quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ester Sousa e Sá comunicação



Poder-se-à dizer que com os Descobrimentos, há mais de 500 anos, começou para nós Portugueses, a imigração.


É sabido que existem portugueses espalhados por todo o mundo.

Somos um povo que se adapta e integra facilmente na vida activa das sociedades dos países que nos acolhem.

Contudo a imigração de hoje, é bem diferente da imigração de há 60 anos atrás. Quando meu pai emigrou para Moçambique em 1948, a viagem de barco durava aproximadamente um mês. Uma carta levava ainda mais tempo a chegar às mãos do destinatário. Dado ao grande desenvolvimento dos últimos 50 anos, no avanço da ciência nomeadamente no campo da medicina, novas tecnologias e transportes, as dificuldades de outrora foram até um certo ponto minimizadas. Hoje nosso povo imigrante é constituído maioritariamente por pessoas com um nível de instrução superior que lhe facilita a sua integração e adaptação nos países para onde imigram.

O papel da mulher Portuguesa na imigração ao longo dos tempos tem sido relevante. Nossas mães e avós durante muitos anos ocuparam um lugar preponderante no lar, contribuindo para o aconchego, bem estar e união da família, muitas vezes em sacrifício de seus próprios talentos. As filhas destas porém, através da educação e conhecimento adquiridos, têm um papel fora do âmbito do lar, mais participativo e activo nas sociedades em que estão inseridas. Porém, apesar da sua emancipação, tem sido um caminho lento e difícil de percorrer e ainda hoje, a mulher em geral e muito particularmente a mulher Portuguesa luta por igualdade de direitos e a aceitação da sua participação activa na sociedade Portuguesa.

Portugal tem um passado histórico valiosíssimo. Somos um País de poetas e artistas e, nenhum país jamais deveria ignorar os seus artistas. Na panorâmica global, a cultura é um veículo para o progresso e a afirmação de um povo e ignorar esse facto, é como sofrer de uma miopia avançada.

Cabe-nos a nós mulheres Portuguesas da diáspora de hoje, através dos nossos talentos, trabalharmos afincadamente para nos afirmarmos como mulheres activas desta sociedade em que estamos inseridas, facilitando assim a caminhada daquelas que depois de nós nos seguirão.

A nossa união e partilha no campo das artes é a meu ver a ponte necessária para derrubar as barreiras que persistem e impedem o avanço da mulher Portuguesa. A minha obra muito simples, intitulada; De Lisboa com Amor, From Lisbon with Love, nasceu deste espirito de boa vontade que me arde dentro do peito. Sinto que existe uma necessidade latente de darmos as mãos, de fazermos a ponte entre norte e sul, entre as que aqui vivem e tantas outras que vivem fora do país. Só actuando apaixonadamente como um colectivo teremos a força para fazer a diferença.

No passado dia 12 de Outubro, foi o lançamento do meu último livro; Correndo Atrás de Um Sonho, que é uma tradução minha do original escrito em Inglês; Chasing After a Dream que publiquei em Novembro de 2011.

Em 2012 lancei o primeiro livro bilingue intitulado; O Aventureiro Ganso-Patola do Cabo Africano/ The Adventuruos African Cape Gannet. Este é um projecto concebido por mim e é uma trilogia em que eu escrevo a versão portuguesa e inglesa e também faço as ilustrações do mesmo.

A publicação do segundo livro desta série está prevista para 2014

Victoria Pereira comunicação


 

 

 

 

CAMINHOS para a PAZ

 

 

O Conto, o Dialogo e … que mais?

 

             

 

 

 

      Maria Victoria Fonseca Cardoso Lopes Pereira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

              

              EMIGRANTE PORTUGUÊS  - Ao meu filho Mário Manuel

 

 

Chocados e magoados

Os "colonialistas"

Abandonavam a terra que

lhes dera o ser

 

Outros,

de direitos mais direitos

lha reclamavam

e negavam direitos

da sua cultura enaltecer

 

Espezinhados,  despresados,

Surpreendidos …

Sua rejeição e emoção

Se misturavam com tremidas

Tentativas

De quebrar a noite

Da sua ignorante confusão…

 

Os inadequados, ou temerosos

Partidos, sofridos, axincalhados,

Qual novos judeus

De trouxas às costas

E filhos às pernas colados,

Se atiravam aos mares e ares

Cruzando fronteiras

Em busca da "Pátria Nova"

