domingo, 12 de maio de 2013

Com a Drª Maria Barroso nos "Encontros para a Cidadania"

Entre 2005 e 2009, a Drª Maria Barroso foi a Presidente de Honra dos Encontros para a Cidadania - a Igualdade entre Homens e Mulheres, uma iniciativa inédita, em Portugal - e, ao que julgamos única em países de emigração - destinada a levar às comunidades portuguesas da Diáspora um forte apelo à participação de todos na expansão dos valores de género e geração, na vivência da democracia e na valorização de uma cultura universalista, como é a nossa,


Foi verdadeiramente um "correr mundo"para a Drª Maria Barroso e para um conjunto de personalidades que a acompanhava, que incluia para além de membros do Governo representantes de organizações da "sociedade civil" , unidos e motivados por uma grande causa, como é a de aprofundar a consciência das discriminações que nestes domínios subsistem e que assumem contornos específicos no quadro das migrações, assim promovendo a inclusão dos grupos mais marginalizados da sociedade, através do exercício muito concreto dos seus direitos.

Há muitos anos que admirava a Drª Maria Barroso e que com ela tinha colaborado em outras organizações ou lhe tinha pedido e sempre obtido a sua presença em colóquios ou congressos da Associação de Estudos Mulher Migrante, que tinham por fim a defesa da valorização do papel destas Mulheres, mas nunca tinha partilhado com ela longas viagens através dos oceanos, que em conversa, ouvindo-a, passavam tão rapidamente. Ou o entusiasmo das recepções, logo nas salas do aeroporto, a intensidade do dia a dia feito de debates vivos e memoráveis, de convívio constante em que os temas dos encontros se continuavam nas pausas, nos almoços e jantares, com que que as nossas comunidades gostam de acolher os visitantes... Nunca tinha podido sentir tão de perto a profunda afectividade que desperta a Drª Maria Barroso em todos quantos escutavam as suas palavras brilhantes, na substância e na forma incomparável com as diz, com a marca da convicção e da autenticidade e por isso tão mobilizadoras. E com aquela simplicidade natural, com que se torna uma entre nós, sem que nunca esqueçamos a sua absoluta excepcionalidade

Esses Encontros faziam História, como nós reconhecíamos mesmo já durante o seu decurso, não só porque significavam o pirnicípio da aplicação das políticas da igualdade de género para além das fronteiras de Portugal, na sua inteira dimensão ou espaço humano, mas porque tinham como inspiração, como presença, um expoente da capacidade da Mulher Portuguesa a sua Presidente - para as emigrantes um exemplo vivo, ali a seu lado, tão próxima e solídária e para os muitos convidados do próprio País de acolhimento, uma grande embaixadora de Portugal, da sua forma de estar na vida política e cultural.

O primeiro de seis Encontros foi o da América do Sul, realizado em Buenos Aires, seguindo-se o da Europa, em Estocolmo, os da América do Norte, no leste do Canadá, em Toronto e no ocidente dos EUA, em Berkeley, o da Africa em Joanesburgo e, finalmente, um grande Encontro internacional em Espinho.

Sobre cada um deles se poderia escrever uma longa crónica - tão longa quanto feliz. Aqui fica apenas um breve e objectivo registo de factos, que se espera sejam, assim mesmo, sugestivos, do ambiente vivido, das esperanças despertadas, do impacte que se prolonga até hoje, em novos iniciativas, deixando-nos a convicção de que há um periodo antes e depois destes Encontros, no que respeita à política de Estado para as comunidades, que já não poderá marginalizar a compornente de género.

Encontro da América do Sul - Buenos Aires, 16 e 17 de Novembro de 2005

Biblioteca Nacional, salão Jorge Luís Borges

Organização local da Embaixada de Portugal e da Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina.

Sob a égide do grande escritor argentino, que, por ascedência e por afecto, é também nosso, com a presença sombólica de Maria Kodama, num auditório repleto de ilustres participantes portugueses e argentinos, com jornalistas dos principais media nacionais - imprensa, rádio, RTP - se reiniciou uma caminhada histórica, que tivera o seu começo precisamente 20 anos antes, no 1º Encontro Mundial de Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo, convocado durante o Governo de Mário Soares. O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas António Braga propunha-se, como expressamentamente afirmou, retomar uma questão que tinha sido esquecida pelos governos ao longo de tantos anos.

