quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

HOMENAGEM a MANUELA DA LUZ CHAPLIN


 -  MARIA JOÃO ÁVILA

Conheci a nossa Manuela durante mais de 30 anos!
Eu ainda muito nova e ela já com a sabedoria que a vida nos ensina, foi para mim como para muitas outras mulheres portuguesas  residentes nos Estados Unidos, grande motivo de  inspiração.
Sempre disponível para ajudar, muito aberta ao diálogo e partilha de ideias, com ela nasceu a Mulher Migrante na América, a Associação Real de New Jersey e Pennsylvania e foi durante muitos anos a face visível da liderança do Partido Social-democrata – USA (PSD/USA).
Com uma garra invejável à causa pública, recordo com saudade a sua enorme generosidade para com quem mais necessitava. Os mais vulneráveis das nossas comunidades sempre  puderam contar com o seu empenho por encontrar soluções para suavizar a vida destes nossos compatriotas.
Foi uma guerreira até ao fim pela justiça, pela igualdade entre iguais e conseguiu graças à  sua liderança ímpar, reunir em torno dos mesmos objetivos milhares de portuguesas e portugueses.
Quero com saudade lembrar o muito que ela nos deu sem pedir nada em troca, a sua inteligente forma de estar na vida, foi um dos seus maiores bens que deixou na vida terrena.
Das artes e cultura,  à solidariedade, passando pela política,  a Manuela sempre exigiu mais de si mesma do que as grandes causas lhe pediam.
Mas por trás desta grande Mulher sempre esteve um grande Homem, não posso esquecer-me de Charles Chaplin, o marido amigo, companheiro inseparável, que em todos os momentos da vida sempre esteve disponível e contribuiu para a grandeza de Manuela da Luz Chaplin.
Homenageando esta grande portuguesa, gostava de partilhar a alegria com que ficou quando fui eleita em 2011 deputada na Assembleia da República, a primeira mulher emigrante a ocupar um lugar eleito pelo círculo da Emigração fora da Europa.
Bem haja querida Manuela, ficará para sempre nas minhas memorias,  uma mulher com força divina vinda do céu.

Maria João de Ávila
Deputada PSD-Fora da Europa


 - GLÓRIA DE MELO

Querida Manuela Chaplin:

A última vez que falámos foi uma semana antes da Manuela partir para outra dimensão, a propósito da morte de sua irmã Amália Costa.
 Nesse dia a Manuela, com a energia e determinação que a caracterizavam, enviou a notícia para os órgãos de comunicação social, e para os amigos  mais próximos.  Perguntei-lhe como é que estava, e disse-me que estava óptima, à excepção de artrite nas pernas. «Mas de resto estou óptima Glorinha !». E passado uma semana  prega-nos esta partida!
 Partiu, mas ficou aqui, e no coração de muitos de nós!
 Quando cheguei aos EUA, vinda do Canadá, foi a Manuela  Chaplin que me familiarizou com a maior parte das Associações Portuguesas de New Jersey. Nessa altura a Manuela estava à frente da Portuguese Heritage Foundation, do Heritage Ball, e fazia frequentes colóquios e tertúlias para divulgar a Língua Portuguesa. Mais tarde dedicou-se especialmente a duas organizações, que dirigiu brilhantemente aqui nos USA: « A Associação Real de New Jersey »  e a «Associação  das Mulheres Migrantes USA ».
 Havia contactos frequentes com SAR Dom Duarte, mas o objectivo principal da Associação Real de N.J. era , e é o de divulgar a História e Cultura de Portugal nestas paragens, bem como a arte de « Ser Português». E ensinar o que é ser patriota , e o que é a Pátria.
 Mensalmente tínhamos uma reunião na Associação Cultural de Kearny, N.J., onde planeávamos concursos literários, eventos culturais e a Gala Anual.  A Manuela era uma força da Natureza, forte, dinâmica, determinada, e irreverente, mas com um sentido de humor extraordinário e uma inteligência fora do comum.
 Esteve também à frente  do PSD.  Mas eu não fiz parte desse núcleo.
 Quando a Manuela decidiu ir viver para o sul de New Jersey e sobretudo depois da morte do marido, o saudoso Charles Chaplin, a Manuela pediu-me que ficasse à frente dos destinos dessas duas organizações .  Eu que já estava super  ocupada com outros voluntariados ainda tentei dizer que não podia.  Mas  graças à sua  argumentação, não  consegui dizer que não.
 Mas continuou a ser a minha mentora, e não raramente a consultava, a pedir--lhe conselhos, e orientação.  Agora, na sua ausência,  para tomar algumas decisões nesta área, penso sempre ...«Como é que a Manuela Chaplin decidiria?». E resulta!
 Nesta época de Natal a Manuela organizava sempre um almoço especial na Associação de Kearny, e levava um presente para cada um de nós, e faziamos um tertúlia poética, que acabava sempre com o nosso grupo a entoar canções de Natal, e leitura de poemas que tivéssemos levado.
 Além do livro que  a Manuela Chaplin escreveu acerca das «Mulheres Migrantes» e que guardo na estante junto aos meus autores favoritos, todas as noites rezo pela Manuela e peço-lhe me  inspire  e me dê  a força a determinação e a valentia que a caracterizavam.
 Creio que pessoas como a Manuela Chaplin estão em vias de extinção, neste mundo de comprometidos.

