Antiga secretária de
Estado das Comunidades
“Governo tem de
reconstituir uma máquina de apoio aos portugueses no estrangeiro”
Publicado Quarta-feira, 10 Junho
2015 às 14:27
“O Governo português
deve reconstituir a Secretaria de Estado da Emigração” para dar resposta aos
problemas dos emigrantes, como os novos casos de exploração de portugueses na
construção. A antiga secretária de Estado da Emigração e das Comunidades,
Manuela Aguiar, esteve no Luxemburgo e defende que o Governo deve ter uma
política virada para os portugueses que emigram, mas também para os que regressam.
Maria Manuela Aguiar
esteve quinta-feira em Esch-sur-Alzette, enquanto presidente da Assembleia da
Associação Mulher Migrante para acompanhar e coordenar a conferência-debate do
maestro António Victorino d’Almeida sobre a “Portugalidade” (ver pág. 20).
À margem da
conferência, o CONTACTO confrontou a antiga secretária de Estado da Emigração e
das Comunidades (1980-1987) com os novos casos de exploração de portugueses a
trabalhar na construção. Um dos últimos casos dá conta de subempreiteiros portugueses
que exploram imigrantes portugueses numa obra pública num estaleiro dos
Caminhos de Ferro Luxemburgueses, na cidade do Luxemburgo (ver pág. 5).
“É uma história
clássica de portugueses explorados pelos próprios portugueses. Nos séculos XIX
e XX encontramos muitos casos desses e julgamos que não se repetem, mas quando
olhamos para estas situações terríveis são muito iguais às do passado e
acontecem em países onde menos se espera, como o Luxemburgo, Noruega,
Inglaterra ou Holanda. Este é um dos aspectos para o qual sempre chamei à
atenção quando estava no Governo”, recorda Manuela Aguiar, que foi convidada em
1980 pelo primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro a integrar o seu executivo.
Depois de ter deixado a
Secretaria de Estado da Emigração e das Comunidades, Manuela Aguiar continua a
trabalhar com as comunidades portuguesas no estrangeiro. Na Associação Mulher
Migrante coordena vários estudos sobre os emigrantes portugueses. Considerada
uma das maiores especialistas portuguesas da emigração, critica qualquer
governo, mesmo do seu PSD.
“O Governo tem a
obrigação constitucional de reorganizar os serviços de emigração, o Governo tem
de reconstituir uma máquina de apoio aos portugueses nos países onde estão,
para combater estes fenómenos de exploração”, defende Manuela Aguiar.
“Logo a partir de 74, a
primeira coisa que os governos provisórios fizeram foi criar uma Secretaria de
Estado da Emigração e reorganizar os serviços para servir os portugueses. Mas
quando Portugal aderiu à CEE [Comunidade Económica Europeia], achou que a
emigração tinha acabado e desmantelou os serviços de emigração. Neste momento,
em que temos uma emigração como nos anos 60, temos a obrigação de voltar a ter
adidos sociais, que há pouco tempo acabaram, ter pessoas que possam fazer
relatórios ao Governo, que possam seguir a situação dessas pessoas exploradas e
indicar soluções também para outros casos. Precisamos de novos serviços, à
semelhança dos que tivemos, adaptados aos tempos modernos”, propõe Manuela
Aguiar.
Para a também antiga
deputada eleita pelo círculo da Europa, o Governo português deve também ter uma
política virada para os que querem regressar.
“O Governo tem de
apoiar os que querem sair, mas também apoiar de todas as formas possíveis os
portugueses que querem regressar. Tem de haver uma política de regresso, ainda
que não seja um regresso imediato, e chamar as pessoas à medida que for
possível. É certo que neste momento são muito mais os que querem sair do que os
que querem regressar, mas os governantes têm de adequar os instrumentos, os
serviços e os meios institucionais às realidades”, defende Manuela Aguiar,
lembrando o “sinal positivo” dado por Pedro Lomba, secretário de Estado do
ministro-adjunto, Miguel Poiares Maduro. “Ele apelou ao regresso dos
portugueses e é bom que o Governo não tenha apenas o discurso do ’vão embora’”.
Sem comentários:
Enviar um comentário