Quando decidi falar da mulher migrante e de arte, lembrei-me do nome que descobri na adolescência...Vieira da Silva, confesso que só depois me apercebi que aquela pintura magnífica era de uma muher...Maria Helena. Afinal a pintura podia ser metafísica, abstrata e bela.
Partiu, mas nunca se afastou de todos aqueles que a procuraram e que fizeram da diáspora a sua causa, ainda que muitas vezes interior. Com ingenuidade, descobri nas reproduções de Vieira da Silva dias de rigor e encanto, de estranhas perspectivas, cores entrelaçadas e as magníficas bibliotecas, para as quais não tenho palavras. Por tudo isto, Vieira da Silva - artista e mulher tem um lugar muito especial, mesmo ao lado da metáfora mais bela - o conhecimento da intuição.
praia da granja pintora ana maria
A ASSOCIAÇÃO "MULHER MIGRANTE" ABRE ESTA TERTÚLIA A CONVERSA SOBRE AS MIGRAÇÕES E AS DIÁSPORAS PORTUGUESA E LUSÓFONAS. VAMOS FALAR DA NOSSA ASSOCIAÇÃO, DAS INICIATIVAS QUE ESTAMOS A DESENVOLVER E DA FORMA COMO PODEM COLABORAR CONNOSCO. UM CONVITE DIRIGIDO, POR IGUAL, A MULHERES E HOMENS, DE TODAS AS IDADES, EM TODAS AS LATITUDES.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
COMUNICAÇÃO CUSTÓDIO PORTÁSIO
Autor: Custódio Portásio, 33 anos, viveu em Portugal até 2001 e em França até 2006, nos últimos 5 anos tem vivido no Luxemburgo. Estudou gestão e organização de empresas, têm um mestrado em auditoria financeira e actualmente prepara um doutoramento em ciência política. É um professional do sector finananceiro lulxemburguês, onde exerce actualmente um cargo de direcção. Dirigente associativo, participa há 16 anos em diferentes projectos associativos, sociais, culturais, políticos e de promoção da cultura e língua portuguesas. Político amador nas horas vagas, curioso de espírito, “vagabundo das comunidades” por adopção e cidadão
do mundo por natureza.
Exmo. Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário,
Exmo. Sr. Deputado eleito pelo Círculo Europa, Dr. Carlos Gonçalves,
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal da Maia, Dr. António Gonçalves Bragança Fernandes
Exma Sra. Presidente da Direcção da Associação Mulher Migrante, Dra. Rita Gomes,
Exma Sra Presidente da Assembleia da Associação Mulher Migrante, Dra. Manuela Aguiar,
Caras amigas, caros amigos,
Começo por agradecer o convite que recebi da Associação Mulher Migrante, na pessoa da Sra Presidente da Direcção, Dra Rita Gomes.
É para mim uma honra estar aqui presente e participar pela segunda vez no Encontro Mundial de Mulheres
Portuguesas na Diáspora e neste congresso como orador no painel “Trabalho e Empreendedorismo no
Contexto da Integração e do Regresso”.
Não sendo um especialista em matéria de empreendedorismo feminino, manifesto um interesse particular
pelas dinâmicas associadas ao empreendedorismo em geral e em particular ao empreendedorismo feminino,
jovem, social e migrante.
Como residente no Grão-Ducado do Luxemburgo, é deste país que vos apresentarei algumas das iniciativas
promovidas pelo espírito empreendedor luxemburguês e que se consubstanciam em boas práticas a serem
divulgadas. Práticas essas que se destacam ao nível das mais variadas vertentes do empreendedorismo,
nomeadamente por aquelas que atrás mencionei e que se manifestam na promoção do empreendedorismo,
da mobilidade e da inovação, factores de sucesso que em períodos de crise constituiem um incentivo ao
crescimento económico a médio e longo prazo e à excelência do modelo económico do país.
Começarei por uma pequena revista de imprensa de enquadramento, relativa ao tema deste painel
e num segundo momento apresentarei brevemente alguns projectos desenvolvidos no âmbito do
empreendedorismo feminino.
Primeira parte - Breve revista de imprensa…
” A equipa de Femmes magazine lança hoje o seu portal internet dedicado às mulheres. (…)
Não havia nada e pareceu-nos que tinhamos legitimidade para o criar [frase de Maria Pietrangelli e Patricia
Sciotti]. ”
Paperjam, 24 de Novembro de 2011
” Lançamento dos troféus Inspiring Woman of the Year & Top Company for Gender Equity, ao nível da
Grande-Região. (…)
Organizado pelo Grupo Moraru no âmbito da responsabilidade social do grupo, sob a designação de
Womens Leaders in Europe, em parceria com a ESSEC Business School e com o patrocínio de Viviane
Reding, Vice-Presidente da Comissão Europeia, responsável pela Justiça, Direitos Fundamentais e
Cidadania. (…)
Inspiring Woman of the Year propõe-se reconhecer a importância dos modelos que inspiram e influênciam
as mulheres, destacando aquelas que não só tiveram sucesso nas suas carreiras, como inspiram quem as
rodeia e motivam os mais novos.
Top Company for Gender Equity propõe-se reconhecer e homenagear uma organização que apresenta
resultados mensuráveis no recrutamento, manutenção e evolução de uma percentagem equilibrada, entre
homens e mulheres a todos os níveis hierárquicos.”
Agefi, Outubro de 2011
“As mulheres são agentes da mudança (…) enquanto mães e irmãs, professoras e médicas, artistas e
artesãs, empresárias e empreendedoras. ”
Rainha Elisabeth II, extracto do discurso pronúnciado no Dia da Commonwealth, 14 de Julho de 2011
” Women Leaders in Europe : As mulheres nos conselhos de administração… quotas ou não ?
Em 2002, a Noruega era o primeiro país a impor quotas de mulheres nos conselhos de administração. (…)
Hoje, nese país nórdico, há uma percentagem elevada de mulheres nos conselhos de administração : 44%.
A seguir à Noruega, segue-se a Espanha, que em 2007 dotou-se de uma lei impondo a partir de 2015 pelo
menos 40% de mulheres nos conselhos de administração, e mais recentemente a França também legislou
sobre o lugar das mulheres nos conselhos de administração.
No Luxemburgo, a Ministra para a Igualdade de Oportunidades exprimiu-se contra as quotas, mas é a favor
de uma participação equilibrada de mulheres e homens na tomada de decisão. ”
Agefi, 7 de Fevereiro de 2011
” A Gëlle Fra (estátua da mulher dourada, parte integrante do monumento aos mortos das duas guerras
mundiais, deslocada para a exposição mundial de Shangai e que antes de voltar ao lugar de origem, integrou
uma uma exposição tenmporária) reuniu mais de 70 participantes no evento Connected Women organizado
pela PwC Luxemburgo.
Mais de 70 mulheres empreendedoras, líderes e artistas de reconhecido valor no Grão-Ducado
do Luxemburgo e da Grande-Região encontraram-se (…), uma oportunidade para estas mulheres
confraternizarem em torno de um tema cultural e num ambiente descontraído. ”
Paperjam, 24 de Janeiro de 2011
” Segundo um estudo mundial da Accenture, a resiliência é uma competência indispensável às mulheres para
progredirem nas suas carreiras.
Os quadros dirigentes de todo o mundo estimam que a resiliência, ou seja, a capacidade de responder a
desafios e a transformá-los em oportunidades, é uma qualidade essencial para progredir na carreira.
Estima-se que as mulheres sejam ligeiramente mais resilientes (53%) do que os homens (51%). ”
Accenture, Março de 2010
” De 19 a 22 de Novembro de 2003 teve lugar o lançamento do projecto de investigação europeu Gender
training methods partnership, co-financiado pela Comissão Europeia no âmbito do programa Socrates
Grundtvig 2. (…)
O projecto focaliza-se sobre os métodos pedagógicos utilizados no domínio do género, ou seja, na igualdade
de oportunidades entre homens e mulheres na formação contínua.”
Agefi, 1 de Dezembro de 2003
Segunda parte - Alguns projectos levados a cabo no Luxemburgo…
PAN Igualdade – Plano nacional de igualdade entre homens e mulheres, lançado em 2006, pela Ministra
para a Igualdade de Oportunidades, Françoise Hetto-Gaasch e reconduzido para o período 2009-2014:
www.mega.public.lu/actualites/actu_min/2010/02/pan_egalite/index.html
International Cross-Mentoring Program for Women at Board Levels – Lançado por Rita Knott:
www.cross-mentoring.net & www.femaleboardpool.eu
Inspiring Woman of the Year & Top Company for Gender Equity – Lançado por Clara Moraru:
ambos explicados num dos “retalhos” de imprensa já mencionados: www.inspiringwomen.lu
Plano de acção a favor da diversidade na empresa – Lançado por Robert Denneald, presidente da Fedil -
Business Federation Luxembourg:
www.agefi.lu/Mensuel-Article.aspx?date=Nov-2011&mens=172&rubr=1127&art=14887&query=fedil+lance+plan+action
Femmes Leaders – associação presidida por Eliane Fuch, que visa preparar as futuras gerações de
mulheres líderes e contribuir para que as mulheres participem activamente no desenvolvimento económico,
na criação de emprego, na gestão estratégica e na performance das empresas.
Femmes Leaders organiza anualmente a Leadership Academy: www.femmesleaders.eu
FFCEL – Fédération des Femmes Cheffes d’ntreprise du Luxembourg – criada em 2004, a federação
recebe mulheres que estão ou que se querem lançar no empreendedorismo no Luxemburgo.
O lema da actual presidente da associação, Miriam Mascherin é “sinergia, responsabilidade e visibilidade”.
Esta associação incentiva a mulhere a acedere às funções de direcção, forma-a e informa-a, ajuda-a a
resolver problemas relacionados com o exercício das suas actividadese e apoia-a junto da classe política:
www.ffcel.lu
Conseil National des Femmes du Luxembourg – organismo de investigação e de informação sobre o
direito das mulheres: www.cnfl.lu
Cid-femmes – Centro de informação e documentação sobre as mulheres.
Foi criado em 1992, por um grupo de mulheres que pertenciam ou eram próximas do Movimento de
Libertação das Mulheres no Luxemburgo (MLF).
Este centro promove, através de uma biblioteca pública com cerca de 26000 obras, a informação sobre as
mulheres ; sensibiliza o público em geral, nomeadamente mulheres e jovens, através de formações diversas
visando a transformação dos papéis tradicionais atribuídos na sociedade aos homens e às mulheres.
Promove a investigação sobre as mulheres e a evolução dos movimentos feministas no Luxemburgo e na
Europa : www.cid-femmes.lu
Femmes en détresse – a associação tem por objectivo oferecer às mulheres, às suas crianças, e às
jovens meninas uma protecção eficaz contra a violência, através do desenvolvimento e gestão de casas de
acolhimento para mulheres et jovens meninas em situação de perigo ; centros de informação e de consulta.
Esta associação contribui para o melhoramento das condições de vida das mulheres, ajudando-as a
integrarem-se na vida económica e social, garantindo-lhes uma ajuda psicológica, jurídica e social e
oferecendo-lhes formações específicas : www.fed.lu
Antenne d’Écoute – é um serviço multi-língua (português, espanhol, italiano, francês, inglês e indi) criado
em 2008 pela Associação Amizade Portugal-Luxemburgo, por iniciativa de Teresa Pignatelli, consultora em
Programação Neurolinguística (PNL) e que tem como primeiro objectivo escutar e, sempre que possível,
encontrar uma solução para melhor gerir a situação tida como problema. Inicialmente o projecto era
composto por uma equipa de três mulheres : a Teresa, coordenadora do projecto e consultora em PNL ; a
Madalena, assitente social ; e a Joana, psicóloga.
Hoje o projecto conta com uma equipa de 8 profissionais : 7 mulheres e um homem :
http://www.amitie.lu/index.php?option=com_content&view=category&id=51&Itemid=67
Notas finais…
Estes são alguns dos exemplos que pretendia trazer a esta conferência.
Assim, de forma modesta pretendi, apesar do tempo limitado, apresentar-vos algumas das iniciativas que em
terras grão-ducais se desenvolvem para promover o papel da mulher no mundo empresarial.
Note-se porém que muitas destas iniciativas são, desde a sua criação, fruto da ambição de algumas
mulheres que, no Luxemburgo, se distinguem pelo espírito empreendedor,
As boas práticas devem ser partilhadas além-fronteiras e termino citando a frase de há pouco, pronunciada
pela rainha Elisabeth II, no seu discurso do Dia da Commonwealth: « as mulheres são agentes da
mudança ».
Obrigado pela vossa atenção e boa sorte para a continuação dos trabalhos deste congresso.
Custódio Portásio
do mundo por natureza.
Exmo. Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário,
Exmo. Sr. Deputado eleito pelo Círculo Europa, Dr. Carlos Gonçalves,
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal da Maia, Dr. António Gonçalves Bragança Fernandes
Exma Sra. Presidente da Direcção da Associação Mulher Migrante, Dra. Rita Gomes,
Exma Sra Presidente da Assembleia da Associação Mulher Migrante, Dra. Manuela Aguiar,
Caras amigas, caros amigos,
Começo por agradecer o convite que recebi da Associação Mulher Migrante, na pessoa da Sra Presidente da Direcção, Dra Rita Gomes.
É para mim uma honra estar aqui presente e participar pela segunda vez no Encontro Mundial de Mulheres
Portuguesas na Diáspora e neste congresso como orador no painel “Trabalho e Empreendedorismo no
Contexto da Integração e do Regresso”.
Não sendo um especialista em matéria de empreendedorismo feminino, manifesto um interesse particular
pelas dinâmicas associadas ao empreendedorismo em geral e em particular ao empreendedorismo feminino,
jovem, social e migrante.
Como residente no Grão-Ducado do Luxemburgo, é deste país que vos apresentarei algumas das iniciativas
promovidas pelo espírito empreendedor luxemburguês e que se consubstanciam em boas práticas a serem
divulgadas. Práticas essas que se destacam ao nível das mais variadas vertentes do empreendedorismo,
nomeadamente por aquelas que atrás mencionei e que se manifestam na promoção do empreendedorismo,
da mobilidade e da inovação, factores de sucesso que em períodos de crise constituiem um incentivo ao
crescimento económico a médio e longo prazo e à excelência do modelo económico do país.
Começarei por uma pequena revista de imprensa de enquadramento, relativa ao tema deste painel
e num segundo momento apresentarei brevemente alguns projectos desenvolvidos no âmbito do
empreendedorismo feminino.
Primeira parte - Breve revista de imprensa…
” A equipa de Femmes magazine lança hoje o seu portal internet dedicado às mulheres. (…)
Não havia nada e pareceu-nos que tinhamos legitimidade para o criar [frase de Maria Pietrangelli e Patricia
Sciotti]. ”
Paperjam, 24 de Novembro de 2011
” Lançamento dos troféus Inspiring Woman of the Year & Top Company for Gender Equity, ao nível da
Grande-Região. (…)
Organizado pelo Grupo Moraru no âmbito da responsabilidade social do grupo, sob a designação de
Womens Leaders in Europe, em parceria com a ESSEC Business School e com o patrocínio de Viviane
Reding, Vice-Presidente da Comissão Europeia, responsável pela Justiça, Direitos Fundamentais e
Cidadania. (…)
Inspiring Woman of the Year propõe-se reconhecer a importância dos modelos que inspiram e influênciam
as mulheres, destacando aquelas que não só tiveram sucesso nas suas carreiras, como inspiram quem as
rodeia e motivam os mais novos.
Top Company for Gender Equity propõe-se reconhecer e homenagear uma organização que apresenta
resultados mensuráveis no recrutamento, manutenção e evolução de uma percentagem equilibrada, entre
homens e mulheres a todos os níveis hierárquicos.”
Agefi, Outubro de 2011
“As mulheres são agentes da mudança (…) enquanto mães e irmãs, professoras e médicas, artistas e
artesãs, empresárias e empreendedoras. ”
Rainha Elisabeth II, extracto do discurso pronúnciado no Dia da Commonwealth, 14 de Julho de 2011
” Women Leaders in Europe : As mulheres nos conselhos de administração… quotas ou não ?
Em 2002, a Noruega era o primeiro país a impor quotas de mulheres nos conselhos de administração. (…)
Hoje, nese país nórdico, há uma percentagem elevada de mulheres nos conselhos de administração : 44%.
A seguir à Noruega, segue-se a Espanha, que em 2007 dotou-se de uma lei impondo a partir de 2015 pelo
menos 40% de mulheres nos conselhos de administração, e mais recentemente a França também legislou
sobre o lugar das mulheres nos conselhos de administração.
No Luxemburgo, a Ministra para a Igualdade de Oportunidades exprimiu-se contra as quotas, mas é a favor
de uma participação equilibrada de mulheres e homens na tomada de decisão. ”
Agefi, 7 de Fevereiro de 2011
” A Gëlle Fra (estátua da mulher dourada, parte integrante do monumento aos mortos das duas guerras
mundiais, deslocada para a exposição mundial de Shangai e que antes de voltar ao lugar de origem, integrou
uma uma exposição tenmporária) reuniu mais de 70 participantes no evento Connected Women organizado
pela PwC Luxemburgo.
Mais de 70 mulheres empreendedoras, líderes e artistas de reconhecido valor no Grão-Ducado
do Luxemburgo e da Grande-Região encontraram-se (…), uma oportunidade para estas mulheres
confraternizarem em torno de um tema cultural e num ambiente descontraído. ”
Paperjam, 24 de Janeiro de 2011
” Segundo um estudo mundial da Accenture, a resiliência é uma competência indispensável às mulheres para
progredirem nas suas carreiras.
Os quadros dirigentes de todo o mundo estimam que a resiliência, ou seja, a capacidade de responder a
desafios e a transformá-los em oportunidades, é uma qualidade essencial para progredir na carreira.
Estima-se que as mulheres sejam ligeiramente mais resilientes (53%) do que os homens (51%). ”
Accenture, Março de 2010
” De 19 a 22 de Novembro de 2003 teve lugar o lançamento do projecto de investigação europeu Gender
training methods partnership, co-financiado pela Comissão Europeia no âmbito do programa Socrates
Grundtvig 2. (…)
O projecto focaliza-se sobre os métodos pedagógicos utilizados no domínio do género, ou seja, na igualdade
de oportunidades entre homens e mulheres na formação contínua.”
Agefi, 1 de Dezembro de 2003
Segunda parte - Alguns projectos levados a cabo no Luxemburgo…
PAN Igualdade – Plano nacional de igualdade entre homens e mulheres, lançado em 2006, pela Ministra
para a Igualdade de Oportunidades, Françoise Hetto-Gaasch e reconduzido para o período 2009-2014:
www.mega.public.lu/actualites/actu_min/2010/02/pan_egalite/index.html
International Cross-Mentoring Program for Women at Board Levels – Lançado por Rita Knott:
www.cross-mentoring.net & www.femaleboardpool.eu
Inspiring Woman of the Year & Top Company for Gender Equity – Lançado por Clara Moraru:
ambos explicados num dos “retalhos” de imprensa já mencionados: www.inspiringwomen.lu
Plano de acção a favor da diversidade na empresa – Lançado por Robert Denneald, presidente da Fedil -
Business Federation Luxembourg:
www.agefi.lu/Mensuel-Article.aspx?date=Nov-2011&mens=172&rubr=1127&art=14887&query=fedil+lance+plan+action
Femmes Leaders – associação presidida por Eliane Fuch, que visa preparar as futuras gerações de
mulheres líderes e contribuir para que as mulheres participem activamente no desenvolvimento económico,
na criação de emprego, na gestão estratégica e na performance das empresas.
Femmes Leaders organiza anualmente a Leadership Academy: www.femmesleaders.eu
FFCEL – Fédération des Femmes Cheffes d’ntreprise du Luxembourg – criada em 2004, a federação
recebe mulheres que estão ou que se querem lançar no empreendedorismo no Luxemburgo.
O lema da actual presidente da associação, Miriam Mascherin é “sinergia, responsabilidade e visibilidade”.
Esta associação incentiva a mulhere a acedere às funções de direcção, forma-a e informa-a, ajuda-a a
resolver problemas relacionados com o exercício das suas actividadese e apoia-a junto da classe política:
www.ffcel.lu
Conseil National des Femmes du Luxembourg – organismo de investigação e de informação sobre o
direito das mulheres: www.cnfl.lu
Cid-femmes – Centro de informação e documentação sobre as mulheres.
Foi criado em 1992, por um grupo de mulheres que pertenciam ou eram próximas do Movimento de
Libertação das Mulheres no Luxemburgo (MLF).
Este centro promove, através de uma biblioteca pública com cerca de 26000 obras, a informação sobre as
mulheres ; sensibiliza o público em geral, nomeadamente mulheres e jovens, através de formações diversas
visando a transformação dos papéis tradicionais atribuídos na sociedade aos homens e às mulheres.
Promove a investigação sobre as mulheres e a evolução dos movimentos feministas no Luxemburgo e na
Europa : www.cid-femmes.lu
Femmes en détresse – a associação tem por objectivo oferecer às mulheres, às suas crianças, e às
jovens meninas uma protecção eficaz contra a violência, através do desenvolvimento e gestão de casas de
acolhimento para mulheres et jovens meninas em situação de perigo ; centros de informação e de consulta.
Esta associação contribui para o melhoramento das condições de vida das mulheres, ajudando-as a
integrarem-se na vida económica e social, garantindo-lhes uma ajuda psicológica, jurídica e social e
oferecendo-lhes formações específicas : www.fed.lu
Antenne d’Écoute – é um serviço multi-língua (português, espanhol, italiano, francês, inglês e indi) criado
em 2008 pela Associação Amizade Portugal-Luxemburgo, por iniciativa de Teresa Pignatelli, consultora em
Programação Neurolinguística (PNL) e que tem como primeiro objectivo escutar e, sempre que possível,
encontrar uma solução para melhor gerir a situação tida como problema. Inicialmente o projecto era
composto por uma equipa de três mulheres : a Teresa, coordenadora do projecto e consultora em PNL ; a
Madalena, assitente social ; e a Joana, psicóloga.
Hoje o projecto conta com uma equipa de 8 profissionais : 7 mulheres e um homem :
http://www.amitie.lu/index.php?option=com_content&view=category&id=51&Itemid=67
Notas finais…
Estes são alguns dos exemplos que pretendia trazer a esta conferência.
Assim, de forma modesta pretendi, apesar do tempo limitado, apresentar-vos algumas das iniciativas que em
terras grão-ducais se desenvolvem para promover o papel da mulher no mundo empresarial.
Note-se porém que muitas destas iniciativas são, desde a sua criação, fruto da ambição de algumas
mulheres que, no Luxemburgo, se distinguem pelo espírito empreendedor,
As boas práticas devem ser partilhadas além-fronteiras e termino citando a frase de há pouco, pronunciada
pela rainha Elisabeth II, no seu discurso do Dia da Commonwealth: « as mulheres são agentes da
mudança ».
Obrigado pela vossa atenção e boa sorte para a continuação dos trabalhos deste congresso.
