terça-feira, 3 de dezembro de 2013


Entrevista a Ana del Rio

 

 

 1.A construção das caravelas, para serem apresentadas no serão cultural, realizado na Escola Básica e Secundária Domingos Capela, sobre o tema "Camões" e a sua obra emblemática «Os Lusíadas», obedeceu a um projeto com base numa memória descritiva. Poderemos saber se algumas das suas obras aqui apresentadas obedeceram a esta dinâmica ou nasceram de forma espontânea?

 

Quando se trata de uma exposição individual, costumo trabalhar com base num projeto. Assim,  penso no tema, nas telas, no tamanho das mesmas, no local onde irá integrar-se, o tipo de exposição, no título etc..,

No caso concreto da Bienal de Mulheres, tratou-se unicamente de dois quadros e trabalhei duma maneira mais livre e espontânea. Gosto muito de criar, de deixar fluir a imaginação, mas é óbvio que o nosso cérebro comanda de maneira inconsciente todos os nossos atos…

 

2. O que a inspira ou inspirou no país onde esteve como emigrante (pessoas, locais)?

O ambiente cultural é um fator muito importante na obra de qualquer artista, a realidade, as gentes, as cores, os cheiros fazem parte integrante da obra artística.

 

3. Até que ponto poderíamos dizer que há, no país onde esteve/está, uma arte no feminino em oposição a uma arte no masculino? Ou há uma relação entre género e expressão artística?

 “A Arte” é universal, neutra, se bem que de maneira geral, a sensibilidade feminina deixa-se transparecer de maneira notável  através da obra. De um modo geral, os traços femininos são mais sensuais, mais sonhadores, mais delicadas talvez, como os da pintora americana Georgia O´keeff sensual por excelência, o a nossa fantástica Vieira da Silva. Há mulheres artistas, a internacional Paula Rego ou a mexicana Frida Khalo donde, apesar da dureza das feições e os membros musculados das raparigas presentes nas suas telas, mulheres fortes sedutoras, violentas e rudes, a figura feminina assume claramente a liderança na ação.

 

4. Para uma artista plástica em comunidade estrangeira, como absorveu a nova cultura do país onde vive e como é que a interligou com a sua cultura de origem?

 

A minha cultura de origem é espanhola, eu vivi e estudei seis anos em França e de Paris vim para Portugal. Espanha e Portugal são bastante semelhantes a nível cultural.

 

5. Quais as barreiras que encontrou enquanto mulher- preconceito e enquanto criativa - liberdade?

 

São notórias as diferenças que são impostas às mulheres em todos os campos, nós somos, segundo Simone de Beauvoir, “le deuxième sexe”, embora este livro fosse escrito nos anos sessenta, continua bastante atual, ainda há muita coisa para mudar.

 

6. Pensando no percurso, será que tería maior êxito ou maiores oportunidades se estivesse no país de origem?

Não sei muito bem responder à esta pergunta, pessoalmente, encontrou-me fora do meu pais desde que tinha dezanove anos, talvez sim, talvez não

 

7. O que ganharam, neste particular domínio, as mulheres migrantes na sua itinerância por vários universos culturais?

Aqui a minha resposta é contundente - “interculturalismo”, um tema muito atual e pertinente, enriquecimento mútuo.

 

 8. Que importância acha que devemos atribuir às Artes como formas de

intervenção e afirmação cívica e humana?

Devemos ter em mente que a propiá definição da arte é por si mesmo um retrato crítico ou menos variável da realidade, a arte é uma linguagem.

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