DEPOIMENTO
Vivi intensamente, tal como a maioria dos portugueses, o dia 25 de abril e o primeiro “Primeiro de maio” de 1974.
Imagens que nunca mais se dissiparam da minha memória e que relatam tão bem o quanto era desejada essa mudança.
No dia 1 de maio de 1974 o povo saiu à rua, feliz e verdadeiro na sua participação, em LIBERDADE, sem partidos, sem sindicatos, ele mesmo, sem orquestrações políticas.
Seguiram-se dias, meses e anos muito confusos. Nessa altura trabalhava numa companhia que era sem dúvida o “vulcão”de todo o processo político. Era secretária de administração “lacaia do capital” como
eram rotulados, na altura, os profissionais que trabalhavam diretamente com administradores e gestores, por essa razão estive sequestrada,quase fui saneada, assim como tantos colegas.
Passei por tudo isto: greves gerais, greves de zelo, greves de solidariedade, comícios,etc. Fiz parte de várias comissões de trabalhadores. Graças a todos estes “ingredientes”, cresci e evolui politicamente - sobretudo aprendi a respeitar e a saber o que é e o que custa a LIBERDADE tornando-me uma cidadã mais consciente.
Depois de toda esta “formação”, em 1981 vim para o Canadá onde vivo na cidade de Toronto..No início, passei pelas dificuldades de quem chega a um país estranho. Comecei a dar aulas na Escola do First Portuguese a escola mais antiga na América do Norte (50 anos de atividade) e a ter muito contacto com a comunidade portuguesa. Foi um grande choque - depois de ter vivido um processo democrático, num país cheio de atividade política vim encontrar um país calmo e pouco virado a manifestações politicas de
qualquer género.
A comunidade portuguesa parecia feliz com o 25 de abril mas poucos sabiam exatamente o que se estava a passar em Portugal.
Na altura, os orgãos de comunicação social pouco ou nada falavam sobre o assunto (recorde-se que estamos nos anos 80) e as rádios locais em língua portuguesa limitavam-se a passar um pouco de música, publicidade e algumas notícias - o que era otimo para a época, e em especial para os que iam chegando.
Na escola, eu falava muito sobre as causas e consequências da “revolução dos cravos”, como era mais conhecida, e tornava esse assunto parte do programa do ensino do português no estrangeiro.
Os alunos iam ouvindo, alguns comentavam o que tinham ouvido dos pais ou dos avós, mas sempre com um entusiasmo que me surpreendeu.
Mas os tempos iam passando e as coisas iam mudando. Em 1986, mulheres portuguesas que falavam pouco inglês, estiveram envolvidas em greves contra empresas de limpeza. Sairam do trabalho para protestar contra medidas injustas. A partir daqui começou a ser visível uma participação maior não só a nível da comunidade como até a nível do país, Canadá.
Este depoimento é de uma mulher trabalhadora, esposa e mãe que viveu uma transformação política em Portugal, que vive no Canadá mas que continua a lutar por uma sociedade mais justa eequilibrada. Existe ainda um longo caminho a percorrer, mas
DESISTIR NUNCA!
Maria Odete de Melo
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