreço.

P. Vitor Melícias, de Assis


Um amigo e um irmão

É difícil explicar como uma amizade se torna eterna e incondicional. Durante nossa vida conhecemos muitas pessoas e cruzamos -nos com elas em diversas situações, mas só algumas permanecem por muito tempo. Há amigos que surgem de forma inexplicável e se tornam especiais sem estarmos contando com isso. São aqueles que têm uma personalidade genuína, um bom coração e que lutam todos os dias para ver um sorriso no nosso rosto e principalmente sempre disponíveis a ajudar o próximo.
Assim era o meu amigo Carlos um humanista que nunca baixava os braços, nem que tivesse de trabalhar 24 horas, para ajudar as nossas Comunidades Portuguesas, um superior ou um amigo.

Funcionava sempre de forma discreta e aberto ao diálogo. Em privado adorava conviver com os amigos e ali sim relaxava e criava um ambiente inesquecível de muito bom humor e alegria.

Nas minhas funções desde os anos 80 em prol das Comunidades Portuguesas na Alemanha e depois na Suíça sempre pude contar com o seu apoio em momentos difíceis  que nunca esquecerei.

Para mim será sempre como um irmão que nunca tive. Obrigado por tudo Carlos e descansa em Paz.

António Francisco Dias da Costa



RECORDANDO LAURA BULGER


Neste ano de 2015, outra das nossas associadas e das mais antigas, nos deixou: Laura Bulger.
Conheci a Laura há trinta anos, em Viana do Castelo, no emblemático 1º Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e Jornalismo, organizado pela Secretaria de estado das Comunidades Portuguesas.
Veio em representação do Canadá e, especificamente, enquanto responsável pelos Estudos Portugueses na York University de Toronto, onde era Professora, para nos dar a conhecer a problemática da mulher imigrante numa sociedade pluralista, como é a do Canadá (In Actas do 1º Encontro de portuguesas Migrantes no Associativismo e Jornalismo. Porto: Edição do Centro de Estudos da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, pp. 49-51).
Algum tempo depois e a seu convite, conheci bem de perto os jovens que integram os Estudos Portugueses na York University, quando aí me desloquei para proferir uma conferência e percebi a dinâmica deste grupo que a Laura liderava, na prossecução da missão que encetaram - transmissão de uma herança cultural que seja adequada à realidade atual do país de origem. Efetivamente, os valores tradicionais transmitidos pelos seus Pais e com que se identificam, mantêm uma cultura transplantada de um Portugal de há mais de 25 anos e tal como Laura nos relatava em Viana do Castelo (p 51) … com elementos estáticos que os filhos não conseguem compreender nesta sociedade multifacetada e em constante evolução, pelo que a missão deste grupo de estudos universitários balizava adequar a nossa herança cultural a este País de acolhimento, politicamente multicultural e incentivador da participação ativa do imigrante na nova sociedade, sem ter de abdicar da língua e cultura de origem.
Conheci-a então melhor, não só no seu contexto de trabalho, mas também no seu ambiente familiar, pois fez questão que ficasse alojada em sua casa. Uma moradia antiga, victoriana, localizada num pacato bairro residencial de Toronto. Com o marido John e o seu gato Chomsky, partilhamos momentos fantásticos que nunca esquecerei, impregnados da sua inteligência e do seu sorriso sereno!
Aqui ficou consolidada a nossa amizade e que perdurou.
Encontrávamo-nos, sempre que vinha a Portugal e ao Porto, onde tinha residência.
Mais tarde e de regresso a Portugal, passou a integrar o quadro docente da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD), mas continuou com residência no Porto.
A Laura era licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, onde também obteve o seu doutoramento, com uma dissertação onde o objeto de estudos foi A Sibila (1954) de Agustina Bessa Luís, tornando-se uma grande especialista da obra magnífica desta grande mulher da literatura lusófona e também uma grande sua amiga.
Participou em muito eventos científicos organizados pela Associação Mulher Migrante, tais como em 1995 e em Espinho, no Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo, onde foi comentadora da Mesa Redonda A Mulher nas Literaturas de Língua Portuguesa, moderada por Agustina Bessa Luís. E também em 2011, na Maia, no Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas na Diáspora, onde interveio no Painel Cidadania e Cultura, com a comunicação intitulada Agustina revisitada… num relance (In Aguiar, M. & Guedes, G. Orgs.Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas na Diáspora. Edição da Associação Mulher Migrante. Espinho: Tipografia Meneses – Cooperativa Gráfica de Espinho, pp. 62-65).
Cidadania e Cultura, marcam a vida da Laura Bulger e marcaram todos e todas com quem partilhamos momentos de convívio ou de aprendizagens e que nunca esqueceremos.
O seu sorriso sereno e a sua simpatia perdurará em todos nós.

Graça Guedes

PRECÍLIA, a menina que um dia sonhou viver em Portugal...

« A França está em estado de guerra », declara o Presidente da República francesa, François Hollande, nos primeiros minutos do dia 14 de Novembro de 2015. Precisamente na véspera, quiseram apagar a luz da Cidade Luz. A luz das Luzes, essas Luzes que venceram os obscurantismos de todo o tipo, essas Luzes que levaram Paris a ser o coração que bateu numa célebre Revolução, há 226 anos, que teve por base essa ideia fantástica que “os homens nascem livres e iguais em direitos”... Desde a Revolução Francesa, até essa trágica noite de 13 de Novembro de 2015,foi para a França, mas também para o resto do mundo, a escolha de arrasar a vida vivida, a vida festejada, a vida em conjunto. E eramos todos alvo :eu e você, o francês de gema ou mais recente, o refugiado, o migrante, o europeu e o estrangeiro, que passará a ser francês ou não, mas para quem a geografia  da França «Abre como uma palma aos sopros do mar. Para que o pássaro do largo venha para cá e se entregue». (Nathalie de Oliveira, vereadora luso-francesa, na câmara municipal de Metz, França e membro das Comissões Nacionais do PS, França e Portugal, outro excelente exemple de « ponte » bem conseguida)
Assim descreve a Nathalie o estado de sítio onde se encontra França, no acordar da fatídica sexta-feira 13 de Novembro de 2015, uma data que ficará nas nossas memórias pelas razões todos e mais alguma, mas uma que tem a ver com o ponto focado no texto, o da integração, assimilação, acolhimento,…na sociedade francesa, com a simbologia de ver morrer no mesmo local, o Bataclan, pelo menos dois luso-descendentes, sendo um terrorista e outra, vítima, ambos nascidos em França, de casais mistos, mas com uma ligação a Portugal e à França, completamente opostas. Será isso que ditou o percurso radicalmente diferente, apesar do infortúnio da morte quase igual ? Quase, porque Quem vai ficar para a história, tanto francesa como portuguesa, é a Precilia Correia. No Observatório dos Luso-Descendentes, pelo menos, vamos querer mantê-la viva, como símbolo de ligação a Portugal de todos os filhos da Diáspora portuguesa.
A vida e a história da Precilia davam de facto um « case-study » ou um estudo muito interessante sobre todos os clichés e ideias bem arrumadas e reconfortantes sobre migrações e os seus supostos padrões e verdades absolutas. Fruto de uma união entre um luso-descendente 1.5 e uma francesa mononacional, portanto luso-descendente de 2ª geração 2.0, a Precilia tinha todas as probabilidades da sua ligação a Portugal já ser « diluída »  como dizem a maior parte dos investigadores na matéria… « essa ligação só se mantém mesmo para quem nasce em Portugal ». Pois é, ou não é, nem tudo é branco ou preto, em nada na vida e ainda menos no "poliedro" que constitui a história das migrações, como repete incansavelmente a Dra Maria Beatriz Rocha Trindade….
No caso da Precilia Correia, como provavelmente de milhares de luso-descendentes bem instalados, integrados (e não « espalhados ») pelo Mundo, a sua ligação a Portugal era tão forte que até tinha o sonho de viver em Portugal, para sempre, e conseguiu, de certa forma, mas não em vida, infelizmente, apesar das várias tentativas…Foi numa delas, há 4 anos atrás, que se aproximou da nossa organização, o Observatório dos Luso-Descendentes, onde encontrou um porto de abrigo, face aos problemas e falta de resposta com que se deparou, nomeadamente a impossibilidade de arranjar um emprego que lhe permitiria ficar e construir uma vida em Portugal….à imagem de tantos outros jovens portugueses da mesma geração, e nascidos em Portugal. Porque seria diferente para ela? Antes pelo contrário, sentiu na pele uma certa discriminação que só não aconteceu no processo de tirar a carta de condução, que foi o que levou de Portugal, para além das centenas de fotografias que não se cansava de tirar de Lisboa e da sua gente e cuja beleza denota a sensibilidade e amor, com que o fazia….símbolo do amor pelo país das suas origens !
No caso do pai da Precília, ele sim, nasceu em Portugal, acompanhou os pais para França, com 7 anos de idade, sendo então um luso-descendente 1.5, mas sem ligação a Portugal, antes pelo contrário! Já quase não domina a língua portuguesa, nem ele nem os pais vão ser sepultados em Portugal, e não queria que a filha o fosse. e muito menos entende esse desejo dela em vida!
E contrariando todos os cenários dos especialistas, é a mãe da Precilia, francesa, nascida em França de 2 pais franceses, divorciada há muitos anos do pai da Precilia, que cultiva quase religiosamente essa ligação: fez questão de manter o apelido português,  comprou um apartamento em Almada, onde vem quase mensalmente passar fins de semana e férias…e foi a única a lutar pela concretização do sonho da filha de «ser enterrada em Portugal, no caso de falecer mais cedo, no cemitério com vista para o Rio».
Face ao apelo dessa mãe desesperada perante as reticências do pai e as dificuldades burocráticas do lado português, decidimos ajudar, como organização amiga e solidária da Precilia, na concretização desse derradeiro sonho dela, tão simbólico de um dos objectivos de trabalho do Observatório dos Luso-descendentes, que é de criar pontes com a Diáspora Luso-Descendente do Mundo inteiro….que laço de amor mais forte poderíamos querer tecer ?

