Congressismo e políticas de igualdade de género
Dar voz às mulheres após séculos de silenciamento
Joana Miranda
Universidade Aberta/CEMRI
Lê-se no artigo 13º da Constituição da República Portuguesa: Princípio da
Igualdade: "Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de
qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça,
língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução,
situação económica, condição social ou orientação sexual."
A realidade está, porém, frequentemente distanciada dos princípios da
constituição e deste princípio, em particular. Apesar de muitas terem sido as
conquistas das mulheres ao longo das últimas décadas e de ter sido longo o caminho
percorrido desde o tempo em que as mulheres não tinham, sequer, o direito ao voto,
estamos ainda longe de uma realidade em que homens e mulheres tenham direitos
iguais.
Todas as estatísticas confirmam as desigualdades que as mulheres portuguesas
sentem na pele no dia-a-dia. Continuam a ser as mulheres as principais responsáveis
pelas tarefas domésticas, pelo cuidar dos filhos e dos idosos. O espaço doméstico
continua a ser um espaço marcadamente feminino e o acesso ao espaço público e à
visibilidade que dele decorre continua a ser mais difícil para as mulheres do que para
os homens.
A violência doméstica tem por objeto sobretudo as mulheres e por atores
sobretudo homens. A grande maioria das mulheres vítimas de violência doméstica tem
vergonha e não apresenta queixa das situações de que é vítima. Tem havido evolução
a este nível mas, apesar de tudo, são poucas as que têm coragem de o fazer. O tráfico
humano vitimiza mais mulheres que homens.
Apesar de o número de mulheres licenciadas ser superior ao número de
homens licenciados, são os homens que, em muito maior número, continuam a
exercer as funções de topo nas empresas e nas universidades.
Por outro lado, as mulheres que atingem lugares de topo e destaque na vida
pública são frequentemente alvo de preconceitos (não só de homens mas também
de mulheres), sendo por vezes perspetivadas como menos bem sucedidas nos papéis
tradicionalmente associados às mulheres ou menos femininas.
Em média, para um mesmo trabalho, as mulheres continuam a receber
remunerações inferiores aos homens, face a qualificações idênticas as empresas
contratam mais facilmente homens do que mulheres, facto para o qual não é decerto
alheio serem as mulheres a engravidarem e a cuidarem dos seus filhos nos primeiros
meses de vida.
As vulnerabilidades das mulheres agravam-se quando, por motivos económicos
ou outros, saem dos seus países de origem e se confrontam com outras realidades.
Tais vulnerabilidades são frequentemente estudadas tendo por objeto as mulheres
imigrantes em Portugal mas a realidade é que também afetam as mulheres
portuguesas que saíram do país em busca de outras alternativas de vida. É verdade
que muitas vezes as fragilidades se convertem em forças e que as migrações podem
constituir fonte de empoderamento das mulheres. Mas o esforço individual para
que tal se verifique é enorme e só é possível em determinados contextos culturais e
familiares.
Em situações de migração, há que possuir a capacidade de gestão do stress
que decorre das situações de mudança, redefinir identidades e pertenças, gerir a
identidade e a alteridade, renegociar posições e equilíbrios familiares, preservar o
equilíbrio psicológico muitas vezes difícil, gerir a frequente separação dos filhos, dos
pais ou de outros familiares próximos, o afastamento dos amigos, gerir a décalage
entre o que se sonhou e a realidade que se encontra, lidar com outros hábitos,
culturas, aprender outras línguas, adquirir competências profissionais novas,
responder a novas exigências laborais, manter uma ligação saudável com o passado e
com as raízes, saber projetar o futuro, repensar o retorno ou a permanência.
Os percursos migratórios, se bem sucedidos, podem proporcionar novas
conquistas: conquista de estatutos mais elevados, a possibilidade de enriquecimento
e de troca cultural, o envio de remessas para a família que ficou no país de origem,
gestão de redes familiares transnacionais, criação de novas redes e o estabelecimento
de novos afetos. Podem estas mulheres, e aqui tivemos exemplos, virem a destacar-se
na vida política no país para onde migraram e através do seu exemplo e envolvimento
político, fundar associações, criar movimentos, aceder ao poder local, tornar públicas
as dificuldades das mulheres migrantes, pensar políticas e medidas, atuar no terreno,
contribuir para a construção de uma outra realidade social, proporcionando a outras
mulheres migrantes as oportunidades por que um dia elas tiveram que lutar.
Os decisores políticos têm que estar conscientes de que a realidade das
mulheres, e das mulheres migrantes em particular, é diferente da realidade dos
homens e desenvolver um conjunto articulado de políticas e de medidas que
promovam a igualdade. As mulheres têm que ter uma voz ativa na política aos mais
diversos níveis de intervenção: comunitário, local, regional, nacional e internacional.
As comunicações do painél que moderei abordaram a evolução das políticas
de igualdade de género e o papel da intervenção política com algum detalhe. Mas
para além da esfera de intervenção política, subsiste a questão mais profunda da
mentalidade da sociedade portuguesa, patriarcal, tradicionalista, fechada. Uma
mentalidade que continua a perpetuar papéis de género, estereótipos de género
e ideologias de papel de género, que cria expetativas de carreira, de sucesso e de
comportamento, diferentes para homens e para mulheres, que celebra e imortaliza os
feitos dos homens e invisibiliza as conquistas das mulheres.
Apesar de todos os condicionantes sociais e das mentalidades discriminatórias,
é inegável que muitas mulheres se destacam no espaço público em setores tão
diversos como a vida política, académica e científica, empresarial e das artes ou
mesmo em setores tradicionalmente reservados aos homens como é o caso das Forças
Armadas.
Congressos como este contribuem para despertar consciências, homenagear as
mulheres que, no passado, ousaram quebrar o silêncio, lutar pela igualdade quando
a igualdade mais não era do que uma utopia longínqua, dar voz a mulheres que,
no presente, pela sua capacidade e empenho, têm contribuído para a igualdade de
género e para uma maior consciencialização da discriminação de que as mulheres
continuam a ser alvo. Congressos como este contribuem para perspetivar as mulheres
como protagonistas dos processos migratórios e não como acompanhantes de
projetos migratórios masculinos, como mulheres que triunfaram apesar de todas as
dificuldades, como interlocutoras do poder político e agentes do poder político, como
decisoras e inspiradoras de caminhos e de lutas. É também nestes congressos que se
dá voz às mulheres. Dar voz às mulheres após séculos de silenciamento.
A ASSOCIAÇÃO "MULHER MIGRANTE" ABRE ESTA TERTÚLIA A CONVERSA SOBRE AS MIGRAÇÕES E AS DIÁSPORAS PORTUGUESA E LUSÓFONAS. VAMOS FALAR DA NOSSA ASSOCIAÇÃO, DAS INICIATIVAS QUE ESTAMOS A DESENVOLVER E DA FORMA COMO PODEM COLABORAR CONNOSCO. UM CONVITE DIRIGIDO, POR IGUAL, A MULHERES E HOMENS, DE TODAS AS IDADES, EM TODAS AS LATITUDES.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Laura Bulger: Agustina revisitada num relance
Agustina revisitada ... num relance
Hoje em dia, a maioria das histórias que se publicam, avulso ou em colectâneas, não têm propriamente um princípio ou um fim. Umas começam pelo meio, outras chegam ao fim e voltam ao princípio, como em círculo fechado, e a conclusão raramente é conclusiva. No que respeita aos contos de fadas, o clássico era uma vez e o (des)esperado happy ending são agora como as espécies em vias de extinção. Quem diria que, depois de reciclado, o conto de tradição oral e origem popular atingiria o estatuto artístico que agora se lhe reconhece ? E o que é ainda mais espantoso é que, tal como outras ficções mais ou menos curtas, tenha ultrapassado já a popularidade do romance, até há pouco tempo o género literário que colocava o escritor no patamar da grande literatura. Ninguém queria saber se o Tolstoy, a Austen ou o Stendhal escreviam historietas nas horas livres. O Eça, que as escrevia sozinho e a duas mãos, entretinha-se com outras pequeninas ficções, às quais chamava crónicas e cartas, supostamente enviadas de Londres. Quanto ao prolífico Camilo, sempre mostrou queda para a ficçãozinha, quer nos romances folhetinescos quer nas novelas. Mas bastava que fossem romancistas para que a crítica os recebesse com reverência, ainda que a recepção dispensada à tímida Jane fosse, como era de prever, menos efusiva em virtude de sensibilidades e preconceitos que nada tinham que ver com o género literário.
São vários os motivos que justificam a popularidade da ficção dita curta, a designação usada agora para, entre outras formas narrativas, a novela, o conto e a vinheta, de todas, a mais curtinha. Lêem-se relativamente depressa e, ao contrário da ficção dita longa - o romance -, não há que esperar pelo capítulo seguinte para saber o que vai acontecer, ainda que, na maioria das vezes, nada aconteça e, no fim, o leitor tenha de adivinhar o que poderia ter acontecido. Contudo, afirmar, como fez Edgar Allan Poe, que um conto se lê “de uma assentada”, é um exagero, além de dar a impressão de que, depois de lido, é como um assunto encerrado, o que não é verdade até porque Poe, que foi um dos primeiros americanos a trabalhar o conto, ainda hoje nos deixa arrepiados com algumas das suas invenções. Numa delas, o próprio narrador foge a sete pés da casa assombrada, depois de lhe aparecer pela frente o cadáver da Madeline, escondido num armário pelo irmão dela, um tal Roderick Usher ou coisa que o valha, que também morre, acabando assim, tanto a dinastia dos Ushers como o conto que, escrito por Poe, tinha princípio, meio e fim.
Por mais estranho que pareça, estas reflexões sobre a ficção curta vêm a propósito dos contos de Agustina, onde se antecipam ou retomam alguns dos temas e personagens romanescas, uma coincidência frequente na obra de outros romancistas que são, simultaneamente, contistas, como se dizia há uns anos atrás, para separar as águas. Em ambos os géneros praticados pela autora, surgem, por exemplo, o artista incompreendido que procura, geralmente em vão, um meio para comunicar a sua mensagem; ou a solteirona determinada em salvar da ruína a casa de família; ou o rapaz de olho “azulado” que lhe afasta os pretendentes, narrando, com requintes de malvadez, os rituais da matança do porco. Não só deixa os oportunistas sem pinga de sangue, como também os faz desistir da mão da mordoma, que assim fica livre para administrar as terras sem interferência de mão alheia. O campónio, agora de nome Avelino, faz-se passar por tolo e sempre que lhe fazem uma pergunta, responde com uma frase que até parece copiada do príncipe Hamlet: “Não digo que sim, não digo que não”. A duplicidade do estribilho, assim como a estranha relação entre o Avelino e a mordoma dão origem a várias ambiguidades próprias de um conto moderno, por natureza enigmático.
Para os que estejam interessados nas reciprocidades entre os dois géneros trabalhados pela autora, sugerimos que percorram as páginas de Contos Impopulares (1951-53), escritos numa bela prosa lírica e anteriores à publicação da incomparável A Sibila (1954), ou que folheiem A Brusca (1971), a colectânea com a qual a escritora regressa a um género que, na verdade, nunca abandonou.
Mas antes de entrar pelas histórias de Agustina, talvez seja oportuno dizer que o tamanho e a brevidade da ficção curta não chegam para explicar um fenómeno que transcende o das stories publicadas em revistas como o New Yorker, onde vários dos consagrados iniciaram a sua carreira como contadores de histórias ou storytellers. Não estamos a falar de uma americanice literária, embora se diga que o conto americano, sobretudo o minimalista, escrito à maneira de reportagem, seja, de facto, uma ficção made in the USA. Porém, há editores em outras partes do mundo que já começaram a compilar histórias deste ou daquele escritor, alguns também romancistas, vendendo-as depois, como se costuma dizer, por atacado, a um público ávido por ler não uma, mas uma colecção de “boas histórias”. Mas o que é afinal uma “boa história”?
Os jornalistas andam sempre à procura de uma “boa história”, ou seja, de uma notícia dada em primeira mão e com espalhafato jornalístico. Só que o scoop, como lhe chamam em inglês, não se alimenta de fantasias e, se o fizer, a notícia perde credibilidade. Esta questão não se coloca com a ficção, longa ou curta, em que tudo não passa de uma fantasia. Umas são mais fantasiosas do que outras, indo ao extremo de narrar situações inacreditáveis, como faz o Kafka naquela história em que o Gregor Samsa, sem dar por isso, se transforma num insecto repugnante e se vê abandonado por toda a gente, incluindo a própria família. Até o leitor mais céptico fica impressionado com o pesadelo do rapaz e não resiste a perguntar-se: E se uma coisa como esta me acontecesse a mim?
Isto só dá razão aos que acreditam que uma “boa história” poderá dar-nos um murro no estômago ainda mais violento do que o romance e, como vemos aqui, explorar obsessões que, de outro modo, nunca viriam à superfície, satisfazendo, por outro lado, o voyeurismo dos que são atraídos pelo insólito, o grotesco ou o fantástico. À semelhança do thriller, favorece a libertação dos medos que nos atormentam, com a vantagem de não termos de recorrer à psicanálise. É evidente que nem toda a ficção curta mexe com os estados de alma do leitor, mas não se pode negar que o género se ajusta ao psiquismo de uma sociedade como a nossa, exposta continuamente às cenas escabrosas do directo televisivo e às inovações tecnológicas que ameaçam exterminar o prazer táctil do livro de papel, falando-se já do “canibalismo” do livro digital. Num clima contaminado por tanta suspeição, seja devido aos degelos antárcticos, seja às burlas financeiras, parece haver, cada vez menos disponibilidade ou mesmo inclinação para longas e densas tramas romanescas.
Existem, no entanto, paraísos literários, como Portugal, onde o leitor ainda se deleita a ler um bom romance, escrito à maneira de Agustina. Desta vez, não vamos falar dos romances, mas das histórias da autora, cuja releitura também nos leva sempre a descobrir alguma coisa que nos tinha passado despercebida antes. É possível que, numa primeira leitura, tivéssemos prestado pouca atenção ao modo como a romancista se adapta aos constrangimentos da ficção curta, ora mais a jeito de conto, ora de novela, com uma ou outra vinheta em tom ensaístico pelo meio. Não se julgue que escrever ficção em miniatura dá menos trabalho do que escrevê-la em tamanho grande. Não se trata de uma arte menor vis-a-vis outra maior, como nas redondilhas. Para além da economia narrativa, já que a história está como que comprimida em poucas páginas, há também um número reduzido de personagens; a linguagem torna-se ainda mais sibilina, as ambiguidades, mais frequentes, culminando com o chamado fim em aberto, com o leitor a concluir a história como quiser. Não é nenhum rasgo democrático por parte do autor, mas uma tendência do conto moderno, enquanto que, no antigo, nada ficava por resolver, o que nos deixava a nós, leitores, muito mais tranquilos. E o que dizer das figuras anónimas que aparecem sem que se perceba bem como e porquê, e que, sem pronunciar ou fazer coisa nenhuma, desaparecem como por encanto?
Lembramo-nos daquela provinciana que toma um comboio para o Porto e que, durante a viagem, não diz uma única palavra, causando mal-estar entre os quatro estudantes que ocupavam a carruagem. Pela conversa com a “moça”, a quem manda comprar maçãs, já da janela do comboio, sabemos que estará de volta no dia seguinte, pela noitinha, embora nada diga à rapariga sobre o motivo da ida à cidade. Entretanto, os quatro jovens vêem-se obrigados a partilhar o mesmo espaço com a mulher, ainda nova, bonita e sem pinturas na cara. Apesar de a tomarem por pessoa “honesta”, na óptica dos rapazes, a provinciana é uma “intrusa” que, ainda por cima, parece não dar pela presença deles, que já seguiam na carruagem. O alheamento da mulher torna-se ainda mais evidente logo que, depois de arrumar a bagagem, se senta no lugar e come o “rebuçado de avenca” com a boca distorcida, como se a “alma” se lhe tivesse voado do corpo que, no entanto, tem os pés firmes na terra.
O leitor, que tem o privilégio de ver a provinciana por dentro, sabe o que lhe vai na cabeça, tendo a impressão de que a vê pensar em voz alta. A mulher está imersa no seu pequenino mundo, isto é, preocupada com as doenças dos filhos, crianças atreitas a toda a espécie de mazelas, e com as tarefas a decorrer durante a sua ausência na casa de lavoura, das que ainda conservam a “prensa do vinho” e a “chaminé conventual”, onde se cozinha a lenha. Por isso, de nada valem os remoques dos quatro viajantes, nem mesmo quando um deles vem com a ideia da carruagem segregada, onde os homens não tenham de respirar o ar “envenenado” pelas mulheres. A observação, feita para espicaçar a provinciana, não deixa de revelar o preconceito de uma cultura, digamos, tão primitiva como a dos patriarcas bíblicos, a qual, graças a Deus, se vai desenraizando da tradição na qual tem estado enraizada.
A provinciana, que continua a velar pela sua “fazenda”, ignora o dito do rapazote e, lá no íntimo dela, “ouve” os “passos” “do marido, do pai e dum amigo”, certamente figuras tutelares não apenas das suas rêveries, como também do seu quotidiano. A espreitadela à mente da desconhecida é demasiado rápida e circunscrita à sua domesticidade, não dando para ver as demais faces desta Eva oriunda da burguesia rural, as quais permanecem como faces ocultas. Ninguém espera que numa ficção curta como esta se reproduzam torrentes de pensamentos à deriva, como fez o James Joyce num romance tão extenso como o Ulysses, pondo a Molly, no fim, a pensar em tudo o que lhe vinha à cabeça. Nem a provinciana teria, supomos nós, um passado e um presente tão desinibidos como os da irlandesa, cujos pensamentos provocam, ainda hoje, um certo embaraço nos círculos mais circunspectos, sobretudo quando aquela sucessão de “sins”, no final, são repetidos por uma Molly bastante sexy, como já se tem visto, tanto no teatro como no cinema.
Mas voltemos à provinciana. Chegada à Invicta, a mulher prepara-se para sair calada e muda, indiferente a que o comboio venha “à tabela”, pormenor que um dos jovens faz questão de referir em voz alta com o intuito de a provocar novamente. Ela acerta o relógio de pulso, acusando, pela primeira vez, a presença deles, mas, como até ali, faz-se de mouca. A história termina com umas considerações acerca da frustração dos rapazes perante a indiferença da desconhecida que, com o gesto inconsciente, confirma a sua decisão “inabalável” de não perder tempo com superficialidades, muito menos com as graçolas dos quatro metediços. O fim em aberto deixa antever que a provinciana virá a perder-se por entre a multidão urbana e que os futuros licenciados seguirão para Coimbra, onde vão fazer exames de frequência, não sabemos de quê.
Ora aqui está uma “boa história” não tanto pelo que conta, mas pela maneira como conta o percurso das personagens. Apesar de não ser como a versão perversa do Capuchinho Vermelho, da Angela Carter, nem os quatro rapazotes representarem o lobo mau ou a provinciana, a inocente, o relato da viagem causa uma certa tensão no leitor, receoso de que alguma coisa desagradável venha a acontecer se, por acaso, eles ultrapassarem os limites da boa educação e a mulher, desperta do seu transe, sinta que tem de dizer ou fazer alguma coisa para os pôr na ordem. Felizmente, a viagem é curta e, no fim, cada um vai à sua vida sem incidentes, ou assim se conjectura. Mas fica-se como que a ruminar durante algum tempo sobre a “aventura” da provinciana, cujo nome nem sequer conhecemos. Ainda que vista por dentro e por fora, passa tudo num relance e a mulher afigura-se tão enigmática no fim como no princípio da história. O que a teria levado até ao Porto? Uma consulta com o médico? Uma escritura no notário? Um encontro com alguém especial? Teria passado a noite num hotel da Boavista ou em casa da família, na Foz? Estaria assim tão desejosa por regressar ao seu aconchego de castelã rural, para tratar as “dermatoses” dos filhos, fritar os “rissóis” e provar “as sanefas das janelas”? Nunca chegaremos a saber se viagem ao Porto foi um momento decisivo na vida da provinciana.
Os desfechos propostos por Agustina deixarão insatisfeito o leitor que estiver à procura do happy ending ou da moral da história, geralmente implícita numa metáfora. Mas não é apenas isso. Também causa perplexidade a “falta de transparência”, como se diz por aí, as insinuações, as frases indecifráveis, a aura misteriosa das personagens, enfim, todas as ambiguidades criadas em torno de uma história que chega ao fim sem solução à vista. Curiosamente, ficamos suspensos de qualquer coisa, um pouco como nos filmes do Hitchcock, e lemos a história, mais do que uma vez, à procura do que lhe parece faltar para que faça sentido. Mas não será o mesmo que fazemos no nosso dia-a-dia, quando nem um sexto sentido ajuda a perceber o que se passa à nossa volta?
