LANÇAMENTO do Livro de Elisabeth Battista
“ O Legado de uma ESCRITORA VIAJANTE”
Começo por
felicitar a Profª Doutora Elisabeth Battista, pela coragem e empenhamento que
tem dedicado ao Estudo sobre a Escritora ViAJANTE, Maria Archer, como lhe chama neste seu Livro.
Sinto que após a leitura do Livro que está
agora a ser lançado, com os mais diversos pormenores que a Autora conseguiu
recolher e que inseriu nos vários capítulos, fiquei francamente mais
esclarecida sobre Maria Archer, sobretudo
muito mais sensibilizada para a sua história de vida. E, isso, apesar do muito que fui conhecendo
sobretudo através de meu pai e posteriormente acerca da sua vida no Brasil.
Não tinha de
fato o conhecimento que agora melhor me permite avaliar passagem de Maria
Archer pelas diversas partes do Mundo,
sobretudo em África e pelas honras que mereceu, por virtude do seu trabalho, nem
sempre reconhecido, mas também pelas adversidades vividas que não merecia.
Era eu muito nova quando a conheci na minha casa, na Graça, onde vivi.
Lembro-me ainda bem da sua beleza. Figura excecional de Mulher, de intelectual
e de defensora de direitos humanos,
sociais e políticos, incluindo as Mulheres.
Só agora soube
que se fez representante da União das Mulheres Portuguesas Democratas, filiada
no Movimento das Mulheres Democratas Portuguesas para que tinha sido eleita Presidente.
Gostei muito de ter conhecido esta sua
decisão, através deste Livro.
É chegada a
altura de esclarecer que ao contrário do que consta do Programa e do Livro
agora lançado, eu não sou sobrinha de Maria Archer, com o que teria muita
honra, mas apenas prima em segundo grau. Meu pai era primo direito dela e foram
muito amigos. O pai de Maria Archer era irmão de minha avó paterna- alentejana
também.
Foi através de
meu pai que começou a minha grande
admiração e até estima por Maria Archer,
como Mulher, escritora e política. Na altura eu tinha uma mãe monárquica e um
pai republicano e esse conflito de ideias, fazia parte do nosso dia a dia,
convivíamos com a política, daí estar, desde então habituada ao debate sobre
questões políticas.
A sua capacidade
criativa era a todos os títulos excecional e diversificada. Além dos escritos
jornalisticos, Conferências feitas em diversas Instituições Culturais,
Políticas e outras, saliento, a propósito as conferências que, por exemplo, fez no Liceu
Pedro Nunes para Jovens, que muito a admiraram – relato feito por meu marido que foi aluno desse Liceu – e que, desde então, passou a ser um seu grande admirador.
E um dia soube do
seu infeliz regresso a Portugal, a seu pedido. Por eu estar ligada a trabalhos sobre a Emigração
fui sabendo um pouco mais sobre a sua Vida e Obra , o que melhor me permitiu
apreciá-la.
Recentemente, de forma inesperada e através de
e-mail enviado do Brasil para a Drª Manuela Aguiar, conseguimos contatar em S.
Paulo, durante uma Reunião da Associação Mulher Migrante, com as 2 irmâs Blanche de Bonnville e Maria Jorge
de Bonnevillle, que a tiveram como percetora na sua casa de S. Paulo. Ambas continuam
a ter por ela uma enorme amizade e
reconhecimento.
Como testemunho
dessa amizade, estão publicados pequenos textos das duas referidas Senhoras, na
Revista desta Associação, “ A vida e Obra de Maria Archer – Uma Portuguesa na
Diáspora” sobre o Encontro realizado em Lisboa, em sua Homenagem, ( dia 29 de
Março de 2012), no Salão Nobre do Teatro
da Trindade, que teve também como Parceiros a Fundação Inatel, a Fundação
Fernando de Pádua, a Câmara Municipal de Espinho e a Associação de Estudo,
Cooperação e Solidariedade.
