segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CRISTELA DE OLIVEIRA entrevistada por Ana Grácia Pinto



Uma luso descendente a caminho do Parlamento francês
Aos 33 anos, Cristela de Oliveira concorre a um lugar no Parlamento francês pela circunscrição de Corbeil- Essonnes, nas listas da UMP (União para um Movimento Popular). Vereadora e primeira-adjunta do presidente da Câmara de Corbeile e ainda Conselheira Nacional da UMP, Cristela diz que a política está-lhe no sangue. “É algo que não posso explicar, é uma paixão, é uma vontade de fazer valer os meus valores e convicções. Nasci assim”, confessou numa entrevista a O Emigrante/Mundo Português.
CRISTELA DE OLIVEIRA é candidata às Legislativas em junho Cristela de Oliveira nasceu em
França, filha de portugueses oriundos de Pedro de Alva, concelho de Penacova.
Licenciou-se em Comunicação e Políticas Públicas e candidatou-se pela primeira vez em 2007.
Mas a política está presente “desde pequena”, muito por conta da influência do pai. “Em casa, o meu pai sempre me falou da história de Portugal, explicava-me o que se ia passando, as questões económicas e o que o levou a ir para França: viver num país em democracia e com liberdade”, recordou.
Foram os pais que lhe transmitiram os valores que defende também na vida política: o dever de trabalhar para alcançar algo, “não depender de apoios toda a vida”, ser solidária.
Cristela de Oliveira começou a atividade política em 2000, aos 19 anos, como militante da UMP. Em 2005, depois de concluir os estudos, integrou o gabinete da ministra da Saúde e em 2007, o presidente da Câmara de Corbeil- Essonnes, Serge Dassault, convidou- a a integrar as listas do partido às Legislativas.
Aceitou o desafio e teve como adversário Manuel Valls, um político conhecido que foi encarregado da campanha de François Hollande, o candidato do Partido Socialista e vencedor das eleições presidenciais, em abril. “Em 2007, ninguém tinha coragem de se candidatar contra um peso
político como ele”, recorda Cristela, que não conseguiu a eleição para o parlamento francês, mas acabou por ser uma surpresa, ao obter 41 por cento dos votos. Começou aí a sua carreira autárquica. Em 2008, integrou a lista de Serge Dassault às eleições em Corbeil- Essonnes. Venceu e Cristela é desde então vereadora, com o pelouro da Habitação, e primeira-adjunta do presidente. Agora, regressa às ruas na campanha desta segunda candidatura ao Parlamento francês.
“Lutei durante cinco anos para ter credibilidade e legitimidade”, destaca Cristela que volta a ter como adversário. Manuel Valls, e considera que esta é a sua oportunidade de “revanche”,
algo que “sempre quis”. Cristela aponta como um dos seus objetivos, ajudar a bloquear o partido
de François Hollande no Parlamento.
“O Partido Socialista já tem a maioria no Senado, é impossível que apenas um partido em França posse gerir os destinos do país”, explica. E recorda que fez “sempre uma política social”, o que pode fazer a diferença como deputada. A campanha de rua é o que mais lhe agrada fazer, por
gostar “muito” de estar com as pessoas, uma característica que, afirma, traz da sua educação portuguesa. Vai “fazer de tudo” para que os luso descendentes votem nestas eleições, a 10 e 17 de junho e espera que também os portugueses com nacionalidade francesa exerçam o seu direito de voto.
Sublinha que está na vida política por convicção, e explica porque escolheu este percurso. “Para mim, é uma paixão, é uma vontade de fazer valer os meus valores e convicções. Nasci assim.

