sábado, 27 de dezembro de 2014

EDMUNDO MACEDO

Edmundo Macedo foi, durante mais de quatro décadas o responsável pelo
Consulado de Los Angeles, em cuja área se englobava todo o sul do
Estado da Califórnia e serviu, de uma forma exemplar, Portugal e as
numerosas comunidades de Portugueses até à data do seu inesperado
falecimento a 4 de Maio de 2014.
A notícia chegou por email - pela mesma via em que nos últimos anos
comunicávamos com regularidade. Foi um choque, uma grande mágoa!

 Eu tinha por Edmundo Macedo muita admiração, mas não só admiração,
também uma grande estima, que eu sabia recíproca. Quantas vezes me
enviou palavras de estímulo, comentários simpáticos a uma ou outra
iniciativa que, de longe, acompanhava, e até felicitações pelas
vitórias do FCP (ele que gostava imenso de futebol, mas “torcia” pelo
SLB…)! Era sempre um prazer ler as suas missivas, tanto pelo conteúdo,
como pela forma, que me leva a considera-lo um criativo e talentoso
cultor da língua
portuguesa.
Gentileza, fair-play, talento, sensibilidade...A amizade cimenta-se
nestes pequenos gestos significativos, tão reveladores do carácter e
da ética pessoal
Mas a admiração precedera esta amizade antiga, pois tivera a ver com a
sua capacidade profissional, a eficiência e boa vontade com que
resolvia os problemas de tantos portugueses, o modo como se
relacionava com o mundo associativo da Diáspora, como respondia às
solicitações da Secretaria de Estado da Emigração. Impressionante! Já
em 1980 o colocava no topo da lista dos nossos melhores representantes
consulares e diplomáticos em todo o mundo. Era um modelo, uma
referência!
Antes de assumir o posto de Los Angeles já sabia tudo o que devia
saber, no que respeita a leis, regras processuais, burocracia,
protocolo. E desempenhava as funções de representação oficial do País,
com uma distinção inexcedível, com pleno reconhecimento da sociedade,
dos políticos e dos serviços da administração americanos.
Onde se esperaria uma estrutura de média dimensão, atendendo aos
números da comunidade, às questões a resolver, ás solicitações
sociais, não tinha colaboradores. - o Consulado era ele! Ele e a
Senhora Dona Maria do Carmo, que sempre o acompanhava, com a mesma
simpatia, a mesma elegância.
Para com ambos o País tem uma enorme dívida de gratidão, que não soube
satisfazer em vida do grande Português, do inesquecível Cônsul que foi
Edmundo Macedo



Maria Manuela Aguiar…

A AEMM agradece toda a colaboração que o Cônsul de Portugal Edmundo
Macedo amavelmente lhe prestou, e dá-lhe voz, nesta edição,
reproduzindo um dos textos com que enriqueceu as nossas publicações:

.A Rosinha da Foz Velha do Porto faz-me lembrar a "Babe" Didrikson
Zaharias, uma de sete filhos de imigrantes noruegueses que foram
fixar-se no Sudeste do Texas e se afirmou como uma mulher-gigante do
Século XX, juntando-se em toda a sua magnificência a Margaret Mead -
célebre autora e antropologista americana -, a Eleanor Roosevelt -
quiçá uma das mais admiradas Primeira Dama dos Estados Unidos e
decerto Primeira Dama do Universo, reconhecida internacionalmente pelo
seu trabalho e esforços humanitários e, finalmente, a Agnes Gonxha
Bojaxhiu - a santíssima Mother Teresa nascida em 1910 em Skopje, então
parte da Jugoslávia.
Quatro Mulheres-Gigantes do Século XX!
Há pontos de similaridade entre a nossa Rosa Maria ("Rosinha") Correia
dos Santos Mota e a Mildred Ella ("Babe") Didrikson Zaharias.
Entre elas - colossais atletas! - há sinais e marcas distintivas
comuns, que desde logo as colocam num horizonte, num trono e num “céu”
inacessíveis a menos do que gigantes!
De aí que as diga fenómenos raros e as admire incondicionalmente. De
aí que as considere eminentes pelo seu talento, valor e coragem. De aí
que lhes reconheça qualidades de paridade com o Homem.
Curiosamente, são ambas de Junho. A Babe - que viveu apenas até 1956 -
nasceu há 97 anos em Port Arthur no Texas e a Rosinha há 50 anos emFoz
Velha do Porto.
Zaharias distinguiu-se no princípio - em competições nos seus
primeiros anos de escola - como uma atleta tão dotada que excedia
todas as outras a correr, saltar, jogar e a pensar - parecendo que a
Natureza a produzira num rasgo de excepcional perfeição. Na
Universidade salientou-se nas equipas femininas de basquetebol e ténis
e durante os Jogos Olímpicos de 1932 em Los Angeles - o mesmo ano
emque Amelia Earhart se tornou na primeira mulher a voar solo sobre o
Atlântico! - Zaharias conquistou medalhas de ouro, com recordes
mundiais, no lançamento do dardo e nos 80 metros barreiras, enquanto
um pormenor técnico a privou de terceiro ouro no salto em altura.
A Babe excedeu no Desporto a Mulher! Não conseguiu exceder-se a si
própria porque foi inesgotável! O seu multifacetado e incomparável
legado que a qualificou como a melhor atleta - homem ou mulher – da
primeira metade do Século XX, nutre o aplauso público pela
suaexcelência em desportos tradicionalmente competitivos e absorve de
umtrago a plêiade que com ela e contra ela competiu.
Zaharias dominou em saltos aquáticos, softbol, golf, basquetebol e
atletismo. Zaharias desafiou noções consuetudinárias de feminidade com
as suas arrojadas piadas à imprensa. Zaharias dilatou os limites
aceitáveis do que uma atleta podia e devia ser. A biografia de Babe
Didrikson Zaharias obriga o fascínio, dá razão a trabalho longo e
torna delicioso escrever.
Como, porém, se torna igualmente delicioso escrever sobre uma
mulher-gigante da Nobre Cidade Invicta, vou deixar por agora a Babe e
falar da nossa Rosinha.
Irei falar da Rosa Maria como quem fala de uma das mais delicadas
rosinhas-de-Portugal - como as que salpicam com cor suave tufos
alindando o lindo da inigualável Sintra e despontam como a aurora
entre o verde-alourado do musgo, o fresco dos limoeiros e a giesta a
explodir uma sinfonia de amarelo.
Rosa Mota foi considerada como uma das melhores maratonistas do Século XX.
Rosa Mota corria como o vento.
Corria com a agilidade da gazela.
Com a intrepidez do menino Gavroche.
A Rosinha saltitava como a alvéloa.
Legou às estradas imagens de pura elegância.
Por pouco não transformou ligeireza em volátil.
Tratava o asfalto com reverente delicadeza.
Parecia não querer beliscar o betume negro e lustroso.
Corria como lume que ela ateava soprando.
Tinha no mínimo três pulmões, não apenas dois.
Corria-lhe nas veias sangue Lusitano.
A nossa Rosinha pediu asas emprestadas.
Tardou a devolvê-las e Portugal benfeitorizou.
Corria a Maratona como se fosse em passeio de Lordelo do Ouro a Cedofeita.
Nos recônditos do seu peito pulsou sempre um coração tão Nortenho quão
Português.

