Expressões
Femininas de Cidadania: As Portuguesas no Recife
Berta Fernanda de
Souza Guedes Santana *
Como
falar de encerramento num encontro tão promissor? Alio-me às palavras Dra. Manuela
Aguiar, que ao citar a conterrânea poetisa, Agustina Bessa-Luis, profetizou que
um dia agradável não se termina.
Declaro, então,
a minha esperança de que esta iniciativa não se encerre, ao contrário,
permaneça aberta a novas possibilidades e seja o início de uma profícua troca.
Há anos,
quando estive num encontro da Associação de Estudos, Solidariedade e Cooperaão Mulher Migrante com a Comunidade Portuguesa de Buenos Aires,
surpreendi-me com a organização do grupo local, o interesse e a dedicação em
manter acesa a chama da união e da cultura e costumes da pátria amada. Pensei,
naquela ocasião, porque não se faziam encontros desse tipo em Recife, cidade
que tem uma comunidade portuguesa expressiva e numerosa.
Jamais imaginei
que caber-me-ia a honra de organizar o primeiro evento similar, em Recife,
voltado para e com as mulheres portuguesas e lusodescendentes.
Ao
propor à Associação Mulher Migrante o desafio de realizar o Encontro nestas
paragens, não esperei que o desafio fosse a mim devolvido com a demanda de
organizá-lo, desde a procura, seleção e convite às palestrantes, passando pela
escolha de local apropriado à ocasião, bem como a busca de parceiros e
patrocinadores...
O
Encontro foi tomando corpo à medida em que os contatos iam sendo feitos, que
novas pessoas engajavam-se e, juntos, tecíamos as possibilidades.
O primeiro a
apoiar-nos foi o Sr. Vice Cônsul de Portugal no Recife, que não mediu esforços
em angariar tudo quanto precisávamos. Em seguida, o Gabinete Português do
Recife que logo, gentilmente, cedeu as suas instalações para acolher a pioneira
iniciativa.
Iniciamos o
contato com as portuguesas e lusodescendentes que se dedicaram a áreas diversas
na sociedade local. Deparamo-nos com a singularidade da alma lusitana: a
modéstia. A maioria das compatriotas contactadas não considerava importante a
sua participação para o bem comum ou, pelo menos, não desejava falar de suas
trajetórias, mantendo-se no anonimato, ou num lugar que sempre lhes foi
confortável: os bastidores. Alguns convites foram pronta e entusiasticamente
aceitos, outros educada e timidamente recusados, porém com a promissora
esperança de se materializarem num futuro próximo e ora transformados em
colaboração via patrocínio.
Acolhemos com
satisfação todas as colaborações recebidas, não deixando de incentivar futuras
participações.
Neste
trilhar de caminhos, nesta busca pela promoção das mulheres, da necessidade de
empoderamento e do falar em nome próprio, fui percebendo a semelhança que os
propósitos do Encontro, por sua vez, revelavam profunda identidade com os da
Associação Folia das Deusas, da qual sou vice-presidente e tesoureira e que
teve o seu nascedouro na casa dos meus pais.
A Associação
Folia das Deusas, idealizada em 1999, pela amiga Adelina Cristina Augusto Chaves,
presidente da Associação, é uma entidade sem fins lucrativos, voltada para as
questões da mulher e sua trajetória de vida e luta por seus direitos e
cidadania, com o propósito de disseminar as políticas para as mulheres nas mais
diversas áreas: educação, saúde, cultura lazer, participação na política e em
todas as manifestações sociais e culturais que considerem e respeitem toda
forma de diversidade.
A Associação
Folia das Deusas expressa-se socialmente, principalmente, através do Bloco
Carnavalesco Folia das Deusas, instrumento enraizado na cultura pernambucana,
escolhido pela riqueza, vigor e vitalidade com que o carnaval permeia , penetra
e se expressa em todas as camadas da sociedade, além de propiciar um meio
lúdico, festivo e acessível aos mais diversos meios sociais. Para além dos
festejos de Momo, brincando, antevíamos
um dos objetivos do milênio: equidade de gênero.
Por ocasião de
mudança de domicílio e demandas pessoais e profissionais, Adelina esteve fora
do Recife por mais de 10 anos, o que nos levou a adiar o propósito de
formalizar a Associação Folia das Deusas.
Em 2012, nos reencontramos, Adelina e eu, e constatamos que cada qual
tinha guardado uma parte da associação: Adelina tinha o hino, a marca e a ata
de reunião e sob minha guarda estava o estatuto. Urgia, então, formalizar a
Associação Folia das Deusas e fazer a sua entrega à sociedade. Depois de uma
breve apresentação do estandarte do bloco, no Carnaval de 2013, no Recife e em
Olinda, não poderia haver melhor oportunidade do que apresentar-se,
formalmente, à sociedade, com a promoção e organização de um evento
internacional, ou melhor dizendo, luso-brasileiro: Expressões Femininas de
Cidadania: As Portuguesas no Recife.
A
Associação Bloco Carnavalesco Folia das Deusas, hoje conta com simpatizantes,
apoiantes e colaboradores nas mais diversas áreas e estão em desenvolvimento
projetos estruturantes, tais como: a formação de banda musical feminina,
oficinas e palestras voltadas para nutrição e saúde das mulheres, para os
saberes da cultura local, para o reaproveitamento de materiais, e para o
desenvolvimento de economia solidária, visando a autonomia e o empoderamento
financeiro das mulheres. Estão também em desenvolvimento projetos voltados para
a conscientização da cidadania e representação na política bem como o
intercâmbio cultural e artístico com outros países, nomeadamente os países da
comunidade lusófona.
Todas as nossas
propostas de trabalho contam com a parceria com organismos locais, públicos e
privados, que nos possibilitem um mais amplo alcance de objetivos e
capilaridade na sociedade. Desta forma, a Associação Folia das Deusas espera
contribuir para o reconhecimento,
valorização e conquistas das mulheres por seus direitos, empoderamento,
equidade e justiça social.
Neste encontro
foi gerado outro projeto que é a implementação, em parceria com a Associação Mulher Migrante, das Universidades
Seniores, organismos voltados para a expressão e inclusão das mulheres na faixa
etária conhecida como da melhor idade.
Desejamos que no
próximo encontro, que esperamos seja em breve, possamos apresentar este
rebento, resultado de nossas profícuas trocas e tecituras e embrião de muitas
mais.
Voltando a
Agustina Bessa-Luis:
Por fim, ou
melhor, por enquanto, digo apenas: até sempre!
*Berta Fernanda de Souza Guedes Santana, Psicóloga e Fonoaudióloga, formada
pela Universidade Católica de Pernambuco, com Pós-Graduação em Dependência
Química pela Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP- Escola Paulista de
Medicina e em Gestão de Pessoas pela Universidade Gama Filho, trabalha como
psicóloga no Serviço de Apoio à Mulher-Wilma Lessa no Hospital Agamenom
Magalhães em Recife/PE e no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
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