I  will always Love you Manuela Chaplin!
Sincerely Yours, beijos mil

Gloria Melo

 - NELSON VIRIATO BARRETO

Em 1981 conheci o casal Chaplin.. e em 1983 fomos escolhidos para estar no primeiro congresso das comunidades portuguesas..realizado no hotel Penta na cidade de Lisboa... a nossa amizade fortificou-se. Depois ambos trabalhámos juntos na Royal Association e no PSD   USA..
 Durante todos estes anos sempre nela vi uma mulher guerreira... uma boa conselheira.. e de amizade sincera... quem como eu com ela conviveu, sabe que nela tínhamos amiga que se entregava de alma e coração as causas pelas quais acreditava. e a Portugal.. { é a portuguesa aqui nos Estados Unidos, que mais admirei] 
Paz a sua alma..




-MANUEL VIEGAS (MANNY)
A Manuela foi uma das pessoas mais ilustre neste estado de new jersey .Foi uma lutadora para a comunidade portuguesa e não só era respeitada na sociedade americana. Fui companheiro de luta desta senhora juntamente com o marido o Charles conduzia todas as semanas para diferentes meetings aonde eu sempre presente. Heritage fondation uma organizacao de 148 nacionalidades aonde ela me lançou e eu cheguei a ser vice presidente depois presidente e fui também o primeiro português a ser o homem do ano fundei o PSD-USA depois mais tarde a Manuela veio. Depois outros presidentes acabaram com o PSD e ela e eu reavivamos o partido, aonde ela ficou na
 na assembleia geral e eu presidente da direcção. Fundámos a Real Associacao de New Jersey, o Portuguese American Congress.
 Esta Senhora ajudou centenas de pessoas era advogada sempre com uma dinâmica de bem fazer ela foi mentora de muita gente hoje em boas posições.
Já depois dos 80 anos com o seu marido que já não podia conduzir, ela pedia me para eu ir busca -la a casa, pois ela tinha gosto de as coisas não morressem e eu la ia busca -la a casa, ida e volta eu conduzia 325 quilometros. Ela queria pagar pela gasolina, mas nunca aceitei, pelo sacrifício que esta grande mulher fez para manter esta comunidade viva. Cada reunião era um convívio, todas as festas natalícias sempre carregada de presentes para os amigos.
 Quando eu lhe disse que me ia reformar e viver na Florida ela disse-me que perdeu um filho que nunca teve, mas sempre contatei com ela, todas as semanas trocávamos ideias. Fui a única pessoa que tive coragem de juntar um grupo de pessoas que ela ajudou e conviveu a fazer-lhe um jantar de homenagem, que ficou gravado no meu coração, ver esta senhora feliz por todo o seu esforço pela comunidade. Paz à sua alma.

