CAMINHOS para a PAZ
O Conto, o Dialogo e … que mais?
Maria
Victoria Fonseca Cardoso Lopes Pereira
EMIGRANTE
PORTUGUÊS - Ao
meu filho Mário Manuel
Chocados
e magoados
Os
"colonialistas"
Abandonavam a terra
que
lhes dera o ser
Outros,
de direitos mais
direitos
lha reclamavam
e negavam direitos
da sua cultura
enaltecer
Espezinhados, despresados,
Surpreendidos …
Sua rejeição e emoção
Se misturavam com
tremidas
Tentativas
De quebrar a noite
Da sua ignorante
confusão…
Os
inadequados, ou temerosos
Partidos, sofridos,
axincalhados,
Qual novos judeus
De trouxas às costas
E filhos às pernas
colados,
Se atiravam aos mares
e ares
Cruzando fronteiras
Em busca da
"Pátria Nova"
Uns partindo para a
bela terra "irmã"
Que lhes fazia
fronteira
Encontravam sucesso …
uns…
Outros so desilusão…
E
famílias assim eram destroçadas
Por ideias cruzadas,
conflituosas,
Cardosas
Novas vagas
gigantescas se ergueram
Como as que outrora
seus antepassados
Enfrentavam quando o
Cabo das Tormentas
Ousados cruzavam
E como
eles, orgulhosos e briosos
Contra essas ondas
tremendas
Seus peitos possantes
e generosos
oferecendo
Onde sempre lhes bate
Honrado e forte
O coração!
@ Maria
Victoria Pereira
Como talvez se recordem, no séc. XVII, o rei D João IV ofereceu a coroa real à Virgem Maria, Padroeira de
Portugal – nenhum rei Português usou
a coroa depois disso.
Na minha família em
Portugal, há uma imagem da Virgem que faz parte da sua história,
sou neta de Fonseca Cardoso, o iniciador
da estudo da Antropologia Colonial Portuguesa. Essa imagem é guardada com muito respeito, e isso porque, diz
que, quando foi do terramoto em Lisboa,
em 1775, a família de então, aterrorizada com os rugidos e tremores da Mãe Terra, se juntou à roda dessa imagem da Mãe do Mundo, rezando o rosário,
e que tudo desmoronou à volta deles, só ficando intacto o sítio
onde estavam.
Sou de Moçambique e
em criança não era muito devota da Virgem, tinha tendência para protestante. No
entanto, houve coincidências que me fizeram dar-lhe mais atenção, refiro-me a isso na minha novela ‘Under a Swirling Sun (1) (‘Sob um Sol em Rodopio’).
Vivo na África
do Sul desde 1976. Trabalhando e com filhos, estudei à noite pela UNISA e cheguei a
leccionar numa Universidade de Durban. O tema da minha pesquisa foi culpa do
meu supervisor! Sim, pois com surpresa minha, aconselhou-me a estudar o culto da Virgem Maria entre os
Portugueses na África
do Sul, e o elo entre a
Religião e as Portuguesas em Durban. Mas ainda bem, pois deu-me uma nova
perspectiva sobre essa Mulher bíblica, a Mãe
de Cristo e lançou-me numa aventura de criação e compartilhaçao que me trouxe
agora aqui, sentindo eu assim fechar-se, um círculo iniciado há 50 anos com
uma estranha coincidência.
Como se sabe, as Portuguesas da África do Sul, vieram sobretudo
da Madeira (cerca de 80%) e de Portugal, e mais tarde de Angola e Moçambique,
estas empurradas pelas guerras de libertação das ‘Provincias Ultramarinas’. A
maioria nem falava Inglês. Cheias de fé
e coragem, adaptaram-se, trabalhando àrduamente e com pouco reconhecimento,
e às vezes até sofrendo ver o esposo assassinado,
na onda de crime que invadiu o pais, e que está a causar uma nova migração. As
que se juntaram a Igrejas Protestantes, cedo fizeram amigos Sul-Africanos, mas
as que continuaram em igrejas Católicas Portuguesas, mantiveram mais a sua
cultura. A religião pode ser um elo de integração ou um factor de
desintegração. A família é o grande
apoio destas mulheres, mas infelizmente, os descendentes às vezes
já nem falam Português, e elas, envelhecem, isoladas.
Os jovens, são hoje, certamente mais conhecedores, mas a experiência
também é conhecimento. São por isso importantes
os lares, os clubes, as actividades como o teatro e a pintura, e projectos que visem a atrair Jovens e a
contribuir para uma melhor coesão social. Foi essa a finalidade do livro ‘Caminhos do Sentir’ (2) - publicado pela Liga da Mulher
Portuguesa na África do Sul, em Português, e em Inglês,
com o titulo ‘Pathways of Feeling’ - uma ‘Colecção de Estórias Contadas por
Portuguesas em África, escritas por elas próprias ‘, fruto de reuniões de escrita criativa no Cabo, Pretoria,
Joanesburgo e Durban, talvez a primeira colecçao no género, na África do Sul. Essa obra foi oferecida
a um Lar em Joanesburgo para usufruto do produto
das vendas.