Em suma, gostaria de concluir de maneira muito sintética, porque o texto já vai longo, pois achei que era necessário esta pormenorização dos « retratos da E/I migração envolvidos »para deixar muitas portas abertas de reflexão sobre a dificuldade e o perigo de etiquetar movimentos migratórios, mas sobretudo uma mensagem de esperança para a gestão da diáspora portuguesa, assim como temas de estudos sociológicos práticos. Será que a grande diferença no percurso de pesquisa identitária (sentida pela maioria dos Luso-Descendentes numa fase ou noutra das suas vidas) da Precilia Correia e do Ismaël Mostefai se deveu, à primeira ter arranjado uma esperança na sua ligação à Portugal, enquanto que o segundo a preencheu com ilusões islamistas radicais? O que/quem falhou na transmissão dos valores? O deveria/deverá ser feito?
Tenho esperança por ti e graças a ti....Merci Precilia, até sempre, pois vamos recordar-te!
Emmanuelle AFONSO, Presidente Fundadora do O.L.D(Observatório dos Luso-Descendentes)

2 - UM PERCURSO EM TRÊS DÉCADAS

1985
 - O 1º ENCONTRO MUNDIAL DE MULHERES NO ASSOCIATIVISMO E NO JORNALISMO

2. UM PERCURSO DE TRÊS DÉCADAS

   1985 -  Viana do Castelo

Recordando o 1º Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e no Jornalismo

Maria do Céu da Cunha Rêgo

No fim da primavera de 1985, quando Portugal aderiu às então designadas Comunidades

Europeias em busca de crescimento e de sustentabilidade para a democracia, Manuela Aguiar,

então Secretária de Estado da Emigração, chamou a Viana do Castelo mulheres das

comunidades portuguesas, que se tivessem distinguido nas áreas do associativismo ou do

jornalismo nos países que também tinham feito seus. Antecipou assim, em cerca de 10 anos, o

que haveria de ser uma das principais recomendações da IV Conferência Mundial sobre as

Mulheres organizada pelas Nações Unidas em Pequim, em 1995: a indispensabilidade do

empoderamento das mulheres, de que são pressupostos, a visibilidade e o reconhecimento.

Foi, com efeito, antes de mais, uma acção positiva: as reuniões institucionais de

representantes das comunidades portuguesas eram, em princípio, redutos de homens. Dar voz

às mulheres, constatar as suas realizações, ouvir as suas críticas e as suas vontades, registar as

suas propostas, celebrar este encontro em Portugal foram objectivos conseguidos.

As comunicações - seleccionadas de entre as que enviaram “mulheres consideradas relevantes

quer no jornalismo quer no associativismo pela estrutura diplomática e consular”, no dizer de

Maria Luísa Pinto, então presidente Instituto de Apoio à Emigração - agruparam-se em três

temas e foram apresentadas por portuguesas de todos os continentes e de diversas idades:

·         As mulheres migrantes na sociedade (com comunicações do Brasil, da República da África

do Sul, do Luxemburgo, de França, do Canadá, da Austrália e dos Estados Unidos da América);

·         As mulheres migrantes e o jornalismo (com comunicações do Reino Unido, da Argentina,

dos Estados Unidos da América, do Brasil, de França e do Canadá);

·         As mulheres migrantes e o associativismo (com comunicações dos Estados Unidos da

América, da Venezuela,  da Argentina, de França e do Canadá).



Houve ainda teatro e cinema sobre a emigração portuguesa em França apresentado por jovens

residentes naquele país, concertos, palestras, exposições e momentos de lazer e de convívio.

A iniciativa, organizada pela Secretária de Estado e pelo então Instituto de Apoio à Emigração,

foi apoiada pela UNESCO e outras instituições a nível nacional e local. Nela intervieram, para

além das entidades organizadoras e de elementos do Conselho das Comunidades Portuguesas,

figuras públicas residentes em Portugal - deputadas, escritoras, académicos, jornalistas e

representantes de diversos departamentos da Administração Pública.



Ficaram conclusões que, nos anos seguintes, vieram a inspirar políticas públicas em Portugal e

iniciativas das comunidades portuguesas por todo o mundo, incluindo a criação da Associação

Mulher Migrante, que actualmente integra o Conselho Consultivo da Comissão para a

Cidadania e Igualdade de Género. Ficou um livro a dar conta de tudo, editado pelo Centro de

Estudos da Secretaria de Estado, ao tempo já designada das Comunidades Portuguesas. E ficou

uma saudade de repetição, só concretizada 20 anos depois, numa versão actualizada, com os

“Encontros para a Cidadania: A igualdade de homens e mulheres nas comunidades

portuguesas” que tiveram lugar em diversos continentes entre 2005 e 2009 e que encerraram

em Espinho.

E eu que, pelas funções que fui exercendo, contribuí para a organização de vários destes

encontros, só posso agradecer o privilégio, a alegria e o enriquecimento que este trabalho me

deu.






2. UM PERCURSO DE TRÊS DÉCADAS

   1985 -  Viana do Castelo

Recordando o 1º Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e no Jornalismo

Maria do Céu da Cunha Rêgo

No fim da primavera de 1985, quando Portugal aderiu às então designadas Comunidades

Europeias em busca de crescimento e de sustentabilidade para a democracia, Manuela Aguiar,

então Secretária de Estado da Emigração, chamou a Viana do Castelo mulheres das

comunidades portuguesas, que se tivessem distinguido nas áreas do associativismo ou do

jornalismo nos países que também tinham feito seus. Antecipou assim, em cerca de 10 anos, o

que haveria de ser uma das principais recomendações da IV Conferência Mundial sobre as

Mulheres organizada pelas Nações Unidas em Pequim, em 1995: a indispensabilidade do

empoderamento das mulheres, de que são pressupostos, a visibilidade e o reconhecimento.

Foi, com efeito, antes de mais, uma acção positiva: as reuniões institucionais de

representantes das comunidades portuguesas eram, em princípio, redutos de homens. Dar voz

às mulheres, constatar as suas realizações, ouvir as suas críticas e as suas vontades, registar as

suas propostas, celebrar este encontro em Portugal foram objectivos conseguidos.

As comunicações - seleccionadas de entre as que enviaram “mulheres consideradas relevantes

quer no jornalismo quer no associativismo pela estrutura diplomática e consular”, no dizer de

Maria Luísa Pinto, então presidente Instituto de Apoio à Emigração - agruparam-se em três

temas e foram apresentadas por portuguesas de todos os continentes e de diversas idades:

·         As mulheres migrantes na sociedade (com comunicações do Brasil, da República da África

do Sul, do Luxemburgo, de França, do Canadá, da Austrália e dos Estados Unidos da América);

·         As mulheres migrantes e o jornalismo (com comunicações do Reino Unido, da Argentina,

dos Estados Unidos da América, do Brasil, de França e do Canadá);

·         As mulheres migrantes e o associativismo (com comunicações dos Estados Unidos da

América, da Venezuela,  da Argentina, de França e do Canadá).



Houve ainda teatro e cinema sobre a emigração portuguesa em França apresentado por jovens

residentes naquele país, concertos, palestras, exposições e momentos de lazer e de convívio.

A iniciativa, organizada pela Secretária de Estado e pelo então Instituto de Apoio à Emigração,

foi apoiada pela UNESCO e outras instituições a nível nacional e local. Nela intervieram, para

além das entidades organizadoras e de elementos do Conselho das Comunidades Portuguesas,

figuras públicas residentes em Portugal - deputadas, escritoras, académicos, jornalistas e

representantes de diversos departamentos da Administração Pública.



Ficaram conclusões que, nos anos seguintes, vieram a inspirar políticas públicas em Portugal e

iniciativas das comunidades portuguesas por todo o mundo, incluindo a criação da Associação

Mulher Migrante, que actualmente integra o Conselho Consultivo da Comissão para a

Cidadania e Igualdade de Género. Ficou um livro a dar conta de tudo, editado pelo Centro de

Estudos da Secretaria de Estado, ao tempo já designada das Comunidades Portuguesas. E ficou

uma saudade de repetição, só concretizada 20 anos depois, numa versão actualizada, com os

“Encontros para a Cidadania: A igualdade de homens e mulheres nas comunidades

portuguesas” que tiveram lugar em diversos continentes entre 2005 e 2009 e que encerraram

em Espinho.

E eu que, pelas funções que fui exercendo, contribuí para a organização de vários destes

encontros, só posso agradecer o privilégio, a alegria e o enriquecimento que este trabalho me

deu.






 - O CCP, O ENCONTRO DE VIANA E AS POLÍTICAS DE GÉNERO   
1- Num momento em que o CCP, renovado por um processo eleitoral, tem de repensar a sua atuação, para ocupar, mais e melhor, o espaço privilegiado, que é o seu, no diálogo e cooperação entre portuguesas e portugueses do mundo inteiro e na sua representação perante o Governo, a diplomacia, as entidades públicas de Portugal, num momento em que está essencialmente voltado para hoje e amanhã, é interessante lançar um olhar retrospetivo sobre a sua evolução, em especial no que respeita ao equilíbrio de participação de género. Como tornar esta singular instituição mais inclusiva, mais democrática, mais capaz de levar a Lisboa toda uma grande diversidade de situações em mudança e de problemas, novos ou recorrentes, a solucionar na emigração? O equilíbrio de género será factor decisivo para que cumpra melhor as expetativas e os meios nele investidos? A paridade, globalmente, é ainda uma meta utópica, mas foi agora alcançada na Venezuela, na Argentina,em Macau...A diferença que as mulheres aí - e porventura, também noutros países - conseguirem fazer poderá mudar a forma de ser e de estar de um órgão, desde o seu início tão marcadamente masculino?

