domingo, 19 de janeiro de 2014

Graça Guedes em Villa Elisa


A ACADEMIA SÉNIOR DE ARTES E SABERES NA ARGENTINA

 

Graça Guedes (Professora Catedrática Aposentada da Universidade do Porto)

 

 

            Ao longo das nossas vidas, há momentos de felicidade que nos tocam emocionalmente.

            E hoje, aqui em Vila Elisa, é para mim um deles e, felizmente, entre muitos outros.

            Felicidade, por constatar que uma ideia, transformada em projeto, é concretizada com tanta dignidade e com esta dimensão, constituindo mais uma iniciativa da Associação Mulher Migrante da Argentina que tive a honra de conhecer em Novembro de 2005, no Encontro que organizaram em Bueno Aires A Igualdade entre Homens e Mulheres nas Comunidades Portuguesas da América do Sul.  Percebi então a excelência deste grupo magnífico de mulheres, que são um exemplo fantástico de dinamismo, competência e visão, que emprestam a tudo quanto se dedicam.

E assim continuam, honrando e servindo a causa desta Associação, que ao longo de quinze anos tem corporizado os seus objetivos, que são tão próximos dos nossos (Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher Migrante), com uma multiplicidade de atividades, tais como a Academia Sénior de Artes e Saberes em Vila Elisa, a funcionar na Associação Sinceridad e que hoje  encerra um ciclo de 7 meses de trabalhos, que aqui estão expostos para deleito dos nossos olhos e que testemunham o resultado das aprendizagens e a revelação dos talentos até então adormecidos das alunas, graças à competência das mestres que tão bem souberam transmitir os saberes do nosso património cultural, com aquele carinho e dedicação que tanto as carateriza.

Parabéns.

A Dra. Manuela Aguiar desafia-me a falar sobre este projeto, que tão bem pode ser implementado nas Associações portuguesas espalhadas pelo mundo, num espírito renovador e com novas atividades, que neste caso são destinadas aos mais velhos, favorecendo também o preenchimento de lacunas de frequência em horários menos procurados e continuando assim a sua missão com uma maior dimensão.

 

O associativismo na diáspora portuguesa

constituiu uma forma de conjugar indivíduos com interesses ou gostos análogos,

 que tem favorecido a implementação de objetivos comuns:

convivência social, prossecução de práticas culturais, recreativas e desportivas,

 para além da defesa de interesses nos centros de saúde, do trabalho,

 das condições de vida, da política.

(Guedes, 1995)

 

Este projeto tem origem numa ideia lançada há cinco anos em Joanesburgo, em 2008, nos Encontros para a Cidadania: Mulher – vertentes de mobilidade numa perspetiva de diálogo intercultural, quando no debate, que sempre se pretende propiciar após a apresentação das comunicações temáticas, nos foi apresentada a nova situação de grande parte das mulheres portuguesas, agora aposentadas e sempre ligadas às associações, muitas delas limitadas ao seu espaço familiar, sem programas para a o ocupação dos seus tempos livres e, para a qual gostariam de conhecer uma solução. E foi com a maior espontaneidade que respondi UNIVERSIDADES SÉNIORES, lembrando-me da enorme expansão em Portugal, que são frequentadas por homens e mulheres, com cursos diversificados e muitos deles até ministrados pelos próprios alunos, aproveitando as suas formações e habilidades, ou mesmo os seus filhos que se interessem em colaborar; também visitas de estudo, viagens, festas de convívio.

Acharam uma ideia ótima e até pouco dispendiosa, que procurei ajudar a concretizar, recorrendo à Universidade Sénior de Espinho (USE) que me forneceu todos os elementos necessários à sua criação e legalização, com estatutos e procedimentos necessários.

Em 2012, eleito o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade, a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas decidiu patrocinar a divulgação deste projeto que entretanto poderá ter outra designação – Academias de Artes e Saberes (ASAS) – mas com a mesma finalidade, dependendo dos contextos onde estão inseridas, bem como as atividades que desenvolvam, dependendo das motivações e das carências manifestadas em cada uma delas: curos temáticos (línguas estrangeiras, história, literatura, informática, artes plásticas, artesanato, grupo coral, dança, culinária, socorrismo, etc.), palestras, seminários, viagens de estudo, sessões de convívio (jantares e bailes), investigação (histórias de vida da diáspora, auto biografias), favorecendo também e sempre que possível, o diálogo inter geracional e o estabelecimento de uma Rede entre todas.

A frequência dos cursos deverá ser regular e calendarizada, sem avaliação final (classificação), mas com a atribuição de diploma de participação. É fundamental que todos os participantes sejam interventivos e participativos, colaborando também nas suas direções, coordenações e mesmo na lecionação de cursos.

Um sonho, traduzido num projeto que temos procurado lançar e destinado aos mais velhos, com atividades que possam combater a solidão e o isolamento, que normalmente originam situações traumáticas. Atividades diversificadas, que alterarem o ritmo de vida desta população, tornando-a ativa e participativa, com uma calendarização própria e uma frequência obrigatória. Consequentemente, melhoram significativamente a qualidade de vida, enriquecem-se sob o ponto de vista cultural, adquirem novos conhecimentos, fortalecem e alargam os seus relacionamentos.

            Este projeto foi lançada também em Newark (EUA), em Londres, em Toronto (Canadá), em Mainz (Alemanha) e há alguns dias no Recife. Temos conhecimento na África do Sul, para além de Joanesburgo, há outras cidades onde  estão já a funcionar estas universidades.

            E em Vila Elisa, são portuguesas, luso descendentes e mesmo argentinas que encontramos num convívio para nos apresentarem os seus trabalhos já realizados de crochet, de arraiolos, de ponto de cruz e de tecelagem e com projetos de alargamento de participantes e de novas atividades.

E, tal como refere Maria Volante Martins, os projetos ganham vida, quando existe um compromisso, seguido de trabalho responsável de quem o realiza.

Maria Violante Martins Mendes, Maria Fernanda da Silva e Maria Josefina Mac Namara deram vida a este projeto, levando a cultura portuguesa a um grande grupo de senhoras portuguesas, lusos descendentes e argentinas e que foi crescendo à medida que se espalhava a informação sobre o seu funcionamento.

Termino, fazendo minhas as palavras da Dra. Manuela Aguiar: Em Vila Elisa, de todos os sonhos a obra nasce – e em grande!

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