Num outro conto, começa-se por teorizar sobre a “boa história” que narra a “consciência da nossa individualidade”, algo tão extraordinário que, diz-se, só um artista consegue “desvendar.” Depois da introdução um tanto ensaística, passa-se da teoria à prática com o início do relato. Como nos romances, narram-se os antecedentes do Gil e só depois aparece o Gil, um bastardo criado por mulheres infelizes que vão envelhecendo e morrendo nos seus “viveiros”, deixando o rapaz em completa orfandade e com escassos meios de sobrevivência. Anos depois - o tempo passa em dois ou três parágrafos -, o Gil faz-se poeta, quer dizer, um poeta que não “devia escrever versos,” e encontra a Lucinda, uma pianista sem “espaço” senão “para sonhar”. A história termina com a hipotética ligação amorosa entre os dois artistas falhados. Porém, não fica claro se o Gil e a Lucinda vão caminhar juntos ou separados para o resto da vida, se encontram uma terceira via, seguindo “ora mais distantes, ora lado a lado”, como se diz à maneira de final, ou, ainda, se conseguem desvendar a “consciência da individualidade”, o enigma aflorado no princípio. A conclusão será, pois, a que cada um muito bem entender.
Não há dúvida de que o leitor está a ser manipulado por uma contadora de histórias que, desde há muito, pratica a arte ancestral do conto, como se nota através dos vestígios de oralidade espalhados aqui e ali. No momento em que o Bráulio, invejoso da mulher, com quem disputa a companhia de intelectuais e artistas, pensa no convidado escondido debaixo da mesa, entretanto desaparecido, a voz da narração interrompe os pensamentos do Bráulio e, como se estivesse a falar para uma vasta audiência, exclama: “Adeus, senhores, acabou-se o conto”.
Tal como era contado antes, o conto já não conseguia arrebatar o leitor sofisticado, perdido, na altura, nos emaranhados do romance. Daí a necessidade para as inovações, entre elas, a da conclusão inconclusiva, emprestada ao Chekhov, um dos mestres do conto moderno. Há, no entanto, quem prefira o realismo do Maupassant, menos dado a ironias e a ambiguidades. O russo é, contudo, o mais citado pelos modernistas para justificar os modernismos que eles próprios iam trazendo para a ficção, longa e curta, esta muitas vezes prolongada em forma de romance. Veja-se o caso da Virginia Woolf que começou por escrever uma historieta, à qual deu o título de Mrs. Dalloway, e que depois acabou naquilo que se viu, um dos romances mais badalados da escritora inglesa.
Agustina domina os dois tipos de ficção com igual à-vontade e muitos dos seus romances são colectâneas de pequenas ficções ligadas, entre si, por variantes de uma personagem ou de um tema, como já tentámos provar em qualquer lado. Não nos parece estranho que a voz narradora faça questão de mostrar que conhece as regras do jogo, não vá o leitor distrair-se e pensar que, em vez de uma historieta, está a ler um dos romances. Mas nunca vai ao ponto de exibir o know-how teórico com que certos autores pós-modernos procuram deslumbrar o crítico literário. Longe disso. Fica-se pelo número limitado das personagens na história: “Eram apenas dois os personagens que estavam previstos nesta história ... O terceiro personagem pode estragar tudo...”. A alusão é tanto mais irónica se tivermos em conta a multidão de figuras e figurantes dos romances, tantos que o leitor tropeça nos nomes deles e tem dificuldade em distingui-los.
Noutra ocasião, finge não dar ouvidos a boatos ou mesmo à “boa fonte” que, na província, diz incluir “as maiores sevícias morais, as maiores depredações da dignidade humana”. Ironicamente, na história sobre o Camilo Timóteo, afirma que o “desastre físico” do homem vem de “boa fonte”, embora não a identifique, como fazem os jornalistas, até os mais referenciados. Apesar das “sevícias” e “depredações” da “boa fonte”, lá vai dizendo que os filhos da Tília, a prostituta que coabita com o Camilo, não são dele, e que o Camilo os baptiza com os nomes dos seus antepassados, escolhendo um dos rapazes para seu legítimo herdeiro. Camilo morre de velho, na miséria e, por força das circunstâncias, estéril. Era o segundo dono da Brusca, um antigo solar urbano comprado a um senhor d’Além, cheio de pergaminhos, mas falido. Resumindo, destruída pela filharada vadia da Tília, a casa estava em tão mau estado que nem um novo-rico como o Monteiro Branco, que a comprou por tuta-e-meia, conseguiria fazer do “pardieiro” uma pousada para turismo rural, a menos que trasladasse a casa, pedra por pedra, para o litoral ou para o estrangeiro, tão longe como a Suíça, onde o Branco devia ter feito bom dinheiro. E a história termina com um comentário que só um leitor bastante ingénuo poderá levar a sério: “Mas diz-se muita coisa, e há sempre quem exagere”.
Para além dos aspectos formais, as contradições, as ironias, as ambiguidades e tudo o resto, também são evidentes os sinais de mudança numa província - pois estamos a falar dos contos sobre a província - que, devido à emigração e ao êxodo para os centros urbanos, viria a desertificar-se e, mais tarde, a urbanizar-se, um processo de transição que deixaria marcas profundas na ficção, tanto na longa como na curta.
O cinema é outra das causas de mudança, por mostrar ao espectador outros mundos e outras gentes e despertar, às vezes, sonhos irrealizáveis, como se vem a descobrir numa outra história, onde, antes de terminar, a voz da narração declara, usando o sempre envolvente “eu” colectivo: “Mas nada temos já a acrescentar a esta história”. Acontece que, pouco antes, tinha dito que o David, ou alguém parecido com ele, teria sido visto a passear-se pelas ruas da cidade, possivelmente no Porto. Mas tanto diz que “era bem ele”, um David já míope e de cabelos “mais raros”, como, logo a seguir, duvida do que disse: “não podemos jurar”. Ora ninguém faz fé no que se diz e deixa de dizer ou no que se pensa que é e não é, uma das características desta voz narradora, que também passa o tempo a reflectir sobre o escreve, muito à maneira dos pós-modernistas, que vão sempre cogitando sobre a ficção da ficção, com o pretexto de escrever metaficção.
Mas, como íamos dizendo, a revelação feita quase no fim da história, espicaça a curiosidade do leitor em relação ao David, o sobrevivente de uma tentativa de suicídio, numa daquelas tragédias camilianas que ainda hoje fazem as primeiras páginas dos tablóides. Supõe-se que o rapaz se tenha sentido desorientado, ou culpado, por ter escapado da morte, enquanto a mulher amada, atingida “com duas balas no peito” se foi desta vida para sempre.
A defunta era, por seu turno, viúva de um juiz que tinha falecido “em pleno vigor físico,” em vésperas de uma promoção judicial, deixando vários casos por julgar e a mulher, a braços com os nove filhos, dos onze que tinham produzido. Órfãs de um magistrado de província, as crianças seriam criadas como burgueses “pelintras,” vivendo de dádivas e dos fiados, na quase clandestinidade de uma casa de “sobreloja.” O que destaca esta viúva de outras em circunstâncias análogas é a paixão serôdia da mulher - descrita como “gorda”, de “bandós a picarem de cinzento” e “já sem juventude” - pelo David, um rapazinho vindo “das Ilhas,” colega dos filhos mais velhos, com quem ela, segundo constava, encontrou a “felicidade.”
Ou porque não aguentassem a condenação colectiva de um meio provinciano, ou porque os incomodasse a reprovação dos filhos dela, o facto é que os dois amantes resolveram suicidar-se ao mesmo tempo. Não nos devemos preocupar demasiado com as motivações das personagens, como seria normal num romance, onde as causas e os efeitos são importantes para que se entenda o enredo. Aqui, onde nem sequer há enredo, a falta de lógica é perfeitamente aceitável. O que conta é o gesto dos dois amantes, o qual os iria pôr ao nível de outros trágicos amorosos, não tivesse o rapaz sobrevivido, e não fosse a viúva alguém que, para além dos “belos olhos,” não tinha mais nada por onde se lhe pegasse, como se costuma dizer.
O caso dos amantes, com o seu quê de tragicomédia, foi esquecido rapidamente por todos, a não ser pela mestra loura que, tal como a provinciana e a viúva, não tem nome. A mestra não conseguia esquecer a paixão fulminante da defunta, tendo sido ela quem revelou, em primeira mão, que a viúva tinha um amante. Talvez o tenha feito por inveja da mulher que, apesar de “insignificante” e um “tanto estúpida”, se tinha redimido através do amor, acabando por merecer a “aprovação” da mestra que, para além de romântica, era cinéfila.
À medida que a história avança, damo-nos conta de que a figura central não é a viúva, mas a mestra “oxigenada,” para quem a experiência amorosa da outra faz ressaltar o vazio da sua vida, limitada à docência rotineira de uma escola de província. Apesar de ter sido bela e de se ter feito “letrada,” a professora não arranjou marido à sua altura e teve de se contentar com um merceeiro “mesquinho” lá na terra, homem incapaz de pensar noutra coisa senão no dinheiro das vendas.
Também, aqui, nos é dado ver a mestra por dentro, enquanto corrige os trabalhos dos alunos pela noite fora, à luz amarelada da “lampadazinha” que torna ainda mais amarela a sua “cabeça oxigenada”. Vê-se que ela gostaria de ser como as vamps que apareciam nos cartazes da época, “a Brigitte, a Helm, a Marlene”, ou, pelo menos, viver uma paixão tão intensa como a da viúva pelo David, figuras que faz ressuscitar através da memória. Ao mesmo tempo, pensa na filha, a Loló, bonita como ela e, como ela, mal casada, cada vez mais obesa e provinciana, embora fosse prendada e tivesse aprendido a dançar o charleston, para quem não saiba, uma dança amalucada importada da América. A mestra sente inveja não só da viuvez feliz da viúva, mas também da orfandade burguesa dos filhos da viúva, gente “fina” e com oportunidades na vida que a sua Loló nunca teria, apesar de filha única, de pais ainda vivos e, ao que parece, abastados.
Não sabemos o que irá ser a vida da mestra de aqui em diante, mas é possível que, aos domingos, continue a dar uma ajuda no cinema, possivelmente negócio do marido. Põe de lado os trabalhos de casa dos alunos para vender bilhetes e “pastilhas Naval” à garotada que se acotovela para ver os westerns, com sheriffs e um cowboy valentão como o Tim McCoy, antes de o actor enveredar pela televisão. É com os miúdos que ela descarrega o azedume acumulado durante toda a semana, repetindo sempre o mesmo impropério: “Raça!”
O leitor sente compaixão por esta mulher, que já não é nenhuma rapariga loura, e que vê os anos a passarem sem que nada de extraordinário lhe aconteça na vida. Não teve a sorte da viúva que, embora não passasse por viúva alegre, morreu satisfeita, vivendo um grande amor. Nem lhe reconheceram o glamour das Bardots, que pertenciam ao mundo das fitas, fora do seu alcance. Enquanto o David, ou alguém parecido com ele, revisitar a sua memória, é possível que a chamazinha se reacenda, ajudando-a a suportar as tarefas rotineiras da sua docência.
Nesta história, mistura-se a raiva com a inveja, o amor com o desamor, o preconceito de classe com a maledicência, o grotesco com a ironia, tudo visto, num relance, e na perspectiva da mestra, enquanto corrige os trabalhos dos alunos, ao lusco-fusco da lâmpada de mesa. No romance, assim como no cinema, a vida inteira da mulher oxigenada rolaria perante os nossos olhos, mas ninguém pode garantir que se visse tanto como se vê nesta história sobre a mestra loura.
Quem escreve ficções como esta, conhece bem não só o género, mas também o género de audiência que tem pela frente, a quem lança, com ar trocista, um desafio como este : “Se julgam que vou contar-lhes uma história de Natal, com pinheirinhos, presépios e neve fingida, estão muito enganados”. E depois da piscadela de olho, narra a história da mulher estafeta com o “belo casaco cor de pêlo de boi”, que chamava “ele” ao amigo, e que se referia ao marido como “o meu”. Para quem quiser saber mais acerca deste pombo-correio, no feminino, terá de ler a ficçãozinha do princípio ao fim, embora, no fim, se volte ao princípio.
Lisboa, 30 de Dezembro de 2009.
Laura Fernanda Bulger
Hoje em dia, a maioria das histórias que se publicam, avulso ou em colectâneas, não têm propriamente um princípio ou um fim. Umas começam pelo meio, outras chegam ao fim e voltam ao princípio, como em círculo fechado, e a conclusão raramente é conclusiva. No que respeita aos contos de fadas, o clássico era uma vez e o (des)esperado happy ending são agora como as espécies em vias de extinção. Quem diria que, depois de reciclado, o conto de tradição oral e origem popular atingiria o estatuto artístico que agora se lhe reconhece ? E o que é ainda mais espantoso é que, tal como outras ficções mais ou menos curtas, tenha ultrapassado já a popularidade do romance, até há pouco tempo o género literário que colocava o escritor no patamar da grande literatura. Ninguém queria saber se o Tolstoy, a Austen ou o Stendhal escreviam historietas nas horas livres. O Eça, que as escrevia sozinho e a duas mãos, entretinha-se com outras pequeninas ficções, às quais chamava crónicas e cartas, supostamente enviadas de Londres. Quanto ao prolífico Camilo, sempre mostrou queda para a ficçãozinha, quer nos romances folhetinescos quer nas novelas. Mas bastava que fossem romancistas para que a crítica os recebesse com reverência, ainda que a recepção dispensada à tímida Jane fosse, como era de prever, menos efusiva em virtude de sensibilidades e preconceitos que nada tinham que ver com o género literário.
São vários os motivos que justificam a popularidade da ficção dita curta, a designação usada agora para, entre outras formas narrativas, a novela, o conto e a vinheta, de todas, a mais curtinha. Lêem-se relativamente depressa e, ao contrário da ficção dita longa - o romance -, não há que esperar pelo capítulo seguinte para saber o que vai acontecer, ainda que, na maioria das vezes, nada aconteça e, no fim, o leitor tenha de adivinhar o que poderia ter acontecido. Contudo, afirmar, como fez Edgar Allan Poe, que um conto se lê “de uma assentada”, é um exagero, além de dar a impressão de que, depois de lido, é como um assunto encerrado, o que não é verdade até porque Poe, que foi um dos primeiros americanos a trabalhar o conto, ainda hoje nos deixa arrepiados com algumas das suas invenções. Numa delas, o próprio narrador foge a sete pés da casa assombrada, depois de lhe aparecer pela frente o cadáver da Madeline, escondido num armário pelo irmão dela, um tal Roderick Usher ou coisa que o valha, que também morre, acabando assim, tanto a dinastia dos Ushers como o conto que, escrito por Poe, tinha princípio, meio e fim.
Por mais estranho que pareça, estas reflexões sobre a ficção curta vêm a propósito dos contos de Agustina, onde se antecipam ou retomam alguns dos temas e personagens romanescas, uma coincidência frequente na obra de outros romancistas que são, simultaneamente, contistas, como se dizia há uns anos atrás, para separar as águas. Em ambos os géneros praticados pela autora, surgem, por exemplo, o artista incompreendido que procura, geralmente em vão, um meio para comunicar a sua mensagem; ou a solteirona determinada em salvar da ruína a casa de família; ou o rapaz de olho “azulado” que lhe afasta os pretendentes, narrando, com requintes de malvadez, os rituais da matança do porco. Não só deixa os oportunistas sem pinga de sangue, como também os faz desistir da mão da mordoma, que assim fica livre para administrar as terras sem interferência de mão alheia. O campónio, agora de nome Avelino, faz-se passar por tolo e sempre que lhe fazem uma pergunta, responde com uma frase que até parece copiada do príncipe Hamlet: “Não digo que sim, não digo que não”. A duplicidade do estribilho, assim como a estranha relação entre o Avelino e a mordoma dão origem a várias ambiguidades próprias de um conto moderno, por natureza enigmático.
Para os que estejam interessados nas reciprocidades entre os dois géneros trabalhados pela autora, sugerimos que percorram as páginas de Contos Impopulares (1951-53), escritos numa bela prosa lírica e anteriores à publicação da incomparável A Sibila (1954), ou que folheiem A Brusca (1971), a colectânea com a qual a escritora regressa a um género que, na verdade, nunca abandonou.
Mas antes de entrar pelas histórias de Agustina, talvez seja oportuno dizer que o tamanho e a brevidade da ficção curta não chegam para explicar um fenómeno que transcende o das stories publicadas em revistas como o New Yorker, onde vários dos consagrados iniciaram a sua carreira como contadores de histórias ou storytellers. Não estamos a falar de uma americanice literária, embora se diga que o conto americano, sobretudo o minimalista, escrito à maneira de reportagem, seja, de facto, uma ficção made in the USA. Porém, há editores em outras partes do mundo que já começaram a compilar histórias deste ou daquele escritor, alguns também romancistas, vendendo-as depois, como se costuma dizer, por atacado, a um público ávido por ler não uma, mas uma colecção de “boas histórias”. Mas o que é afinal uma “boa história”?
Os jornalistas andam sempre à procura de uma “boa história”, ou seja, de uma notícia dada em primeira mão e com espalhafato jornalístico. Só que o scoop, como lhe chamam em inglês, não se alimenta de fantasias e, se o fizer, a notícia perde credibilidade. Esta questão não se coloca com a ficção, longa ou curta, em que tudo não passa de uma fantasia. Umas são mais fantasiosas do que outras, indo ao extremo de narrar situações inacreditáveis, como faz o Kafka naquela história em que o Gregor Samsa, sem dar por isso, se transforma num insecto repugnante e se vê abandonado por toda a gente, incluindo a própria família. Até o leitor mais céptico fica impressionado com o pesadelo do rapaz e não resiste a perguntar-se: E se uma coisa como esta me acontecesse a mim?
Isto só dá razão aos que acreditam que uma “boa história” poderá dar-nos um murro no estômago ainda mais violento do que o romance e, como vemos aqui, explorar obsessões que, de outro modo, nunca viriam à superfície, satisfazendo, por outro lado, o voyeurismo dos que são atraídos pelo insólito, o grotesco ou o fantástico. À semelhança do thriller, favorece a libertação dos medos que nos atormentam, com a vantagem de não termos de recorrer à psicanálise. É evidente que nem toda a ficção curta mexe com os estados de alma do leitor, mas não se pode negar que o género se ajusta ao psiquismo de uma sociedade como a nossa, exposta continuamente às cenas escabrosas do directo televisivo e às inovações tecnológicas que ameaçam exterminar o prazer táctil do livro de papel, falando-se já do “canibalismo” do livro digital. Num clima contaminado por tanta suspeição, seja devido aos degelos antárcticos, seja às burlas financeiras, parece haver, cada vez menos disponibilidade ou mesmo inclinação para longas e densas tramas romanescas.
Existem, no entanto, paraísos literários, como Portugal, onde o leitor ainda se deleita a ler um bom romance, escrito à maneira de Agustina. Desta vez, não vamos falar dos romances, mas das histórias da autora, cuja releitura também nos leva sempre a descobrir alguma coisa que nos tinha passado despercebida antes. É possível que, numa primeira leitura, tivéssemos prestado pouca atenção ao modo como a romancista se adapta aos constrangimentos da ficção curta, ora mais a jeito de conto, ora de novela, com uma ou outra vinheta em tom ensaístico pelo meio. Não se julgue que escrever ficção em miniatura dá menos trabalho do que escrevê-la em tamanho grande. Não se trata de uma arte menor vis-a-vis outra maior, como nas redondilhas. Para além da economia narrativa, já que a história está como que comprimida em poucas páginas, há também um número reduzido de personagens; a linguagem torna-se ainda mais sibilina, as ambiguidades, mais frequentes, culminando com o chamado fim em aberto, com o leitor a concluir a história como quiser. Não é nenhum rasgo democrático por parte do autor, mas uma tendência do conto moderno, enquanto que, no antigo, nada ficava por resolver, o que nos deixava a nós, leitores, muito mais tranquilos. E o que dizer das figuras anónimas que aparecem sem que se perceba bem como e porquê, e que, sem pronunciar ou fazer coisa nenhuma, desaparecem como por encanto?
Lembramo-nos daquela provinciana que toma um comboio para o Porto e que, durante a viagem, não diz uma única palavra, causando mal-estar entre os quatro estudantes que ocupavam a carruagem. Pela conversa com a “moça”, a quem manda comprar maçãs, já da janela do comboio, sabemos que estará de volta no dia seguinte, pela noitinha, embora nada diga à rapariga sobre o motivo da ida à cidade. Entretanto, os quatro jovens vêem-se obrigados a partilhar o mesmo espaço com a mulher, ainda nova, bonita e sem pinturas na cara. Apesar de a tomarem por pessoa “honesta”, na óptica dos rapazes, a provinciana é uma “intrusa” que, ainda por cima, parece não dar pela presença deles, que já seguiam na carruagem. O alheamento da mulher torna-se ainda mais evidente logo que, depois de arrumar a bagagem, se senta no lugar e come o “rebuçado de avenca” com a boca distorcida, como se a “alma” se lhe tivesse voado do corpo que, no entanto, tem os pés firmes na terra.
