sexta-feira, 10 de janeiro de 2014


Expressões Femininas de Cidadania: As Portuguesas no Recife

 

Berta Fernanda de Souza Guedes Santana *

 

 

            Como falar de encerramento num encontro tão promissor? Alio-me às palavras Dra. Manuela Aguiar, que ao citar a conterrânea poetisa, Agustina Bessa-Luis, profetizou que um dia agradável não se termina.

Declaro, então, a minha esperança de que esta iniciativa não se encerre, ao contrário, permaneça aberta a novas possibilidades e seja o início de uma profícua troca.

            Há anos, quando estive num encontro da Associação de Estudos, Solidariedade e  Cooperaão Mulher Migrante com a  Comunidade Portuguesa de Buenos Aires, surpreendi-me com a organização do grupo local, o interesse e a dedicação em manter acesa a chama da união e da cultura e costumes da pátria amada. Pensei, naquela ocasião, porque não se faziam encontros desse tipo em Recife, cidade que tem uma comunidade portuguesa expressiva e numerosa.

Jamais imaginei que caber-me-ia a honra de organizar o primeiro evento similar, em Recife, voltado para e com as mulheres portuguesas e lusodescendentes.

            Ao propor à Associação Mulher Migrante o desafio de realizar o Encontro nestas paragens, não esperei que o desafio fosse a mim devolvido com a demanda de organizá-lo, desde a procura, seleção e convite às palestrantes, passando pela escolha de local apropriado à ocasião, bem como a busca de parceiros e patrocinadores...

            O Encontro foi tomando corpo à medida em que os contatos iam sendo feitos, que novas pessoas engajavam-se e, juntos, tecíamos as possibilidades.

O primeiro a apoiar-nos foi o Sr. Vice Cônsul de Portugal no Recife, que não mediu esforços em angariar tudo quanto precisávamos. Em seguida, o Gabinete Português do Recife que logo, gentilmente, cedeu as suas instalações para acolher a pioneira iniciativa.

Iniciamos o contato com as portuguesas e lusodescendentes que se dedicaram a áreas diversas na sociedade local. Deparamo-nos com a singularidade da alma lusitana: a modéstia. A maioria das compatriotas contactadas não considerava importante a sua participação para o bem comum ou, pelo menos, não desejava falar de suas trajetórias, mantendo-se no anonimato, ou num lugar que sempre lhes foi confortável: os bastidores. Alguns convites foram pronta e entusiasticamente aceitos, outros educada e timidamente recusados, porém com a promissora esperança de se materializarem num futuro próximo e ora transformados em colaboração via patrocínio.

Acolhemos com satisfação todas as colaborações recebidas, não deixando de incentivar futuras participações.

            Neste trilhar de caminhos, nesta busca pela promoção das mulheres, da necessidade de empoderamento e do falar em nome próprio, fui percebendo a semelhança que os propósitos do Encontro, por sua vez, revelavam profunda identidade com os da Associação Folia das Deusas, da qual sou vice-presidente e tesoureira e que teve o seu nascedouro na casa dos meus pais.

A Associação Folia das Deusas, idealizada em 1999, pela amiga Adelina Cristina Augusto Chaves, presidente da Associação, é uma entidade sem fins lucrativos, voltada para as questões da mulher e sua trajetória de vida e luta por seus direitos e cidadania, com o propósito de disseminar as políticas para as mulheres nas mais diversas áreas: educação, saúde, cultura lazer, participação na política e em todas as manifestações sociais e culturais que considerem e respeitem toda forma de diversidade.

A Associação Folia das Deusas expressa-se socialmente, principalmente, através do Bloco Carnavalesco Folia das Deusas, instrumento enraizado na cultura pernambucana, escolhido pela riqueza, vigor e vitalidade com que o carnaval permeia , penetra e se expressa em todas as camadas da sociedade, além de propiciar um meio lúdico, festivo e acessível aos mais diversos meios sociais. Para além dos festejos de Momo,  brincando, antevíamos um dos objetivos do milênio: equidade de gênero.

Por ocasião de mudança de domicílio e demandas pessoais e profissionais, Adelina esteve fora do Recife por mais de 10 anos, o que nos levou a adiar o propósito de formalizar a Associação Folia das Deusas.  Em 2012, nos reencontramos, Adelina e eu, e constatamos que cada qual tinha guardado uma parte da associação: Adelina tinha o hino, a marca e a ata de reunião e sob minha guarda estava o estatuto. Urgia, então, formalizar a Associação Folia das Deusas e fazer a sua entrega à sociedade. Depois de uma breve apresentação do estandarte do bloco, no Carnaval de 2013, no Recife e em Olinda, não poderia haver melhor oportunidade do que apresentar-se, formalmente, à sociedade, com a promoção e organização de um evento internacional, ou melhor dizendo, luso-brasileiro: Expressões Femininas de Cidadania: As Portuguesas no Recife.

            A Associação Bloco Carnavalesco Folia das Deusas, hoje conta com simpatizantes, apoiantes e colaboradores nas mais diversas áreas e estão em desenvolvimento projetos estruturantes, tais como: a formação de banda musical feminina, oficinas e palestras voltadas para nutrição e saúde das mulheres, para os saberes da cultura local, para o reaproveitamento de materiais, e para o desenvolvimento de economia solidária, visando a autonomia e o empoderamento financeiro das mulheres. Estão também em desenvolvimento projetos voltados para a conscientização da cidadania e representação na política bem como o intercâmbio cultural e artístico com outros países, nomeadamente os países da comunidade lusófona.

Todas as nossas propostas de trabalho contam com a parceria com organismos locais, públicos e privados, que nos possibilitem um mais amplo alcance de objetivos e capilaridade na sociedade. Desta forma, a Associação Folia das Deusas espera contribuir para o reconhecimento,  valorização e conquistas das mulheres por seus direitos, empoderamento, equidade e justiça social.

Neste encontro foi gerado outro projeto que é a implementação, em parceria com a  Associação Mulher Migrante, das Universidades Seniores, organismos voltados para a expressão e inclusão das mulheres na faixa etária conhecida como da melhor idade.

Desejamos que no próximo encontro, que esperamos seja em breve, possamos apresentar este rebento, resultado de nossas profícuas trocas e tecituras e embrião de muitas mais.

Voltando a Agustina Bessa-Luis:


Por fim, ou melhor, por enquanto, digo apenas: até sempre!

 

 

 

*Berta Fernanda de Souza Guedes Santana, Psicóloga e Fonoaudióloga, formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com Pós-Graduação em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP- Escola Paulista de Medicina e em Gestão de Pessoas pela Universidade Gama Filho, trabalha como psicóloga no Serviço de Apoio à Mulher-Wilma Lessa no Hospital Agamenom Magalhães em Recife/PE e no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

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