 

Uns partindo para a bela terra "irmã"

Que lhes fazia fronteira

Encontravam sucesso … uns…

Outros so desilusão…

 

E famílias assim eram destroçadas

Por ideias cruzadas, conflituosas,

Cardosas

 

Novas vagas gigantescas se ergueram

Como as que outrora seus antepassados

Enfrentavam quando o Cabo das Tormentas

Ousados  cruzavam

 

E como eles, orgulhosos e briosos

Contra essas ondas tremendas

Seus peitos possantes e generosos

oferecendo

Onde sempre lhes bate

Honrado e forte

O coração!

                         

 

 

                                                                         @ Maria Victoria Pereira

 

 

Como talvez se recordem, no séc. XVII, o rei D João IV  ofereceu a coroa real à Virgem Maria, Padroeira de Portugal – nenhum rei  Português usou a coroa depois disso.

   Na minha família em Portugal, há uma imagem da Virgem que faz parte da sua história, sou neta de  Fonseca Cardoso, o iniciador da estudo da Antropologia Colonial Portuguesa. Essa imagem  é guardada com muito respeito, e isso porque, diz que,  quando foi do terramoto em Lisboa, em 1775, a família de então, aterrorizada com os rugidos e tremores da Mãe Terra, se juntou  à roda dessa imagem da Mãe do Mundo, rezando o rosário, e que tudo desmoronou à volta deles, só ficando intacto o sítio onde estavam. 

   Sou de Moçambique e em criança não era muito devota da Virgem, tinha tendência para protestante. No entanto, houve coincidências que me fizeram dar-lhe mais atenção,  refiro-me a isso na minha novela ‘Under a Swirling Sun (1) (‘Sob um Sol em Rodopio’).

   Vivo na África do Sul desde 1976. Trabalhando e com filhos, estudei à noite pela UNISA e cheguei a leccionar numa Universidade de Durban. O tema da minha pesquisa foi culpa do meu supervisor! Sim, pois com surpresa minha, aconselhou-me a estudar o culto da Virgem Maria entre os Portugueses na África do Sul, e o elo entre a Religião e as Portuguesas em Durban. Mas ainda bem, pois deu-me uma nova perspectiva sobre essa Mulher bíblica, a Mãe de Cristo e lançou-me numa aventura de criação e compartilhaçao que me trouxe agora aqui, sentindo eu assim fechar-se, um círculo iniciado há 50 anos com uma estranha coincidência.

 

Como se sabe, as Portuguesas da África do Sul, vieram sobretudo da Madeira (cerca de 80%) e de Portugal, e mais tarde de Angola e Moçambique, estas empurradas pelas guerras de libertação das ‘Provincias Ultramarinas’. A maioria nem falava Inglês.  Cheias de fé e coragem, adaptaram-se, trabalhando àrduamente e com pouco reconhecimento,  e às vezes até sofrendo ver o esposo assassinado, na onda de crime que invadiu o pais, e que está a causar uma nova migração. As que se juntaram a Igrejas Protestantes, cedo fizeram amigos Sul-Africanos, mas as que continuaram em igrejas Católicas Portuguesas, mantiveram mais a sua cultura. A religião pode ser um elo de integração ou um factor de desintegração. A família é o  grande apoio destas mulheres, mas infelizmente, os descendentes às vezes já nem falam Português, e elas, envelhecem, isoladas.     

   Os jovens, são hoje, certamente mais conhecedores, mas a experiência também é conhecimento.  São por isso importantes os lares, os clubes, as actividades como o teatro e a pintura, e  projectos que visem a atrair Jovens e a contribuir para uma melhor coesão social. Foi essa a finalidade do livro ‘Caminhos do Sentir’ (2) - publicado pela Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, em Português, e em Inglês, com o titulo  Pathways of Feeling’ - uma ‘Colecção de Estórias Contadas por Portuguesas em África, escritas por elas próprias ‘, fruto de reuniões de escrita criativa no Cabo, Pretoria, Joanesburgo e Durban, talvez a primeira colecçao no género, na África do Sul. Essa obra foi oferecida a um Lar em Joanesburgo para usufruto do produto das vendas.