Manny Viegas



MENSAGENS da "Mulher Migrante" Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade
 Cerimónia fúnebre em memória  de Manuela Chaplin
EUA, 25 de Julho de 2014

Manuela Chaplin continuará bem viva nas nossas recordações, como uma Mulher excepcional, cuja superior inteligência e infinita energia foram sempre postas ao serviço dos outros, da comunidade, dos dois países a que pertencia pelo afecto, Portugal e os EUA. Na verdade, ela faz parte da História da emigração portuguesa e da imigração americana. Da História com letra grande.
Na sua luta incessante pela justiça, pela igualdade, os migrantes, as mulheres, os mais marginalizados da sociedade, puderam sempre contar com Ela!
Advogada, escritora, jornalista, militante de causas, política, pioneira no associativismo luso-americano, sobressaindo. como líder, num mundo quase exclusivamente masculino, encarnava a própria ideia de Mulher-Cidadã, tendo a seu lado o grande aliado que foi, ao longo de tantos anos, o seu marido, Charles Chaplin. 
Os dois unidos na vida e, agora, na nossa memória
MARIA MANUELA AGUIAR
 Presidente da Assembleia Geral da " Mulher Migrante"


Recordar a nossa muito querida Amiga e Associada, Doutora Manuela Da Luz Chaplin, mereceria referências pormenorizadas, onde coubessem na íntegra as suas excecionais qualidades humanas e intelectuais, na dupla perspetiva de cidadã portuguesa e de cidadã residente nos EUA, mas, não vou alongar-me.
Limitar-me-ei a referir alguns aspetos.
Saliento, por exemplo, o seu empenhamento e dedicação pelas mais carecidas e pelos mais carecidos, em que se inclui, desde já, o seu dinamismo e empenhamento pela “causa das Mulheres”, muito especialmente no que respeita às “Mulheres Migrantes”, qualquer que fosse a sua origem.
Não podemos esquecer ainda, o tempo da sua vida dedicado à área da “política” e o trabalho que desenvolveu, sempre com o objetivo de conseguir mais e melhores condições para os seus concidadãos, em Portugal e no seu País de adoção.
Criou, no nosso País e nos EUA um considerável Grupo de Amigas e de Amigos, algumas delas e alguns deles destacadas figuras da política e também intelectuais, bem como eminentes personalidades de outras áreas do saber, do conhecimento em geral, da cultura e das artes.
Deixou gratas e inesquecíveis recordações e saudade, que será eterna.
Manteve sempre com todas e com todos uma ligação solidária, fraterna e
generosa, o que só uma Mulher inteligente e culta sabe fazer...