2- Na sua primeira vida, entre 1981 e 1988, o CCP era eleito dentro do círculo das associações do estrangeiro. Espelhava, naturalmente, a realidade de um universo institucional liderado por homens, não havendo entre os seus representantes eleitos uma única mulher. Mas no Conselho tinham também assento representantes da comunicação social, e foi no interior desta segunda componente que se registaram, nas eleições de 1983, as primeiras presenças femininas, Maria Alice Ribeiro (Canadá) e Custódia Domingues (França).
Foi Maria Alice Ribeiro, do Canadá, quem, na reunião Regional da América do Norte, em 1984, propôs a convocação de um encontro mundial de Portuguesas do estrangeiro, A ideia obteve fácil consenso e a Secretaria de Estado da Emigração promoveu a sua organização em 1985 .
A seleção das participantes foi feita com base em comunicações apresentadas por mulheres dirigentes na esfera associativa ou envolvidas na atividade jornalística - as duas vertentes em que se centrava o CCP. O 1º Encontro Mundial trouxe ao Minho, a Viana do Castelo, uma elite feminina, que se distinguiu pela sageza, visão e capacidade de chegar a consensos. Foi uma reunião diferente de todas as outras,verdadeiramente excecional... Falaram da especificidade de género nas migrações, mas também da emigração como um todo: o ponto de vista feminino, até essa altura, desconhecido, sobre sociedades em transformação, às quais queriam poder dar, livre e responsavelmente, a sua parte.
Essa primeira audição governamental foi uma espécie de "Conselho no feminino", preenchendo um vazio absoluto, convertendo-se em prenúncio de leis e programas, visando a paridade. A Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas instituira, em 1987, a Conferência para a Igualdade de Participação, que, a par de outras conferências temáticas, funcionaria na órbita do Conselho. Porém, no verão desse ano, caiu o Governo, e com o novo Executivo caiu o CCP e tudo o que com ele se relacionava, como era o caso das conferências periódicas. E a questão de género na Diáspora e no CCP ficou esquecida durante duas décadas.

3- O Encontro de Viana era precursor, em termos europeus (e, ao que se afirmou, nas sessões d 1º Encontro, em termos universais - ninguém tinha conhecimento de convocatória semelhante por parte de um governo em favor das mulheres expatriadas). Portugal era, por sinal, um Estado improvável para se tornar pioneiro neste domínio, com as suas políticas particularmente misóginas, desde os tempos da Expansão até ao 25 de Abril... E mesmo depois da revolução de 1974, continuara a centrar os esforços de promover a igualdade apenas dentro das suas fronteiras - as prioridades da Comissão para a Igualdade denunciam esta visão" territorialista" das suas tarefas. Em 1984/85, o impulso para a inovação e para a mudança veio do CCP, onde uma mulher "fez a diferença". As pioneiras do Conselho eram poucas, mas notáveis e estiveram, em 1993, entre as fundadoras da Associação Mulher Migrante, animadas pelo projeto de criar uma associação feminina internacional, segundo a estratégia delineada no Encontro de 1985.
4- Na sua segunda vida, em 1996, o CCP tornou-se um órgão eleito por sufrágio direto e universal, seguindo os novos moldes entretando adotados pelos congéneres europeus. Mas, de facto, em muitos domínios, (ensino, cultura, segurança social, recuperação da nacionalidade, participação cívica e política) as suas preocupações inseriam-se na senda do Conselhos anterior. Todavia, apesar do escasso número de eleitas em cada novo ato eleitoral, o CCP não retomou, nos seus plenários, a ideia de um forte chamamento cívico das mulheres a uma intervenção mais ativa no seu funcionamento e nas comunidades. As principais exceções foram o Canadá, que, com Maria Alice Ribeiro e o coordenador nacional Manuel Leal, colocaram esta problemática nas prioridades da agenda no plano local (dinamizando, com sucesso, colóquios e work shops em diversas cidades), os EUA, com Manuela Chaplin e o coordenador João Morais e o Uruguai, com Luis Panasco Caetano ( que se envolveu ativamente na promoção do associativismo feminino no sul da América) . Não haverá muito mais a assinalar.
A decisão de promover o aumento da presença feminina na instituição acabou por vir de fora, não em cumprimento de uma qualquer recomendação dos conselheiros, mas "ex vi legis", com a extensão às eleições do CCP das regras da Lei da Paridade, que rege a composição do Assembleia da República, das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas e das Autarquias.
E, por puro acaso, fruto da cronologia eleitoral, a primeira experiência da aplicação da chamada "lei das quotas" foi justamente a elaboração das listas para o Conselho. Um teste positivo, já que a proporção da mulheres aumentou, sem prejuizo da sua competência. Porém, no que respeita a cargos formais (presidência do órgão ou das comissões), o CCP tem sido sempre um "mundo de homens", ao contrário da Assembleia da República, ondea presidência, vice-presidência, chefia de delegações internacionais, dos grupos parlamentares e de comissões por deputadas entrou no domínio da normalidade ..
.5- A composição do Conselho saído das eleições de setembro passado, está muito longe da igualdade de género, com apenas 12 mulheres conselheiras, embora a paridade tenha sido alcançada, aqui e ali.... A Venezuela figura, doravante, nos anais da instituição, com a liderança feminina das listas vencedoras no conjunto das duas áreas consulares, e os nomes de Milú de Almeida e de Fátima Pontes, que encabeçaram listas rigorosamente paritárias. O mesmo se diga da Argentina, com Maria Violante Martins, e de Macau, com Rita Santos.
Se quantitativamente o resultado fica muito àquém do ideal da paridade, já de um ponto de vista qualitativo ( olhando o movimento que leva as mulheres ao "empoderamento" na assembleia representativa dos emigrantes, que é o CCP), há sinais promissores de mudança. Pela primeira vez, são eleitas conselheiras oriundas de um associativismo de matriz cívica, de um "congressismo" que se reconhece no " espírito de Viana" - caso da "Mulher Migrante" com as suas ramificações internacionais, particularmente fortes na América do Sul, na Venezuela, na Argentina. Maria Violante, Milú de Almeida e Fátima Pontes são associadas e dirigentes da "Mulher Migrante"..
6 - O CCP fez história das políticas de género com a proposta do Encontro Mundial de 1985, que designámos como uma espécie de "CCP no feminino". Tem agora, com militantes de movimentos que aí nasceram, a possibilidade de levar por diante essas políticas, incluindo na sua agenda de preocupações e de prioridades de ação a metade marginalizada das comunidades, as mulheres, ou seja, de integrar, definitivamente "o feminino no CCP".

Maria Manuela Aguiar



1995
UM CONGRESSO A ABRIR CAMINHOS DE FUTURO
O ENCONTRO MUNDIAL DE MULHERES MIGRANTES – GERAÇÕES EM DI
Introdução

O Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo, realizado em Março de 1995, marca ielmente o início das atividades da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher Migrante, criada por escritura notarial em 2 de janeiro de 1994, razão pela qual valerá a pena revisitar este evento, decorridos já 20 anos, numa tentativa de evidenciar a sua importância, apesar de existirem publicações que o relataram, incluindo muitas das comunicações *.
Uma Associação, que se inspirou nas grandes conclusões o 1º. Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e Jornalismo organizado pela Secretaria de Estado da Emigração em 1985 e assim iniciou este caminho que vem percorrendo: de estudo e investigação que envolve a problemática da mulher portuguesa na nossa diáspora.
Este Encontro, que serviu para dar a conhecer a nossa associação, foi também a concretização de uma das recomendações do Encontro de Viana (1985), que visava a realização de um Congresso de Portuguesas no Mundo e, segundo Manuela Aguiar (2009), … com a finalidade de abordar áreas temáticas, tais como a presença feminina no associativismo, na comunicação social, no trabalho, no ensino da língua, na preservação da cultura, através das segundas gerações, na preparação do regresso a Portugal.
No Encontro Mundial de Espinho intitulado Gerações em Diálogo estiveram cerca de 400 participantes, muitas das quais vindas dos cinco continentes e na sua grande maioria dirigentes associativos, professores, investigadores, antigos conselheiros do CCP, jornalistas, políticos, jovens das comunidades e de associações espinhenses.
Tive a honra e a satisfação de ter sido desafiada pela Direção e pela Presidente da Assembleia Geral para organizar este primeiro Encontro, cuja tarefa foi facilitada pela extraordinária equipa que me apoiou.
Neste recuo de 20 anos, será relatada esta experiência magnífica e, provavelmente, evidenciados factos que marcaram este Encontro que terá aberto os caminhos de futuro da nossa Associação.

  • Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo. Comunicações (s/ data). Edição AECS Mulher Migrante. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal “A Voz de Azemeis”
  • Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As Ideias e os Factos Assinalados (s/ data). Edição AECS Mulher Migrante. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal “A Voz de Azemeis”
  • Mulher Migrante – O Congresso ONLINE (2009). M. Aguiar & T. Aguiar (Coordenação). Edição AECS Mulher Migrante. Porto: Rocha artes gráficas.lda.