ANA BAILÃO entrevistada por ANA GRÁCIA PINTO



Uma voz portuguesa na Câmara de Toronto
Ana Bailão nasceu em Alenquer e foi para o Canadá com 15 anos e lembra-se de estar sempre envolvida com organizações da comunidade portuguesa de Toronto. Trabalhou no gabinete do vereador lusocanadiano Mário Silva entre 1998 e 2003 e sete anos depois foi ela quem conquistou nas urnas o lugar de vereadora, fazendo regressar uma voz portuguesa à vereação da Câmara de Toronto ANA BAILÃO é vereadora e preside a Comissão de Habitação Social
A 25 de Outubro de 2010, a Câmara de Toronto voltou a ter um membro oriundo da comunidade portuguesa, sete anos depois da saída do vereador Mário Silva. Ana Bailão elegeu-se com 43,76% dos votos, pelo 18º círculo do bairro de Davenport, que conta com uma grande comunidade portuguesa.
“Achei que era importante que a nossa comunidade estivesse envolvida politicamente e que tivesse uma voz no governo que nos acolheu. Acreditei que poderia fazer algo, dar o meu contributo”, explicou por telefone a O Emigrante/Mundo Português. Ana Bailão representa uma área de Toronto
com 50 mil habitantes. Afirma que conhece bem a realidade das maiores comunidades étnicas
da zona, mas que neste momento, aquela é uma área em transição, que se está a desenvolver com a chegada de jovens trabalhadores.
Eleita presidente da Comissão de Habitação Social e vice-presidente da Comissão de Planeamento Urbano, a vereadora luso canadiana não tem mãos a medir e não lhe faltam projetos em duas áreas que têm um grande problema: a Câmara de Toronto é “o maior senhorio” do Canadá, como revelou.
“Temos 164 mil pessoas a viver em habitações sociais, temos 55 mil apartamentos e dois mil prédios e um atraso nas reparações orçadas em 750 milhões de dólares”, explica a vereadora, que já criou um grupo de trabalho que até setembro vai apresentar um projeto para resolver esta questão.
Uma parte da solução da qualidade de vida dos moradores poderá passar pela criação de parcerias com o setor privado e organizações não lucrativas, mas a comissão que integra está já a fazer uma revisão do Plano de Ordenamento do Território.
Ana Bailão acredita que a sua eleição ajudou a tornar a comunidade portuguesa mais visível junto das autoridades políticas e dos media canadianos. “Temos outro tipo de voz e outros contatos”, acredita a vereadora, defendendo porém que essa mesma comunidade poderia ser mais visível. “Já vai participando mais, mas temos que estar sempre junto dela e incentivar a sua participação cívica. Gostaria de a ver mais participativa a nível comunitário, nas organizações da cidade”, explicou
a este jornal. A vereadora defende que os portugueses de Toronto deveriam dar-se a conhecer à sociedade “como uma comunidade luso-canadiana. E gostaria de ver mais políticos de ascendência
portuguesa no Canadá.
“Tínhamos muitos que não foram reeleitos, mas espero que nas próximas eleições consigamos eleger mais políticos luso canadianos e que tenhamos mais gente a participar na vida política”,
defende. “Temos (a comunidade portuguesa) que ser mais visíveis nos mais variados setores de atividade”, alerta a vereadora. Sobre o seu futuro, diz que deverá recandidatar-se a novo mandato de quatro anos de vereação, porque há “muito mais coisas que gostaria de desenvolver”.
“Há um grande défice de infra- -estruturas em termos de transportes públicos, é uma área que gostaria de ver melhorada”, revela. Para tal espera voltar a contar com o apoio da comunidade lusa que em 2010 “saiu à rua” com ela e a apoiou “muito” durante a campanha. “Senti que queriam voltar a ter uma voz portuguesa