Desde 8 de Outubro de 1993, data da constituição da «Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade», recebemos da Dra Manuela Da Luz Chaplin contatos vários, interessando-se sempre pelas nossas atividades e também pelo nosso envolvimento nas diversas
Iniciativas que organizámos.
Vinha várias vezes a Portugal, acompanhada pelo seu marido Sir. Charles Chaplin (um português do coração), como dizia a Dra Manuela Aguiar.
Procurava- nos, então, na Secretaria de Estado da Emigração, hoje das Comunidades Portuguesas, sobre trabalhos que pretendia concretizar em favor da comunidade portuguesa nos EUA, entre outros.
Acompanhou-nos em Portugal, em alguns dos Encontros, organizados pela Associação de Estudo Mulher Migrante, por exemplo:- em 1995 – 18 a 22 de Março de - no «Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo», realizado em Espinho e no dia 22 em Lisboa, em que Manuela Chaplin teve larga participação; - em 2004 – 26 a 27 de Novembro, em Lisboa «Encontro de Mulheres Migrantes das diversas Gerações - Conhecer/Participar- nas Sociedades de Origem e de Acolhimento». Neste Encontro participou também a filha e nossa Associada, Doutora Annabella Costa Larsen, além de Glória de Melo. Mais tarde, em 2006 - 8 a 11 de Junho – Manuela Chaplin, organiza em Newark – EUA, o Seminário «Presença da Mulher nas Comunidades Portuguesas da América do Norte». Da organização fizeram parte diversas Entidades dos EUA e também de Portugal., como por exemplo: a Fundação Bernardino Coutinho, a Real Associação de New Jersey o Comendador José João Morais, a Secretaria de Estado das Comunidades
Portuguesas, a FLAD, o Núcleo dos EUA, da Associação Mulher Migrante...
A anfitriã, deste Seminário foi a nossa Associada Maria Coutinho.
E, com esta Iniciativa participámos pela 1a vez nas “Famosas Festas”, em Newark, do “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”
Foi-nos então, proporcionado um Carro Alegórico à Associação, o que permitiu integrarmo-nos, com esse carro, na Grande Parada.
Sobre esta Iniciativa existe uma Publicação da Associação, coordenada pela Dra Manuela Aguiar, com o aludido carro, na capa, com fotos de participantes, onde, entre outras, temos a foto de Manuela Chaplin -recordação excelente!
Foi Associada Fundadora, Efetiva e Honorária, da AEMM. Criou o “Núcleo da Associação Mulher Migrante” nos EUA, por ela presidido durante largos anos, até que, por sua decisão, deixou o cargo. Foi também Vice- Presidente da Associação, integrada nos Órgãos Sociais, em Portugal, em representação dos EUA.
Grande Senhora, que será sempre considerada entre as Mulheres Portuguesas e as de outras origens, bem como pela «Mulher Migrante– Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade», um símbolo de generosidade , coragem e virtude pelas Iniciativas em que se envolveu e pelo apoio proporcionado.
Com grande mágoa, amizade e muita saudade, aqui deixo estas simples linhas....

RITA GOMES
 Presidente da Direcção da" Mulher Migrante""

VASCO CALLISTO
Dois breves encontros com a Drª.Manuela da Luz Chaplin –

Que extraordinário portuguesismo encontrei na Drª.Manuela da Luz Chaplin, em Newark, em 1993! Uma senhora que transbordava simpatia, uma simpatia luso-americana deveras cativante, logo à primeira impressão. Lamento, sinceramente, a sua partida. Como lamento que o meu contacto com tão destacado elemento da Comunidade Portuguesa nos Estados Unidos não tenha ido além de dois breves encontros
Quando da preparação da minha terceira viagem à América, no Verão de 1993, a Drª.Manuela da Luz Chaplin, por intermédio de um amigo comum, Vasco Marques, do Banco Português do Atlântico, manifestara o desejo de se encontrar comigo. Porquê? Porque, semanas antes, publicara no "Correio da Manhã" um artigo sob o título "Mulheres Portuguesas na América", baseado num livro de sua autoria. Durante um jantar festivo, logo após o desembarque, minha mulher e eu, envolvidos numa grande festa portuguesa, convivemos fraternalmente com a Drª.Manuela da Luz Chaplin e com seu marido Charles. Sobre este encontro, incluí um breve apontamento no meu livro "Portugal na Costa Leste dos Estados Unidos". E mais tarde, durante uma vinda da Drª.Manuela da Luz Chaplin a Lisboa, verificou-se um novo e agradável contacto, numa pastelaria da Baixa.
 Desapareceu agora, sem dúvida, uma mulher portuguesa, de Lisboa, que serviu Portugal na América
Vasco Callixto


