A ACADEMIA SÉNIOR DE ARTES E SABERES NA
ARGENTINA
Graça Guedes (Professora Catedrática
Aposentada da Universidade do Porto)
Ao
longo das nossas vidas, há momentos de felicidade que nos tocam emocionalmente.
E
hoje, aqui em Vila Elisa, é para mim um deles e, felizmente, entre muitos
outros.
Felicidade,
por constatar que uma ideia, transformada em projeto, é concretizada com tanta
dignidade e com esta dimensão, constituindo mais uma iniciativa da Associação
Mulher Migrante da Argentina que tive a honra de conhecer em Novembro de 2005,
no Encontro que organizaram em Bueno Aires A Igualdade entre Homens e Mulheres nas Comunidades Portuguesas da América do Sul. Percebi então a
excelência deste grupo magnífico de mulheres, que são um exemplo fantástico de
dinamismo, competência e visão, que emprestam a tudo quanto se dedicam.
E assim continuam, honrando e servindo a
causa desta Associação, que ao longo de
quinze anos tem corporizado os seus objetivos, que são tão próximos dos nossos
(Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher Migrante), com uma
multiplicidade de atividades, tais como a Academia Sénior de Artes e Saberes em
Vila Elisa, a funcionar na Associação Sinceridad
e que hoje encerra um ciclo de 7
meses de trabalhos, que aqui estão expostos para deleito dos nossos
olhos e que testemunham o resultado das aprendizagens e a revelação dos
talentos até então adormecidos das alunas, graças à competência das mestres que
tão bem souberam transmitir os saberes do nosso património cultural, com aquele
carinho e dedicação que tanto as carateriza.
Parabéns.
A Dra. Manuela Aguiar desafia-me a falar sobre este projeto, que tão bem pode ser
implementado nas Associações portuguesas espalhadas pelo mundo, num espírito
renovador e com novas atividades, que neste caso são destinadas aos mais
velhos, favorecendo também o preenchimento de lacunas de frequência em horários
menos procurados e continuando assim a sua missão com uma maior dimensão.
O associativismo na diáspora
portuguesa
constituiu uma forma de conjugar
indivíduos com interesses ou gostos análogos,
que tem favorecido a implementação de
objetivos comuns:
convivência social, prossecução
de práticas culturais, recreativas e desportivas,
para além da defesa de interesses nos centros
de saúde, do trabalho,
das condições de vida, da política.
(Guedes, 1995)
Este
projeto tem origem numa ideia lançada há cinco anos
em Joanesburgo, em 2008, nos Encontros
para a Cidadania: Mulher – vertentes de mobilidade numa perspetiva de diálogo
intercultural, quando no debate, que sempre se pretende propiciar após a
apresentação das comunicações temáticas, nos foi apresentada a nova situação de
grande parte das mulheres portuguesas, agora aposentadas e sempre ligadas às
associações, muitas delas limitadas ao seu espaço familiar, sem programas para
a o ocupação dos seus tempos livres e, para a qual gostariam de conhecer uma
solução. E foi com a maior espontaneidade que respondi UNIVERSIDADES SÉNIORES,
lembrando-me da enorme expansão em Portugal, que são frequentadas por homens e
mulheres, com cursos diversificados e muitos deles até ministrados pelos
próprios alunos, aproveitando as suas formações e habilidades, ou mesmo os seus
filhos que se interessem em colaborar; também visitas de estudo, viagens,
festas de convívio.
Acharam uma ideia ótima e até pouco
dispendiosa, que procurei ajudar a concretizar, recorrendo à Universidade
Sénior de Espinho (USE) que me forneceu todos os elementos necessários à sua
criação e legalização, com estatutos e procedimentos necessários.
Em 2012, eleito o Ano Europeu do
Envelhecimento Ativo e da Solidariedade, a Secretaria de Estado das Comunidades
Portuguesas decidiu patrocinar a divulgação deste projeto que entretanto poderá
ter outra designação – Academias de Artes e Saberes (ASAS) – mas com a mesma
finalidade, dependendo dos contextos onde estão inseridas, bem como as
atividades que desenvolvam, dependendo das motivações e das carências
manifestadas em cada uma delas: curos temáticos (línguas estrangeiras,
história, literatura, informática, artes plásticas, artesanato, grupo coral,
dança, culinária, socorrismo, etc.), palestras, seminários, viagens de estudo,
sessões de convívio (jantares e bailes), investigação (histórias de vida da
diáspora, auto biografias), favorecendo também e sempre que possível, o diálogo
inter geracional e o estabelecimento de uma Rede entre todas.
A frequência dos cursos deverá ser regular e
calendarizada, sem avaliação final (classificação), mas com a atribuição de
diploma de participação. É fundamental que todos os participantes sejam
interventivos e participativos, colaborando também nas suas direções,
coordenações e mesmo na lecionação de cursos.
Um
sonho, traduzido num projeto que temos procurado lançar e destinado aos mais
velhos, com atividades que possam combater a solidão e o isolamento, que
normalmente originam situações traumáticas. Atividades diversificadas, que
alterarem o ritmo de vida desta população, tornando-a ativa e participativa,
com uma calendarização própria e uma frequência obrigatória. Consequentemente,
melhoram significativamente a qualidade de vida, enriquecem-se sob o ponto de
vista cultural, adquirem novos conhecimentos, fortalecem e alargam os seus
relacionamentos.
Este projeto foi lançada também em
Newark (EUA), em Londres, em Toronto (Canadá), em Mainz (Alemanha) e há alguns
dias no Recife. Temos conhecimento na África do Sul, para além
de Joanesburgo, há outras cidades onde estão já a funcionar estas universidades.
E em Vila Elisa, são portuguesas,
luso descendentes e mesmo argentinas que encontramos num convívio para nos
apresentarem os seus trabalhos já realizados de crochet, de arraiolos, de ponto
de cruz e de tecelagem e com projetos de alargamento de participantes e de
novas atividades.
E, tal como refere Maria Volante Martins, os projetos ganham vida, quando existe um
compromisso, seguido de trabalho responsável de quem o realiza.
Maria Violante Martins Mendes, Maria Fernanda da Silva
e Maria Josefina Mac Namara deram vida a este projeto, levando a cultura
portuguesa a um grande grupo de senhoras portuguesas, lusos descendentes e
argentinas e que foi crescendo à medida que se espalhava a informação sobre o
seu funcionamento.
Termino, fazendo minhas as palavras da Dra. Manuela
Aguiar: Em Vila Elisa, de todos os sonhos
a obra nasce – e em grande!
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