Custódio Portásio
COMUNICAÇÃO ISABELLE OLIVEIRA
CONGRESSO MUNDIAL DA MULHER
0. Nota de introdução
É bom recuar no tempo e relembrar que ao longo dos séculos emergiram
inúmeras teorias pseudo-científicas que pretendiam demonstrar a inferioridade física da
mulher e, por conseguinte, a sua inferioridade intelectual. Basta enunciar algumas delas
como a frenologia de Gall que procurou demonstrar a superioridade intelectual dos
homens pela forma exterior do crânio; ou a teoria de Bischoff segundo a qual a fase de
desenvolvimento intelectual das mulheres se limitava à infância; ou ainda a de Moebius,
autor da inferioridade mental da mulher cujo título indicava claramente as suas
intenções e na qual assentou a sua argumentação a propósito do tamanho do cérebro;
Kormiloff quis demonstrar que o sangue das mulheres tinha menos hemoglobina e mais
água do que o sangue dos homens; Quételet pensava que a mulher sofria de capacidades
inferiores a nível pulmonar, esquelético, vocal, etc... que causavam fraqueza e doenças
crónicas; Spencer tentou demonstrar que a actividade intelectual era incompatível
com a reprodução. As mulheres sendo fisicamente inferiores seriam apenas guiadas
pelo seu útero quando os homens utilizariam o seu cérebro. A fisiologia feminina –
menstruação, gravidez - colocaria as mulheres num estado de constante debilidade física
que implicaria uma diminuição das suas capacidades mentais e morais. (Ortiz 1993).
Há alguns atrás, suponha-se ainda que a mulheres não seriam suficientemente
inteligentes para votar. Elas tinham de pedir a autorização ao marido para trabalhar
e abrir uma conta no banco. Ainda não controlavam o seu próprio corpo e no fundo,
porque temos de dizer as coisas como são, era-lhes recusado o direito de ter uma
sexualidade. Quantas foram as mulheres que tiveram de abandonar o sonho de estudar,
ou de terem uma profissão, porque na altura isso não era para elas? Quantas tiveram de
enfrentar o desprezo da família, amigos e conhecidos porque eram divorciadas, mães
solteiras, solteiras, ou porque não tinham filhos? Tudo isto aconteceu ainda ontem.
As suas conquistas parecem-nos hoje evidentes, mas são, na realidade, ainda bem
frágeis e recentes. Assistimos à ruptura com um modelo de mulher uniforme cuja única
2
função social era a de esposa e de mãe e da qual os direitos resultavam dos seus deveres.
Quando se fala hoje de igualdade de género parece fundamental começar por constatar
que se assiste a progressos mas em paralelo subsiste grandes áreas de discriminação que
importa não silenciar ou subestimar.
Este Congresso propõe-se assim convidar-nos para o debate de grandes temas, através
de uma metodologia de convivência entre o exercício da crítica, a aceitação pedagógica
da dúvida e a busca de novos caminhos e de novas perspectivas. Razão pela qual este
Congresso será um processo amplo de debate e de construção partilhada, de todos e para
todos.
- Generosidade, dedicação, trabalho, responsabilidade, família, paz, vida: são estes os
valores das mulheres. São estes os valores que elas colocam no centro da sociedade
sendo elas o motor dessa mesma sociedade.
1. O novo rosto da emigração portuguesa
As motivações que levaram os portugueses a emigrar durante os anos 60
são bem diferentes daquelas que se verificam nos dias de hoje. Uma nova geração
de emigrantes, mais qualificada, está a conduzir este fenómeno para um novo
patamar, onde a variedade de funções e o enquadramento social em que se inserem
os portugueses nos países de acolhimento em muito se distinguem do cenário que
aconteceu há quatro décadas. Surge assim uma outra maneira de encarar a análise
de necessidades numa emigração sedenta de mudança a que podemos qualificar
de “conjuntural”.
Actualmente, abriu-se uma nova era da emigração portuguesa, sobretudo com
jovens de formação técnica e científica que procuram oportunidades de enriquecimento
profissional, o que também num futuro próximo trará reflexos para o desenvolvimento
do país. – Para exemplificar, em França tem-se verificado uma tendência ao aumento
da população emigrante com menos de 28 anos de idade onde a taxa de crescimento
da emigração permanente é já superior à da emigração temporária. É nesta emigração
permanente que nos aproximamos mais de uma paridade entre os dois sexos, ao passo
que a emigração temporária continua a ser predominantemente masculina. O aumento
do desemprego em Portugal levou sobretudo jovens quadros a abandonarem o país na
expectativa de conseguirem melhores oportunidades e salários na esperança de uma
3
vida melhor. Estes emigrantes com outro perfil e outro tipo de competências já não são
de reduzido nível de instrução e, mesmo sem conhecer a língua do país que os recebe,
possuem o domínio do inglês que é, hoje em dia, uma língua de abertura facilitando
assim a sua integração no país de acolhimento.
No meu local de trabalho, verifico que um número significativo de jovens
portugueses se integra nos melhores “quadros” não só por encontrarem um meio
favorável para a sua realização sócio-profissional mas também de auto-estima. Esta
nova emigração mais heteróclita começa assim a criar um núcleo mais elitista no
conjunto dos sectores da vida profissional, económica e cultural das sociedades de
acolhimento. A realidade migratória continua, deste modo, a ser altamente dinâmica.
Isto é extremamente positivo e é bom que os portugueses sejam apreciados e
reconhecidos no exterior pelo seu valor.
Apesar da mobilidade de uma percentagem elevada de quadros, uma parte
significativa destes emigrantes são ainda pessoas de nível cultural baixo, praticamente
ligados a profissões menos qualificadas, como a construção civil, empregados da
restauração, prestação de serviços de pouca qualificação. Porém, pessoas essas com
características muito diferentes às que estávamos habituados. Acresce que Portugal
ainda mal despertou para este fenómeno de uma nova emigração, desde que a União
Europeia se tornou um espaço de liberdade de circulação. Há, de facto, uma nova vaga
de emigrantes que requer um novo quadro de análise porque permanece hoje como um
fenómeno pouco visível assente num fluxo silente já que o país não tem conhecimento
que as pessoas partem ficando assim muito isoladas e vulneráveis. Assistimos assim a
novas realidades como situações de exploração de portugueses em países onde deveriam
usufruir dos mesmos direitos que os autóctones.
Verifica-se, por exemplo, em França que não há igualdade de tratamento o que é
uma contradição numa Europa que se proclama respeitadora dos direitos de cidadania.
Os portugueses, como cidadãos europeus, já não sendo considerados emigrantes são
tratados como tal ou pior ainda. Por outro lado, notamos que partes dos problemas
de exploração a que os portugueses acabam muitas das vezes sujeitos têm origem no
grande negócio que é o trabalho temporário, o que designamos em França por “ínterim”.
Por tudo isto, num país estrangeiro, as pessoas ficam entregues a si próprias, sem
conhecerem a realidade local nem saberem a quem recorrer em caso de dificuldades que
possam vir a surgir.
4
É verdade que os emigrantes de outrora não são os emigrantes de hoje
obedecendo a outros contornos o que implica principalmente uma participação maior
dos poderes políticos e dos mais diversos sectores da sociedade na discussão desta nova
realidade que foge aos cânones do passado.
Profª Doutora Isabelle Oliveira
Universidade da Sorbonne/CNRS
4
0. Nota de introdução
É bom recuar no tempo e relembrar que ao longo dos séculos emergiram
inúmeras teorias pseudo-científicas que pretendiam demonstrar a inferioridade física da
mulher e, por conseguinte, a sua inferioridade intelectual. Basta enunciar algumas delas
como a frenologia de Gall que procurou demonstrar a superioridade intelectual dos
homens pela forma exterior do crânio; ou a teoria de Bischoff segundo a qual a fase de
desenvolvimento intelectual das mulheres se limitava à infância; ou ainda a de Moebius,
autor da inferioridade mental da mulher cujo título indicava claramente as suas
intenções e na qual assentou a sua argumentação a propósito do tamanho do cérebro;
Kormiloff quis demonstrar que o sangue das mulheres tinha menos hemoglobina e mais
água do que o sangue dos homens; Quételet pensava que a mulher sofria de capacidades
inferiores a nível pulmonar, esquelético, vocal, etc... que causavam fraqueza e doenças
crónicas; Spencer tentou demonstrar que a actividade intelectual era incompatível
com a reprodução. As mulheres sendo fisicamente inferiores seriam apenas guiadas
pelo seu útero quando os homens utilizariam o seu cérebro. A fisiologia feminina –
menstruação, gravidez - colocaria as mulheres num estado de constante debilidade física
que implicaria uma diminuição das suas capacidades mentais e morais. (Ortiz 1993).
Há alguns atrás, suponha-se ainda que a mulheres não seriam suficientemente
inteligentes para votar. Elas tinham de pedir a autorização ao marido para trabalhar
e abrir uma conta no banco. Ainda não controlavam o seu próprio corpo e no fundo,
porque temos de dizer as coisas como são, era-lhes recusado o direito de ter uma
sexualidade. Quantas foram as mulheres que tiveram de abandonar o sonho de estudar,
ou de terem uma profissão, porque na altura isso não era para elas? Quantas tiveram de
enfrentar o desprezo da família, amigos e conhecidos porque eram divorciadas, mães
solteiras, solteiras, ou porque não tinham filhos? Tudo isto aconteceu ainda ontem.
As suas conquistas parecem-nos hoje evidentes, mas são, na realidade, ainda bem
frágeis e recentes. Assistimos à ruptura com um modelo de mulher uniforme cuja única
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função social era a de esposa e de mãe e da qual os direitos resultavam dos seus deveres.
Quando se fala hoje de igualdade de género parece fundamental começar por constatar
que se assiste a progressos mas em paralelo subsiste grandes áreas de discriminação que
importa não silenciar ou subestimar.
Este Congresso propõe-se assim convidar-nos para o debate de grandes temas, através
de uma metodologia de convivência entre o exercício da crítica, a aceitação pedagógica
da dúvida e a busca de novos caminhos e de novas perspectivas. Razão pela qual este
Congresso será um processo amplo de debate e de construção partilhada, de todos e para
todos.
- Generosidade, dedicação, trabalho, responsabilidade, família, paz, vida: são estes os
valores das mulheres. São estes os valores que elas colocam no centro da sociedade
sendo elas o motor dessa mesma sociedade.
1. O novo rosto da emigração portuguesa
As motivações que levaram os portugueses a emigrar durante os anos 60
são bem diferentes daquelas que se verificam nos dias de hoje. Uma nova geração
de emigrantes, mais qualificada, está a conduzir este fenómeno para um novo
patamar, onde a variedade de funções e o enquadramento social em que se inserem
os portugueses nos países de acolhimento em muito se distinguem do cenário que
aconteceu há quatro décadas. Surge assim uma outra maneira de encarar a análise
de necessidades numa emigração sedenta de mudança a que podemos qualificar
de “conjuntural”.
Actualmente, abriu-se uma nova era da emigração portuguesa, sobretudo com
jovens de formação técnica e científica que procuram oportunidades de enriquecimento
profissional, o que também num futuro próximo trará reflexos para o desenvolvimento
do país. – Para exemplificar, em França tem-se verificado uma tendência ao aumento
da população emigrante com menos de 28 anos de idade onde a taxa de crescimento
da emigração permanente é já superior à da emigração temporária. É nesta emigração
permanente que nos aproximamos mais de uma paridade entre os dois sexos, ao passo
que a emigração temporária continua a ser predominantemente masculina. O aumento
do desemprego em Portugal levou sobretudo jovens quadros a abandonarem o país na
expectativa de conseguirem melhores oportunidades e salários na esperança de uma
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vida melhor. Estes emigrantes com outro perfil e outro tipo de competências já não são
de reduzido nível de instrução e, mesmo sem conhecer a língua do país que os recebe,
possuem o domínio do inglês que é, hoje em dia, uma língua de abertura facilitando
assim a sua integração no país de acolhimento.
No meu local de trabalho, verifico que um número significativo de jovens
portugueses se integra nos melhores “quadros” não só por encontrarem um meio
favorável para a sua realização sócio-profissional mas também de auto-estima. Esta
nova emigração mais heteróclita começa assim a criar um núcleo mais elitista no
conjunto dos sectores da vida profissional, económica e cultural das sociedades de
acolhimento. A realidade migratória continua, deste modo, a ser altamente dinâmica.
Isto é extremamente positivo e é bom que os portugueses sejam apreciados e
reconhecidos no exterior pelo seu valor.
Apesar da mobilidade de uma percentagem elevada de quadros, uma parte
significativa destes emigrantes são ainda pessoas de nível cultural baixo, praticamente
ligados a profissões menos qualificadas, como a construção civil, empregados da
restauração, prestação de serviços de pouca qualificação. Porém, pessoas essas com
características muito diferentes às que estávamos habituados. Acresce que Portugal
ainda mal despertou para este fenómeno de uma nova emigração, desde que a União
Europeia se tornou um espaço de liberdade de circulação. Há, de facto, uma nova vaga
de emigrantes que requer um novo quadro de análise porque permanece hoje como um
fenómeno pouco visível assente num fluxo silente já que o país não tem conhecimento
que as pessoas partem ficando assim muito isoladas e vulneráveis. Assistimos assim a
novas realidades como situações de exploração de portugueses em países onde deveriam
usufruir dos mesmos direitos que os autóctones.
Verifica-se, por exemplo, em França que não há igualdade de tratamento o que é
uma contradição numa Europa que se proclama respeitadora dos direitos de cidadania.
Os portugueses, como cidadãos europeus, já não sendo considerados emigrantes são
tratados como tal ou pior ainda. Por outro lado, notamos que partes dos problemas
de exploração a que os portugueses acabam muitas das vezes sujeitos têm origem no
grande negócio que é o trabalho temporário, o que designamos em França por “ínterim”.
Por tudo isto, num país estrangeiro, as pessoas ficam entregues a si próprias, sem
conhecerem a realidade local nem saberem a quem recorrer em caso de dificuldades que
possam vir a surgir.
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É verdade que os emigrantes de outrora não são os emigrantes de hoje
obedecendo a outros contornos o que implica principalmente uma participação maior
dos poderes políticos e dos mais diversos sectores da sociedade na discussão desta nova
realidade que foge aos cânones do passado.
Profª Doutora Isabelle Oliveira
Universidade da Sorbonne/CNRS
4
EULÁLIA MORENO
Os Fados de Todas Nós
Eulália Moreno *
A conquista de Ceuta em 1415 deu início a Diáspora portuguesa seguida pela colonização da Ilha da Madeira em meados de 1425. Menos de um século depois aberta a rota do Cabo para o Índico ( em 1497), descoberto o Brasil (em 1500) e povoadas as ilhas adjacentes de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe eram já patentes as conseqüências demográficas e outras advindas do fenômeno da expansão ultramarina. Em Gil Vicente, Sá de Miranda, João de Barros entre outros há a consciência, se não o alarme, da nova situação criada para a sociedade portuguesa.
Garcia de Resende ( 1470-1536) escreveu :
“Vijmos muyto espalhar
portugueses no viver,
Brasil, Ilhas povoar
A aas Índias yr morar,
Natureza lhes squecer:
Veemos no reyno metter
Tantos captivos crescer,
E yremse hos naturaes
Que se assi for, seram mais
Elles que nos, a meu ver”
Órfãs, Meretrizes, Degredadas e Feiticeiras
Nos primeiros séculos de colonização houve uma verdadeira escassez de mulheres brancas para a colônia. O caráter migratório aventureiro dos colonos portugueses, que buscavam enriquecimento rápido, pensando num breve retorno a Portugal desestimulava um padrão migratório familiar. Raras eram as mulheres que desembarcavam, por exemplo, no Brasil. Os homens chegavam e se deparavam com uma população feminina indígena livre de todos os preconceitos e uniam-se a várias mulheres ao mesmo tempo gerando filhos mestiços.
Essa situação fora dos padrões europeus horrorizava os jesuítas. Em carta ao rei de Portugal, Manuel da Nóbrega , fundador da cidade de São Paulo, pedia ao monarca português que enviasse ao Brasil mulheres portuguesas, “muitas e quaisquer delas” e acrescentava: "Se El-Rei determina povoar mais esta terra, é necessário que venham muitas mulheres órfãs e de toda qualidade até meretrizes, porque há aqui várias qualidades de homens; e os bons e os ricos casarão com as órfãs; e deste modo se evitarão pecados e aumentará a população no serviço de Deus “.Não importava a condição social, moral ou economica dela, pois bastava que fosse "branca" e produzisse filhos "portugueses" na colonia para ser considerada "superior" às mulheres índias e negras, no imaginário colonial.
As que chegavam sózinhas eram normalmente as degredadas, forçosamente exiladas na colonia. O século XVII foi marcado pela chegada constante de “visionárias”, acusadas de feitiçaria, que eram sentenciadas ao exílio na colonia. Nem todas permaneceram no Brasil, parte regressando a Portugal após os cinco anos de pena de degredo.
Nos séculos seguintes, a imigração portuguesa não perdeu o seu caráter masculino. O Norte de Portugal na época era conhecido por ter o predomínio de mulheres exercendo atividades agrícolas tradicionais, pois muitos dos homens emigraram. As mulheres (e as crianças) portuguesas desembarcaram em maior número no Brasil quando alguma crise afligia Portugal, como durante a epidemia de filoxera que destruiu temporariamente a indústria do vinho do Porto em meados do século XIX.
Após a independência a mulher portuguesa que desembarcava no Brasil, geralmente pobre, se empregava como criada nos serviços domésticos. Frequentemente os textos da época faziam referência implícita à prostituição de portuguesas no Brasil.
O início do século XX foi um momento que representou uma reviravolta nas características da imigração portuguesa ao Brasil, uma vez que as mulheres passaram a representar uma parcela considerável dos imigrantes. A legislação portuguesa dificultava a migração de pessoas do sexo feminino, uma vez que exigia a emissão de passaporte e as mulheres dependiam da autorização dos pais ou do marido para imigrar.
A partir da década de 1890, verifica-se uma mudança no comportamento migratório português. As mulheres, que antes ficavam para trás, passaram a acompanhar seus homens na viagem migratória. Assim, a migração familiar e feminina portuguesa cresceu 41% entre 1891 e 1899 e 36% entre 1910 e 1919. Essas mulheres dividiam com seus maridos pequenos negócios, como padarias, bares e quitandas, trabalhavam como operárias, lavadeiras, costureiras, em áreas completamente diferentes das quais exerciam em suas aldeias de origem, muitas vezes tendo que trabalhar em jornada dupla para poder sobreviver e vencer os desafios no novo país de acolhimento.
A partir de meados do século XX os países de acolhimento se multiplicariam e as Marias de Portugal partiriam não apenas em navios rumo a outros continentes mas a “ salto” para cumprirem os seus fados em outros países europeus.
Apaixonadas, batalhadoras , honestas e com mãos abençoadas para toda obra
Na maior rede social da Internet, o Facebook, algumas mulheres criaram um grupo “ Mulheres Portuguesas na Diáspora” que se tornou um ponto de referência para relatos muito ricos de histórias de vida. Esse foi o ponto de partida desta comunicação que não pretende ser nada mais além do que um breve resumo do que está disponível no referido grupo. A pedido de algumas, o anonimato foi preservado. Há feridas cicatrizadas e outras que sangrarão para sempre. Em comum, uma fé inabalável e o amor por Portugal.
“ Me enamorei do filho do dono das terras onde os meus pais trabalhavam , e mal tive o meu filho deixei-o aos cuidados de familiares e vim tentar a sorte no Brasil onde moravam uns tios que me mandaram a carta de chamada. Vim trabalhar como babá, aqui as pessoas ricas gostavam muito de portuguesas para olharem pelos filhos. Sofri muito porque estava eu a criar filhos dos outros enquanto o meu , pobrezinho, sabe-se lá se tinha o que comer, o que vestir e o que calçar. Alguns anos depois conheci um “patrício” que tinha emigrado e era dono de um pequeno comércio. Nos casamos, fiquei a trabalhar com ele e tivemos dois filhos. Ele sabia da minha vida , do meu filho que tinha ficado em Portugal . Estourou a guerra em África e para que o meu rapaz não fosse para lá ele conseguiu uma pessoa que arranjou a papelada e ele veio para cá.O reencontro não foi muito bonito, nós não nos conhecíamos.Ele só ficou por cá três anos, conheceu uma brasileira com quem se casou e emigrou para a Venezuela. Nunca mais o vi, nunca mais tive notícias. Nunca retornei a Portugal e o Brasil a quem dei o meu suor e as minhas lágrimas, ficará também com os meus ossos.”
A.P., 85 anos, natural da Beira Alta, , emigrante no Brasil
“ Minha história começa quando o meu pai teve que emigrar no ano de 1968 quando eu tinha 7 anos. Para minha mãe não foi fácil ficar em Portugal com 4 filhos e de gerir uma casa de forno onde se vendia o pão alentejano , ter que peneirar amassar o pão e cozer e vender .Para meu pai também não foi nada fácil ter que ir para um país tão distante sem saber falar a língua. Ele sequer sabia ler e escrever ..Embarcou em Santa Apolonia com destino a Alemanha pois iria trabalhar para o porto de Hamburgo , um trabalho bem duro pois tinham que carregar muitos quilos às costas nada comparado com os dias de hoje que é tudo à força de máquinas. Entretanto foi para o porto de Bremen .Ai trabalhou mais uns tempos e como tinha uma cunhada no sul da Alemanha, em Donaueschingen ,ela arranjou ao meu pai um trabalho na fábrica onde ela trabalhava .Mais tarde por intermédio de um amigo conseguiu arranjar um trabalho na Opel em Bochum onde ficou ate a sua reforma ..Depois de estar estável mandou a minha mãe e uma irmã ir. Isso aconteceu em 1973 .Eu e os meus outros dois irmãos ficamos com os avós maternos , pois nos ainda andávamos na escola .Eu andava na altura no 2° ano do Ciclo. Deu-se a revolução de 1974 ainda fui mais os colegas festejar para as ruas com os cravinhos nas mãos.Em Agosto de 1974 meus pais vieram e levaram-me com eles para a Alemanha .No outro ano a seguir foram os outros dois irmãos e assim já estava a família toda completa .Vivíamos num prédio no quarto andar numa casa com um quarto , sala ,cozinha e casa de banho .Os pais dormiam no quarto , nós raparigas na sala e o meu irmão na cozinha .A partir daí a minha vida mudou totalmente de criança para mulher pois com treze anos ainda tinha o direito de ir frequentar a escola na Alemanha mas meus pais se opuseram e minha mãe levava-me com ela para o trabalho !!Ela ia fazer limpeza num hospital onde eu lhe ajudava , comecei eu a fazer tudo o que me vinha de trabalhos dos mais variados , em limpeza, trabalhei a fazer pizzas a cortar cebolas para fazer a carne no espeto, numa lavanderia a passar a ferro.Enfim de tudo o que me aparecia porque eu ainda era uma menor .Em 1978 conheci meu marido pensei em casar pois tinha na altura 17 anos .O casamento aconteceu em Dezembro de 1978 .E vim para a terra onde meu marido se encontrava pois ele sendo também um emigrante português e emigrado em 1971 .Começamos a nossa vida de casados trabalhando e economizando para fazer uma casinha em Portugal pois é o sonho de todos os portugueses um dia voltarem a sua terra natal. Assim se concretizou o sonho da casinha , tivemos dois filhos que estudaram em escolas alemãs, um com trinta e um ano que já casou e nos deu duas netinhas de mãe alemã e o outro com 28 anos. Hoje passados quase 38 anos e o marido 41 ainda continuamos na Alemanha pensando um dia regressar a Portugal quando tivermos a nossa reforma .Os nossos filhos estão cá ,vivem cá e agora estão as nossas netas !!!!Mas será que esse dia virá ou não ? Decisão difícil de tomar !!!!E só o tempo o dirá !!