O leitor, que tem o privilégio de ver a provinciana por dentro, sabe o que lhe vai na cabeça, tendo a impressão de que a vê pensar em voz alta. A mulher está imersa no seu pequenino mundo, isto é, preocupada com as doenças dos filhos, crianças atreitas a toda a espécie de mazelas, e com as tarefas a decorrer durante a sua ausência na casa de lavoura, das que ainda conservam a “prensa do vinho” e a “chaminé conventual”, onde se cozinha a lenha. Por isso, de nada valem os remoques dos quatro viajantes, nem mesmo quando um deles vem com a ideia da carruagem segregada, onde os homens não tenham de respirar o ar “envenenado” pelas mulheres. A observação, feita para espicaçar a provinciana, não deixa de revelar o preconceito de uma cultura, digamos, tão primitiva como a dos patriarcas bíblicos, a qual, graças a Deus, se vai desenraizando da tradição na qual tem estado enraizada.
A provinciana, que continua a velar pela sua “fazenda”, ignora o dito do rapazote e, lá no íntimo dela, “ouve” os “passos” “do marido, do pai e dum amigo”, certamente figuras tutelares não apenas das suas rêveries, como também do seu quotidiano. A espreitadela à mente da desconhecida é demasiado rápida e circunscrita à sua domesticidade, não dando para ver as demais faces desta Eva oriunda da burguesia rural, as quais permanecem como faces ocultas. Ninguém espera que numa ficção curta como esta se reproduzam torrentes de pensamentos à deriva, como fez o James Joyce num romance tão extenso como o Ulysses, pondo a Molly, no fim, a pensar em tudo o que lhe vinha à cabeça. Nem a provinciana teria, supomos nós, um passado e um presente tão desinibidos como os da irlandesa, cujos pensamentos provocam, ainda hoje, um certo embaraço nos círculos mais circunspectos, sobretudo quando aquela sucessão de “sins”, no final, são repetidos por uma Molly bastante sexy, como já se tem visto, tanto no teatro como no cinema.
Mas voltemos à provinciana. Chegada à Invicta, a mulher prepara-se para sair calada e muda, indiferente a que o comboio venha “à tabela”, pormenor que um dos jovens faz questão de referir em voz alta com o intuito de a provocar novamente. Ela acerta o relógio de pulso, acusando, pela primeira vez, a presença deles, mas, como até ali, faz-se de mouca. A história termina com umas considerações acerca da frustração dos rapazes perante a indiferença da desconhecida que, com o gesto inconsciente, confirma a sua decisão “inabalável” de não perder tempo com superficialidades, muito menos com as graçolas dos quatro metediços. O fim em aberto deixa antever que a provinciana virá a perder-se por entre a multidão urbana e que os futuros licenciados seguirão para Coimbra, onde vão fazer exames de frequência, não sabemos de quê.
Ora aqui está uma “boa história” não tanto pelo que conta, mas pela maneira como conta o percurso das personagens. Apesar de não ser como a versão perversa do Capuchinho Vermelho, da Angela Carter, nem os quatro rapazotes representarem o lobo mau ou a provinciana, a inocente, o relato da viagem causa uma certa tensão no leitor, receoso de que alguma coisa desagradável venha a acontecer se, por acaso, eles ultrapassarem os limites da boa educação e a mulher, desperta do seu transe, sinta que tem de dizer ou fazer alguma coisa para os pôr na ordem. Felizmente, a viagem é curta e, no fim, cada um vai à sua vida sem incidentes, ou assim se conjectura. Mas fica-se como que a ruminar durante algum tempo sobre a “aventura” da provinciana, cujo nome nem sequer conhecemos. Ainda que vista por dentro e por fora, passa tudo num relance e a mulher afigura-se tão enigmática no fim como no princípio da história. O que a teria levado até ao Porto? Uma consulta com o médico? Uma escritura no notário? Um encontro com alguém especial? Teria passado a noite num hotel da Boavista ou em casa da família, na Foz? Estaria assim tão desejosa por regressar ao seu aconchego de castelã rural, para tratar as “dermatoses” dos filhos, fritar os “rissóis” e provar “as sanefas das janelas”? Nunca chegaremos a saber se viagem ao Porto foi um momento decisivo na vida da provinciana.
Os desfechos propostos por Agustina deixarão insatisfeito o leitor que estiver à procura do happy ending ou da moral da história, geralmente implícita numa metáfora. Mas não é apenas isso. Também causa perplexidade a “falta de transparência”, como se diz por aí, as insinuações, as frases indecifráveis, a aura misteriosa das personagens, enfim, todas as ambiguidades criadas em torno de uma história que chega ao fim sem solução à vista. Curiosamente, ficamos suspensos de qualquer coisa, um pouco como nos filmes do Hitchcock, e lemos a história, mais do que uma vez, à procura do que lhe parece faltar para que faça sentido. Mas não será o mesmo que fazemos no nosso dia-a-dia, quando nem um sexto sentido ajuda a perceber o que se passa à nossa volta?
Num outro conto, começa-se por teorizar sobre a “boa história” que narra a “consciência da nossa individualidade”, algo tão extraordinário que, diz-se, só um artista consegue “desvendar.” Depois da introdução um tanto ensaística, passa-se da teoria à prática com o início do relato. Como nos romances, narram-se os antecedentes do Gil e só depois aparece o Gil, um bastardo criado por mulheres infelizes que vão envelhecendo e morrendo nos seus “viveiros”, deixando o rapaz em completa orfandade e com escassos meios de sobrevivência. Anos depois - o tempo passa em dois ou três parágrafos -, o Gil faz-se poeta, quer dizer, um poeta que não “devia escrever versos,” e encontra a Lucinda, uma pianista sem “espaço” senão “para sonhar”. A história termina com a hipotética ligação amorosa entre os dois artistas falhados. Porém, não fica claro se o Gil e a Lucinda vão caminhar juntos ou separados para o resto da vida, se encontram uma terceira via, seguindo “ora mais distantes, ora lado a lado”, como se diz à maneira de final, ou, ainda, se conseguem desvendar a “consciência da individualidade”, o enigma aflorado no princípio. A conclusão será, pois, a que cada um muito bem entender.
Não há dúvida de que o leitor está a ser manipulado por uma contadora de histórias que, desde há muito, pratica a arte ancestral do conto, como se nota através dos vestígios de oralidade espalhados aqui e ali. No momento em que o Bráulio, invejoso da mulher, com quem disputa a companhia de intelectuais e artistas, pensa no convidado escondido debaixo da mesa, entretanto desaparecido, a voz da narração interrompe os pensamentos do Bráulio e, como se estivesse a falar para uma vasta audiência, exclama: “Adeus, senhores, acabou-se o conto”.
Tal como era contado antes, o conto já não conseguia arrebatar o leitor sofisticado, perdido, na altura, nos emaranhados do romance. Daí a necessidade para as inovações, entre elas, a da conclusão inconclusiva, emprestada ao Chekhov, um dos mestres do conto moderno. Há, no entanto, quem prefira o realismo do Maupassant, menos dado a ironias e a ambiguidades. O russo é, contudo, o mais citado pelos modernistas para justificar os modernismos que eles próprios iam trazendo para a ficção, longa e curta, esta muitas vezes prolongada em forma de romance. Veja-se o caso da Virginia Woolf que começou por escrever uma historieta, à qual deu o título de Mrs. Dalloway, e que depois acabou naquilo que se viu, um dos romances mais badalados da escritora inglesa.
Agustina domina os dois tipos de ficção com igual à-vontade e muitos dos seus romances são colectâneas de pequenas ficções ligadas, entre si, por variantes de uma personagem ou de um tema, como já tentámos provar em qualquer lado. Não nos parece estranho que a voz narradora faça questão de mostrar que conhece as regras do jogo, não vá o leitor distrair-se e pensar que, em vez de uma historieta, está a ler um dos romances. Mas nunca vai ao ponto de exibir o know-how teórico com que certos autores pós-modernos procuram deslumbrar o crítico literário. Longe disso. Fica-se pelo número limitado das personagens na história: “Eram apenas dois os personagens que estavam previstos nesta história ... O terceiro personagem pode estragar tudo...”. A alusão é tanto mais irónica se tivermos em conta a multidão de figuras e figurantes dos romances, tantos que o leitor tropeça nos nomes deles e tem dificuldade em distingui-los.
Noutra ocasião, finge não dar ouvidos a boatos ou mesmo à “boa fonte” que, na província, diz incluir “as maiores sevícias morais, as maiores depredações da dignidade humana”. Ironicamente, na história sobre o Camilo Timóteo, afirma que o “desastre físico” do homem vem de “boa fonte”, embora não a identifique, como fazem os jornalistas, até os mais referenciados. Apesar das “sevícias” e “depredações” da “boa fonte”, lá vai dizendo que os filhos da Tília, a prostituta que coabita com o Camilo, não são dele, e que o Camilo os baptiza com os nomes dos seus antepassados, escolhendo um dos rapazes para seu legítimo herdeiro. Camilo morre de velho, na miséria e, por força das circunstâncias, estéril. Era o segundo dono da Brusca, um antigo solar urbano comprado a um senhor d’Além, cheio de pergaminhos, mas falido. Resumindo, destruída pela filharada vadia da Tília, a casa estava em tão mau estado que nem um novo-rico como o Monteiro Branco, que a comprou por tuta-e-meia, conseguiria fazer do “pardieiro” uma pousada para turismo rural, a menos que trasladasse a casa, pedra por pedra, para o litoral ou para o estrangeiro, tão longe como a Suíça, onde o Branco devia ter feito bom dinheiro. E a história termina com um comentário que só um leitor bastante ingénuo poderá levar a sério: “Mas diz-se muita coisa, e há sempre quem exagere”.
Para além dos aspectos formais, as contradições, as ironias, as ambiguidades e tudo o resto, também são evidentes os sinais de mudança numa província - pois estamos a falar dos contos sobre a província - que, devido à emigração e ao êxodo para os centros urbanos, viria a desertificar-se e, mais tarde, a urbanizar-se, um processo de transição que deixaria marcas profundas na ficção, tanto na longa como na curta.
O cinema é outra das causas de mudança, por mostrar ao espectador outros mundos e outras gentes e despertar, às vezes, sonhos irrealizáveis, como se vem a descobrir numa outra história, onde, antes de terminar, a voz da narração declara, usando o sempre envolvente “eu” colectivo: “Mas nada temos já a acrescentar a esta história”. Acontece que, pouco antes, tinha dito que o David, ou alguém parecido com ele, teria sido visto a passear-se pelas ruas da cidade, possivelmente no Porto. Mas tanto diz que “era bem ele”, um David já míope e de cabelos “mais raros”, como, logo a seguir, duvida do que disse: “não podemos jurar”. Ora ninguém faz fé no que se diz e deixa de dizer ou no que se pensa que é e não é, uma das características desta voz narradora, que também passa o tempo a reflectir sobre o escreve, muito à maneira dos pós-modernistas, que vão sempre cogitando sobre a ficção da ficção, com o pretexto de escrever metaficção.
Mas, como íamos dizendo, a revelação feita quase no fim da história, espicaça a curiosidade do leitor em relação ao David, o sobrevivente de uma tentativa de suicídio, numa daquelas tragédias camilianas que ainda hoje fazem as primeiras páginas dos tablóides. Supõe-se que o rapaz se tenha sentido desorientado, ou culpado, por ter escapado da morte, enquanto a mulher amada, atingida “com duas balas no peito” se foi desta vida para sempre.
A defunta era, por seu turno, viúva de um juiz que tinha falecido “em pleno vigor físico,” em vésperas de uma promoção judicial, deixando vários casos por julgar e a mulher, a braços com os nove filhos, dos onze que tinham produzido. Órfãs de um magistrado de província, as crianças seriam criadas como burgueses “pelintras,” vivendo de dádivas e dos fiados, na quase clandestinidade de uma casa de “sobreloja.” O que destaca esta viúva de outras em circunstâncias análogas é a paixão serôdia da mulher - descrita como “gorda”, de “bandós a picarem de cinzento” e “já sem juventude” - pelo David, um rapazinho vindo “das Ilhas,” colega dos filhos mais velhos, com quem ela, segundo constava, encontrou a “felicidade.”
Ou porque não aguentassem a condenação colectiva de um meio provinciano, ou porque os incomodasse a reprovação dos filhos dela, o facto é que os dois amantes resolveram suicidar-se ao mesmo tempo. Não nos devemos preocupar demasiado com as motivações das personagens, como seria normal num romance, onde as causas e os efeitos são importantes para que se entenda o enredo. Aqui, onde nem sequer há enredo, a falta de lógica é perfeitamente aceitável. O que conta é o gesto dos dois amantes, o qual os iria pôr ao nível de outros trágicos amorosos, não tivesse o rapaz sobrevivido, e não fosse a viúva alguém que, para além dos “belos olhos,” não tinha mais nada por onde se lhe pegasse, como se costuma dizer.
O caso dos amantes, com o seu quê de tragicomédia, foi esquecido rapidamente por todos, a não ser pela mestra loura que, tal como a provinciana e a viúva, não tem nome. A mestra não conseguia esquecer a paixão fulminante da defunta, tendo sido ela quem revelou, em primeira mão, que a viúva tinha um amante. Talvez o tenha feito por inveja da mulher que, apesar de “insignificante” e um “tanto estúpida”, se tinha redimido através do amor, acabando por merecer a “aprovação” da mestra que, para além de romântica, era cinéfila.
À medida que a história avança, damo-nos conta de que a figura central não é a viúva, mas a mestra “oxigenada,” para quem a experiência amorosa da outra faz ressaltar o vazio da sua vida, limitada à docência rotineira de uma escola de província. Apesar de ter sido bela e de se ter feito “letrada,” a professora não arranjou marido à sua altura e teve de se contentar com um merceeiro “mesquinho” lá na terra, homem incapaz de pensar noutra coisa senão no dinheiro das vendas.
Também, aqui, nos é dado ver a mestra por dentro, enquanto corrige os trabalhos dos alunos pela noite fora, à luz amarelada da “lampadazinha” que torna ainda mais amarela a sua “cabeça oxigenada”. Vê-se que ela gostaria de ser como as vamps que apareciam nos cartazes da época, “a Brigitte, a Helm, a Marlene”, ou, pelo menos, viver uma paixão tão intensa como a da viúva pelo David, figuras que faz ressuscitar através da memória. Ao mesmo tempo, pensa na filha, a Loló, bonita como ela e, como ela, mal casada, cada vez mais obesa e provinciana, embora fosse prendada e tivesse aprendido a dançar o charleston, para quem não saiba, uma dança amalucada importada da América. A mestra sente inveja não só da viuvez feliz da viúva, mas também da orfandade burguesa dos filhos da viúva, gente “fina” e com oportunidades na vida que a sua Loló nunca teria, apesar de filha única, de pais ainda vivos e, ao que parece, abastados.
Não sabemos o que irá ser a vida da mestra de aqui em diante, mas é possível que, aos domingos, continue a dar uma ajuda no cinema, possivelmente negócio do marido. Põe de lado os trabalhos de casa dos alunos para vender bilhetes e “pastilhas Naval” à garotada que se acotovela para ver os westerns, com sheriffs e um cowboy valentão como o Tim McCoy, antes de o actor enveredar pela televisão. É com os miúdos que ela descarrega o azedume acumulado durante toda a semana, repetindo sempre o mesmo impropério: “Raça!”
O leitor sente compaixão por esta mulher, que já não é nenhuma rapariga loura, e que vê os anos a passarem sem que nada de extraordinário lhe aconteça na vida. Não teve a sorte da viúva que, embora não passasse por viúva alegre, morreu satisfeita, vivendo um grande amor. Nem lhe reconheceram o glamour das Bardots, que pertenciam ao mundo das fitas, fora do seu alcance. Enquanto o David, ou alguém parecido com ele, revisitar a sua memória, é possível que a chamazinha se reacenda, ajudando-a a suportar as tarefas rotineiras da sua docência.
Nesta história, mistura-se a raiva com a inveja, o amor com o desamor, o preconceito de classe com a maledicência, o grotesco com a ironia, tudo visto, num relance, e na perspectiva da mestra, enquanto corrige os trabalhos dos alunos, ao lusco-fusco da lâmpada de mesa. No romance, assim como no cinema, a vida inteira da mulher oxigenada rolaria perante os nossos olhos, mas ninguém pode garantir que se visse tanto como se vê nesta história sobre a mestra loura.
Quem escreve ficções como esta, conhece bem não só o género, mas também o género de audiência que tem pela frente, a quem lança, com ar trocista, um desafio como este : “Se julgam que vou contar-lhes uma história de Natal, com pinheirinhos, presépios e neve fingida, estão muito enganados”. E depois da piscadela de olho, narra a história da mulher estafeta com o “belo casaco cor de pêlo de boi”, que chamava “ele” ao amigo, e que se referia ao marido como “o meu”. Para quem quiser saber mais acerca deste pombo-correio, no feminino, terá de ler a ficçãozinha do princípio ao fim, embora, no fim, se volte ao princípio.
Lisboa, 30 de Dezembro de 2009.
Laura Fernanda Bulger
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Comunicação de NA`TÁLIA CORREIA
História do Movimento Associativo na República Argentina
Questões de Género e de Geração
Pte. Associação da Mulher Migrante Portuguesa na Argentina
Apresentado no Encontro Mundial de 23 -24-25-26 de Novembro 2011 em Maia
Porto - Portugal
Encontro Mundial de Mulheres da Diáspora Portuguesa
Somos uma raça antiga a morar na Argentina.
Foi Portugal que reconheceu, em primeiro lugar, o 1° governo Argentino e é por isso que a Bandeira Portuguesa pode estar tanto à direita como à esquerda, da "Bandera
Nacional".
O Associativismo começa por uma necessidade de estarem juntos, os
Imigrantes, para recordarem a Saudade do seu País Natal.
Em Buenos Aires, o Encarregado de Negócios de Portugal dessa altura, o Sr. Álvaro Paes de Faria, fez uma comunicação aos Portugueses residentes na Cidade, para manifestar-lhes o desejo de que, seguindo o exemplo de outras
colónias estrangeiras, formassem uma sociedade de Beneficência Portuguesa destinada a auxiliar os compatriotas desvalidos, residentes no país.
Foi assim que um grupo de homens começa a trabalhar no ano 1828 e se funda a Caixa de Socorros “LUSITANIA” , pois o primeiro passo se tinha dado.
Continua como Sociedade Portuguesa de Socorros desde o ano 1883 até 1904, depois muda de nome e passa a chamar-se, “REAL SOCIEDADE PORTUGUESA DE SOCORROS desde 1905 até 1910. Continua como Sociedade Portuguesa de Socorros até que se construiu o Hospital Português
Clube Português. Foi um contínuo trabalho do Associativismo, anos de Historia, em que toda a Comunidade contribuiu para realizar essa grande Obra. Na maioria, eram socios do Clube Português.
Como Comunidade Estrangeira, dentro do Associativismo, somos a única que tem um Panteón, no Cimenterio da Recoleta, data desde o 26 de Abril de 1882 - onde descansam os restos de Eva Perón, de vários presidentes e das maiores pessoalidades das Letras, políticos etc. doado pelo Presidente Torcuato de Alvear, casado
com a primeira e única Dama estrangeira que teve o país: era Dona Regina Paccini de Alvear , Portuguesa, Cantante Lírica, mal vista pela Sociedade Argentina nessa altura, mas ela deu exemplo de amor ao desvalido demonstrou ser uma Mulher de grande
humanidade, deixando obras que ainda hoje são Orgulho do que fez uma primeira Dama Portuguesa.
O Associativismo continua com o Clube Português que já fez 93 anos de vida no ano 2011, toda uma Historia dentro de essas paredes, por aí passaram muitas personalidades do Fado, da Música, das Letras e da Política.
Começa um novo movimento dentro desse Associativismo. É que um grupo de Homens das Beiras e do Norte de Portugal tem novas ideias - querem abrir uma nova Casa Portuguesa , e assim nasce o Centro Pátria Portuguesa, dentro do raio da Capital que, neste mês de Setembro 2011, fez 80 anos de vida.
Nascem ideias... novos Ranchos Folclóricos e criam o Grupo Os Pauliteiros de Miranda, esteve vários anos, e agora estão para voltar a dinamizar este novo grupo.....Tem um Jovem de Vice-Pte.Sr. Dúlio Moreno e Maria Laura Rojas, que cantam Fados mostrando nossa Música a outros grupos Argentinos que se dedicam ao Fado, esta parte é muito interessante para toda a Comunidade, pois até agora não tínhamos nada de semelhante.
Essa Instituição também tem O GRUPO COIMBRA, que toca música Portuguesa, e vão a diferentes lugares actuar para o público.
Dentro da Comunidade há muitos Ranchos Folclóricos de diferentes Associações.
No ano 1978 se fundam 3 Associações perto da Cidade de Buenos Aires.
Somos poucos mas temos Associações em diferentes Províncias do país a 2000. Ks. a 600km. A 400ks. a 300ks. E continuam abrindo casas de Cultura. Dentro de estas Associações de tão longe, a que mais actividade tem é a de Comodoro Rivadavia .