   Mas infelizmente em todas as sociedades há sentimentos negativos, e uma inclinação para o silencio atrofiante, como no caso desse livro. O Projecto fora subsidiado generosamente por um Banco Português em Joanesburgo, que no fim quis que os direitos ao livro (copyrights) fossem também oferecidos a esse Lar. A coordenadora, autoras e a publicadora, a Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, primeiro discordaram, mas acabaram por aceitar, as autoras requerendo então que pelo menos mantivessem os direitos às suas próprias estórias, o que foi aceite.

   E assim, o projecto viu a luz do dia! E depois?

   Em Durban venderam-se imediatamente bastantes livros.

   E depois?

   - ‘Não tinham que dar satisfações’, foi a resposta de Joanesburgo.

A coordenadora, desapontada e cansada, eventualmente desistiu. Desligou-se também da Liga da Mulher pois não sentiu o apoio que, na sua opinião, o caso merecia.

   Qual a razão do aparente fracasso desse Projecto?   Não sei!

 

 Mas, felizmente, nos jornais Sul-Africanos apareceram artigos laudatórios:           

      Vocês vão rir, chorar, e pensar duma maneira diferente sobre os imigrantes depois de   

      lerem estas deliciosa compilação de estórias…’  Ingrid Khumalo, Natal Mercury, 2009-04-02  

 

 

 

Os contos dessas Portuguesas contribuiram para uma nova visão do Português geralmente visto só como o estrangeiro, o dono do ‘tea room’, o católico que quase não falava o Inglês, e ainda pior, que era competição, pois era um bom operário e especializado.

   O conto, como a pintura, abre canais de comunicação, com o público, entre o público, também com nós próprios.

    O Livro afinal, não foi um fracasso!

 

A estória para crianças, ‘A Borboleta do Arco-Iris’(3) (The Rainbow Butterfly), em Inglês, Português, e também em Zulu, foi escrita para compartilhar uma experiencia espiritual quando da trágica morte dum filho e para ajudar um netinho de 5 anos preocupado com a morte. O efeito que teve nele e depois nas crianças dum orfanato, foi surpreendente! Essas crianças, que nunca sorriam e nem uma linha traçavam, começaram a desenhar borboletas e arco-íris e a colorir os seus desenhos, e contentes, a querer contar a estória às outras crianças, o que levou as professoras a aconselhar o pedido dum subsidio ao Departamento de Educação e Cultura na África do Sul para sua publicação, o que foi concedido!  

   O compartilhar tem o poder de inspirar e até de curar!

 

Sobre a novela ‘Under a Swirling Sun’, escreveu o Sunday Tribune:

uma narrativa comovente  ... corajosa e que nos inspira. …uma reflexão pungente sobre o passar duma era e a reemergência duma nova ordem … que ressoará no intimo de muita gente                            Vivian Attwood, 2013-04-21    

 

O livro ‘Igreja de S José – Greyville, Durban 1980-2010 – 30 anos de Serviço à comunidade Portuguesa’ (4), em Inglês e Português (bilingue) com fotografias coloridas, é um relato histórico desta interessante Igreja em Greyville, Durban - que foi oferecida aos Portugueses para veneração pelo falecido e muito conhecido Arcebispo Rev. Dennis E. Hurley – com fotografias dos Portugueses que generosamente participaram na sua restauração e manutençao.

 

Whispers in the Wind’(5), é  uma colecção de poemas, publicada por instigação dum Professor Sul-Africano, que, impressionado com o poema ‘Emigrante Português’ e outros, aconselhou que fossem ‘compartilhados’, isto em 1993.

   No Curriculum Escolar para as Escolas na Africa do Sul, de 2011-2013, estão dois poemas da mesma poeta Portuguesa Sul-Africana, ‘A Walk through the Woods’, e ‘T.V. and the Rest’, sobre a liberdade de escolha e o efeito controverso da tecnologia. Não é mais uma contribuição para uma percepção positiva do que somos nós, os Portugueses?

   Diz que ‘Os políticos fazem as guerras, mas os escritores ‘mudam o mundo’…  

 

Nesta era de ideias conflituosas, o diálogo é mais pertinente do que nunca. A Televisao é um meio poderoso de espalhar os ‘virus da mente’(6) que se infiltram no sub-consciente sem sequer darmos por isso – como teorias  ‘baseadas em factos’ mas que analisadas são superficiais ou incorrectas. Recentemente alguém dizia que o materialismo cientifico é que salvará a humanidade, proclamando que o mundo está muito melhor, já nem existe a escravatura, nem tantas guerras!