Silvia Messias , 51 anos, natural de Beja , emigrante na Alemanha
“Sou emigrante desde a minha tenra idade de 3 anos...primeiro emigrei com meus pais para França... Aos 7 anos meu pai decidiu que eu deveria fazer a escola primária em Portugal e assim aconteceu...Aos 13 anos regressei de novo a França... Aos 19 anos conheci meu marido que vivia na Alemanha então casei e fui viver para a Alemanha...Ao fim de 20 anos de vivência na Alemanha ,a saudade do nosso Portugal bateu à porta e decidi ir viver para Portugal onde aguentei 5 anos... Agora há cerca de um ano e meio emigrei de novo para França onde continuo a viver e não tenciono sair... Aqui está mais um retrato rápido da emigração...”
Alzira Macedo, 43 anos, natural de Bragança , emigrante na França
“No dia 21 de novembro de 2007 vi me forçada a abandonar o meu país! Mas mais doloroso abandonar os meus preciosos: a minha menina tinha 5 aninhos e o meu menino tinha simplesmente 3 mesitos, mas para poder lutar por uma vida melhor para eles decidi vir para Inglaterra....As pessoas que me trouxeram só arranjaram trabalho para mim e não para o meu marido. Foi tão doloroso para todos nós....todos os dias ouvia crianças a chamar pelos pais e as minhas lágrimas simplesmente corriam cara abaixo de tanta dor e saudade...ao fim de um tempo consegui trazer o meu marido mas mais uma vez tive de deixar os meus bebes para trás (pois as pessoas com quem eu morava não queriam que os trouxesse) e então aí foram 4 meses sem os ver....Cada dia que passava tornava se mais impossível de viver sem eles......Sofri muito mas agora estamos todos juntinhos , graças a Deus! “
Claudia Fernandes, 32 anos, natural de Setubal, emigrante na Inglaterra
“ Todas nós sofremos por ter emigrado, não importa para onde. O meu pai emigrou com toda a família para a Argentina e para isso precisou vender uma herança que era da minha mãe, ela nunca o perdoou por isso. Acho que era o nosso destino mas perdemos a nossa identidade porque em Portugal somos emigrantes e onde moramos somos estrangeiras... então qual é o nosso país?? Só por isso já temos um pesadelo que nunca tiramos de cima dos ombros embora digam que as Mulheres vencem muitas batalhas. Mas sofremos muito, muitas vezes em silêncio, só Deus sabe o que sofremos . Conheci muitos portugueses aqui que, como eu, nunca mais voltaram a Portugal porque muitos não conseguiram ficar ricos, passaram tempos muito difíceis, alguns até fome passaram para conseguir juntar algum dinheiro. Sou professora de música e para não perder a minha nacionalidade portuguesa não pude dar aulas em escolas públicas ou privadas mas fiz parte de uma orquestra de música clássica e com ela me apresentei em vários programas de televisão. Um dia destes tenho que escrever um livro, é o que me falta fazer”.
N.C., 63 anos, natural de Aveiro , emigrante na Argentina
“Eu emigrei para a Austrália, sem nada, só com a minha roupinha vestida ...eu ,meu marido e o meu filho de 15 meses ao colo . Viemos com a minha irmã para enfrentar e recomeçar a vida sem saber o que nos esperava..o não saber a língua foi o problema principal. Deus nos ajudou , hoje já tenho 40 anos como emigrante e ja temos 3 netos . Penso que vamos acabar os nossos dias por aqui em Sidney , neste país que nos acolheu de braços abertos . Enfim, mas só Deus é que pode saber onde e como será o nosso fim, como se costuma dizer porque o dia de amanhã ninguém o viu e ninguém o sabe, portanto está nas mãos de Deus. Que Ele nos ajude a todos e nos abençoe!
Lucy Mendonça, 60 anos, natural da Guarda, emigrante na Austrália
“Emigrei para a França e fui morar com a minha irmã que era porteira num prédio da avenue Kleber em Paris. O meu cunhado trabalhava nas obras de saneamento durante a noite e assim sobrava lugar pra mim na cama com a minha irmã porque só tínhamos um quarto, com um lavatório que servia também de pia de cozinha e a sanita era um balde. O prédio tinha sete andares e nós morávamos no último mas não podíamos utilizar os três elevadores, subíamos a pé. Arranjei trabalho numa banca de frutas perto da Bastilha, acordava todos os dias às 5 da manhã, vida muito dura e depois que consegui a confiança do patrão que era da Argélia, passei a dormir nos fundos do comércio . Um lugarzinho pequeno mas que era o meu cantinho onde eu tinha a minha cama e as minhas coisinhas. Um dia um freguês perdeu a carteira com muito dinheiro junto das verduras. Eu encontrei e fui devolver não esperando nada mais do que um “ merci”. O dono da carteira era um senhor de origem judaica, dono de uma rede de lojas de tecidos nas proximidades de Montmartre e me convidou para trabalhar numa das lojas. Foi a minha sorte! Depois de alguns meses eu já me desembaraçava no francês e fiquei gerente nessa loja para depois de alguns anos ser gerente geral de mais de 20 lojas. No trabalho conheci o meu marido que é francês e que gosta muito de Portugal. Não tivemos filhos mas temos um casal de “ caniches” e muitos sobrinhos com que vamos todos os anos passar férias a Portugal. A França foi boa para mim, os franceses também e eu aprendi que a honestidade sempre compensa”.
Vitória Guimarães, 53 anos, natural de Braga, emigrante na França.
Bibliografia :
Arroteia, Jorge Carvalho, “A Emigração Portuguesa, suas origens e distribuição”, Editora ICALP, Lisboa, 1983 ;
Brettell, Caroline B. , “ Homens que Partem, Mulheres que esperam”, Editotra Dom Quixote, Lisboa, 1991
Ferreira, Cristina , “ Breve Olhar sobre a Imigração Portuguesa: Portugal Emigrante”. Lusitano: Jornal de Portugueses Residentes no Estrangeiro, 17 jun., 1998, página 2 ;
Lobo, Eulália Maria Lahmeyer, “ Portugueses em Brasil em el siglo XX”, Madrid, Editora Mapfre, 1994
Serrão, Joel , “A Emigração Portuguesa; Sondagem Histórica”, Editora Horizonte, Lisboa, 1982 ;
Foto : Foto de Passaporte de uma família portuguesa, 1992, “ Imigração Portuguesa no Brasil”, série Resumoe, número 5, Memorial do Imigrante, São Paulo, 1999
* Jornalista, brasileira , emigrante em Portugal desde 1974 e colaboradora do jornal Mundo Lusíada, publicação quinzenal editada em São Paulo.
Eulália Moreno *
A conquista de Ceuta em 1415 deu início a Diáspora portuguesa seguida pela colonização da Ilha da Madeira em meados de 1425. Menos de um século depois aberta a rota do Cabo para o Índico ( em 1497), descoberto o Brasil (em 1500) e povoadas as ilhas adjacentes de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe eram já patentes as conseqüências demográficas e outras advindas do fenômeno da expansão ultramarina. Em Gil Vicente, Sá de Miranda, João de Barros entre outros há a consciência, se não o alarme, da nova situação criada para a sociedade portuguesa.
Garcia de Resende ( 1470-1536) escreveu :
“Vijmos muyto espalhar
portugueses no viver,
Brasil, Ilhas povoar
A aas Índias yr morar,
Natureza lhes squecer:
Veemos no reyno metter
Tantos captivos crescer,
E yremse hos naturaes
Que se assi for, seram mais
Elles que nos, a meu ver”
Órfãs, Meretrizes, Degredadas e Feiticeiras
Nos primeiros séculos de colonização houve uma verdadeira escassez de mulheres brancas para a colônia. O caráter migratório aventureiro dos colonos portugueses, que buscavam enriquecimento rápido, pensando num breve retorno a Portugal desestimulava um padrão migratório familiar. Raras eram as mulheres que desembarcavam, por exemplo, no Brasil. Os homens chegavam e se deparavam com uma população feminina indígena livre de todos os preconceitos e uniam-se a várias mulheres ao mesmo tempo gerando filhos mestiços.
Essa situação fora dos padrões europeus horrorizava os jesuítas. Em carta ao rei de Portugal, Manuel da Nóbrega , fundador da cidade de São Paulo, pedia ao monarca português que enviasse ao Brasil mulheres portuguesas, “muitas e quaisquer delas” e acrescentava: "Se El-Rei determina povoar mais esta terra, é necessário que venham muitas mulheres órfãs e de toda qualidade até meretrizes, porque há aqui várias qualidades de homens; e os bons e os ricos casarão com as órfãs; e deste modo se evitarão pecados e aumentará a população no serviço de Deus “.Não importava a condição social, moral ou economica dela, pois bastava que fosse "branca" e produzisse filhos "portugueses" na colonia para ser considerada "superior" às mulheres índias e negras, no imaginário colonial.
As que chegavam sózinhas eram normalmente as degredadas, forçosamente exiladas na colonia. O século XVII foi marcado pela chegada constante de “visionárias”, acusadas de feitiçaria, que eram sentenciadas ao exílio na colonia. Nem todas permaneceram no Brasil, parte regressando a Portugal após os cinco anos de pena de degredo.
Nos séculos seguintes, a imigração portuguesa não perdeu o seu caráter masculino. O Norte de Portugal na época era conhecido por ter o predomínio de mulheres exercendo atividades agrícolas tradicionais, pois muitos dos homens emigraram. As mulheres (e as crianças) portuguesas desembarcaram em maior número no Brasil quando alguma crise afligia Portugal, como durante a epidemia de filoxera que destruiu temporariamente a indústria do vinho do Porto em meados do século XIX.
Após a independência a mulher portuguesa que desembarcava no Brasil, geralmente pobre, se empregava como criada nos serviços domésticos. Frequentemente os textos da época faziam referência implícita à prostituição de portuguesas no Brasil.
O início do século XX foi um momento que representou uma reviravolta nas características da imigração portuguesa ao Brasil, uma vez que as mulheres passaram a representar uma parcela considerável dos imigrantes. A legislação portuguesa dificultava a migração de pessoas do sexo feminino, uma vez que exigia a emissão de passaporte e as mulheres dependiam da autorização dos pais ou do marido para imigrar.
A partir da década de 1890, verifica-se uma mudança no comportamento migratório português. As mulheres, que antes ficavam para trás, passaram a acompanhar seus homens na viagem migratória. Assim, a migração familiar e feminina portuguesa cresceu 41% entre 1891 e 1899 e 36% entre 1910 e 1919. Essas mulheres dividiam com seus maridos pequenos negócios, como padarias, bares e quitandas, trabalhavam como operárias, lavadeiras, costureiras, em áreas completamente diferentes das quais exerciam em suas aldeias de origem, muitas vezes tendo que trabalhar em jornada dupla para poder sobreviver e vencer os desafios no novo país de acolhimento.
A partir de meados do século XX os países de acolhimento se multiplicariam e as Marias de Portugal partiriam não apenas em navios rumo a outros continentes mas a “ salto” para cumprirem os seus fados em outros países europeus.
Apaixonadas, batalhadoras , honestas e com mãos abençoadas para toda obra
Na maior rede social da Internet, o Facebook, algumas mulheres criaram um grupo “ Mulheres Portuguesas na Diáspora” que se tornou um ponto de referência para relatos muito ricos de histórias de vida. Esse foi o ponto de partida desta comunicação que não pretende ser nada mais além do que um breve resumo do que está disponível no referido grupo. A pedido de algumas, o anonimato foi preservado. Há feridas cicatrizadas e outras que sangrarão para sempre. Em comum, uma fé inabalável e o amor por Portugal.
“ Me enamorei do filho do dono das terras onde os meus pais trabalhavam , e mal tive o meu filho deixei-o aos cuidados de familiares e vim tentar a sorte no Brasil onde moravam uns tios que me mandaram a carta de chamada. Vim trabalhar como babá, aqui as pessoas ricas gostavam muito de portuguesas para olharem pelos filhos. Sofri muito porque estava eu a criar filhos dos outros enquanto o meu , pobrezinho, sabe-se lá se tinha o que comer, o que vestir e o que calçar. Alguns anos depois conheci um “patrício” que tinha emigrado e era dono de um pequeno comércio. Nos casamos, fiquei a trabalhar com ele e tivemos dois filhos. Ele sabia da minha vida , do meu filho que tinha ficado em Portugal . Estourou a guerra em África e para que o meu rapaz não fosse para lá ele conseguiu uma pessoa que arranjou a papelada e ele veio para cá.O reencontro não foi muito bonito, nós não nos conhecíamos.Ele só ficou por cá três anos, conheceu uma brasileira com quem se casou e emigrou para a Venezuela. Nunca mais o vi, nunca mais tive notícias. Nunca retornei a Portugal e o Brasil a quem dei o meu suor e as minhas lágrimas, ficará também com os meus ossos.”
A.P., 85 anos, natural da Beira Alta, , emigrante no Brasil
“ Minha história começa quando o meu pai teve que emigrar no ano de 1968 quando eu tinha 7 anos. Para minha mãe não foi fácil ficar em Portugal com 4 filhos e de gerir uma casa de forno onde se vendia o pão alentejano , ter que peneirar amassar o pão e cozer e vender .Para meu pai também não foi nada fácil ter que ir para um país tão distante sem saber falar a língua. Ele sequer sabia ler e escrever ..Embarcou em Santa Apolonia com destino a Alemanha pois iria trabalhar para o porto de Hamburgo , um trabalho bem duro pois tinham que carregar muitos quilos às costas nada comparado com os dias de hoje que é tudo à força de máquinas. Entretanto foi para o porto de Bremen .Ai trabalhou mais uns tempos e como tinha uma cunhada no sul da Alemanha, em Donaueschingen ,ela arranjou ao meu pai um trabalho na fábrica onde ela trabalhava .Mais tarde por intermédio de um amigo conseguiu arranjar um trabalho na Opel em Bochum onde ficou ate a sua reforma ..Depois de estar estável mandou a minha mãe e uma irmã ir. Isso aconteceu em 1973 .Eu e os meus outros dois irmãos ficamos com os avós maternos , pois nos ainda andávamos na escola .Eu andava na altura no 2° ano do Ciclo. Deu-se a revolução de 1974 ainda fui mais os colegas festejar para as ruas com os cravinhos nas mãos.Em Agosto de 1974 meus pais vieram e levaram-me com eles para a Alemanha .No outro ano a seguir foram os outros dois irmãos e assim já estava a família toda completa .Vivíamos num prédio no quarto andar numa casa com um quarto , sala ,cozinha e casa de banho .Os pais dormiam no quarto , nós raparigas na sala e o meu irmão na cozinha .A partir daí a minha vida mudou totalmente de criança para mulher pois com treze anos ainda tinha o direito de ir frequentar a escola na Alemanha mas meus pais se opuseram e minha mãe levava-me com ela para o trabalho !!Ela ia fazer limpeza num hospital onde eu lhe ajudava , comecei eu a fazer tudo o que me vinha de trabalhos dos mais variados , em limpeza, trabalhei a fazer pizzas a cortar cebolas para fazer a carne no espeto, numa lavanderia a passar a ferro.Enfim de tudo o que me aparecia porque eu ainda era uma menor .Em 1978 conheci meu marido pensei em casar pois tinha na altura 17 anos .O casamento aconteceu em Dezembro de 1978 .E vim para a terra onde meu marido se encontrava pois ele sendo também um emigrante português e emigrado em 1971 .Começamos a nossa vida de casados trabalhando e economizando para fazer uma casinha em Portugal pois é o sonho de todos os portugueses um dia voltarem a sua terra natal. Assim se concretizou o sonho da casinha , tivemos dois filhos que estudaram em escolas alemãs, um com trinta e um ano que já casou e nos deu duas netinhas de mãe alemã e o outro com 28 anos. Hoje passados quase 38 anos e o marido 41 ainda continuamos na Alemanha pensando um dia regressar a Portugal quando tivermos a nossa reforma .Os nossos filhos estão cá ,vivem cá e agora estão as nossas netas !!!!Mas será que esse dia virá ou não ? Decisão difícil de tomar !!!!E só o tempo o dirá !!
Silvia Messias , 51 anos, natural de Beja , emigrante na Alemanha
“Sou emigrante desde a minha tenra idade de 3 anos...primeiro emigrei com meus pais para França... Aos 7 anos meu pai decidiu que eu deveria fazer a escola primária em Portugal e assim aconteceu...Aos 13 anos regressei de novo a França... Aos 19 anos conheci meu marido que vivia na Alemanha então casei e fui viver para a Alemanha...Ao fim de 20 anos de vivência na Alemanha ,a saudade do nosso Portugal bateu à porta e decidi ir viver para Portugal onde aguentei 5 anos... Agora há cerca de um ano e meio emigrei de novo para França onde continuo a viver e não tenciono sair... Aqui está mais um retrato rápido da emigração...”
Alzira Macedo, 43 anos, natural de Bragança , emigrante na França
“No dia 21 de novembro de 2007 vi me forçada a abandonar o meu país! Mas mais doloroso abandonar os meus preciosos: a minha menina tinha 5 aninhos e o meu menino tinha simplesmente 3 mesitos, mas para poder lutar por uma vida melhor para eles decidi vir para Inglaterra....As pessoas que me trouxeram só arranjaram trabalho para mim e não para o meu marido. Foi tão doloroso para todos nós....todos os dias ouvia crianças a chamar pelos pais e as minhas lágrimas simplesmente corriam cara abaixo de tanta dor e saudade...ao fim de um tempo consegui trazer o meu marido mas mais uma vez tive de deixar os meus bebes para trás (pois as pessoas com quem eu morava não queriam que os trouxesse) e então aí foram 4 meses sem os ver....Cada dia que passava tornava se mais impossível de viver sem eles......Sofri muito mas agora estamos todos juntinhos , graças a Deus! “
Claudia Fernandes, 32 anos, natural de Setubal, emigrante na Inglaterra
“ Todas nós sofremos por ter emigrado, não importa para onde. O meu pai emigrou com toda a família para a Argentina e para isso precisou vender uma herança que era da minha mãe, ela nunca o perdoou por isso. Acho que era o nosso destino mas perdemos a nossa identidade porque em Portugal somos emigrantes e onde moramos somos estrangeiras... então qual é o nosso país?? Só por isso já temos um pesadelo que nunca tiramos de cima dos ombros embora digam que as Mulheres vencem muitas batalhas. Mas sofremos muito, muitas vezes em silêncio, só Deus sabe o que sofremos . Conheci muitos portugueses aqui que, como eu, nunca mais voltaram a Portugal porque muitos não conseguiram ficar ricos, passaram tempos muito difíceis, alguns até fome passaram para conseguir juntar algum dinheiro. Sou professora de música e para não perder a minha nacionalidade portuguesa não pude dar aulas em escolas públicas ou privadas mas fiz parte de uma orquestra de música clássica e com ela me apresentei em vários programas de televisão. Um dia destes tenho que escrever um livro, é o que me falta fazer”.
N.C., 63 anos, natural de Aveiro , emigrante na Argentina
“Eu emigrei para a Austrália, sem nada, só com a minha roupinha vestida ...eu ,meu marido e o meu filho de 15 meses ao colo . Viemos com a minha irmã para enfrentar e recomeçar a vida sem saber o que nos esperava..o não saber a língua foi o problema principal. Deus nos ajudou , hoje já tenho 40 anos como emigrante e ja temos 3 netos . Penso que vamos acabar os nossos dias por aqui em Sidney , neste país que nos acolheu de braços abertos . Enfim, mas só Deus é que pode saber onde e como será o nosso fim, como se costuma dizer porque o dia de amanhã ninguém o viu e ninguém o sabe, portanto está nas mãos de Deus. Que Ele nos ajude a todos e nos abençoe!
Lucy Mendonça, 60 anos, natural da Guarda, emigrante na Austrália
“Emigrei para a França e fui morar com a minha irmã que era porteira num prédio da avenue Kleber em Paris. O meu cunhado trabalhava nas obras de saneamento durante a noite e assim sobrava lugar pra mim na cama com a minha irmã porque só tínhamos um quarto, com um lavatório que servia também de pia de cozinha e a sanita era um balde. O prédio tinha sete andares e nós morávamos no último mas não podíamos utilizar os três elevadores, subíamos a pé. Arranjei trabalho numa banca de frutas perto da Bastilha, acordava todos os dias às 5 da manhã, vida muito dura e depois que consegui a confiança do patrão que era da Argélia, passei a dormir nos fundos do comércio . Um lugarzinho pequeno mas que era o meu cantinho onde eu tinha a minha cama e as minhas coisinhas. Um dia um freguês perdeu a carteira com muito dinheiro junto das verduras. Eu encontrei e fui devolver não esperando nada mais do que um “ merci”. O dono da carteira era um senhor de origem judaica, dono de uma rede de lojas de tecidos nas proximidades de Montmartre e me convidou para trabalhar numa das lojas. Foi a minha sorte! Depois de alguns meses eu já me desembaraçava no francês e fiquei gerente nessa loja para depois de alguns anos ser gerente geral de mais de 20 lojas. No trabalho conheci o meu marido que é francês e que gosta muito de Portugal. Não tivemos filhos mas temos um casal de “ caniches” e muitos sobrinhos com que vamos todos os anos passar férias a Portugal. A França foi boa para mim, os franceses também e eu aprendi que a honestidade sempre compensa”.
Vitória Guimarães, 53 anos, natural de Braga, emigrante na França.
Bibliografia :
Arroteia, Jorge Carvalho, “A Emigração Portuguesa, suas origens e distribuição”, Editora ICALP, Lisboa, 1983 ;
Brettell, Caroline B. , “ Homens que Partem, Mulheres que esperam”, Editotra Dom Quixote, Lisboa, 1991
Ferreira, Cristina , “ Breve Olhar sobre a Imigração Portuguesa: Portugal Emigrante”. Lusitano: Jornal de Portugueses Residentes no Estrangeiro, 17 jun., 1998, página 2 ;
Lobo, Eulália Maria Lahmeyer, “ Portugueses em Brasil em el siglo XX”, Madrid, Editora Mapfre, 1994
Serrão, Joel , “A Emigração Portuguesa; Sondagem Histórica”, Editora Horizonte, Lisboa, 1982 ;
Foto : Foto de Passaporte de uma família portuguesa, 1992, “ Imigração Portuguesa no Brasil”, série Resumoe, número 5, Memorial do Imigrante, São Paulo, 1999
* Jornalista, brasileira , emigrante em Portugal desde 1974 e colaboradora do jornal Mundo Lusíada, publicação quinzenal editada em São Paulo.