MARIA MANUELA AGUIAR
Conheci Manuela da Luz Chaplin em 1980, na minha primeira visita oficial às comunidades portuguesas da América do Norte. Com o seu cabelo revolto, os olhos muito azuis, uma bela voz forte, que se fazia ouvir em discurso assertivo, reivindicativo, ousado... Recordo-a claramente, a única voz feminina entre as dos homens, que eram, então, o rosto invariável de dirigismo associativo... Uma mulher para se impor, nessa época, em comunidades da emigração conservadoras e fechadas, precisava de ter qualidades excepcionais, antes de mais, tinha de ter coragem e tinha de ter razão - a primeira, era a condição
prévia para tomar a palavra, a segunda imprescindível para ser ouvida e respeitada.
As questões que colocava, com sinceridade e veemência, pedindo respostas, eram as dos seus concidadãos, as das mulheres, as dos mais marginalizados. Não eram preocupações consigo, eram causas! Até no vestir, sempre à vontade, descontraída e simples, se revelava como alguém para quem o "social" queria dizer solidariedade e não convívio elitista.
 Logo nesses momentos iniciais em que a escutei as suas críticas pertinentes às "políticas de indiferença" dos governos de Portugal para com os emigrantes da América, incluía-a em uma de duas categorias de militantes que sempre me foram particularmente simpáticos -sindicalistas e missionários! Só depois vim a saber que, órfã de pai, desde os 3 meses de idade, viveu os seus anos de infância em Moçambique, numa missão protestante, onde a mãe era professora de português.
Manuela da Luz veio estudar para Lisboa. Na Lisboa salazarista, revoltou-se contra a mesquinhes e a misoginia da ditadura, a situação opressiva de submissão da mulher. A palavra submissão feminina não existia no código de conduta daquela jovem inteligente e radical. Foi a revolta que e levou para a América, em 1948. Aí encontrou o que procurava: liberdade! Liberdade de pensamento, liberdade de expressão, liberdade de lutar pelas sua ideias, liberdade para “libertar”outras mulheres da passividade e da subjugação, liberdade para fazer dos imigrantes portugueses, mulheres e homens, cidadãos da América. Uma cruzada para o resto da sua vida! Muitos anos mais tarde, haveria de escolher para a capa do um livro
seu, sobre as portuguesas dos EUA, a estátua feminina da Liberdade, de Ellis Island  - porta de entrada no” novo mundo” para tantos milhões de mulheres e homens…
Manuela foi ela própria uma emigrante/imigrante exemplar – porque nunca deixou de ser apaixonadamente portuguesa e tornou-se não menos apaixonadamente americana.
Soube integrar-se plenamente na vida do novo país, na sua vida política, social e cultural e sempre quis ajudar os outros portugueses a alcançarem a mesma alegria e orgulho por serem luso-americanos. Foi precisamente nesse segmento em expansão do “luso americanismo” que se centrou a sua acção, com especial enfoque nas mulheres.
Manuela da Luz Chaplin foi, como não podia deixar de ser, pela proeminência do seu curriculum comunitário, uma das emigrantes convidadas, em 1985, para o 1º Encontro das Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo – onde entre tantas notáveis, se destacou, em múltiplas intervenções.
Citar algumas das suas declarações, recolhidas nas actas do "Encontro" é uma forma de a ter, entre nós, nestas jornadas de reflexão sobre o 25 de Abril, sobre a projecção qu a revolução teve, concretamente, nos EUA, nas nossas comunidades, na participação feminina. Embora não fale de si, adivinha-se o entusiasmo com que acompanhou o renascimento da democracia em Portugal, assim como a sua contribuição pessoal para repercutir o eco da revolução de Abril entre os portugueses, do outro lado do Atlântico:
“Após o 25 de Abril, a mulher portuguesa nos EUA demonstrou uma rápida transformação no conceito social e na realização dos seus direitos humanos, devido à influência de elementos femininos mais evoluídos”
Também sobre um dos temas que a AEMM trouxe ao debate neste ano de 2014, as migrações de retorno de Angola e Moçambique, se pronunciou.Vamos ouvi-la, à distância de quase 30 anos, elogiar a nova vaga de emigração dos anos 70, com uma componente de retornados de África, e, genericamente, mais urbana, mais qualificada, integrando muitas mulheres “cuja bagagem intelectual e profissional lhes proporcionou acesso a campos de acção até aí raramente tocados por mulheres portuguesas emigradas nos EUA. A este novo elemento juntam-se jovens de 1ª e 2ª geração, que no país acolhedor obtiveram um nível de cultura e de preparação que as eleva a posições de destaque e influência…”