Organização
Todas as tarefas são simplificadas, quando a equipa é coesa e dinâmica, interessada em tudo fazer para o êxito desta organização. Com diferentes vivências e formações académicas, muitos dos quais estudantes de doutoramento da minha Faculdade, propiciaram uma articulada intervenção para dar resposta a todas as necessidades.
Orgulho-me desta equipa que tão bem me apoiou e que muito justamente merece ser elogiada neste texto, com o meu maior agradecimento: Rosa Maria Albernaz, Isabel Aguiar, Maria José Vieira, Estefânia Ribeiro, Elsa Gaioso Vaz, Conceição Maia, Manuela Diniz, Sandra Prata, Manuela Barros Aguiar, Conceição Catarino, Sónia Teixeira, Mónica Silva, Iguatemy Lucena Martins, Luís Antonio Silva, Juarez Nascimento, Solange Nascimento, Joyce Stefanello, Wenceslau Leães Silva.
Desde o acolhimento no aeroporto, com o transporte fornecido pela Câmara Municipal de Espinho e que garantiu todas as chegadas, considerando a diversidade dos horários, instalação no Hotel Praiagolfe onde se realizou o Encontro, organização dos espaços e funcionamento das atividades definidas na programação, para

Todas as tarefas são simplificadas, quando a equipa é coesa e dinâmica, interessada em tudo fazer para o êxito desta organização. Com diferentes vivências e formações académicas, muitos dos quais estudantes de doutoramento da minha Faculdade, propiciaram uma articulada intervenção para dar resposta a todas as necessidades.
Orgulho-me desta equipa que tão bem me apoiou e que muito justamente merece ser elogiada neste texto, com o meu maior agradecimento: Rosa Maria Albernaz, Isabel Aguiar, Maria José Vieira, Estefânia Ribeiro, Elsa Gaioso Vaz, Conceição Maia, Manuela Diniz, Sandra Prata, Manuela Barros Aguiar, Conceição Catarino, Sónia Teixeira, Mónica Silva, Iguatemy Lucena Martins, Luís Antonio Silva, Juarez Nascimento, Solange Nascimento, Joyce Stefanello, Wenceslau Leães Silva.
Desde o acolhimento no aeroporto, com o transporte fornecido pela Câmara Municipal de Espinho e que garantiu todas as chegadas, considerando a diversidade dos horários, instalação no Hotel Praiagolfe onde se realizou o Encontro, organização dos espaços e funcionamento das atividades definidas na programação, para além de tudo quanto possa envolver as dúvidas e necessidades de cada participante, alguém estava atento e pronto para apoiar.
Mas para que os objetivos do Encontro se pudessem implementar, sobretudo para que houvesse uma significativa participação de mulheres vindas dos cinco continentes, foi fundamental ter tido apoios que importa salientar e reconhecer: Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, Secretaria de Estado da Juventude, Ministério da Educação, Sub-Secretaria de estado da Comunicação Social, Direção Geral da Família, Governo Civil de Aveiro, Governo Civil de Lisboa, Câmara Municipal de Espinho, Junta de Freguesia de Espinho, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, Comissão de Turismo Rota da Luz, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Luso-Americana, Fundação Luso-Brasileira, Fundação Oriente, Banco português do Atlântico, Praiagolfe Hotel, Salvador Caetano, Espinfor, Centralcer, Edgar & Irmão, Saer, Solverde.
Um Comissão de Honra que também nos prestigiou com as suas presenças e intervenções. Todas e todos tiveram um papel preponderante, que julgo ser inédito e de que muito nos prestigiaram
Participação
Concretizando uma das recomendações do Encontro de Viana (1985), que visava a realização de um Congresso de Portuguesas no Mundo, trouxemos a Espinho mulheres que foram criteriosamente escolhidas pela Direção da Associação ECS Mulher Migrante, dado o seu papel preponderante nas comunidades portuguesas onde vivem e mesmo membros do Conselho das Comunidades Portuguesas (Manuela Chaplin e Maria Alice Ribeiro). Do oriente (Malaca – Joan Marbeck, Goa – Fátima Garcia e Maria Lopes, Damão – Graça Rocha), ao ocidente e até á Califórnia – Mary Giglitto e Maria João Brantuas. Dos estados Unidos da América, Manuela Chaplin, Manuela Ferreira, Berta Madeira, Gabriela Vetter. Do Canadá, Conceição Freitas, Lourdes Lara, Alice Ribeiro, António Ribeiro e Idalina Silva. Do Brasil, Núbia Marques, Maria Pisolante e Benvinda Maria. Da Venezuela, Juliana Resende. Da Africa do Sul, Vera Nazaré e Maria Salgado. Da Europa, Mari Freitas (Holanda), Lígia Alvar, Olímpia Oliveira e Céu Cunha (França). Todas estiveram presentes, com intervenções magníficas.
Algumas já tinham estado em Viana, em 1985 (Eulália Salgado, Lourdes Lara, Juliana Resende, Manuela Chaplin, Berta Madeira, Mary Giglitto) e outras, agora a residir em Portugal, tais como a Laura Bulger (Canadá) e Leonor Xavier (Brasil).
Estiveram presentes cerca de 400 participantes, sendo 91 das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, muitas das quais sem terem o financiamento da Associação Mulher Migrante e indentificadas na separata do Jornal Lusitano (Edição nº 305 de 25 de Março de 1995) .
Programa
Elaborar o programa deste primeiro Encontro e mundial, que pretendeu propiciar um espaço de diálogo entre mulheres e homens de diferentes idades e provenientes dos cinco continentes onde moram ou moraram, com experiências de vida diversificadas, seria uma tarefa difícil. Mas não foi!
A Drª. Manuela Aguiar, que havia sido Secretária de Estado da Emigração e depois Deputada da Assembleia da República pela Emigração e eu própria, em poucas horas definimos os vários temas que seriam abordados em Conferências e Mesas Redondas, com os diferentes intervenientes a convidar (e que quase todos aceitaram), bem como para as Comunicações Livres, que a seguir se descriminam e que ocuparam os três dias de intensa atividade do Encontro.
Conferências:
Gerações em Diálogo em Contexto da Emigração – Profª Doutora Engrácia Leandro
História e Política da Emigração (1850-1930) – Profª Doutora Mirian Halpern Pereira
A Família Dividida pela Emigração – Prof. Doutor Policarpo Lopes
Mesas Redondas:
Exercício da Cidadania nas Várias fases do Ciclo Migratório – Moderadora: Drª Manuela Aguiar
Discriminação, exclusão, racismo e Xenofobia nas Sociedades de Hoje –Moderadora: Drª Amélia Azevedo
Regresso de Emigrantes e Desenvolvimento Económico em Zonas Rurais – Moderadora: Profª Doutora Manuela Ribeiro
A Força das ONG´s – um novo olhar sobre a participação – Moderadora: Drª Ana Vicente
Do Presente um Olhar Retrospectivo: perspectiva de diferentes gerações. Pioneiros e Descendentes – Moderador: Prof. Doutor Félix Neto
Mulheres Migrantes – carreira, participação social e política – Moderadora: Celina Pereira
A Mulher nas Literaturas de Língua Portuguesa – Agustina Bessa Luís
Comunicações Livres:
Os Jovens na Construção de Comunidades de Língua e Cultura Portuguesa – Presidente: Dr. José Cachadinha
Espaço de Associativismo e Comunicação Social nas Comunidades Portuguesas – Presidente: Prof. Doutor Salvato Trigo
Mulheres das Sete Partidas do Mundo – Presidentes: Drª Rita Gomes e Profª Doutora Graça Guedes
anexo
Muitas das comunicações foram posteriormente publicadas pela Associação, algumas na íntegra e outras em resumo (in Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Comunicações. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis).
Na sessão de abertura, presidida pela Secretária de Estado da Juventude, Drª Maria do Céu Ramos e depois das boas vindas do Presidente da Câmara de Espinho, José Mota, na qualidade de anfitrião, saudando todos os presentes e salientando o seu orgulho pela realização deste evento em Espinho, manifestou a sua felicidade pela opção pela sua terra, mas também por considerar a temática ser da maior relevância e oportunidade, a Drª Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da Associação ECS Mulher Migrante, abre os trabalhos, expressando a vontade de ali se discutirem, em ambiente de grande abertura e informalidade, os problemas que preocupam as Comunidades Portuguesas do mundo inteiro, os problemas dos imigrantes em Portugal, os problemas da lusofonia e fez fé nas suas certezas. E acrescenta … Sabemos que as realidades das Comunidades mudam todos os dias, queremos estar a par, queremos que nos venham dizer hoje, em 1995, o que querem de Portugal, o que podem fazer por Portugal, qual é o papel de cada um de nós, num grande e ambicioso projeto de afirmação da língua e da cultura no Mundo (in Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As Ideias e os Factos Assinalados. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis. 9 p).
anexo
A encerrar esta sessão de abertura, a Secretária de Estado da Juventude, numa intervenção longa e de improviso, parte da qual está também registada na publicação atrás referida, expressa assim as razões da sua presença: … a minha presença aqui significa o apoio incontroverso às mulheres de todo o mundo, mas em particular às mulheres mais jovens, que nesta relação de solidariedade estão a ser capazes de mostrar que os tempos são de mudança e que nos espera um futuro com mais igualdade de oportunidades, com maior respeito pela dignidade das mulheres, com mais solidariedade também para com os homens, porque nada se faz no mundo só com os homens ou só com as mulheres. Acima de todos, está o primado da pessoa e pessoas somos todos nós (in Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As ideias e os factos assinalados. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis. pp. 12-13).
anexo
A sessão de encerramento foi residida pela Drª Maria de Jesus Barroso, esposa do Presidente da República, que desde então tem acompanhado as atividades da nossa Associação, presidindo à Comissão de Honra na grande maioria dos eventos que têm sido organizados ao longo destes vinte anos e neles participado ativamente, sendo nossa Sócia Honorária.