COMUNICAÇÃO DE CUSTÓDIA DOMINGUES
O caso de França: a afirmação de uma autonomia
Custódia Domingues
Maia - Novembro 2011
Resumo
Em primeiro lugar permitam - me dizer o quanto dou valor a esta iniciativa
da associação “Mulher Migrante”. Considero que é um trabalho marcante
o que tem sido e está a ser feito por esta associação, em prol das
mulheres das comunidades portuguesas. O contributo que tem dado para
permitir uma maior visibilidade e um conhecimento real da história destas
mulheres ficará para o futuro.
Introdução
A evolução das comunidades portuguesas, e em particular as mulheres,
conheceu várias idades, desde os anos mais longínquos da emigração –
com carácter legal ou não – e da chegada aos países que as receberam até
aos dias de hoje. Este trabalho vai centrar-se no caso de França como país
de acolhimento, pois não é possível tratar o tema sem o limitar em termos
geográficos.
Caracterização
Para memória: na altura da Segunda Guerra Mundial, o número de
portugueses em França era cerca de 22 mil. (1)
A partir das décadas seguintes, é possível caracterizar melhor a emigração
portuguesa em França:
- Final dos anos 50 até 1974: A idade da emigração como procura da
sobrevivência e de uma vida material mais sólida. Em 1968, contavam-se
cerca de 500 mil portugueses em França. (2)
- Após 1974 até aos anos 90: A idade de uma conquista económica
baseada no trabalho, na procura da estabilidade financeira e na
transmissão de novos valores aos filhos.
(1) Janus 2001 –Estudo sobre a comunidade portuguesa em França
(2) “Le va-et-vient des Portugais en Europe” - revue Projet – 2001
Nos anos 90, as estatísticas francesas falavam de 900 mil a 1 milhão
de portugueses no país, ou até mais.
- Dos anos 90 até hoje: A idade da afirmação de uma autonomia
para a comunidade portuguesa que é igualmente o tempo de uma
segunda e mesmo de uma terceira geração que nasceu, cresceu e se
tornou adulta em território francês.
São os binacionais, ou luso-descendentes, que vivem, em simultâneo, a
riqueza e a complexidade de pertencerem a duas culturas. Em termos
demográficos, é complexo saber o número exato das pessoas nesta
situação, uma vez que o processo de «melting-pot» é pujante e significa
que os padrões de classificação são claramente difusos. De qualquer
modo, embora o ministério português dos Negócios Estrangeiros fale em
cerca de cinco milhões de portugueses e luso-descendentes espalhados
pelo mundo, este número será possivelmente mais elevado, com algumas
fontes a apontarem para números entre 10 e 15 milhões. Destes,
seguramente, mais de um milhão encontra-se em França.
- Ainda está para chegar, com plena maturidade e sobretudo com
maior visibilidade e reconhecimento a idade do exercício da cidadania.
Uma idade de poder político, poder no mundo dos negócios e poder cívico
com consciência.
É importante, no entanto, referir que algum caminho já foi percorrido e
existem hoje em França cerca de três mil luso-descendentes eleitos para
cargos políticos. Podemos citar os casos de algumas mulheres como Alda
Pereira-Lemaître, presidente da câmara de Noisy-le-Sec entre 2008 e
2010 ou Cristelle de Oliveira, a primeira portuguesa a apresentar-se como
candidata às eleições para o Parlamento Europeu. Existe ainda a CIVICA
- Associação de autarcas portugueses e luso-descendentes em França.
Segundo dados fornecidos por esta instituição, nas eleições municipais
francesas, em 2001, foram eleitos 350 autarcas de origem portuguesa.
As Mulheres da Diáspora em França: da idade da sobrevivência à idade
da autonomia
As mulheres tiveram um papel notório no movimento da emigração, em
particular nos anos 60, quando começaram a juntar-se aos familiares que
já se encontravam no país e a dedicar-se a tarefas pouco qualificadas
como, por exemplo, trabalhos domésticos e funções de «concierges».
Gradualmente, chegaram a um lugar e um espaço próprio: o do respeito
e o da autonomia. As mulheres conquistaram o respeito dos maridos,
dos filhos e da própria sociedade de acolhimento. Foram as grandes
transmissoras de valores no interior da família e fizeram a ponte entre
as duas sociedades. Foram elas que procuraram escolarizar os filhos
e permitiram a comunicação entre as duas culturas através de uma
aproximação e convivência com a sociedade de acolhimento, em
particular por meio das tarefas profissionais que exerciam. Essas mulheres
conquistaram autonomia financeira ao trabalharem tanto como os
maridos e contribuíram para o crescimento das capacidades financeiras
das famílias. Em paralelo, tomaram consciência do seu papel na sociedade
e souberam transmitir à geração seguinte o sentido da cidadania, em
particular através do acesso à educação, caminho para a autonomia.
A chegada das mulheres emigrantes aos media confunde-se com a
história da diáspora.
Porquê, dir-me-ão, a necessidade de descrever, mesmo que em grandes
linhas, a evolução histórica e social da emigração e das mulheres, quando
o que se pretende é caracterizar o papel das mulheres na comunicação
social da diáspora em França?
Porque o caminho é o mesmo.
Porque uma história confunde-se com a outra.
Porque se existem – e existem ainda que em quantidade limitada –, em
2011, mulheres jornalistas binacionais ou luso-descendentes é porque
foi traçado um percurso, o da idade da sobrevivência até à idade da
afirmação da autonomia.
Essa autonomia é, hoje, a de mulheres de segunda ou terceira geração
capazes de viver e trabalhar na sociedade francesa, inclusivamente nos
media, onde continuam a fazer crescer as consciências e o saber.
Os desafios atuais
Mulheres franco-portuguesas nos media franceses
Vamos citar alguns nomes presentes nos media nacionais franceses:
- Helena Morna – TV5
- Dulce Dias – Jornalista freelancer instalada na região de Lyon, que
também trabalha para a redacção portuguesa da Euronews.
A Radio France Internationale é um meio de comunicação francês que
conservou uma redacção de língua portuguesa, após vários meses de
luta por parte dos jornalistas. Salientamos que uma mulher da segunda
geração, Úrsula Soares, dirige a redacção de língua portuguesa para os
países africanos francófonos.
E, porque não referir alguns nomes no masculino?
- Paul Moreira – Trabalhou na RFI e atualmente desenvolve a sua atividade
no conhecido magazine “90 minutes” do Canal Plus
- Jorge Silva – Apresenta uma crónica na TV5 e trabalhou alguns anos no
programa “Encore” com a jornalista de origem espanhola Christine Bravo.
Quando assistimos ao telejornal da TF1 ou da France 2, é já relativamente
frequente, quando citam os repórteres, ouvirem-se nomes com
ressonância portuguesa: Paul Teixeira, Carine Santos, etc.
Mulheres franco-portuguesas nos media da Comunidade Portuguesa
Podem ser igualmente referidas aqui jovens jornalistas, presentes em
meios associativos e que escrevem para media menos conhecidos. São os
casos, por exemplo, de Liliane Saraiva, Stéphanie Ribeiro, Estelle Valente
na revista CapMag ou Carina Branco e Christine Soares da Lusopress TV.
É igualmente relevante citar alguns dos desafios que se colocam hoje às
mulheres da diáspora, apesar do percurso já feito. As mulheres jornalistas
da comunidade portuguesa em França conhecem problemas similares
aos das colegas jornalistas francesas, sendo que como se pode entender
a realidade da imprensa de língua portuguesa em França nada tem a ver
com a realidade do mercado profissional da comunicação e imprensa
francês:
-O nível de responsabilidades nas redacções é inferior ao dos
colegas homens.
- O nível de remuneração é inferior ao dos homens.
Alguns aspetos particulares da imprensa da comunidade portuguesa em
França:
- A precariedade da atividade: Ela é desenvolvida em carácter
de free-lance ou até sem verdadeiro vínculo ou estatuto e em órgãos
de comunicação que por vezes se encontram em situações demasiado
frágeis do ponto de vista económico e que não possuem uma estrutura
suficientemente profissionalizada.
- A escassa credibilidade dos media e da sua robustez financeira.
- A dificuldade em conquistar a geração mais recente de
binacionais/luso-descendentes para trabalharem nos media das
comunidades portuguesas.
Um parêntese curto
Este último aspecto está ligado, globalmente, a uma imagem de
Portugal que perdeu influência nas segundas e terceiras gerações das
comunidades portuguesas, na Europa e fora de Europa (não estou com isto
a desprezar « a missão de um mundo lusófono» defendido por Agostinho
da Silva, pelo contrário, mas a constatar uma realidade atual).
Se me permitem, no início dos anos 90 vim para Portugal para
dirigir e implementar, em equipa, um projecto que fazia todo o sentido: A
Confederação Mundial dos Empresários das Comunidades Portuguesas -
CMECP, de que fui secretária-geral.
O projeto que surgiu nos anos 90, de forma a implementar uma rede
de influência junto das comunidades portuguesas, estava certo e o timing
era também o certo.
Um projeto empolgante e com muito sentido para quem vive
e conhece a problemática das comunidades portuguesas e a sua
necessidade de se congregar em network, numa rede de influência
empresarial/económica, em particular após a entrada de Portugal na
Comunidade Europeia, em 1986.
Esse projeto, ao qual estive ligada até meados da década de 90, foi
desvirtuado por interesses financeiros e económicos e ficou pelo caminho.
Não serviu os interesses dos empresários da Diáspora, nem, infelizmente,
do país. Mas, o mundo empresarial das Comunidades – para quem o
conhece – continua a existir e com apreciáveis casos de sucessos.
É de lamentar que, perante a crise em que as economias mundiais
e portuguesa se encontram, não ter sido até agora concebido e criado
com seriedade uma verdadeira “Câmara de Comércio das Comunidades
Portuguesas”. Não ouvi até hoje nenhum decisor pensar nesses termos.
Essa sim, bem conduzida e com uma estratégia adequada a realidade
atual, pode dar frutos.
Imprensa online
Os suportes online existem na imprensa de língua portuguesa em França e
permitem a um público mais jovem, e feminino, expressar-se:
Sites:
Três de importância:
-Portugal vivo
- CapMag
-Luso.fr
A blogosfera bilingue
Alguns exemplos
- Fenêtre sur le Portugal
-Portugalmaniac´s
- Oi-campinas
-Aldeia- de-Gralhas.fr
Etc.
Existem luso-franceses e mulheres a trabalharem em jornais, revistas e
rádios das comunidades. Citamos os media mais conhecidos:
- Lusojornal
- Lusopress News
- Encontro
- Portugal Sempre
- Correio Português
- Action Catholique Ouvrière
- Cap Mag
- Vida Lusa
- Rádio Alfa
A este propósito é de referir que existem em França 42 rádios locais com
programas em língua portuguesa, bem como um canal de televisão por
cabo: a Lusopress TV.
Hoje em dia a rádio Alfa é sem dúvida “ la radio des Portugais de France”,
uma rádio com jornalistas profissionais que emite 24 horas por dia na
frequência FM 98.6. É conhecida e ouvida pela comunidade portuguesa e
lusófona em Paris, toda a região parisiense e em França. Existe desde 1987
e é uma referência para a comunidade.
Seria necessário confirmar, via um estudo científico mais aprofundado,
aquilo que nesta fase apurámos através de um levantamento mais
limitado, ou seja a direção dos media acima referidos, por exemplo, ainda
é na sua maioria masculina, com uma excepção, pelo menos nesta altura:
No Lusopress News, é uma mulher a dirigir a publicação: Lídia Sales.
Breve caracterização histórica dos media da diáspora em França
O jornalismo da comunidade portuguesa em França só começou a dar
mais espaço às mulheres – e elas próprias só começaram a conquistar
mais esse espaço – a partir de finais dos anos 80, princípios dos anos 90
com as chamadas «rádios livres».
Em 1982, o Estado francês emitiu várias licenças de rádio e foi a partir daí
que começou a irromper uma geração de jovens mulheres animadoras
de programas de rádio em toda a França (são os casos dos conhecidos
Radio Club Portugais, Radio Eglantine e Rádio Portugal no Mundo). Este
fenómeno também está ligado à vida associativa, muito intensa em
França: cada organismo criava o seu boletim informativo e o respetivo
espaço de expressão. Hoje, o número de associações que publicam com
regularidade um boletim informativo anda à volta de 30, mas na altura
representavam mais de uma centena.
O jornal «Presença Portuguesa» (1965-1996) foi a publicação que
inicialmente mais marcou a emigração portuguesa em França, pela sua
qualidade e a sua duração no tempo.
A seguir podem- se destacar, pelas suas reportagens e artigos:
- «Publi-Portugal» (anos 80 a 90)
- «Traço-de-União» (1985 – 1992)
- A revista «Peregrinação – des Arts et des Lettres de la diaspora
portugaise» (1983–1990) na qual modestamente publiquei alguns
escritos, também foi um marco na área literária. Existia um espaço para a
escrita feminina e uma expressão mais trabalhada teve oportunidade de
se dar a conhecer nos campos da literatura, teatro e poesia.
- «Luso-jornal» que iniciou a sua atividade em 2004 e que continua
presente no espaço da comunidade portuguesa de França. Trata da
atualidade e também tem um espaço mais dedicado à vida cultural.
Conclusão
O papel das mulheres nos media de expressão portuguesa em França
evoluiu dos anos 70 até ao presente. Passaram do invisível para o visível,
conquistaram um lugar na sociedade e, por consequência, no espaço de
expressão que é a comunicação social.
Tratam temas de atualidade, politica, desporto, economia, literatura
e talvez tenham uma vivência que lhes permite tratar com maior
sensibilidade os temas de cariz social.
As mulheres de segunda e terceira geração estão, na sua grande maioria,
a viver na sociedade de acolhimento que as viu nascer e deram um
salto qualitativo em termos de formação e educação. Da «concierge»
passou-se para mulheres com um currículo universitário e que vivem
plenamente a sua cidadania num mundo global. São cidadãs jornalistas,
advogadas, músicas, empregadas de escritório, administrativas,
professoras universitárias, médicas. No entanto, em Portugal continuam
a ser chamadas de «emigrantes» mesmo quando todos pertencemos a
uma União Europeia – para as que vivem neste espaço – no qual o termo
cidadão é o mais corrente.
Mesmo entendendo que é a expressão mais frequente e comum quando
Portugal fala das suas comunidades portuguesas no mundo, e que a
História e a sociologia têm explicação para essa realidade, não deixa
de ser significativo não se ouvir falar no termo “cidadão de origem
portuguesa ou um binacional ou até um luso- desendente português
a viver em França, ou na Alemanha ou no Luxemburgo” mas sim de
um “emigrante que vive em França, na Alemanha ou no Luxemburgo”.
Em 2011, existe ainda um trabalho de informação e comunicação por
fazer em Portugal sobre a evolução das comunidades portuguesas.
Esse trabalho seria, aliás, um motivo de auto-estima para os próprios
portugueses que vivem no território português. Para além de apaziguar
e repor alguma justiça numa imagem das comunidades no exterior que
continua desajustada no tempo, daria trunfos a Portugal.
É que as novas gerações não ficaram paradas no tempo. Souberam evoluir
e de uma primeira geração mais limitada e sacrificada passou-se para uma
terceira geração que está, ainda lentamente mas certamente, a fazer um
caminho de conhecimento da sua identidade e de qualificação do seu
estatuto profissional e cívico.
As mulheres jornalistas da diáspora são umas guerreiras e mensageiras
que continuam a dar voz, visibilidade, expressão e sentido à vivência de
milhões de portugueses espalhados pelo mundo.
“Especialista em Estratégia de Comunicação e Negociação /Gestão de redes de influência /Assessoria de Imprensa/Jornalismo. Business Development / Experiência na internacionalização”.
..
Custódia Domingues
Maia - Novembro 2011
Resumo
Em primeiro lugar permitam - me dizer o quanto dou valor a esta iniciativa
da associação “Mulher Migrante”. Considero que é um trabalho marcante
o que tem sido e está a ser feito por esta associação, em prol das
mulheres das comunidades portuguesas. O contributo que tem dado para
permitir uma maior visibilidade e um conhecimento real da história destas
mulheres ficará para o futuro.
Introdução
A evolução das comunidades portuguesas, e em particular as mulheres,
conheceu várias idades, desde os anos mais longínquos da emigração –
com carácter legal ou não – e da chegada aos países que as receberam até
aos dias de hoje. Este trabalho vai centrar-se no caso de França como país
de acolhimento, pois não é possível tratar o tema sem o limitar em termos
geográficos.
Caracterização
Para memória: na altura da Segunda Guerra Mundial, o número de
portugueses em França era cerca de 22 mil. (1)
A partir das décadas seguintes, é possível caracterizar melhor a emigração
portuguesa em França:
- Final dos anos 50 até 1974: A idade da emigração como procura da
sobrevivência e de uma vida material mais sólida. Em 1968, contavam-se
cerca de 500 mil portugueses em França. (2)
- Após 1974 até aos anos 90: A idade de uma conquista económica
baseada no trabalho, na procura da estabilidade financeira e na
transmissão de novos valores aos filhos.
(1) Janus 2001 –Estudo sobre a comunidade portuguesa em França
(2) “Le va-et-vient des Portugais en Europe” - revue Projet – 2001
Nos anos 90, as estatísticas francesas falavam de 900 mil a 1 milhão
de portugueses no país, ou até mais.
- Dos anos 90 até hoje: A idade da afirmação de uma autonomia
para a comunidade portuguesa que é igualmente o tempo de uma
segunda e mesmo de uma terceira geração que nasceu, cresceu e se
tornou adulta em território francês.
São os binacionais, ou luso-descendentes, que vivem, em simultâneo, a
riqueza e a complexidade de pertencerem a duas culturas. Em termos
demográficos, é complexo saber o número exato das pessoas nesta
situação, uma vez que o processo de «melting-pot» é pujante e significa
que os padrões de classificação são claramente difusos. De qualquer
modo, embora o ministério português dos Negócios Estrangeiros fale em
cerca de cinco milhões de portugueses e luso-descendentes espalhados
pelo mundo, este número será possivelmente mais elevado, com algumas
fontes a apontarem para números entre 10 e 15 milhões. Destes,
seguramente, mais de um milhão encontra-se em França.
- Ainda está para chegar, com plena maturidade e sobretudo com
maior visibilidade e reconhecimento a idade do exercício da cidadania.
Uma idade de poder político, poder no mundo dos negócios e poder cívico
com consciência.
É importante, no entanto, referir que algum caminho já foi percorrido e
existem hoje em França cerca de três mil luso-descendentes eleitos para
cargos políticos. Podemos citar os casos de algumas mulheres como Alda
Pereira-Lemaître, presidente da câmara de Noisy-le-Sec entre 2008 e
2010 ou Cristelle de Oliveira, a primeira portuguesa a apresentar-se como
candidata às eleições para o Parlamento Europeu. Existe ainda a CIVICA
- Associação de autarcas portugueses e luso-descendentes em França.
Segundo dados fornecidos por esta instituição, nas eleições municipais
francesas, em 2001, foram eleitos 350 autarcas de origem portuguesa.
As Mulheres da Diáspora em França: da idade da sobrevivência à idade
da autonomia
As mulheres tiveram um papel notório no movimento da emigração, em
particular nos anos 60, quando começaram a juntar-se aos familiares que
já se encontravam no país e a dedicar-se a tarefas pouco qualificadas
como, por exemplo, trabalhos domésticos e funções de «concierges».
Gradualmente, chegaram a um lugar e um espaço próprio: o do respeito
e o da autonomia. As mulheres conquistaram o respeito dos maridos,
dos filhos e da própria sociedade de acolhimento. Foram as grandes
transmissoras de valores no interior da família e fizeram a ponte entre
as duas sociedades. Foram elas que procuraram escolarizar os filhos
e permitiram a comunicação entre as duas culturas através de uma
aproximação e convivência com a sociedade de acolhimento, em
particular por meio das tarefas profissionais que exerciam. Essas mulheres
conquistaram autonomia financeira ao trabalharem tanto como os
maridos e contribuíram para o crescimento das capacidades financeiras
das famílias. Em paralelo, tomaram consciência do seu papel na sociedade
e souberam transmitir à geração seguinte o sentido da cidadania, em
particular através do acesso à educação, caminho para a autonomia.
A chegada das mulheres emigrantes aos media confunde-se com a
história da diáspora.
Porquê, dir-me-ão, a necessidade de descrever, mesmo que em grandes
linhas, a evolução histórica e social da emigração e das mulheres, quando
o que se pretende é caracterizar o papel das mulheres na comunicação
social da diáspora em França?
Porque o caminho é o mesmo.
Porque uma história confunde-se com a outra.
Porque se existem – e existem ainda que em quantidade limitada –, em
2011, mulheres jornalistas binacionais ou luso-descendentes é porque
foi traçado um percurso, o da idade da sobrevivência até à idade da
afirmação da autonomia.
Essa autonomia é, hoje, a de mulheres de segunda ou terceira geração
capazes de viver e trabalhar na sociedade francesa, inclusivamente nos
media, onde continuam a fazer crescer as consciências e o saber.
Os desafios atuais
Mulheres franco-portuguesas nos media franceses
Vamos citar alguns nomes presentes nos media nacionais franceses:
- Helena Morna – TV5
- Dulce Dias – Jornalista freelancer instalada na região de Lyon, que
também trabalha para a redacção portuguesa da Euronews.
A Radio France Internationale é um meio de comunicação francês que
conservou uma redacção de língua portuguesa, após vários meses de
luta por parte dos jornalistas. Salientamos que uma mulher da segunda
geração, Úrsula Soares, dirige a redacção de língua portuguesa para os
países africanos francófonos.
E, porque não referir alguns nomes no masculino?
- Paul Moreira – Trabalhou na RFI e atualmente desenvolve a sua atividade
no conhecido magazine “90 minutes” do Canal Plus
- Jorge Silva – Apresenta uma crónica na TV5 e trabalhou alguns anos no
programa “Encore” com a jornalista de origem espanhola Christine Bravo.
Quando assistimos ao telejornal da TF1 ou da France 2, é já relativamente
frequente, quando citam os repórteres, ouvirem-se nomes com
ressonância portuguesa: Paul Teixeira, Carine Santos, etc.
Mulheres franco-portuguesas nos media da Comunidade Portuguesa
Podem ser igualmente referidas aqui jovens jornalistas, presentes em
meios associativos e que escrevem para media menos conhecidos. São os
casos, por exemplo, de Liliane Saraiva, Stéphanie Ribeiro, Estelle Valente
na revista CapMag ou Carina Branco e Christine Soares da Lusopress TV.