Dentro do Associativismos as Mulheres têm feito o trabalho de transmitir aos seus filhos e netos a Cultura, as Costumes do País natal. Os descendentes, quase todos, vão para a Universidade.
As Mulheres convidavam os seus vizinhos portugueses, os seus conhecidos, para que frequentem a Casa Portuguesa. O resultado foi fantástico, hoje muita gente, descendentes de outras raças têm connosco convívio, como também Portugueses de diferentes lugares de Portugal.
A Língua Portuguesa, é e será o Orgulho de todos nós, espalhados pelo mundo fora, e quase todas as Entidades oferecem o ensino da Língua.
A primeira Professora a dar classes foi a Dra. Ângela Rodrigues
Barros, também a primeira Bolseira do Brasil e de Portugal, uma
Argentina que foi Directora de Línguas Vivas de Bs. As. E que, morou
muitos anos em Portugal a pesquisar sua Historia, para poder transmiti-la .
Geração Luso- Descendente
As Instituições Portuguesa alguma delas estão atravessando uma difícil situação por não terem pessoal que queiram conduzi-las, caso de Mar del Plata, que vai fazer 50 anos de vida o ano que vem, e está com falta de Sócios que queiram continuar com a Entidade. Para cumprir com os Estatutos, teria de ser vendida, e passaria as mãos de um Lar da Cidade onde está.
Deixo uma ideia aqui: poderiam as Autoridades mandar um Professor de guitarra Portuguesa para incentivar o ensino desse instrumento (que na Argentina não há?
Outra reflexão: a gastronomia portuguesa é tão rica, porque não enviar um "chef"" para ensinar a fazer comidas típicas , não só a nível português como a nível das diferentes comunidades de outros Países e das que são originariamente da Argentina... Temos que abrir-nos como fazem outras Comunidades!
Sabemos bem da diferença de preparação de um jovem Profissional e de uma
pessoa que fez a 4ª. Classe há 60 anos atrás.
Pergunto: não seria saudável deixar que os Jovens organizem eles o que queiram, para ver até donde chega a responsabilidade e o interesse de novas ideias. E que os maiores de idade ajudem, para que juntos possamos ter um convívio normal para que sigam funcionando para orgulho de todos, estes grupos Associativos!
SITUACÄO DE GÉNERO
E, por último, quero qualificar o trabalho das Mulheres, que sempre trabalharam á sombra dos homens - ainda hoje elas continuam a trabalhar da mesma maneira, nas pessoas da minha geração. Algumas puderam ocupar lugares em diferentes Associações, mas não foi fácil... tivemos que lutar muito e demonstrar com trabalho que tínhamos capacidade para faze-lo.
A outras ainda não lhe deram o lugar, como sabemos o Homem Português na Argentina tem dificuldade de partilhar cargos Directivos.
Agora, nas gerações jovens, a Mulher ocupa cargos ou profissões em igualdade
com o género masculino.
Aliás, tivemos um grande incentivo duma grande Mulher a Dra. Maria Manuela Aguiar que numa das visitas que fez ä Argentina, nos pediu: porque as Mulheres não se uniam e formavam uma Associação para fazer coisas diferentes? E foi assim que nasceu a Associação da Mulher Migrante na Rep. Argentina. Foi um grande desenvolvimento para as Mulheres, e uma libertação, para que pudessem sair para assistir ás reuniões e dessa maneira ganharem um espaço de afirmação pessoal.
Como disse, antes, as Associações que integram a Comunidade onde se inserem, nasceram para dar respostas aos sócios, fazendo Festas, jogos de mesa, festividades de Romarias e Ranchos folclóricos.
Mas esta MULHER MIGRANTE veio para dar resposta ás dificuldades Económicas que muitos compatriotas tiveram e têm. Mas agora contam com a Solidariedade desta Associação, que começou a trabalhar, e, imediatamente, se viu o resultado - os pedidos vinham de todos lados até de Pcias. a 500 km. de distância, chegavam para pedir ajuda, e lá estava a Mulher Migrante para dar solução ao pedido.
O nosso trabalho teve enfoque na parte Social e de Voluntariado, chegando as casas dos Carentes Portugueses, ou dos casados com nossa raça, para dar ajuda aos seus problemas, foram muitos e de diferente índole.
Também fizemos Teatro de Paródia, imitando Programas da Televisão, e contando anedotas sobre quando chegamos a Argentina, quando não sabíamos o idioma - coisas que aconteciam e que, depois,
até tinham piada.
Neste contexto, a Associação tem feito Seminários, diferentes mostras de Cultura, Exposições diversas., apresentações com meios audio- visuais, onde as pessoas que ajudamos davam testemunha do que sentiam. Foi emocionante vê-los!
Esta Associação foi e será influente nas áreas sócio – culturais, sendo uma Associação de Inovação Social.
Aqui podemos observar a evolução da Mulher no trabalho Associativo. Também damos o nosso trabalho ás autoridades do governo Português na Argentina, ajudando em tarefas que ligam com a comunidade inteira em diferentes cidades de Buenos. Aires - Em busca de informação sobre os casos de necessidade, levando os cheques de Portugal dos subsídios até à própria morada das pessoas.
Neste quadro, e para finalizar, minhas Senhoras e meus e Senhores, posso dizer que o trabalho que tem feito a Associação da Mulher Migrante na Argentina, tem sido brilhante, respeitado não só pela Comunidade Portuguesa , e Sociedade Argentina, também por muitos outros países da Comunidade Europeia e da América do Sul - muitas vezes recebemos pedidos de informação do Brasil, para saberem como implementámos a Associação, e como funcionámos.
Temos imensos convites de Associações de Bem Público, da Comunidade Europeia, como a Rússia, Espanha, Itália e muitas mais.
Temos participado em Seminários dedicados a pessoas que têm Capacidades Diferentes .
O trabalho Voluntário é e será um exemplo de vida para todas as Mulheres que participam para dar seu tempo, ás diversas necessidades de que hoje padece a nossa gente Idosa, digna de ser respeitada pela trajectória de vida que teve.
Só temos quatro Mulheres Presidentes de diferentes Associações.
Peço as Autoridades presentes que vejam de que maneira as Comendas e os prémios ao trabalho são atribuídos. Não só devem ser para o Género Masculino, o Feminino também merece e espera reconhecimento, da mesma maneira.
Muito obrigado a todos, pela atenção e agradeço á Dra. Maria Manuela Aguiar e á Dra. Rita Gomes duas Mulheres que admiro, elas conseguem de nós lá fora tudo o que desejarem, para continuar a trabalhar pelo nosso Portugal, que está a 10.000 km.
de distância, mas tão perto do nosso coração.
Agradeço ao Secretario das Comunidades Portuguesas, a sua Excia. o Dr. José Cesário, pela preocupação que manifesta pelas Comunidades espalhadas pelo mundo fora, também pelo convite que me fizeram, para representar a Associação da Mulher Migrante na Argentina, neste Seminário na Maia nos dias 24-25-26 de Novembro de 2011.
Obrigada.
Natália M. Renda Correia
Questões de Género e de Geração
Pte. Associação da Mulher Migrante Portuguesa na Argentina
Apresentado no Encontro Mundial de 23 -24-25-26 de Novembro 2011 em Maia
Porto - Portugal
Encontro Mundial de Mulheres da Diáspora Portuguesa
Somos uma raça antiga a morar na Argentina.
Foi Portugal que reconheceu, em primeiro lugar, o 1° governo Argentino e é por isso que a Bandeira Portuguesa pode estar tanto à direita como à esquerda, da "Bandera
Nacional".
O Associativismo começa por uma necessidade de estarem juntos, os
Imigrantes, para recordarem a Saudade do seu País Natal.
Em Buenos Aires, o Encarregado de Negócios de Portugal dessa altura, o Sr. Álvaro Paes de Faria, fez uma comunicação aos Portugueses residentes na Cidade, para manifestar-lhes o desejo de que, seguindo o exemplo de outras
colónias estrangeiras, formassem uma sociedade de Beneficência Portuguesa destinada a auxiliar os compatriotas desvalidos, residentes no país.
Foi assim que um grupo de homens começa a trabalhar no ano 1828 e se funda a Caixa de Socorros “LUSITANIA” , pois o primeiro passo se tinha dado.
Continua como Sociedade Portuguesa de Socorros desde o ano 1883 até 1904, depois muda de nome e passa a chamar-se, “REAL SOCIEDADE PORTUGUESA DE SOCORROS desde 1905 até 1910. Continua como Sociedade Portuguesa de Socorros até que se construiu o Hospital Português
Clube Português. Foi um contínuo trabalho do Associativismo, anos de Historia, em que toda a Comunidade contribuiu para realizar essa grande Obra. Na maioria, eram socios do Clube Português.
Como Comunidade Estrangeira, dentro do Associativismo, somos a única que tem um Panteón, no Cimenterio da Recoleta, data desde o 26 de Abril de 1882 - onde descansam os restos de Eva Perón, de vários presidentes e das maiores pessoalidades das Letras, políticos etc. doado pelo Presidente Torcuato de Alvear, casado
com a primeira e única Dama estrangeira que teve o país: era Dona Regina Paccini de Alvear , Portuguesa, Cantante Lírica, mal vista pela Sociedade Argentina nessa altura, mas ela deu exemplo de amor ao desvalido demonstrou ser uma Mulher de grande
humanidade, deixando obras que ainda hoje são Orgulho do que fez uma primeira Dama Portuguesa.
O Associativismo continua com o Clube Português que já fez 93 anos de vida no ano 2011, toda uma Historia dentro de essas paredes, por aí passaram muitas personalidades do Fado, da Música, das Letras e da Política.
Começa um novo movimento dentro desse Associativismo. É que um grupo de Homens das Beiras e do Norte de Portugal tem novas ideias - querem abrir uma nova Casa Portuguesa , e assim nasce o Centro Pátria Portuguesa, dentro do raio da Capital que, neste mês de Setembro 2011, fez 80 anos de vida.
Nascem ideias... novos Ranchos Folclóricos e criam o Grupo Os Pauliteiros de Miranda, esteve vários anos, e agora estão para voltar a dinamizar este novo grupo.....Tem um Jovem de Vice-Pte.Sr. Dúlio Moreno e Maria Laura Rojas, que cantam Fados mostrando nossa Música a outros grupos Argentinos que se dedicam ao Fado, esta parte é muito interessante para toda a Comunidade, pois até agora não tínhamos nada de semelhante.
Essa Instituição também tem O GRUPO COIMBRA, que toca música Portuguesa, e vão a diferentes lugares actuar para o público.
Dentro da Comunidade há muitos Ranchos Folclóricos de diferentes Associações.
No ano 1978 se fundam 3 Associações perto da Cidade de Buenos Aires.
Somos poucos mas temos Associações em diferentes Províncias do país a 2000. Ks. a 600km. A 400ks. a 300ks. E continuam abrindo casas de Cultura. Dentro de estas Associações de tão longe, a que mais actividade tem é a de Comodoro Rivadavia .
Dentro do Associativismos as Mulheres têm feito o trabalho de transmitir aos seus filhos e netos a Cultura, as Costumes do País natal. Os descendentes, quase todos, vão para a Universidade.
As Mulheres convidavam os seus vizinhos portugueses, os seus conhecidos, para que frequentem a Casa Portuguesa. O resultado foi fantástico, hoje muita gente, descendentes de outras raças têm connosco convívio, como também Portugueses de diferentes lugares de Portugal.
A Língua Portuguesa, é e será o Orgulho de todos nós, espalhados pelo mundo fora, e quase todas as Entidades oferecem o ensino da Língua.
A primeira Professora a dar classes foi a Dra. Ângela Rodrigues
Barros, também a primeira Bolseira do Brasil e de Portugal, uma
Argentina que foi Directora de Línguas Vivas de Bs. As. E que, morou
muitos anos em Portugal a pesquisar sua Historia, para poder transmiti-la .
Geração Luso- Descendente
As Instituições Portuguesa alguma delas estão atravessando uma difícil situação por não terem pessoal que queiram conduzi-las, caso de Mar del Plata, que vai fazer 50 anos de vida o ano que vem, e está com falta de Sócios que queiram continuar com a Entidade. Para cumprir com os Estatutos, teria de ser vendida, e passaria as mãos de um Lar da Cidade onde está.
Deixo uma ideia aqui: poderiam as Autoridades mandar um Professor de guitarra Portuguesa para incentivar o ensino desse instrumento (que na Argentina não há?
Outra reflexão: a gastronomia portuguesa é tão rica, porque não enviar um "chef"" para ensinar a fazer comidas típicas , não só a nível português como a nível das diferentes comunidades de outros Países e das que são originariamente da Argentina... Temos que abrir-nos como fazem outras Comunidades!
Sabemos bem da diferença de preparação de um jovem Profissional e de uma
pessoa que fez a 4ª. Classe há 60 anos atrás.
Pergunto: não seria saudável deixar que os Jovens organizem eles o que queiram, para ver até donde chega a responsabilidade e o interesse de novas ideias. E que os maiores de idade ajudem, para que juntos possamos ter um convívio normal para que sigam funcionando para orgulho de todos, estes grupos Associativos!
SITUACÄO DE GÉNERO
E, por último, quero qualificar o trabalho das Mulheres, que sempre trabalharam á sombra dos homens - ainda hoje elas continuam a trabalhar da mesma maneira, nas pessoas da minha geração. Algumas puderam ocupar lugares em diferentes Associações, mas não foi fácil... tivemos que lutar muito e demonstrar com trabalho que tínhamos capacidade para faze-lo.
A outras ainda não lhe deram o lugar, como sabemos o Homem Português na Argentina tem dificuldade de partilhar cargos Directivos.
Agora, nas gerações jovens, a Mulher ocupa cargos ou profissões em igualdade
com o género masculino.
Aliás, tivemos um grande incentivo duma grande Mulher a Dra. Maria Manuela Aguiar que numa das visitas que fez ä Argentina, nos pediu: porque as Mulheres não se uniam e formavam uma Associação para fazer coisas diferentes? E foi assim que nasceu a Associação da Mulher Migrante na Rep. Argentina. Foi um grande desenvolvimento para as Mulheres, e uma libertação, para que pudessem sair para assistir ás reuniões e dessa maneira ganharem um espaço de afirmação pessoal.
Como disse, antes, as Associações que integram a Comunidade onde se inserem, nasceram para dar respostas aos sócios, fazendo Festas, jogos de mesa, festividades de Romarias e Ranchos folclóricos.
Mas esta MULHER MIGRANTE veio para dar resposta ás dificuldades Económicas que muitos compatriotas tiveram e têm. Mas agora contam com a Solidariedade desta Associação, que começou a trabalhar, e, imediatamente, se viu o resultado - os pedidos vinham de todos lados até de Pcias. a 500 km. de distância, chegavam para pedir ajuda, e lá estava a Mulher Migrante para dar solução ao pedido.
O nosso trabalho teve enfoque na parte Social e de Voluntariado, chegando as casas dos Carentes Portugueses, ou dos casados com nossa raça, para dar ajuda aos seus problemas, foram muitos e de diferente índole.
Também fizemos Teatro de Paródia, imitando Programas da Televisão, e contando anedotas sobre quando chegamos a Argentina, quando não sabíamos o idioma - coisas que aconteciam e que, depois,
até tinham piada.
Neste contexto, a Associação tem feito Seminários, diferentes mostras de Cultura, Exposições diversas., apresentações com meios audio- visuais, onde as pessoas que ajudamos davam testemunha do que sentiam. Foi emocionante vê-los!
Esta Associação foi e será influente nas áreas sócio – culturais, sendo uma Associação de Inovação Social.
Aqui podemos observar a evolução da Mulher no trabalho Associativo. Também damos o nosso trabalho ás autoridades do governo Português na Argentina, ajudando em tarefas que ligam com a comunidade inteira em diferentes cidades de Buenos. Aires - Em busca de informação sobre os casos de necessidade, levando os cheques de Portugal dos subsídios até à própria morada das pessoas.
Neste quadro, e para finalizar, minhas Senhoras e meus e Senhores, posso dizer que o trabalho que tem feito a Associação da Mulher Migrante na Argentina, tem sido brilhante, respeitado não só pela Comunidade Portuguesa , e Sociedade Argentina, também por muitos outros países da Comunidade Europeia e da América do Sul - muitas vezes recebemos pedidos de informação do Brasil, para saberem como implementámos a Associação, e como funcionámos.
Temos imensos convites de Associações de Bem Público, da Comunidade Europeia, como a Rússia, Espanha, Itália e muitas mais.
Temos participado em Seminários dedicados a pessoas que têm Capacidades Diferentes .
O trabalho Voluntário é e será um exemplo de vida para todas as Mulheres que participam para dar seu tempo, ás diversas necessidades de que hoje padece a nossa gente Idosa, digna de ser respeitada pela trajectória de vida que teve.
Só temos quatro Mulheres Presidentes de diferentes Associações.
Peço as Autoridades presentes que vejam de que maneira as Comendas e os prémios ao trabalho são atribuídos. Não só devem ser para o Género Masculino, o Feminino também merece e espera reconhecimento, da mesma maneira.
Muito obrigado a todos, pela atenção e agradeço á Dra. Maria Manuela Aguiar e á Dra. Rita Gomes duas Mulheres que admiro, elas conseguem de nós lá fora tudo o que desejarem, para continuar a trabalhar pelo nosso Portugal, que está a 10.000 km.
de distância, mas tão perto do nosso coração.
Agradeço ao Secretario das Comunidades Portuguesas, a sua Excia. o Dr. José Cesário, pela preocupação que manifesta pelas Comunidades espalhadas pelo mundo fora, também pelo convite que me fizeram, para representar a Associação da Mulher Migrante na Argentina, neste Seminário na Maia nos dias 24-25-26 de Novembro de 2011.
Obrigada.
Natália M. Renda Correia
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
TESTEMUNHO DE MARIA FERREIRA
Vim par França em Outubro de 1962.
Já namorava há três anos o meu futuro marido, queríamos casar, mas os nossos pais não tinham dinheiro. Pedi, então ao meu irmão mais velho, que já estava em França, para me chamar.
Vim com um contrato para trabalhar num colégio particular de meninas que lá ficavam, dia e noite.
Estava cá há três meses quando fui ao consulado de Paris fazer o necessário para casarmos por procuração.
Depois, em Junho, fui pedir a carta de chamada e não ma queriam dar porque era a primeira mulher que queria mandar vir o marido (era sempre o marido que mandava vir a mulher). Eu respondi-lhes que havia um princípio para tudo e que, se me tinham dado autorização de casar civilmente, era normal que mandasse vir o meu marido.
Deram-ma, finalmente,e eu fui a Portugal, com os dois meses que tinha de férias do colégio, para casar pela Igreja. E viemos, então, os dois para França.
Depois, fiz vir o irmão e as irmãs do meu marido, os meus irmãos e também as minhas amigas, em nome dos irmãos delas, que estavam cá, mas não conheciam ninguém. Eu, no colégio onde trabalhava, conhecia muitas famílias que queriam criadas. E foi assim que começou a minha missão de ajudar os Portugueses.
Chegavam também famílias completas e homens sozinhos e eu arranjava-lhes trabalho e casa para mandarem vir as famílias. Aqueles que estavam realmente sós iam para as barracas nas obras onde trabalhavam.
Também tratava dos papéis, porque a maioria deles vinham ilegais. Como as pessoas falavam entre elas, tanto em França como em Portugal, eram cada vez mais numerosas a virem pedir ajuda. Até nas instituições francesas, (Câmara, serviços sociais, etc.) os empregados, que já me conheciam, mandavam os Portugueses ter comigo para eu os ajudar em diversos aspectos.
Foi assim que, ao longo dos anos, acabei por ajudar muitos e muitos Portugueses, que vieram para França.
O meu marido nunca me proibiu, ao contrário, apoiava-me e admirava-me por tudo o que eu fazia, porque também gosta de ajudar o próximo.
Já namorava há três anos o meu futuro marido, queríamos casar, mas os nossos pais não tinham dinheiro. Pedi, então ao meu irmão mais velho, que já estava em França, para me chamar.
Vim com um contrato para trabalhar num colégio particular de meninas que lá ficavam, dia e noite.
Estava cá há três meses quando fui ao consulado de Paris fazer o necessário para casarmos por procuração.
Depois, em Junho, fui pedir a carta de chamada e não ma queriam dar porque era a primeira mulher que queria mandar vir o marido (era sempre o marido que mandava vir a mulher). Eu respondi-lhes que havia um princípio para tudo e que, se me tinham dado autorização de casar civilmente, era normal que mandasse vir o meu marido.
Deram-ma, finalmente,e eu fui a Portugal, com os dois meses que tinha de férias do colégio, para casar pela Igreja. E viemos, então, os dois para França.
Depois, fiz vir o irmão e as irmãs do meu marido, os meus irmãos e também as minhas amigas, em nome dos irmãos delas, que estavam cá, mas não conheciam ninguém. Eu, no colégio onde trabalhava, conhecia muitas famílias que queriam criadas. E foi assim que começou a minha missão de ajudar os Portugueses.