Na sua intervenção e depois de ouvido atentamente as conclusões do Encontro, num improviso emocionado que galvanizou a assembleia e frequentemente interrompido pela forte ovação da sala, expressa assim as razões da sua presença neste Encontro para o qual foi convidada e que agradece: Tenho muito gosto em estar aqui ao lado das representantes das várias comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Eu própria, quando vou a qualquer parte do mundo, acompanhada pelo meu marido, tenho tido o cuidado de comunicar com as comunidades, para saber como vivem, saber o que sentem, saber o que sonham, conhecer os seus anseios. Uma coisa que me comove particularmente é perceber o carinho e o amor que continuam a dispensar a Portugal (in Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As ideias e os factos assinalados. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis. pp. 68-69). E acrescenta…Fico muito satisfeita porque os jovens estão também representados neste Encontro, desejosos e ansiosos de manter a ligação ao país de origem, seu e de seus pais. A eles direi que devem exigir, exigir e exigir aquelas condições que são indispensáveis para que possam continuar a falar a sua própria língua, para que não a percam nos países de língua completamente estranha.


anexo
Atividades culturais
Tal como aconteceu no Encontro de Viana em 1985 e bem explicado no livro de Atas publicado em 1986 pelo Centro de Estudos da Secretaria de Estado das Comunidades portuguesas (pp. 121-133) cujas atividades culturais incluíram Teatro, pelo Grupo Cá e Lá, Cinema, com a projeção do filme Portugaises d´Origine, Exposições – bibliográficas (organizadas pelo Instituto de Apoio à Emigração e Comunidades Portuguesas, pela Comissão da Condição Feminina e pela Associação Portuguesa de Escritores e Livreiros), fotográfica, intitulada Cantos e Recantos, da autoria de Esperança Marques, patentes no espaço de convívio do Encontro e ainda uma exposição patente em Braga, evocando a História da emigração e fixação portuguesa no Hawai, intitulada Os Portugueses no Hawai - no final primeiro dia do Encontro e depois da receção na Câmara Municipal de Espinho pelo então Presidente José Mota, foi inaugurada num espaço central da cidade, com acesso livre a toda a população, a Exposição Paisagem de um Povo, da pintora Fátima Melo e que pertence à Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, favorecendo assim uma ligação do Encontro com a cidade que o acolheu e que ficou aberta durante todos os dias .
Trata-se de uma coleção de pintura a pastel sobre papel, composta por 15 telas, representando diferentes regiões de Portugal e que havia sido encomendada à autora pela então Secretária de Estado da Emigração, Drª. Manuela Aguiar.
anexo
Este primeiro dia não terminou, sem uma oportunidade para todas se conhecerem melhor.
Houve um convívio cultural, onde não faltou o canto, a dança e a poesia, protagonizados pelo grupo Como Elas cantam e Dançam em Paços de Brandão, dirigido pela Dona Joana Ferreira Alves e considerado internacionalmente como o melhor grupo etnográfico português, pela Tuna Feminina da Universidade do Porto e pela poetisa Elsa Noronha, também interveniente na Mesa Redonda do Encontro intitulada A Mulher nas Literaturas de Língua Portuguesa, moderada pela escritora Agustina Bessa Luís.
Depois de três dias de intenso trabalho em Espinho, as participantes deslocaram-se para Lisboa, onde tiveram uma receção no Hotel da Lapa, oferecido pela Senhora Governadora Civil de Lisboa, Drª. Adelaide Lisboa, sem porém deixarem de passar por Aveiro, para um passeio turístico na Ria, num barco Moliceiro, oferecido pelo Governador Civil de Aveiro, Dr. Gilberto Madail e pela Comissão de Turismo Rota da Luz.

Conclusão
Seria exaustivo apresentar aqui as conclusões de cada um dos painéis que estão registadas na publicação frequentemente referida neste texto (Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As Ideias e os Factos Assinalados. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis) e ao longo de 11 páginas (pp. 75-86).
Seleciona-se uma e relativa às relações inter-geracionais, em homenagem à grande temática do Encontro: Gerações em Diálogo:

anexos
A terminar, será de registar na entrevista feita pelo Jornal Lusitano à Drª Manuela Aguiar e que intitulou Um Sonho Partilhado, a resposta dada à questão colocada acerca do que mais importante destacou do Encontro de Espinho: Quando olho para trás e vejo as pessoas que estiveram connosco, a quantidade e qualidade do trabalho efetuado, penso que aconteceu um milagre, pois era uma iniciativa extremamente difícil de gerir. O ambiente humano foi excelente, o que permitiu que todos dialogassem de uma forma fraterna, sem ter acontecido nenhuma hostilidade. Ainda por cima vive-se numa fase pré-eleitoral que é sempre conflitual e, estando presentes políticos de vários partidos, não houve nunca a tentação de politizar a reunião. E acrescentou, … O diálogo de gerações aconteceu.
E assim aconteceu em Espinho, em 1995.


Graça Guedes
Professora catedrática
Secretária-Geral da AEMM

2005 – 2009 
OS ENCONTROS PARA A CIDADANIA - a igualdade entre mulheres e homens
Com Maria Barroso na Diáspora
O 1º Encontro Mundial de Mulheres presentes no associativismo e no jornalismo da Diáspora foi, em 1985, a primeira manifestação de uma política para a igualdade na Diáspora, política que, após um hiato de 20 anos, seria relançada pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, em 2005
Para presidir aos Encontros, o Secretário de Estado António Braga convidou a Dr.ª Maria Barroso – ninguém como ela poderia ser o rosto de um projeto de inclusão de género e geração na vivência plena da cidadania, em todas as comunidades portuguesas.
Era uma parceria Estado/sociedade civil, que envolveu na organização dos Encontros, ao longo de quatro anos a colaboração da AEMM, da Fundação Pró Dignitate e outras ONG’s do País e da Diáspora.
A Dr.ª Maria Barroso estivera presente nas iniciativas da AEMM, desde a primeira hora, como nós estivemos com ela nos quatro cantos do mundo, em todos estes verdadeiros congressos com que se fazia História da democracia portuguesa, levando a aplicação das políticas públicas da igualdade para fora dos limites territoriais.
As portuguesas da Diáspora tinham perante si um exemplo vivo da Mulher e Cidadã, que soube, sempre, de uma forma tão caracteristicamente feminina fazer muita coisa, ao mesmo tempo, e tudo muito bem – ser a mãe de família e a mulher, ser um expoente na vida profissional, na vida política, no voluntariado, na cultura.
Acho que foi determinante para apropriação do espírito do projeto por cada uma, por cada um dos presentes o facto de terem perante si uma Mulher-símbolo, que era também uma pessoa encantadora, simples e solidária. A mensagem passava, com a força da sua palavra e do seu sorriso. Todas a sentíamos como “uma de nós”, sem nunca esquecer a sua absoluta excecionalidade.
De Buenos Aires (2005) a Estocolmo (2006), de Toronto (2007) a Berkeley e a Joanesburgo (2008), reunimos com representantes das comunidades de toda a América do Sul, das duas costas da América do Norte, da Europa, da África e, em 2009, em Espinho, pudemos realizar no “encontro dos encontros”, o balanço desta experiência inédita, do ambiente em que fora vivida, das esperanças que despertara, do impacte que se prolonga até hoje, em novas iniciativas, deixando-nos a convicção de que há um período antes e depois deste encadeamento de congressos, no que respeita à política de Estado para as comunidades, e, sobretudo na consciência das questões de género, a nível das comunidades, no florescimento de novos movimentos norteados pela ideia da paridade

Buenos Aires
Na Biblioteca Nacional, o auditório Jorge Luís Borges esteve sempre cheio, foi durante os dias do congresso um espaço luso-argentino, ouvia-se o português e o castelhano, falou-se de Regina Pacini, a portuguesa que foi até hoje, a única primeira-dama estrangeira do País. A Embaixada e o Instituto Camões deram uma enorme colaboração, o Embaixador e a Embaixatriz ambos participaram ativamente nas sessões. Marcante a presença de Maria Kodama.. O mundo associativo e o mundo cultural estiveram em evidência. A cobertura mediática foi excelente, RTP. RDP. TSF, imprensa nacional e regional. Nunca se falara tanto não só das mulheres como das comunidades portuguesas da Argentina. António Braga reconhecia que as questões de género tinham andado até li muito esquecidas… Respirava-se um ar de mudança. No final, a Presidente Maria Barroso, como que sintetizando as conclusões, diria: "Considero que foi uma reflexão aprofundada sobre os problemas que dizem respeito às mulheres, e, em particular, às mulheres migrantes. Mulheres e Homens têm de assumir um papel onde ambos os géneros contribuem para a melhoria da sociedade"
A Mulher Migrante Portuguesa da Argentina, co-organizadora local do Encontro estava de parabéns e festejou, no dia seguinte o seu aniversário na Associação de Echevarria. Partimos todos de Buenos Aires para lá num modesto autocarro, que a presidente Maria Barroso insistiu em partilhar connosco.
Estocolmo
Co-presidiram ao Encontro Maria Barroso e Anita Gradin, antiga Ministra da Imigração do Governo de Olaf Palme, Comissária Europeia e Presidente da Internacional Socialista de Mulheres. Duas grandes Mulheres, porque Anita é, igualmente, um nome mítico no seu país, onde foi a primeira responsável pela aplicação do sistema de quotas (uma amiga de longa data da Dr.ª Maria de Jesus, e, por sinal, minha, também). O Secretário de Estado Jorge Lacão e outros homens ilustres, tornaram o Encontro quase paritário. E a Dr.ª Maria Barroso salientou: "É muito importante que os homens estejam presentes, não queremos uma sociedade de mulheres, mas antes de homens e mulheres conscientes dos seus direitos e deveres".
Uma ênfase na ideia da cidadania feminina para o serviço da comunidade, que nos leva a vê-la, como uma mulher eminentemente moderna no século XXI, na linha precursora dessa plêiade de Portuguesas que, no começo de novecentos, lutaram pela igualdade de sexos.

Toronto
A conferência atraiu ativistas dos direitos humanos, deputadas canadianas, universitários, investigadores, dirigentes associativos, mulheres e homens, e uma ampla cobertura dos “media” em língua portuguesa de Toronto (que são muitos e muitos de qualidade), permitindo que as mensagens chegassem à comunidade inteira.
O Secretário de Estado Jorge Lacão, o Embaixador que veio de Otava, o representante dos Açores, a Cônsul-Geral Maria Amélia Paiva (unanimemente elogiada pela organização da" Conferência") e muitos outros intervenientes lembraram o caminho percorrido e o que falta percorrer. A lei da paridade esteve no centro do debate
A Dr.ª Maria Barroso, falou de um tempo novo ("A Mulher de hoje pode governar uma Nação"), que exige mobilização e persistência. “Temos muito que lutar para que a igualdade entre homens e mulheres seja uma realidade, mas tenho a certeza de que um dia venceremos. Já não será para mim, mas para aquelas que nos darão continuidade".
Na despedida, depois dos plenários de trabalho, das visitas a instituições da comunidade de Toronto, fica a frase de Jorge Lacão, que a imprensa reproduziu amplamente: "Viemos ver coisas extraordinárias."
Antes mesmo da Conferência, Maria Barroso tinha aceite um convite da comunidade de Montreal para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Chegara ao Canadá na noite anterior, levantou-se de madrugada para um voo matutino, cumpriu um programa intenso, visitas à Câmara Municipal, a organizações da comunidade, almoço num restaurante português, onde discursou, ao lado do Cônsul Geral e da Ministra da Imigração. Falou de democracia e de futuro. Recebeu uma infindável ovação, muitos não continham lágrimas de emoção. Regressou tarde a Toronto, sem dar mostras de cansaço, sob a neve e a ventania gélida de um Março invernoso. Ninguém notou, mas Maria Barroso estava com um princípio de gripe, tinha febre, Nós sabíamos, mas não conseguimos que se resguardasse um pouco. Era assim mesmo, era filha de um militar. Estava em pleno combate pelas suas causas.

