Súmula do Encontro de
Espinho
31 de Maio de 2013
Foi
com muito prazer que elaborei as breves notas finais deste Encontro que, tal
como os anteriores, acolhe sempre conteúdos ricos, mas este, dotado de grande
simbolismo porque marcou o início das comemorações dos 20 anos da Associação de
Estudos Mulher Migrante (AEMM) em torno das questões de igualdade de género em
contexto migratório. Dar início a esta efeméride, integrada na II Bienal
“Mulheres d´Artes”, promovido pela Câmara Municipal de Espinho, que reuniu
muitas artistas da diáspora, foi uma
oportunidade de ouvir as próprias artistas sobre interrogações a que é
importante dar resposta, e que também suscitaram curiosidade dos jovens
estudantes, presentes neste Encontro. Esta bienal de artes no feminino, por ser
representativa do universo de mulheres das artes e, neste caso, da Diáspora, é
algo de único no país e, por isso, coloca Espinho como pioneira na rota
deste tipo de
evento o que
muito nos orgulha.
Também
a parceria com o Jornal As artes entre as Letras merece um destaque especial na
concretização deste Encontro.
“Expressões
da Cidadania no feminino” será o tema recorrente, como referiu a Dr. Manuel
Aguiar da AEMM e que procurará pôr em foco a realidade da vida e obra das
mulheres em diferentes domínios da cultura, da intervenção cívica e política,
da diplomacia, do empreendedorismo económico.
A
Associação, através das suas Presidentes, da Assembleia Geral e da Direção,
respetivamente Dr.ª Manuela Aguiar e Dr.ª Rita Gomes, agradeceram e enalteceram
a colaboração da Câmara Municipal, em particular, da Senhora vereadora, Dr.ª
Leonor Fonseca, alma deste evento e do Dr. Armando Bouçon, director do Museu
Municipal – FACE, que conseguiram acolher uma exposição com esta dimensão.
Destacaram
também o conjunto de actividades desenvolvidas pela AEMM, realçando-se que só
foi possível tal ação, graças ao apoio dado pela Secretaria de Estado das
Comunidades Portuguesas.
A
mensagem cheia de significado do Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas,
Dr. José Cesário, cuja presença honrou a Associação, foram reveladoras de que
esta continua a exercer o seu papel na defesa das mulheres em contexto
migratório, no reforço da lusofonia e da Portugalidade e divulgação das
comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Destacou também a importância
destas não apenas na perspetiva empreendedora, da área dos negócios e comércio,
das remessas, mas também no potencial cultural que elas possuem. Referiu-se á
outra metade dos portugueses e seus descendentes que habitam em tantos lugares
do mundo e que fazem de Portugal um grande país, não apenas o país de 10
milhões, mas muito mais, e que a importância do nosso país é notória e
reconhecida em todo o mundo. Daí haver representantes portugueses em todo os organismos
de carácter internacional.
Os
poemas declamados pelos dos alunos da Escola Básica e Secundária Domingos
Capela (EBSDC), sobre o mar e sobre a diáspora, temas de autores portugueses,
foram palavras inspiradoras e carregadas de simbolismo, como refere Vergílio
Ferreira “da minha língua vê-se o mar”. Também simbólico foi a exposição das
magníficas caravelas feitas pelos alunos, com material reciclado, representando “a partida”
que faz parte da nossa longa história da diáspora portuguesa.
A
Introdução ao tema pela Profª Doutora Isabel Ponce de Leão – Universidade
Fernando Pessoa levou-nos à reflexão em torno de questões que se prendem com o
papel das mulheres no mundo artístico e de mobilidade cultural. Referiu o marco
da nova corrente estética, o pós-colonialismo, onde ocorre um novo paradigma de
sociedade e onde a mulher ganha um novo estatuto e importância própria.
A
segunda comunicação, pela Profª Doutora Ana Gabriela Macedo, da Universidade do
Minho (“Novas Corpografias de Arte no Feminino”) deu-nos a conhecer, de forma
muito breve, o seu estudo académico sobre a representação do feminino e da sua
identidade na área da pós-modernidade com incidência na obra de Paula Rêgo,
obra inspiradora que provoca admiração e, por vezes, choque.
A
relação que as mulheres têm com o mundo e com os outros remete-nos para as
artistas controversas como uma forma de questionamento e reflexão. A alteridade
afirmada não é apresentada como algo menor mas enquanto diferente e de forma
positiva. Por fim, realçou as novas corpografias no feminino e a arte ligada à
cidadania onde as mulheres continuam a ter dificuldade em expor a sua arte.
As
intervenções de algumas artistas levou-nos a concluir muito da sua forma de
estar no mundo das artes e o seu papel enquanto cidadãs da diáspora e quão rica
foi a interligação cultural para o seu desenvolvimento como pessoas e artistas.
Foram levantadas questões diversas a suscitar reflexão: redução das horas
dedicadas à Educação Visual no sistema de ensino em Portugal; das dificuldades
burocráticas portuguesas no transporte de obras de arte; a necessidade de uma
maior intervenção do Estado em prol das artes; o elevado custo dos mestrados em
Portugal em relação ao estrangeiro; os subsídios e sua dependência ou até que
ponto o artista terá de ficar enformado pelo circuito comercial para poder
sobreviver em vez de ser um criador pleno.
Algumas
artistas da diáspora (fotógrafa, pintora, galerista, poetisa…) deram testemunho
das suas histórias de vida, onde ficou patente o seu ecletismo cultural e
desassossego permanente, importante para o seu sucesso enquanto mulheres,
cidadãs e artistas.
A
intervenção dos alunos da EBSDC, jovens criadores orientados pelas professoras,
Filomena Bilber da Educação Visual e Nelma Patela da Língua Portuguesa, foi uma
forma inspiradora e reveladora de que a AEMM, ao fazer os seus 20 anos de
actividade, tem já os olhos postos no futuro, simbolizado aqui pela presença
destes jovens.
O
envolvimento dos mais jovens sobre as questões aqui apresentadas torna-se, na
verdade, enriquecedor. O projecto que aqui começou terá continuidade com as
entrevistas que serão realizadas a algumas artistas plásticas da diáspora aqui
presentes nesta exposição. Desta forma, obter-se-á a visão dos jovens sobre a
questões da cidadania, das mulheres da diáspora e do seu papel nas artes.
Este
é um sinal de vitalidade desta Associação que, este ano, celebra 20 anos.
Arcelina
Santiago
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