quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Encerramento do 15º aniversário

À Associação “Mulher Migrante”:

Permitam-me em nome pessoal e em nome da Associação Graal de Coimbra, agradecer o convite para assistir e escutar as intervenções de grande qualidade no encontro “Mulher Migrante Perspectivas Sociais e Culturais”. Cumprimentar a Associação “Mulher Migrante” por esta iniciativa, por ocasião de celebração dos 15 anos de actividade e dizer-vos, que, com trabalho tão consistente, muitos mais virão, com certeza.

Escutaram-se diferentes perspectivas, sobre o tema Migrações, todas elas interessantes e sustentadas. De facto, este tema, ainda necessita de muita luta, de muita vontade e da continuação de Boas Práticas por parte das associações, da sociedade civil e dos nossos governantes.

Recordo as palavras da Doutora Maria Beatriz R. Trindade: “Portugal foi, desde sempre, país aberto ao mundo, exposto à universalidade o que o tornou mais criativo com o resultado do contacto de povos e de culturas”. Foi na época das Descobertas que começámos a ter os primeiros contactos com outras culturas, com novos produtos, com novos povos e com novas línguas, fomentando, assim, a abertura a novos conhecimentos transnacionais a novos contactos e a novas formas de pensar.

As novas mobilidades da migração trouxeram uma grande diversidade de povos e culturas, como podemos constatar. Associado a esta mobilidade, está o factor género, que não pode ser esquecido das agendas associativas e políticas – factor crucial das novas formas de mobilidade e diversidade migratória.

Hoje cruzamo-nos com a imigração a que chamamos “feminizada”, ou seja, a crescente participação das mulheres nas migrações, quer para o reagrupamento familiar quer em situação autónoma com o desejo de proporcionar uma vida melhor aos filhos, à família e a elas própria, claro. Mas também feminizada, no sentido de ocuparem postos de trabalho na esfera doméstica, lares, creches ou em casas de famílias ricas. Não esquecendo ainda, as profissões feminizadas da educação e saúde, no que diz respeito às imigrantes mais qualificadas.

Citando a Drª Maria Manuela Aguiar no livro, “Problemas Sociais da Nova Imigração”, “olho precisamente com optimismo a nossa condição de país de imigração. É necessário encarar os imigrantes com os mesmos olhos com que vejo os nossos emigrantes”. Sabemos que sempre que lhes são dadas, nos países estrangeiros, condições de integração, se tornam realmente cidadãos/ãs de duas pátrias. Pois é isto que os/as nossos/as emigrantes sentem e o que realmente querem quando emigram, o mesmo se aplica aos/às nossos/as imigrantes: O que querem é sentirem-se cidadãos e cidadãs com direitos.

Depois de um (final) de encontro inesquecível e produtivo deixo os parabéns à Associação “Mulher Migrante” e, em especial, à Drª Rita Gomes com quem me cruzei e tive o gosto de conhecer, entre outros/as participantes. Os parabéns pela árdua tarefa de lançamento dos livros, que debatemos no encontro, os quais já tive o prazer de ler.

Em meu nome e do Graal – Coimbra, obrigada e mais uma vez parabéns.



Sara Cruz

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De Providence, mensagem de António Pacheco