   Fiquei pasmada! O mundo está melhor? Quantas guerras já tivemos em tempos recentes? E que diremos do diabólico tráfego de crianças para prostituição agora, no nosso tempo?

   Peter Hitchens, o jornalista britanico, (7) que se converteu ao socialismo materialista e que esteve anos na Rússia e depois na Somália, ficou chocado com a degradação moral da população e do governo, nesses países. Quando voltou à Inglaterra ficou surpreendido com o declinio nos valores morais da juventude…   

   Em conclusão… o tal jornalista re-converteu-se! Voltou a ser cristão!

   Se tiramos Deus da equação, o código moral tem pés de barro e cedo se desmorona… Que aconteceu na Rússia? O povo ficou mais pobre e alcoólico do que antes. Quanta gente tem sido assassinada em nome do marxismo?

   E, não confundamos religião com o apropriamento da religião para fins políticos.  

   Depois da queda do apartheid na Africa do Sul, observou-se um desinteresse no ensino religioso, quando não foi eliminado. Agora também há professores que perguntam se não será essa a causa dum pernicioso enfraquecimento moral na juventude – até com casos de violações de mulheres estudantes nos centros de ensino.

   

O materialismo não pode provar a não-existencia de Deus e não podem também os cristãos provar a Sua existência.  Mas, e que pensar de fenómenos como em 1917, o Milagre do Sol em Fátima, cientificamente inexplicável’, que teve lugar no mesmo ano que o marxismo tomou posse da Russia? Visto por mais de 70.000 pessoas?! Note-se que o Sol dançou aproximando-se da Terra por mais de 10 minutos. O chão e as pessoas estavam encharcadas, pois chovera torrencialmente desde o dia anterior. Pois, quando tudo terminou, estavam todos e tudo, absolutamente seco! Dizem os cientistas que seria necessário para isso, um grau de calor que teria incinerado toda aquela gente!

   Segundo o historiador W.T.Walsh (8) temos de dar atenção ao pedido feito por aquela ‘Senhora com um Plano de Paz para o Mundo’,  a mensagem que inclui profecias de futuros desastres e guerras ‘se o povo se não arrepender e rezar’,  incluindo também um controverso pedido de ser feita uma consagração especial da Rússia.      

    O Circulo de Teólogas Africanas Conscientes (CCAWT) em 2005 lançou nos Camarões, o livro, “Tempo de Mudar, Tempo de Agir” (9), de que fui coordenadora. Esse livro, em Português, escrito por Mulheres de Moçambique e de Angola, é uma colecçao de reflexões sobre Deus e sobre a SIDA, no contexto das suas igrejas, famílias e comunidades,  e em que elas mostram a necessidade dum novo estudo ´mulherista’ da Biblia, em diálogo aberto com os textos,  e incluindo homens no diálogo - lembremo-nos que o patriarcalismo tem origens na religião.

   Somos Mulheres, somos Mães, temos poder! Usêmo-lo!

   Quase cem anos depois do facto, a ‘mensagem de Fátima’ também ainda está a causar vibrações e discussões. Houve em Setembro, uma Conferencia no Canadá, sobre esse tema,  com 28 oradores - alguns advogados e jornalistas, e alguns nem sequer Católicos.

   Quem nos garante que o nosso Futuro, dos nossos Filhos e Filhas, não depende da aceitação humilde - pelo menos por um número suficiente – desse outro ‘Caminho para a Paz’, dessa mensagem ‘extra-terrestre’ entregue a três crianças, por essa ‘Senhora feita de Luz’, pela‘Mãe do Mundo’? Uma honra para nós, Mulheres!

   Lembremo-nos que Cristo louvou o Pai por se revelar a crianças e não aos eruditos e aos prudentes.

   Obrigada.

    

                                            Durban, 2013-10-25            @  Maria Victoria Fonseca Cardoso Lopes Pereira

 

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Referencias:   

 

(1) -  Maria Victoria Pereira,Under a Swirling Sun’ (amazon.com e e.kindle).

(2) - ‘Caminhos do Sentir’ e ‘Pathways of Feeling’ coordenado por Maria Victoria Pereira,

           publicado pela Liga da Mulher Portuguesa na Africa do Sul, oferecido ao Lar Rainha 

          Santa Isabel em Joanesburgo.

