<mariamanuelaaguiar@gmail.com> escreveu:
Cara Doutora Blanche:
Foi com imensa satisfação que recebi o email, que acabo de ler. Vou
dar essa informação, de imediato, a investigadores e a familiares de
Maria Archer.
Eu sou uma admiradora da sua obra e da sua personalidade. e, nos
últimos meses, consegui reunir mais de uma vintena dos seus livros em
alfarrabistas, ( apenas dois romances foram recentemente reeditados).
Considero-a uma grande escritora, perfeita retratista da mulher
portuguesa do seu tempo.
Uma associação a que pertenço (Mulher Migrante - Associação de Estudo,
Cooperação e Solidariedade) organizou já várias sessões de homenagem
a Maria Archer, a última das quais no Teatro da Trindade em Lisboa,
com a presença do antigo Presidente da República Dr Mário Soares. Em
breve será editada uma acta dessa sessão, que poderei enviar - lhe,
com todo o gosto.
Há uma tese de mestrado sobre Maria Archer em Portugal e uma outra de
doutoramento no Brasil (da Profª Elisabete Battista, que apresentou a
sua tese na USP). Espero que outras se sigam no futuro.
A vida de Maria Archer em Portugal está bem documentada e há ainda
muitos amigos e familiares que privaram com ela, mas o período em que
residiu no Brasil é praticamente desconhecido, para além dos escritos
que deixou. Por isso, o testemunho que nos dá, e outros que possa
acrescentar, são verdadeiramente preciosos!
Como eu gostaria de ter conhecido Maria Archer...
Com muito apreço, as saudações da
Maria Manuela Aguiar
No dia 7 de Julho de 2012 00:27, Maria Manuela Aguiar
<mariamanuelaaguiar@gmail.com> escreveu:
> ---------- Mensagem encaminhada ----------
> De: <blanche.de.bonneval@terra.com.br>
> Data: 3 de Julho de 2012 02:51
> Assunto: Dona Maria Archer
> Para: mariamanuelaaguiar@gmail.com
>
>
> Prezada senhora
>
> Boa noite, meu nome é Blanche de Bonneval e quero lhe falar um pouco
> de Maria Archer no Brasil.
>
> Minha irmã mais velha e eu éramos garotinhas (nascidas respectivamente
> em 1948 e 1949) quando a minha família, que era muito tradicional,
> pediu a Maria Archer de ser a nossa preceptora no Brasil nos anos
> 50/começos dos anos 60 se não me engano, pois queria que fossemos
> educadas em casa. Dona Maria, como nos a chamávamos, veio morar
> conosco e se esforçou muito em nos dar uma boa educação. Ela era
> considerada em casa como uma pessoa cultíssima, alegre e original que
> foi muito apreciada por todos. Lembro-me por exemplo como ela me
> incentivou quando começei a escrever poesias algumas das quais
> chegaram a ser publicadas graças a seu empenho.Também me recordo com
> certa emoção e divertimento o seu hábito de pintar suas roupas, bolsas
> e sapatos e de nos acordar de manhã abrindo a janela cantando canções
> portuguesas cujos refrões ainda lembro.
>
> Ela ficou conosco alguns anos até que a família do meu pai conversou
> com minha mãe e em 1965 fomos autorizadas finalmente a irmos para o
> colégio. Mas mesmo assim, como tínhamos muita amizade com Dona Maria,
> ficamos em contato com ela até ela voltar para Portugal.
>
> Creio que devo muito a ela. Ela sempre nos contava histórias africanas
> e nos falava da magia dos lugares onde vivera como Angola e
> Moçambique, pois foi sempre destes dois lugares que ela falava mais.
> Comecei a ficar curiosa e a querer ir conhecer a Africa, ou pelo menos
> esses dois países dos quais ela falava com tamanha emoção. Acabei
> saindo do Brasil em 1976 para ir estudar na França onde fiz mestrado e
> doutoramento. Em 1982 - ano da morte de Maria Archer - (soube agora
> por um artigo que achei no computador por acaso que ela veio a óbito
> neste ano) comecei a trabalhar no sistema das Nações Unidas - mais
> especificamente no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -
> o PNUD - . O meu primeiro primeiro posto foi Angola, que nesta altura
> estava em plena guerra civil e para onde ninguém queria ir. Lembrando
> sempre do que Maria Archer me falara daquele país, aceitei o desafio e
> lá vivi uma experiência de vida maravilhosa. Depois de algum tempo de
> estadia, pedi aos meus amigos angolanos se lembravam de Maria Archer e
> responderam positivamente. Falaram-me dela com carinho e me levaram
> até na casa onde ela havia morado, localizada perto do hospital de
> Luanda.
>
> Mais tarde em 1992 o PNUD me propos ir para Moçambique que também
> aceitei pelas mesmas razões e foi novamente um posto do qual gostei
> demais. Só que lá não achei rastros de Dona Maria. As pessoas
> lembravam do seu nome mas não sabiam onde vivera no país. E só é agora
> que descubro no mesmo artigo que ela viveu na Ilha de Moçambique e no
> Ibo e não na atual Maputo como eu acreditava. Foi graças a influência
> da minha preceptora que trabalhei em Angola e Moçambique, mas também
> em Madagascar e no Chade, o que representou um aprendizado
> extraordinário que durou 16 anos no total. Depois disso, fui enviada
> para Asia Central onde trabalhei até minha aposentadoria.
>
> Bem, é só isso de que queria lhe falar, disso e das minhas profundas
> gratidão e admiração por esta mulher pelo que ela foi assim como pela
> influência que teve na minha vida.
>
> Atenciosamente. Blanche..
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