segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

 
 
Em Villa Elisa de todos os sonhos a obra nasce - e em grande! É o que posso afirmar convictamente pela experiência de muitos anos de observação e de convívio. A começar pela história da associação portuguesa. Lembro-me de visitar o terreno, onde hoje está edificada a sua sede, e de ouvir da boca dos dirigentes, a descrição do que se projetava. Na altura sentámo-nos numas cadeirinhas de piquenique, não havia mais nada....  Pouco tempo depois, a Casa estava pronta, linda, moderna com um salão de festas onde cabe um milhar de pessoas.
Precisamente nessa sede se veio a realizar um encontro de Senhoras, que, logo depois, constituíram a Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina -de algum modo seguindo o modelo da AEMM de Portugal, de que se falou bastante durante a reunião. 
 Com muita competência e generosidade, com um conhecimento das realidades e das necessidades dos compatriotas, sobretudo no campo social e cultural, rapidamente as imigrantes portuguesas a converteram num exemplo de voluntariado reconhecido pela Embaixada e pelos nossos  governantes-
A sua maneira pragmática de atuar, sempre focada  no dia a dia das comunidades, no que é preciso fazer para ajudar as pessoas concretamente,  tornaram a sua colaboração imprescindível para a AEMM. Um ponto alto dessa colaboração foi a organização do Encontro para a Cidadania em Buenos Aires, que incluía participantes de ourtas comunidades da América do Sul e de Portugal.. Tratava-se do primeiro desses Encontros, com a presença do SECP, da Drª Maria Barroso, do Embaixador, das dirigentes da AEMM. - um início perfeito. Não foi surpresa - sabíamos que seria assim e por isso mesmo escolhemos a Argentina através da parceria com esta associação-irmã, nessa altura presidida pela Natália Correia, para estabelecermos um paradigma de qualidade no mais ambicioso projeto  do percurso da AEMM até então .
Desde essa data, temos partilhado diversos outros projetos ambiciosos e o mais recente é precisamente o das ASAS. As Academias são nada mais nada menos do que uma variante das chamadas "Universidades Séniores", que em Portugal tem  tido um enorme sucesso. Falo de sucesso não só pelo fenómeno  da sua expansão de norte a sul, pelo número de aderentes, que cresce sem cessar, mas também porque atinge de uma forma fácil e espontânea a sua finalidade principal, que é a de chamar os seniores à vida ativa, de os rejuvenescer na aprendizagem ou no ensino de novas matérias e de lhes proporcionar momentos de diversão e de prazer. Uma fórmula esplêndida!  Ora se há tantos anos resulta em Portugal, porque não transpô-la para o universo português da emigração?  Havia que fazê-lo, sem dúvida. Era até estranho que não tivessem surgido mais cedo as Universidades ou Academias Seniores na Diáspora... À Professora Graça Guedes. se fica a dever a proposta para a sua criação,  durante o 4º  Encontro para a Cidadania  realizado na África do Sul em 2008. Ela está aqui ao nosso lado e poderá explicar como teve essa ideia, ao intervir de improviso sobre a temática do associativismo. A verdade é que esta é uma modalidade de associativismo, que se pode enquadrar bem nos programas das Associações atuantes em todo o mundo, sobretudo as que já mantêm lares, centros geriátricos ou "centos de dia"..
 Recentemente, num Encontro da Obra Católica Portuguesa das Migrações em Fátima, em que estivemos com a Maria Violante, descobrimos a existência de  universidades seniores criadas por missões católicas -  uma  de grande dimensão, com centenas de participantes, na Paróquia de Santa Cruz em Montreal, uma outra com um número mais  pequeno no Luxemburgo . Aqui o número não é o que mais conta - importa, sim,  acolher os que querem e podem beneficiar destes programas. 
Estes exemplos são bem sugestivos, mas nem por isso, as "ASAS" têm tido um grande desenvolvimento a nível da maioria das comunidades. Não basta a ideia ser excelente - para a implementar em regime de voluntariado é preciso muito esforço, muita generosidade e liderança forte....
Até agora, soubemos, por notícias  da Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, que  as Universidades estão aí a avançar nas delegações da Liga, nas principais cidades do País . E a partir do ano de 2012 - quando relançámos o projeto numa modalidade mais flexível, a das Academias, que podem constituir uma simples tertúlia ou oferecer cursos mais especializados - assistimos ao nascimento de ASAS no Canadá, em Toronto, na Alemanha, em Wiesbaden e, já este ano, a vossa, em Villa Elisa. Que alegria nos dá reconhecer o quanto fizeram nestes últimos meses! Na verdade, o trabalho coletivo está
aqui bem à vista, em belos trabalhos de artesanato, bordados, tapeçarias.. Uma exposição impressionante, que dá a medida da qualidade tanto das mestras como das alunas.
. Este encerramento festivo do curso, com tantas dezenas de portuguesas e de argentinas, que partilharam o trabalho, companheirismo e boa disposição, recorda-nos, à Graça e a mim, outros fins de período letivo, na Universidade Sénior de Espinho, que é aquela cujo dia a dia seguimos de perto. A despedida para férias costuma ser um momento de alegria, mas toldado por algumas sombras, porque o  convívio se vai interromper e faz falta   - e há mesmo muitos que se queixam logo ali do vazio ou solidão que já adivinham ao longo dos meses que faltam até ao recomeço das aulas... Não há melhor maneira de revelar a imensa  importância  destas iniciativas na vida das pessoas! E aqui deparamos justamente com  um  sentimento muito semelhante, com  referências constantes ao próximo ano, ao próximo curso. Com um reconhecimento e um carinho enorme pela líder deste projeto, a Maria Violante!  A Maria Violante bem o merece pela forma brilhante como decorreu esta primeira experiência, pela colaboração que recebeu das voluntárias que vieram dar as aulas, pelo entusiasmo que soube despertar nas participantes... pelos resultados -  para além da bem sucedida aprendizagem, à afetividade que as une a todas... 
Começaram por ser um reduzido núcleo, de uma dúzia de pessoas, no final já eram cerca de 40 - e no recomeço, depois do verão austral, o número possivelmente vai duplicar.
Mas há ainda um outro aspeto que é importante salientar: o facto de esta Academia ter nascido num clube argentino, este simpático clube "Sinceridad", . É esplêndido que seja assim -  porque assim se realizam  outros objetivos, como o de tornar a cultura portuguesa mais viva nesta sociedade, composta por tantos povos imigrantes, e o de promover a confraternização entre mulheres dos dois  países. 
Eu tenho uma admiração muito especial pela Argentina, sem dúvida um dos países mais cosmopolitas que conheço. Por isso, os portugueses aqui se sentem em casa, exatamente como eu me senti na Fundação Argentina, da Cidade Universitária de Paris onde residi durante um ano. Ali fiz amigos que ficaram para a vida inteira, ali tive uma mostra bem real da hospitalidade do povo argentino! A mesma que nos oferecem neste clube!
Por fim, queria sublinhar que o êxito aqui conseguido vai, com certeza, servir de inspiração a iniciativas semelhantes  de um novo associativismo, que apela à participação dos grupos marginalizados no associativismo tradicional - os mais jovens, os mais velhos, as mulheres de todas as idades... Uma aventura de descoberta das capacidades de contribuir para o bem estar dos outros, para fazer amigos, e, com eles, coisas novas. Aconteceu magnificamente, mais uma vez, em Villa Elisa!
É uma mensagem que vamos levar connosco e transmitir no nosso país e nas  comunidades da Diáspora.


 

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