(3) -  Maria Victoria Pereira, ‘A Borboleta do Arco-Iris’ / ‘The Rainbow Butterfly’

(4)-                                  Igreja de S Jose’

(5)-                                 ‘ Whispers in the Wind’

(6) -  Richard Brodie, ‘Virus of the mind’    

(7) -  Peter Hitchens ,  The Rage against God’- o livro que, juntamente com o do seu irmão    

  Christoper Hitchens, ‘Hitch 22-a memoir’, foi considerado, pelo Secretario de Educaçao     

  britanico, como um dos dois livros mais bem escritos de 2010.  Christopher no seu livro

  explica porque se tornou ateu e Peter, que também se tornara ateu e reira,   

        publicado pelo Circle of Concerned African Women Theologians (CCAWT)

depois voltou a cristão,

  escreveu o seu livro em resposta ao do seu irmão.

(8) - W.T Walsh, ‘A Peace Plan from Heaven’

(9) - ‘Tempo de Mudar, Tempo de Agir’- coordenado e editado por Maria Victor

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Isabel Saraiva Comunicação


Comunicação no diálogo com os Artistas presentes no Congresso da Mulher Migrante

Palácio das Necessidades - Lisboa – 2013

24/25 outubro

“ Uma ponte entre Porto e Nagasaki “

Todo o rio e toda a ponte traduzem-se para mim em fascínio.

Todas as pessoas gostam de caminhar por cima da água, pois existe uma dimensão metafísica.

As pontes têm um valor utilitário, estético, lúdico e podem inclusivé serem um lugar de encontro e de confluência.

A ponte liga, une, nunca separa.

Tenho um encantamento por pontes, sobretudo aquelas que passam por cima da água.

Poderia afirmar que há mais de uma década sou toda água.

A água para mim é um núcleo da criatividade, pois salto da minha zona de conforto, a terra.

A mulher portuguesa é uma mulher forte, criativa e que ultrapassa as dificuldades tanto dentro como fora do país.

A minha obra tem percorrido a diáspora. É uma ponte que desenho com outras culturas e outros saberes.

O Porto, minha terra natal e onde vivo, convive harmoniosamente com 6 Pontes de grande beleza e audácia.

Os rios e principalmente o Douro, na sua foz exala qualidades para mim quase míticas de segredos bem guardados de vida secreta do mundo inferior.

Olho o rio e pela minha mente passam cores. Desde os tons de azul celeste, pêntalo, cobalto, índigo, conzas, passando aos verdes lodosos, rosas pálidos e brancos.

Estes últimos pertencem certamente a seres que se lançaram nas águas em busca de segredos ocultos nas ‘barcas’ da passagem.

Nos trabalhos que estou a elaborar, deixei-me enlevar quase numa atitude hipnótica e entusiasmante pela curvatura do arco. Desvalorizei quase por completo outros elementos que compõem a obra de arte aproximando-se à feminilidade da mulher – o esplendor da sua gravidez.

Certamente que às vezes sinto-me à deriva e questiono-me sobre o rumo criativo a tomar quanto ao tema, pois o plasmo há anos.

Contudo, o fascínio assiste-me e a força energética benéfica e forte que me faz pulsar o coração, faz com que o meu olhar seja autónomo desprendendo-se do meu ‘eu’ e religue-se a outras descobertas por vezes enigmáticas e imaginadas da graça e beleza da linha.

De olhos bem abertos e sozinha, recrio no silêncio do atelier apenas com o som das gaivotas e dos pássaros e tendo apenas como companheiro o imaginário, recrio arcos e arcos de pontes.

Partindo deste pressuposto, desenhei um arco de ponte tendo como objetivo a exploração de um mundo distante – o país do sol nascente – o Japão.

Surgiu-me assim uma luz quanto à história de uma civilização distante mas ao alcance da minha mão, desenhando apenas um arco de união. Um rumo inesperado da mente conduziu-me a uma direção que parecia não existir no dia anterior. Um encontro com outro imaginário que explorei com métodos e metodologias interpretativas que se iriam aproximar de outro sentir do espírito humano.

Assim, surgiu o haiku escrito em haikai no ano que o Porto celebra 35 anos de geminação com Nagasaki e 470 anos de amizade Portugal/Japão.