Como todos sabem e
eu já o referi, a capacidade criativa de Maria Archer, foi a todos os títulos
excecional e diversificada.
De fato, agora que
mais recentemente tenho relido algumas das suas Obras , melhor posso
confirmar essa sua capacidade.
Recordo, por
exemplo, um texto por ela escrito em 1964, num Jornal do Brasil “Portugal
Democrático”, nº 83, de Maio de 1964, sobre a Reforma Agrária no Séc X1V. em
Portugal:
Começa assim: “
Lendo há dias a CRONICA DE D. FERNANDO do venerável Fernão
Lopes ……
“
“…. É também de
notar que no Portugal do século XIV já
se reconhecia o valor social da propriedade imobiliária e a prioridade desse
merecimento sobre o direito de posse sempre que estivesse em causa a
sobrevivência do Reino. O princípio político da encampação da empresa agrícola
mal administrada ou, ou subtraída à
utilização pública, isto é, desviada do serviço social da Nação, ressalta
nitidamente desta legislação medieval.
Mais ainda:
Encontramo-nos aqui na presença dum postulado que não aparece em nenhum dos
projetos de Reforma Agrária contemporâneos e chegados ao meu conhecimento – o
de que a indemnização devida ao proprietário ”constrangido” seja “razoável “ e arbitrada pela Justiça, após o
que não havendo entendimento entre as partes o direito de posse seria
confiscado ao proprietário, e suas terras entregues ao “bem comum”.
Não entendo
integralmente este termo “bem comum” por
estar acentuado de “onde o houvesse” . Cuido que Fernão Lopes se referiu a bens
concelhios ou municipais, não aos do Estado.
possivelmente logradoiros ou baldios. Se o cronista quisesse indicar
bens do Estado teria empregado a palavra “Reino”….
“Não pode haver
qualquer dúvida, após esta breve leitura da secular existência, em Portugal, do
princípio político da encampação da propriedade, se a mesma tiver sido desviada do seu fim
de utilidade social , e com indemnização ao proprietário. Se alguém
voltar a afirmar- me que esse aspeto da questão agrária foi gestado pelas
filosofias do materialismo dialético, protestarei e dando o seu a seu dono
recomendarei ao ignorante que estude a legislação do século XIV.”
E além disso, poderemos, por exemplo, encontrar nas Revistas Municipais de Lisboa, entre 1939, 1940,
1941. 1942, 1943 e 1945, artigos de Maria Archer entre os quais se abordam
assuntos, como eles dizem “pitorescos e
intimidades citadinas”
Assim num Artigo
de 1939 sobre “TIPOS POPULARES” é
referido que os traços que Maria Archer
documenta podem parecer-nos hoje comezinhos… mas terão para gerações
vindoiras, justamente por terem aspetos flagrantes do viver de muitos, um
interesse de “documentário anedótico” .
Entre os diversos TIPOS
POPULARES, escreveu sobre:
PORTEIRAS Rev.
nº 2 Ano de 1939
O ARDINA “
nº3 “ “
1940
A PEIXEIRA “
nº4 “ “
1940
A CRIADA “
nº 5 “ “
1940
O MOÇO DE
RECADOS nº 8/9 1941
O COCHEIRO Nº 10 1941
O PADEIRO Nº 11 e 12 1942
OS GANGAS Nºs
13 e 14 1942
O ENGRAXADOR Nºs
24 e 25 1945
Esta diversidade
simboliza bem a capacidade crítica
da autora, sobre Figuras Tradicionais do SÉC
XX e que hoje quem com a minha
idade se lembra, acha FANTÁSTICA ESTA
CARACTERIZAÇÃO Razão tinham aqueles que em 1939
se lembraram dos TIPOS POPULARES a pensar nas gerações vindoiras e no
trabalho de Maria Archer, sobre esta realidade da vida desses tempos.
24 de Setembro de 2015
Rita Gomes
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