Comunicado | Mulher Migrante Venezuela: “As novas gerações estão a afastar-se das raízes portuguesas e por isso que Portugal deve reforçar a relação ibero-americana” | Dia Internacional do Migrante
Para poder falar da nova emigração é preciso rever a sua história, para assim melhor compreender as mudanças que ao longo do tempo têm vindo a suceder. Para isso é importante saber os motivos que levaram, no passado, o povo português a procurar novos horizontes. Razões várias, dos tempos mais remotos à atualidade, justificam este fenómeno. De assinalar a falta dos meios de subsistência responsáveis pelo "êxodo" de emigrantes isolados e de famílias inteiras, hoje radicadas nos diversos países de imigração. É também importante assinalar as circunstâncias de natureza política que as determinaram, associadas a perseguições desta natureza, à falta de liberdade de expressão, à guerra nas antigas colónias e a práticas sociais dominantes que impulsaram a fuga de muitos jovens, antes ou durante o cumprimento do serviço militar.
A família portuguesa tendeu sempre a acentuar o aspeto da identidade, colocando de lado qualquer apelo de integração, pois este era entendido e sentido como uma ameaça à sua identidade. Os emigrantes portugueses procuraram sempre manter uma unidade cultural que os impedia de integrar as sociedades onde se inseriam, mantendo sempre a esperança e o desejo de regressar ao seu país de origem. No entanto, “a dinâmica de uma sociedade multicultural e intercultural assenta, por um lado, na cultura da autonomia, por outro, na obrigatoriedade da participação e o emigrante português, fixado na ideia de regresso, sentia pouca vontade de participar e de se integrar na nova comunidade”.
Gradualmente, este tipo de emigração sofreu alterações. Se o projeto primeiro era angariar o máximo de dinheiro no mínimo de tempo, para poder regressar, cedo a família deu-se de conta que esse projeto económico não era realizável no espaço de tempo sonhado e, prolongando-se, entrava em conflito com outros objetivos importantes - A formação escolar das crianças exigia o adiamento do regresso e obrigava a uma certa integração de facto, em conflito com a ideia do regresso. A redistribuição de papéis na família, muitas vezes de forma pouco fiel à tradição, começava a afirmar-se à medida que as mulheres encontravam formas de trabalho remunerado.
Através de testemunhos podemos constatar que a educação familiar teve um peso significativo na formação e na vida das mulheres de origem portuguesa, tendo muitas delas relatado que os pais eram severos e austeros, ensinando principalmente os costumes da sociedade portuguesa. Relatam que tiveram uma educação diferenciada em comparação aos irmãos, pois, não gozando de nenhuma liberdade, deveriam ser acompanhadas sempre que saíam de casa, seja pela mãe ou por um irmão. Os pais controlavam bem de perto a sua vida até ao casamento, para entregar a filha "intata" ao futuro marido.
No entanto, as mulheres da segunda geração, que atingiram um nível educativo superior, são pessoas na maioria das vezes com uma identidade ambígua. Conhecem bem os padrões da pátria dos seus pais, não partilham a sua rigidez, mas gostam dos seus hábitos alimentares e das reuniões familiares aos domingos e nos dias de festa. No entanto, já não conseguem ter grande fluência na língua dos pais, limitando o seu vocabulário ao indispensável para a comunicação doméstica. Isto traz como consequência que seja mais fácil expressarem-se na língua do país onde vivem e muitas vezes já nem se identificam como portuguesas.
Se bem é certo que nos princípios da emigração portuguesa, no que se refere à Venezuela, observamos a típica emigração da mala de cartão, a saudade do país que deixaram atrás e da família que só voltariam a ver depois de muitos anos, não é menos certo que esta emigração logrou inserir na comunidade venezuelana e trespassar as barreiras culturais e linguísticas que num principio lhes parecia quase impossível. Os portugueses estão hoje perfeitamente integrados na cultura, na sociedade e na vida económica venezuelana. No entanto também observamos que as novas gerações estão a afastar-se das raízes portuguesas. É por isto que Portugal deve reforçar a relação ibero-americana, que deve passar pelo fortalecimento nas áreas política e económica, mas também pelas educativa e cultural. Não podemos perder de vista que o multiculturalismo e a globalização são fenómenos crescentes e irreversíveis.
A Associação Mulher Migrante na Venezuela deseja a todos os migrantes residenciados neste país um futuro de esperança, paz e armonia. PAZ NA TERRA AOS HOMENS E MULHERES DE BOA VONTADE.
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