Aí, em Buenos Aires, capital de um País onde a Mulher já ascendera à presidência da República, partilhando a mesa de honra com António Braga, com o Embaixador Almeida Ribeiro e comigo mesma, a Drª Maria Barroso proferiu a conferência de abertura - dando-nos, com todo o seu saber e inteligência, uma perspectiva diacrónica sobre a luta das mulheres pela plenitude dos direitos de cidadania e convidando-nos a participar na aventura de equacionar e de fazer o seu futuro.

Depois de dois dias intensos de debates, e da aprovação das conclusões que são um notável documento sobre as matérias em análise, a Drª Maria Barroso, como que sintetizando as conclusões, diria: "Considero que foi uma refelexão aprofundada sobre os problemas que dizem respeito às mulheres, e, em particular, às mulheres migrantes. Mulheres e Homens têm de assumir um papel onde ambos os géneros contribuem para a melhoria da sociedade".

Encontro da Europa

Estocolmo, Museu Etnográfico, Março de 2006

Organização local da PYCO, Federação Internacional de Mulheres Lusófonas

Presente ao lado da Drª Maria Barroso e do Embaixador de Portugal, a antiga Ministra, Comissária Europeia e Presidente da Internacional Socialista de Mulheres, Anita Gradin, que foi uma próxima e importante colaboradora de Olaf Palme e a grande impulsionadora da "praxis" da paridade. Entre ambas, como todas entre nós, na organização dos trabalhos, e entre nós e o Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Jorge Lacão, representando o Governo, havia uma evidente sintonia de posições. E, tal como na Argentina, foi forte a participação de personalidades e de ONG's do país que nos acolhia, a permitir a troca de experiências e ensinamentos. E a imprensa nacional e regional marcou, de novo, presença e deu ampla notícia das propostas deste novo congresso.

"É muito importante que os homens estejam presentes, não queremos uma sociedade de mulheres, mas antes de homens e mulheres conscientes dos seus direitos e deveres", salientou a Dr.ª Maria Barroso. É este ênfase na ideia da cidadania feminina para o serviço da comunidade, na linha de pensamento das feministas da 1ª República, que nos leva a vê-la, nos ideais, como na acção concreta, pela liberdade e democracia, como uma autêntica herdeira e continuadora no século XXI, dessa pleide de notáveis Portuguesas do começo de novecentos.

Encontro da América do Norte

Toronto , Março de 2007 "Conferência para a Participação Cívica e Política"

Auditório do "Metro Hall"

Organização Local: Consulado Geral de Portugal, e um elevado número de ONG´s luso-canadianas e canadianas. Patrocínio da Região Autónoma dos Açores

De início a fim, uma constante foi o destaque ao trabalho da Cônsul -Geral, Maria Amélia Paiva, pela forma como soube reunir tantos apoios associativos, a presença de universitários e investigadores, deputadas canadianas, e activistas dos direitos humanos, mulheres e homens, assim como uma cobertura excepcional de todos os media em língua portuguesa de Toronto (que são muitos e muito bons), que, de uma forma unânime, saudaram aquela realização e deram a dimensão do seu relevo, contribuindo para que as temáticas desenvolvidas e o essencial de uma mensagem clara e forte chegasse à comunidade inteira.

O Secretário de Estado Jorge Lacão, que, como é seu hábito, para além dos momentos solenes de abertura e encerramento, participou activamente nos trabalhos de todos os paineis, divulgou aí o Plano Nacional para a Igualdade e a extensão da Lei da Paridade às eleições do Conselho das Comunidades Portuguesas (que viriam a ser as primeiras a que as novas regras se aplicaram). O Embaixador Silveira de Carvalho e o Dr Álamo de Oliveira em representação dos Açores foram também ilustres intervenientes.

