sábado, 24 de outubro de 2015

RECRDANDO Mensagem de Maria Barroso 2009


Mensagem

 

 

Retida em Lisboa por vários compromissos assumidos antes da marcação do Congresso da Mulher Migrante a que apenas assisti, presidindo à Mesa de Abertura com a Drª Manuela Aguiar e o Presidente da Câmara Municipal de Espinho, José Mota, não posso estar hoje convosco.

Lamento-o profundamente porque seria uma celebração da maior importância e entre as extraordinárias mulheres que vieram de várias comunidades espalhadas pelo mundo.

Foi-me extremamente agradável e até emocionante poder reencontrar queridas, corajosas e até ilustres amigas do Canadá, da Argentina, da África do Sul, do Brasil, dos Estados Unidos e de alguns outros lugares, cujo contacto é sempre para mim altamente estimulante. Elas estão por esse mundo fora prestigiando não só os países onde se integram, mas conquistando um grande prestígio também para o país onde as suas raízes afundam. É verdade que não vieram sós e acompanha-as um grande número de homens, também eles portugueses ilustres, que vieram reflectir connosco sobre os problemas que enfrentam as mulheres migrantes e dizer do que pensam das  experiências que juntos, mulheres e homens da diáspora têm tido.

Foi, pois, com mágoa que os deixei por exigência da minha presença num acontecimento importante na vida cultural do país e a que não podia faltar.

Também  no sábado teria de estar num encontro com a Governadora Civil de Lisboa e o Ministro da Administração Interna. Era tudo muito apertado para poder regressar a Espinho e celebrar convosco o Dia da  Mulher, como tanto desejaria fazer.

De qualquer modo não quero deixar de vos enviar a minha mensagem de solidariedade por esse dia que constituiu um marco importante na história do percurso da mulher em todo o mundo.

Gostava de ter lembrado convosco  os nomes de algumas das mais ilustres mulheres portugueses que lutaram pela emancipação da mulher, pelo seu direito a gozarem da mesma dignidade que era conferida aos homens e que lhes era negada.

As desigualdades que existiam entre ambos, a inferiorização a que foi sujeita durante séculos fizeram emergir algumas figuras que se revoltaram contra essa situação humilhante e desencadearam numa luta constante e determinada para a eliminar, conseguindo que numerosas e extraordinárias conquistas fossem alcançadas. O acesso à educação, à libertação do domínio do homem espartilhando e até anulando os seus direitos mais elementares, a conquista do direito de voto, a modificação do seu estatuto no Código Civil – tudo isso foi o resultado da luta corajosa da mulher para se sentir  - como hoje o consegue – em igualdade de posição com a do homem, ambos tendo hoje a possibilidade de afirmar e viver iguais direitos.

Através dos tempos ainda lembramos os nomes de algumas portuguesas ilustres. Mais afastadas, mas não menos empenhadas, vem-nos à lembrança Luísa de Sigein, a Rainha D. Filipa de Lencastre, a D. Leonor que se distinguiram no campo da Educação e da Cultura. Mais perto já de nós não esquecemos a médica Adelaide de Cabete, Ana de Castro Osório, Branca de Gonta Colaço e muitas outras que foram verdadeiras heroínas neste sector.

Ainda mais perto de nós Maria Lamas e Maria Isabel Aboim Inglês, duas extraordinárias mulheres que lutaram pelo respeito dos Direitos Humanos no que se refere a mulheres e também a homens. Elina Guimarães foi também uma dessas mulheres, ilustre e incansável lutadora até à sua morte, ocorrida há poucos anos.

Claro que a Revolução do 25 de Abril veio facilitar essa progressão no domínio desses Direitos.

E, apesar do que já foi conseguido na letra da lei, nos documentos que nos afirmam a igualdade entre mulheres e homens, ainda há que lutarmos para conseguir que esses documentos, essas declarações não sejam apenas intenções, mas uma prática constante, clara e inequívoca desses Direitos.

A nossa voz tem de ser ouvida tal como a dos homens porque somos duas metades da mesma Humanidade. As decisões que dizem respeito ao destino das duas metades terão de ser tomadas sempre com a participação das vozes e pareceres das duas.

Para que possamos caminhar para um mundo melhor – mais fraterno, mais justo, mais solidário e pacífico, abrindo horizontes de esperança a gerações futuras.

Queridos Amigos – um abraço muito afectuoso da vossa

 

                                                                            Maria Barroso Soares

 

8 – 3 - 2009

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