"O momento que estou a viver agora serve de exemplo ao que escrevi no congresso online e ao que disse no encontro de Aveiro. Estou em Providence, trabalhando com um centro de estudos da Lusofonia, nunma universidade de referência. Os temas são abordados com uma professora de origem acoreana e um professor de origem guineense. Fiquei hospedado na casa de dois amigos de origem cabo verdiana que considero quase como filhos. Isto tem de ser a lusofonia na prática: sou um luso-moçambicano, promovendo sob os auspícios de uma Fundaçõo de Portugal, a Pro Dignitate, projectos de luta contra a violência nos media na Guiné-Bissau, com o apoio da comunidade lusófona da Costa Leste dos Estados Unidos (Universidades, associações e jornais).
Assim, o que gostaria que saisse do encontro da Mulher Migrante de Aveiro:
- O apelo para que a dimensõo da língua portuguesa esteja sempre presente no associativismo e que as associações de emigrantes se abram também aos vizinhos da língua comum;
- O apelo para que , onde não existam associações de um qualquer país lusófono, porque a presença dos seus emigrantes não é significativa que as nossas associações e agremições se possam transformar em porto seguro de convivência e de troca de impressões em língua portuguesa;
-Que os emigrantes portugueses, brasileiros, cabo verdianos e de outras nacionalidades, através das respectivas associações lancem em conjunto projectos de formação, programas de defesa de direitos e de interesses comuns.
-Que se prepare em 2010 -ver proposta da presidente da Camara de S.Vicente, Cabo Verde- o grande encontro da Mulher Migrante Lusófona, que teria lugar precisamente em S. Vicente e com o apoio daquele municipio".

Bom Trabalho

Antonio Pacheco

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Voltar a Lisboa

Facto inédito na história da Mulher Migrante, nestes últimos anos, mais concretamente desde 2004, as suas iniciativas desenrrolaram-se fora da capital!
Os "Encontros para a cidadania", e outros, como os de Newark e Montreal, em que estivemos com diversos parceiros, levaram-nos a longes terras.
É hora de fazer o balanço na cidade-berço.

Eleição!

A "Mulher Migrante" foi hoje eleita para o Conselho que no município de Lisboa representa as associações de migrantes.
Eleita, ou melhor, reeleita. E por uma votação impressionante (13 em 16)!
A Drª Rita Gomes, que participou na sessão, estava feliz!
É o reconhecimento do trabalho feito ao longo de 15 anos de actividade por ONG's envolvidas na defesa dos direitos humanos e dos direitos dos estrangeiros. Mulheres ou homens, por igual (com a certeza de que as mulheres não serão marginalizadas, como eram no passado - objectivo de uma organização que visa sobretudo a paridade).

domingo, 29 de novembro de 2009

ENCONTRO em Lisboa, para o 15º aniversário da "Mulher Migrante"

No próximo dia 14 de Dezembro, um Colóquio em Lisboa, com conferência de Maria Beatriz Rocha-Trindade, seguido de apresentação das publicações da Mulher Migrante neste ano de 2009:
Problemas sociais da Nova Imigração
Portuguesas da diáspora - Encontro em Espinho
Congresso on line

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Mulher Migrante" da Argentina

OLÁ ESTIMADA E QUERIDA AMIGA, COMO ESTÁ?

Quería agradecer-lhe muito a agradavel carta que mandou, para ser lida, no día do festejo do Décimo primeiro ano de vida da Associaçâo da Mulher Migrante da qual , estamos muito orgulhosas, de pertencer a essa Comissâo Directiva.

Tivemos como bem sabe a presença do Deputado Dr. José Cesário, um grande prazer de ter o nosso representante na Assambeia da República, para todos os Imigrantes da Argentina, os assistentes estavam muito satisfeitos da sua visita, sempre dizemos que é um pouco da nossa terra quando vêm a visitar-nos.

Na festa correu tudo muito bem, tivemos a presença de 400 pessoas, mais o menos.
A festa esteve muito animada, com a actuaçâo de um conjunto Folclórico "Estrelas do Minho" do Clube Português de Esteban Echeverría, e depois um conjunto de danças argentinas e de tango. Houve para todos os gostos, e logo para dançar.



Muitos beijinhos sua amiga

Natália

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Uma escolha difícil...