Joanesburgo

As mulheres predominavam nas belas instalações do “Lusito” (ou não fosse o Encontro da responsabilidade da eficiente “Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul), mas havia um significativo número de homens, o Embaixador, o Cônsul-Geral, conselheiros do CCP dirigentes das principais instituições comunidade, para ouvir a Presidente Maria Barroso falar da situação das mulheres através dos tempos e no nosso tempo e lembrou-nos que "apesar da História ter sido tecida por Mulheres e Homens só a estes é dada relevância"
Falou de uma nova agenda de temáticas em que as mulheres podem fazer a diferença - a denúncia da violência nos media, o racismo e a xenofobia, a indiferença perante tantos atropelos dos direitos humanos…
E houve ainda tempo para a nostalgia, para a Dr.ª Maria Barroso encontrar amigos que conheceu em circunstâncias dramáticas, quando do acidente do filho. E recordar um prévio encontro com o Embaixador Paulo Barbosa, em Israel, durante uma visita presidencial, que coincidiu com a trágica morte de Itzak Rabin, um grande amigo de Maria Barroso. Pedaços da história à qual ela pertence para sempre.
Na sessão de encerramento, o SECP António Braga manifestou o seu inteiro apoio ao movimento de mudança que ali se confirmara e anunciou a realização em 2009 de um Encontro Mundial de Mulheres em Portugal.

Elizabeth e Berkeley
A caminho da costa oeste, uma breve estada em Elizabeth, NJ, a convite de Monsenhor João Antão, e da paróquia portuguesa de Nossa Senhora de Fátima, em cujos salões se realizou um primeiro encontro de formação de jornalistas lusófonos, centrado nas temáticas da Paz e da Igualdade. Uma visita às Nações Unidas, outra a um Liceu de Elisabeth, muito prestigiado, e que tem o nome de Monsenhor Antão, (uma honra num país onde é raro atribuir a instituições públicas o nome de pessoas vivas).
Em Berkeley o tema do Encontro era "O papel da Mulher no futuro do associativismo e movimentos cívicos da Califórnia", pondo o enfoque nas questões do associativismo feminino, (com introdução da grande especialista Profª Deolinda Adão), da colaboração intergeracional, do papel dos media na formação para a igualdade, seguido de um encontro informal com estudantes e professores de Berkeley, na companhia do SECP António Braga
Ao abordar, tanto em Berkeley como em Elizabeth, o tema da interculturalidade entre comunidades migrantes de diferentes países que se expressam em Português, Maria Barroso, mostrava acreditar que, também neste domínio, o entendimento entre as mulheres migrantes dos vários quadrantes da lusofonia pode fazer a diferença – no que todos nós a secundávamos.
No regresso a Portugal, nova passagem por Elizabeth e pela paróquia portuguesa. Monsenhor João surpreendeu a Dr.ª Maria Barroso com a mais bela das homenagens: nos poucos dias da nossa ausência na Califórnia, Roger Gonzalez um talentoso artista, pintara o seu retrato, à entrada da ala da residência onde ficou hospedada
Ao findar um périplo por tantas comunidades, a Presidente dos Encontros deixava, assim, o seu retrato num mural na América do Norte, tal como deixara, por todo o lado, o retrato de corpo inteiro de uma cidadã, a mobilizar, pela palavra e pelo exemplo, pelo advento de sociedades, mais livres, mais abertas a todos, ou seja, mais humanas.

Maria Manuela Aguiar

2015

A - OS CONCERTOS "A Portugalidade"
 - Comemorações do 75ºaniversário do Maestro António Vitorino de Almeida
As conferências/Concertos com Miguel Leite e o Maestro António Vitorino de Almeida integraram-se na homenagem promovida pela SECP, em parceria com a AEMM, ao compositor português mais importante da atualidade, que, tendo vivido mais de 30 anos em Viena, é também um símbolo da emigração altamente qualificada, que hoje assume proporções jamais vistas.
A iniciativa permitiu atingir dois objetivos, em simultâneo: levar às comunidades do estrangeiro, em palcos internacionais, a Arte e a Cultura portuguesas, em atuações de caráter didático e formativo, e celebrar, em ambiente festivo, uma data especial na vida de uma pessoa especial- um expoente da nossa Cultura, e da nossa Música, que é também um genial comunicador.
Em 2015, realizaram -se os primeiros espetáculos no Luxemburgo (no Auditório Municipal da cidade de Esch) e em França (Paris - no Conservatório Jean-Baptiste Lully da Municipalidade de Puteaux) - momentos inesquecíveis, emocionantes, que terminaram, da mesma maneira, todos de pé, num imenso aplauso ao homenageado. Na fórmula adotado, um diálogo entre dois especialistas, que, no palco falavam de grandes músicos portugueses e de outros vultos da cultura deles contemporâneos, havia sempre ocasião para os mementos mágicos em que o Maestro tomava conta do piano, ou em que o piano tomava conta dele, na execução de obras desse compositores, ou em pura improvisação - memorável o improviso dedicado soa Cristos de Mestre Adelino Ângeli, em Puteaux - com o mestre comovido a exclamar "igual a Wagner!"Presentes no Luxemburgo o Embaixador e o Cônsul - Geral, (a quem se deve a esplêndida organização), e em Puteaux, o SECP e o Deputado Carlos Gonçalves e a Vice-Reitora da Sorbonne Isabelle Oliveira, que foi a grande impulsionadora local do concerto, que decorria no final do Colóquio realizado na Universidade da Sorbonne (Diálogos sobre cultura, cidadania e género).
Em Esch, a ordem foi invertida, primeiro o concerto, ao fim da tarde, seguido de um jantar tertúlia, com portugueses do Luxemburgo.
Esta iniciativa da SECP de homenagem ao Maestro, não teve, no nosso país, o eco que deveria ter nos meios de comunicação social, mas no Luxemburgo a cobertura mediática foi excelente, na rádio e no jornal Contacto, que, para além da notícia, realizou entrevistas com o Maestro, Miguel Leite, e, na perspetiva da emigração atual, um dos temas da tertúlia, também Manuela Aguiar. Num relato conciso, Henrique de Burgo salienta: "A conferência-concerto decorreu num ambiente descontraído. Victorino d' Almeida passou em revista alguns dos momentos marcantes dos seus 75 anos de vida e relembrou alguns compositores portuguese. Ao piano, tocou o fado "A Severa, de compositor ignorado, Frederico de Freitas e "Verdesanos " de Carlos Paredes, entre outras obras. [...] Victorino de Almeida conta com mais de 200 composições (sinfonias, óperas, fados, música de Câmara) e 14 livros."-j Miguel Leite acentuou a importância deste projeto para mostrar que "Há outro tipo de música. Portugal é um país que tem grandes compositores, grandes pianistas e jovens músicos a dar cartas pelo mundo fora em grandes orquestras. Somos bons em tantas coisas, mas somos maus a divulgar. Também o Maestro deu uma expressiva entrevista a Henrique de Burgo, em que começa com uma afirmação que faz o título principal:
EM PORTUGAL SINTO-ME COMO UM PESCADOR DE BALEIAS NA SUIÇA
transcrever na íntegra
Passar para o ponto em que se referem os media????  c
B. Os COLÓQUIOS
 A AEMM co-organizou quatro colóquios, ao longo de 2015: em 21 de maio em Lisboa, com a Universidade Aberta, em Monção, em 5 de setembro, com a Casa Museu de Monção, pólo cultural da Universidade do Minho e a Câmara Municipal de Monção , em Paris, em 10 de setembro, com a Sorbonne, e em Lisboa, com a Fundação Prof Fernando de Pádua.
Alguns dos lançamentos das edições da AEMM "40 anos de migrações em Liberdade"(coord Manuela Aguiar, Graça Guedes, Arcelina Santiago) e "Califórnia, Madrasta dos meus Filhos" (org Delinda Adão") foram, também realizados no contexto dos colóquios (em Lisboa na Universidade Aberta e na Sorbonne), ou num modelo mais informal de tertúlia (no Café Guarani), ou debates, na Biblioteca José Marmelo e Silva de Espinho, no espaço cultural Viva Cidades, no Porto. Deles daremos nota no ponto seguinte.
B1 - Os Programas
Colóquio “Migrações e Género. Novas Perspetivas de Intervenção” – Lisboa
Universidade Aberta - Palácio Ceia - Lisboa 21 de Maio de 2015
Abertura dos Trabalhos
Profª Drª Rosa Sequeira –Coordenadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), Universidade Aberta; Profª Drª Ana Paula Beja Horta, CEMRI, Universidade Aberta;Drª Maria Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade – Mulher Migrante (AEMM);Drª Rita Gomes, Presidente da Direção da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade – Mulher Migrante (AEMM)
Homenagem Póstuma ao Dr. Carlos Pereira Correia
Lançamento da Publicação da AEMM: 1974 – 2014 - 40 Anos de Migrações em Liberdade- DrªMaria Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da AEMM
Temas em Análise e Debate
Tema I. Revisão da Lei do Conselho das Comunidades Portuguesas e perspetivas departicipação das mulheres
Dr. Victor Gil. Ex-diretor do Gabinete de Ligação ao Conselho das Comunidades Portuguesas; Moderadora: Profª Doutora Maria Beatriz Rocha Trindade, CEMRI, Universidade Aberta
Tema II. Desenvolvimento e Género
Profª Drª Sónia Frias, ISCSP, Universidade de Lisboa, Investigadora do CEsA, ISEG, Universidade de Lisboa e Investigadora do CEMRI, Universidade Aberta; Profª Drª Joana Miranda, Universidade Aberta, Investigadora Responsável pelo Grupo de Investigação – Estudos sobre as Mulheres, CEMRI, Universidade Aberta; Moderadora: Profª Drª Natividade Monteiro, Investigadora do CEMRI, Universidade Aberta
Debate final
 Colóquio "Expressões de Cidadania no Feminino"
Programa ( Colocava aqui o convite e programa com imagem e tirava esta parte
Casa Museu da Universidade do Minho, Monção, 5 de Setembro
Intervenientes no Colóquio: Paulo Esteves, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Monção, Luísa Malato, Professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Maria Manuela Aguiar, Presidente da AEMM, Viriato Capela, Professor da Universidade do Minho e Director da Casa Museu de Monção Arcelina Santiago, Professora e Comissária das Exposição e Nassalete Miranda, directora do Jornal Artes entre Letras e Moderadora do Colóquio
Ao colóquio seguiu-se a inauguração da Exposição de pintura e escultura com os artistas: Luísa Prior, Filomena Fonseca, Maria André, Teresa Heitor, Maria Helena Álvares, Filomena Bilber e Ricardo Campos (artista monçanense convidado).