Foi um trabalho árduo em direção ao insondável com imprevistos, recomeços, descobertas e recaídas na sua escrita.

Desejava também eu, através da escrita, evidenciar a natureza reflexiva quase meditativa que os haikus nipónicos nos oferecem assim como a fluidez da sua pintura.

Abeirei-me deste trabalho plástico e poético com humildade e timidez mas com insistência em tatear este rumo ainda muito desconhecido.

Trabalhei em territórios estranhos para mim, especialmente quanto à forma da escrita. No final, surgiu o meu livro ‘Juncos Oscilam  Breviário do Espanto’, que já se encontra no Japão.

Fui uma viajante, tanto no sentido literal como no sentido figurado, na aproximação a uma cultura que me fascina.

O meu espírito ao terminar os meus poemas ligou-se com a serenidade, a transparência e também ao ato reflexivo que os haikus nipónicos nos comunicam. De certa forma os meus igualmente tocam no entender do Prof. Albano Martins o mesmo sentimento quando afirma no seu texto “… deixam transparecer uma delicadeza que se casa bem com o espírito do haiku japonês, o espírito zen”.

Igualmente, o Dr. Miguel Cadilhe acrescenta no seu início do seu comentário, “… que este pequeno breviário serviria para ler, reler e meditar.”

 

 

Numa manhã de Agosto

a bomba calou a andorinha

que cantava em Ariake

 

 

原爆が         GENBAKU GA

有明つばめの        ARIAKE TSUBAME NO

歌を奪ひき         UTA O UBAIKI

 

 

Toda a Humanidade é um núcleo e em conjunto, nos religamos em sintonia e união com o Cosmos…

 

Isabel Saraiva, em 15.10.2013

Maria João Ávila comunicação


Encontro Mundial de Mulheres Migrantes

“Expressoes Femininas da Cidadania”

 INTRODUÇÃO DA DEPUTADA AR

MARIA JOÃO ÁVILA

Primeiro Painel – “As Mulheres na Politica….um príncipio de paridade”

Excelentissímo senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário;

Exma Dra. Manuela Aguiar

Exma Dra. Rita Gomes

Dignissímos oradores e convidados;

Minhas senhoras e meus senhores;

Saí de Angra do Heroisma, Ilha Terceira nos Açores e emigrei para New Jersey, nos Estados Unidos juntamente com a minha família quando tinha apenas 13 anos de idade, e aos 16 anos já integrava vários grupos e comissões relacionadas com as comunidades Portuguesas locais. Tive uma infância igual a tantas outras crianças norte-americanas, à excepção de em casa falar português e graças aos meus pais manter até hoje, bem viva a nossa cultura.

Em 2011 foi convidada pelo Dr. Jose Cesario e pelo Partido Social Democrata para fazer parte da lista eleitoral à Assembleia da República, o que muito me orgulha, mas tambem com a plena noção, de que era necessário uma mulher eleita pelo círculo fora da Europa, que eu represento, para assim dar cumprimento à quota exigida por lei e ao principio da Paridade.

(No entanto, quando cheguei a Portugal recebi os parabéns dum funcionário consular….onde me dizia que eu so tinha sido escolhida por ser mulher….porque ele e que teria sido a pessoa indicada  para a lista….)!!!!!!

Entre vários pontos, gostaria de iníciar a minha introdução falando do trabalho desenvolvido pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM).                                          

Desde os combates épicos travados pelas mulheres para obterem o direito de voto, aos esforços desenvolvidos hoje, em todo o mundo, para introduzir quotas que visam aumentar o número de representantes eleitas, as mulheres tiveram sempre um aliado poderoso na democracia. Sabem que a participação democrática é o principal meio que permite que os interesses das mulheres estejam representados e tenham uma legitimidade social e uma resposta política sustentável.

O número incrivelmente reduzido de mulheres que ocupam cargos públicos - actualmente, uma média mundial de 19% nas assembleias nacionais - constitui um défice a corrigir. A participação das mulheres em todos os níveis do governo democrático - local, nacional e regional - diversifica a natureza das assembleias democráticas e permite que o processo de tomada de decisões responda às necessidades dos cidadãos que podem ter sido descuradas no passado.  Segundo os últimos dados das Nações Unidas, a percentagem das mulheres nos parlamentos nacionais, parlamentos uni-camarais ou camaras baixas é de:

Estados Arabes – 9,2%;     

Pacifico – 13,2%

Africa – 18,3%; 

Asia – 18,6%

Mundo – 19,0%;

Europa, incluíndo países nórdicos – 22,0%

América – 22,7%;

A fonte desta informação é a União Interparlamentar da ONU.

O Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher apoia os esforços que visam aumentar a proporção de mulheres eleitas. Procura também reforçar a capacidade das mulheres no que se refere a desempenhar um papel legislativo eficaz, quando eleitas. No entanto, o desafio de assegurar a igualdade de género ao nível da participação política não se limita à consecução de melhores rácios quantitativos entre homens e mulheres no decurso de um ano eleitoral. É por isso que o UNIFEM apoia igualmente as iniciativas que visam aumentar a eficácia política das mulheres antes e depois das eleições, nomeadamente adoptando “medidas temporárias especiais” em conformidade com o artigo 4 da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW).

Ainda que vários países – como a Albânia, a Bolívia,  o Egipto e o Senegal – tenham adoptado quotas ou reservado assentos para as mulheres, através de alterações à constituição, de reformas da lei eleitoral ou da introdução de leis sobre a igualdade, o número de países onde essas medidas foram aplicadas continua a ser muito reduzido, apesar de as quotas e reservas de assentos terem, em média, possibilitado uma maior representação das mulheres, independentemente do sistema eleitoral.

O UNIFEM apoia as campanhas levadas a cabo pelas organizações da sociedade civil, para defender a adopção de medidas temporárias especiais, e presta assistência técnica aos países para pôr em prática tais medidas.

Reconhecendo que o desafio de garantir a igualdade das mulheres na participação política, não se limita à obtenção de melhores rácios, quantitativos, entre homens e mulheres durante um ano eleitoral, a UNIFEM procura também reforçar o papel legislativo das mulheres, uma vez eleitas. Estratégias como a formação de grupos multipartidários, a nível parlamentar e local, podem proporcionar o apoio dos pares, necessário para promover a igualdade de género ao nível da agenda legislativa e política.

É por isso que o UNIFEM apoia iniciativas em alguns países, que visam elaborar agendas políticas, acordadas a nível nacional, a favor da igualdade de género e continua a prestar assistência técnica aos ministérios da condição da mulher, aos observatórios e às comissões, a fim de que possam desempenhar um papel importante nos esforços dos governos para integrar as questões da igualdade de género.

O UNIFEM também se esforça por melhorar uma governação democrática sensível às questões de género  e a obrigação de prestar contas em relação às mulheres, e colabora com iniciativas  mundiais,  que visa melhorar a qualidade da governação do ponto de vista da capacidade de as mulheres acederem aos serviços públicos.

Tambe,  procura ajudar, consultar e apoiar as democracias em fase de desenvolvimento, através da promulgação de leis e de políticas que tenham em conta as questões de género, concentrando essencialmente a sua acção na igualdade de género na lei e na governação, na violência contra as mulheres, no trabalho, na saúde e na pobreza.   E está particularmente empenhado na eliminação de disposições discriminatórias que figurem em leis ou políticas em vigor e na inclusão de disposições relativas à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.

Nas sociedades que saíram de um conflito, a prioridade do UNIFEM é dar mais voz às mulheres e aumentar a sua influência nos processos de estabelecimento e consolidação da paz, nomeadamente no que se refere à formulação de políticas e à atribuição de financiamentos, para responder de uma forma adequada às necessidades de mulheres e raparigas no planeamento pós-conflito.  Tambem  desempenha, com frequência, um papel aglutinador, pondo em contacto mulheres que são activistas da paz, os representantes de alto nível da ONU e os dirigentes mundiais.

O UNIFEM, em associação com o Fundo das Nações Unidas para a Democracia (FNUD) e a Divisão de Assistência Eleitoral do Departamento de Assuntos Políticos (DAP) reuniu num workshop, na India,  vinte e um responsáveis da sociedade civil de dezoito países que trabalham para reforçar a participação das mulheres na competição política, democrática e na governação.

O workshop sobre Género e Democracia tinha como objectivo servir de plataforma para a discussão dos êxitos e dos desafios na implementação de projectos pilotos, inovadores a nível das comunidades, analisar os obstáculos à participação das mulheres e dar um contributo para os esforços do sistema da ONU para promover a democracia.

