Para além dos clichés
(apresentação de um projeto)
Desde o começo da crise económica
e da aplicação de medidas de austeridade que as imagens de Portugal e da
Alemanha, nos respetivos espaços, sofreram modificações devido às novas
dinâmicas económicas e sociais e às hierarquias de poder e dominação dentro do
espaço europeu.
Este projeto ensaístico multidisciplinar
da área político-social que organizei e apresentei, em colaboração com
especialistas selecionados dos dois países, é composto pela edição de duas
obras intituladas Contos por contar –
Alemanha e Portugal (ed. Orfeu, Bruxelas, 2014) e Pontes por construir – Portugal e Alemanha (ed. Bairro dos Livros,
Porto, 2015) e exprime uma vontade de
abrir um discurso novo sobre os dois países.
O objetivo é libertar as suas
imagens, através de reflexões teóricas e narrativas de experiências, dos
preconceitos negativos que penetram os discursos que os descrevem, sobretudo em
Portugal. A oposição entre o discurso que nasce no interior e se confronta com
o que cresce do exterior atravessa as obras e constitui um dos seus motivos
dominantes. Os episódios históricos, políticos, sociais ou culturais contados
ou discutidos acabam por tornar visíveis
os perconceitos e os clichés que circulam
sobre estes dois países para melhor os denunciar.
A variação de pontos de vista
adotados nestas obras, assim como a sua estruturação por temas diversos constitui
um dos seus pontos fortes. Abrindo o leque temático (História, Geografia,
Política, Educação, Investigação, Identidade, Cultura, Realidade e Ficção),
abrange um maior número de leitores. Com efeito, apreendido sob ângulos
diferentes em função da pessoa que se exprime, nativa ou estrangeira, cada país
acaba por melhor poder ser apercebido na sua globalidade.
Estas duas obras são acerca de
Portugal e da Alemanha mas pretendem ser, principalmente, sobre os
discursos que existem sobre estes países. Gostaria que levassem os leitores a refletir sobre a forma que tomaram estes
países no espaço discursivo sociopolítico português e alemão. Espaço esse,
imaginário, onde a falta de conhecimento das realidades vividas pelo outro traz
consigo um deficit de representações que arrastam e alimentam os mal-entendidos.
De facto, nesta situação, é a
língua que – através dos media que com a sua função política, penetram o
imaginário e permitem a hegemonia ou a submissão político-cultural – se torna o
veículo das mentalidades da época. Este projeto que desagua num trabalho analítico
quer provocar uma rutura no preconstruído inerente à circulação ideológica e
abrir caminho ao conhecimento mútuo.
Luísa Coelho
Leitora em Berlim do Camões –
Instituto da Cooperção e da Língua
Berlim, outubro de 2015
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