TORONTO, 14 DE
OUTUBRO 2014
VIVÊNCIA DA DEMOCRACIA NA DIÁSPORA: 1974-2014
Intervenção da Dra. Maria João Ávila
“AS MULHERES NA
POLÍTICA”
Muito tarde, bem vindos!
Vou tentar reduzir ao
máximo, uma intervenção que fiz, sobre esta temática, no Ministério dos
Negócios Estrangeiros, nessa ocasião, também a convite da Dra. Manuela Aguiar e
da Dra. Rita Gomes.
Antes, falarei um bocadinho sobre mim, para perceberem quem sou.
Saí da Ilha Terceira com 13 anos de idade, com a minha
família para New Jersey, nos Estados Unidos.
Fui convidada pelo
PSD em 2011 para integrar a lista dos deputados fora da Europa, no terceiro
lugar da lista, por exigência da Lei da Paridade. Era necessário ter uma mulher
no Ciclo da Emigração Fora da Europa,
Não estava na minha agenda voltar a Portugal. Foi a a decisão
mais difícil na minha vida! Crescer no estrangeiro e voltar a Portugal,
especialmente para uma posição destas, não é fácil. Fui motivada por aquilo que
eu disse ainda hoje de manhã em pequena discussão: a votação da Diáspora elege
dois deputados fora da Europa e dois na Europa e eu só lá estou por ser mulher.
Podia até ser uma estrela de Hollywood, que nem assim iria nos primeiros
lugares. A maioria dos votos vem do Brasil, o candidato do Brasil está sempre
nos primeiros lugares. Nós, na América do Norte, ficamos com o que sobra…Como
contei esta manhã, o que me chocou mais, foi, quando cheguei a Portugal,
receber um telefonema de um senhor funcionário do Consulado, (as pessoas que
trabalham no Consulado pensam que, por esse facto, têm o direito de estar na
lista para Deputados!), a dar-me os parabéns e a dizer-me que eu só lá estava
por ser mulher, de contrário ele é que seria a opção. E eu respondi: “como é
que o senhor se atreve a dizer uma coisa dessas, de repente num telefonema, sem
conhecer o meu trabalho na
Comunidade Portuguesa desde os meus 16 anos de idade até
2011? Esse trabalho deixa de existir só porque há um senhor do Consulado que
acha que ele é que devia ir para a lista de deputados das Comunidades
Portuguesas? Nós, os emigrantes (eu sou emigrante!) temos que acordar, temos
que estar recenseados, Os que têm passaporte Português, que têm dupla cidadania
têm que acordar, têm de se inscrever e devotar nas eleições. Se assim não for,
não vale a pena eu vir aqui falar das mulheres na política, não vale a pena
esperar mudanças. Lembro-me que, nos últimos anos, as questões têm sido quase
sempre as mesmas. Nós recebemos os membros do governo com pompa e circunstância
e depois, quando as coisas têm que ser resolvidas e não são, vêm ter com a
Deputada da emigração, porque ela normalmente resolve. A Deolinda Ada, que está
aqui, sabe que isso é verdade, que têm sido tratadas coisas muito complicadas,
especialmente na área do Ensino de Português no Estrangeiro.
Chegou a altura de ser a emigração a escolher quem são os
Deputados da emigração!
Só será possível ombrear com a maioria actual do Brasil, repito,
se nos recensearmos.
Conheço muita gente aqui que quer votar, quer contar, quer
ter voz ativa, - para isso tem de o fazer.. Eu só estou na Assembleia da República
por acaso, e é a primeira vez na história que uma pessoa dos Estados Unidos é Deputada.
Também gostaria de
acrescentar que, embora tenha sido convidada pelo PSD, o meu Partido Político
são as Comunidades Portuguesas! Não interessa qual a bancada onde estamos
sentados na Assembleia da República, -as Comunidades Portuguesas é que são os
nossos Partidos. Nós representamos a emigração, defendemos a nossa Diáspora. Nós
sentimos na pele, o que é estar no estrangeiro, o que é trabalhar 35h num
part-time, quando em Portugal hoje em dia se acha que 35h num part-time é
muito. São realidades
Diferentes! E eu, com esta pequena introdução que não faz
parte do meu tema, dar este esclarecimento, porque a Dra. Manuela Aguiar já era
uma estrela nas Comunidades Portuguesas - isto não tem nada a ver com a idade,
mas com quem é quem, neste mundo - eu costumo dizer que eu ainda andava a aprender a falar inglês,
e já olhava para cima, para um pedestal, para uma senhora que se chama Manuela
Aguiar, portanto, estamos noutras eras. O tempo mudou, as pessoas mudaram, eu
já cresci. E muitos de vocês, os vossos filhos também, podem lá chegar um dia -
alguém da vossa família, alguém do Canadá também pode estar nesta lista, mas para
isso, minhas amigas e meus amigos, tem que haver números de inscritos nos
cadernos consulares, que justifiquem a aposta
na nossa gente, se não vão buscá-los a outras partes do Mundo. Eu
encontrei um dia, um senhor que me disse: “Já fui Deputado da emigração”. E eu
retorqui: “Não deve ter feito
nada, porque eu não o
conheço, e eu conheço toda a gente, principalmente quando passo de Nova York
para New Jersey, encontro toda a gente” Portanto, fica o meu apelo para vocês,
para quem tem dupla nacionalidade, para quem tem passaporte Português, para aquela
senhora, que está ali atrás,e que ainda há bocado deu-me razão: façam algo por
nós, pelas nossas Comunidades, pela nossa gente, mostrem que nós contamos, que
nós, na altura da votação, estamos presentes.
