Comunicação no diálogo
com os Artistas presentes no Congresso da Mulher Migrante
Palácio das
Necessidades - Lisboa – 2013
24/25 outubro
“ Uma ponte entre
Porto e Nagasaki “
Todo
o rio e toda a ponte traduzem-se para mim em fascínio.
Todas
as pessoas gostam de caminhar por cima da água, pois existe uma dimensão
metafísica.
As
pontes têm um valor utilitário, estético, lúdico e podem inclusivé serem um
lugar de encontro e de confluência.
A
ponte liga, une, nunca separa.
Tenho
um encantamento por pontes, sobretudo aquelas que passam por cima da água.
Poderia
afirmar que há mais de uma década sou toda água.
A
água para mim é um núcleo da criatividade, pois salto da minha zona de
conforto, a terra.
A
mulher portuguesa é uma mulher forte, criativa e que ultrapassa as dificuldades
tanto dentro como fora do país.
A
minha obra tem percorrido a diáspora. É uma ponte que desenho com outras
culturas e outros saberes.
O
Porto, minha terra natal e onde vivo, convive harmoniosamente com 6 Pontes de
grande beleza e audácia.
Os
rios e principalmente o Douro, na sua foz exala qualidades para mim quase
míticas de segredos bem guardados de vida secreta do mundo inferior.
Olho
o rio e pela minha mente passam cores. Desde os tons de azul celeste, pêntalo,
cobalto, índigo, conzas, passando aos verdes lodosos, rosas pálidos e brancos.
Estes
últimos pertencem certamente a seres que se lançaram nas águas em busca de
segredos ocultos nas ‘barcas’ da passagem.
Nos
trabalhos que estou a elaborar, deixei-me enlevar quase numa atitude hipnótica
e entusiasmante pela curvatura do arco. Desvalorizei quase por completo outros
elementos que compõem a obra de arte aproximando-se à feminilidade da mulher –
o esplendor da sua gravidez.
Certamente
que às vezes sinto-me à deriva e questiono-me sobre o rumo criativo a tomar
quanto ao tema, pois o plasmo há anos.
Contudo,
o fascínio assiste-me e a força energética benéfica e forte que me faz pulsar o
coração, faz com que o meu olhar seja autónomo desprendendo-se do meu ‘eu’ e
religue-se a outras descobertas por vezes enigmáticas e imaginadas da graça e
beleza da linha.
De
olhos bem abertos e sozinha, recrio no silêncio do atelier apenas com o som das
gaivotas e dos pássaros e tendo apenas como companheiro o imaginário, recrio
arcos e arcos de pontes.
Partindo
deste pressuposto, desenhei um arco de ponte tendo como objetivo a exploração
de um mundo distante – o país do sol nascente – o Japão.
Surgiu-me
assim uma luz quanto à história de uma civilização distante mas ao alcance da
minha mão, desenhando apenas um arco de união. Um rumo inesperado da mente
conduziu-me a uma direção que parecia não existir no dia anterior. Um encontro
com outro imaginário que explorei com métodos e metodologias interpretativas
que se iriam aproximar de outro sentir do espírito humano.
Assim,
surgiu o haiku escrito em haikai no ano que o Porto celebra 35 anos de
geminação com Nagasaki e 470 anos de amizade Portugal/Japão.
Foi
um trabalho árduo em direção ao insondável com imprevistos, recomeços,
descobertas e recaídas na sua escrita.
Desejava
também eu, através da escrita, evidenciar a natureza reflexiva quase meditativa
que os haikus nipónicos nos oferecem assim como a fluidez da sua pintura.
Abeirei-me
deste trabalho plástico e poético com humildade e timidez mas com insistência
em tatear este rumo ainda muito desconhecido.
Trabalhei
em territórios estranhos para mim, especialmente quanto à forma da escrita. No
final, surgiu o meu livro ‘Juncos
Oscilam Breviário do Espanto’, que
já se encontra no Japão.
Fui
uma viajante, tanto no sentido literal como no sentido figurado, na aproximação
a uma cultura que me fascina.
O
meu espírito ao terminar os meus poemas ligou-se com a serenidade, a
transparência e também ao ato reflexivo que os haikus nipónicos nos comunicam.
De certa forma os meus igualmente tocam no entender do Prof. Albano Martins o
mesmo sentimento quando afirma no seu texto “… deixam transparecer uma delicadeza que se casa bem com o espírito do
haiku japonês, o espírito zen”.
Igualmente,
o Dr. Miguel Cadilhe acrescenta no seu início do seu comentário, “… que este pequeno breviário serviria para
ler, reler e meditar.”
Numa
manhã de Agosto
a bomba
calou a andorinha
que
cantava em Ariake
原爆が GENBAKU GA
有明つばめの ARIAKE TSUBAME
NO
歌を奪ひき UTA O UBAIKI
Toda
a Humanidade é um núcleo e em conjunto, nos religamos em sintonia e união com o
Cosmos…
Isabel
Saraiva, em 15.10.2013
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