ALEXANDRA MENDES entrevistada por Ana G Pinto


No dia 3 deste mês, Alexandra Mendes foi eleita presidente do Partido Liberal do Quebeque (PLQ), a ala do Partido Liberal federal naquela província do Canadá. É mais um passo na sua carreira política, já que entre 2008 e 2011 a luso-canadiana foi deputada federal no Parlamento canadiano pelo mesmo partido, tendo representado o círculo eleitoral de Brossard-La Prarie, margem sul de Montreal. O mandato à frente do PLQ termina em 2014, mas Alexandra Mendes já traçou o objetivo seguinte: concorrer às eleições para deputada federal em 2015, como revelou a este jornal.
Luso canadiana foi ainda deputada federal no Canadá entre 2008 e 2011 Alexandra Mendes preside o Partido Liberal no Quebeque
Nascida em Lisboa, mas a viver no Canadá desde os 15 anos, Alexandra Mendes recorda
que o percurso que a levou a avançar para uma carreira política “foi natural”, mas reforçado
pelo resultado das eleições federais em 2006. “O deputado para quem eu trabalhava, Jacques
Saada, perdeu as eleições e decidiu que não se voltaria a candidatar. No final desse ano, forças do partido convidaram-me a candidatar-me às eleições federais seguintes, que não sabíamos como iriam correr. Foi muito naturalmente que decidi candidatar-me, sendo eleita em
2008”, lembrou numa entrevista por telefone a este jornal.
Foi o contato individual com o seu eleitorado que mais a fascinou durante os quatro anos como deputada federal. “Termos o sistema parlamentar britânico em que os deputados são únicos pelo círculo eleitoral, têm escritórios no seu condado, e somos nós que recebemos os contribuintes que vêm apresentar-nos as questões. Isso é para mim o mais fascinante desta função: o encontro, no dia-a-dia, com os cidadãos, o tentar resolver os seus problemas com o Governo federal”, sublinhou.
Para além disso, diz que se «apaixonou» pela vida parlamentar e a possibilidade de “criar algo novo”. “Numa situação de Governo minoritário, como foi o que aconteceu no meu mandato, de 2008 a 2011, foi muito importante estar a contribuir para que a legislação fosse o reflexo eficaz de vários pontos de vista e não apenas o do Governo, que é o que se está a passar agora com um Governo maioritário”, acrescentou.
Em janeiro deste ano, quando concorreu à presidência nacional do Partido Liberal, Alexandra Mendes disse fazê- -lo com a intenção de participar ativamente na reconstrução do PL, para que voltasse a ser uma força política viva no Canadá.
Perdeu essa eleição, mas manteve o mesmo objetivo, quando avançou com a candidatura para a presidência do partido no Quebeque, a província que mais peso terá na reconstrução do PL.
“Esta é a província que em termos demográficos e de peso eleitoral, mais poderá contribuir
para a redinamização do partido. O Quebeque foi sempre, desde a fundação do Canadá, a província «rebelde» da Federação. Por ser francófona, por ser muito progressista a nível social e ter contribuído imenso para que o Canadá definisse uma rede de apoio social e um conjunto de
programas exemplares”, explicou a este jornal.
Nas próximas eleições federais, o Quebeque terá 78 circunscrições eleitorais, contra as atuais 75 (há 308 circunscrições nas dez províncias do Canadá), o que dá àquela província “um peso eleitoral muito forte”, sublinha Alexandra Mendes. “Vai ser a partir do Quebeque que o Partido Liberal poderá, ou não, reconquistar o carinho, a apreciação e o diálogo com os canadianos”, vaticina.
Do total de 308 deputados que compõem o Parlamento federal do Canadá, apenas 34 são do Partido Liberal, uma realidade que a presidente daquela força partidária no Quebeque quer ajudar a mudar. “O desafio de passar de 34 para mais de 100 deputados - o necessário para formar Governo - é obviamente muito grande”, assume Alexandra Mendes, que já delineou as estratégias a seguir pelo seu partido no Quebeque. “É urgente que as nossas associações de circunscrição se reativem, precisamos de uma estrutura eleitoral que funcione e esse é o meu primeiro desafio. O segundo será
contribuir para a elaboração de uma plataforma eleitoral que corresponda às expectativas dos
quebequares”, elege. Sobre a participação política da comunidade portuguesa no Canadá, lamenta que esteja ainda “muito longe do ideal”.
“Uma das visões que partilho com o atual embaixador de Portugal no Canadá é uma ausência
da comunidade portuguesa nos diferentes níveis de governação.
Há alguma presença, mas para uma comunidade do tamanho da nossa e com o tempo de integração
que já tem, havia a expectativa de maior participação e de mais visibilidade”, lamenta.
O mandato à frente do partido termina em 2014, e a luso-canadiana já traçou os objetivos seguintes: concorrer às eleições para deputada federal, em 2015. “É a melhor garantia de que me vou dedicar com muita garra ao trabalho que atualmente tenho pela frente: a vontade de ganhar as próximas eleições. E para isso, é preciso que o partido esteja fortalecido e unido”, vincou.

