QUESTIONÁRIO MULHERES CCP
LUÍSA SEMEDO
1 - Entre os
conselheiros eleitos ao 1º CCP, em 1981, não havia uma única mulher. Em 2015,
são 12 as conselheiras eleitas. Como avalia esta evolução, face à realidade
atual das comunidades portuguesas, por um lado, e, por outro, aos objetivos da
Lei da Paridade?
A evolução é positiva mas fica aquém dos objetivos da Lei da Paridade pois 12 em 80 conselheiros
estamos ainda a 15% de mulheres, menos de metade do pretendido com a lei da
paridade de 33,3% e comparado com o que realmente deveria ser para conquistar
uma real representação da população que seria de 50%.
2 - Como surgiu
a ideia de se candidatar ao CCP? Foi fácil formar uma lista segundo as regras
da Lei da Paridade, organizar o programa eleitoral, fazer campanha?
Teria preferido,
na ausencia de imposições jurídicas, elaborar uma lista exclusivamente
feminina?
Fui solicitada devido às minhas funções de dirigente
associativa encabeçar uma lista e aceitei o desafio.
Foi fácil a constituição da lista, para mim era evidente
que deveríamos ter no mínimo 50% de mulheres e até chegámos a ter 6 mulheres
para 4 homens mas por razões, alheias à nossa vontade, acabámos por ficar com
5. No entanto é de referir que a nossa lista era a única lista em França com
uma maioria de mulheres (3) em lugar elegível e com uma mulher como cabeça de
lista e isso também foi uma questão de vontade expressa da nossa parte.
Não teria preferido uma lista exclusivamente feminina,
pois o CCP sendo um orgão de representação parece-me normal que todos os
cidadãos se sintam representados, sem contar com o facto que a diversidade é
sempre uma riqueza.
3 - Considera
que as mulheres querem e podem levar a debate novas temáticas, uma forma
diferente de estar e trabalhar no grande forum democrático que é o Conselho,
ou, pelo contrário, pensa que o mais importante é que a igualdade de
oportunidades e a participação cívica sejam garantidas, sem que isso
signifique, necessariamente, a valorização das particularidades de género?
Estamos tão longe ainda da paridade, que uma política de
ação afirmativa que facilite a intervenção das mulheres me parece ainda
indispensável, e nesse sentido a mensagem deve ser a da igualdade de
oportunidades mas através de uma política de participação cívica voluntária de
valorização da participação feminina. Mas não acho que se deva centrar a
mensagem em questões de particularidades do género, estamos a falar de uma
questão de justiça e de justeza na representação e não de especificidades de
género que são muitas vezes falaciosas e contraproducentes.
4 - Quais são as
principais propostas que levará a Lisboa, ao próximo plenário do CCP?
Dadas as minhas funções de dirigente associativa, o apoio
às coletividades será uma das minhas prioridades. Encontramos no meio
associativo todas as outras questões que dizem respeito às comunidades como o
ensino do português, a juventude, os idosos, o apoio social, a integração, os
novos emigrantes, a participação cívica ou a cultura. Penso que uma rede
associativa forte, apoiada e reconhecida é um passo importante para o bem-estar
e a boa integração dos portugueses no estrangeiro.
5- O
"Conselho" português tem avançado, tal como os seus congéneres
europeus (o francês, que foi o modelo em que o nosso se inspirou, como
aconteceu, alguns anos mais tarde, com o italiano e o espanhol) numa linha de
experimentalismo de soluções que melhor sirvam em concreto a prossecução dos
seus objetivos. Como vê a nova configuração do CCP?
Penso que há uma diferença como sempre entre a teoria e a
prática. No papel é uma boa ideia ter em conta as temáticas e as zonas
geográficas, mas resta ver como as várias comissões vão poder funcionar no meio
de uma configuração a meu ver um pouco complexa. Tudo vai depender igualmente
dos meios que tivermos à nossa disposição para levar a cabo o nosso trabalho.
6 - O CCP tem já
uma história muito rica, mas mal conhecida em Portugal (do mesmo, aliás, se
queixam os representantes do organismo francês, apesar do seu grau de
institucionalização, inclusive, no quadro constitucional, e da sua
transformação em "Assembleia dos Franceses do Estrangeiro" , dos
meios acrescidos de que dispõe).
O que se poderia
fazer para o divulgar?
O CCP não é só mal conhecido em Portugal, é muito mal
conhecido entre os portugueses no estrangeiro. Tivemos uma consciência aguda
disso no momento da campanha eleitoral. Todos os meios de comunicação,
inclusive redes sociais, devem ser utilizados para garantir essa divulgação.
Mas será sobretudo a partir das ações e resultados do CCP que conseguiremos divulgar
da melhor maneira este órgão.
7 - Seria útil
iniciar, numa perspetiva de análise comparativa, e até de articulação de ações,
contactos com os membros de outros Conselhos de imigrantes, caso existam no
país onde reside? E com o movimento associativo das nossas comunidades - do
qual era oriundo o 1º CCP, na década de 80 - mantêm-se ou, se não, devem
retomar-se laços de estreita cooperação?
Sim sem dúvida, uma das missões do CCP deve ser a de
criar pontes e sinergias com a outras estruturas que obram pelas Comunidades,
que fazem um trabalho de terreno considerável, isso resultará num enriquecimento
mútuo em prol do Portugueses no estrangeiro.
8 - Que papel
desempenha ou pode desempenhar o CCP num esforço de convívio e cooperação, não
só de género, como de geração, mobilizando para a intervenção cívica os mais
velhos, os mais jovens, os recém-chegados?
Como referido anteriormente, devemos apostar numa rede
associativa forte, apoiada por uma coordenação das coletividades com recursos
que permitirá desenvolver o convívio, a cooperação e a intervenção cívica de
todas as gerações e nomeadamente da nova vaga de emigração.
9 - A terminar,
pedíamos-lhe que nos falasse de si.
Ter sido eleita
é, certamente, uma prova de muito trabalho já realizado e de reconhecimento dos
comcidadãos. O viver fora de Portugal levou-a a um envolvimento cívico que
talvez não tentasse nem conseguisse no país? O que a motivou fundamentalmente?
Contou ou não incentivo ou apoio da família para a realização profissional e
cívica? O que gosta de fazer nos tempos livres ? Quem são as personalidades que
mais admira na história e na atualidade?
O meu envolvimento cívico deveu-se em primeiro lugar a
uma frustração enorme de não ter meios de voltar para o meu país e de
necessitar de encontrar um meio de colmatar essa falta de Portugal. Este
envolvimento permitiu-me encontrar uma « família » de substituição.
Tenho trabalhado muito mas também tenho recebido muito em retorno.
Não é possível fazer um trabalho voluntário desta
natureza sem o apoio da família, sobretudo quando se tem filhos pequenos.
Gosto de cultura, ciência e desporto e acabo por poder
juntar o meu trabalho associativo a certas atividades que gosto de fazer no meu
tempo livre.
As personalidades que mais admiro são todos aqueles que
lutaram muitas vezes a custo da sua vida ou integridade física pelos valores em
que acreditavam independentemente de terem ficado com o seu nome conhecido na
História. Os resistentes de Abril em Portugal, os ativistas dos direitos cívicos
nos USA, os combatentes do apartheid na África do Sul, os lutadores da Primavera
Árabe, são pessoas que me inspiram e humildam.
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