Chegavam também famílias completas e homens sozinhos e eu arranjava-lhes trabalho e casa para mandarem vir as famílias. Aqueles que estavam realmente sós iam para as barracas nas obras onde trabalhavam.
Também tratava dos papéis, porque a maioria deles vinham ilegais. Como as pessoas falavam entre elas, tanto em França como em Portugal, eram cada vez mais numerosas a virem pedir ajuda. Até nas instituições francesas, (Câmara, serviços sociais, etc.) os empregados, que já me conheciam, mandavam os Portugueses ter comigo para eu os ajudar em diversos aspectos.
Foi assim que, ao longo dos anos, acabei por ajudar muitos e muitos Portugueses, que vieram para França.
O meu marido nunca me proibiu, ao contrário, apoiava-me e admirava-me por tudo o que eu fazia, porque também gosta de ajudar o próximo.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
COMUNICAÇÃO DE ELIZABETH BATTISTA
Maria Archer – O encontro com uma escritora viajante
Elisabeth Battista
Com Maria Archer gasto horas de trabalho e de lazer ficando-me sempre a impressão de haver passado momentos em boa companhia. Conheci Maria Archer na travessia para a outra margem do Atlântico. Sim, depois que li Ela é Apenas Mulher (1944), no contato com Esmeralda, personagem principal do referido romance, foi encanto à primeira leitura. Naquela oportunidade, debrucei-me à janela e fitei, junto com ela, o majestoso Tejo, no seu desembarque em Cacilhas, frente à Lisboa.
Quando isto se deu? Parece que foi ontem, mas remonta a 2003, o tempo em que a Universidade de Coimbra sediou um evento internacional, no qual, em companhia de uma equipe de investigadores do Brasil, participei com apresentação de trabalhos. O grupo de estudiosos da Universidade de São Paulo – USP, dentre os quais a minha orientadora do Doutorado, a Professora. Doutora. Benilde Justo Lacorte Caniato (in memorian), e a Professora. Doutora. Tania Macêdo, tomou parte ativa no evento que congraçou investigadores de diversas áreas e vários países, visto se tratar de um Congresso Internacional Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais.
Entretanto, de passagem por Lisboa, a Professora Benilde Caniato adquiriu a obra Ela é Apenas Mulher, de Maria Archer, reeditada em 2001 pela Editora Parceria A. M. Pereira, e recomendou-me a sua leitura. Esta foi motivação suficiente para que despertasse em mim o desejo de conhecer o conjunto da produção criativa da autora e saber mais sobre a sua biografia.
E tendo o meu Projeto de Doutoramento a finalidade de contribuir para o estudo de autores da literatura de Língua Portuguesa a partir do século XX ainda pouco explorados nas relações literárias Brasil, Portugal e África, a obra de Maria Archer logo me pareceu ser um corpus em potencial.
Foi assim que ao ter elegido como objetivo dar visibilidade à diversidade cultural gerada por essas relações, me lancei na busca de documentos que fornecessem um testemunho da gênese da obra e da vida de Maria Archer, inclusive visitando alfarrabistas e adquirindo todos os títulos disponíveis. Nessas andanças conheci a escritora Maria Albertina Mitelo. À medida que sobre os materiais me debruçava, deparei-me com um fato curioso que corroborou ainda mais a minha reflexão: O fato de tendo ela nascido no limiar do século XX, e tendo contatado direta ou indiretamente com as correntes de pensamento que influenciaram, ou afetaram de forma intensa o ambiente político-cultural português até meados dos anos cinquenta do século passado, e ser, não obstante, pouco estudada pela historiografia literária da Literatura Portuguesa.
Buscando entre os lusitanos notícias sobre a autora e sua obra, contatei a amiga e poetisa Maria Albertina Mitelo , a qual se referiu a uma recente entrevista do Professor Fernando de Pádua à televisão portuguesa, em que ele, na ocasião teria nomeado a escritora Maria Archer como sua tia, e dava a conhecer a última reedição da obra Ela é Apenas Mulher.
De fato, o dado fornecido pela Maria Albertina Mitelo foi fundamental para que eu acessasse um outro estágio da investigação. Isto porque, ao tomar conhecimento dos objetivos que o mesmo perseguia, o Professor Fernando de Pádua, com a generosidade que lhe é peculiar, acolheu-me muito prontamente e concedeu uma entrevista, colocando-me em contato com pessoas simpatizantes à causa. Na oportunidade, citou existência da Dissertação de Mestrado da Professora Dina Botelho, trabalho que mais tarde fez chegar às minhas mãos. Gesto que por si só fala da confiança depositada, motivo pelo qual sou grata.
Trata-se de uma investigação que resultou num primoroso ensaio sobre a obra e a vida de Maria Archer que veio a servir-me de relevante base e fonte de consulta. Encontrei apoio também na pessoa da Dra. Olga Archer Moreira, sobrinha-neta de Maria Archer, que amavelmente me forneceu duas fotografias para ilustração daquela que em 2007 viria a ser a minha futura tese de doutoramento.
De regresso ao Brasil, o percurso investigativo mostrou-se pleno de gratas revelações. A maior delas foi constatar que, em seu longo exílio em terras brasileiras (1955 a 1982), a escritora havia lançado quatro obras e dezenas de crônicas jornalísticas. Note-se que talvez ela tenha sido a primeira autora a ter a noção exata da escassa circulação literária entre a África e o Brasil, o fato logo posto em evidência no seu ensaio jornalístico sobre o tema, “A Censura à Imprensa e ao Livro” (1956), publicado no periódico Portugal Democrático. Aí, reivindica o direito à circulação literária entre os países de Língua Portuguesa.
Sete anos mais tarde, Maria Archer, no prefácio de sua obra África Sem Luz (1962:5-6) é distinguida pelo reconhecimento dos editores em relação ao fato acima. A propósito colhi da Nota explicativa do ensaísta e crítico literário Paulo Dantas , na referida obra, publicada no Brasil, na coleção Círculo do Livro, o seguinte comentário:
(…) Sente-se que a escritora ama o seu mundo africano, compreende a sua gente, capta as suas ingenuidades, desenhando com segurança a paisagem geográfica e social do Continente Negro, no qual tem vivido e participado, através de viagens, pesquisas, passeios etc. (…) Longe de ser uma “mera turista africana”, Maria Archer, já com uma dezena de livros escritos e publicados sobre a África, é uma das vozes esclarecidas do continente. (…) Viveu e habitou na África. Cresceu no seu chão. Formou-se no seu clima. Física e psiquicamente integrada numa grande e total intimidade ecológica, a escritora tornou-se autoridade no assunto, daí o domínio com que aborda a África em todas as suas coordenadas geográficas e latitudes morais, oferecendo-nos valores de comando e interpretação.(...)
A coletânea de narrativas que integram África Sem Luz apelam à imaginação e evocam a tradição oral – elemento fundamental da cultura desses povos africanos, com quem a autora travou contato. O jogo narrativo sobrepõe-se a dimensão documental. Em suas páginas identificam-se elementos que apontam para o universo plural e diverso que caracteriza as linguagens que a autora buscou exprimir, na sua relação literária e cultural com o continente africano e com o seu tempo.
Acresce ter sido uma excelente jornalista, razoável romancista e ensaísta de certo interesse. Foi sobretudo cronista, autora de vários romances e várias dezenas de contos, como “A Sedução do Mistério” (1944) e “A Japoneza” (1956). A sua escrita tem fascinante clareza. Há uma capacidade de fundir o olhar observador e atento à astúcia de exímia prosadora, elegância no verbo e expressão impactante. Seus textos suportam uma leitura antropológica, e aí parece ter sido precursora.
A melhor fase de sua produção criativa começou na idade madura, ao atingir os 40 anos, mas desde o começo já eram pessoais o seu estilo e visão de mundo. O trato da escrita, no processo literário, em grande parte foi dedicado ao forte sentimento de identidade e divulgação da cultura dos países africanos que se comunicam em Língua Portuguesa.
A cultura portuguesa deve-lhe não apenas as contribuições da escrita perspicaz, mas sobretudo a abordagem lúcida e corajosa de questões que abrangiam a vida social e suas contradições que ela teve a ousadia de levantar sendo este um dos seus traços mais marcantes. A linguagem de Maria Archer não tem banalidades, expõe os conflitos morais e sociais do seu tempo por meio da representação artística. O romance Ela é Apenas Mulher (1944), por si só, constitui-se emblema significativo e, não menos importante, ao tempo de sua permanência no Brasil o seu contributo, ao produzir inúmeros artigos nos jornais O Estado de São Paulo, Semana Portuguesa e Portugal Democrático que deram força à resistência ao regime vigente em Portugal.
Todo o trabalho de investigação culminou na tese de doutoramento intitulada Entre a Literatura e a Imprensa: Percursos de Maria Archer no Brasil defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP/Campus da capital, em 2007, e que teve como objetivos ressaltar as experiências e a contribuição literária desta escritora para a imprensa de Língua Portuguesa para a recuperação e a organização da produção criativa da autora, e sobre a sua obra laborada no período de exílio no Brasil (1955 a 1963).
As preocupações, naquele momento, recaíram principalmente na caracterização e avaliação de sua prática, no contexto dos anos 50-60, período rico e fértil em transformações, tanto no Brasil quanto em Portugal e de intensas lutas pela independência na África lusófana.
Este depoimento, que muito me apraz produzir é também um dos produtos do Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas da Diáspora , dedicado em homenagem à memória das Marias: Archer e Lamas. O evento e a publicação que integrará este e outros textos traduzem-se na atualização da memória e vem, até certo ponto, colmatar uma falha que pesa sobre o nome da autora, e não merece ser deixada ao abandono dos investigadores, tanto mais que é amplamente reconhecida pelo público-leitor.
A literatura de Maria Archer singrou as águas do Índico, do Atlântico e aportou no Brasil. Pode-se dizer que, assim como a força unificadora da língua de expressão portuguesa, a sua produção criativa provou ter vocação marítima, pois transpôs os hostis entraves das fronteiras geográficas, e passou a ser abertura para o estreitamento dos laços identitários entre os países lusófonos.
Elisabeth Battista
Com Maria Archer gasto horas de trabalho e de lazer ficando-me sempre a impressão de haver passado momentos em boa companhia. Conheci Maria Archer na travessia para a outra margem do Atlântico. Sim, depois que li Ela é Apenas Mulher (1944), no contato com Esmeralda, personagem principal do referido romance, foi encanto à primeira leitura. Naquela oportunidade, debrucei-me à janela e fitei, junto com ela, o majestoso Tejo, no seu desembarque em Cacilhas, frente à Lisboa.
Quando isto se deu? Parece que foi ontem, mas remonta a 2003, o tempo em que a Universidade de Coimbra sediou um evento internacional, no qual, em companhia de uma equipe de investigadores do Brasil, participei com apresentação de trabalhos. O grupo de estudiosos da Universidade de São Paulo – USP, dentre os quais a minha orientadora do Doutorado, a Professora. Doutora. Benilde Justo Lacorte Caniato (in memorian), e a Professora. Doutora. Tania Macêdo, tomou parte ativa no evento que congraçou investigadores de diversas áreas e vários países, visto se tratar de um Congresso Internacional Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais.
Entretanto, de passagem por Lisboa, a Professora Benilde Caniato adquiriu a obra Ela é Apenas Mulher, de Maria Archer, reeditada em 2001 pela Editora Parceria A. M. Pereira, e recomendou-me a sua leitura. Esta foi motivação suficiente para que despertasse em mim o desejo de conhecer o conjunto da produção criativa da autora e saber mais sobre a sua biografia.
E tendo o meu Projeto de Doutoramento a finalidade de contribuir para o estudo de autores da literatura de Língua Portuguesa a partir do século XX ainda pouco explorados nas relações literárias Brasil, Portugal e África, a obra de Maria Archer logo me pareceu ser um corpus em potencial.
Foi assim que ao ter elegido como objetivo dar visibilidade à diversidade cultural gerada por essas relações, me lancei na busca de documentos que fornecessem um testemunho da gênese da obra e da vida de Maria Archer, inclusive visitando alfarrabistas e adquirindo todos os títulos disponíveis. Nessas andanças conheci a escritora Maria Albertina Mitelo. À medida que sobre os materiais me debruçava, deparei-me com um fato curioso que corroborou ainda mais a minha reflexão: O fato de tendo ela nascido no limiar do século XX, e tendo contatado direta ou indiretamente com as correntes de pensamento que influenciaram, ou afetaram de forma intensa o ambiente político-cultural português até meados dos anos cinquenta do século passado, e ser, não obstante, pouco estudada pela historiografia literária da Literatura Portuguesa.
Buscando entre os lusitanos notícias sobre a autora e sua obra, contatei a amiga e poetisa Maria Albertina Mitelo , a qual se referiu a uma recente entrevista do Professor Fernando de Pádua à televisão portuguesa, em que ele, na ocasião teria nomeado a escritora Maria Archer como sua tia, e dava a conhecer a última reedição da obra Ela é Apenas Mulher.
De fato, o dado fornecido pela Maria Albertina Mitelo foi fundamental para que eu acessasse um outro estágio da investigação. Isto porque, ao tomar conhecimento dos objetivos que o mesmo perseguia, o Professor Fernando de Pádua, com a generosidade que lhe é peculiar, acolheu-me muito prontamente e concedeu uma entrevista, colocando-me em contato com pessoas simpatizantes à causa. Na oportunidade, citou existência da Dissertação de Mestrado da Professora Dina Botelho, trabalho que mais tarde fez chegar às minhas mãos. Gesto que por si só fala da confiança depositada, motivo pelo qual sou grata.
Trata-se de uma investigação que resultou num primoroso ensaio sobre a obra e a vida de Maria Archer que veio a servir-me de relevante base e fonte de consulta. Encontrei apoio também na pessoa da Dra. Olga Archer Moreira, sobrinha-neta de Maria Archer, que amavelmente me forneceu duas fotografias para ilustração daquela que em 2007 viria a ser a minha futura tese de doutoramento.
De regresso ao Brasil, o percurso investigativo mostrou-se pleno de gratas revelações. A maior delas foi constatar que, em seu longo exílio em terras brasileiras (1955 a 1982), a escritora havia lançado quatro obras e dezenas de crônicas jornalísticas. Note-se que talvez ela tenha sido a primeira autora a ter a noção exata da escassa circulação literária entre a África e o Brasil, o fato logo posto em evidência no seu ensaio jornalístico sobre o tema, “A Censura à Imprensa e ao Livro” (1956), publicado no periódico Portugal Democrático. Aí, reivindica o direito à circulação literária entre os países de Língua Portuguesa.
Sete anos mais tarde, Maria Archer, no prefácio de sua obra África Sem Luz (1962:5-6) é distinguida pelo reconhecimento dos editores em relação ao fato acima. A propósito colhi da Nota explicativa do ensaísta e crítico literário Paulo Dantas , na referida obra, publicada no Brasil, na coleção Círculo do Livro, o seguinte comentário:
(…) Sente-se que a escritora ama o seu mundo africano, compreende a sua gente, capta as suas ingenuidades, desenhando com segurança a paisagem geográfica e social do Continente Negro, no qual tem vivido e participado, através de viagens, pesquisas, passeios etc. (…) Longe de ser uma “mera turista africana”, Maria Archer, já com uma dezena de livros escritos e publicados sobre a África, é uma das vozes esclarecidas do continente. (…) Viveu e habitou na África. Cresceu no seu chão. Formou-se no seu clima. Física e psiquicamente integrada numa grande e total intimidade ecológica, a escritora tornou-se autoridade no assunto, daí o domínio com que aborda a África em todas as suas coordenadas geográficas e latitudes morais, oferecendo-nos valores de comando e interpretação.(...)
A coletânea de narrativas que integram África Sem Luz apelam à imaginação e evocam a tradição oral – elemento fundamental da cultura desses povos africanos, com quem a autora travou contato. O jogo narrativo sobrepõe-se a dimensão documental. Em suas páginas identificam-se elementos que apontam para o universo plural e diverso que caracteriza as linguagens que a autora buscou exprimir, na sua relação literária e cultural com o continente africano e com o seu tempo.
Acresce ter sido uma excelente jornalista, razoável romancista e ensaísta de certo interesse. Foi sobretudo cronista, autora de vários romances e várias dezenas de contos, como “A Sedução do Mistério” (1944) e “A Japoneza” (1956). A sua escrita tem fascinante clareza. Há uma capacidade de fundir o olhar observador e atento à astúcia de exímia prosadora, elegância no verbo e expressão impactante. Seus textos suportam uma leitura antropológica, e aí parece ter sido precursora.
A melhor fase de sua produção criativa começou na idade madura, ao atingir os 40 anos, mas desde o começo já eram pessoais o seu estilo e visão de mundo. O trato da escrita, no processo literário, em grande parte foi dedicado ao forte sentimento de identidade e divulgação da cultura dos países africanos que se comunicam em Língua Portuguesa.
A cultura portuguesa deve-lhe não apenas as contribuições da escrita perspicaz, mas sobretudo a abordagem lúcida e corajosa de questões que abrangiam a vida social e suas contradições que ela teve a ousadia de levantar sendo este um dos seus traços mais marcantes. A linguagem de Maria Archer não tem banalidades, expõe os conflitos morais e sociais do seu tempo por meio da representação artística. O romance Ela é Apenas Mulher (1944), por si só, constitui-se emblema significativo e, não menos importante, ao tempo de sua permanência no Brasil o seu contributo, ao produzir inúmeros artigos nos jornais O Estado de São Paulo, Semana Portuguesa e Portugal Democrático que deram força à resistência ao regime vigente em Portugal.
Todo o trabalho de investigação culminou na tese de doutoramento intitulada Entre a Literatura e a Imprensa: Percursos de Maria Archer no Brasil defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP/Campus da capital, em 2007, e que teve como objetivos ressaltar as experiências e a contribuição literária desta escritora para a imprensa de Língua Portuguesa para a recuperação e a organização da produção criativa da autora, e sobre a sua obra laborada no período de exílio no Brasil (1955 a 1963).
As preocupações, naquele momento, recaíram principalmente na caracterização e avaliação de sua prática, no contexto dos anos 50-60, período rico e fértil em transformações, tanto no Brasil quanto em Portugal e de intensas lutas pela independência na África lusófana.
Este depoimento, que muito me apraz produzir é também um dos produtos do Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas da Diáspora , dedicado em homenagem à memória das Marias: Archer e Lamas. O evento e a publicação que integrará este e outros textos traduzem-se na atualização da memória e vem, até certo ponto, colmatar uma falha que pesa sobre o nome da autora, e não merece ser deixada ao abandono dos investigadores, tanto mais que é amplamente reconhecida pelo público-leitor.
A literatura de Maria Archer singrou as águas do Índico, do Atlântico e aportou no Brasil. Pode-se dizer que, assim como a força unificadora da língua de expressão portuguesa, a sua produção criativa provou ter vocação marítima, pois transpôs os hostis entraves das fronteiras geográficas, e passou a ser abertura para o estreitamento dos laços identitários entre os países lusófonos.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Graça Guedes - Painel " O tempo e os modos de viver a cidadania"
É para mim uma honra e uma grata satisfação
Moderar o último painel deste
ENCONTRO MUNDIAL DE MULHERES PORTUGUESAS NA
DIÁSPORA
e intitulado
O TEMPO E OS MODOS DE VIVER A CIDADANIA
agradecendo desde já a intervenção de todos os
intervenientes:
À Senhora Deputada Maria João Ávila
Aos senhores Deputados Carlos Gonçalves e Carlos Páscoa.
O Dr. António Regedor da Universidade Fernando Pessoa
À Dra. Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da
Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher
Migrante.
À Senhora Cônsul Geral Maria Amélia Paiva, relatora deste
painel, que tem a difícil tarefa de nos apresentar uma
síntese dos contributos de todos nos diferentes painéis que
integram este congresso.
É um Encontro, com uma dimensão mundial, que permite
reflectir aprofundadamente e com o maior rigor científico,
todas as problemáticas que envolvem questões tão amplas
e diversificadas, implícitas à mulher portuguesa na nossa
diáspora.
É um Encontro, que afinal é um reencontro de amigas, a
quem muito especialmente saúdo e já desde o pioneiro,
que aconteceu em Viana do Castelo, em Junho de 1985 –
o 1º ENCONTRO MUNDIAL DE PORTUGUESAS MIGRANTES
NO ASSOCIATIVISMO E NO JORNALISMO – organizado pela
Secretaria de Estado da Emigração e com o patrocínio da
UNESCO
E, 10 anos depois, em Março de 1995, em Espinho,
O ENCONTRO MUNDIAL DE MULHERES MIGRANTES –
GERAÇÕES EM DIÁLOGO – organizado pela Associação
Mulher Migrante.
Esta associação, da qual quase todas fazemos parte,
em 2005 retoma a realização destes encontros e, por acção
directa das suas representantes nos diversos continentes,
organizando os ENCONTROS PARA A CIDADANIA em
Buenos Aires, Newark, Montreal, Toronto, Estocolmo e
Joanesburgo.