É igualmente relevante citar alguns dos desafios que se colocam hoje às
mulheres da diáspora, apesar do percurso já feito. As mulheres jornalistas
da comunidade portuguesa em França conhecem problemas similares
aos das colegas jornalistas francesas, sendo que como se pode entender
a realidade da imprensa de língua portuguesa em França nada tem a ver
com a realidade do mercado profissional da comunicação e imprensa
francês:
-O nível de responsabilidades nas redacções é inferior ao dos
colegas homens.
- O nível de remuneração é inferior ao dos homens.
Alguns aspetos particulares da imprensa da comunidade portuguesa em
França:
- A precariedade da atividade: Ela é desenvolvida em carácter
de free-lance ou até sem verdadeiro vínculo ou estatuto e em órgãos
de comunicação que por vezes se encontram em situações demasiado
frágeis do ponto de vista económico e que não possuem uma estrutura
suficientemente profissionalizada.
- A escassa credibilidade dos media e da sua robustez financeira.
- A dificuldade em conquistar a geração mais recente de
binacionais/luso-descendentes para trabalharem nos media das
comunidades portuguesas.
Um parêntese curto
Este último aspecto está ligado, globalmente, a uma imagem de
Portugal que perdeu influência nas segundas e terceiras gerações das
comunidades portuguesas, na Europa e fora de Europa (não estou com isto
a desprezar « a missão de um mundo lusófono» defendido por Agostinho
da Silva, pelo contrário, mas a constatar uma realidade atual).
Se me permitem, no início dos anos 90 vim para Portugal para
dirigir e implementar, em equipa, um projecto que fazia todo o sentido: A
Confederação Mundial dos Empresários das Comunidades Portuguesas -
CMECP, de que fui secretária-geral.
O projeto que surgiu nos anos 90, de forma a implementar uma rede
de influência junto das comunidades portuguesas, estava certo e o timing
era também o certo.
Um projeto empolgante e com muito sentido para quem vive
e conhece a problemática das comunidades portuguesas e a sua
necessidade de se congregar em network, numa rede de influência
empresarial/económica, em particular após a entrada de Portugal na
Comunidade Europeia, em 1986.
Esse projeto, ao qual estive ligada até meados da década de 90, foi
desvirtuado por interesses financeiros e económicos e ficou pelo caminho.
Não serviu os interesses dos empresários da Diáspora, nem, infelizmente,
do país. Mas, o mundo empresarial das Comunidades – para quem o
conhece – continua a existir e com apreciáveis casos de sucessos.
É de lamentar que, perante a crise em que as economias mundiais
e portuguesa se encontram, não ter sido até agora concebido e criado
com seriedade uma verdadeira “Câmara de Comércio das Comunidades
Portuguesas”. Não ouvi até hoje nenhum decisor pensar nesses termos.
Essa sim, bem conduzida e com uma estratégia adequada a realidade
atual, pode dar frutos.
Imprensa online
Os suportes online existem na imprensa de língua portuguesa em França e
permitem a um público mais jovem, e feminino, expressar-se:
Sites:
Três de importância:
-Portugal vivo
- CapMag
-Luso.fr
A blogosfera bilingue
Alguns exemplos
- Fenêtre sur le Portugal
-Portugalmaniac´s
- Oi-campinas
-Aldeia- de-Gralhas.fr
Etc.
Existem luso-franceses e mulheres a trabalharem em jornais, revistas e
rádios das comunidades. Citamos os media mais conhecidos:
- Lusojornal
- Lusopress News
- Encontro
- Portugal Sempre
- Correio Português
- Action Catholique Ouvrière
- Cap Mag
- Vida Lusa
- Rádio Alfa
A este propósito é de referir que existem em França 42 rádios locais com
programas em língua portuguesa, bem como um canal de televisão por
cabo: a Lusopress TV.
Hoje em dia a rádio Alfa é sem dúvida “ la radio des Portugais de France”,
uma rádio com jornalistas profissionais que emite 24 horas por dia na
frequência FM 98.6. É conhecida e ouvida pela comunidade portuguesa e
lusófona em Paris, toda a região parisiense e em França. Existe desde 1987
e é uma referência para a comunidade.
Seria necessário confirmar, via um estudo científico mais aprofundado,
aquilo que nesta fase apurámos através de um levantamento mais
limitado, ou seja a direção dos media acima referidos, por exemplo, ainda
é na sua maioria masculina, com uma excepção, pelo menos nesta altura:
No Lusopress News, é uma mulher a dirigir a publicação: Lídia Sales.
Breve caracterização histórica dos media da diáspora em França
O jornalismo da comunidade portuguesa em França só começou a dar
mais espaço às mulheres – e elas próprias só começaram a conquistar
mais esse espaço – a partir de finais dos anos 80, princípios dos anos 90
com as chamadas «rádios livres».
Em 1982, o Estado francês emitiu várias licenças de rádio e foi a partir daí
que começou a irromper uma geração de jovens mulheres animadoras
de programas de rádio em toda a França (são os casos dos conhecidos
Radio Club Portugais, Radio Eglantine e Rádio Portugal no Mundo). Este
fenómeno também está ligado à vida associativa, muito intensa em
França: cada organismo criava o seu boletim informativo e o respetivo
espaço de expressão. Hoje, o número de associações que publicam com
regularidade um boletim informativo anda à volta de 30, mas na altura
representavam mais de uma centena.
O jornal «Presença Portuguesa» (1965-1996) foi a publicação que
inicialmente mais marcou a emigração portuguesa em França, pela sua
qualidade e a sua duração no tempo.
A seguir podem- se destacar, pelas suas reportagens e artigos:
- «Publi-Portugal» (anos 80 a 90)
- «Traço-de-União» (1985 – 1992)
- A revista «Peregrinação – des Arts et des Lettres de la diaspora
portugaise» (1983–1990) na qual modestamente publiquei alguns
escritos, também foi um marco na área literária. Existia um espaço para a
escrita feminina e uma expressão mais trabalhada teve oportunidade de
se dar a conhecer nos campos da literatura, teatro e poesia.
- «Luso-jornal» que iniciou a sua atividade em 2004 e que continua
presente no espaço da comunidade portuguesa de França. Trata da
atualidade e também tem um espaço mais dedicado à vida cultural.
Conclusão
O papel das mulheres nos media de expressão portuguesa em França
evoluiu dos anos 70 até ao presente. Passaram do invisível para o visível,
conquistaram um lugar na sociedade e, por consequência, no espaço de
expressão que é a comunicação social.
Tratam temas de atualidade, politica, desporto, economia, literatura
e talvez tenham uma vivência que lhes permite tratar com maior
sensibilidade os temas de cariz social.
As mulheres de segunda e terceira geração estão, na sua grande maioria,
a viver na sociedade de acolhimento que as viu nascer e deram um
salto qualitativo em termos de formação e educação. Da «concierge»
passou-se para mulheres com um currículo universitário e que vivem
plenamente a sua cidadania num mundo global. São cidadãs jornalistas,
advogadas, músicas, empregadas de escritório, administrativas,
professoras universitárias, médicas. No entanto, em Portugal continuam
a ser chamadas de «emigrantes» mesmo quando todos pertencemos a
uma União Europeia – para as que vivem neste espaço – no qual o termo
cidadão é o mais corrente.
Mesmo entendendo que é a expressão mais frequente e comum quando
Portugal fala das suas comunidades portuguesas no mundo, e que a
História e a sociologia têm explicação para essa realidade, não deixa
de ser significativo não se ouvir falar no termo “cidadão de origem
portuguesa ou um binacional ou até um luso- desendente português
a viver em França, ou na Alemanha ou no Luxemburgo” mas sim de
um “emigrante que vive em França, na Alemanha ou no Luxemburgo”.
Em 2011, existe ainda um trabalho de informação e comunicação por
fazer em Portugal sobre a evolução das comunidades portuguesas.
Esse trabalho seria, aliás, um motivo de auto-estima para os próprios
portugueses que vivem no território português. Para além de apaziguar
e repor alguma justiça numa imagem das comunidades no exterior que
continua desajustada no tempo, daria trunfos a Portugal.
É que as novas gerações não ficaram paradas no tempo. Souberam evoluir
e de uma primeira geração mais limitada e sacrificada passou-se para uma
terceira geração que está, ainda lentamente mas certamente, a fazer um
caminho de conhecimento da sua identidade e de qualificação do seu
estatuto profissional e cívico.
As mulheres jornalistas da diáspora são umas guerreiras e mensageiras
que continuam a dar voz, visibilidade, expressão e sentido à vivência de
milhões de portugueses espalhados pelo mundo.
“Especialista em Estratégia de Comunicação e Negociação /Gestão de redes de influência /Assessoria de Imprensa/Jornalismo. Business Development / Experiência na internacionalização”.
..
Comunicação de Ortelinda Barros
Trabalho e Empreendedorismo no Contexto da
Integração e do Regresso
Maria Ortelinda Barros Gonçalves
Universidade Portucalense /CEPESE/UP
ortelindabarros@gmail.com
ortelinda@upt.pt
Resumo
O regresso dos nossos emigrantes aos meios pequenos e rurais de onde partiram, e
de onde se continuam a registar elevadas taxas de emigração, poderá ser considerado
um fator potencialmente vantajoso para as áreas geográficas de origem, atenuando as
assimetrias regionais. No presente trabalho, questiona-se se os emigrantes regressados
têm capacidade de inovação e espírito empreendedor, e se aplicam estas potencialidades
no investimento e no desenvolvimento do seu local de origem. Baseando-nos na análise
dos dados de um inquérito por questionário feito a 51% dos emigrantes regressados
a um território do Norte de Portugal (303 indivíduos), verificamos que ressalta
dinamismo empresarial, especialmente de mulheres ex-emigrantes. Apresentaremos os
resultados de alguns inquéritos por entrevista.
1. INTRODUÇÃO
O possível regresso de emigrantes oriundos de meios pequenos e rurais, e com elevadas taxas de emigração, poderá
ser considerado como um fator vantajoso para as áreas geográficas de origem. Questiona-se se os emigrantes
regressados a um território rural do Norte de Portugal têm capacidade de inovação e espírito empreendedor e se
aplicam essas potencialidades no investimento e no desenvolvimento do seu local de origem, baseando-nos na análise
dos dados de um inquérito por questionário feito a 51% dos emigrantes regressados ao território em estudo (303
indivíduos).
Neste contexto, o presente artigo integra-se numa investigação que teve por base a recolha de dados em diversas
fontes de informação, numa lógica multimétodo, integrando técnicas de inquirição, de observação e de análise
documental. Esta complementaridade metodológica possibilitou à pesquisa uma maior amplitude de informação e
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uma maior riqueza, sendo construída, reformulada, testada e reconstruída por indução analítica.
O território que serviu de palco a esta investigação, ocupa uma área de 322 km². Nas últimas quatro décadas, sofreu
um decréscimo populacional de mais de metade da sua população, diminuindo o grupo de idade-jovem (0-14 anos)
sensivelmente o mesmo que ganhou o grupo de idade-idosa (> 65 anos). Trata-se de uma região com forte e longa
tradição migratória.
2. O EMIGRANTE REGRESSADO
Das respostas ao inquérito, 56,8% são homens (172 inquiridos) e 43,2% (131) são mulheres.
Dos regressados ao território de origem, 52,4% (153 inquiridos) têm mais de 60 anos de idade, seguindo-se a faixa
etária dos 50 aos 59 anos que atinge os 27,4% (80 inquiridos). A percentagem de jovens até aos 30 anos, que já viveu
a experiência de emigrante, é escassa, correspondendo a apenas 2,4%.Cruzando o género dos emigrantes regressados
com a sua idade atual, verifica-se uma certa homogeneidade de género. A maior discrepância encontra-se no intervalo
etário dos 30 -39 anos, no qual predominam as mulheres. Nas faixas etárias mais jovens (até aos 30 anos), denota-se
uma tendência para a proximidade de género, reflexo da feminização crescente dos fluxos migratórios.
A população inquirida apresenta baixo nível escolar. Do total de 292 inquiridos, 128 (ou seja, 43,8% da amostra)
concluíram a escola primária. No entanto, 21,2% (62 pessoas) não sabe ler nem escrever e 23,3% (68 pessoas) sabe
ler e escrever, mas não têm grau escolar. É residual, apenas 4 inquiridos, o número de indivíduos emigrantes com
estudos superiores.
Quanto ao nível de escolaridade, é notável a discrepância entre mulheres e homens, nos primeiros níveis de ensino,
sobretudo quanto aos indivíduos que sabem ler e escrever mas sem grau escolar: 35,3% do género feminino e 64,5%
do género masculino. A tendência para a homogeneidade acontece nos níveis de escolaridade mais avançados.
Apenas dois indivíduos ex-emigrantes, de ambos os géneros, frequentaram a universidade.
Este facto não causa admiração, já que a lei portuguesa só a partir de 1956 tornou obrigatória a escolarização até ao
4ª classe para os homens e, em 1960, para as mulheres. Dado que a maior parte dos inquiridos emigraram na década
de 60 e 70, ainda não tinham sido abrangidos por aquela lei. Os níveis de escolaridade são mais elevados nas camadas
mais jovens de emigrantes regressados, devido à cada vez maior aposta na instrução, através da escolaridade mínima
obrigatória, associada também a uma cada vez mais tardia inserção no mercado de trabalho.
2.1 DÉCADAS DE EMIGRAÇÃO DO EMIGRANTE REGRESSADO SEGUNDO O PRIMEIRO PAÍS DE IMIGRAÇÃO
Em todas as décadas, com exceção da década de 40 do séc. XX, a grande percentagem de emigrantes dirigiu-se
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para a França que foi, aliás, o principal país de acolhimento dos emigrantes provenientes do território em estudo.
Atente-se, ainda, que, na década de 50, embora 44,4% dos emigrantes tenham escolhido a França como país de
destino, também é significativo o número de emigrantes que partiram para o Brasil, (33,3%).
Já na década de 90, apesar de o principal destino ser a França, também a Alemanha, os EUA e Andorra foram
países escolhidos. De destacar que, na década de 90, se começou a assistir a fluxos de emigração sazonal, fruto da
instabilidade económica vivida em Portugal, fenómeno este com contornos diferentes da emigração registada em
décadas anteriores.
Só a partir da década de 60 é que surge um segundo país de imigração. Entre 1960-1969, 66,7% dos emigrantes
(2) partiram para França e 33,3% (1 individuo) para Angola. Já na década de 70, os destinos de 4 indivíduos,
repartiram-se pelos EUA, Suíça, Canadá e Luxemburgo. Na década seguinte, a emigração dirigiu-se exclusivamente
para o Canadá. Nos anos 90, os dois países de destino para 2 indivíduos foram os EUA e a França.
A principal razão que determinou a opção de emigrar é uma razão económica (87,5%, 252 inquiridos). Os inquiridos,
independentemente do género e/ou da idade, emigraram, sobretudo, por questões financeiras. O panorama das
razões de emigração apontadas pelos inquiridos, “(…) corresponde, de algum modo, à imagem que se tem da
emigração portuguesa, originada fundamentalmente em motivos de ordem económica” (Silva, 1984, p.99). Nas “leis
de Migração de Ravestein" ou na “Teoria da Migração” de Lee (1969), a migração sempre foi encarada como a
resultante de um cálculo microeconómico entre as perspetivas oferecidas na sociedade de destino frente às condições
prevalecentes na sociedade de origem (Patarra e Cunha, 1987; Salim, 1992; Pacheco e Patarra, 1997). Neste balanço
microeconómico, pobreza, ausência de emprego e meios de produção constituem-se como fatores de expulsão. Por
outro lado, as oportunidades de emprego e melhores salários contrariam esta tendência. Mas não é exclusivamente
o fator económico a razão da emigração dos inquiridos em estudo; razões familiares, nomeadamente o facto de o
cônjuge ser já emigrante, são justificações de saída para onze indivíduos da amostra em estudo. Razões políticas e a
fuga ao serviço militar obrigatório aparecem de forma escassa e apenas nas décadas de 60 e 70.
2.2 MOTIVOS DE REGRESSO E QUADRO FAMILIAR DO EX-EMIGRANTE
Em diferentes partes do Mundo, vários investigadores têm estudado a emigração de regresso (Brettell 1979;
Gmelch 1980, 1983, 1987, 1992; Guarnizo 1997, etc.); e prestado atenção a tipologias da migração de regresso. Uma
distinção básica encontra-se entre os emigrantes, que visam a sua partida como permanente, e aqueles que tencionam
que seja temporária. Gmelch (1980) refere que a maior parte dos estudos indicam que os fortes laços familiares, em
vez dos fatores económicos, são o maior incentivo para o regresso.
De facto, a família desempenha um papel muito importante no indivíduo emigrante. Esta é o seu grande suporte
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e as ligações familiares parece solidificarem-se aquando da emigração. Assim, encontramos os motivos familiares,
nomeadamente a garantia da unidade familiar, como a principal razão do regresso do emigrante por nós estudado
(23,3%, 63 inquiridos). As saudades e o amor à terra natal surgem em segundo lugar, com 11,9%, (32 inquiridos), o
que é revelador da ânsia de regresso às raízes.
Quase sem relevância surgem as razões políticas (1,9%, 5 inquiridos) e a falta de condições de acolhimento no
país de imigração (0,4%, 1 inquirido).
Stack (1996, p.15), estudando os africanos na América do Norte, chega às mesmas conclusões quanto aos motivos
de regresso dos emigrantes, “(…) o resolver regressar a casa não é primeiramente uma decisão económica mas uma
mistura poderosa de motivos. As pessoas sentem uma obrigação de ajudar os seus parentes, ...”
No caso português (Brettell 1979), esta ideologia está ligada ao conceito, culturalmente intrínseco, de saudade –
nostalgia pela terra de origem. Feldman-Bianco (1992, p.145) afirma que saudade “é uma construção cultural que
define a identidade portuguesa no contexto de múltiplas camadas de espaço e tempo (passado).”
No nosso estudo, 48,5% dos inquiridos emigraram na companhia do cônjuge. Este facto revela a importância da
família para os inquiridos à data da emigração. Importante também é a percentagem de cônjuges (32,0%) que
emigraram mais tarde. Este facto leva a concluir que o indivíduo procurou, em primeiro lugar, criar boas condições
de vida para, num momento posterior, poder receber o cônjuge. Residual (2,0%) é a percentagem de inquiridos cujo
cônjuge “já lá estava”.
2.3 ( RE) INTEGRAÇÃO DO EX-EMIGRANTE NO LOCAL DE ORIGEM
Analisando o perfil socioeconómico do emigrante no momento da partida, verificamos que 76,7% dos inquiridos
eram trabalhadores familiares antes de emigrarem , dos quais 71,8% integravam o sector agrícola como principal
ocupação, 11,5% os serviços domésticos e 7% a construção civil.
A baixa percentagem de patrões que resolveram emigrar deve-se ao facto de a situação destes permitir melhores
condições económicas e mais estabilidade, o que reduz a necessidade de aposta na emigração. No grande conjunto
de trabalhadores familiares, os homens concentram-se entre os 20 e os 49 anos, com destaque para o grupo etário dos
30-39 anos; no género feminino, a distribuição é transversal a quase todas as idades.
Os emigrantes chegados ao país de destino, devido à pouca experiência, aos critérios seletivos usados pelos
empregadores, à escassa formação profissional adquirida no país recetor, ao desconhecimento dos mecanismos
de funcionamento do mercado de trabalho urbano, às próprias referências anteriores de sobrevivência bastante
precárias no local de origem, considerando inclusive as ocupações urbanas dotadas de mais elevado status, acabam
inserindo-se nas profissões de baixa qualificação da construção civil e dos serviços, normalmente sujeitos a processos
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contratuais precários (Alberts, 1997; Martine, 1997 e 1980ª). O deficiente domínio da língua estrangeira e a baixa
escolaridade dos inquiridos constitui também um obstáculo ao desempenho das funções exigidas.
Do total de inquiridos, 32,9% (96 inquiridos) foram para o estrangeiro trabalhar na construção civil e 21,6% (63
inquiridos) ocuparam-se em serviços domésticos. Em terceiro lugar surge a agricultura, com 12,0% (35 inquiridos),
percebendo-se que esta atividade sofre um acentuado decréscimo. Os sectores do comércio (5,5%, -16 inquiridos),
dos transportes e comunicações (2,1%, -6 inquiridos) e da restauração (2,7%, -8 inquiridos) reúnem baixas
percentagens.
A ocupação profissional com maior preponderância para o género masculino é a construção civil, concentrando-
se os inquiridos entre os 20 e os 49 anos. Nas mulheres, é claramente o sector dos serviços domésticos a englobar o
maior número de emigrantes, também nas faixas etárias dos 20 aos 49 anos.
A diferença nas ocupações profissionais no primeiro e no último emprego, no país de imigração, não são
significativas. O sector da construção civil, para os homens, mantém a liderança, aproximadamente com o mesmo
peso no conjunto da amostra, assim como os serviços domésticos, para as mulheres.
A ligeira exceção a este cenário centra-se no sector da jardinagem, que sofreu um ligeiro decréscimo do primeiro
para o último emprego no país de imigração, assim como no ramo da restauração que registou um leve aumento
percentual. Tendo em conta as ocupações profissionais dos inquiridos antes de emigrarem e as integradas no país
de acolhimento, encontramos apenas mobilidade estrutural (…), ou seja, de um sector profissional para outro”
(Leandro, 1995, p. 210). Concluímos que, se para alguns emigrantes a mobilidade geográfica se constitui como
uma inevitável estratégia de sobrevivência básica para garantir a sua posição na estrutura social, para outros, porém,
proporcionou-lhes uma melhor inserção socioeconómica. Quando questionados os emigrantes regressados sobre o seu
poder de compra e nível de vida no país de imigração em comparação com a respetiva situação antes de emigrarem,
encontramos visíveis melhorias.
Verificamos que 54,2% dos inquiridos alegaram ter “muito mau” poder de compra, no início, melhorando-o com
a emigração. No país de imigração, 37,2% dos inquiridos referem ter uma situação “razoável” (23,6%) e “mais que
razoável” (13,6%), indicando 17,2% dos indivíduos uma situação “boa” e “excelente”.
Analisando as mudanças ocupacionais, do emigrante regressado, ao longo da sua trajetória migratória (emigração-
regresso), verifica-se que, independentemente do género, estes estiveram sujeitos a níveis crescentes de mobilidade,
para ocupações mais acima ou mais abaixo na escala sócio ocupacional, mas também em direção à inatividade e
desocupação. Recordamos que, antes da emigração, a maior parte dos inquiridos eram trabalhadores familiares,
não existindo ninguém a viver de rendimentos. Após o regresso, muitos vivem na situação de reformado, enquanto
que outros vivem dos rendimentos auferidos no país de acolhimento ou se tornam patrões, sendo este estatuto,
relativamente à situação na profissão, a mudança mais significativa encontrada, com as consequentes implicações
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económico-sociais que daí advêm. Apresentando valores residuais, encontramos situações de desemprego após o
regresso. Acerca da situação na profissão dos emigrantes regressados, segundo o género, é de frisar que, em ambos
os géneros, predomina a situação de reformado, a que se segue a situação de doméstica, no caso das mulheres, e de
trabalhador por conta própria, quanto aos homens.