Autarca durante 11 anos concorre agora às Legislativas de França Alexandra Custódio é candidata a deputada para a Assembleia Nacional francesa
Após sete anos como conselheira municipal na Câmara de Saint-Étienne, a portuguesa Alexandra Custódio aceitou abraçar um desafio maior: a Assembleia Nacional Francesa. E pela primeira vez, é candidata às eleições legislativas em França, pela circunscrição de Saint-Étienne (perto de Lyon) nas listas da UMP, o partido do Presidente Nicolas Sarkozy.
A entrada na vida política foi para Alexandra Custódio, uma “consequência” do seu trabalho
associativo. Era vice-presidente da Associação Cultural Portuguesa de Saint-Étienne e em 2001 o presidente da Câmara convidou-a a concorrer às eleições autárquicas. Aceitou, por achar que “era um sinal de reconhecimento em relação à nossa comunidade”, como afirmou a O Emigrante/Mundo Português. O seu partido venceu as eleições e Alexandra foi durante sete anos, conselheira municipal. Trabalhou no processo de geminação da cidade de Saint- -Étienne com Oeiras e dinamizou vários projetos de intercâmbio entre as duas cidades.
Natural de Tavira, Alexandra Custódio tinha seis anos quando chegou a França com os irmãos e com a mãe, ao encontro do pai. Esteve sempre ligada ao associativismo português, por ter crescido a ver o pai trabalhar no meio associativo. A nível profissional, é diretora financeira numa empresa
em Saint-Étienne e tem ainda um gabinete de contabilidade e gestão.
É também presidente do Portugal Business Club de La Loir e diretora do Business Club de Lyon e defende a importância dos empresários portugueses radicados nas comunidades que afirma serem
“uma mais valia que Portugal não sabe aproveitar”. “Eles são uma plataforma natural para a
entrada dos empresários portugueses no mercado francês e ainda para o investimento dos
empresários franceses em Portugal”, afirmou a este jornal.
Agora, nesta nova etapa da sua vida política, Alexandra Custódio espera contar também
com os votos dos luso-decendentes e dos portugueses com nacionalidade francesa, que podem
votar nas Legislativas deste ano, apesar de ser “muito difícil mobilizar os compatriotas”.
“Os autarcas franceses não sabem aproveitar a força da comunidade portuguesa, mas também muito por conta da própria comunidade, que não se impõe politicamente”, alerta,
defendendo que o universo cultural e associativo português poderia dinamizar mais a
participação política lusa.
Mostra-se confiante na sua eleição “já à primeira volta”, a 10 de junho (a segunda volta acontece no dia 17), mas diz que o resultado das eleições presidenciais - que decorrem a 22 de abril e 6 de maio - terão muita influência sobre legislativas.
Se for eleita, afirma que será “uma deputada de França”, mas sabe que ira passar “uma imagem de sucesso e relevo da comunidade portuguesa”.
“Não serei deputada de uma comunidade e sim do meu círculo eleitoral, mas levarei comigo as mais-valias de minha cultura portuguesa”.