As capas das duas publicações, que devem ficar concluidas ainda esta semana. Hopefully!
Pedem-se opiniões, mas muito rapidamente, pois a decisão é hoje, ao fim da tarde.
Várias opções de cor e design, incluindo a de usar o mesmo para uma e outra com os diferentes títulos.
Amanhã já aqui têm a imagem das capas definitivas.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Representação e acção das Mulheres nos MEDIA

Maria Manuela Aguiar
Os debates sobre esta temática , integrados na preparação do Encontro de Mulheres da Diáspora, envolvendo a Associação "Mulher Migrante" e a Fundação Pro Dignitate, com o apoio da SECP, estavam previstos para a 2ª quinzena de Fevereiro, em New Bedford, em Toronto e Montreal.
Atrasos no andamento burocrático do processo não afectaram o seminário nos EUA, realizado, em conjunto, pelo Consulado de Portugal e pela Universidade de Massachussets-Dartmouth, mas levaram-nos a optar pelo adiamento dos que deviam ter ocorrido no Canadá.
Em Montreal, o Consulado-Geral de Portugal e o jornal Luso Presse organizaram, em 22 de Março, a sessão comemorativa do Dia Internacional da Mulher, dedicada inteiramente a este questão, como parceiros de uma iniciativa, que está em curso, e se projecta estender à Europa e à América do Sul.
Em Dartmouth, estivemos o Dr. António Pacheco e eu. Um dia inteiro de "brainstorming", num seminário, em que o Dr António Pacheco fez a introdução nos trabalhos da manhã, e eu nos da tarde. Introduções curtas e debates longos, como deve ser, e, muitas vezes, não é por mau doseamento dos tempos na programação...
Tudo organizado em tempo recorde e optimamente - à melhor maneira portuguesa - graças à Cônsul de Portugal em New Bedford, Drª Fernanda Coelho, e à resposta rápida e empenhada que teve do Grupo de Estudos Portugueses, dos responsáveis pelos Arquivos Ferreira Mendes (cujas instalações só serão inauguradas oficialmente neste mês de Abril e que é, com certeza, o melhor dos EUA sobre comunidades portuguesas), e também, da Reitora e do grupo de "Women's Studies".
A Montreal, desloquei-me só eu, porque o Dr. Pacheco permanece em acções de formação de jornalistas, na Guiné Bissau.
Tal como nos EUA, é de destacar a disponibilidade, o interesse e a simpatia com que o Cônsul Geral. Dr. Carlos Oliveira. São exemplos de uma vontade de trabalhar em conjunto com as lideranças das comunidades, que é essencial no exercício de funções consulares.
Como estávamos ainda em Março, o Jornal Luso Presse propôs ao Dr. Carlos Oliveira a organização, em parceria, de uma comemoração do Dia da Mulher, com debate sobre os temas que estão no centro desta nossa iniciativa .
O Luso Presse celebra, ano após ano, desde a fundação, há 13 anos, o "Dia Internacional da Mulher", sempre com interessantes conferências debates. Em toda a Diáspora portuguesa não conheço nenhum caso semelhante...
Era deputada na altura em que, por duas vezes, participei nesses debates, como uma das oradores. Foi uma satisfação ter tido a oportunidadede ser, de algum modo, co-organizadora da memorável sessão de 2009 - muito embora deva reconhecer que foram, sobretudo, as mulheres , ali presentes, que conseguiram dar não só a imagem da emigração no feminino no Québec, mas também um acento fortemente emotivo à evocação de muitas dessas Portuguesas da comunidade, cujos nomes merecem ser lembrados.
Daremos notícias sobre essas intervenções, de autarcas, jornalistas, conselheiros do CCP , investigadores das universidades, professores e muitos dirigentes de associações, daqueles que são os mais dinâmicos e empenhados em acções cívicas nas nossas comunidades.
Em Toronto, pude participar no encerramento das comemorações do Dia da Mulher, promovidas pelo Consulado-Geral d Portugal, com uma peça de teatro, representada pelo grupo "Mulheres 55+" que convidava à reflexão e uma atitude activa de diálogo sobre problemas que estiveram no centro das preocupações em Espinho: o convívio entre gerações.
A Drª Amélia Paiva soube dar importância à "questão de género". Ninguém o poderia fazer melhor do que ela, que foi , no nosso País, uma excepcional Presidente da Comissão para a Igualdade. E fê-lo!
Em Toronto, onde temos uma comunidade enorme, de um dinamismo raro, e que é, sem dúvida, um dos consulados mais trabalhosos e difíceis de gerir, ela foi a primeira mulher cônsul-geral, e ganhou o respeito e a admiração de todos! Aí, a partir de agora, nunca mais nada será como dantes, neste domínio. As mulheres estão mais perto do centro dos acontecimentos e são vistas de nova forma.
Pena não termos podido realizar o colóquio sobre a imagem das migrantes nos "media", no mês de Março. De qualquer modo, falámos da hipótese de o vir a concretizar, em breve