Este razoável número de domésticas “(…) evidencia uma clara tendência para a reocupação, por parte destas,
do seu papel de “donas de casa”, mesmo depois de terem exercido alguma profissão no estrangeiro” (Seruya, L.
M. et al. 1985, p.84). O facto de as mulheres, após o regresso, poderem ficar em casa sem terem necessidade de
trabalhar, poderá significar que a emigração foi bem sucedida, possibilitando viver dos rendimentos no regresso.
Não encontramos uma redefinição das responsabilidades de género na esfera doméstica. Estas tarefas mantêm-se
na esfera feminina, confirmando-se o estereótipo de género ao centrar o trabalho da mulher no contexto doméstico.
No entanto, no regresso, observamos também alguma mudança na posição da mulher referente ao trabalho: de
doméstica antes de emigrar, se afirma agora numa situação que rompe com o controlo patriarcal e se integra no
mercado laboral como trabalhadora por conta própria (Hillmann, 1999, citado em Levent e Nijkamp, 2006; Pearce,
2005).Com exceção da situação de doméstica que obviamente abarca mais indivíduos do sexo feminino, as situações
de patrão, trabalhador por conta de outrem e reformado, independentemente do género, são as que recolhem mais
respostas por parte dos inquiridos. Assim, e relativamente ao país de acolhimento, confirmamos a existência de
mobilidade social ascendente, em virtude da mudança de estatuto e de situs no quadro das classificações sociais, com
melhorias socioeconómicas significativas.“… estatuto e situs constituem, de algum modo, as linhas de força dum
meio socioprofissional no espaço social” (Leandro, 1995, p.2119. É possível observar que a situação de trabalhador
por conta própria, independentemente do género, se encontra nas faixas etárias dos 20 aos 49 anos, e a de reformado
começa a apresentar valores relevantes a partir dos 40 anos. De realçar ainda o número considerável de inquiridos, no
intervalo dos 20-39 anos, a trabalhar por conta de outrem, o que vem reforçar o facto de muitos dos inquiridos terem
regressado ainda em plena idade ativa.
A ocupação profissional dos ex-emigrantes, após o regresso, é claramente a agricultura (53,7%). Este elevado
valor é justificado pelo facto de muitos emigrantes trabalharem na agricultura antes de emigrarem e, por isso, após o
regresso, sentirem apego à terra, sendo mais fácil a sua re (integração). Importa também não esquecer que muitos dos
emigrantes regressados voltam já numa idade avançada, difícil para ingressarem noutros empregos; e a agricultura,
no âmbito de uma economia doméstica, torna-se a atividade complementar do pecúlio amealhado no seu percurso
migratório. Os serviços domésticos surgem em segundo lugar, com 18,2%. O sector da construção civil atinge os
8,7%, sendo uma atividade habitualmente associada ao trajeto do emigrante no país de acolhimento. O comércio
aparece com 7,4%, atividade esta que permite uma certa mobilidade ascendente, autonomia e prestígio social. Os
transportes e comunicações, os têxteis, vestuário e calçado, surgem com 8,0%. Verifica-se uma certa mobilidade
intersectorial do ex-emigrante, relativamente às ocupações exercidas antes de emigrarem.
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O impacto do retorno sobre a dinâmica económica concelhia vê-se diminuído não só em razão da idade do
emigrante aquando do regresso, mas também em razão da baixa escolaridade e da forte inclusão no sector primário. À
medida que a idade vai avançando, a opção pela agricultura vai também aumentando, enquanto que a construção civil
vai diminuindo, percetível pelo facto de esta ser uma atividade com inerentes exigências físicas. O comércio, sector
de atividade que proporciona alguma autonomia e prestígio social, vai também decrescendo com o aumento da idade,
associado a um menor espírito empreendedor.
Pode concluir-se que, embora agente de poupança, o emigrante não o é tanto de investimento quando regressa
(Gonçalves, 2003, p.180). Há uma clara preocupação em viver do aforro/reforma conseguidos na emigração e uma
menor apetência pelo investimento.
A agricultura não só é o principal sector de atividade dos emigrantes regressados, é também o sector privilegiado
pelos dois géneros. Desta forma, enquanto os homens têm a agricultura como principal atividade, distanciando-se da
construção civil, as mulheres dividem-se entre a agricultura e os serviços domésticos.
Os ex - emigrantes inquiridos foram questionados sobre a sua perceção sobre o como seu poder de compra e o
nível de vida após a chegada, atualmente e por um período de 5 anos.
Verificamos que, após o regresso ao local de origem e após um período de emigração em que procuraram alcançar
melhores condições de vida, a grande maioria dos inquiridos indica como razoáveis o seu poder de compra e nível de
vida, 32,7%, (73 inquiridos). Apenas 27 inquiridos indicam como má ou bastante fraca a sua qualidade de vida após o
regresso. Também assumem valores relevantes os 44 inquiridos que afirmam ter um poder de compra e nível de vida
entre bom e excelente.
Observamos que, independentemente do tempo de estadia no país de acolhimento, a maioria dos inquiridos indica
como razoáveis o seu poder de compra e nível de vida após o regresso, não se verificando qualquer relação entre
ambas as variáveis. No entanto, os níveis mais altos de poder de compra e do nível de vida, assim como o “bastante
fraco” e “fraco”, concentram-se respetivamente nos intervalos até 5 anos e a partir dos 10 anos de emigração.
Constatamos que os ex- emigrantes com menor tempo de estadia no país de imigração demonstraram maior satisfação
relativa ao seu poder de compra e nível de vida aquando do regresso ao país de origem.
Atualmente, o poder de compra e o nível de vida mantém-se em patamares semelhantes aos indicados pelos
inquiridos após o fim do período de emigração, sem variações percentuais relevantes. Continuamos a constatar que
a maioria dos inquiridos indica como razoáveis. o seu poder de compra e nível de vida De salientar a continuidade e
consistência destes valores, igualmente nos patamares mais altos (de bom a excelente), daí poder-se concluir que este
item demonstra claramente que o objetivo principal da emigração (melhores condições económicas) foi cumprido,
tendo aliás proporcionado ao conjunto de inquiridos a manutenção desse nível de poder de compra e de nível de vida.
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Quando questionados acerca do seu poder de compra e nível de vida dentro de 5 anos, observamos que os
patamares indicados após o regresso e atualmente sofrem uma retração bastante visível talvez fruto da atual
conjuntura económica nacional, com perspetivas de desenvolvimento a nível local algo limitadas. Os inquiridos
concentram as suas respostas entre muito mau e razoável poder de compra e nível de vida
Um dado que não pode nem deve ser ignorado nesta questão, provavelmente consequência da instabilidade e
imprevisibilidade económica atual do país, é que 40,6% dos indivíduos (123 inquiridos) não responderam a esta
(116 inquiridos).
Quando questionados os emigrantes regressados sobre os problemas que encontraram a nível da reinserção local, é
notório, independentemente do género, o predomínio de problemas relacionados sobretudo com: assistência médica,
inadaptação à vida atual e falta de emprego.
Independentemente do género, o ex-emigrante continua a revelar, após o regresso, fraca apetência para o
investimento económico, alegando como desmotivação para esta atitude, entre outros motivos, a ausência de
incentivos e apoios, e a falta de mercado. As poupanças são gastas essencialmente em itens de consumo.
Ao nível do investimento das poupanças antes da emigração, verifica-se que 67% dos inquiridos,
independentemente do género, indicaram não ter qualquer tipo de poupanças que lhes permitissem investir. Os
pequenos investimentos que efetuaram dispersaram-se pela agricultura, construção ou compra de casa própria e
educação dos filhos, áreas estas de investimento sem destrinça de género.
Após o regresso, o ex-emigrante continua a revelar baixa propensão para investir na indústria e no comércio. O
principal investimento das poupanças é a construção de casa própria, seguido da agricultura e de algum comércio
local. O depósito no banco e a educação dos filhos seguem-se, mas com valores percentuais menos significativos,
no conjunto da amostra. Contudo, numa visão global, todos estes valores levam-nos a crer que o emigrante procura
estabilidade à chegada e realizar investimentos sem risco, assegurando o futuro da família. Donnan e Werbner
(1991); Gardner (1995); Gmelch (1980), nos seus estudos sobre as remessas dos emigrantes e a migração de regresso,
são unânimes em considerar que as poupanças dos migrantes são frequentemente gastas em itens de consumo, em vez
de investimento económico, acrescentando, inclusive, que as qualificações adquiridas no estrangeiro não podem ser
facilmente aplicadas ao contexto rural de origem.
Analisando o investimento auferido pelos inquiridos da nossa amostra segundo a idade de regresso, observamos
que são os homens, no intervalo dos 30 anos a 59 anos, a enfatizar que o investimento passa pela construção ou
compra de casa própria. Por seu lado, as mulheres manifestam a mesma vontade mas em idades mais baixas,
entre os 20 e os 39 anos. As restantes intenções de investimento das poupanças distribuem-se equitativamente
entre homens e mulheres, independentemente dos intervalos etários, não se verificando nenhum valor percentual
de relevo no conjunto da análise. A inexistência de políticas integradas de desenvolvimento rural, com destaque
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para o investimento em infraestruturas locais, de criação de parques industriais em colaboração com o Município,
assim como a escassez de centros de formação profissional, tem levado os ex-emigrantes a depositar no banco as
suas poupanças, não sendo assim potenciada a sua capacidade de mobilização/investimento, inibindo-os de se
constituírem como agentes de desenvolvimento local.
Assim, quando questionados sobre a aplicação de investimentos futuros,
independentemente do género, alega não ter poupança. Os emigrantes geralmente são pouco vocacionados para
atividades de risco. Dos inquiridos, 57,4% não pensam investir devido à idade avançada, 19,6% devido à falta de
incentivos e apoios, tendo 15,2% referido a falta de mercado. Quando integrados na análise dos intervalos etários,
observamos que a grande maioria afirma não ter poupança, sendo transversal a todas as faixas etárias, ainda que com
maior incidência entre os 30 e os 49 anos. Os emigrantes regressados, com idade avançada e com melhores condições
económicas após a emigração, centram a preocupação no futuro dos filhos.
Quando questionados sobre as inovações introduzidas após o regresso à origem, indicam que a principal se prende
com a habitação, que é, aliás, o seu grande investimento à chegada. Seguem-se os hábitos alimentares, as formas de
vestir, as relações pessoais e, por fim, os tempos livres. Apesar de haver uma readaptação ao estilo de vida antes da
emigração, há, claramente, uma introdução de novos hábitos por parte dos emigrantes regressados, introduzindo uma
certa urbanidade local. Quer a nível de género quer a nível de idades, não se verificam diferenças relativamente às
inovações introduzidas. Tanto os homens como as mulheres consideram que a maior inovação introduzida, após o
regresso ao país de origem, se prende com a habitação.
A principal inovação introduzida pelo emigrante na agricultura foi a aposta em equipamentos novos, com 51
inquiridos, seguindo-se os novos processos de trabalho, com 39 inquiridos e as novas formas de produção, com 31
inquiridos, e, em último lugar, as novas matérias-primas, com 6 inquiridos.
Não se notam diferenças significativas de género, ao nível das inovações introduzidas na agricultura. Analisando
estas inovações, segundo a idade de regresso, observamos que a introdução de novos equipamentos é indicada pelos
inquiridos com idades compreendidas entre os 30 e os 49 anos; a inovação de processos de trabalho pela faixa etária
dos 40-49 anos; e as novas formas de produção e cultivo pelos inquiridos entre os 30 e os 49 anos.
Independentemente dos motivos que tenham induzido os indivíduos à emigração-regresso ao local de origem,
a integração nas estruturas sociais preexistentes do local de chegada pressupõe um ajustamento às regras e valores
vigentes. Perante a dificuldade individual de integração, os indivíduos congregam esforços e iniciativas com vista
ao alcance de objetivos comuns, agrupando-se em estruturas formais de âmbito mais alargado – as associações de
migrantes. O associativismo constitui uma atitude contrária ao individualismo, já que o indivíduo, em vez de se
isolar, descobre “o outro”, descobre a ação conjunta e a capacidade de organizar-se e de agir em grupo, tornando-
se um ator social unido por um ideal comum. “A condição de imigrado conduz em boa parte a uma certa indiferença
a maior parte dos inquiridos, e
10
ou até ao isolamento social e são em boa parte as associações de carácter sociocultural que abrem o caminho para
uma reformulação das relações entre os imigrados mas também para uma mais fácil inserção na sociedade de
acolhimento” (Ferreira e Rato, 2000, p.211). O associativismo de migrantes constitui uma forma institucionalizada
de reforço do grupo perante ameaças exteriores, assim como de intervenção/manifestação perante a sociedade
recetora e respetivas instituições públicas. “Não há nada que a vontade humana desista de alcançar pela ação livre
do poder coletivo dos indivíduos unidos numa adesão pública de um certo número de indivíduos a estas ou aquelas
doutrinas ou interesses e no compromisso que assumem em contribuir de alguma forma para que elas prevaleçam”
(Tocqueville, 2001, p.236).
Na abordagem da problemática do associativismo dos ex-emigrantes no país de acolhimento e após o regresso ao
país de origem, a nossa amostra contempla, ainda que de um modo transversal, algumas questões que se prendem
com a natureza e com as motivações dos movimentos migratórios. Constatamos que o nível de participação
associativa dos emigrantes no país de acolhimento tem pouca expressão. No entanto, 40 inquiridos indicaram
ter algum tipo de participação associativa. O associativismo suscita maior interesse ao nível cultural, com 21
inquiridos a indicarem esse tipo de participação, talvez em razão da necessidade de aproximação a associações que
promovam o intercâmbio de culturas entre o país de origem e o país de acolhimento, com a criação de espaços para as
comunidades portuguesas.
Já ao nível desportivo, - um tipo de associação que geralmente agrega um grande número de intervenientes -, na
nossa amostra, apenas 5 inquiridos se associaram nesta modalidade de participação associativa, e apenas 1 inquirido
disse fazer parte de uma associação política. Observa-se uma maior participação dos homens, não se vislumbrando,
contudo, diferenças significativas quanto ao género, em termos de participação associativa. São sobretudo os
inquiridos que concluíram a escola primária, e independentemente do género, que revelam uma maior aptidão para
participar em associações preferencialmente do tipo cultural.
Quanto à participação associativa após o regresso, 51 inquiridos revelam ser, atualmente, membros de alguma
associação local, predominando as de âmbito cultural, o que reflete claramente a continuidade da experiência vivida
na emigração, na qual o contacto com as associações de portugueses sempre teve um papel importante na vida dos
emigrantes, servindo de elo de ligação quanto à língua, informações, costumes, informações, enlaces matrimoniais,
constituindo-se como meio de reviver a terra natal.
Analisando a participação associativa após o regresso segundo o género, verificamos que não se denota também
diferenças significativas em termos de participação, sendo as associações culturais e desportivas a colher os valores
percentuais mais significativos, quer no género masculino e quer no feminino. Curiosamente, ainda que sem grande
significado, a participação em associações de cariz desportivo é superior no género feminino que no masculino.
Também, em função dos níveis de escolaridade, não se denotam forças de correlação positivas ou negativas quanto à
11
participação associativa. A participação associativa de cariz cultural concentra-se no nível de escolaridade do 1.º ciclo
do ensino básico (escola primária), quer no género masculino, quer no feminino.
No que concerne à participação política, 20,9% (58) dos inquiridos estão inscritos num partido político. Dos
inquiridos, 13,0% (36) ocupam um cargo político.
Relativamente à inscrição num partido político (por género), segundo o nível de escolaridade, verificamos que a
inscrição não se correlaciona com o nível de escolaridade, quer para os homens quer para as mulheres. Em ambos os
géneros, a inscrição num partido político concentra-se nos baixos níveis de escolaridade.
Neste contexto, observamos envolvimento dos ex-emigrantes na vida política local. Dos 36 inquiridos que ocupam
cargos políticos, 30 pertencem à Junta de Freguesia, 2 ocuparam o cargo da Presidência da Autarquia Local, 4
ocuparam outros cargos junto do poder local, verificando-se um certo empenho dos emigrantes regressados na vida
política local.
Correlacionando a ocupação de um cargo político (por género) com o nível de escolaridade, observamos não
existir uma correlação positiva entre as variáveis. O valor mais significativo concentra-se ao nível da ocupação de
cargo na Junta de Freguesia, em que 14 inquiridos do género masculino com a escola primária indicam ter ocupado
um cargo na Junta de Freguesia.
A ocupação de cargos políticos demonstra claramente que são os homens a terem uma intervenção mais clara
do que as mulheres. Apenas 7 mulheres já ocuparam cargos políticos, contra 29 homens. Destes, o cargo mais
mencionado foi no âmbito da Junta de Freguesia, sendo que, dos 30 inquiridos que já ocuparem cargos ao nível
da Junta de Freguesia, 27 são homens e apenas 3 são mulheres. Giddens 1984; Scott 1985, confirmam noções
largamente aceites no sentido de que constrangimentos culturais impossibilitam as mulheres imigrantes de se
ocuparem em atividades políticas e de liderança dentro das suas comunidades.
3. PERCEÇÃO DAS CARÊNCIAS LOCAIS POR PARTE DO EX-EMIGRANTE
Para 50% dos inquiridos, as perspetivas de desenvolvimento do local de origem são “pequenas”. Apenas um
indivíduo indicou grandes expectativas de desenvolvimento do local para onde regressou. Os dados são reveladores
de um certo conformismo dos ex-emigrantes e alguma descrença na evolução da sua freguesia de residência.
Avaliando a relação entre a opinião sobre as possibilidades de desenvolvimento local em função do género e
idade, não se observa a existência de correlação significativa. A concentração do maior número de respostas verifica-
se ao nível das “pequenas” perspetivas de desenvolvimento local, e, dentro destas, os homens assumem maior peso
12
No atinente à pergunta do inquérito “que tipo de ajudas gostaria de obter? ”, os inquiridos indicaram como
prioritária a assistência médica. Seguem-se, por ordem decrescente de importância, os subsídios, facilidades na
conclusão dos estudos dos filhos, facilidades administrativas, empréstimos a juros bonificados, apoio técnico e
informação sobre aplicação das poupanças.
Avaliando segundo o género, a distribuição apresenta-se equitativa nas três principais ajudas indicadas. De
salientar apenas que os homens denotam maiores preocupações em relação a questões relacionadas com empréstimos
e com facilidades administrativas. Estes valores poderão estar relacionados com o facto de serem geralmente os
homens a gerir estas questões com mais regularidade. Os inquiridos integrados no escalão etário dos 30 aos 49 anos
são os que solicitam mais ajuda.
Dos inquiridos, 80 sugerem, como medidas a implementar para melhorar a agricultura na região, mais subsídios/
ajuda financeira, 33,6%, enquanto que 19,3% apelam para que se garanta ao agricultor o escoamento dos produtos.
Mas não é despiciendo que 44 inquiridos (18,5%) não sabem ou não respondem a esta questão. Na opinião de
39 inquiridos, a implementação de qualquer tipo de indústrias, seria importante para o concelho de Boticas. Dos
inquiridos, 23 nomeiam as fábricas de produtos agrícolas, 19 a produção de fumeiro e 17 o turismo rural/agricultura
Quando questionados ex-emigrantes sobre as medidas a implementar, por ordem de prioridade, para
desenvolvimento do território em estudo, 40,7% indicaram como sua grande preocupação o emprego, para fixar os
jovens aos seus locais de origem. Apenas 106 inquiridos indicaram uma segunda medida a implementar no concelho:
a melhoria dos acessos, com 10,4%, que se concentra na faixa etária dos 20/29 anos. As restantes medidas indicadas
apresentam valores residuais. Como terceira medida a implementar, dos 55 inquiridos que responderam a esta
questão, 14,5% (8 inquiridos) indicaram que facilidades bancárias dariam um novo impulso às condições económicas
dos habitantes da região.
4. INICIATIVAS EMPRESARIAIS DOS EMIGRANTES REGRESSADOS – ESTRATÉGIAS E
PERSPETIVAS DE
DESENVOLVIMENTO LOCAL
O incentivo à iniciativa empresarial tem sido usado por alguns países como uma forma de combater a
exclusão e permitir a mobilidade social.
O dinamismo empresarial de alguns emigrantes regressados, no território em estudo, tem feito renascer os
mercados locais, gerando inclusive o aparecimento de novas atividades. Tendo como objetivo um aprofundamento
daquele, apresentamos seguidamente os resultados de seis inquéritos por entrevista feitos por nós a emigrantes
regressados dos dois géneros. Segundo Ruquoy (em Albarello et al. 1997) “as entrevistas permitem uma
13
compreensão rara e matizada das situações que se relacionam com a forma de ver o mundo, as intenções e crenças
dos indivíduos…” (Albarello et al: 1997, p.84). Esta análise integra quatro eixos de caracterização: (1) Identificação
do empresário – Características demográficas e socioculturais e história de vida (mobilidade geográfica, percurso
académico e profissional, motivações pessoais e constituição familiar); (2) Identificação, caracterização e evolução da
empresa; (3) Apoio institucional e perspetivas de desenvolvimento concelhio; (4) Avaliação global da empresa (grau
de satisfação, fatores de in(sucesso) e impacto da empresa a nível local.
4.1CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS, SOCIOCULTURAIS E PERCURSOS DE VIDA
Apesar de obstáculos, e alguns deles já referenciados pelos próprios, o dinamismo empresarial de alguns emigrantes
regressados ao território em estudo tem feito renascer os mercados locais, gerando, inclusive, o aparecimento de
novas atividades. Tendo como objetivo a análise deste dinamismo, apresentamos os resultados de alguns inquéritos
por entrevista.
Esta análise integrou quatro eixos de caracterização: (1) Identificação do empresário – Características demográficas
e socioculturais e história de vida (mobilidade geográfica, percurso académico e profissional, motivações pessoais e
constituição familiar); (2) Identificação, caracterização e evolução da empresa; (3) Apoio institucional e perspetivas
de desenvolvimento local; (4) Avaliação global da empresa (grau de satisfação, fatores de in(sucesso) e impacto da
empresa a nível local).
Independentemente do género verificamos, relativamente às características demográficas, socioculturais e
percursos de vida, que:
- A idade média dos inquiridos é de 47,6 anos;
- Os empresários são autóctones ou ligados ao local em estudo por laços familiares;
- As habilitações literárias variam desde o 4ª ano até ao 12º ano;
- Apresentam formação diversificada adquirida no país de imigração;
- A maior parte dos empresários em estudo estão ligados a alguns tipos de associações;
- Registam mobilidade profissional ascendente;
- Foram imigrantes predominantemente em França;
- Se identificam como cidadãos europeus, exceto um dos entrevistados;
- Apresentam elevada mobilidade geográfica anterior ao regresso.
