A ACADEMIA SÉNIOR DE ARTES E SABERES NA ARGENTINA
Em Novembro de 2005, no Encontro em Bueno Aires A Igualdade entre
Homens e Mulheres nas Comunidades Portuguesas
da América do Sul, organizado pela
Associação Mulher Migrante da Argentina, se havia constituído sob o modelo da
Associação de Estudos Mulher Migrante, percebi a
excelência deste grupo magnífico de mulheres que são um exemplo fantástico de
dinamismo, competência e visão, que emprestam a tudo quanto se dedicam.
E assim continuam, honrando e servindo a
causa da Associação.
A Academia Sénior de Artes e Saberes em
Vila Elisa é mais uma das suas atividades que tive a grata satisfação de vivenciar
na Associação Sinceridad, o local que
escolheram para implementar este projeto que lançamos e verificar como um sonho se pode tornar realidade.
Um
sonho, traduzido num projeto que temos procurado lançar e destinado aos mais
velhos, com atividades que possam combater a solidão e o isolamento, que
normalmente originam situações traumáticas. Atividades diversificadas, que
alterarem o ritmo de vida desta população, tornando-a ativa e participativa,
com uma calendarização própria e uma frequência obrigatória. Consequentemente,
melhoram significativamente a qualidade de vida, enriquecem-se sob o ponto de
vista cultural, adquirem novos conhecimentos, fortalecem e alargam os seus
relacionamentos.
Este
projeto, que tão bem pode ser implementado nas Associações portuguesas
espalhadas pelo mundo, num espírito renovador e com novas atividades, que neste
caso são destinadas aos mais velhos, favorecerá também o preenchimento de
lacunas de frequência em horários menos procurados, continuando assim a sua
missão com uma maior dimensão.
O associativismo na diáspora
portuguesa
constituiu uma forma de conjugar
indivíduos com interesses ou gostos análogos,
que tem favorecido a implementação de
objetivos comuns:
convivência social, prossecução
de práticas culturais, recreativas e desportivas,
para além da defesa de interesses nos centros de
saúde, do trabalho,
das condições de vida, da política.
(Guedes, 1995)
Este
projeto nasceu há cinco anos em Joanesburgo, em 2008, nos Encontros para a Cidadania: Mulher – vertentes
de mobilidade numa perspetiva de diálogo intercultural, quando no debate,
que sempre se pretende propiciar após a apresentação das comunicações
temáticas, nos foi apresentada a nova situação de grande parte das mulheres
portuguesas, agora aposentadas e sempre ligadas às associações, muitas delas
limitadas ao seu espaço familiar, sem programas para a o ocupação dos seus
tempos livres e, para a qual gostariam de conhecer uma solução. E foi com a
maior espontaneidade que respondi UNIVERSIDADES SÉNIORES, lembrando-me da
enorme expansão em Portugal, que são frequentadas por homens e mulheres, com
cursos diversificados e muitos deles até ministrados pelos próprios alunos,
aproveitando as suas formações e habilidades, ou mesmo os seus filhos que se
interessem em colaborar; também visitas de estudo, viagens, festas de convívio.
Acharam uma ideia ótima e até pouco
dispendiosa, que procurei ajudar a concretizar, recorrendo à Universidade
Sénior de Espinho (USE) que me forneceu todos os elementos necessários à sua
criação e legalização, com estatutos e procedimentos necessários.
Temos conhecimento de que para além de Joanesburgo, também em outras
cidades da África do Sul estão já a funcionar estas universidades.
Em 2012, eleito o Ano Europeu do
Envelhecimento Ativo e da Solidariedade, a Secretaria de Estado das Comunidades
Portuguesas decidiu patrocinar a divulgação deste projeto que entretanto poderá
ter outra designação – Academias de Artes e Saberes (ASAS) – mas com a mesma
finalidade, dependendo dos contextos onde estão inseridas, bem como as
atividades que desenvolvam, dependendo das motivações e das carências
manifestadas em cada uma delas: curos temáticos (línguas estrangeiras,
história, literatura, informática, artes plásticas, artesanato, grupo coral,
dança, culinária, socorrismo, etc.), palestras, seminários, viagens de estudo,
sessões de convívio (jantares e bailes), investigação (histórias de vida da
diáspora, auto biografias), favorecendo também o diálogo inter-geracional e o
estabelecimento de uma Rede entre todas.
A frequência dos cursos deverá ser regular e
calendarizada, sem avaliação final (classificação), mas com a atribuição de
diploma de participação. É fundamental que todos os participantes sejam
interventivos e participativos, colaborando também nas suas direções,
coordenações e mesmo na lecionação de cursos.
Esta proposta foi lançada também em
Newark (EUA), em Londres, em Toronto (Candá), em Mainz (Alemanha) e há alguns
dias no Recife.
E em Vila Elisa, são portuguesas,
luso descendentes e mesmo argentinas que encontramos num convívio para nos apresentarem
os seus trabalhos já realizados e com projetos de alargamento de participantes
e de novas atividades.
E, tal como refere Manuela Aguiar, os projetos ganham vida, quando existe um
compromisso, seguido de trabalho responsável de quem o realiza.
Maria Violante Martins Mendes, Maria Fernanda da Silva
e Maria Josefina Mac Namara deram vida a este projeto, levando a cultura
portuguesa a um grande grupo de senhoras portugueses e argentinas e que foi
crescendo à medida que se espalhava a informação sobre o seu funcionamento, que
teve início em Maio de 2013.
São hoje 37 alunas que todas as quartas-feiras vêm até
ao clube para aprender as artes e técnicas tradicionais e inovadoras de
crochet, de arraiolos, de ponto de cruz e de tecelagem, para durante 3 horas se
empenharem nas suas tarefas e conviverem.
As obras realizadas e que estavam em exposição para
deleito dos nossos olhos, testemunham o resultado das suas aprendizagens e a
revelação dos seus talentos até então adormecidos, graças à competência das mestres
que tão bem souberam transmitir os saberes do nosso património cultural, com
aquele carinho e dedicação que tanto as carateriza.
Este é mais um dos programas anuais da Associação
Mulher Migrante da Argentina e que ao longo de quinze anos tem corporizado também
os nossos objetivos e, no caso específico do programa ASAS em Vila Elisa, tem
já pedido de novas inscrições, garantindo assim a sua continuidade e, muito
certamente, com mais atividades.
Parabéns.
Graça Guedes
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