Mas infelizmente em todas as
sociedades há sentimentos negativos, e uma inclinação para o silencio atrofiante, como no
caso desse livro. O Projecto fora subsidiado generosamente por um Banco Português em Joanesburgo, que no fim quis que
os direitos ao livro (copyrights) fossem
também oferecidos a esse Lar. A coordenadora, autoras e a publicadora, a Liga
da Mulher Portuguesa na África do Sul, primeiro discordaram, mas acabaram por aceitar, as
autoras requerendo então que pelo menos mantivessem os direitos às suas próprias estórias, o que foi
aceite.
E assim, o projecto viu a luz do dia! E
depois?
Em Durban venderam-se imediatamente
bastantes livros.
E depois?
- ‘Não tinham que dar satisfações’, foi a
resposta de Joanesburgo.
A
coordenadora, desapontada e cansada, eventualmente desistiu. Desligou-se também
da Liga da Mulher pois não sentiu o apoio que, na sua opinião, o caso merecia.
Qual a razão do aparente fracasso desse
Projecto? Não sei!
Mas, felizmente, nos jornais Sul-Africanos
apareceram artigos laudatórios:
‘Vocês
vão rir, chorar, e pensar duma maneira diferente sobre os imigrantes depois de
lerem estas deliciosa compilação de estórias…’ Ingrid Khumalo, Natal
Mercury, 2009-04-02
Os contos dessas
Portuguesas contribuiram para uma nova visão do Português geralmente visto só como
o estrangeiro, o dono do ‘tea room’, o católico que quase não falava o Inglês, e
ainda pior, que era competição, pois era um bom operário e especializado.
O conto, como a pintura, abre canais de
comunicação, com o público,
entre o público, também
com nós próprios.
O Livro afinal, não foi um fracasso!
A estória para crianças, ‘A Borboleta
do Arco-Iris’(3) (The
Rainbow Butterfly), em Inglês, Português, e também em Zulu, foi escrita
para compartilhar uma experiencia espiritual quando da trágica morte dum filho e
para ajudar um netinho de 5 anos preocupado com a morte. O efeito que teve nele
e depois nas crianças dum orfanato, foi surpreendente! Essas crianças, que
nunca sorriam e nem uma linha traçavam, começaram a desenhar borboletas e arco-íris e a colorir os seus desenhos, e contentes, a querer contar a
estória às outras
crianças, o que levou as professoras a aconselhar o pedido dum subsidio ao Departamento de Educação
e Cultura na África
do Sul para sua publicação, o que foi concedido!
O
compartilhar tem o poder de inspirar e até de curar!
Sobre a novela
‘Under a Swirling Sun’, escreveu o
Sunday Tribune:
‘uma narrativa comovente ... corajosa e que nos inspira. …uma reflexão
pungente sobre o passar duma era e a reemergência duma nova ordem … que ressoará no intimo de muita
gente…’ Vivian Attwood, 2013-04-21
O livro ‘Igreja de S José – Greyville, Durban
1980-2010 – 30 anos de Serviço à comunidade Portuguesa’ (4), em Inglês
e Português (bilingue) com
fotografias coloridas, é um relato histórico desta interessante Igreja em Greyville, Durban
- que foi oferecida aos Portugueses para veneração pelo falecido e muito
conhecido Arcebispo Rev. Dennis E. Hurley – com fotografias dos Portugueses que
generosamente participaram na sua restauração e manutençao.
‘Whispers
in the Wind’(5),
é
uma colecção de poemas, publicada por instigação dum Professor
Sul-Africano, que, impressionado com o poema ‘Emigrante Português’ e outros, aconselhou que fossem ‘compartilhados’,
isto em 1993.
No
Curriculum Escolar para as Escolas na Africa do Sul, de 2011-2013, estão dois
poemas da mesma poeta Portuguesa Sul-Africana, ‘A Walk through the Woods’, e
‘T.V. and the Rest’, sobre a liberdade de escolha e o efeito controverso da
tecnologia. Não é
mais uma contribuição para uma percepção positiva do que somos nós, os Portugueses?
Diz
que ‘Os políticos fazem as guerras, mas os escritores ‘mudam o mundo’…
Nesta era de
ideias conflituosas, o diálogo é mais
pertinente do que nunca. A Televisao é um meio poderoso de espalhar os ‘virus da mente’(6) que se infiltram no sub-consciente
sem sequer darmos por isso – como teorias ‘baseadas em factos’ mas que analisadas são
superficiais ou incorrectas. Recentemente alguém dizia que o materialismo
cientifico é que salvará a humanidade, proclamando que o
mundo está muito melhor,
já nem existe a
escravatura, nem tantas guerras!
Fiquei pasmada! O mundo está melhor? Quantas guerras já tivemos
em tempos recentes? E que diremos do diabólico tráfego de crianças para
prostituição agora, no nosso tempo?