18 15 de JUNHO DE 2012
LUSO ELEITOS
A intervenção de portugueses e luso descendentes na vida política além-fronteiras, tem vindo a aumentar e a adquirir uma importância cada vez mais relevante.
Nos dias 24 e 25 de Junho a sociedade portuguesa vai poder conhecê-los no I Encontro a realizar em Cascais, um evento organizado pelo jornal O Emigrante/
Mundo Português com o apoio da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. Até lá, todas as semanas, nesta página, damos a conhecer eleitos
de origem portuguesa que podem ser um importante elo de união entre Portugal e os países onde residem e exercem os seus cargos políticos.
Neta de emigrantes oriundos da ilha de S. Miguel, Açores, Maria Teresa Paiva Weed foi eleita pela primeira vez para o Senado de Rhode Island em 1992. Em 2009 entrou para a história política de Rhode Island ao ser a primeira mulher a presidir ao Senado local. Já em 2004 tinha feito história ao ser a primeira mulher a liderar a maioria naquele organismo legislativo… Ana Grácio Pinto
MARIA TERESA PAIVA WEED é senadora nos Estados Unidos Luso descendente é a primeira mulher a presidir o Senado de Rhode Island Maria Teresa Paiva Weed integra há 20 anos o Senado de uma dos estados norte-americanos com maior presença de portugueses: Rhode Island. A
democrata representa o Distrito 13, que compreende as cidades de Newport e Jamestown,
a parte mais turística do estado.
A luso descendente foi eleita pelos seus pares, em Janeiro de 2009, para a função de Presidente do Senado de Rhode Island. Ao fazê-lo, tornou-se na primeira mulher na história de Rhode Island
a ocupar esse cargo, mas já anteriormente tinha feito história: nos cinco anos anteriores,
Teresa Paiva Weed serviu como líder da maioria naquele Senado.
 De 1997 até 2000, serviucomo presidente da Comissão do Poder Judiciário, tendo sido também a primeira mulher eleita para ocupar este cargo.
De 2000 a 2002, atuou como vice-presidente da Subcomissão das Finanças para a segurança pública e o ambiente e entre 2002 e 2004 foi Vice-presidente da Comissão de Finanças. Antes de sua eleição para o Senado, Teresa Paiva Weed foi presidente da Comissão de Habitação em
Newport. É membro do Comité do Partido Democrata da cidade de Newport desde 1988.
Licenciada em Direito, a senadora confessou que entrou na política por acreditar que “poderia fazer a diferença”.
“Adoro todo o que tenha a ver com governação”, recordou em novembro de 2011 a este jornal, à margem de um encontro de políticos de ascendência portuguesa que reuniu cerca de 80 participantes em National Harbor, Estados Unidos.
Sobre a sua ascendência, diz que “a comunidade portuguesa é parte do que sou”.
“A comunidade portuguesa de Newport teve um papel mais importante na formação daquilo que eu sou, do que propriamente na minha eleição para o Senado do estado. Frequentei a escola portuguesa e a paróquia portuguesa em Newport e ainda participo nas celebrações tradicionais
da minha paróquia portuguesa”, sublinhou.
A senadora refere que os portugueses no estado de Rhode Island compõem “uma comunidade vibrante” que na cidade de Newport, “é um pouco mais antiga do que no resto do estado”.
A ligação a essa comunidade levou-a a envolver-se na criação da Portuguese American Scholarship Foundation, que atribui bolsas de estudo a luso americanos, tendo contribuído no lançamento da
base jurídica da instituição. E não esconde o “orgulho” e ter a seu lado no Senado, representantes políticos de origem portuguesa como o senador Daniel da Ponte e o deputado Hélio Mello, “e em
posições de liderança”. “É também um orgulho vê-los atuar junto da comunidade portuguesa, que nos tem dado o seu apoio. É muito importante trabalharmos juntos, porque podemos promover-
-nos uns aos outros e apoiar mais à comunidade como um todo”, sublinhou