Quando corria, a Rosinha sentia a voz dos nossos egrégios avós que
haveriam de levá-la à vitória.
A Rosa Maria nunca esqueceu as nobres Comunidades  Emigrantes nos
fins-de-semana, cumulou-as, diligentemente, de esperança.
Robusteceu-as de orgulho. Fê-las acreditar. Fê-las sonhar. Levou-lhes,
volta e meia, alegrias indescritíveis, Incitou-as a trazer na lapela o
emblema da Ditosa Pátria. Com o verde e o encarnado, a esfera armilar
e as cinco quinas. O emblema mais bonito do mundo.
Em 1982, nos Campeonatos da Europa em Atenas, a Rosa Maria correu a
sua primeira Maratona. O ouro - dizia-se - pertencia à Ingrid Kristiansen.
Erro crasso pois a corredora portuguesa prevaleceria conquistando na
Grécia a sua primeira peça de sentido valiosíssimo e cara ourivesaria!
É assim em todos os desportos. Só ganha o ouro quem nasceu
predestinado! Na sua primeira Maratona Olímpica em 1984 em Los
Angeles, a Rosinha sofreu um percalço. Trouxe bronze em vez de ouro.
Um transtorno d ofício, remediável nas mãos dela. Quatro anos depois,
na Olimpíada de Seoul na Coreia do Sul, a Rosa Maria atacou a dois
quilómetros da meta conquistando o ouro e deixando a prata para a Lisa
Martin.
Ouro, ouro e ouro enriqueceram também o bolso da nossa Rosinha nos
Europeus de 1986 em Estugarda e de 1990 em Split e no Mundial de 1987
em Roma.
Só ganha o ouro quem nasceu predestinado!

 É assim em todos os desportos.
Em 1987, 1988 e 1990 a Rosa Maria triunfou na Maratona de Boston e em
1985 repetiu em Chicago o triunfo de 1984. Com a sua postura campeã
privilegiou Roterdão em 1983, Tóquio em 1986, Osaka em 1990 e Londres
em 1991, indo ali dizer que a Foz Velha do Porto e Portugal existiam e
conquistar, categoricamente, o primeiro lugar. Sempre o primeiro
lugar! Sempre o ouro!
É assim em todos os desportos.
Só ganha o ouro quem nasceu predestinado!
Como as essências coníferas que predominam nas florestas do norte do
hemisfério, entre 1982 e 1991 predominou no mundo a essência Rosa
Mota!
Predominou a sua qualidade de maratonista extraordinária! Predominou a
sua genética propensão para vencer! Para vencer sem se jactar! Na
excelência e humildade de Rosa Mota, Portugal resplandeceu!
A Rosinha da Foz Velha do Porto faz-me lembrar a "Babe" Didrikson Zaharias…

Ao escrever estas linhas tive sempre a Rosinha no pensamento.
E uma querida Amiga minha que de Espinho me pediu que as escrevesse.
E a infinita paciência da minha Mulher.
E a saudosa memória da minha Mãe.

Edmundo Macedo
 2009

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