Quando comparo Fernanda Ramos com as outras grandes líderes das comunidades ortuguesas, que fizeram história no século passado, impondo-se, como iguais, num universo de homens, tenho de a considerar um caso absolutamente atípico: é a única que começa por fazer a opção de se dedicar à família. Brilhante jovem engenheira formada pela Universidade de Coimbra, não chega a exercer a profissão: casa com um empresário português de Montes Claros, Minas Gerais, e torna-se a mãe de nove filhos!
Tem mão firme na excelente educação de todos eles - a mesma mão firme com que, depois de enviuvar, controla e expande os negócios de família, ao mesmo tempo que se envolve, cada vez mais, na vida da comunidade luso-brasileira em Montes Claros, em Belo Horizonte, e, logo depois, no Brasil inteiro, através de um percurso fulgurante no movimento elista, e em Portugal, onde viria a ser a trave mestra da criação da Associação de Estudo Mulher Migrante.
Conheci a Fernanda há mais de 30 anos, num convívio do Centro Português de Belo Horizonte. Gravei na memória o momento, o gesto cerimonioso com que me presenteou com uma placa do Elos clube - figura magestosa de matriarca, num elegante fato de linho brasileiro...
Não podia, então, imaginar que, alguns anos depois, a encontraria muitas vezes na qualidade de presidente do Elos Clube Internacional, a primeira mulher eleita como nº 1, na cúpula do "Elismo", ao serviço do ideal de defesa dos valores culturais e do fraternalismo no mundo luso-brasileiro. Uma presidência histórica, que, a meu ver, nunca mais seria igualada. Quem poderia rivalizar com a sua determinação e energia, com a sua paixão pelo Brasil e por Portugal, com aquela visão larga das coisas e profunda das pessoas, de quem sabia exigir e conseguir o melhor?
Não podia, nesse primeiro encontro, antever que a havia de chamar "a mãe brasileira", porque me sentiria, na afeição, como me sinto, agora, na saudade, uma filha mais.
Foi como Mãe, Mãe muito forte, corajosa e exultante, que Fernanda fez a sua caminhada pela vida, abraçando causas e pessoas.
Melhor do que nas minhas palavras a vejo retratada nestas estrofes de um poema da sua grande amiga Cèly Vilhena, da Academia de Letras de MG
Entre, Fernanda, vem ver seu espaço
neste céu iluminado, seu conhecimento
inato - lutou, sofreu, amou
cuidou dos seus e de outros com o
carinho de poucos, com a grandeza dos eleitos
Do seu mundo, as caravelas sairam de Portugal
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