Ao Encontro de Maria Archer
Estávamos em 1899. Princípios de Janeiro. Já Inverno. Nascia, em Lisboa, a mais velha de uma
prole de seis – Maria Emília Archer Eyrolles Baltazar Moreira.
Maria Archer foi escritora, jornalista, conferencista, tradutora. Cedo, muito cedo, começou a
escrever. E cedo, muito cedo, tiveram início as suas idas e voltas até ao continente africano.
O seu primeiro artigo foi publicado no jornal “O Ocidental” em Moçambique, em 1913.
Em 1917, na Guiné, deu voz e alma à tertúlia Lides Literárias, em 1918 publicou, ainda na
Guiné, o seu poema Desejo Mórbido e é reconhecida, ainda hohe, como a “poeta do
O seu primeiro livro foi publicado em Angola, em 1935. Um livro de novelas e de contos
intitulado, Três Mulheres, em parceria com Pinto Quartim.
Escreveu sobre os seus ideais, sobre África, sobre a luta pela dignificação da mulher.
Reconhecida pelos críticos literários da época como “a revelação da literatura portuguesa de
1935, com uma obra de linguagem rica, de uma perfeita plasticidade e de um colorido
brilhante como só grandes escritores sabem utilizar”, “Prosadora vigorosa, as suas histórias
moldadas à maneira de Maupassant, num estilo mais másculo que feminino abordam
problemas ousados nas relações da mulher com o homem e nas da situação daquela numa
sociedade pouco afeita ainda a reconhecer direitos iguais aos dois sexos.”.
Como recompensa, sofreu o isolamento e a discriminação da sociedade da época.
Viveu a revolta de ver alguns dos seus livros apreendidos. E, inconformada e perseguida, ruma
até ao Brasil em 1955. Regressa em 1979 a Portugal.
Mulher de horizontes, viajada e ousada, admirada por muitos e silenciada por alguns deixa-nos
No crepúsculo da sua vida pairou o silêncio de um país e de uma sociedade.
Passados trinta anos após a sua morte vogam vestígios desta Mulher de inegável valor em
alguns municípios de Portugal apesar do esquecimento a que foi votada.
Almada, Almodôvar, onde em 1921 foi celebrado o seu casamento religioso, Amadora, Cascais,
Faro, onde viveu com seus pais, casou civilmente e mais tarde viveu com o seu afilhado e com
o seu marido, Alberto Teixeira Passos, Ferreira do Alentejo, Oeiras e Seixal, homenagearam-na,
discretamente, num quase anonimato, desde 1975 até 2010, dedicando-lhe algumas ruas. A
mulher que não se escondeu atrás de pseudónimos permanece viva na memória destas
Agora, que escrevo sobre o passado e o reinvento pela palavra, não esqueço esse momento de
revelação destes lugares mágicos, descobertos, no encantamento de um entardecer.
Nada será mais autêntico do que, reencontrarmo-nos com Maria Archer, através das suas
próprias palavras “Confio na justiça do Tempo.”
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