Peter Hitchens, o jornalista britanico, (7) que se converteu ao socialismo
materialista e que esteve anos na Rússia e depois na Somália, ficou chocado com a degradação moral da população e do governo,
nesses países. Quando voltou à Inglaterra ficou surpreendido com o declinio nos valores morais da
juventude…
Em conclusão… o tal jornalista re-converteu-se!
Voltou a ser cristão!
Se tiramos Deus da equação, o código moral
tem pés de barro e cedo se desmorona… Que
aconteceu na Rússia? O povo ficou mais pobre e alcoólico do que antes. Quanta
gente tem sido assassinada em nome do marxismo?
E, não confundamos religião com o
apropriamento da religião para fins políticos.
Depois da queda do apartheid na Africa do Sul, observou-se
um desinteresse no ensino religioso, quando não foi eliminado. Agora também há professores
que perguntam se não será essa a causa dum pernicioso enfraquecimento moral na
juventude – até com casos de violações de mulheres estudantes nos centros de
ensino.
O materialismo não pode provar a não-existencia de Deus e não
podem também os cristãos provar a Sua existência. Mas, e que pensar de fenómenos como em 1917, o Milagre do Sol em Fátima, ‘cientificamente inexplicável’, que teve lugar no
mesmo ano que o marxismo tomou posse da Russia? Visto por mais de 70.000
pessoas?! Note-se que o Sol dançou aproximando-se da Terra por mais de 10
minutos. O chão e as pessoas estavam encharcadas, pois chovera torrencialmente
desde o dia anterior. Pois, quando tudo terminou, estavam todos e tudo,
absolutamente seco! Dizem os cientistas que seria necessário para isso, um grau
de calor que teria incinerado toda aquela gente!
Segundo o historiador W.T.Walsh (8) temos de dar atenção ao pedido feito por
aquela ‘Senhora com um Plano de Paz para o Mundo’, a mensagem que inclui profecias de futuros
desastres e guerras ‘se o povo se não arrepender e rezar’, incluindo também um controverso pedido de ser
feita uma consagração especial da Rússia.
O Circulo de Teólogas Africanas Conscientes
(CCAWT) em 2005 lançou nos Camarões, o livro, “Tempo de Mudar, Tempo
de Agir” (9), de que fui coordenadora.
Esse livro, em Português, escrito por Mulheres de Moçambique e de
Angola, é uma colecçao de reflexões sobre Deus e sobre a SIDA, no
contexto das suas igrejas, famílias e comunidades, e em que elas mostram a necessidade dum novo
estudo ´mulherista’ da Biblia, em diálogo aberto com os textos, e incluindo homens no diálogo - lembremo-nos
que o patriarcalismo tem origens na religião.
Somos Mulheres,
somos Mães, temos poder!
Usêmo-lo!
Quase cem anos
depois do facto, a ‘mensagem de Fátima’ também ainda está a causar vibrações e
discussões. Houve em Setembro, uma Conferencia no Canadá, sobre esse tema, com 28 oradores - alguns advogados e
jornalistas, e alguns nem sequer Católicos.
Quem nos garante que o nosso Futuro, dos
nossos Filhos e Filhas, não depende da aceitação humilde - pelo menos por um número suficiente – desse outro ‘Caminho para a
Paz’, dessa mensagem ‘extra-terrestre’ entregue a três crianças, por essa
‘Senhora feita de Luz’, pela‘Mãe do Mundo’? Uma honra para nós,
Mulheres!
Lembremo-nos que
Cristo louvou o Pai por se revelar a crianças e não aos eruditos e aos
prudentes.
Obrigada.
Durban,
2013-10-25 @ Maria Victoria Fonseca Cardoso Lopes Pereira
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Referencias:
(1) - Maria
Victoria Pereira, ‘Under a
Swirling Sun’ (amazon.com e e.kindle).
(2) - ‘Caminhos do
Sentir’ e ‘Pathways of Feeling’ coordenado
por Maria Victoria Pereira,
publicado
pela Liga da Mulher Portuguesa na Africa do Sul, oferecido ao Lar Rainha
Santa Isabel
em Joanesburgo.
(3)
- Maria Victoria Pereira, ‘A Borboleta do
Arco-Iris’ / ‘The Rainbow Butterfly’
(4)- “
“ “ ‘ Igreja de S
Jose’
(5)- “ “
“ ‘ Whispers in the Wind’
(6) - Richard Brodie, ‘Virus of the mind’
(7) - Peter
Hitchens , ‘The Rage against God’- o livro que, juntamente com o do seu irmão
Christoper Hitchens, ‘Hitch 22-a memoir’, foi considerado, pelo Secretario de Educaçao
britanico, como um dos dois livros mais bem
escritos de 2010. Christopher no seu
livro
explica porque se tornou ateu e Peter, que
também se tornara ateu e reira,
publicado pelo
Circle of Concerned African Women
Theologians (CCAWT)
depois
voltou a cristão,
escreveu o seu livro em resposta ao do seu
irmão.
(8) - W.T Walsh, ‘A
Peace Plan from Heaven’
(9) - ‘Tempo de Mudar, Tempo de Agir’- coordenado
e editado por Maria Victor