Mas logo acrescenta: “…o homem português continua relutante a adaptar-se a esta evolução e ao reconhecimento da igualdade da mulher”. “Raras vezes a mulher é convidada a participar na direcção e na administração das associações. (…) Todavia, muitas organizações Luso americanas têm no seu elenco directivo, presidentes e outros elementos directivos femininos. Nos últimos 10 anos, várias associações não só são dirigidas, como foram fundadas por elas.
Do curriculum abreviado de Manuela Chaplin, inserido na publicação do Encontro Mundial de 1985 consta que é licenciada em Direito e em Jornalismo e membro das seguintes organizações:
- Fundadora e directora executiva do Centro de Cultura Portuguesa de New Jersey
-Presidente e fundadora da Associação Luso-Americana Republicana de New Jersey
- Presidente da Federação das Associações Luso-Americanas Republicanas da Costa Leste
-Directora e fundadora da Congresso Luso_Americano de New Jersey
-Secretária Executiva dos Grupos Étnicos de New Jersey
-Presidente da Área Regional da Costa Leste da Associação Nacional dos Grupos Étnicos Republicanos dos EUA
É já um impressionante elenco da sua multifacetada intervenção cívica, da sua liderança não só na comunidade portuguesa, e nos outros grupos étnicos que formam o imenso mosaico multicultural do país, mas também na política americana, como activa militante do Partido Republicano.
Esta intransigente opositora da ditadura portuguesa era republicana e monárquica, tendo fundado e presidido, a partir da década de 90, à Real Associação de NJ. E a política portuguesa também a atraía - foi a primeira mulher presidente do núcleo do PSD dos EUA.
Uma mulher, lutando pelos direitos de cidadania, em associações mistas, em organizações políticas, sem nunca esquecer as mulheres. (o papel fundamental que, posteriormente, viria a ter na Associação Mulher Migrante é referido, detalhadamente, no testemunho de Rita Gomes).
Às mulheres dedicou, em 1989, um livro extraordinário em que retrata muitas emigrantes e no qual deixa, também, um retrato de si própria, dos seus valores e interesses humanistas, que gostaria de destacar neste breve depoimento O título, na versão portuguesa, é “Retalhos de
Portugal dispersos pelos Estados Unidos da América. Mulheres Migrantes de Descendência Portuguesa. (Na versão inglesa, "Scattered fragments of Portugal in the United States of
America - Women of Portuguese Descent).
São 30 narrativas de vida, escritas com brilho e com uma intenção clara de desvendar, a partir de casos individuais, a história feminina da emigração portuguesa na América, em diferentes épocas e contextos – a parte mais desconhecida, mais subvalorizada da presença portuguesa.
São relatos verdadeiros, singulares, fascinantes… Para muitas portuguesas, a emigração foi uma oportunidade de se transcenderem, de tomarem em mãos o seu destino, para outras teve o sabor da adversidade…A sorte e o azar, o mérito de saber lutar ou a falência de não poder resistir… A atracção do novo, a americanização, ou a resistência cultural e afectiva à perda da identidade. As segundas gerações, para as quais Portugal é uma realidade remota - ou não...
É tudo real, mas lê-se como um romance, feito de muitos capítulos. A visão da própria Manuela não pretende ser necessariamente neutra. Os factos estão lá, objectivos, precisos, mas sente-se, muitas vezes, a empatia e compreensão da autora e pelas pessoas e pelas suas circunstâncias.…
Manuela Chaplin pertence, igualmente, à história que começa nestes fragmentos de Portugal, nestas múltiplas experiências de América – e a sua própria trajectória bem merece ser escrita por alguém que tenha oseu talento e intuição.
Na nota “Sobre a Autora”, que prefacia o livro, Maria Fernanda Alves Morais diz-nos: “ao longo dos anos em que me tem sido dado o privilégio da sua amizade, encontrei sempre a sua casa acolhedoramente aberta a quantos, oriundos de Portugal, procuram o seu auxílio ou o seu conselho. Dias úteis ou feriados…pacientemente a sua hospitalidade e solicitude nunca falham. Daí a alcunha que carinhosamente lhe deu seu marido, Charles Chaplin, de “Nossa Senhora dos Portugueses”
Assim era a mais americana das portuguesas, a mais portuguesa das americanas. Manuela Chaplin, Mulher de Abril, antes e depois desse 25 Abril, que agora comemoramos, homenageando-a, saudosamente...

