Vim par França em Outubro de 1962.
Já namorava há três anos o meu futuro marido, queríamos casar, mas os nossos pais não tinham dinheiro. Pedi, então ao meu irmão mais velho, que já estava em França, para me chamar.
Vim com um contrato para trabalhar num colégio particular de meninas que lá ficavam, dia e noite.
Estava cá há três meses quando fui ao consulado de Paris fazer o necessário para casarmos por procuração.
Depois, em Junho, fui pedir a carta de chamada e não ma queriam dar porque era a primeira mulher que queria mandar vir o marido (era sempre o marido que mandava vir a mulher). Eu respondi-lhes que havia um princípio para tudo e que, se me tinham dado autorização de casar civilmente, era normal que mandasse vir o meu marido.
Deram-ma, finalmente,e eu fui a Portugal, com os dois meses que tinha de férias do colégio, para casar pela Igreja. E viemos, então, os dois para França.
Depois, fiz vir o irmão e as irmãs do meu marido, os meus irmãos e também as minhas amigas, em nome dos irmãos delas, que estavam cá, mas não conheciam ninguém. Eu, no colégio onde trabalhava, conhecia muitas famílias que queriam criadas. E foi assim que começou a minha missão de ajudar os Portugueses.
Chegavam também famílias completas e homens sozinhos e eu arranjava-lhes trabalho e casa para mandarem vir as famílias. Aqueles que estavam realmente sós iam para as barracas nas obras onde trabalhavam.
Também tratava dos papéis, porque a maioria deles vinham ilegais. Como as pessoas falavam entre elas, tanto em França como em Portugal, eram cada vez mais numerosas a virem pedir ajuda. Até nas instituições francesas, (Câmara, serviços sociais, etc.) os empregados, que já me conheciam, mandavam os Portugueses ter comigo para eu os ajudar em diversos aspectos.
Foi assim que, ao longo dos anos, acabei por ajudar muitos e muitos Portugueses, que vieram para França.
O meu marido nunca me proibiu, ao contrário, apoiava-me e admirava-me por tudo o que eu fazia, porque também gosta de ajudar o próximo.
Sem comentários:
Enviar um comentário