Sobre o tema, que, hoje, a Manuela fez o favor de me
colocar, “As Mulheres na Política”, vou falar sobre o Fundo de Desenvolvimento
das Nações Unidas para as Mulheres, que se chama UNIFEM, sobre os combates
épicos para obter o direito de voto das mulheres, os esforços concertados desenvolvidos
hoje em todo o mundo para introduzir quotas que visem aumentar o número de
representantes eleitas.
As mulheres tiveram sempre um aliado poderoso na democracia,
sabem que a participação democrática é o principal meio que permite defender os
seus interesses, dar-lhes representação, para que tenham legitimidade social - uma resposta política sustentável.
O número
incrivelmente reduzido de mulheres que ocupam cargos públicos actualmente numa
média mundial de 19% nas assembleias nacionais; constitui um défice a corrigir.
A participação das mulheres em todos os níveis de governo democrático, local,
nacional e regional, diversifica a natureza nas assembleias democráticas,
permite o processo de tomada de decisões, que responda às necessidades dos cidadãos,
que podem ter sido descuradas no passado.
Segundo os últimos dados das Nações Unidas, que reportam a
um estudo realizado em 2010, a percentagem das mulheres nos Parlamentos
Nacionais, Parlamentos Unicamarais ou Câmaras baixas, nos Estados Árabes 9,2%,
no Pacífico 13,2%, na África Subsariana 18,3%, na Ásia 18,6%, na Europa excluindo
os Países Nórdicos 20,1%, na América 22,7%. Esta é uma fonte de informação da
União Inter-Parlamentar das Nações Unidas para a mulher, para apoiar os
esforços que visam aumentar a proporção de mulheres eleitas. Procura também
reforçar a capacidade das mulheres a desempenhar um papel legislativo eficaz
enquanto eleitas. No entanto, o desafio de assegurar a igualdade de género ao
nível da participação política, não se limita à consecução de melhores rácios
quantitativos entre homens e mulheres no decurso de um ano eleitoral, é por
isso que a UNIFEM apoia igualmente as iniciativas que visem aumentar a eficácia
política das mulheres antes e depois das eleições, nomeadamente adoptando
medidas temporárias especiais em conformidade com o artº. 4 da Convenção sobre
a Eliminação da Discriminação contra as mulheres. Ainda que vários países
tenham adoptado quotas ou reservado assentos para as mulheres, entre 2008 e
2009, através de alterações à constituição de reformas da lei eleitoral ou da
introdução de leis sobre a igualdade. O número de Países, onde essas medidas
foram aplicadas continua a ser muito reduzido, apesar das quotas e reservas de assentos
terem, em média, possibilitado uma maior representação das mulheres,
independentemente do sistema eleitoral. Um elemento crucial para assegurar uma
participação efetiva e significativa das mulheres na política é a criação de
uma base política de apoio à igualdade das
Mulheres, é por isso que a UNIFEM apoia iniciativas em
alguns países que visam elaborar agendas políticas, acordadas a nível nacional
a favor da igualdade do género e continua a prestar assistência técnica aos
Ministérios da Condição da Mulher, aos Observadores e às Comissões, a fim de
que possam desempenhar um papel importante nos esforços dos governos para colocar
as questões de igualdade de género. Entretanto, temos a elaboração de Planos
Nacionais sobre a Igualdade, a Integração da Igualdade nos processos
relacionados com o planeamento e a formulação de estratégias nacionais de
desenvolvimento, nos Planos de Segurança Nacionais e nas Politicas Ambientais,
que também se esforçam por melhorar uma governação democrática, sensível às questões
de Género e à obrigação de prestar contas em relação às mulheres. Colaboram também
em iniciativas mundiais, que visam melhorar a governação do ponto de vista da
capacidade das mulheres acederem aos serviços públicos, de
facilitar o acesso das mulheres aos Tribunais de Família e ao Observatório de Igualdade
de Género, a fim de melhorar a sua
capacidade monitorizada, a prestação de serviços agrícolas às mulheres. O
UNIFEM procura ajudar, consultar e apoiar as democracias em fase de
desenvolvimento, através da promulgação de leis e de políticas que tenham em
conta as questões de género, concentrando essencialmente a sua acção na
igualdade de género,
na lei e na governação, naa práticas contra as mulheres no
trabalho, na saúde e na pobreza, Está
particularmente empenhado na eliminação de disposições discriminatórias que
figurem em leis, em políticas em vigor e na inclusão de disposições relativas à
Convenção sobre Eliminação de todas as formas de discriminação contra as
mulheres. Nas sociedades que saíram de um conflito, a prioridade da UNIFEM é
dar mais voz às
mulheres, em aumentar a sua influência nos processos de
estabelecimento e consolidação da paz,
nomeadamente no que se refere à formulação de políticas e à atribuição de
financiamento, para responder de uma forma adequada às necessidades das mulheres
ou raparigas no planeamento pós-conflito.