E agora como emigrante que sou e como Luso-Americana, porque uma grande parte da minha vida familiar e profissional foi passada nos Estados Unidos,  gostaria de falar da participação das mulheres na política norte-americana, onde ainda, à muito por fazer. Mas gostava de partilhar convosco parte dum texto publicado pelo o Departamento de Estado dos EUA, sobre as “Eleições Americanas” e as “Mulheres na Política”.

 

No final do século 18, os governos ocidentais eram liderados por homens brancos que provavelmente

nunca imaginariam que uma mulher pudesse concorrer a todos os cargos eletivos, muito menos à

Presidência.

Abigail Adams estava à frente do seu tempo na defesa da inclusão. “Lembre-se das senhoras”, escreveu ao marido, o líder revolucionário John Adams, em março de 1776, quando ele era delegado do Congresso Continental.

Ela aclamou ao Congresso para considerar os direitos da mulher ao lançar os alicerces da Independência dos EUA. “Lembre-se, todos os homens seriam tiranos se pudessem”, escreveu.

“Se as senhoras não receberem cuidado e atenção especiais, estamos determinadas a fomentar  uma revolta e não nos consideraremos obrigadas a cumprir a lei, diante da qual não temos voz ou representação.”

 

Abigail Adams tornou-se primeira-dama quando seu marido sucedeu George Washington como presidente em 1797.  Entre a carta de Abigail Adams e a campanha de 2008 de Hillary Clinton, a primeira candidata a presidente politicamente viável, gerações de americanas superaram estereótipos, e quebraram barreiras para obterem cargos eletivos.

 

Em junho de 2008, Hillary Clinton, senadora americana por Nova York, encerrou sua histórica campanha à Presidência dos EUA. Os 18 milhões de votos obtidos na primária até junho não seriam suficientes para assegurar a indicação democrata. “Pensem quanto progresso já alcançamos”, declarou Hillary …. “A partir de agora será corriqueiro para uma mulher vencer nas primárias estaduais…. normal é ter uma mulher na disputa séria pela indicação dos partidos, e será normal pensar que uma mulher pode ser presidente dos Estados Unidos.”

Em Janeiro deste ano, a Assembleia da Republica aprovou um diploma europeu, que determinou que as mulheres devem preencher 40% dos lugares não-executivos da administração de empresas cotadas em bolsa até ao ano de 2020. A directiva europeia foi aprovada na Comissão de Assuntos Europeus.

Segundo a Comissão Europeia, o objectivo é equilibrar a representação de homens e mulheres em cargos que devem servir de exemplo para o sector privado, dada a sua importância económica e a sua grande visibilidade.

«Ao ritmo actual, seriam necessárias várias décadas para se acabar com o desequilíbrio entre os géneros», afirma a directiva, considerando que as quotas, apesar de controversas, são a medida mais eficaz: «Os progressos mais significativos foram alcançados pelos países que introduziram medidas vinculativas».

As realidades nos países da União Europeia são muito diferentes a este nível. A presença de mulheres nos cargos de topo varia entre os 3% e os 27%.

No Dia da Mulher, a 8 de Março, o Governo aprovou uma resolução para obrigar empresas públicas e privadas a adoptar planos para a igualdade. Segundo dados do Governo, o sector empresarial do Estado tem 27% de mulheres em lugares de topo, as empresas cotadas em bolsa têm 9,5% .  Por isso, no que diz respeito às cotadas, Portugal tem de percorrer um longo caminho até atingir as metas da Comissão, e todas estas medidas se devem ao trabalho e ao esforço da senhora Secretária dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, dra Teresa Morais.

Ao terminar a minha introdução neste Encontro Mundial das Mulheres Migrantes, quero agradecer todo o apoio do Sr. Secretario de Estado Dr. Jose Cesario, e enaltecer todo o esforço e dedicação da Dra. Manuela Aguiar , da Dra. Rita Gomes, e saudar todas as mulheres que participam neste evento, e também todos os amigos, pela coragem de terem aceite participar nesta “prova de fogo” feminina.

Muito obrigada, e que este Segundo Encontro das Mulheres Migrantes, “Expressões Femininas da Cidadania”, seja o re-encontro de nós próprias com o mundo, e o reforço de uma cidadania cada vez mais participativa, na política, na familia, no trabalho e na sociedade.

Muito Obrigado a todos pela atenção e bem hajam !