Tenho muito prazer em receber todos
os familiares de Maria Archer nesta homenagem e, também, todos os que não são
familiares e se quiseram associar.
Uma palavra muito especial para a
Dra. Maria Barroso que está sempre presente nestas iniciativas culturais e, em
especial, nas iniciativas dedicadas às mulheres. Não posso deixar de
referenciar isto: Tenho aprendido muito sobre pessoas que eu não conheci e que
a Dra. Maria Barroso me vai fazendo eco como é o caso de Maria Archer.
Quero também saudar a Sra. Dra.
Risoleta Pinto Pedro pela intervenção que teve e, obviamente, a Manuela Aguiar
que teve a iniciativa de levar a efeito esta sessão, a Maria Rita e ao Sr. Dr.
Mário Soares muito obrigado pela sua presença.
Eu, obviamente, sou o anfitrião e
não vou dizer nada de especial a não ser o gosto que tive em ouvir as diversas
intervenções, inclusive, esta última da Dra. Risoleta.
Queria, apenas, deixar duas notas.
Duas notas que têm a ver com o seguinte: Sempre me tocou muito o conceito de
Natália Correia sobre o que nós somos. Ela dizia que ”Nós não somos uma Pátria,
somos uma Mátria.” Eu acho que é, rigorosamente, assim. Nós calcorreámos conceitos
multiculturais ao longo dos encontros e dos desencontros com outros povos e
outros países.
E esta homenagem é exemplo disso.
Deste encontro secular com outros povos e com outros países, expresso através
de uma mulher com muita força, que é testemunho daquilo que somos. Daquilo que
somos na afetividade.
Porquê Mátria? Porque, efetivamente,
quando nós fomos para a epopeia dos descobrimentos quem esteve na terra a
sustentar essa epopeia foram as mulheres.
A mesma coisa, nos anos sessenta,
quando houve a emigração. Esta ligação à terra foi sempre feita pelas mulheres.
A mesma coisa quando foi a guerra
colonial. Naquela altura as mulheres não podiam, sequer, participar no
Exército, nem nas Forças Armadas, em geral.
E, portanto, esta ligação traduz-se
nos muitos fios de água a correrem todos numa mesma direção e que nos dá este
conceito que a Natália Correia agarrou tão bem.
É um prazer estar aqui.
A segunda nota diz que, eu sou
daqueles que nunca compreenderei na vida a razão de ser desta incerteza sobre o
futuro que sinto a cada dia os portugueses traduzirem, seja na rua, seja no
emprego, seja no desemprego.
E não percebo. Porque nós temos uma
dimensão verdadeiramente fantástica. Nós somos a sexta língua mais falada no
Mundo. Nós somos a terceira língua mais falada no ocidente.
Hoje, neste mundo global, quando
nos dizem que nós somos periféricos, permito-me discordar. Considero que somos
completamente centrais.
Nós somos o país continental mais
próximo das Américas.
Nós somos o país que faz fronteira
com África.
Nós somos o país que tem a segunda
cidade mais importante no Centro da Europa – Paris.
Nós temos o colosso que é o Brasil
e que há pouco ouvimos a nossa querida amiga falar.
Isto é, também, Maria Archer. Mas é
mesmo.
Estava a dizer que só uma conceção
universalista do que somos pode levar a uma mulher destas. É verdade.
Estava a pensar em personalidades
da nossa história, como o padre António Vieira, cujo avô preto era brasileiro.
Muitas vezes nós desconhecemos isso. Sim, o padre António Vieira. O avô era
preto e era brasileiro.
Isto é algo que só nós conseguimos
fazer. Transportar realmente esta miscigenação não é uma coisa abstrata, é uma
coisa real.
E, Maria Archer falou, também,
daquilo que é a minha terra. Eu tenho uma dupla pertença. Não. Eu tenho uma
tripla pertença. Sou angolano. Nasci lá. Ninguém renega a mãe. Não o posso
renegar. Sou simultaneamente português, europeu e lusófono. E, é este mundo que
nós temos hoje aqui, também, nesta homenagem.
Estou muito grato à Manuela Aguiar
por ter trazido esta iniciativa até este Teatro – o Teatro da Trindade. Um
teatro com uma tradição cultural fantástica. Um teatro com peças que são também
exemplo de cultura.
Muito obrigado pelo facto de terem
preferido o Teatro da Trindade para levar a efeito esta homenagem que me é tão
cara por esta relação lusófona.
Muito obrigado.
Vítor Manuel Ramalho
Lisboa, 29 de Março de 2012
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