O Fundo das Nações
Unidas para a democracia e a divisão de assistência eleitoral do Departamento
de Assuntos Políticos reuniu na Workshop, em Nova Del, 21 responsáveis da
sociedade civil de 18 países que trabalhavam para reforçar participação das
mulheres na competição politica democrática, na governação.
Vou terminar, dizendo que, como luso-americana, a minha vida
familiar e profissional foi passada nos Estados Unidos da América. Gostaria de
referir a participação das Mulheres na política Norte Americana, onde há ainda
muito por fazer - na América e no
Canadá, mas gostaria de partilhar convosco um texto publicado pelo Departamento
de Estado dos EUA sobre as eleições americanas e as mulheres na política, que é
de facto o tema que nos ocupa aqui, neste momento.
No final do século 18, os governos ocidentais eram liderados
por homens brancos que provavelmente nunca imaginariam que uma mulher pudesse concorrer
a todos os cargos electivos, muito menos à Presidência.
Abigail Adams estava à frente do seu tempo na defesa da
inclusão.
“Lembre-se das senhoras”, escreveu ao marido, o líder
revolucionário John Adams, em Março de 1776, quando ele era delegado do Congresso
Continental. Ela conclamou o Congresso a considerar os direitos da mulher, ao
lançar os alicerces da Independência ,dos EUA.
“Lembre-se, todos os homens seriam tiranos se pudessem”,
escreveu. “Se as senhoras não receberem cuidado e atenção especiais, estamos determinadas
a fomentar uma rebelião e não nos consideraremos obrigadas a cumprir a lei,
diante da qual não temos voz ou representação.”
Abigail Adams tornou-se primeira-dama quando seu marido
sucedeu a George Washington como presidente em 1797.
Entre a carta de Abigail Adams e a campanha de 2008 de
Hillary Rodham Clinton, a primeira candidata a presidente politicamente viável,
gerações de americanas superaram estereótipos e quebraram barreiras para
obterem cargos electivos”.
Em Junho de 2008, a ex-primeira-dama Hillary Rodham Clinton,
senadora americana por Nova York, encerrou sua histórica campanha à Presidência
dos EUA. Os 18 milhões de votos obtidos nas primárias até Junho não seriam
suficientes para assegurar a indicação democrata.
“Pensem quanto
progresso já alcançamos”, declarou Hillary a seus partidários. “A partir de
agora será corriqueiro para uma mulher vencer as primárias estaduais,
corriqueiro ter uma mulher em disputa acirrada pela indicação, corriqueiro
pensar que uma mulher pode ser presidente dos Estados Unidos ou do Canadá.”
Em Portugal, em Janeiro deste ano, a Assembleia da República
aprovou um diploma, (isto também fez parte do meu dia-a-dia!) que determinou
que as mulheres devem preencher 40% dos lugares não executivos da administração
das empresas esgotadas em bolsa até ao ano de 2020, em cumprimento de uma
directiva Europeia, que foi aprovada na Comissão de Assuntos Europeus e, depois,
na Comissão Europeia.
O objetivo é equilibrar a representação de mulheres e homens
em cargos que devem servir de exemplo, para o sector privado, pela a sua
importância económica e a sua grande visibilidade.
no dia 8 de Março, o Governo aprovou uma Resolução para
obrigar empresas públicas e privadas a adoptar planos de igualdade. Segundo
dados do Governo, o sector empresarial do Estado tem 27% de mulheres em lugares
de topo, as empresas cotadas em bolsa só
têm 9,5%, apenas 6,2% do PSI. No que respeita ás cotadas de Portugal, há que
percorrer um longo caminho até atingir as metas da Comissão, Todas estas
medidas se devem ao trabalho e ao esforço de uma Senhora que eu admiro muito,
que é a Senhora Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares da Igualdade,
Teresa Morais.
Termino com o meu muito obrigada por este reencontro, num
esforço comum, em favor de uma cidadania cada vez mais participativa na política,
na família, no trabalho e na sociedade.
O meu “muito obrigada” por me terem escutado. Muito obrigada
por me terem recebido. Muito obrigada Manuela Marujo por nos ter trazido até
aqui, à Manuela Aguiar, à Rita Gomes e à minha querida Professora Deolinda Adão.
É um privilégio fazer parte da vossa companhia.
Maria João Ávila
Deputada pelo Círculo da Emigração Fora da Europa
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