terça-feira, 3 de novembro de 2015


Recordando o 1º Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e no Jornalismo

 

Maria do Céu da Cunha Rêgo

 

No fim da primavera de 1985, quando Portugal aderiu às então designadas Comunidades Europeias em busca de crescimento e de sustentabilidade para a democracia, Manuela Aguiar, então Secretária de Estado da Emigração, chamou a Viana do Castelo mulheres das comunidades portuguesas, que se tivessem distinguido nas áreas do associativismo ou do jornalismo nos países que também tinham feito seus. Antecipou assim, em cerca de 10 anos, o que haveria de ser uma das principais recomendações da IV Conferência Mundial sobre as Mulheres organizada pelas Nações Unidas em Pequim, em 1995: a indispensabilidade do empoderamento das mulheres, de que são pressupostos, a visibilidade e o reconhecimento. Foi, com efeito, antes de mais, uma acção positiva: as reuniões institucionais de representantes das comunidades portuguesas eram, em princípio, redutos de homens. Dar voz às mulheres, constatar as suas realizações, ouvir as suas críticas e as suas vontades, registar as suas propostas, celebrar este encontro em Portugal foram objectivos conseguidos.

 

As comunicações - seleccionadas de entre as que enviaram “mulheres consideradas relevantes quer no jornalismo quer no associativismo pela estrutura diplomática e consular”, no dizer de Maria Luísa Pinto, então presidente Instituto de Apoio à Emigração - agruparam-se em três temas e foram apresentadas por portuguesas de todos os continentes e de diversas idades:  

·         As mulheres migrantes na sociedade (com comunicações do Brasil, da República da África do Sul, do Luxemburgo, de França, do Canadá, da Austrália e dos Estados Unidos da América);

·         As mulheres migrantes e o jornalismo (com comunicações do Reino Unido, da Argentina, dos Estados Unidos da América, do Brasil, de França e do Canadá);

·         As mulheres migrantes e o associativismo (com comunicações dos Estados Unidos da América, da Venezuela,  da Argentina, de França e do Canadá).

 

Houve ainda teatro e cinema sobre a emigração portuguesa em França apresentado por jovens residentes naquele país, concertos, palestras, exposições e momentos de lazer e de convívio.

 

A iniciativa, organizada pela Secretária de Estado e pelo então Instituto de Apoio à Emigração, foi apoiada pela UNESCO e outras instituições a nível nacional e local. Nela intervieram, para além das entidades organizadoras e de elementos do Conselho das Comunidades Portuguesas, figuras públicas residentes em Portugal - deputadas, escritoras, académicos, jornalistas e representantes de diversos departamentos da Administração Pública.

 

Ficaram conclusões que, nos anos seguintes, vieram a inspirar políticas públicas em Portugal e iniciativas das comunidades portuguesas por todo o mundo, incluindo a criação da Associação Mulher Migrante, que actualmente integra o Conselho Consultivo da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Ficou um livro a dar conta de tudo, editado pelo Centro de Estudos da Secretaria de Estado, ao tempo já designada das Comunidades Portuguesas. E ficou uma saudade de repetição, só concretizada 20 anos depois, numa versão actualizada, com os “Encontros para a Cidadania: A igualdade de homens e mulheres nas comunidades portuguesas” que tiveram lugar em diversos continentes entre 2005 e 2009 e que encerraram em Espinho.

 

E eu que, pelas funções que fui exercendo, contribuí para a organização de vários destes encontros, só posso agradecer o privilégio, a alegria e o enriquecimento que este trabalho me deu.

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