 GRAÇA GUEDES
In memorium a MANUELA CHAPLIN

Também conheci a Dra. Manuela da Luz Chaplin na década de oitenta do século passado e mais precisamente em 1985, no célebre Encontro de Viana  (1º Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e no Jornalismo), considerado o marco histórico que fez desencadear todo um caminho que a Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher Migrante (AECSMM) tem sido percorrido até aos dias de hoje.
E, neste caminho, a Manuela Chaplin esteve sempre connosco e com ela partilhei momentos inolvidáveis, muitos dos quais já assinalados pela Dra. Manuela Aguiar e pela Dra. Rita Gomes, pelo que humildemente faço minhas as suas palavras, associando-me assim a esta justa e sentida homenagem.
Recordo-me bem daquele momento em Viana, quando nos fala acerca da mulher migrante portuguesa nos EUA, explicando a condição social, a integração no meio de acolhimento e os fatores de influência, na sua adaptação e evolução das mulheres portuguesas nos EUA, afirma a concluir: “Tendo assim em conta a situação presente, a intensificação do papel da mulher portuguesa… será no futuro um incentivo, um desafio e um poder extraordinário a exercer no progresso e melhoramento das condições sociais da família, das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, de Portugal e de toda a Humanidade” (in Atas do 1º Encontro Portuguesas Migrantes no Associativismo e no Jornalismo, Edição Centro de Estudos da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, 1986).
E a Manuela Chaplin foi a prova real desta sua antevisão.
Nunca faltou aos Encontros Mundiais que organizamos em Espinho (Gerações em Diálogo, 1995 e Cidadãs da Diáspora, 2009), com intervenções brilhantes, tais como em 1995, desenvolvendo o tema A Mulher como Influência Comunitária Aposta na Juventude, assim nos transmitiu: “ A mulher portuguesa na América, há muito que assumiu o papel diretivo em várias associações, algumas das quais como nas associações de beneficência da Califórnia, constam de milhares de afiliados. É porém ainda como senhora auxiliar, que a sua atividade se regista em grande parte do movimento associativo, mister que em muitos casos aceita com dignidade e orgulho. A Mulher mais moderna, ou de gerações mais jovens, exige uma participação mais igualitária, que vai a pouco e pouco e subtilmente, conquistando”. E acrescenta, “Quem, como eu, tem acompanhado e está totalmente familiarizada com as nossas comunidades radicadas fora de Portugal, particularmente nos EUA, não pode deixar de admirar e prestar homenagem às nossas gentes, que em terras ignotas tanto edificaram. Essa admiração, porém, é maior ainda, quando constatamos o extraordinário trabalho da mulher luso-descendente, que tanto tem edificado, contra tantos obstáculos e descriminação. Assim é a massa portuguesa que emigra. Assim é a dedicação e coragem da mulher portuguesa migrante” (In Atas Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo, Edição AECSMM, 1995).
Estive pela última vez com a Manuela Chaplin em 2006, no Seminário que organizou em Newark, na qualidade de representante nos EUA da Associação Mulher Migrante e intitulado Presença da Mulher nas Comunidades Portuguesas da América do Norte , integrado nas comemorações do Dia de Portugal que anualmente a Fundação Bernardino Coutinho organizam.
Despedimo-nos com um até sempre, depois de termos desfilado na Grande Parada do Dia de Portugal ao longo das ruas de Newark no carro alegórico da Mulher Migrante, no meio de uma multidão que sorridentemente nos aplaudia, festejando Portugal e os portugueses.


Até sempre, Manuela Chaplin.

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