 Colóquio “DIÁLOGOS SOBRE CULTURA, CIDADANIA E GÉNERO”
Universidade da Sorbonne Nouvelle Sala Bourjac10 de setembro de 2015

SESSÃO DE ABERTURA
Professora Doutora Isabelle  OLIVEIRA – Universidade da Sorbonne Nouvelle; Sua Excelência o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José CESÁRIO.
Temas
“O papel dos mídias portugueses na emergência de uma diáspora lusófona”
Dr. José ARANTES – Director RTP África.
“Homenagem à Drª MARIA BARROSO.
"A génese das políticas de género para aemigração. Encontros para a Cidadania – 2005-2009”
Drª Manuela AGUIAR – Presidente da Assembleia Geral da Associação MulherMigrante.
Encerramento Drª Rita GOMES – Presidente da Direção da Associação Mulher Migrante.
Lançamento da PUBLICAÇÃO da AEMM1974- 2014 – 40 Anos de Migrações -Maria Manuela Aguiar(Coordenadora da Publicação)

. MARIA ARCHER O LEGADO DE UMA ESCRITORA VIAJANTE, Lisboa, Fundação Prof Fernando de Pádua, de novembro
Lançamento do livro de Elizabeth Batistta, com o mesmo título
Sessão de Abertura
Prof Fernando de Pádua ( Sobrinho predileto de Maria Archer e herdeiro do seu espólio, dado à estampa no livro ali apresentado, o Professor traçou um relato sobre a vida da escritora em familia -  o seu relacionamento particularmente afetivo com ela, a ajuda que lhe deu para prosseguir o curso -  e sobre o seu percurso como escritora e ativista da liberdade, que a levou ao longo exílio no Brasil)
 Drª Manuela Aguiar ((salientou o perfil da grande escritora como feminista e contrariou o lugar comum de que se trata de uma Mulher de Letras "auto-didatata", lembrando o pano de fundo autobiográfico do seu livro "Os aristocratas" -  Maria Archer é uma das "aristocratas" que recebeu um esmerada educação, com os melhores professores de português e outras línguas, de história, de matemática, todavia sem a chancela dos exames oficiais, como era costume para meninas da sua classe social. Fazer exame de 4ª classe aos 16 anos foi uma forma de leuta contra esse costume discriminatório) 
Comunicações
Profª Doutora Elizbeth Battista “ Nas Trilhas da Filosofia de Uma Mulher Moderna: Configurações da Vida Social e as Crónicas  de Maria Archer”
  Drª Rita Gomes, Presidente da Direção AMM, “ O Legado de uma ESCRITORA VIAJANTE”

Mestre Dina Botelho “ MARIA ARCHER  - A escritora Maria Archer e o retrato da mulher de meados do séc. XX”

B2 - NOTÍCIAS NOS "MEDIA"
1- Migrações e Género. Novas perspetivas.
O Colóquio realizado na Universidade Aberta teve cobertura na RTP2, ao abrigo de um Protocolo celebrado entre a Universidade e a televisão pública
2 - Jantar - tertúlia após a Conferência/ concerto "Portugalidade", em Esch, Luxemburgo. Entrevista do jornal "Contacto" a Manuela Aguiar
No início do jantar-tertúlia, Henrique de Burgo entrevistou, seguidamente, Manuela Aguiar e fez o título com uma das tónicas em que insistiu: "GOVERNO TEM DE RECONSTITUIR UMA MÁQUINA DE APOIO AOS PORTUGUESES DO ESTRANGEIRO"
[...] depois de ter deixado a Secretaria de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas, Manuela Aguiar continua a trabalhar com as comunidades portuguesas no estrangeiro. Na Associação Mulher Migrante coordena vários estudos sobre os emigrantes portugueses. Considerada uma das maiores especialistas sobre a emigração, critica qualquer governo, mesmo do seu PSD. O Governo tem a obrigação Constitucional de reorganizar os serviços de emigração, o Governo tem de reconstituir uma máquina de apoio aos portugueses nos países onde estão, para evitar fenómenos de exploração", defende Manuela Aguiar.
[...] O governo tem de apoiar os que querem sair, mas apoiar de todas as formas possíveis, os portugueses que queiram regressar, Tem de haver uma política de regresso, ainda que não seja de imediato, e chamar as pessoas á medida que seja possível [..]. Com o sub-título "Meio milhão de Portugueses saíram no mandato deste Governo", escreve " Para a dirigente da Associação Mulher Migrante, Portugal está a viver, actualmente uma situação demográfica dramática [... ] Há emigração como nos anos 60, ainda que mais qualificada e mais dispersa. Estão a sair 120.000 a 130.000 pessoas por ano, segundo os números do actual Secretário de Estado das Comunidades, José Cesário. [...] Se, futuramente, a política de regresso não for suficiente, para "refazer o tecido demográfico de Portugal", a antiga governante defende a emigração lusófona. "Os imigrantes podem ser de todos os países, de gente de boa vontade, mas acho que seria fantástico que se fizesse dentro do mundo lusófono [...] devíamos reforçar os laços da lusofonia através de migrações em massa. de preferência imigração altamente qualificada, porque estamos a perder jovens altamente qualificados. É um sonho que tenho, mas, na prática, só podemos fazer isso com desenvolvimento económico [..]
Manuela Aguiar foi quem negociou com Jean Claude Junker a "clausula de salvaguarda" que o Luxemburgo queria impor à imigração portuguesa. Diz que só 30 anos depois soube que Juncker era contra essa imposição."Foram as primeiras grandes negociações com o Luxemburgo e não foram fáceis [...] Na altura eu não sabia, mas Juncker contou numa entrevista na Gulbenkian quase 30 anos depois, que ele era dos que não queriam a cláusula se salvaguarda, Ele queria dar de imediato todos os direitos aos portugueses. Três anos depois, ele era primeiro ministro e acabou com a clausula de salvaguarda". A responsável relembra também o problema do ensino. " A dificuldade do ensino dos filhos dos portugueses, em três línguas, foi sempre o grande problema que apresentei às autoridades luxemburguesas. A resposta que me davam na altura é a mesma que dão hoje".
3 - Expressões de Cidadania no feminino
O Jornal "As Artes entre as Letras" deu notícia de 1ª página sobre a realização do colóquio e da exposição, com uma entrevista ao Vereador da Cultura da Câmara Municipal, Dr Paulo Esteves. Também o Jornal de Monção, A terra Minhota,  se interessou pela iniciativa. RECORTES
4 - Diálogos sobre Cidadania e Género
A Agência Lusa e o "Luso.jornal” estiveram presentes no colóquio, ao qual deram relevante cobertura
RECORTE do jornal.
5 - Maria Archer , uma escritora viajante
Presentes jornalistas portugueses e brasileiros. Entrevistas da RDP-Internacional, o órgão de comunicação social que mais cobertura tem dado, ao longo dos anos, às iniciativas da AEMM.

