Gabriela
Valente – Empreendedorismo feminino
Sou jornalista de formação, mas hoje o que
eu menos faço no meu dia a dia é exercer o jornalismo. Hoje eu diria que sou
mais publicitária e administradora de empresas do que jornalista. Mas não me
arrependo do meu curso, talvez se eu não tivesse feito exatamente jornalismo eu
não estaria onde eu estou.
Eu acredito que todo mundo nasce com um dom
pra fazer alguma coisa, mas são poucos os que descobrem que coisa é essa.
Outros até descobrem, mas não encontram meios de atuar na área. Eu tive a sorte
de descobrir pra que eu servia na vida. Descobri cedo que meu negócio era na
comunicação. Acho que poucos têm esse privilégio, essa sorte.
Meu primeiro trabalho foi em uma assessoria
de imprensa. Passei dois anos nessa empresa, onde meu chefe dizia que eu sempre
agi como dona. E eu sempre tive mesmo uma preocupação com o todo e não apenas
com meu próprio trabalho. E essa eu acho que deve ser a primeira característica
do empreendedor. Foi quando eu pedi pra sair dessa empresa e recebi o convite pra
abrir meu próprio negócio. Eu ainda nem tinha terminado a faculdade, ainda
faltavam dois períodos. Foram os meses que eu mais trabalhei na minha vida.
Início de empresa, final da faculdade.
E eu acho que eu fiz isso na hora certa.
Era a hora de arriscar, de trabalhar muito. E eu comecei a entender que
estabilidade era o contrário de empreendedorismo. Enquanto a maioria dos meus
amigos estavam na busca da estabilidade, ou estudando pra concurso ou em um
emprego, eu estava me arriscando em uma coisa muito nova.
Eu tenho uma empresa de publicidade e
marketing digital que foi uma das primeiras do mercado pernambucano com esse
foco, o foco apenas no digital. E ao mesmo tempo que é bom olhar pra trás e
dizer que fomos um dos primeiros, só nós sabemos o quanto foi e ainda é
difícil. A empresa se chama Iris Agência Interativa e somos hoje uma equipe de
quase 30 pessoas.
Quando me pediram pra falar de
empreendedorismo feminino eu pensei logo que o foco seria nas diferenças e no
preconceito que infelizmente, apesar da posição que a mulher já conquistou no
mercado trabalho, ainda existe. Eu li um livro da mais alta executiva do
Facebook e ela diz que um mundo realmente igualitário seria aquele em que as
mulheres dirigissem metade das empresas e dos países e metade dos homens
dirigissem os lares. Porque as mulheres enfrentam alguns obstáculos concretos
mesmo no trabalho, como o machismo declarado ou sutil, a discriminação e até as
vezes o assédio. E ela já entra com uma desvantagem que é muitas vezes a falta
de estrutura e apoio à mulher mãe, dona de casa. Tem mulheres que comprometem
suas metas profissionais pra dar espaço a companheiros e filhos que às vezes
até ainda nem existem. Temos sim que aumentar nossa autoconfiança e fazer com
que os parceiros ajudem mais em casa.
A mulher também é chamada a assumir
comportamentos tipicamente masculinos para exercer o poder. Mas é preciso vencer
essa imposição, aplicar a feminilidade em cargos de chefia e mostrar que é
possível ser tão ou mais competente sem adotar os padrões convencionais de
administração feito pelos homens e para os homens. Eu não acho também que deve
ser lançada uma competição entre homens e mulheres no trabalho. Eu acho sim que
eles devem andar juntos, a diversidade é fundamental.
Eu leio sobre o assunto e vejo alguns dados
impressionantes, como: mulheres e homens no mesmo cargo, o homem ganha mais.
