quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Abertura do Encontro de Espinho - 31 de maio

A AEMM vem a Espinho iniciar as comemorações dos seus 20 anos.
Sobre esta escolha permitam-me duas observações:
 - A primeira é a de que Espinho se impõe com naturalidade, porque é a cidade onde a Associação verdadeiramente nasceu, com a sua primeira iniciativa de natureza internacional .De facto, foi a pequena distância daqui, à vista da mesma paisagem do nosso "mar sem fim", que se realizou o Encontro Mundial de 1995, onde se definiram objetivos, se reuniram em diálogo centenas de mulheres dos cinco continentes, se  motivaram colaborações duradouras, se  mostrou, ao País e às comunidades do estrangeiro, a capacidade de "querer" e de "fazer " de uma pequena organização, criada pouco antes. Foi esse o momento e o lugar em que uma boa ideia passou à prática.  Uma ideia que, não o esqueçamos,  precedeu em cerca de uma década, a corporização da própria Associação, pois foi uma proposta saída do 1º Encontro de Mulheres Migrantes, promovido pela Secretaria de Estado da Emigração em 1985.  Passaram anos, sem que nada acontecesse, até que algumas das intervenientes desse 1º Encontro decidiram repensar um movimento associativo  para a cidadania das mulheres migrantes, dar-lhe existência jurídica (por escritura pública, datada de 8 de outubro de 1993), e de seguida, existência real através desse grande congresso de Espinho e de muitos outros projetos que iriam  avançar pela via então aberta .
- A segunda observação tem a ver com o sentido de uma comemoração deste tipo, que, sem prejuízo do seu caráter festivo,  deve ser, essencialmente, a ocasião de apresentar um balanço do trabalho feito e, sobretudo, de olhar a evolução do mundo das migrações e de planificar as iniciativas que nos permitam uma intervenção ativa e útil.
A presença do SECP é, para nós, muito significativa, porque nos encoraja a levar para o futuro uma tradição de parceria com  governos e administração pública, no campo dos direitos  de igualdade e de afirmação cívica dos emigrantes. O  fundamental do nosso pensamento está sintetizado no lema que adotámos  desde o início: " Não há estrangeiros numa sociedade que vive os direitos humanos".
O que se aplica tanto às as leis como à sua concretização... Sabemos bem que, apesar da importância do papel das mulheres na origem e na sobrevivência das comunidades de cultura portuguesa, as condições que se lhes oferecem para nelas participarem, em pé de igualdade, ficam muito aquém da letra da lei... Cumprir a igualdade, dar voz e oportunidades às mulheres migrantes, são a causa que nos move, numa associação onde mulheres e homens trabalham juntos.
 Queremos agradecer ao Dr. José Cesário - e, na sua veste institucional de Secretário de Estado, a todos os antecessores com quem temos  cooperado -  e reafirmar a disponibilidade de prosseguir uma parceria de duas décadas, em regime de voluntariado.  Uma " parceria público privada" muito especial, porque não é do domínio dos negócios  mas das causas, da luta pelos direitos humanos, em que se integram as políticas de emigração, com a vertente de género. Vertente que de todo lhes  faltou, aquando da conceção e aplicação inicial dessas políticas. O 1º Encontro Mundial de Mulheres Migrantes de 1985, foi um 1º passo, mas o 2º iria demorar anos.  A nossa Associação quis fazer a ponte entre esses dois tempos e não deixa de ser surpreendente que o tenha conseguido, muito por mérito dos nossos interlocutores  em sucessivos governos, evidentemente.
 No Dr José Cesário temos o mais convicto e coerente dos aliados!  Nunca é demais salientar a inédita Resolução da Ar sobre a participação das portuguesas nas comunidades do estrangeiro,  que elaborou e fez aprovar, enquanto deputado e que segue, fielmente, agora, como Secretário de Estado. Essa Resolução  contém todo um programa de ação neste domínio, no qual  colaboramos com a esperança numa mutação
 definitiva de um estado de coisas, amanhã, certamente, menos utópica  do que hoje. 
Agradecemos, igualmente à Câmara Municipal, aqui representada pela Vereadora da Cultura Leonor Fonseca. Um agradecimento em que recordamos o apoio  fraterno recebido dos anteriores Executivos Municipais, e que é, também, no que respeita à Drª Leonor, em simultâneo, institucional e pessoal. A Drª Leonor é "uma de nós", envolvida, com o mesmo entusiasmo, no  combate pela cidadania no feminino. Obrigada pela simpatia com que acolhe a comemoração dos 20 anos da AEMM, aceitando integrando-la no âmbito da II Bienal  Mulheres d' Artes. abrindo-nos, na véspera da inauguração da Bienal, este esplêndido espaço das Galerias Amadeo Souza Cardoso, transformado em cenário de revelação de talentos artísticos femininos, com muitas participantes vindas das nossas comunidades dispersas.
 "Expressões da cidadania no feminino" será o tema recorrente nos vários encontros que irão pontuar o nosso ano de 2013,  olhando a realidade da vida e obra das mulheres migrantes em diferentes domínios da cultura, da intervenção cívica e política, da diplomacia, do empreendedorismo económico. Neste primeiro colóquio, "Migrações e Artes no feminino" começamos pela cultura, como expressão maior da cidadania e vamos ouvir as próprias artistas sobre interrogações a que é preciso dar resposta, tais como estas, que, desde já, proponho para o debate com tantos amigos que aqui estão connosco, numa impressionante moldura humana:
  Há uma relação entre género e expressão artística?
O que ganharam as mulheres na sua itinerância por vários universos culturais?
Que papel atribuir às artes como formas de intervenção e de repercussão emotiva e artística de experiências de vida, e, também de aproximação das sociedades às quais elas sentem pertencer ?
 Como ver uma Bienal de Mulheres d'Artes?
  Na Bienal, como neste Encontro, acho que não se pretende traçar uma linha de fronteira entre géneros, mas, pelo contrário, promover a harmonia e o equilíbrio, que ainda não existirão plenamente,
As mulheres vêm, nesta nossa perspetiva, ocupar o lugar da sua própria ausência, ou relativa ausência e marginalização, numa sociedade marcada por padrões masculinos.  Este não é, assim, lugar de separação, mas de reencontro e da procura de reconhecimento  das mulheres migrantes no nosso País.
Como no poema de Isabel Meyrelles, poderíamos dizer a cada uma das artistas presentes, em especial às que vieram de longe: 
"Eis que chegaste
E cada coisa
recomeçou
no gesto interrompido"

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