Sobre a exposição de Luísa Prior
Casa Barbot, novembro, 2014
Tudo tem o seu lado superficial e o seu lado profundo, o visível e o
invisível, a realidade imediata e a outra. E é isto que nos afeta, para sermos
quem somos, naquilo que nos rodeia (…)
Vergílio Ferreira (1992,p 78 ênfase
do autor)A dicotomia olhar e ver explicada por Vergílio Ferreira implica dois níveis de perceção: “olhar” significa, fixar, mirar, no lexema “ver” há um alcance de um nível superior de perceção. Nele é definida cumulativamente o perceber, compreender, ponderar, deduzir prever, imaginar … conhecer.
As minúsculas formas coloridas,
simuladas, ou não, impelidas de movimento pelo pincel veloz e eficaz,
reproduzem o pensamento da artista. Perante nós, desfila um painel de
presenças, e de ausências, que corporizam ideias avassaladoras, remetendo-nos à
reflexão. Ver as pinturas de Luísa leva-nos a pensar, divagar… a autora assim
apela.
Assim, Luísa não se limita a pintar, ela
constrói, dá-nos pistas da sua leitura da sociedade, no entanto, dá-nos espaço
para a construção da nossa própria leitura. Na sua expressão plástica, há uma
dimensão simples, ingénua que contrasta com uma outra, complexa e profunda.
O
grito no silêncio, os mascarados, as múltiplas figuras reais, terrenas em
contraste com outras, com dimensão metafísica, onde a cor, o movimento potencializam
o lado transcendente que Luísa tão bem sabe partilhar. O universo unido em
torno da mudança desejada e anunciada num mundo em angústia, a roda do tempo
onde coabitam: a serenidade e o caos; a leveza e a densidade. A cor abre
caminhos para a interpretação e dela se ampliam sentimentos que a autora nos
propõe, não como algo formatado ou enclausurado, mas aberto a outras
interpretações.
Na sua obra, tal como um espelho, vemo-nos
refletidos, nas nossas múltiplas facetas, bem como a vida que nos rodeia. Nela
coabita a heterogeneidade de afetos, de sentimentos e de estados de alma: da
opressão à libertação, do grito de revolta ao suspense, à admiração, do
sofrimento à felicidade, da fragilidade humana à sua grandiosidade imensa, do
fracasso ao sucesso, da alegria à tristeza, da mágoa à luminosidade e
musicalidade, da existência terrena à
leveza da dimensão metafísica…em suma, as várias dimensões que Luísa nos revela
de forma sintetizada, condensada e, por isso, nem sempre fácil de identificar, mas mais profundo e interiorizado quando se
descobre – o universo de Luísa extravasa a dimensão terrena…
Termino como comecei: a obra de Luísa
Prior não pode ser remetida a um efêmero olhar, pois ele pode ser redutor. As
suas telas têm significantes e significados e, não estando presentes as
palavras, estão as formas, o movimento, a cor e as técnicas artísticas que são
expressão máxima que Luísa tem para nos oferecer, dando-nos a conhecer o seu
universo e a sua complexidade enquanto Pessoa, rica e profunda, mas sempre em
construção. Afinal a sua proposta é essa mesma: contribuir para que todos nós
possamos tornando-nos mais Pessoas.
Como observadora e recetora da mensagem, sinto-me privilegiada enquanto
pessoa e cidadã. Obrigada, Luísa!
Arcelina
Santiago
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