1 - Entre os
conselheiros eleitos ao 1º CCP, em 1981, não havia uma única mulher. Em 2015,
são 12 as conselheiras eleitas. Como avalia esta evolução, face à realidade
atual das comunidades portuguesas, por um lado, e, por outro, aos objetivos da
Lei da Paridade?
2 - Como
surgiu a ideia de se candidatar ao CCP? Foi fácil formar uma lista segundo as
regras da Lei da Paridade, organizar o programa eleitoral, fazer campanha?
Teria
preferido, na ausencia de imposições jurídicas, elaborar uma lista exclusivamente
feminina?
3 -
Considera que as mulheres querem e podem levar a debate novas temáticas, uma
forma diferente de estar e trabalhar no grande forum democrático que é o
Conselho, ou, pelo contrário, pensa que o mais importante é que a igualdade de
oportunidades e a participação cívica sejam garantidas, sem que isso
signifique, necessariamente, a valorização das particularidades de género?
4 - Quais
são as principais propostas que levará a Lisboa, ao próximo plenário do CCP?
5- O
"Conselho" português tem avançado, tal como os seus congéneres
europeus (o francês,que foi o modelo em que o nosso se inspirou, como
aconteceu, alguns anos mais tarde, com o italiano e o espanhol) numa linha de
experimentalismo de soluções que melhor sirvam em concreto a prossecução dos
seus objetivos. Como vê a nova configuração do CCP?
6 - O CCP
tem já uma história muito rica, mas mal conhecida em Portugal (do mesmo, aliás,
se queixam os representantes do organismo francês, apesar do seu grau de
institucionalização, inclusive, no quadro constutucional, e da sua
transformação em "Assembleia dos Franceses do Estrangeiro" , dos
meios acrescidos de que dispõe).
O que se
poderia fazer para o divulgar?
7 - Seria
útil iniciar, numa perspetiva de análise comparativa, e até de articulação de ações,
contactos com os membros de outros Conselhos de imigrantes, caso existam no
país onde reside? E com o movimento associativo das nossas comunidades - do
qual era oriundo o 1º CCP, na década de 80 - mantêm-se ou, se não, devem
retomar-se laços de estreita cooperação?
8 - Que
papel desempenha ou pode desempenhar o CCP num esforço de concívio e
cooperação, não só de género, como de geração, mobilizando para a intervenção
cívica os mais velhos, os mais jovens, os recém-cehgados?
9 - A
terminar, pedíamos-lhe que nos falasse de si.
Ter sido
eleita é, certamente, uma prova de muito trabalho já realizado e de
reconhecimento dos comcidadãos. O viver fora de Portugal levou-a a um
envolvimento cívico que talvez não tentasse nem conseguisse no país? O que a
motivou fundamentalmente? Contou ou não incentivo ou apoio da família para a
realização profissional e cívica? O que gosta de fazer nos tempos livres ? Quem
são as personalidades que mais admira na história e na atualidade?
Respostas
1.- Penso que este objetivo da
inclusão da mulher é devido à lei da paridade, no entanto ainda vejo com
preocupação que a opinião feminina não é uma mais valia neste Conselho. Uma
prova de tudo isto, é o último Conselho Permanente, onde havia duas mulheres,
as quais em repetidas ocasiões manifestaram o seu desagrado neste aspeto.
2.- A ideia de me candidatar ao
CCP surgiu pela minha vocação de serviço à comunidade e devo confessar também
que me motivou o fato do meu esposo ter sido Conselheiro em períodos anteriores
e pensar que podia melhorar o trabalho que vinham desenvolvendo, o que acabou
por não ser bem assim. Mas continuo na luta apesar de ter tido muitas
desilusões no anterior Conselho.
Não foi fácil formar lista e
fazer campanha nesta oportunidade devido à data das eleições e à nova lei com
novos requerimentos. Obvio que teria preferido formar uma lista exclusivamente
feminina pois temos demonstrado ao longo dos anos a nossa capacidade
organizativa e multifacética.
3.- Penso que o mais importante é
que a igualdade
de oportunidades e a participação cívica sejam garantidas, no entanto ,e
mesmo com a lei da paridade, isto não está a acontecer. Uma prova de tudo isto
é que neste vasto mundo do Conselho das Comunidades, a grande maioria dos
listados foram liderados pelos homens e as mulheres que formaram parte de
listas iam em posições secundárias o que deu como origem a eleição de somente
12 Conselheiras. Vê-se claramente que a inclusão da mulher nos listados foi
simplesmente para preencher um formulismo e não por considerarem-na uma mais
valia.
4.-
Temos muitas propostas e seria muito longo enumerar-lhas todas, mas algumas das
mais importantes são:
Impulsar a solidariedade social às famílias
portuguesas, particularmente às crianças e aos idosos
Promover
e defender o ensino da língua e cultura portuguesas, e apoiar a rede educativa
dos respetivos países
Lançar
a campanha de cidadania “Quem não vota, Não conta!” para promover o
recenseamento eleitoral com o apoio da rede associativa e dos consulados de
Portugal
Promover a interculturalidade
5.-
Não posso negar que temos avançado bastante com esta nova configuração do CCP,
no entanto considero que o caminho é árduo e cheio de escolhos . Há muito ainda a mudar e a fazer, começando
pelo Governo, que no meu modo de ver não dá a importância que deve a este
Conselho. Até à data, na maioria das vezes o Governo aplica medidas para as
comunidades sem consultar o Conselho. A prova mais recente foi a data marcada
para as eleições que prejudicou toda a nossa Comunidade espalhada pelo mundo.
