Variações - Exposição de Luísa Prior
Tivemos oportunidade de, uma vez mais, descobrir a alma criativa desta pintora tão peculiar. Luísa não se limita a pintar, ela constrói, dá-nos pistas da sua leitura da sociedade. Na sua expressão plástica, há uma dimensão simples, ingénua que contrasta com uma outra, complexa e profunda. O grito no silêncio, os mascarados, as múltiplas figuras reais, terrenas em contraste com outras, com dimensão metafísica, onde a cor, o movimento potencializam o lado transcendente que Luísa tão bem sabe partilhar. O universo unido em torno da mudança desejada e anunciada num mundo em angústia, a roda do tempo onde coabitam: a serenidade e o caos; a leveza e a densidade. A cor abre caminhos para a interpretação e dela se ampliam sentimentos que a autora nos propõe, não como algo formatado ou enclausurado, mas aberto a outras interpretações.
Na sua obra, tal como um espelho, vemo-nos refletidos, nas nossas múltiplas facetas, bem como a vida que nos rodeia. Nela coabita a heterogeneidade de afetos, de sentimentos e de estados de alma: da opressão à libertação, do grito de revolta ao suspense, à admiração, do sofrimento à felicidade, da fragilidade humana à sua grandiosidade imensa, do fracasso ao sucesso, da alegria à tristeza, da mágoa à luminosidade e musicalidade, da existência terrena à leveza da dimensão metafísica…em suma, as várias dimensões que Luísa nos revela de forma sintetizada, condensada e, por isso, nem sempre fácil de identificar, mas mais profundo e interiorizado quando se descobre – o universo de Luísa extravasa a dimensão terrena…
O conjunto de trabalhos reunidos no tema Variações que Luísa nos apresenta nesta magnífica Casa da cultura não pode ser remetido a um efêmero olhar, pois ele pode ser redutor. As suas telas têm significantes e significados e, não estando presentes as palavras, estão as formas, o movimento, a cor e as técnicas artísticas que são expressão máxima que artista tem para nos oferecer, dando-nos a conhecer o seu universo e a sua complexidade enquanto Pessoa, rica e profunda, mas sempre em construção. Afinal a sua proposta é essa mesma: contribuir para que todos nós possamos tornando-nos mais Pessoas.
Arcelina Santiago
A Família- do profano ao sagrado até ao celestial…
As esculturas de Filomena Bilber na Casa Barbot - Novembro 2014
Filomena surpreendeu-me, surpreendeu-nos, com as suas esculturas, neste Natal, com a sua sagrada família e os anjos. O ato de nos surpreender é algo que nasce com os artistas. Os criativos veem o mundo de forma mais introspetiva e, por isso, têm o dom e o poder de nos chamar a atenção para algo que a nós, simples cidadãos, nos passa despercebido. Daí, a arte ser fonte da vida e ser ela que, pela reflexão, nos permite evoluir como Pessoas.
O homem enquanto ser grupal, procurou com os seus pares desenvolver laços e afetos. Eles estão presentes nesta família proposta por Filomena. Nela há harmonia e equilíbrio, presente nas formas, na postura, nos materiais utilizados. Na conceção desta obra, plena de simplicidade e leveza, transparência e suavidade, obteve-se o quadro perfeito da harmonia! Ele é inspirador da noção de família onde parece não haver desigualdades, discrepâncias, falta de liberdade ou opacidade de ideias. Sobre eles paira uma luminosidade perfeita, conseguida pelo dourado, muito suave, que abraça esta conceção de família, onde a principal luz vem de dentro, dessa harmonia que nos permite ser seres civilizados e mais humanos. Esta família tem algo de sagrado no sentido em que os afetos e a harmonia devem ser assim mesmo, mas traduz também aspetos do profano, no sentido de que ela é igual a tantas outras famílias, que se constituem com base nestes princípios.
Sobre ela, pairam outras figuras – os anjos! O campo celestial é concretizado pelos anjos, reveladores de uma dimensão mais metafísica e espiritual. Eles pairam sobre nós e vigiam-nos, reveladores de uma faceta que nos torna seres mais complexos e que fazem extravasar a mera dimensão física e terrena. Estes anjos de Filomena estão assentes na terra, simbolizando estar próximos dos humanos, ou não será assim que os quereríamos, bem juntos a nós, na sua dimensão de zeladores e guias do nosso caminho?
Obrigada Filomena! Deste-me, deste-nos um belo presente nesta época natalícia, com a tua obra: sermos chamados a refletir para a perspetiva humana, espiritual e também a celestial, aquela a que não temos acesso, mas que paira sobre todos nós, distraídos e errantes nos nossos caminhos conturbados. Que haja sempre este espírito de família, a família, agora com novos contornos e com outras evoluções, mas isso não importa, o mais importante é que ela seja afetuosa e harmoniosa, como o teu quadro de família tão bem demonstra.
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