A Drª Maria Barroso, partilhou do entusiasmo geral, realçou a abertura de horizontes ("A Mulher de hoje pode governar uma Nação"), mas não deixou também de realçar o pano de fundo de discriminações que subsistem: "temos muito que lutar para que a igualdade entre homens e mulheres seja uma realidade, mas tenho a certeza de que um dia venceremos. Já não será para mim, mas para aquelas que nos darão continuidade".

Para além da Conferência, houve ainda temo para corresponder a convites da comunidade, visitas ao Museu dos Pioneiros e à Associação de Apoio a Deficientes Portugueses, onde a Drº Maria Barroso e eu recebemos o título de Presidentes de Honra. Recém inaugurada esta grandiosa obra de solidariedade, tornou-se já um "ex-libris" da nossa Comunidade.

Na despedida de Toronto fica a frase de Jorge Lacão, que a imprensa reproduziu: "Viemos ver coisas extraordinárias."

E um dos articulistas da imprensa escrevia: Um encontro para a cidadania tem que se lhe diga. É bem capaz de cavar alicerces que nem sempre foram abertos para todos (...) de trazer à discussão temas do maior interesse, que levam a harmonia a uma sociedade, por vezes pouco lógica e racional".

Fora de Toronto, numa deslocação breve a Drª Maria Barroso, aceitou irMontreal para um outro encontro, a celebrar o Dia Internacinal da Mulher - uma iniciativa que o jornal Luso Presse promove todos os anos. Com a presença de Consul- Geral dr Carlos Oliveira e da Ministra da Imigração do Québec, de várias deputadas e de uma vereadora portuguesa, viveram-se momentos irrepetíveis de emoção até às lágrimas, com a Drª Maria Barroso a receber, no fim de palavras sentidas que a todos comoveram, uma infindável ovação.





Encontro para a Cidadania em Àfrica

Joanesburgo, Março de 2008

Sala de Conferência do "Lusito", Associação em favor de Crianças Deficientes

Organização Local : Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul. Patrocínio da Região Autónoma da Madeira e do Consulado Geral de Portugal

Nas magníficas instalações do "Lusito", para uma audiência onde prodominavam as mulheres, mas onde estavam presentes o Embaixador Paulo Barbosa, o Cônsul-Geral Manuel Gomes Samuel e os dirigentes das principais instituições comunidade, a Drª Maria Barroso falou da situação das mulheres através dos tempos e no nosso tempo e lembrou-nos que "apesar da História ter sido tecida por Mulheres e Homens só a estes é dada relevância" - e esta é justamente uma das injustiças a que o exercício da cidadania no feminino procura por fim.

A oradora focou muito em especial a participação das Portuguesas na luta pela democracia e a importância que isso e outros factores, como a grande guerra mundial e a guerra colonial, tiveram na ascensão das mulheres e abordou temáticas em que as mulheres podem fazer a diferença - como a denúncia da violência nos media, do racismo e da xenofobia, da indiferença perante tantos atropelos dos direitos humanos, a exclusão social, os maus tratos a crinças, a violência doméstica.

O Encontro ganhou uma dinâmica original, com a marca do modo de funcionamento da "Liga da Mulher", com a organização de quatro "workshops"

sobre a situação das mulheres portuguesas na Àfrica do Sul e o seu diálogo e colaboração com as naturais do País, sobre os diferentes processos de afirmação das Portuguesas na Diáspora e no nosso País, sobre os principais domínios em que se reconhece persistirem discriminações e sobre o ensino do português a da nossa cultura na África austral.

Na sessão de encerramento, o SECP António Braga manifestou o seu inteiro apoio ao movimento de mudança que ali se afirmara e anunciou a realização em 2009 de um Encontro Mundial de Mulheres em Portugal.

A missão na RAS, como, aliás, as anteriores, traduziu-se na discussão de ideias e no traçar de metas para trabalho futuro, mas também na criação de laços de amizade que facilitarão a cooperação para a sua prossecução concreta.

E houve tempo para a emoção, para a Drª Maria Barroso lembrar que ali estivera a acompanhar o seu filho, salvo pelo empenho e qualidade da medicina sul-africana, depois de um acidente quase fatal. Ou para recordar um prévio encontro com o Dr Paulo Barbosa, então Embaixador em Israel, durante uma visita presidencial, que coincidiu com a trágica morte de Itzak Rabin, um grande amigo do Presidente Mário Soares e da Drª Maria Barroso. Pedaços da história à qual a Drª Maria barroso pertence para sempre.