Para além destes Encontros, muitos outros eventos
científicos tem realizado no país, razão pela qual merece o
nosso reconhecimento e o nosso aplauso.
Mas é o momento de iniciarmos os trabalhos, dando de
imediato a palavra aos intervenientes, agradecendo o
cumprimento rigoroso do tempo que dispõem, de forma a
podermos estabelecer depois diálogo com todos.
Maia, 26 de Novembro de 2011
Graça Guedes
Moderar o último painel deste
ENCONTRO MUNDIAL DE MULHERES PORTUGUESAS NA
DIÁSPORA
e intitulado
O TEMPO E OS MODOS DE VIVER A CIDADANIA
agradecendo desde já a intervenção de todos os
intervenientes:
À Senhora Deputada Maria João Ávila
Aos senhores Deputados Carlos Gonçalves e Carlos Páscoa.
O Dr. António Regedor da Universidade Fernando Pessoa
À Dra. Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da
Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher
Migrante.
À Senhora Cônsul Geral Maria Amélia Paiva, relatora deste
painel, que tem a difícil tarefa de nos apresentar uma
síntese dos contributos de todos nos diferentes painéis que
integram este congresso.
É um Encontro, com uma dimensão mundial, que permite
reflectir aprofundadamente e com o maior rigor científico,
todas as problemáticas que envolvem questões tão amplas
e diversificadas, implícitas à mulher portuguesa na nossa
diáspora.
É um Encontro, que afinal é um reencontro de amigas, a
quem muito especialmente saúdo e já desde o pioneiro,
que aconteceu em Viana do Castelo, em Junho de 1985 –
o 1º ENCONTRO MUNDIAL DE PORTUGUESAS MIGRANTES
NO ASSOCIATIVISMO E NO JORNALISMO – organizado pela
Secretaria de Estado da Emigração e com o patrocínio da
UNESCO
E, 10 anos depois, em Março de 1995, em Espinho,
O ENCONTRO MUNDIAL DE MULHERES MIGRANTES –
GERAÇÕES EM DIÁLOGO – organizado pela Associação
Mulher Migrante.
Esta associação, da qual quase todas fazemos parte,
em 2005 retoma a realização destes encontros e, por acção
directa das suas representantes nos diversos continentes,
organizando os ENCONTROS PARA A CIDADANIA em
Buenos Aires, Newark, Montreal, Toronto, Estocolmo e
Joanesburgo.
Para além destes Encontros, muitos outros eventos
científicos tem realizado no país, razão pela qual merece o
nosso reconhecimento e o nosso aplauso.
Mas é o momento de iniciarmos os trabalhos, dando de
imediato a palavra aos intervenientes, agradecendo o
cumprimento rigoroso do tempo que dispõem, de forma a
podermos estabelecer depois diálogo com todos.
Maia, 26 de Novembro de 2011
Graça Guedes
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Comunicação de TERESA HEIMANS
Começo por felicitar os membros da mesa,as autoridades
oficiais aqui presentes,bem como todos os/as participantes deste
encontro.
Em relação ao Associativismo não vou repetir o passado
que todos nós conhecemos,mas vou dar uma visão do presente e do
futuro das Associações ,sobretudo na Europa e mais propriamente na
Holanda.
O movimento associativo que durante anos foi o baluarte
social nas comunidades de portugueses no estrangeiro,divulgando
a lingua /a cultura,e fortelecendo os laços de amizade,colaboração
entre as pessoas ,desempenhou igualmente um papel social de
relevancia,encontra-se neste momento em estado muito grave de
subrevivencia.
Os motivos são dois exencialmente;
-Falta de meios financeiros
-Falta de pessoas para os orgãos directivos.
O papel da mulher começou então com uma ascenção
vertiginosa.As mulheres deixaram de ser meros meios de
decoração,para passarem a ser optimas para angariar fundos tão
necessários.Começam a praticar todo e qualquer tipo de desporto e até
as mais idosas se inscrevem em cursos de manutenção.As mulheres
passam a estar presentes em todas as acções desportivas/culturais ou
de recreio.
Porque razão na grande maioria das associações as
mulheresa não estavam presentes nos orgãos gerentes ou nas AG?
Felizmente começaram a aparecer casos de grande sucesso
de gestão femenina.Isto deveu-se ao facto de diante da decisão dos
directores homens, de fechar as colectividades serem as mulheres que
dicidem ser elas a manter as mesmas,abertas,
Ë necessário abrir ás mulheres os corpos gerentes
de todas as organizaçòes.Os homens ao faze-lo não perdem
privilégios,passam sim a ter o privilégio de compreender que a
presença,participação,creatividade das mulheres na gestão das
organizações,faz parte da sua libertação e promoção social,e que os
homens,estão consagrando a sua própria libertação ao fazer e facilitar
com que nas colectividades reine a complementaridade entre homen/
mulher,auxiliando-se mutuamente,construindo assim um mundo tão
desejado por ambos.
Vivendo num mundo de mudança,as mulheres mudaram
tambem.Torna-se necessário que o movimento associativo tome
consciencia que para essa mudança se fazer no tempo,homens e
mulheres terão que estar em pé de igualdade como dirigentes,com
todas as suas qualidades,o seu tacto femenino,a sua irresistivel
criatividade.
Este é o futuro.
Teresa Heimans
oficiais aqui presentes,bem como todos os/as participantes deste
encontro.
Em relação ao Associativismo não vou repetir o passado
que todos nós conhecemos,mas vou dar uma visão do presente e do
futuro das Associações ,sobretudo na Europa e mais propriamente na
Holanda.
O movimento associativo que durante anos foi o baluarte
social nas comunidades de portugueses no estrangeiro,divulgando
a lingua /a cultura,e fortelecendo os laços de amizade,colaboração
entre as pessoas ,desempenhou igualmente um papel social de
relevancia,encontra-se neste momento em estado muito grave de
subrevivencia.
Os motivos são dois exencialmente;
-Falta de meios financeiros
-Falta de pessoas para os orgãos directivos.
O papel da mulher começou então com uma ascenção
vertiginosa.As mulheres deixaram de ser meros meios de
decoração,para passarem a ser optimas para angariar fundos tão
necessários.Começam a praticar todo e qualquer tipo de desporto e até
as mais idosas se inscrevem em cursos de manutenção.As mulheres
passam a estar presentes em todas as acções desportivas/culturais ou
de recreio.
Porque razão na grande maioria das associações as
mulheresa não estavam presentes nos orgãos gerentes ou nas AG?
Felizmente começaram a aparecer casos de grande sucesso
de gestão femenina.Isto deveu-se ao facto de diante da decisão dos
directores homens, de fechar as colectividades serem as mulheres que
dicidem ser elas a manter as mesmas,abertas,
Ë necessário abrir ás mulheres os corpos gerentes
de todas as organizaçòes.Os homens ao faze-lo não perdem
privilégios,passam sim a ter o privilégio de compreender que a
presença,participação,creatividade das mulheres na gestão das
organizações,faz parte da sua libertação e promoção social,e que os
homens,estão consagrando a sua própria libertação ao fazer e facilitar
com que nas colectividades reine a complementaridade entre homen/
mulher,auxiliando-se mutuamente,construindo assim um mundo tão
desejado por ambos.
Vivendo num mundo de mudança,as mulheres mudaram
tambem.Torna-se necessário que o movimento associativo tome
consciencia que para essa mudança se fazer no tempo,homens e
mulheres terão que estar em pé de igualdade como dirigentes,com
todas as suas qualidades,o seu tacto femenino,a sua irresistivel
criatividade.
Este é o futuro.
Teresa Heimans
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Mensagem do Presidente da Câmara da Maia ANTÓNIO GONÇALVES BRAGANÇA FERNANDES
Foi com subida honra que a Maia acolheu e apoiou o 3º Encontro Mundial de Mulheres
Portuguesas na Diáspora que decorreu de 24 a 26 de Novembro de 2011 no Fórum da Maia,
numa iniciativa conjunta da Secretaria de Estado das Comunidades e da Associação Mulher Migrante e Participante da Diáspora, a qual contou com ilustres personalidades femininas, mas também masculinas. Tendo integrado esta iniciativa uma Exposição Coletiva de Pintura e Escultura subordinada ao tema “Feminino Plural” e “Rostos da República” que ficou patente na Biblioteca Municipal Dr. Vieira de Carvalho até ao final do ano de 2011, prestou-se assim homenagem de forma simbólica a todas as mulheres portuguesas na diáspora, através da evocação de duas grandes personalidades que muito fizeram, pela Diáspora Feminina.
Maria Lamas mulher de personalidade dinâmica e afirmativa, que desenvolveu vários projetos, organizando conferências, concertos e exposições, refletindo na sua obra escrita, a sua experiência de vida quer durante o período em que permaneceu em África depois de casar, quer como membro do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, associação fundada durante a I República, quer ainda como membro do Conselho Mundial da Paz, que a levou ao exílio, durante oito anos, na cidade de Paris, tendo sido uma das primeiras pessoas a receber a Ordem da Liberdade das mãos do Presidente da República, a qual viria a falecer em Portugal ao 90 anos de idade e Maria Archer, ficcionista, ensaísta, tradutora, jornalista, poeta e dramaturga, que nasceu em 1905, em Lisboa, e faleceu na mesma cidade aos 77 anos, tendo também a sua obra espelhado a sua experiência de mulher migrante por terras de Moçambique, Guiné e Angola até se voltar a fixar na metrópole.
Traduzindo-se o fenómeno da migração feminina num tema que desperta tão grande interesse de estudiosos e investigadores do mundo inteiro, acredito na utilidade destes fóruns de partilha de saberes e de experiências e na importância de uma atuação informativa e sensibilizadora nestas áreas. Considero que mais do que um encontro de mulheres, este Encontro Mundial das Mulheres Portuguesas na Diáspora que se realizou na Maia, foi um encontro sobre as mulheres no contexto da migração e da sua importância ao longo dos tempos e no momento atual, em que a presença feminina assume especial relevância em todos os quadrantes e segmentos da vida política, social,cultural, desportiva e também ao nível da investigação, entre outros.
O Concelho da Maia sempre fez questão de acompanhar a abordagem dos grandes temas da
atualidade, tendo sido com grande satisfação que viu realizar-se este Encontro Mundial em Terras da Maia, que por sua vez também tem tradições migratórias, pelo que em momentos como este aproveito sempre para recordar que foi com a ajuda dos emigrantes que, quando regressavam definitivamente a Portugal, ajudaram a construir este lindo concelho que é a Maia de hoje.
António Gonçalves Bragança Fernandes, Engº.
Presidente da Câmara Municipal da Maia
Portuguesas na Diáspora que decorreu de 24 a 26 de Novembro de 2011 no Fórum da Maia,
numa iniciativa conjunta da Secretaria de Estado das Comunidades e da Associação Mulher Migrante e Participante da Diáspora, a qual contou com ilustres personalidades femininas, mas também masculinas. Tendo integrado esta iniciativa uma Exposição Coletiva de Pintura e Escultura subordinada ao tema “Feminino Plural” e “Rostos da República” que ficou patente na Biblioteca Municipal Dr. Vieira de Carvalho até ao final do ano de 2011, prestou-se assim homenagem de forma simbólica a todas as mulheres portuguesas na diáspora, através da evocação de duas grandes personalidades que muito fizeram, pela Diáspora Feminina.
Maria Lamas mulher de personalidade dinâmica e afirmativa, que desenvolveu vários projetos, organizando conferências, concertos e exposições, refletindo na sua obra escrita, a sua experiência de vida quer durante o período em que permaneceu em África depois de casar, quer como membro do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, associação fundada durante a I República, quer ainda como membro do Conselho Mundial da Paz, que a levou ao exílio, durante oito anos, na cidade de Paris, tendo sido uma das primeiras pessoas a receber a Ordem da Liberdade das mãos do Presidente da República, a qual viria a falecer em Portugal ao 90 anos de idade e Maria Archer, ficcionista, ensaísta, tradutora, jornalista, poeta e dramaturga, que nasceu em 1905, em Lisboa, e faleceu na mesma cidade aos 77 anos, tendo também a sua obra espelhado a sua experiência de mulher migrante por terras de Moçambique, Guiné e Angola até se voltar a fixar na metrópole.
Traduzindo-se o fenómeno da migração feminina num tema que desperta tão grande interesse de estudiosos e investigadores do mundo inteiro, acredito na utilidade destes fóruns de partilha de saberes e de experiências e na importância de uma atuação informativa e sensibilizadora nestas áreas. Considero que mais do que um encontro de mulheres, este Encontro Mundial das Mulheres Portuguesas na Diáspora que se realizou na Maia, foi um encontro sobre as mulheres no contexto da migração e da sua importância ao longo dos tempos e no momento atual, em que a presença feminina assume especial relevância em todos os quadrantes e segmentos da vida política, social,cultural, desportiva e também ao nível da investigação, entre outros.
O Concelho da Maia sempre fez questão de acompanhar a abordagem dos grandes temas da
atualidade, tendo sido com grande satisfação que viu realizar-se este Encontro Mundial em Terras da Maia, que por sua vez também tem tradições migratórias, pelo que em momentos como este aproveito sempre para recordar que foi com a ajuda dos emigrantes que, quando regressavam definitivamente a Portugal, ajudaram a construir este lindo concelho que é a Maia de hoje.
António Gonçalves Bragança Fernandes, Engº.
Presidente da Câmara Municipal da Maia
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
DINA BOTELHO
Homenagem a Maria Archer – Maia 24 nov. 2011
Homenagem a Maria Archer – Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas na Diáspora
Maia, 24 de Novembro de 2011
Boa noite a todos e em especial aos elementos da mesa a quem cumprimento
respeitosamente. Gostaria de começar por agradecer o convite que me foi dirigido pela
Associação Mulher Migrante, através da Dra Rita Gomes, para estar aqui presente esta noite e
poder participar numa homenagem, merecida, a Maria Archer.
Fui apresentada como sendo a autora da primeira tese de mestrado sobre a vida e a
obra de Maria Archer. De facto, assim é e apresentei-a em 1994. Intitula-se “Ela é apenas
mulher- Maria Archer, Obra e autora” e já na altura disse, apresentando comprovativos, que
Maria Archer nasceu em 4 de Janeiro de 1899 e não 1905 como aparece muitas vezes em
estudos e até enciclopédias que a estudam ou a ela se referem apenas. É com imensa tristeza
que vejo que ainda hoje se desconhece a verdade acerca do ano do seu nascimento. Tenho a
certeza que Maria Archer ficaria profundamente contente por saber deste facto até porque
era ela própria que o fazia em documentos públicos que preenchia, tal como consta da sua
ficha do arquivo biográfico do Diário de Notícias que apresento também na minha tese.
Sim, de facto Maria Archer retirava seis anos à sua existência, por um lado por uma
questão de vaidade e, por outro lado, porque talvez não gostasse de ter nascido no século
anterior. No entanto, chamo desde já a atenção para a necessidade de nós, que a estudamos
e por uma questão de veracidade dos factos, devermos apresentar a data correta. Até à minha
tese ninguém tinha estudado Maria Archer e ela teve como objetivo iniciar o estudo da autora
e da sua obra mas esse estudo não foi, como devem calcular, esgotado dada a riqueza e a
variedade temática da obra de Maria Archer. É necessário continuar a estudá-la sobretudo
na vertente da literatura colonial onde considero haver uma grande riqueza por explorar.
Há também que continuar a publicar os seus livros pois representam marcos históricos.
Homenagem seja feita também à editora Parceria António Maria Pereira que já apostou na
republicação de dois dos seus livros (Ela é Apenas Mulher e Nada lhe será perdoado)
Disse atrás que esta era uma homenagem merecida pois considero que Maria Archer
contribuiu imenso para a luta por uma condição mais digna para a mulher e também para
a sua igualdade relativamente ao homem, não dizendo ou gritando como referiu a Dra Mª
Benedicta sobre Maria Lamas mas mostrando a situação em que viviam as mulheres. Aliás, o
tema principal dos seus romances e novelas era a vida da mulher, a sua relação com a família,
com o trabalho e com os homens. O título de um dos seus romances mais emblemáticos é Ela
é apenas mulher apontando mesmo para a posição decadente da mulher na época em que a
escritora viveu e criou. A preocupação fundamental da sua obra era a situação da mulher e as
dificuldades por ela sentidas. África era uma paixão na sua obra.
Maria Archer foi uma das poucas mulheres do seu tempo a ter como profissão a de
jornalista e escritora. Ela publicou de 1920 a 1963, tendo havido dois anos em que publicou 4
livros por ano (1938 e 1950) e alguns dos seus livros chegaram mesmo à 3ª edição como por
exemplo Há de Haver uma Lei e Aristocratas. Ela é Apenas Mulher é de 1944 e no mesmo ano
saiu a 2ª edição tendo chegado à 3ª edição em 1952. Escreveu, pois, 31 livros de 1935 a 1963,
5 deles no Brasil (Terras Onde se Fala Português, África sem Luz, Brasil, Fronteira de África, Os
Dina Botelho
Página 1 de 4
Homenagem a Maria Archer – Maia 24 nov. 2011
últimos Dias do Fascismo Português e do último nada se sabe), cinco peças de teatro e três
traduções. Mas não se julgue que era fácil ser uma mulher escritora na época. Este é outro
reconhecido mérito de Maria Archer. Muitas mulheres da época, tais como Maria Lamas e
Irene Lisboa, esconderam-se atrás de pseudónimos, quer femininos quer masculinos, para
poderem escrever à vontade sem penalizarem a sua vida pessoal ou até mesmo para obterem
maior imparcialidade por parte da crítica. Se agora temos muitas mulheres escritoras, no início
do séc. XX, quando uma mulher queria escrever sobre outro tema que não a vida doméstica ou
a educação dos filhos refugiava-se atrás de um pseudónimo.
Maria Archer nunca se escondeu, nunca usou pseudónimos, talvez esse mesmo facto
tenha levado ao afastamento da família que, por vezes, não viu com bons olhos certas
publicações suas. Também o seu divórcio (esteve casada apenas 10 anos durante os quais
publicou apenas em periódicos) poderá ter tido alguma base na sua profissão apesar da causa
pública do mesmo ter mais a ver com questões familiares (sevícias e injúrias graves) e menos
profissionais. Maria Archer viveu numa época em que era suposto a mulher ser apenas boa
filha, boa esposa e boa mãe. As únicas atividades permitidas à mulher eram a lida doméstica
e a educação dos filhos. Maria Archer dizia que escrever era fugir ao longo silêncio a que a
mulher da época estava votada. Até o acesso à cultura é negado à mulher na época, como
Maria Archer retrata bem na personagem de Adriana (de Casa sem Pão) que tinha de se
esconder para ler livros.
Houve mesmo casos em que a crítica a um livro escrito com pseudónimo masculino era
otimista e depois de se saber que havia sido escrito por uma mulher, o mesmo crítico dizia
o contrário do que havia dito antes. João Gaspar Simões foi, dos críticos literários da época,
o que melhor entendeu a luta da mulher escritora. Disse ele que «Em Portugal uma mulher
que queira falar de si mesma com franqueza equivalente à de um homem quase pudico corre
risco de enxovalho» Maria Archer mostrou as vozes profundas do seu ser sem nunca recorrer
a pseudónimos o que fez dela única na sua época e no seu meio. Maria Archer partia do real
e era esse real que interessava aos seus leitores. Ela própria reconheceu que a literatura
feminina da sua época não era criativa «pois a mulher encontrava-se subjugada pela estrutura
social e familiar repressiva.»
Um dos grandes elogios que lhe fazem na época foi feito pelo próprio João Gaspar
Simões que dela fala como se de um homem se tratasse: «Abram os olhos, Exmos Srs – têm
diante de vós um escritor (teimo em chamar-lhe escritor porque os seus contos, embora
tenham sexo na observação que denunciam e nos temas que tratam, não o têm – são,
portanto do sexo nobre – pelo menos num país em que o homem ainda é considerado o 1º
sexo- não o têm no estilo, na expressão, na visão , na forma)em nada inferior, como contista, a
qualquer dessas incontestadas glórias». E mais à frente diz «esta autora não pode deixar de ser
considerada desde já um grande contista, um grande escritor».
Mas sendo este um encontro sobre as mulheres da diáspora não podemos deixar de
referir a sua ida para o Brasil em 5 de Julho de 1955 no navio Sta Maria, com destino a Santos.