Uma data nefasta desde todo ponto de vista, pois foi numa altura em que a
grande maioria dos portugueses espalhados pelo mundo encontram-se de visita no
país de origem e não no país de residência.
6.-
Lamentavelmente o CCP não somente é mal conhecido em Portugal, mas o que é mais
grave ainda, é que é mal conhecido nos países de residência. Há muita falta de
informação e o nosso canal internacional (RTP Internacional) com uma péssima
programação por certo, não dá cobertura a este tipo de ato nem do que se trata.
É o canal informativo para as comunidades e o que menos destaca são as coisas
de importância para as mesmas comunidades. É pena não termos uma informação
atualizada dos problemas que nos afetam. No caso particular da Venezuela, a
grande maioria não teve conhecimento destas eleições. O trabalho foi feito por
nós através das redes sociais e dum meio de comunicação escrito mas isto foi
uma milésima parte do que devia ser feito. Com um canal que chega aos
portugueses, foi triste e lamentável que nunca dessem informação sobre o CCP e
as suas eleições.
7.- O
contato com a rede associativa mantem-se. Até à data é o que melhor funciona,
mas na rede associativa encontra-se uma mínima parte da nossa comunidade. No
caso particular da Venezuela, pertencer a um Club Social requer duma solvência
económica que a maioria não tem e como consequência não tem informação nem
destes atos nem das visitas oficiais que em algum momento fazem os nossos
diplomáticos. Faz rir como os meios de comunicação escrevem que tal o qual
diplomático se reuniu com a comunidade, quando em realidade a reunião faz-se
neste e naquele clube social e assistem somente os sócios . E eu pregunto: É
esta a nossa comunidade?
8.- O CCP
pode ter mais aproximação com a comunidade se:
Cria uma inter-relação permanente
com os portugueses no país de residência , trabalha de “mão na mão” e visita as
comunidades portuguesas residentes em
cada provincia do seurespetivo país .
Facilita e promove mais jornadas
consulares portuguesas em harmonia com as autoridades lusas competentes. Ao
acompanhar estas jornadas têm mais possibilidade de contato com a sua
comunidade e dar a conhecer o seu trabalho
É um porta-voz permanente, ativo e dinâmico de
todos os portugueses tanto nos plenários mundiais, continentais e nacionais
como nas reuniões oficiais do Conselho das Comunidades Portuguesas
Informa periodicamente do
trabalho realizado à comunidade e à comunicação social portuguesas e dá
seguimento às ações efetuadas e empreendidas.
9.- Os meus 50 anos a viver fora
de Portugal levaram-me a duas etapas na minha vida: a primeira foi a de
rejeitar e negar a minha nacionalidade, o meu origem. Quando cheguei à
Venezuela com 12 anos ainda vim numa época em que os portugueses eram
considerados pessoas de baixo nível socio cultural e éramos vítimas de
bullying nas escolas. Isto trouxe como
consequência que em casa vivia a minha portugalidade, mas fora era totalmente
venezuelana. Com o tempo e a madurez adquirida voltei aos meus origens e a
defender a minha nacionalidade, os meus costumes e a minha tradição. Isto
acentuou muito mais quando tive o meu filho, porque quis sempre que ele se
sentisse orgulhoso da história dos seus antepassados. Foi assim que comecei a
envolver-me no movimento associativo português , a formar parte de grupos
folclóricos e a conviver muito mais com a comunidade portuguesa. Assim começou
a minha luta por defender os nossos valores socioculturais, por defender a nossa portugalidade e mostrar ao
mundo o porquê nos sentimos orgulhosos de sermos portugueses. Obvio que em tudo
isto contei sempre com o apoio da minha família e mais ainda do meu esposo. É
um homem que leva dentro o movimento associativo e vocação de luta por tudo o que significa ser
português . Nunca esteve, não está e nunca estará disposto a perder as suas
raízes e por isso tenho o seu apoio incondicional em tudo o que implica a
defesa da nossa origem. Sempre tem estado ao meu lado tanto na minha vida
profissional como nestas atividades à honorem de luta pela nossa coletividade.
Tenho uma veia artística que não me permitiram desenvolver quando era
adolescente, mas como nunca é tarde, hoje em dia é uma atividade mais que
combino. Gosto imenso de cantar e nos meus tempos livres e sempre que me pedem,
participo em atividades da nossa coletividade. Pertenci a dois grupos de música
típica portuguesa , era a vocalista feminina, e nos últimos 15 anos dediquei-me
ao que sempre levei no coração e na alma, o fado. Dizem os que me têm escutado
que o faço bastante bem. Adoro este género musical, se assim se pode dizer.
Vivo em cada fado que canto e estando tão longe, cada vez que interpreto viajo
na distância e por minutos encontro-me em Portugal.
Na história, e talvez porque sou
muito romântica, admiro muito um dos nossos reis: D. Pedro. Penso que isto se deve
à sua história com Dona Inês de Castro. Nunca me canso de ouvir o relato do seu
romance e até gosto que lhe ponham aditivos que talvez a verdadeira história
não tenha, dessa defesa do seu grande amor, um amor épico e cheio de
romanticismo. Faz-me lembrar a história dum Quijote português na defesa da sua
dama.
Na atualidade continuo admirando
a nossa grande Amália Rodrigues, uma mulher que sem grande preparação musical
deu a conhecer o nosso Portugal em todo o mundo. No que diz respeito a lutas
por revindicações migratórias, sociais e de género, Maria Lamas, Maria Archer e mais na atualidade Maria Manuela Aguiar,
quem para mim é um exemplo a seguir.