Encontro para a Cidadania na América do Norte EUA

Berkeley, Universidade da Califórnia

Maude Fife Room, Wheeler Hall

25 de Setembro de 2008



Organização Local: Profª Deolinda Adão, (Universidade de Berkeley) e CÕnsul Geral de Portugal, Dr António Alves de Carvalho



A nível da coordenação nacional, foi não a Associação de estudo Mulher Migrante, mas directamente a Fundação Pro Dignitate que assumiu o papel operacional de coordenação, a cargo do Dr António Pacheco, actualmente o secretário Geral da "Fundação"



A caminho para a costa oeste, uma breve estada em Elizabeth, NJ, a convite de Monsenhor João Antão, e da paróqui de Nossa Senhora de Fátima, em cujos salões se realizou um primeiro encontro de formação de jornalistas lusófonos, centrado nas temáticas da paz e da Igualdade..

Com Monsenhor Antão, um verdadeiro líder espiritual da comunidade, de quem a Drª Maria Barroso diria tratarr-se de "uma personalidade de excepção", visitamos a escola que tem o seu nome. (uma honra num país onde é raríssimo atribuir a instituições públicas o nome de pessoas vivas!). Um Liceu muito prestigiado, com vocação para as Artes e a música, onde jovens americanos cantaram o nosso hino naciona na perfeição. Difícil foi conter as lágrimas...

Berkeley recebeu o Encontro sobre "O papel da Mulher no futuro do asssociativismo e movimentos cívicos da Califórnia", pondo o enfoque nas questões do associativismo feminino, (com uma brilhante introdução da grande especialista que é a Profª Adão), da colaboração integeracional e do papel dos media na formação para a igualdade, No encerramento, o SECP António Braga e a Presidente Maria Barroso deixaram a certeza de que as soluções ali proposta não seriam esquecidas.

Ao abordar, tanto em Berkeley como em Elizabeth, o tema da interculturalidade entre comunidades migrantes de diferentes paises que se expressam em Português, Maria Barroso, mostrava acreditar (e todos nisso a acompanhaáamos) que, também neste domínio, o entendimento entre as mulheres migrantes dos vários quadrantes da lusofonia pode fazer a diferença (1).

Seguiu-se um encontro mais restrito no departamento de Estudos Europeus, com bolseiros portugueses que naquela tão prestigiada universidade preparam o seu doutoramento em diversos domínios.

Antes do regresso a Elizabeth, e, depois, a Portugal uma visita à sede da campanha de Barck Obama.

Em Elizabeth, Monsenhor João preparava-nos uma bela surpresa, uma homenagem merecida à drª Maria Barroso, no final de um longo périplo por tantas comunidades: naqueles poucos dias da nossa ausência na Califórnia,o talentoso artista Roger Gonzalez (a quem se devem as obras primas de arte sacra da Igreja de Nossa Senhorade Fátima) pintara um esplêndido qetrato da Drª maria Barroso, no mural da ala onde estivera hospedada!

Ao findar um périplo por tantas comunidades, reavivando a importância histórica do "congressismo" na luta pela igualdade das mulheres, readaptada aos tempos de hoje, a Presidente dos Encontros deixava assim simbolicamente o seu retrato num mural na América do Norte, tal como deixara, por todo o lado, o retrato de corpo inteiro de uma cidadã, capaz de mobilizar pela palavra e pelo exemplo para a mudança em sociedades cada ves mais abertas a todos os seres humanos, mais livres e democráticas.
Em Espinho, em Março de 2009, num último Encontro internacional, com a presença das responsáveis pela organização de todos os que ocorreram na Diáspora, e a presidência da Drª Maria Barroso um ciclo se encerrou, na esperança de que o projecto de mobilização para a cidadania iria prosseguir na rede de solidariedades que se criou, e em gestos concretos de vivência da cidadania que as mulheres aprendem umas com as outras. Esperança bem fundada, como hoje podemos já dizer.