Tendo publicado dois livros no ano anterior e reeditado um terceiro poderemos questionar-
nos acerca dos motivos que a terão levado a partir. Por um lado não estaria contente com a
falta de liberdade dos escritores, por outro tinha de evitar ser presa. Maria Archer em 1945
Dina Botelho
Página 2 de 4
Homenagem a Maria Archer – Maia 24 nov. 2011
havia já participado no MUD – Movimento de Unidade democrática que era uma frente de
oposição ao salazarismo, em 1949 apoiou publicamente a candidatura do general Norton de
Matos à Presidência da República, acompanhou , em 1952, o julgamento do capitão Henrique
Galvão - contestador da ditadura salazarista prometendo sobre ele escrever um livro e,
em 1953, viu a sua casa invadida pela PIDE tendo-lhe sido confiscado o manuscrito do livro
referido. Valeu-lhe na época ter já enviado parte do manuscrito para um seu amigo (Tomás
Ribeiro Colaço) no Brasil. Parte assim desgostosa com o seu país que perseguiu também a sua
obra por duas vezes. Em 1939 fora-lhe apreendido o livro Ida e Volta de Uma Caixa de Cigarros
e, posteriormente, em 1947 o livro Casa sem Pão.
No Brasil escreveu em periódicos como O Estado de S. Paulo, Portugal Democrático e
Semana Portuguesa, chegando mesmo a ser diretora deste jornal. Também publicou, como
atrás referi, vários livros. De 1955 a 1971 esteve em S. Paulo, donde vai para uma estância em
Campos de Jordão por “Intoxicação da bexiga” e, de 1971 a 1977 encontramo-la em Poços
de Caldas. Nesta altura começa a sentir-se pobre e doente e é então que começa a enviar
correspondência para a família e advogada. Começa a sofrer de dores nos joelhos, zumbidos
contínuos nos ouvidos e diminuição do campo de visão. Em 1974 falava na possibilidade de
escrever um livro sobre um assunto novo que a estava a fascinar mas a saúde não a ajudava.
Nesse ano chegou a corrigir discursos de candidatos às eleições legislativas e a escrever
publicidade para a rádio local. Em 1977 voltou de novo para S. Paulo tendo estado primeiro
no Hospital S. Joaquim e depois na Casa de Saúde Nª Sra do Carmo. Saíu desta última para vir
para Portugal mas só depois de receber resposta favorável de Marcelo Caetano ao seu pedido.
Promete «ser neutra à espera da morte em sossego e paz» numa carta de onze páginas que
escreve ao seu sobrinho, o Prof. Fernando de Pádua. Em 1973 Marcelo Caetano promete
que não a incomodará mas ela só regressará em 1979, com 80 anos pois pretendia ainda
ver reeditados alguns dos seus livros para não regressar como uma desconhecida e também
porque a doença e as dificuldades económicas não o permitiram.
Quando regressou tinha muitos jornalistas à sua espera mas a mulher que encontram
é uma senhora com dificuldades em ouvir e em falar que os deixa sem respostas. Também
Maria Archer fica desiludida consigo mesma pois, não conseguindo ultrapassar as limitações
da doença, refugia-se nas lágrimas. É levada para a Mansão de Sta Maria em Marvila situação
tratada mesmo na Assembleia da República a pedido do deputado Vasco da Gama Fernandes
que solicitou que se mudasse a escritora do local onde se encontrava. Só conseguiu que a
escritora fosse mudada para o único quarto individual desta casa. Faleceu a 23 de Janeiro de
1982 com arterosclerose cerebral.
Termino apresentando duas citações da própria Maria Archer:
«Saibam quantos fazem coro no desprestígio da obra literária das mulheres que os
nossos livros são momentos heróicos. Custam-nos coragem, e angústias, que os homens, para
igual feito, desconhecem de todo» (in “Revisão de Conceitos Antiquados” Out. 1952)
«Eu precisarei de morrer para que a minha obra seja avaliada na altura que eu lhe
atribuí quando a escrevi – como um documento histórico duma época e da situação da
mulher. » (1973)
Dina Botelho
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Homenagem a Maria Archer – Maia 24 nov. 2011
Lanço então o desafio – Não deixemos que a sua obra morra, pois muito ainda há a
fazer, nomeadamente estudos sobre os seus cadernos coloniais e estudos sobre as suas peças
de teatro. Devemos enaltecer e reconhecer a sua luta pela dignificação da condição da mulher
através da apresentação da realidade que a mulher da sua época vivia. A vida da mulher de
meados do séc. XX não está bem conhecida – os jovens de hoje não a conhecem e através da
obra de Maria Archer poderão conhecê-la.
Homenagem a Maria Archer – Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas na Diáspora
Maia, 24 de Novembro de 2011
Boa noite a todos e em especial aos elementos da mesa a quem cumprimento
respeitosamente. Gostaria de começar por agradecer o convite que me foi dirigido pela
Associação Mulher Migrante, através da Dra Rita Gomes, para estar aqui presente esta noite e
poder participar numa homenagem, merecida, a Maria Archer.
Fui apresentada como sendo a autora da primeira tese de mestrado sobre a vida e a
obra de Maria Archer. De facto, assim é e apresentei-a em 1994. Intitula-se “Ela é apenas
mulher- Maria Archer, Obra e autora” e já na altura disse, apresentando comprovativos, que
Maria Archer nasceu em 4 de Janeiro de 1899 e não 1905 como aparece muitas vezes em
estudos e até enciclopédias que a estudam ou a ela se referem apenas. É com imensa tristeza
que vejo que ainda hoje se desconhece a verdade acerca do ano do seu nascimento. Tenho a
certeza que Maria Archer ficaria profundamente contente por saber deste facto até porque
era ela própria que o fazia em documentos públicos que preenchia, tal como consta da sua
ficha do arquivo biográfico do Diário de Notícias que apresento também na minha tese.
Sim, de facto Maria Archer retirava seis anos à sua existência, por um lado por uma
questão de vaidade e, por outro lado, porque talvez não gostasse de ter nascido no século
anterior. No entanto, chamo desde já a atenção para a necessidade de nós, que a estudamos
e por uma questão de veracidade dos factos, devermos apresentar a data correta. Até à minha
tese ninguém tinha estudado Maria Archer e ela teve como objetivo iniciar o estudo da autora
e da sua obra mas esse estudo não foi, como devem calcular, esgotado dada a riqueza e a
variedade temática da obra de Maria Archer. É necessário continuar a estudá-la sobretudo
na vertente da literatura colonial onde considero haver uma grande riqueza por explorar.
Há também que continuar a publicar os seus livros pois representam marcos históricos.
Homenagem seja feita também à editora Parceria António Maria Pereira que já apostou na
republicação de dois dos seus livros (Ela é Apenas Mulher e Nada lhe será perdoado)
Disse atrás que esta era uma homenagem merecida pois considero que Maria Archer
contribuiu imenso para a luta por uma condição mais digna para a mulher e também para
a sua igualdade relativamente ao homem, não dizendo ou gritando como referiu a Dra Mª
Benedicta sobre Maria Lamas mas mostrando a situação em que viviam as mulheres. Aliás, o
tema principal dos seus romances e novelas era a vida da mulher, a sua relação com a família,
com o trabalho e com os homens. O título de um dos seus romances mais emblemáticos é Ela
é apenas mulher apontando mesmo para a posição decadente da mulher na época em que a
escritora viveu e criou. A preocupação fundamental da sua obra era a situação da mulher e as
dificuldades por ela sentidas. África era uma paixão na sua obra.
Maria Archer foi uma das poucas mulheres do seu tempo a ter como profissão a de
jornalista e escritora. Ela publicou de 1920 a 1963, tendo havido dois anos em que publicou 4
livros por ano (1938 e 1950) e alguns dos seus livros chegaram mesmo à 3ª edição como por
exemplo Há de Haver uma Lei e Aristocratas. Ela é Apenas Mulher é de 1944 e no mesmo ano
saiu a 2ª edição tendo chegado à 3ª edição em 1952. Escreveu, pois, 31 livros de 1935 a 1963,
5 deles no Brasil (Terras Onde se Fala Português, África sem Luz, Brasil, Fronteira de África, Os
Dina Botelho
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Homenagem a Maria Archer – Maia 24 nov. 2011
últimos Dias do Fascismo Português e do último nada se sabe), cinco peças de teatro e três
traduções. Mas não se julgue que era fácil ser uma mulher escritora na época. Este é outro
reconhecido mérito de Maria Archer. Muitas mulheres da época, tais como Maria Lamas e
Irene Lisboa, esconderam-se atrás de pseudónimos, quer femininos quer masculinos, para
poderem escrever à vontade sem penalizarem a sua vida pessoal ou até mesmo para obterem
maior imparcialidade por parte da crítica. Se agora temos muitas mulheres escritoras, no início
do séc. XX, quando uma mulher queria escrever sobre outro tema que não a vida doméstica ou
a educação dos filhos refugiava-se atrás de um pseudónimo.
Maria Archer nunca se escondeu, nunca usou pseudónimos, talvez esse mesmo facto
tenha levado ao afastamento da família que, por vezes, não viu com bons olhos certas
publicações suas. Também o seu divórcio (esteve casada apenas 10 anos durante os quais
publicou apenas em periódicos) poderá ter tido alguma base na sua profissão apesar da causa
pública do mesmo ter mais a ver com questões familiares (sevícias e injúrias graves) e menos
profissionais. Maria Archer viveu numa época em que era suposto a mulher ser apenas boa
filha, boa esposa e boa mãe. As únicas atividades permitidas à mulher eram a lida doméstica
e a educação dos filhos. Maria Archer dizia que escrever era fugir ao longo silêncio a que a
mulher da época estava votada. Até o acesso à cultura é negado à mulher na época, como
Maria Archer retrata bem na personagem de Adriana (de Casa sem Pão) que tinha de se
esconder para ler livros.
Houve mesmo casos em que a crítica a um livro escrito com pseudónimo masculino era
otimista e depois de se saber que havia sido escrito por uma mulher, o mesmo crítico dizia
o contrário do que havia dito antes. João Gaspar Simões foi, dos críticos literários da época,
o que melhor entendeu a luta da mulher escritora. Disse ele que «Em Portugal uma mulher
que queira falar de si mesma com franqueza equivalente à de um homem quase pudico corre
risco de enxovalho» Maria Archer mostrou as vozes profundas do seu ser sem nunca recorrer
a pseudónimos o que fez dela única na sua época e no seu meio. Maria Archer partia do real
e era esse real que interessava aos seus leitores. Ela própria reconheceu que a literatura
feminina da sua época não era criativa «pois a mulher encontrava-se subjugada pela estrutura
social e familiar repressiva.»
Um dos grandes elogios que lhe fazem na época foi feito pelo próprio João Gaspar
Simões que dela fala como se de um homem se tratasse: «Abram os olhos, Exmos Srs – têm
diante de vós um escritor (teimo em chamar-lhe escritor porque os seus contos, embora
tenham sexo na observação que denunciam e nos temas que tratam, não o têm – são,
portanto do sexo nobre – pelo menos num país em que o homem ainda é considerado o 1º
sexo- não o têm no estilo, na expressão, na visão , na forma)em nada inferior, como contista, a
qualquer dessas incontestadas glórias». E mais à frente diz «esta autora não pode deixar de ser
considerada desde já um grande contista, um grande escritor».
Mas sendo este um encontro sobre as mulheres da diáspora não podemos deixar de
referir a sua ida para o Brasil em 5 de Julho de 1955 no navio Sta Maria, com destino a Santos.
Tendo publicado dois livros no ano anterior e reeditado um terceiro poderemos questionar-
nos acerca dos motivos que a terão levado a partir. Por um lado não estaria contente com a
falta de liberdade dos escritores, por outro tinha de evitar ser presa. Maria Archer em 1945
Dina Botelho
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Homenagem a Maria Archer – Maia 24 nov. 2011
havia já participado no MUD – Movimento de Unidade democrática que era uma frente de
oposição ao salazarismo, em 1949 apoiou publicamente a candidatura do general Norton de
Matos à Presidência da República, acompanhou , em 1952, o julgamento do capitão Henrique
Galvão - contestador da ditadura salazarista prometendo sobre ele escrever um livro e,
em 1953, viu a sua casa invadida pela PIDE tendo-lhe sido confiscado o manuscrito do livro
referido. Valeu-lhe na época ter já enviado parte do manuscrito para um seu amigo (Tomás
Ribeiro Colaço) no Brasil. Parte assim desgostosa com o seu país que perseguiu também a sua
obra por duas vezes. Em 1939 fora-lhe apreendido o livro Ida e Volta de Uma Caixa de Cigarros
e, posteriormente, em 1947 o livro Casa sem Pão.
No Brasil escreveu em periódicos como O Estado de S. Paulo, Portugal Democrático e
Semana Portuguesa, chegando mesmo a ser diretora deste jornal. Também publicou, como
atrás referi, vários livros. De 1955 a 1971 esteve em S. Paulo, donde vai para uma estância em
Campos de Jordão por “Intoxicação da bexiga” e, de 1971 a 1977 encontramo-la em Poços
de Caldas. Nesta altura começa a sentir-se pobre e doente e é então que começa a enviar
correspondência para a família e advogada. Começa a sofrer de dores nos joelhos, zumbidos
contínuos nos ouvidos e diminuição do campo de visão. Em 1974 falava na possibilidade de
escrever um livro sobre um assunto novo que a estava a fascinar mas a saúde não a ajudava.
Nesse ano chegou a corrigir discursos de candidatos às eleições legislativas e a escrever
publicidade para a rádio local. Em 1977 voltou de novo para S. Paulo tendo estado primeiro
no Hospital S. Joaquim e depois na Casa de Saúde Nª Sra do Carmo. Saíu desta última para vir
para Portugal mas só depois de receber resposta favorável de Marcelo Caetano ao seu pedido.
Promete «ser neutra à espera da morte em sossego e paz» numa carta de onze páginas que
escreve ao seu sobrinho, o Prof. Fernando de Pádua. Em 1973 Marcelo Caetano promete
que não a incomodará mas ela só regressará em 1979, com 80 anos pois pretendia ainda
ver reeditados alguns dos seus livros para não regressar como uma desconhecida e também
porque a doença e as dificuldades económicas não o permitiram.
Quando regressou tinha muitos jornalistas à sua espera mas a mulher que encontram
é uma senhora com dificuldades em ouvir e em falar que os deixa sem respostas. Também
Maria Archer fica desiludida consigo mesma pois, não conseguindo ultrapassar as limitações
da doença, refugia-se nas lágrimas. É levada para a Mansão de Sta Maria em Marvila situação
tratada mesmo na Assembleia da República a pedido do deputado Vasco da Gama Fernandes
que solicitou que se mudasse a escritora do local onde se encontrava. Só conseguiu que a
escritora fosse mudada para o único quarto individual desta casa. Faleceu a 23 de Janeiro de
1982 com arterosclerose cerebral.
Termino apresentando duas citações da própria Maria Archer:
«Saibam quantos fazem coro no desprestígio da obra literária das mulheres que os
nossos livros são momentos heróicos. Custam-nos coragem, e angústias, que os homens, para
igual feito, desconhecem de todo» (in “Revisão de Conceitos Antiquados” Out. 1952)
«Eu precisarei de morrer para que a minha obra seja avaliada na altura que eu lhe
atribuí quando a escrevi – como um documento histórico duma época e da situação da
mulher. » (1973)
Dina Botelho
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Homenagem a Maria Archer – Maia 24 nov. 2011
Lanço então o desafio – Não deixemos que a sua obra morra, pois muito ainda há a
fazer, nomeadamente estudos sobre os seus cadernos coloniais e estudos sobre as suas peças
de teatro. Devemos enaltecer e reconhecer a sua luta pela dignificação da condição da mulher
através da apresentação da realidade que a mulher da sua época vivia. A vida da mulher de
meados do séc. XX não está bem conhecida – os jovens de hoje não a conhecem e através da
obra de Maria Archer poderão conhecê-la.
Rita Gomes
«História do Movimento Associativo – Questões
de Género e de Geração».
Não seria necessário salientar que estamos perante um tema de grande
significado no contexto das Migrações, mas fazemo-lo para melhor evidenciar
a sua importância. E, neste Painel, deve também ser referido o facto de
nele terem sido inseridas as «Questões de Género e de Geração», que
bem merecem ser sempre devidamente analisadas e sobretudo na actual
conjuntura.
Ao falar de Associativismo, sabemos que a ele estão ligadas,
nomeadamente, a solidariedade e a cidadania, que, embora diferentes,
convivem, bem como, por exemplo, a generosidade e a cooperação.
As Associações de Migrantes, enquanto organizações de voluntariado, de
cooperação e de solidariedade social, como sucede com a «Mulher Migrante –
Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade», que aqui representamos,
muitos contributos proporcionam à cidadania e à defesa dos direitos dos
cidadãos migrantes nas sociedades onde vivem e trabalham, incluindo os
respectivos deveres.
Com a cidadania temos a liberdade de iniciativa pessoal e colectiva, mas
também associativa e o caminho para a democratização.
A solidariedade está ligada a um conjunto alargado de situações
históricas, politicas e sociais.
A cooperação, constitui instrumento indispensável, muito especialmente
nas políticas sobre Migrações a vários níveis: local, regional e internacional
(bilateral e multilateral).
Lembramos, a propósito, os Acordos vários, nomeadamente, a nível
bilateral que Portugal celebrou a partir de 1974, com Países da Europa sobre
os nossos Trabalhadores emigrantes e suas Famílias, para além dos relativos
à Segurança Social, que também abrangeram Países fora da Europa..
Por experiência profissional vivida, conhecemos a importância que têm
para os Migrantes as suas Associações, em Portugal e no Estrangeiro.
2
E o reconhecimento dessa importância é bem sentido pelos nossos
compatriotas emigrados que nelas trabalharam e trabalham com o maior
empenhamento e espírito de entre – ajuda, em regime de voluntariado, assim
contribuindo para a melhoria de vida de muitos deles e até de nós.
Esse «Movimento Associativo», existe, conforme sabemos, nas mais
diversas actividades. Por exemplo, no apoio a idosos, à deficiência, à
integração, à igualdade de género, a migrantes e especificamente a
mulheres migrantes de diversas etnias, a mulheres ciganas…
É através do Associativismo em geral, em que se insere o Associativismo
Migrante, que se consegue na maioria dos casos uma contribuição
indispensável para que se atinjam os objectivos em que se envolvem as
Associações, Clubes, entre outros.
E isso naturalmente, a par da solidariedade e cooperação entre os
diversos actores, com o incitamento à vantagem da participação activa das/
dos cidadãs/aos migrantes nas sociedades de origem e nas de acolhimento,
em que se inclui a ajuda proporcionada ao desenvolvimento dos Países
implicados.
Neste campo – do desenvolvimento – tem sido evidenciado o contributo
da mulher migrante, com o seu muito trabalho (trabalho extra e em mais de
uma actividade) e respectivas poupanças, sendo de considerar as que são
enviadas para os seus Países, onde mantêm parte da sua Família e onde
pensam vir a reinstalar-se …..
Outro aspecto a salientar: o Associativismo, com a sua faceta de
voluntariado, constitui uma forma de reduzir as desigualdades, de permitir,
como já referimos, uma melhor cidadania, até se conseguir alcançar a
cidadania plena, do maior significado para os migrantes, mas sobretudo
para a mulher migrante, por mais vulnerável, muito especialmente na fase de
inserção no novo País e sobretudo na fase da feminização das migrações,
que continuamos a viver, ultimamente acrescida pelos fluxos da nova
emigração, em que se inclui um considerável número de mulheres jovens,
qualificadas e indiferenciadas, cuja dimensão e características, muito interessa
conhecer.
Há, ainda que conseguir que seja evidenciado e avaliado devidamente
o trabalho desenvolvido, pelo «movimento associativo» e a sua evolução
positiva, bem como o mérito, quantas vezes conseguido por esse trabalho de
que pouco se fala.
Para avaliar melhor a sua importância referimos, por exemplo, as
actividades desenvolvidas pelas Associações, Clubes, Federações, etc., em
que por vezes, até se promove – apesar das críticas que sempre surgem - o
Ensino da Língua do País de Origem.
3
Foram e nalguns casos continuam a ser esses «núcleos», digamos, que
contribuíram e que ainda contribuem em maior ou menor dimensão para a
manutenção da Cultura, dos Hábitos e Tradições – incluindo o Folclore dos
países de proveniência dos imigrantes – e até o Desporto.
E, isso, para além da sua «função social» e mesmo de entre – ajuda,
conforme já referimos, sobretudo em relação aos compatriotas recém-
chegados, desconhecedores da língua, dos direitos e deveres e de muita
informação indispensável ao seu «Novo Mundo», à sua Nova Vida, e
designadamente à adaptação a outros trabalhos.
Casos houve em que a ajuda na fase de «reagrupamento familiar»,
por exemplo, proporcionada pelo Associativismo local em ligação com as
Instituições existentes – do País de Origem e Estrangeiras – foram também da
maior utilidade.
E, se pensarmos no «Associativismo Português» numa forma mais
ampla, como o faz a Drª Manuela Aguiar, lembramos por exemplo, as
Beneficências Portuguesas, os Gabinetes Portugueses de Leitura (Brasil), as
Fundações, os Clubes, os Centros Culturais, os Centros de Apoio a Idosos
e outros: Grupos de Dança, de Música, de Folclore, de Desporto, etc.
encontramos, então, um património de valor inestimável espalhado pela
nossa Diáspora, criado por portugueses e a quem muito se deve.