domingo, 7 de outubro de 2012

MARY GIGLITTO


A MARIA ANTÓNIA (MARY) ROSA GIGLITTO


Um dia a Mary meteu-se no carro, foi de San Diego a Tijuana no México e ..."morreu".  "Ressuscitou" e quando chegou a casa telefonou e disse-me:
 " ... o menino sabe que hoje, pouco depois de chegar a Tijuana, morri ... e  não foi a primeira vez?"
 Havia qualquer coisa com a Mary que de vez em quando lhe dava para "morrer"... mas nunca se esquecia de "ressuscitar"...
 Tratava-me, brincalhonamente, por menino.  E a graça, a suavidade, a doçura da voz dela?     
(O novo Acordo aceita "brincalhonamente""?
 A Mary verdadeiramente nunca morreu. Um dia ausentou-se mas ficou indelével, como que esculpida, nos corações de uma multidão. De uma multidão de amigos, de Portugal, do México, de Espanha, da América, do mundo! 
 Durante os escassos meses que precederam a sua partida para o infinito, a Mary arrostou de frente com o inimigo que tanto a martirizava, desafiou-o, bateu-se como leoa, mas o inimigo era brutal.
 E quando o insidioso Diabo traiçoeiramente a prostrou, quando se lhe acabaram as formidáveis reservas, quando o sistema fechou e o ocaso deixou a sua tão amada Terra na maior escuridão, a Mary disse  "não posso mais"  e resolveu ir descansar.
 E as vezes que ela me disse ter nascido em Portugal e na América!?
 É que quando a família Rosa partiu da Ilha Açoriana do Pico a caminho da Califórnia, já lá vão mais de setenta  anos    - o seu patriarca alimentando o sonho de triunfar na pesca comercial do atum nas águas abundantes do Pacífico até à distante Samoa -,   a Mary já vinha com eles, protegida contra a intempérie no ventre materno, pelo que a Maria Antónia concebida no Pico resultou na Mary nascida e criada em San Diego, Califórnia, Estados Unidos da América, zip code 92106.
 E então a nossa Mary  - ao contar-me esta primeiríssima história colhida ao seu berço -  extravasava de emoção, de orgulho, até de paixão, que ela era Americana, sim, mas Portuguesa também!!!
E revelava-se-me Luso-Americana tão evidente e tão genuina como a areia de todos os desertos, como a seiva que o pinheiro grita, dorido da incisão, como o milagre das papoilas brancas e encarnadas ondulando em Agosto nos trigais da Lusitânia.
 A Mary Giglitto foi especial!
Para sua família, uma inexpugnável fortaleza!
Para os seus amigos, epítome de lealdade!
 Na sua determinação em fazer, em produzir, em realizar, foi simplesmente infatigável.
Entre gozar a comodidade da sua casa, ou esgrimir, subia resoluta aos estrados onde se travam todos os combates, marcando-os com a sua legenda de brasão, que rezava assim: 'Perder, Talvez, Sem Lutar, Nunca.'
 Durante décadas a Mary chamou a si o encargo de organizar em San Diego o Festival Cabrilho, que ela acabou por transformar numa bem-aventurada assembleia em representação de quatro Nações exprimindo em harmonia o seu apreço por coragem, por bravura.
 A coragem, a bravura daqueles que romperam os mares e encontraram o desconhecido.
 A Mary Giglitto conquistou a maior consideração da Marinha Portuguesa, da Espanhola, da Mexicana e da Norte-Americana. Em termos mais claros e precisos, granjeou a reverência de Portugal, Espanha, México e Estados Unidos.
 Louvores, aplausos e insígnias honoríficas nunca a motivaram. Mas os louvores, aplausos e as insígnias honoríficas chegaram, que ela os merecia.
 Não se esgotou na sua extrema dedicação ao Festival Cabrilho a obra primorosa da nossa Mary.
Só que a Mary  -- que eu tive a felicidade de conhecer como quem conheceu um tesouro -- não quer que eu diga mais.

Edmundo Macedo
Los Angeles, Outubro 2012