sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

ASAS Villa Elisa Graça Guedes


A ACADEMIA SÉNIOR DE ARTES E SABERES NA ARGENTINA

 

 

Em Novembro de 2005, no Encontro em Bueno Aires A Igualdade entre Homens e Mulheres nas Comunidades Portuguesas da América do Sul, organizado pela Associação Mulher Migrante da Argentina, se havia constituído sob o modelo da Associação de Estudos Mulher Migrante, percebi a excelência deste grupo magnífico de mulheres que são um exemplo fantástico de dinamismo, competência e visão, que emprestam a tudo quanto se dedicam.

E assim continuam, honrando e servindo a causa da Associação.

A Academia Sénior de Artes e Saberes em Vila Elisa é mais uma das suas atividades que tive a grata satisfação de vivenciar na Associação Sinceridad, o local que escolheram para implementar este projeto que lançamos e verificar como um sonho se pode tornar realidade.

Um sonho, traduzido num projeto que temos procurado lançar e destinado aos mais velhos, com atividades que possam combater a solidão e o isolamento, que normalmente originam situações traumáticas. Atividades diversificadas, que alterarem o ritmo de vida desta população, tornando-a ativa e participativa, com uma calendarização própria e uma frequência obrigatória. Consequentemente, melhoram significativamente a qualidade de vida, enriquecem-se sob o ponto de vista cultural, adquirem novos conhecimentos, fortalecem e alargam os seus relacionamentos.

Este projeto, que tão bem pode ser implementado nas Associações portuguesas espalhadas pelo mundo, num espírito renovador e com novas atividades, que neste caso são destinadas aos mais velhos, favorecerá também o preenchimento de lacunas de frequência em horários menos procurados, continuando assim a sua missão com uma maior dimensão.

 

O associativismo na diáspora portuguesa

constituiu uma forma de conjugar indivíduos com interesses ou gostos análogos,

 que tem favorecido a implementação de objetivos comuns:

convivência social, prossecução de práticas culturais, recreativas e desportivas,

 para além da defesa de interesses nos centros de saúde, do trabalho,

 das condições de vida, da política.

(Guedes, 1995)

 

Este projeto nasceu há cinco anos em Joanesburgo, em 2008, nos Encontros para a Cidadania: Mulher – vertentes de mobilidade numa perspetiva de diálogo intercultural, quando no debate, que sempre se pretende propiciar após a apresentação das comunicações temáticas, nos foi apresentada a nova situação de grande parte das mulheres portuguesas, agora aposentadas e sempre ligadas às associações, muitas delas limitadas ao seu espaço familiar, sem programas para a o ocupação dos seus tempos livres e, para a qual gostariam de conhecer uma solução. E foi com a maior espontaneidade que respondi UNIVERSIDADES SÉNIORES, lembrando-me da enorme expansão em Portugal, que são frequentadas por homens e mulheres, com cursos diversificados e muitos deles até ministrados pelos próprios alunos, aproveitando as suas formações e habilidades, ou mesmo os seus filhos que se interessem em colaborar; também visitas de estudo, viagens, festas de convívio.

Acharam uma ideia ótima e até pouco dispendiosa, que procurei ajudar a concretizar, recorrendo à Universidade Sénior de Espinho (USE) que me forneceu todos os elementos necessários à sua criação e legalização, com estatutos e procedimentos necessários.

          Temos conhecimento de que para além de Joanesburgo, também em outras cidades da África do Sul estão já a funcionar estas universidades.

Em 2012, eleito o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade, a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas decidiu patrocinar a divulgação deste projeto que entretanto poderá ter outra designação – Academias de Artes e Saberes (ASAS) – mas com a mesma finalidade, dependendo dos contextos onde estão inseridas, bem como as atividades que desenvolvam, dependendo das motivações e das carências manifestadas em cada uma delas: curos temáticos (línguas estrangeiras, história, literatura, informática, artes plásticas, artesanato, grupo coral, dança, culinária, socorrismo, etc.), palestras, seminários, viagens de estudo, sessões de convívio (jantares e bailes), investigação (histórias de vida da diáspora, auto biografias), favorecendo também o diálogo inter-geracional e o estabelecimento de uma Rede entre todas.

A frequência dos cursos deverá ser regular e calendarizada, sem avaliação final (classificação), mas com a atribuição de diploma de participação. É fundamental que todos os participantes sejam interventivos e participativos, colaborando também nas suas direções, coordenações e mesmo na lecionação de cursos.

           

            Esta proposta foi lançada também em Newark (EUA), em Londres, em Toronto (Candá), em Mainz (Alemanha) e há alguns dias no Recife.

            E em Vila Elisa, são portuguesas, luso descendentes e mesmo argentinas que encontramos num convívio para nos apresentarem os seus trabalhos já realizados e com projetos de alargamento de participantes e de novas atividades.

E, tal como refere Manuela Aguiar, os projetos ganham vida, quando existe um compromisso, seguido de trabalho responsável de quem o realiza.

Maria Violante Martins Mendes, Maria Fernanda da Silva e Maria Josefina Mac Namara deram vida a este projeto, levando a cultura portuguesa a um grande grupo de senhoras portugueses e argentinas e que foi crescendo à medida que se espalhava a informação sobre o seu funcionamento, que teve início em Maio de 2013.

São hoje 37 alunas que todas as quartas-feiras vêm até ao clube para aprender as artes e técnicas tradicionais e inovadoras de crochet, de arraiolos, de ponto de cruz e de tecelagem, para durante 3 horas se empenharem nas suas tarefas e conviverem.

As obras realizadas e que estavam em exposição para deleito dos nossos olhos, testemunham o resultado das suas aprendizagens e a revelação dos seus talentos até então adormecidos, graças à competência das mestres que tão bem souberam transmitir os saberes do nosso património cultural, com aquele carinho e dedicação que tanto as carateriza.

Este é mais um dos programas anuais da Associação Mulher Migrante da Argentina e que ao longo de quinze anos tem corporizado também os nossos objetivos e, no caso específico do programa ASAS em Vila Elisa, tem já pedido de novas inscrições, garantindo assim a sua continuidade e, muito certamente, com mais atividades.

Parabéns.

Graça Guedes

 

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