A Iniciativa e Vontade de «bem fazer» do «Movimento Associativo».
conseguiram e conseguirão quantas vezes – com o seu dinamismo -
ultrapassar mesmo a função que mais adequadamente caberia às Instituições
Estatais e outras dos Países de Origem e de Acolhimento.
Devemos lembrar ainda a contribuição desses «Núcleos» para a
participação cívica e política das / dos suas e seus Associadas /
os, nomeadamente.
Em suma, esses «Núcleos» são «estruturas» com envolvimento nas
áreas: social, educativa, cultural, política e económica e que desempenham
funções de grande mérito.
No que respeita ao papel das «Mulheres» nas «estruturas associativas»,
há que referir que houve uma fase em que as mesmas não conseguiam chegar
aos lugares de Dirigentes, mas o seu trabalho voluntário, na sombra,
digamos, em diversas áreas nas Associações, Clubes e noutras Instituições,
era da maior importância.
Essa situação, porém, tem evoluído favoravelmente, hoje, as Mulheres
assumem cargos Dirigentes nessas estruturas associativas e em Empresas
nas mais diversas funções, mas não ainda como merecem e nem de acordo
com as suas qualificações.
4
O empreendedorismo feminino vai crescendo… também um pouco
em relação às mulheres migrantes, nomeadamente através da utilização de
recursos financeiros da União Europeia, de crédito bancário, do micro crédito,
e de outros, mas continua a carecer-se de maior empoderamento da Mulher.
Evidenciámos o muito trabalho desempenhado por Associações de
Migrantes e estruturas similares, em que se incluem, não esqueçamos,
a «informação e o aconselhamento qualificado sobre as diversas temáticas»,
bem como o «encaminhamento de casos», que no conjunto facilitam a
integração dos novos imigrantes.
No que respeita a «Questões de Género» consideramos oportuno
referirmos, para conhecimento, a existência em Portugal dos dois seguintes
Departamentos do Estado que se ocupam dessa temática:
(a)CIG - Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género tutelada pela
Secretaria de Estado da Igualdade – Presidência do Conselho de Ministros – e
que integra no seu Conselho Consultivo, Organizações não Governamentais,
umas 40 Associações de Mulheres (na sua maioria), entre as quais a nossa
Associação, que trabalham as mais diversas modalidades: Planeamento
Familiar, Mulheres contra a Violência, Mulheres Juristas, Mulheres Agricultoras,
Mulheres Empresárias, Associação da Cultura e Desenvolvimento, Mulheres e
o Desporto, Mulheres Cientistas, Movimento Democrático de Mulheres (MDM),
Rede Jovens para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens,
União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), etc.
Além de representantes das Associações, no referido Conselho Consultivo,
há ainda conselheiras de diversos Departamentos do Estado Português, assim
se conseguindo a desejável transversabilidade sobre a temática da Mulher,
no que respeita à Cidadania e à Igualdade de Género.
A nível da CIG realizam – se Reuniões e Actividades no âmbito das
Questões da Cidadania e da Igualdade de Género, com a participação das
Instituições e Entidades que integram essas áreas.
b)CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego – que tem
como tutela o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social.
Dado o relevante papel desenvolvido em Portugal pela CIG e pela CITE,
obtivemos a colaboração destas Entidades neste Encontro Mundial, que
organizámos na Maia, através da concessão de várias das suas Publicações
sobre a temática de que se ocupam em favor da Mulher. Essas Publicações
foram distribuídas a Participantes nesta nossa Iniciativa, algumas e alguns
vindas/os das Comunidades Portuguesas, assim se conseguindo a nível
interno e externo, uma maior divulgação das Questões relativas à Cidadania e
à Igualdade de Género, bem como à Igualdade no Trabalho e no Emprego.
5
Ainda quanto a «Questões de Geração e de Género» referimos
especialmente os trabalhos desenvolvidos, por Universidades, em Portugal,
como por exemplo a Universidade Aberta – CEMRI, Centro de Estudos das
Migrações e das Relações Interculturais – aqui presente e que foi um dos
nossos Parceiros neste Encontro Mundial e noutros que temos realizado,
sendo de citar os «Encontros para a Cidadania».
Estes Encontros tiveram lugar: na América do Sul – Buenos Aires,
em 2005; Europa – Estocolmo, em 2006; América do Norte – Newark, em
2006; América do Norte – Toronto, em 2007; em África – África do Sul –
Joanesburgo, em 2008 e na América do Norte – Montréal, Toronto,etc. ,em
2009. Através deles foram tratadas as mais diversas temáticas na área da
Igualdade e da Cidadania, junto dessas Comunidades Portuguesas.
Relativamente ao tema deste Painel: «História do Movimento Associativo.
Questões de Género e de Geração», parece – nos ser de sugerir que:
- se consiga promover cada vez mais: a igualdade no trabalho, a igualdade de
direitos e uma melhor integração da Mulher, incluindo naturalmente a Mulher
Migrante, nas diversas actividades – em paridade;
- se faça um reconhecimento do trabalho já desenvolvido pelas Associações
dos nossos Emigrantes, a nível local, a fim de que se consiga uma melhor
utilização das suas capacidades, seleccionando-se as áreas que mais se
adequam à melhoria da actual situação das Comunidades: por exemplo, a
nível intergeracional e de apoio à mulher migrante;
- se procure utilizar os ensinamentos dos membros da comunidade ligados ao
Associativismo – voluntário e não voluntário – adaptando as estruturas
existentes às novas exigências da vida dos nossos dias;
- se tente conseguir, que os Jovens recém - chegados às Comunidades
Portuguesas e outros que já residam localmente – incluindo os luso-
descendentes - melhorem, a nível do voluntariado, a qualidade das
actividades nas organizações existentes e a reestruturar;
- se incentivem, os nossos compatriotas e os cidadãos dos Países de
Acolhimento a uma participação mais activa, actualizada, diferente, para
que em conjunto, utilizem as suas qualificações e a sua experiência nas mais
diversas áreas do conhecimento, melhor dizendo em todos os domínios da
vida social, cultural, económica e política;
E, por último, enaltecidos que foram, em síntese, os esforços desenvolvidos
6
por organizações de voluntariado, de solidariedade, e de cooperação em
favor dos migrantes em que se destacaram também os apoios à «mulher
migrante», bem como questões de género e de geração, terminamos:
- lembrando que a mobilidade social e a sua dinâmica impõem políticas
sempre actualizadas, exigindo rápida adequação à conjuntura das
migrações, envolvendo os migrantes e os Países de saída e de entrada,
exigindo por isso, nomeadamente, estudo, reflexão e trabalho conjunto
e numa mais estreita cooperação e concertação por parte desses
Países, designadamente, entre as respectivas Instituições Estatais da
especialidade, incluindo também:
a) as Universidades de «cá e de lá», se possível, que se dedicam ao
Estudo das Migrações;
b) as Organizações Intergovermentais ligadas a esta temática;
c) as Organizações Não Governamentais do Movimento Associativo Migrante;
d) a Obra Católica Portuguesa das Migrações – OCPM, designadamente
através das suas Missões Católicas nos Países de Acolhimento, onde
vivem portugueses.
Há, pois, muito trabalho a realizar tanto mais que Portugal está a assistir
a um novo êxodo de portugueses para Países da Europa e de fora da
Europa. Saem milhares: jovens qualificados, é certo, mas também outros
sem essas qualificações e com diversas idades.
Impõe-se que haja um conhecimento tão actualizado, quanto possível
desta «nova realidade», que para além de estudos, envolve ainda muito
empenhamento em várias áreas e por parte de diversas Instituições,
mas que exige prioridade, a fim de se procurar conseguir proporcionar o
apoio de que efectivamente carecem - em cada caso, em cada situação
- as portuguesas e os portugueses que saíram e saem de Portugal para
viverem e trabalharem no Estrangeiro.
12 de Janeiro de 2012.
«História do Movimento Associativo – Questões
de Género e de Geração».
Não seria necessário salientar que estamos perante um tema de grande
significado no contexto das Migrações, mas fazemo-lo para melhor evidenciar
a sua importância. E, neste Painel, deve também ser referido o facto de
nele terem sido inseridas as «Questões de Género e de Geração», que
bem merecem ser sempre devidamente analisadas e sobretudo na actual
conjuntura.
Ao falar de Associativismo, sabemos que a ele estão ligadas,
nomeadamente, a solidariedade e a cidadania, que, embora diferentes,
convivem, bem como, por exemplo, a generosidade e a cooperação.
As Associações de Migrantes, enquanto organizações de voluntariado, de
cooperação e de solidariedade social, como sucede com a «Mulher Migrante –
Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade», que aqui representamos,
muitos contributos proporcionam à cidadania e à defesa dos direitos dos
cidadãos migrantes nas sociedades onde vivem e trabalham, incluindo os
respectivos deveres.
Com a cidadania temos a liberdade de iniciativa pessoal e colectiva, mas
também associativa e o caminho para a democratização.
A solidariedade está ligada a um conjunto alargado de situações
históricas, politicas e sociais.
A cooperação, constitui instrumento indispensável, muito especialmente
nas políticas sobre Migrações a vários níveis: local, regional e internacional
(bilateral e multilateral).
Lembramos, a propósito, os Acordos vários, nomeadamente, a nível
bilateral que Portugal celebrou a partir de 1974, com Países da Europa sobre
os nossos Trabalhadores emigrantes e suas Famílias, para além dos relativos
à Segurança Social, que também abrangeram Países fora da Europa..
Por experiência profissional vivida, conhecemos a importância que têm
para os Migrantes as suas Associações, em Portugal e no Estrangeiro.
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E o reconhecimento dessa importância é bem sentido pelos nossos
compatriotas emigrados que nelas trabalharam e trabalham com o maior
empenhamento e espírito de entre – ajuda, em regime de voluntariado, assim
contribuindo para a melhoria de vida de muitos deles e até de nós.
Esse «Movimento Associativo», existe, conforme sabemos, nas mais
diversas actividades. Por exemplo, no apoio a idosos, à deficiência, à
integração, à igualdade de género, a migrantes e especificamente a
mulheres migrantes de diversas etnias, a mulheres ciganas…
É através do Associativismo em geral, em que se insere o Associativismo
Migrante, que se consegue na maioria dos casos uma contribuição
indispensável para que se atinjam os objectivos em que se envolvem as
Associações, Clubes, entre outros.
E isso naturalmente, a par da solidariedade e cooperação entre os
diversos actores, com o incitamento à vantagem da participação activa das/
dos cidadãs/aos migrantes nas sociedades de origem e nas de acolhimento,
em que se inclui a ajuda proporcionada ao desenvolvimento dos Países
implicados.
Neste campo – do desenvolvimento – tem sido evidenciado o contributo
da mulher migrante, com o seu muito trabalho (trabalho extra e em mais de
uma actividade) e respectivas poupanças, sendo de considerar as que são
enviadas para os seus Países, onde mantêm parte da sua Família e onde
pensam vir a reinstalar-se …..
Outro aspecto a salientar: o Associativismo, com a sua faceta de
voluntariado, constitui uma forma de reduzir as desigualdades, de permitir,
como já referimos, uma melhor cidadania, até se conseguir alcançar a
cidadania plena, do maior significado para os migrantes, mas sobretudo
para a mulher migrante, por mais vulnerável, muito especialmente na fase de
inserção no novo País e sobretudo na fase da feminização das migrações,
que continuamos a viver, ultimamente acrescida pelos fluxos da nova
emigração, em que se inclui um considerável número de mulheres jovens,
qualificadas e indiferenciadas, cuja dimensão e características, muito interessa
conhecer.
Há, ainda que conseguir que seja evidenciado e avaliado devidamente
o trabalho desenvolvido, pelo «movimento associativo» e a sua evolução
positiva, bem como o mérito, quantas vezes conseguido por esse trabalho de
que pouco se fala.
Para avaliar melhor a sua importância referimos, por exemplo, as
actividades desenvolvidas pelas Associações, Clubes, Federações, etc., em
que por vezes, até se promove – apesar das críticas que sempre surgem - o
Ensino da Língua do País de Origem.
3
Foram e nalguns casos continuam a ser esses «núcleos», digamos, que
contribuíram e que ainda contribuem em maior ou menor dimensão para a
manutenção da Cultura, dos Hábitos e Tradições – incluindo o Folclore dos
países de proveniência dos imigrantes – e até o Desporto.
E, isso, para além da sua «função social» e mesmo de entre – ajuda,
conforme já referimos, sobretudo em relação aos compatriotas recém-
chegados, desconhecedores da língua, dos direitos e deveres e de muita
informação indispensável ao seu «Novo Mundo», à sua Nova Vida, e
designadamente à adaptação a outros trabalhos.
Casos houve em que a ajuda na fase de «reagrupamento familiar»,
por exemplo, proporcionada pelo Associativismo local em ligação com as
Instituições existentes – do País de Origem e Estrangeiras – foram também da
maior utilidade.
E, se pensarmos no «Associativismo Português» numa forma mais
ampla, como o faz a Drª Manuela Aguiar, lembramos por exemplo, as
Beneficências Portuguesas, os Gabinetes Portugueses de Leitura (Brasil), as
Fundações, os Clubes, os Centros Culturais, os Centros de Apoio a Idosos
e outros: Grupos de Dança, de Música, de Folclore, de Desporto, etc.
encontramos, então, um património de valor inestimável espalhado pela
nossa Diáspora, criado por portugueses e a quem muito se deve.
A Iniciativa e Vontade de «bem fazer» do «Movimento Associativo».
conseguiram e conseguirão quantas vezes – com o seu dinamismo -
ultrapassar mesmo a função que mais adequadamente caberia às Instituições
Estatais e outras dos Países de Origem e de Acolhimento.
Devemos lembrar ainda a contribuição desses «Núcleos» para a
participação cívica e política das / dos suas e seus Associadas /
os, nomeadamente.
Em suma, esses «Núcleos» são «estruturas» com envolvimento nas
áreas: social, educativa, cultural, política e económica e que desempenham
funções de grande mérito.
No que respeita ao papel das «Mulheres» nas «estruturas associativas»,
há que referir que houve uma fase em que as mesmas não conseguiam chegar
aos lugares de Dirigentes, mas o seu trabalho voluntário, na sombra,
digamos, em diversas áreas nas Associações, Clubes e noutras Instituições,
era da maior importância.
Essa situação, porém, tem evoluído favoravelmente, hoje, as Mulheres
assumem cargos Dirigentes nessas estruturas associativas e em Empresas
nas mais diversas funções, mas não ainda como merecem e nem de acordo
com as suas qualificações.
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O empreendedorismo feminino vai crescendo… também um pouco
em relação às mulheres migrantes, nomeadamente através da utilização de
recursos financeiros da União Europeia, de crédito bancário, do micro crédito,
e de outros, mas continua a carecer-se de maior empoderamento da Mulher.
Evidenciámos o muito trabalho desempenhado por Associações de
Migrantes e estruturas similares, em que se incluem, não esqueçamos,
a «informação e o aconselhamento qualificado sobre as diversas temáticas»,
bem como o «encaminhamento de casos», que no conjunto facilitam a
integração dos novos imigrantes.
No que respeita a «Questões de Género» consideramos oportuno
referirmos, para conhecimento, a existência em Portugal dos dois seguintes
Departamentos do Estado que se ocupam dessa temática:
(a)CIG - Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género tutelada pela
Secretaria de Estado da Igualdade – Presidência do Conselho de Ministros – e
que integra no seu Conselho Consultivo, Organizações não Governamentais,
umas 40 Associações de Mulheres (na sua maioria), entre as quais a nossa
Associação, que trabalham as mais diversas modalidades: Planeamento
Familiar, Mulheres contra a Violência, Mulheres Juristas, Mulheres Agricultoras,
Mulheres Empresárias, Associação da Cultura e Desenvolvimento, Mulheres e
o Desporto, Mulheres Cientistas, Movimento Democrático de Mulheres (MDM),
Rede Jovens para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens,
União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), etc.
Além de representantes das Associações, no referido Conselho Consultivo,
há ainda conselheiras de diversos Departamentos do Estado Português, assim
se conseguindo a desejável transversabilidade sobre a temática da Mulher,
no que respeita à Cidadania e à Igualdade de Género.
A nível da CIG realizam – se Reuniões e Actividades no âmbito das
Questões da Cidadania e da Igualdade de Género, com a participação das
Instituições e Entidades que integram essas áreas.
b)CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego – que tem
como tutela o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social.
Dado o relevante papel desenvolvido em Portugal pela CIG e pela CITE,
obtivemos a colaboração destas Entidades neste Encontro Mundial, que
organizámos na Maia, através da concessão de várias das suas Publicações
sobre a temática de que se ocupam em favor da Mulher. Essas Publicações
foram distribuídas a Participantes nesta nossa Iniciativa, algumas e alguns
vindas/os das Comunidades Portuguesas, assim se conseguindo a nível
interno e externo, uma maior divulgação das Questões relativas à Cidadania e
à Igualdade de Género, bem como à Igualdade no Trabalho e no Emprego.
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Ainda quanto a «Questões de Geração e de Género» referimos
especialmente os trabalhos desenvolvidos, por Universidades, em Portugal,
como por exemplo a Universidade Aberta – CEMRI, Centro de Estudos das
Migrações e das Relações Interculturais – aqui presente e que foi um dos
nossos Parceiros neste Encontro Mundial e noutros que temos realizado,
sendo de citar os «Encontros para a Cidadania».
Estes Encontros tiveram lugar: na América do Sul – Buenos Aires,
em 2005; Europa – Estocolmo, em 2006; América do Norte – Newark, em
2006; América do Norte – Toronto, em 2007; em África – África do Sul –
Joanesburgo, em 2008 e na América do Norte – Montréal, Toronto,etc. ,em
2009. Através deles foram tratadas as mais diversas temáticas na área da
Igualdade e da Cidadania, junto dessas Comunidades Portuguesas.
Relativamente ao tema deste Painel: «História do Movimento Associativo.
Questões de Género e de Geração», parece – nos ser de sugerir que:
- se consiga promover cada vez mais: a igualdade no trabalho, a igualdade de
direitos e uma melhor integração da Mulher, incluindo naturalmente a Mulher
Migrante, nas diversas actividades – em paridade;
- se faça um reconhecimento do trabalho já desenvolvido pelas Associações
dos nossos Emigrantes, a nível local, a fim de que se consiga uma melhor
utilização das suas capacidades, seleccionando-se as áreas que mais se
adequam à melhoria da actual situação das Comunidades: por exemplo, a
nível intergeracional e de apoio à mulher migrante;
- se procure utilizar os ensinamentos dos membros da comunidade ligados ao
Associativismo – voluntário e não voluntário – adaptando as estruturas
existentes às novas exigências da vida dos nossos dias;
- se tente conseguir, que os Jovens recém - chegados às Comunidades
Portuguesas e outros que já residam localmente – incluindo os luso-
descendentes - melhorem, a nível do voluntariado, a qualidade das
actividades nas organizações existentes e a reestruturar;
- se incentivem, os nossos compatriotas e os cidadãos dos Países de
Acolhimento a uma participação mais activa, actualizada, diferente, para
que em conjunto, utilizem as suas qualificações e a sua experiência nas mais
diversas áreas do conhecimento, melhor dizendo em todos os domínios da
vida social, cultural, económica e política;
E, por último, enaltecidos que foram, em síntese, os esforços desenvolvidos
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por organizações de voluntariado, de solidariedade, e de cooperação em
favor dos migrantes em que se destacaram também os apoios à «mulher
migrante», bem como questões de género e de geração, terminamos:
- lembrando que a mobilidade social e a sua dinâmica impõem políticas
sempre actualizadas, exigindo rápida adequação à conjuntura das
migrações, envolvendo os migrantes e os Países de saída e de entrada,
exigindo por isso, nomeadamente, estudo, reflexão e trabalho conjunto
e numa mais estreita cooperação e concertação por parte desses
Países, designadamente, entre as respectivas Instituições Estatais da
especialidade, incluindo também:
a) as Universidades de «cá e de lá», se possível, que se dedicam ao
Estudo das Migrações;
b) as Organizações Intergovermentais ligadas a esta temática;
c) as Organizações Não Governamentais do Movimento Associativo Migrante;
d) a Obra Católica Portuguesa das Migrações – OCPM, designadamente
através das suas Missões Católicas nos Países de Acolhimento, onde
vivem portugueses.
Há, pois, muito trabalho a realizar tanto mais que Portugal está a assistir
a um novo êxodo de portugueses para Países da Europa e de fora da
Europa. Saem milhares: jovens qualificados, é certo, mas também outros
sem essas qualificações e com diversas idades.
Impõe-se que haja um conhecimento tão actualizado, quanto possível
desta «nova realidade», que para além de estudos, envolve ainda muito
empenhamento em várias áreas e por parte de diversas Instituições,
mas que exige prioridade, a fim de se procurar conseguir proporcionar o
apoio de que efectivamente carecem - em cada caso, em cada situação
- as portuguesas e os portugueses que saíram e saem de Portugal para
viverem e trabalharem no Estrangeiro.
12 de Janeiro de 2012.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
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