No
atinente
sistematizamos:
à
identificação,
caracterização
e
evolução
das
empresas,
14
- O ramo de atividade das empresas analisadas é diversificado, e referente
essencialmente à restauração e ao comércio;
- As empresas localizam-se na sede de concelho, à exceção de um dos hotéis;
- As empresas são de pequena dimensão e com baixo volume de vendas, mas
apresentando, na generalidade, evolução positiva;
- Todas as empresas apresentam forma jurídica em nome individual e estrutura familiar
quanto ao capital social e à composição dos recursos humanos;
- O Capital social provém essencialmente da poupança, embora também sejam referidos
o crédito bancário e fundos comunitários, respetivamente por dois e um inquiridos;
- As empresas apresentam boas perspetivas de crescimento e projetos futuros;
- As empresas são direcionadas para o mercado local e regional;
- A reação da comunidade à implementação das empresas em estudo segue uma
perspetiva determinista, face ao contexto territorial;
- A promoção da imagem das empresas é feita essencialmente pela rádio e pela Internet.
Relativamente à avaliação global da empresa, verificamos que:
- Os empresários encontram-se geralmente satisfeitos com as suas empresas;
- O impacto das empresas a nível concelhio é positivo e reflete-se na criação de:
emprego, riqueza, sinergias e investimentos.
Quanto apoio institucional e perspetivas de desenvolvimento local, salientamos o
seguinte:
- As empresas em análise revelam escasso apoio institucional. A generalidade dos
empresários desconhecem as vantagens/impactos dos fundos estruturais; consideram,
inclusive, a desadequação das exigências dos programas às realidades locais;
- O impacto das empresas a nível local é geralmente positivo, refletindo a criação de
emprego, de riqueza e sinergias locais;
- Os entraves ao desenvolvimento resumem-se em: despovoamento, débil marketing
territorial, falta de infraestruturas, escassa mão-de-obra especializada, falta de emprego,
forte envelhecimento populacional, salários baixos, burocracia e baixo poder de compra;
- As oportunidades de desenvolvimento para as empresas baseiam-se essencialmente
em: incentivos fiscais, proximidade fronteiriça, ambiente natural e mão-de-obra barata;
15
- As estratégias de dinamização da economia local passam pela implementação de
pequenas e médias indústrias ligadas à horticultura, à madeira, à produção de carnes
regionais, pelo fomento do turismo e revitalização da floresta e pela captação da energia
eólica.
Do referido, observamos que as mulheres emigrantes regressadas que
responderam a este inquérito por entrevista, revelaram, face aos homens:
- Habilitações literárias mais avançadas;
- Formação complementar mais diversificada;
- Percurso profissional mais variado;
- Grau de motivação mais elevado;
- Maior iniciativa e pro atividade.
CONCLUSÃO
Face ao exposto, consideramos oportuno potenciar (facilitando/apoiando) as forças/recursos dos espaços
territoriais esquecidos do nosso país, valorizando, inclusive, as capacidades, o know-how e as mudanças sociais,
económicas e culturais que os emigrantes regressados, e essencialmente as mulheres, induzem, de forma direta ou
indireta, nas comunidades locais, pondo em prática as condições de emancipação e de mobilidade social ascendente
que o percurso migratório lhes facultou.
Torna-se necessário fixar a população nos territórios desfavorecidos, travando o contínuo fluxo emigratório
e promovendo o regresso. A economia portuguesa, neste momento, está a sofrer ajustamentos que se traduzem
na diminuição do salário real, no desemprego, na perda dos direitos sociais, processo este que está também a
afetar as economias mais desenvolvidas da Europa Ocidental e Central. Este facto poderá constituir-se como uma
oportunidade de os nossos emigrantes aí residentes serem levados a relançar a sua vida em Portugal, nos territórios
de origem. Após estes ajustamentos, se esperam boas oportunidades de sucesso económico. Por isso, mais urgente
se torna, e em particular nas regiões deprimidas, a consolidação de estratégias de desenvolvimento local, apoiando
a criação de centros de inovação orientados para oportunidades de novos negócios/autoemprego, formação e
capacitação de potenciais empreendedores, criação de redes de mentores de apoio aos emigrantes regressados
empreendedores, a investigação e o desenvolvimento tecnológico.
Tornar os nossos territórios desfavorecidos espaços de atividade, de emprego e de criação de riqueza,
favorecendo a promoção dos nossos ex-emigrantes nos seus locais de origem, através de políticas de género pró-
16
ativas, deverá constar dos planos políticos de desenvolvimento.
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18
Integração e do Regresso
Maria Ortelinda Barros Gonçalves
Universidade Portucalense /CEPESE/UP
ortelindabarros@gmail.com
ortelinda@upt.pt
Resumo
O regresso dos nossos emigrantes aos meios pequenos e rurais de onde partiram, e
de onde se continuam a registar elevadas taxas de emigração, poderá ser considerado
um fator potencialmente vantajoso para as áreas geográficas de origem, atenuando as
assimetrias regionais. No presente trabalho, questiona-se se os emigrantes regressados
têm capacidade de inovação e espírito empreendedor, e se aplicam estas potencialidades
no investimento e no desenvolvimento do seu local de origem. Baseando-nos na análise
dos dados de um inquérito por questionário feito a 51% dos emigrantes regressados
a um território do Norte de Portugal (303 indivíduos), verificamos que ressalta
dinamismo empresarial, especialmente de mulheres ex-emigrantes. Apresentaremos os
resultados de alguns inquéritos por entrevista.
1. INTRODUÇÃO
O possível regresso de emigrantes oriundos de meios pequenos e rurais, e com elevadas taxas de emigração, poderá
ser considerado como um fator vantajoso para as áreas geográficas de origem. Questiona-se se os emigrantes
regressados a um território rural do Norte de Portugal têm capacidade de inovação e espírito empreendedor e se
aplicam essas potencialidades no investimento e no desenvolvimento do seu local de origem, baseando-nos na análise
dos dados de um inquérito por questionário feito a 51% dos emigrantes regressados ao território em estudo (303
indivíduos).
Neste contexto, o presente artigo integra-se numa investigação que teve por base a recolha de dados em diversas
fontes de informação, numa lógica multimétodo, integrando técnicas de inquirição, de observação e de análise
documental. Esta complementaridade metodológica possibilitou à pesquisa uma maior amplitude de informação e
2
uma maior riqueza, sendo construída, reformulada, testada e reconstruída por indução analítica.
O território que serviu de palco a esta investigação, ocupa uma área de 322 km². Nas últimas quatro décadas, sofreu
um decréscimo populacional de mais de metade da sua população, diminuindo o grupo de idade-jovem (0-14 anos)
sensivelmente o mesmo que ganhou o grupo de idade-idosa (> 65 anos). Trata-se de uma região com forte e longa
tradição migratória.
2. O EMIGRANTE REGRESSADO
Das respostas ao inquérito, 56,8% são homens (172 inquiridos) e 43,2% (131) são mulheres.
Dos regressados ao território de origem, 52,4% (153 inquiridos) têm mais de 60 anos de idade, seguindo-se a faixa
etária dos 50 aos 59 anos que atinge os 27,4% (80 inquiridos). A percentagem de jovens até aos 30 anos, que já viveu
a experiência de emigrante, é escassa, correspondendo a apenas 2,4%.Cruzando o género dos emigrantes regressados
com a sua idade atual, verifica-se uma certa homogeneidade de género. A maior discrepância encontra-se no intervalo
etário dos 30 -39 anos, no qual predominam as mulheres. Nas faixas etárias mais jovens (até aos 30 anos), denota-se
uma tendência para a proximidade de género, reflexo da feminização crescente dos fluxos migratórios.
A população inquirida apresenta baixo nível escolar. Do total de 292 inquiridos, 128 (ou seja, 43,8% da amostra)
concluíram a escola primária. No entanto, 21,2% (62 pessoas) não sabe ler nem escrever e 23,3% (68 pessoas) sabe
ler e escrever, mas não têm grau escolar. É residual, apenas 4 inquiridos, o número de indivíduos emigrantes com
estudos superiores.
Quanto ao nível de escolaridade, é notável a discrepância entre mulheres e homens, nos primeiros níveis de ensino,
sobretudo quanto aos indivíduos que sabem ler e escrever mas sem grau escolar: 35,3% do género feminino e 64,5%
do género masculino. A tendência para a homogeneidade acontece nos níveis de escolaridade mais avançados.
Apenas dois indivíduos ex-emigrantes, de ambos os géneros, frequentaram a universidade.
Este facto não causa admiração, já que a lei portuguesa só a partir de 1956 tornou obrigatória a escolarização até ao
4ª classe para os homens e, em 1960, para as mulheres. Dado que a maior parte dos inquiridos emigraram na década
de 60 e 70, ainda não tinham sido abrangidos por aquela lei. Os níveis de escolaridade são mais elevados nas camadas
mais jovens de emigrantes regressados, devido à cada vez maior aposta na instrução, através da escolaridade mínima
obrigatória, associada também a uma cada vez mais tardia inserção no mercado de trabalho.
2.1 DÉCADAS DE EMIGRAÇÃO DO EMIGRANTE REGRESSADO SEGUNDO O PRIMEIRO PAÍS DE IMIGRAÇÃO
Em todas as décadas, com exceção da década de 40 do séc. XX, a grande percentagem de emigrantes dirigiu-se
3
para a França que foi, aliás, o principal país de acolhimento dos emigrantes provenientes do território em estudo.
Atente-se, ainda, que, na década de 50, embora 44,4% dos emigrantes tenham escolhido a França como país de
destino, também é significativo o número de emigrantes que partiram para o Brasil, (33,3%).
Já na década de 90, apesar de o principal destino ser a França, também a Alemanha, os EUA e Andorra foram
países escolhidos. De destacar que, na década de 90, se começou a assistir a fluxos de emigração sazonal, fruto da
instabilidade económica vivida em Portugal, fenómeno este com contornos diferentes da emigração registada em
décadas anteriores.
Só a partir da década de 60 é que surge um segundo país de imigração. Entre 1960-1969, 66,7% dos emigrantes
(2) partiram para França e 33,3% (1 individuo) para Angola. Já na década de 70, os destinos de 4 indivíduos,
repartiram-se pelos EUA, Suíça, Canadá e Luxemburgo. Na década seguinte, a emigração dirigiu-se exclusivamente
para o Canadá. Nos anos 90, os dois países de destino para 2 indivíduos foram os EUA e a França.
A principal razão que determinou a opção de emigrar é uma razão económica (87,5%, 252 inquiridos). Os inquiridos,
independentemente do género e/ou da idade, emigraram, sobretudo, por questões financeiras. O panorama das
razões de emigração apontadas pelos inquiridos, “(…) corresponde, de algum modo, à imagem que se tem da
emigração portuguesa, originada fundamentalmente em motivos de ordem económica” (Silva, 1984, p.99). Nas “leis
de Migração de Ravestein" ou na “Teoria da Migração” de Lee (1969), a migração sempre foi encarada como a
resultante de um cálculo microeconómico entre as perspetivas oferecidas na sociedade de destino frente às condições
prevalecentes na sociedade de origem (Patarra e Cunha, 1987; Salim, 1992; Pacheco e Patarra, 1997). Neste balanço
microeconómico, pobreza, ausência de emprego e meios de produção constituem-se como fatores de expulsão. Por
outro lado, as oportunidades de emprego e melhores salários contrariam esta tendência. Mas não é exclusivamente
o fator económico a razão da emigração dos inquiridos em estudo; razões familiares, nomeadamente o facto de o
cônjuge ser já emigrante, são justificações de saída para onze indivíduos da amostra em estudo. Razões políticas e a
fuga ao serviço militar obrigatório aparecem de forma escassa e apenas nas décadas de 60 e 70.
2.2 MOTIVOS DE REGRESSO E QUADRO FAMILIAR DO EX-EMIGRANTE
Em diferentes partes do Mundo, vários investigadores têm estudado a emigração de regresso (Brettell 1979;
Gmelch 1980, 1983, 1987, 1992; Guarnizo 1997, etc.); e prestado atenção a tipologias da migração de regresso. Uma
distinção básica encontra-se entre os emigrantes, que visam a sua partida como permanente, e aqueles que tencionam
que seja temporária. Gmelch (1980) refere que a maior parte dos estudos indicam que os fortes laços familiares, em
vez dos fatores económicos, são o maior incentivo para o regresso.
De facto, a família desempenha um papel muito importante no indivíduo emigrante. Esta é o seu grande suporte
4
e as ligações familiares parece solidificarem-se aquando da emigração. Assim, encontramos os motivos familiares,
nomeadamente a garantia da unidade familiar, como a principal razão do regresso do emigrante por nós estudado
(23,3%, 63 inquiridos). As saudades e o amor à terra natal surgem em segundo lugar, com 11,9%, (32 inquiridos), o
que é revelador da ânsia de regresso às raízes.
Quase sem relevância surgem as razões políticas (1,9%, 5 inquiridos) e a falta de condições de acolhimento no
país de imigração (0,4%, 1 inquirido).
Stack (1996, p.15), estudando os africanos na América do Norte, chega às mesmas conclusões quanto aos motivos
de regresso dos emigrantes, “(…) o resolver regressar a casa não é primeiramente uma decisão económica mas uma
mistura poderosa de motivos. As pessoas sentem uma obrigação de ajudar os seus parentes, ...”
No caso português (Brettell 1979), esta ideologia está ligada ao conceito, culturalmente intrínseco, de saudade –
nostalgia pela terra de origem. Feldman-Bianco (1992, p.145) afirma que saudade “é uma construção cultural que
define a identidade portuguesa no contexto de múltiplas camadas de espaço e tempo (passado).”
No nosso estudo, 48,5% dos inquiridos emigraram na companhia do cônjuge. Este facto revela a importância da
família para os inquiridos à data da emigração. Importante também é a percentagem de cônjuges (32,0%) que
emigraram mais tarde. Este facto leva a concluir que o indivíduo procurou, em primeiro lugar, criar boas condições
de vida para, num momento posterior, poder receber o cônjuge. Residual (2,0%) é a percentagem de inquiridos cujo
cônjuge “já lá estava”.
2.3 ( RE) INTEGRAÇÃO DO EX-EMIGRANTE NO LOCAL DE ORIGEM
Analisando o perfil socioeconómico do emigrante no momento da partida, verificamos que 76,7% dos inquiridos
eram trabalhadores familiares antes de emigrarem , dos quais 71,8% integravam o sector agrícola como principal
ocupação, 11,5% os serviços domésticos e 7% a construção civil.
A baixa percentagem de patrões que resolveram emigrar deve-se ao facto de a situação destes permitir melhores
condições económicas e mais estabilidade, o que reduz a necessidade de aposta na emigração. No grande conjunto
de trabalhadores familiares, os homens concentram-se entre os 20 e os 49 anos, com destaque para o grupo etário dos
30-39 anos; no género feminino, a distribuição é transversal a quase todas as idades.
Os emigrantes chegados ao país de destino, devido à pouca experiência, aos critérios seletivos usados pelos
empregadores, à escassa formação profissional adquirida no país recetor, ao desconhecimento dos mecanismos
de funcionamento do mercado de trabalho urbano, às próprias referências anteriores de sobrevivência bastante
precárias no local de origem, considerando inclusive as ocupações urbanas dotadas de mais elevado status, acabam
inserindo-se nas profissões de baixa qualificação da construção civil e dos serviços, normalmente sujeitos a processos
5
contratuais precários (Alberts, 1997; Martine, 1997 e 1980ª). O deficiente domínio da língua estrangeira e a baixa
escolaridade dos inquiridos constitui também um obstáculo ao desempenho das funções exigidas.
Do total de inquiridos, 32,9% (96 inquiridos) foram para o estrangeiro trabalhar na construção civil e 21,6% (63
inquiridos) ocuparam-se em serviços domésticos. Em terceiro lugar surge a agricultura, com 12,0% (35 inquiridos),
percebendo-se que esta atividade sofre um acentuado decréscimo. Os sectores do comércio (5,5%, -16 inquiridos),
dos transportes e comunicações (2,1%, -6 inquiridos) e da restauração (2,7%, -8 inquiridos) reúnem baixas
percentagens.
A ocupação profissional com maior preponderância para o género masculino é a construção civil, concentrando-
se os inquiridos entre os 20 e os 49 anos. Nas mulheres, é claramente o sector dos serviços domésticos a englobar o
maior número de emigrantes, também nas faixas etárias dos 20 aos 49 anos.
A diferença nas ocupações profissionais no primeiro e no último emprego, no país de imigração, não são
significativas. O sector da construção civil, para os homens, mantém a liderança, aproximadamente com o mesmo
peso no conjunto da amostra, assim como os serviços domésticos, para as mulheres.
A ligeira exceção a este cenário centra-se no sector da jardinagem, que sofreu um ligeiro decréscimo do primeiro
para o último emprego no país de imigração, assim como no ramo da restauração que registou um leve aumento
percentual. Tendo em conta as ocupações profissionais dos inquiridos antes de emigrarem e as integradas no país
de acolhimento, encontramos apenas mobilidade estrutural (…), ou seja, de um sector profissional para outro”
(Leandro, 1995, p. 210). Concluímos que, se para alguns emigrantes a mobilidade geográfica se constitui como
uma inevitável estratégia de sobrevivência básica para garantir a sua posição na estrutura social, para outros, porém,
proporcionou-lhes uma melhor inserção socioeconómica. Quando questionados os emigrantes regressados sobre o seu
poder de compra e nível de vida no país de imigração em comparação com a respetiva situação antes de emigrarem,
encontramos visíveis melhorias.
Verificamos que 54,2% dos inquiridos alegaram ter “muito mau” poder de compra, no início, melhorando-o com
a emigração. No país de imigração, 37,2% dos inquiridos referem ter uma situação “razoável” (23,6%) e “mais que
razoável” (13,6%), indicando 17,2% dos indivíduos uma situação “boa” e “excelente”.
Analisando as mudanças ocupacionais, do emigrante regressado, ao longo da sua trajetória migratória (emigração-
regresso), verifica-se que, independentemente do género, estes estiveram sujeitos a níveis crescentes de mobilidade,
para ocupações mais acima ou mais abaixo na escala sócio ocupacional, mas também em direção à inatividade e
desocupação. Recordamos que, antes da emigração, a maior parte dos inquiridos eram trabalhadores familiares,
não existindo ninguém a viver de rendimentos. Após o regresso, muitos vivem na situação de reformado, enquanto
que outros vivem dos rendimentos auferidos no país de acolhimento ou se tornam patrões, sendo este estatuto,
relativamente à situação na profissão, a mudança mais significativa encontrada, com as consequentes implicações
6
económico-sociais que daí advêm. Apresentando valores residuais, encontramos situações de desemprego após o
regresso. Acerca da situação na profissão dos emigrantes regressados, segundo o género, é de frisar que, em ambos
os géneros, predomina a situação de reformado, a que se segue a situação de doméstica, no caso das mulheres, e de
trabalhador por conta própria, quanto aos homens.
Este razoável número de domésticas “(…) evidencia uma clara tendência para a reocupação, por parte destas,
do seu papel de “donas de casa”, mesmo depois de terem exercido alguma profissão no estrangeiro” (Seruya, L.
M. et al. 1985, p.84). O facto de as mulheres, após o regresso, poderem ficar em casa sem terem necessidade de
trabalhar, poderá significar que a emigração foi bem sucedida, possibilitando viver dos rendimentos no regresso.
Não encontramos uma redefinição das responsabilidades de género na esfera doméstica. Estas tarefas mantêm-se
na esfera feminina, confirmando-se o estereótipo de género ao centrar o trabalho da mulher no contexto doméstico.
No entanto, no regresso, observamos também alguma mudança na posição da mulher referente ao trabalho: de
doméstica antes de emigrar, se afirma agora numa situação que rompe com o controlo patriarcal e se integra no
mercado laboral como trabalhadora por conta própria (Hillmann, 1999, citado em Levent e Nijkamp, 2006; Pearce,
2005).Com exceção da situação de doméstica que obviamente abarca mais indivíduos do sexo feminino, as situações
de patrão, trabalhador por conta de outrem e reformado, independentemente do género, são as que recolhem mais
respostas por parte dos inquiridos. Assim, e relativamente ao país de acolhimento, confirmamos a existência de
mobilidade social ascendente, em virtude da mudança de estatuto e de situs no quadro das classificações sociais, com
melhorias socioeconómicas significativas.“… estatuto e situs constituem, de algum modo, as linhas de força dum
meio socioprofissional no espaço social” (Leandro, 1995, p.2119. É possível observar que a situação de trabalhador
por conta própria, independentemente do género, se encontra nas faixas etárias dos 20 aos 49 anos, e a de reformado
começa a apresentar valores relevantes a partir dos 40 anos. De realçar ainda o número considerável de inquiridos, no
intervalo dos 20-39 anos, a trabalhar por conta de outrem, o que vem reforçar o facto de muitos dos inquiridos terem
regressado ainda em plena idade ativa.
A ocupação profissional dos ex-emigrantes, após o regresso, é claramente a agricultura (53,7%). Este elevado
valor é justificado pelo facto de muitos emigrantes trabalharem na agricultura antes de emigrarem e, por isso, após o
regresso, sentirem apego à terra, sendo mais fácil a sua re (integração). Importa também não esquecer que muitos dos
emigrantes regressados voltam já numa idade avançada, difícil para ingressarem noutros empregos; e a agricultura,
no âmbito de uma economia doméstica, torna-se a atividade complementar do pecúlio amealhado no seu percurso
migratório. Os serviços domésticos surgem em segundo lugar, com 18,2%. O sector da construção civil atinge os
8,7%, sendo uma atividade habitualmente associada ao trajeto do emigrante no país de acolhimento. O comércio
aparece com 7,4%, atividade esta que permite uma certa mobilidade ascendente, autonomia e prestígio social. Os
transportes e comunicações, os têxteis, vestuário e calçado, surgem com 8,0%. Verifica-se uma certa mobilidade
intersectorial do ex-emigrante, relativamente às ocupações exercidas antes de emigrarem.
7
O impacto do retorno sobre a dinâmica económica concelhia vê-se diminuído não só em razão da idade do
emigrante aquando do regresso, mas também em razão da baixa escolaridade e da forte inclusão no sector primário. À
medida que a idade vai avançando, a opção pela agricultura vai também aumentando, enquanto que a construção civil
vai diminuindo, percetível pelo facto de esta ser uma atividade com inerentes exigências físicas. O comércio, sector
de atividade que proporciona alguma autonomia e prestígio social, vai também decrescendo com o aumento da idade,
associado a um menor espírito empreendedor.
Pode concluir-se que, embora agente de poupança, o emigrante não o é tanto de investimento quando regressa
(Gonçalves, 2003, p.180). Há uma clara preocupação em viver do aforro/reforma conseguidos na emigração e uma
menor apetência pelo investimento.
A agricultura não só é o principal sector de atividade dos emigrantes regressados, é também o sector privilegiado
pelos dois géneros. Desta forma, enquanto os homens têm a agricultura como principal atividade, distanciando-se da
construção civil, as mulheres dividem-se entre a agricultura e os serviços domésticos.