C. LANÇAMENTO DE LIVROS – EDIÇÕES DA AEMM

"Califórnia Madrasta dos Meus Filhos" organização de Deolinda M Adão e de Joanne Câmara, com a presença da Profª Deolinda Adão, a 19 janeiro na Biblioteca José Marmelo e Silva em Espinho e na Associação VivaCidades no Porto.
Deolinda Adão, professora e investigadora da universidade de San José e de Berkeley na Califórnia através da recolha e organização de cartas enviadas dos Açores por Maria Ignácia aos seus filhos, emigrados na Califórnia, entre 1909 e 1916, (realizada em colaboração com Joanne Câmara, a neta de Maria Inácia) revelou-nos uma historia da diáspora dentro da História, num período de grandes transformações a nível europeu e mundial, com o rebentar da primeira grande guerra e, em Portugal, a implantação da república.. A forma como estes acontecimentos e as novas leis e medidas da revolução foram vividas no seio de uma família açoreana estão relatadas nesta publicação, dando-nos a conhecer a outra face da emigração portuguesa - constituída pelos que ficam.
A AEMM, que, desde o sei início de atividades, vem procurando incentivar a recolha de histórias de vida na diáspora, considera um privilégio poder editar este notável trabalho da Profª Deolinda Adão, que se insere naquele projeto de uma forma superlativa.
. "1974-2014 - 40 anos de Migrações em Liberdade”, no Porto, 22 abril no Café Guarany e em Espinho a 13 maio, na Biblioteca José Marmelo e Silva
O lançamento da nova publicação da AEMM no Porto e em Espinho reuniu muitos dos participantes nas iniciativas de 2014. Foram, assim, retomados os temas de uma série de debates, que, em Portugal e em comunidades portuguesas do estrangeiro, incidiram sobre o significado da democratização da vida política no País, a partir da revolução de 1974. Nesses debates, em auditórios de Universidades -Berkeley, Universidade Aberta de Lisboa, Sorbonne, Toronto - , em escolas do ensino secundário - Espinho, Elizabeth, New Jersey -, houve muitas oportunidades de ouvir mulheres e homens sobre o quadro geral do fenómeno migratório, sobre a descolonização e o retorno de África, assim como sobre a evolução do papel das mulheres nos movimentos de expatriação e de retorno e no movimento associativo: partindo da história e da memória de sucessivas gerações até aos dias de hoje, com a avaliação da dimensão atual do fenómeno, da sua componente feminina, das novas formas de associativismo e de vivência das relações com as sociedades de origem e de destino.
. OUTROS LANÇAMENTOS DE LIVROS
“ A Violência na Comunicação Social ” de Maria de Jesus Barroso, Presidente da Pro Dignitate , dia 2 de junho de 2015 pelas 17 horas, na Fundação, apresentado pelo Jornalista Manuel Vilas Boas
Durante a sessão foi inaugurada a exposição de pintura e caligrafia chinesa da autoria de Ye Pei Rong.
Muitas associadas da AEMM puderam estar presentes no auditório da Fundação Pro Dignitate, e saudar a Drª Maria Barroso, ouvi-la na defesa de uma das suas grandes causas, com a energia de sempre. Seria, para todas, a última vez que a víamos
"Yolanda" de Ester de Sousa e Sá, a 5 de setembro, em Espinho, na Biblioteca Municipal José marmelo e Silva
Um novo romance da nossa associada e antiga emigrante em vários países do sul da África, em que as personagens se encontram nos caminhos, que lhe são familiares, da emigração, encontro de pessoas, de culturas, de espaços -- o lusófono, o anglófono, a que a Autora também pertence . Dois "lonely hearts", vindos de casamentos que a morte do outro destruiu, juntos pelo acaso no paraíso turístico do Algarve, que, nas descrições de ester de Sá, visualizamos , em toda a sua beleza, como num filme. A viagem, o movimento estão sempre presente - assim é a vida no seu melhor, quando há a força e a vontade de lutar contra a infelicidade, dando à paixão uma segunda tentativa Um hino à vida, bem vivida
“Maria Archer – o legado de uma escritora viajante” de Elisabeth Battista com Prefácio de Inocência Mata. Apresentação na Fundação Fernando de Pádua,28 de setembro às 18:30 em Lisboa, com a presença da Autora, vinda do Brasil.
A publicação vem preencher um vazio: trata-se de uma investigação e ordenação do espólio de Maria Archer - a "Viajante espacial", vista também como " viajante de ideias e discursos, tendo cultivado várias modalidades textuais e genológicas (ficção narrativa, drama, literatura infanto-juvenil, crónicas, epístolas, ensaios, biografias, reportagens)". "Este trabalho de Elisabeth Battista, agora à disposição de todos, vem tornar mais diversa e assertiva a contribuição da mulher portuguesa na luta contra o fascismo",segundo a Profª Inocência Mata .
. O Ovo do Sagrado Feminino, de Maria Antónia Jardim, a 21 de outubro, no Café Guarani, no Porto
O novo livro da Profª Maria Antónia jardim foi apresentado por Isabel Ponce Leão Professora da Universidade Fernando Pessoa, e autora de prefácio, Profª Isabel Ponce de Leão. Nas suas palavras: "A demanda do ovo, enquanto génese da vida, presentifica-se num texto linguistico e pictórico, posto que as diversas imagens, também da autoria de Maria Antónia Jardim longe de serem meras ilustrações, sejam outrossim, parte integrante do discurso"
. Seguiu-se, como é usual no café Guarani, um animado debate moderado pela Drª Manuela Aguiar.
"Boston Festival" de Manuela Bairos, na Fundação Luso- americana, em Lisboa a
O lançamento do livro, num auditório completamente cheio de amigos da Drª Manuela Bairos, viveu-se num ambiente de emoção contida. Sentia-se a falta do Prof .Mariano Gago, que tinha aceite fazer a apresentação e é, juntamente com professor e escritor Onésimo de Almeida, um dos prefaciadores desta obra excecional. O "Boston Festival" é um relato das atividades desenvolvidas pela Diplomata Manuela Bairos à frente do Consulado Geral de Boston, (2005 a 2009). A criação do "Boston Portuguese Festival" mudou a face de Portugal em Boston, criou novas formas de cooperação luso-americana (a começar pela área científica e tecnológica, com a decisiva intervenção do Ministro Mariano Gago)) e uniu a comunidade tradicional e os jovens da nossa comunidade académica, do MIT, de Harvard e muitas outras prestigiadas universidades .


D - CO- ORGANIZAÇÕES OU COLABORAÇÕES DA AEMM
D -Parcerias e Colaborações com entidades públias e ONG' s
Conferência "Seniores Ativos - viveria o País sem os seus Séniores", organização da Misericórdia do Porto, Porto, Biblioteca Almeida Garrett, 21 de janeiro
A dirigente da AEMM Manuela Aguiar participou numa das mesas redondas, advogando a urgência de promover uma política para os seniores ativos, que tem sido, no nosso país, completamente descurada por todos os governos-e. muito em especial, por governo "geracionaais" que endeusam a juventude, como o do PSD/CDS8 (numa tendência já visível no anterior governo PS)
. Comemoração do Dia Internacional da Mulher - 7 de março no CENTRO Multimeios em Espinho
Iniciativa da AEMM em colaboração com a Escola Secundária Dr. Manuel Gomes de Almeida em Espinho. A professora e organizadora desta iniciativa, Dra Isabel Nobre destacou o que de comum liga as três mulheres participantes e membros da AMM, Manuela Aguiar, Graça Guedes e Arcelina Santiago: a defesa dos direitos humanos, a luta pela igualdade das mulheres, em particular, das Mulheres da diáspora. Foi dada ênfase à personagem do livro “ Califórnia, Madrasta dos Meus Filhos”, Maria Inácia Meneses Vaz. Seguiu-se o debate em torno da liberdade e da democracia que aconteceu com a chegada de abril e as conquistas obtidas e as mudanças no panorama das oportunidades para as mulheres. Na longa caminhada pela igualdade foi relembrada a figura notável de Maria Archer, mulher vanguardista para o seu tempo, denunciadora e crítica da situação da mulher. Esta sua posição em período da ditadura, remeteu-a ao exílio. Na dramatização feita por duas alunas, o papel de Maria Archer coube a Mariana Patela e o da jornalista a Inês Pais
- 8 de março - programa da RDP comemorativo do dia internacional da Mulher
Manuela Aguiar participou no programa, falando da situação atual das potuguesas no país e em diversas comunidades do estrangeiro.
 
 - 9 de Março - programa da RDP-Internacional - entrevista a Manuela Aguiar, Emmanuelle Afonso e outros protugueses ligados à emigração
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- As tertúlias da Cooperativa Nascente. “Portugal Cais do mundo?”1 de abril
As tertúlias desta cooperativa cultural adotaram um modelo incomum; aos participantes era pedido que começassem por se pronunciar sobre o tema em debate e, só depois, o covidado comentava os seus comentários. A fórmula funcionou tão bem, que a AEMM vai, futuramente, utiliza-la em alguns dos debates que promoverá.
O tema tratado em Espinho foi o de Portugal com país de irradiação de movimentos migratórios, mas tamb´rm de acolhimennto e de transito, de pessoas, de bens, de capitais,, de inovação, de globalização das relações humanas, em todos os planos, e não só no comercial ou material,
A convidada foi a Drª Maria Manuela Aguiar e o moderador o Mestre Teixeira Lopes. Presente, com várias intervenções muito interessantes a a luso francesaDrª Emmanuelle Afonso, presidente do Observatório dos luso-descendentes. III Bienal Internacional Mulheres d'Artes, 25 de abril no FACE em Espinho
Na III Bienal comissariada pela Vereadora Leonor Fonseca, participaram algumas das Artistas Plásticas que têm colaborado com a AEMM - e mulheres migrantes, como Ana del Rio e Ludmilla, Alvarenga Marques, Ana Maia, Ariadne Papucciu, Inês Abrantes, Ny Machado, Paula Robles, Setas Ferro,Yessica de Sousa.
VII Congresso "A vez e a voz da Mulher", Faculdade de Economia do Porto.
Foram oradoras a Profª Maria Beatriz Rocha-Trindade e a Drª Maria Manuela Aguiar e participou a Dr-ª Rita Gomes,
Durante o Congresso foi lançado o livro da Profª Rosa Simas, apresentado pela Prof Maria Beatriz Rocha Trindade e a Drª Manuela Aguiar

Fórum Municipal da INTERCULTURALIDADE, 31 de Maio de 2015 em Lisboa. e 8ª Festa da Diversidade.
A Associação Mulher Migrante esteve presente em ambos os eventos, com Rita Gomes, Ana Paula Almeida, Paulo Bento e Susana Gonçalves de Carvalho, que mantiveram um vivo diálogo com muitos dos participantes sobre as atividades da e questões de emigração. Elsa Noronha encantou com a declamação dos seus poemas.
HOMENAGEM a D. MANUEL MARTINS, Gaia, 14 de Novembro
Na homenagem a uma personalidade muitas vezes presente em iniciativas da AEMM, nos seus primeiros anos de vida, estiveram presente a Drº Rita Gomes, a Drª Manuela Aguiar e a Profª Doutora Isabelle Oliveira. A homenagem foi promovida pla Drª La Salet Miranda

 
 
 
 

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