Homens conseguem um cargo ou uma posição pela capacidade deles e a mulher pelo
que ela já realizou. Essas duas coisas que eu falei que pra mim são muito
emblemáticas, mostram um pouco desse preconceito que ainda existe. Mas ao mesmo
tempo eu acho que as mulheres também devem que se impor enquanto profissionais
e tentar sempre uma condição de igualdade. Eu tinha tudo pra sofrer muito
preconceito, porque sou mulher e relativamente nova, tenho 25 anos, mas eu
sempre tive muito respeito dos clientes, dos funcionários e dos meus sócios. Eu
digo inclusive que tenho o privilégio de ter dois sócios homens, porque a gente
se complementa. Deixando qualquer preconceito de lado, a gente não pode negar
que os gêneros são diferentes, têm suas peculidaridades e eu acho que quando
isso se soma em um ambiente de trabalho é muito positivo.
Pra fechar eu queria falar de algumas
coisas que pra mim são essenciais quando falamos em empreender, agora
esquecendo qualquer diferença de gênero:
·
Circular, conhecer, gente,
fazer contato, ser como uma antena giratória captando sinais de todo canto. As
melhores lições que eu apendi não vieram do ensino escolar, da universidade,
tampouco dos livros. Muito veio da descoberta do dia a dia, das experiências
não agendadas. E isso pra publicidade é muito importante. O processo criativo
está atrelado a tudo o que vivenciamos, dos saberes que vamos armazenando em cada
experiência.
·
Procurar ser criativo,
independente de qual seja o seu negócio. Não ficar bitolado só naquilo, ler e
procurar saber sobre coisas diferentes, se interessar por outras coisas, pois
assim a gente vai montando repertório e um dia usamos tudo isso de alguma
forma. Se tiver condições, viajar, sair do nosso ambiente de sempre, fazer
coisas diferentes, abrir a cabeça, conhecer coisas novas. Isso estimula a nossa
criatividade.
·
Ter disciplina. Eu conheço gente ótima no que faz,
talentosíssima, com ideias maravilhosas, mas que não tem disciplina, não
respeita regras, prazos e limites. Muitos dos talentosos acham que por conta de
suas qualidades estão dispensados de seguir disciplina. Eu discordo totalmente
disso. Eu acredito mesmo que o sucesso depende de disciplina, dedicação e claro
algum talento.
·
Contrate pessoas tão boas ou
melhores que você e você terá uma empresa gigante. Tem muita gente bem melhor
do que eu em várias coisas.
·
Ter foco, ser insistente,
resiliente, perseverante. É difícil empreender, mas um bom empreendedor não
pode desistir fácil. A cada duas histórias de sucesso que a gente ouvi pode ter
certeza de que existem umas 1000 de insucesso, empresas que abrem e fecham
todos os dias. E algumas sem dúvida fecham por uma falta de insistência.
·
Ser empresário é estar
preparado pra ter uma vida instável. Ter medo de correr riscos, mas dosar um
pouco este medo. Eu uma vez ouvi uma coisa interessante: quem tem medo, tem
responsabilidade. E é verdade, o medo protege muito a gente em várias situações,
mas o empreendedor tem que ter ao mesmo tempo um medo dosado, uma
responsabilidade e um cálculo do risco, tudo ao mesmo tempo.
·
Pra finalizar, o mais
importante: empreender na área que você gosta e não no que está na moda ou no
que dizem que mais dá dinheiro. Se você empreende na área em que tem
afinidades, a chance de dar certo aumenta. Eu nunca acreditei na equação “sou
infeliz, mas ganho dinheiro”, eu quero é ser feliz! Até porque eu acho que só
as pessoas felizes conseguem produzir bem, conseguem fazer grandes coisas. Tem
gente que investe em empregos frustrados e sacrificam a coisa mais importante
que elas tem que é a própria felicidade. Pra mim ser feliz no trabalho é tão
importante quanto ser feliz em qualquer outra coisa na nossa vida.
Com 25 anos de idade eu ainda tenho mais a aprender do que a dizer, mas eu espero ter
conseguido passar algo interessante e valioso.
Obrigada!
Sem comentários:
Enviar um comentário