Os ex - emigrantes inquiridos foram questionados sobre a sua perceção sobre o como seu poder de compra e o
nível de vida após a chegada, atualmente e por um período de 5 anos.
Verificamos que, após o regresso ao local de origem e após um período de emigração em que procuraram alcançar
melhores condições de vida, a grande maioria dos inquiridos indica como razoáveis o seu poder de compra e nível de
vida, 32,7%, (73 inquiridos). Apenas 27 inquiridos indicam como má ou bastante fraca a sua qualidade de vida após o
regresso. Também assumem valores relevantes os 44 inquiridos que afirmam ter um poder de compra e nível de vida
entre bom e excelente.
Observamos que, independentemente do tempo de estadia no país de acolhimento, a maioria dos inquiridos indica
como razoáveis o seu poder de compra e nível de vida após o regresso, não se verificando qualquer relação entre
ambas as variáveis. No entanto, os níveis mais altos de poder de compra e do nível de vida, assim como o “bastante
fraco” e “fraco”, concentram-se respetivamente nos intervalos até 5 anos e a partir dos 10 anos de emigração.
Constatamos que os ex- emigrantes com menor tempo de estadia no país de imigração demonstraram maior satisfação
relativa ao seu poder de compra e nível de vida aquando do regresso ao país de origem.
Atualmente, o poder de compra e o nível de vida mantém-se em patamares semelhantes aos indicados pelos
inquiridos após o fim do período de emigração, sem variações percentuais relevantes. Continuamos a constatar que
a maioria dos inquiridos indica como razoáveis. o seu poder de compra e nível de vida De salientar a continuidade e
consistência destes valores, igualmente nos patamares mais altos (de bom a excelente), daí poder-se concluir que este
item demonstra claramente que o objetivo principal da emigração (melhores condições económicas) foi cumprido,
tendo aliás proporcionado ao conjunto de inquiridos a manutenção desse nível de poder de compra e de nível de vida.
8
Quando questionados acerca do seu poder de compra e nível de vida dentro de 5 anos, observamos que os
patamares indicados após o regresso e atualmente sofrem uma retração bastante visível talvez fruto da atual
conjuntura económica nacional, com perspetivas de desenvolvimento a nível local algo limitadas. Os inquiridos
concentram as suas respostas entre muito mau e razoável poder de compra e nível de vida
Um dado que não pode nem deve ser ignorado nesta questão, provavelmente consequência da instabilidade e
imprevisibilidade económica atual do país, é que 40,6% dos indivíduos (123 inquiridos) não responderam a esta
(116 inquiridos).
Quando questionados os emigrantes regressados sobre os problemas que encontraram a nível da reinserção local, é
notório, independentemente do género, o predomínio de problemas relacionados sobretudo com: assistência médica,
inadaptação à vida atual e falta de emprego.
Independentemente do género, o ex-emigrante continua a revelar, após o regresso, fraca apetência para o
investimento económico, alegando como desmotivação para esta atitude, entre outros motivos, a ausência de
incentivos e apoios, e a falta de mercado. As poupanças são gastas essencialmente em itens de consumo.
Ao nível do investimento das poupanças antes da emigração, verifica-se que 67% dos inquiridos,
independentemente do género, indicaram não ter qualquer tipo de poupanças que lhes permitissem investir. Os
pequenos investimentos que efetuaram dispersaram-se pela agricultura, construção ou compra de casa própria e
educação dos filhos, áreas estas de investimento sem destrinça de género.
Após o regresso, o ex-emigrante continua a revelar baixa propensão para investir na indústria e no comércio. O
principal investimento das poupanças é a construção de casa própria, seguido da agricultura e de algum comércio
local. O depósito no banco e a educação dos filhos seguem-se, mas com valores percentuais menos significativos,
no conjunto da amostra. Contudo, numa visão global, todos estes valores levam-nos a crer que o emigrante procura
estabilidade à chegada e realizar investimentos sem risco, assegurando o futuro da família. Donnan e Werbner
(1991); Gardner (1995); Gmelch (1980), nos seus estudos sobre as remessas dos emigrantes e a migração de regresso,
são unânimes em considerar que as poupanças dos migrantes são frequentemente gastas em itens de consumo, em vez
de investimento económico, acrescentando, inclusive, que as qualificações adquiridas no estrangeiro não podem ser
facilmente aplicadas ao contexto rural de origem.
Analisando o investimento auferido pelos inquiridos da nossa amostra segundo a idade de regresso, observamos
que são os homens, no intervalo dos 30 anos a 59 anos, a enfatizar que o investimento passa pela construção ou
compra de casa própria. Por seu lado, as mulheres manifestam a mesma vontade mas em idades mais baixas,
entre os 20 e os 39 anos. As restantes intenções de investimento das poupanças distribuem-se equitativamente
entre homens e mulheres, independentemente dos intervalos etários, não se verificando nenhum valor percentual
de relevo no conjunto da análise. A inexistência de políticas integradas de desenvolvimento rural, com destaque
9
para o investimento em infraestruturas locais, de criação de parques industriais em colaboração com o Município,
assim como a escassez de centros de formação profissional, tem levado os ex-emigrantes a depositar no banco as
suas poupanças, não sendo assim potenciada a sua capacidade de mobilização/investimento, inibindo-os de se
constituírem como agentes de desenvolvimento local.
Assim, quando questionados sobre a aplicação de investimentos futuros,
independentemente do género, alega não ter poupança. Os emigrantes geralmente são pouco vocacionados para
atividades de risco. Dos inquiridos, 57,4% não pensam investir devido à idade avançada, 19,6% devido à falta de
incentivos e apoios, tendo 15,2% referido a falta de mercado. Quando integrados na análise dos intervalos etários,
observamos que a grande maioria afirma não ter poupança, sendo transversal a todas as faixas etárias, ainda que com
maior incidência entre os 30 e os 49 anos. Os emigrantes regressados, com idade avançada e com melhores condições
económicas após a emigração, centram a preocupação no futuro dos filhos.
Quando questionados sobre as inovações introduzidas após o regresso à origem, indicam que a principal se prende
com a habitação, que é, aliás, o seu grande investimento à chegada. Seguem-se os hábitos alimentares, as formas de
vestir, as relações pessoais e, por fim, os tempos livres. Apesar de haver uma readaptação ao estilo de vida antes da
emigração, há, claramente, uma introdução de novos hábitos por parte dos emigrantes regressados, introduzindo uma
certa urbanidade local. Quer a nível de género quer a nível de idades, não se verificam diferenças relativamente às
inovações introduzidas. Tanto os homens como as mulheres consideram que a maior inovação introduzida, após o
regresso ao país de origem, se prende com a habitação.
A principal inovação introduzida pelo emigrante na agricultura foi a aposta em equipamentos novos, com 51
inquiridos, seguindo-se os novos processos de trabalho, com 39 inquiridos e as novas formas de produção, com 31
inquiridos, e, em último lugar, as novas matérias-primas, com 6 inquiridos.
Não se notam diferenças significativas de género, ao nível das inovações introduzidas na agricultura. Analisando
estas inovações, segundo a idade de regresso, observamos que a introdução de novos equipamentos é indicada pelos
inquiridos com idades compreendidas entre os 30 e os 49 anos; a inovação de processos de trabalho pela faixa etária
dos 40-49 anos; e as novas formas de produção e cultivo pelos inquiridos entre os 30 e os 49 anos.
Independentemente dos motivos que tenham induzido os indivíduos à emigração-regresso ao local de origem,
a integração nas estruturas sociais preexistentes do local de chegada pressupõe um ajustamento às regras e valores
vigentes. Perante a dificuldade individual de integração, os indivíduos congregam esforços e iniciativas com vista
ao alcance de objetivos comuns, agrupando-se em estruturas formais de âmbito mais alargado – as associações de
migrantes. O associativismo constitui uma atitude contrária ao individualismo, já que o indivíduo, em vez de se
isolar, descobre “o outro”, descobre a ação conjunta e a capacidade de organizar-se e de agir em grupo, tornando-
se um ator social unido por um ideal comum. “A condição de imigrado conduz em boa parte a uma certa indiferença
a maior parte dos inquiridos, e
10
ou até ao isolamento social e são em boa parte as associações de carácter sociocultural que abrem o caminho para
uma reformulação das relações entre os imigrados mas também para uma mais fácil inserção na sociedade de
acolhimento” (Ferreira e Rato, 2000, p.211). O associativismo de migrantes constitui uma forma institucionalizada
de reforço do grupo perante ameaças exteriores, assim como de intervenção/manifestação perante a sociedade
recetora e respetivas instituições públicas. “Não há nada que a vontade humana desista de alcançar pela ação livre
do poder coletivo dos indivíduos unidos numa adesão pública de um certo número de indivíduos a estas ou aquelas
doutrinas ou interesses e no compromisso que assumem em contribuir de alguma forma para que elas prevaleçam”
(Tocqueville, 2001, p.236).
Na abordagem da problemática do associativismo dos ex-emigrantes no país de acolhimento e após o regresso ao
país de origem, a nossa amostra contempla, ainda que de um modo transversal, algumas questões que se prendem
com a natureza e com as motivações dos movimentos migratórios. Constatamos que o nível de participação
associativa dos emigrantes no país de acolhimento tem pouca expressão. No entanto, 40 inquiridos indicaram
ter algum tipo de participação associativa. O associativismo suscita maior interesse ao nível cultural, com 21
inquiridos a indicarem esse tipo de participação, talvez em razão da necessidade de aproximação a associações que
promovam o intercâmbio de culturas entre o país de origem e o país de acolhimento, com a criação de espaços para as
comunidades portuguesas.
Já ao nível desportivo, - um tipo de associação que geralmente agrega um grande número de intervenientes -, na
nossa amostra, apenas 5 inquiridos se associaram nesta modalidade de participação associativa, e apenas 1 inquirido
disse fazer parte de uma associação política. Observa-se uma maior participação dos homens, não se vislumbrando,
contudo, diferenças significativas quanto ao género, em termos de participação associativa. São sobretudo os
inquiridos que concluíram a escola primária, e independentemente do género, que revelam uma maior aptidão para
participar em associações preferencialmente do tipo cultural.
Quanto à participação associativa após o regresso, 51 inquiridos revelam ser, atualmente, membros de alguma
associação local, predominando as de âmbito cultural, o que reflete claramente a continuidade da experiência vivida
na emigração, na qual o contacto com as associações de portugueses sempre teve um papel importante na vida dos
emigrantes, servindo de elo de ligação quanto à língua, informações, costumes, informações, enlaces matrimoniais,
constituindo-se como meio de reviver a terra natal.
Analisando a participação associativa após o regresso segundo o género, verificamos que não se denota também
diferenças significativas em termos de participação, sendo as associações culturais e desportivas a colher os valores
percentuais mais significativos, quer no género masculino e quer no feminino. Curiosamente, ainda que sem grande
significado, a participação em associações de cariz desportivo é superior no género feminino que no masculino.
Também, em função dos níveis de escolaridade, não se denotam forças de correlação positivas ou negativas quanto à
11
participação associativa. A participação associativa de cariz cultural concentra-se no nível de escolaridade do 1.º ciclo
do ensino básico (escola primária), quer no género masculino, quer no feminino.
No que concerne à participação política, 20,9% (58) dos inquiridos estão inscritos num partido político. Dos
inquiridos, 13,0% (36) ocupam um cargo político.
Relativamente à inscrição num partido político (por género), segundo o nível de escolaridade, verificamos que a
inscrição não se correlaciona com o nível de escolaridade, quer para os homens quer para as mulheres. Em ambos os
géneros, a inscrição num partido político concentra-se nos baixos níveis de escolaridade.
Neste contexto, observamos envolvimento dos ex-emigrantes na vida política local. Dos 36 inquiridos que ocupam
cargos políticos, 30 pertencem à Junta de Freguesia, 2 ocuparam o cargo da Presidência da Autarquia Local, 4
ocuparam outros cargos junto do poder local, verificando-se um certo empenho dos emigrantes regressados na vida
política local.
Correlacionando a ocupação de um cargo político (por género) com o nível de escolaridade, observamos não
existir uma correlação positiva entre as variáveis. O valor mais significativo concentra-se ao nível da ocupação de
cargo na Junta de Freguesia, em que 14 inquiridos do género masculino com a escola primária indicam ter ocupado
um cargo na Junta de Freguesia.
A ocupação de cargos políticos demonstra claramente que são os homens a terem uma intervenção mais clara
do que as mulheres. Apenas 7 mulheres já ocuparam cargos políticos, contra 29 homens. Destes, o cargo mais
mencionado foi no âmbito da Junta de Freguesia, sendo que, dos 30 inquiridos que já ocuparem cargos ao nível
da Junta de Freguesia, 27 são homens e apenas 3 são mulheres. Giddens 1984; Scott 1985, confirmam noções
largamente aceites no sentido de que constrangimentos culturais impossibilitam as mulheres imigrantes de se
ocuparem em atividades políticas e de liderança dentro das suas comunidades.
3. PERCEÇÃO DAS CARÊNCIAS LOCAIS POR PARTE DO EX-EMIGRANTE
Para 50% dos inquiridos, as perspetivas de desenvolvimento do local de origem são “pequenas”. Apenas um
indivíduo indicou grandes expectativas de desenvolvimento do local para onde regressou. Os dados são reveladores
de um certo conformismo dos ex-emigrantes e alguma descrença na evolução da sua freguesia de residência.
Avaliando a relação entre a opinião sobre as possibilidades de desenvolvimento local em função do género e
idade, não se observa a existência de correlação significativa. A concentração do maior número de respostas verifica-
se ao nível das “pequenas” perspetivas de desenvolvimento local, e, dentro destas, os homens assumem maior peso
12
No atinente à pergunta do inquérito “que tipo de ajudas gostaria de obter? ”, os inquiridos indicaram como
prioritária a assistência médica. Seguem-se, por ordem decrescente de importância, os subsídios, facilidades na
conclusão dos estudos dos filhos, facilidades administrativas, empréstimos a juros bonificados, apoio técnico e
informação sobre aplicação das poupanças.
Avaliando segundo o género, a distribuição apresenta-se equitativa nas três principais ajudas indicadas. De
salientar apenas que os homens denotam maiores preocupações em relação a questões relacionadas com empréstimos
e com facilidades administrativas. Estes valores poderão estar relacionados com o facto de serem geralmente os
homens a gerir estas questões com mais regularidade. Os inquiridos integrados no escalão etário dos 30 aos 49 anos
são os que solicitam mais ajuda.
Dos inquiridos, 80 sugerem, como medidas a implementar para melhorar a agricultura na região, mais subsídios/
ajuda financeira, 33,6%, enquanto que 19,3% apelam para que se garanta ao agricultor o escoamento dos produtos.
Mas não é despiciendo que 44 inquiridos (18,5%) não sabem ou não respondem a esta questão. Na opinião de
39 inquiridos, a implementação de qualquer tipo de indústrias, seria importante para o concelho de Boticas. Dos
inquiridos, 23 nomeiam as fábricas de produtos agrícolas, 19 a produção de fumeiro e 17 o turismo rural/agricultura
Quando questionados ex-emigrantes sobre as medidas a implementar, por ordem de prioridade, para
desenvolvimento do território em estudo, 40,7% indicaram como sua grande preocupação o emprego, para fixar os
jovens aos seus locais de origem. Apenas 106 inquiridos indicaram uma segunda medida a implementar no concelho:
a melhoria dos acessos, com 10,4%, que se concentra na faixa etária dos 20/29 anos. As restantes medidas indicadas
apresentam valores residuais. Como terceira medida a implementar, dos 55 inquiridos que responderam a esta
questão, 14,5% (8 inquiridos) indicaram que facilidades bancárias dariam um novo impulso às condições económicas
dos habitantes da região.
4. INICIATIVAS EMPRESARIAIS DOS EMIGRANTES REGRESSADOS – ESTRATÉGIAS E
PERSPETIVAS DE
DESENVOLVIMENTO LOCAL
O incentivo à iniciativa empresarial tem sido usado por alguns países como uma forma de combater a
exclusão e permitir a mobilidade social.
O dinamismo empresarial de alguns emigrantes regressados, no território em estudo, tem feito renascer os
mercados locais, gerando inclusive o aparecimento de novas atividades. Tendo como objetivo um aprofundamento
daquele, apresentamos seguidamente os resultados de seis inquéritos por entrevista feitos por nós a emigrantes
regressados dos dois géneros. Segundo Ruquoy (em Albarello et al. 1997) “as entrevistas permitem uma
13
compreensão rara e matizada das situações que se relacionam com a forma de ver o mundo, as intenções e crenças
dos indivíduos…” (Albarello et al: 1997, p.84). Esta análise integra quatro eixos de caracterização: (1) Identificação
do empresário – Características demográficas e socioculturais e história de vida (mobilidade geográfica, percurso
académico e profissional, motivações pessoais e constituição familiar); (2) Identificação, caracterização e evolução da
empresa; (3) Apoio institucional e perspetivas de desenvolvimento concelhio; (4) Avaliação global da empresa (grau
de satisfação, fatores de in(sucesso) e impacto da empresa a nível local.
4.1CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS, SOCIOCULTURAIS E PERCURSOS DE VIDA
Apesar de obstáculos, e alguns deles já referenciados pelos próprios, o dinamismo empresarial de alguns emigrantes
regressados ao território em estudo tem feito renascer os mercados locais, gerando, inclusive, o aparecimento de
novas atividades. Tendo como objetivo a análise deste dinamismo, apresentamos os resultados de alguns inquéritos
por entrevista.
Esta análise integrou quatro eixos de caracterização: (1) Identificação do empresário – Características demográficas
e socioculturais e história de vida (mobilidade geográfica, percurso académico e profissional, motivações pessoais e
constituição familiar); (2) Identificação, caracterização e evolução da empresa; (3) Apoio institucional e perspetivas
de desenvolvimento local; (4) Avaliação global da empresa (grau de satisfação, fatores de in(sucesso) e impacto da
empresa a nível local).
Independentemente do género verificamos, relativamente às características demográficas, socioculturais e
percursos de vida, que:
- A idade média dos inquiridos é de 47,6 anos;
- Os empresários são autóctones ou ligados ao local em estudo por laços familiares;
- As habilitações literárias variam desde o 4ª ano até ao 12º ano;
- Apresentam formação diversificada adquirida no país de imigração;
- A maior parte dos empresários em estudo estão ligados a alguns tipos de associações;
- Registam mobilidade profissional ascendente;
- Foram imigrantes predominantemente em França;
- Se identificam como cidadãos europeus, exceto um dos entrevistados;
- Apresentam elevada mobilidade geográfica anterior ao regresso.
No
atinente
sistematizamos:
à
identificação,
caracterização
e
evolução
das
empresas,
14
- O ramo de atividade das empresas analisadas é diversificado, e referente
essencialmente à restauração e ao comércio;
- As empresas localizam-se na sede de concelho, à exceção de um dos hotéis;
- As empresas são de pequena dimensão e com baixo volume de vendas, mas
apresentando, na generalidade, evolução positiva;
- Todas as empresas apresentam forma jurídica em nome individual e estrutura familiar
quanto ao capital social e à composição dos recursos humanos;
- O Capital social provém essencialmente da poupança, embora também sejam referidos
o crédito bancário e fundos comunitários, respetivamente por dois e um inquiridos;
- As empresas apresentam boas perspetivas de crescimento e projetos futuros;
- As empresas são direcionadas para o mercado local e regional;
- A reação da comunidade à implementação das empresas em estudo segue uma
perspetiva determinista, face ao contexto territorial;
- A promoção da imagem das empresas é feita essencialmente pela rádio e pela Internet.
Relativamente à avaliação global da empresa, verificamos que:
- Os empresários encontram-se geralmente satisfeitos com as suas empresas;
- O impacto das empresas a nível concelhio é positivo e reflete-se na criação de:
emprego, riqueza, sinergias e investimentos.
Quanto apoio institucional e perspetivas de desenvolvimento local, salientamos o
seguinte:
- As empresas em análise revelam escasso apoio institucional. A generalidade dos
empresários desconhecem as vantagens/impactos dos fundos estruturais; consideram,
inclusive, a desadequação das exigências dos programas às realidades locais;
- O impacto das empresas a nível local é geralmente positivo, refletindo a criação de
emprego, de riqueza e sinergias locais;
- Os entraves ao desenvolvimento resumem-se em: despovoamento, débil marketing
territorial, falta de infraestruturas, escassa mão-de-obra especializada, falta de emprego,
forte envelhecimento populacional, salários baixos, burocracia e baixo poder de compra;
- As oportunidades de desenvolvimento para as empresas baseiam-se essencialmente
em: incentivos fiscais, proximidade fronteiriça, ambiente natural e mão-de-obra barata;
15
- As estratégias de dinamização da economia local passam pela implementação de
pequenas e médias indústrias ligadas à horticultura, à madeira, à produção de carnes
regionais, pelo fomento do turismo e revitalização da floresta e pela captação da energia
eólica.
Do referido, observamos que as mulheres emigrantes regressadas que
responderam a este inquérito por entrevista, revelaram, face aos homens:
- Habilitações literárias mais avançadas;
- Formação complementar mais diversificada;
- Percurso profissional mais variado;
- Grau de motivação mais elevado;
- Maior iniciativa e pro atividade.
CONCLUSÃO
Face ao exposto, consideramos oportuno potenciar (facilitando/apoiando) as forças/recursos dos espaços
territoriais esquecidos do nosso país, valorizando, inclusive, as capacidades, o know-how e as mudanças sociais,
económicas e culturais que os emigrantes regressados, e essencialmente as mulheres, induzem, de forma direta ou
indireta, nas comunidades locais, pondo em prática as condições de emancipação e de mobilidade social ascendente
que o percurso migratório lhes facultou.
Torna-se necessário fixar a população nos territórios desfavorecidos, travando o contínuo fluxo emigratório
e promovendo o regresso. A economia portuguesa, neste momento, está a sofrer ajustamentos que se traduzem
na diminuição do salário real, no desemprego, na perda dos direitos sociais, processo este que está também a
afetar as economias mais desenvolvidas da Europa Ocidental e Central. Este facto poderá constituir-se como uma
oportunidade de os nossos emigrantes aí residentes serem levados a relançar a sua vida em Portugal, nos territórios
de origem. Após estes ajustamentos, se esperam boas oportunidades de sucesso económico. Por isso, mais urgente
se torna, e em particular nas regiões deprimidas, a consolidação de estratégias de desenvolvimento local, apoiando
a criação de centros de inovação orientados para oportunidades de novos negócios/autoemprego, formação e
capacitação de potenciais empreendedores, criação de redes de mentores de apoio aos emigrantes regressados
empreendedores, a investigação e o desenvolvimento tecnológico.
Tornar os nossos territórios desfavorecidos espaços de atividade, de emprego e de criação de riqueza,
favorecendo a promoção dos nossos ex-emigrantes nos seus locais de origem, através de políticas de género pró-
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ativas, deverá constar dos planos políticos de desenvolvimento.
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