A "Tertúlia da Lusofonia" - ou a nossa primeira tertúlia

Maria Eduarda Fonseca

Na tertúlia, como é habitual acontecer, as conversas encadearam-se, cruzaram-se, dispersaram-se por muitos temas...Questões culturais ou sociais que preocupam as diásporas, alternaram com recordações do lugar onde estávamos - as instalações provisórias da Biblioteca Municipal, no antigo salão de festas da Piscina de Espinho - e com histórias da cidade.
Na gravação nem sempre se conseguiu captar os comentários, as intervenções, as respostas, o som de muitas vozes a falar, em simultâneo, em várias partes da sala, em grupos, que se formavam, espontaneamente, muito embora houvesse uma mesa central - com a anfitriã, Dr.ª Isabel de Sousa, a Profª Graça Guedes e a Dr.ª Manuela Aguiar. De facto, a maioria dos participantes nem sequer falava directamente para a câmara de vídeo e, por tudo isso, a transcrição que se fez dos diálogos é muito incompleta.
O meu trabalho foi o de fazer uma selecção dos extractos "intactos", eliminando aqueles que estão prejudicados por falhas de gravação.
Estando nós nas instalações da Bibloteca, era natural começarmos por falar em livros e leitura.

POR UMA REDE DE BIBLIOTECAS LUSÓFONAS

Isabel de Sousa
Agradeço o terem escolhido a Biblioteca para a realização da tertúlia e, ao mesmo tempo, quero dar os parabéns a Espinho por este Encontro.
Gostaria, também, de agradecer à Dr.ª Graça Guedes e à Dr.ª Manuela Aguiar o carinho que têm tido com a Biblioteca, connosco. Especialmente porque os bibliotecários são, na sua maioria, mulheres, com um grande carinho pela lusofonia...
Pensamos que o melhor para divulgar a língua portuguesa são, de facto, os livros e a leitura, embora nem toda a gente ache isso.
O decreto que saiu em Novembro não é muito esclarecedor, não fala em livros e bibliotecas para fomentar a língua portuguesa.
(...) Sobre a "rede de bibliotecas para: Divulgar e promover a língua e a cultura de todos os países lusófonos, fomentando a educação e a capacitação das populações dos países integrantes da CPLP nas novas oportunidades, reforçando a língua portuguesa e servindo para que todos nos conheçamos melhor. Os 21 anos da Rede Portuguesa de Bibliotecas Públicas e os 11 anos da Rede Nacional de Bibliotecas Escolares são hoje um exemplo a nível internacional para que se possa estender o projecto a todos os países lusófonos, em estreita articulação coma as políticas culturais e as especificidades administrativas de cada país e de cada cultura.
OBJECTIVOS
- Estender a todos os países a Rede de Bibliotecas Públicas Portuguesas que, em 1994 foi premiado pelo International Book Comitee, na pessoa da Dr.ª Mª José Moura, (co)autora desse Projecto da RNBP ordenado e iniciado com a ex-secretária de Estado da Cultura, Dr.ª Teresa Patrício Gouveia que é hoje um projecto de grande sucesso em todos os municípios portugueses .
- Criar uma comissão de técnicos de Biblioteca/Informação, arquitectos e instituições que, conjuntamente, adaptem e elaborem um documento normativo para Serviços de Leitura Pública dos países lusófonos, no período de 1 ano
- Dado que a Biblioteca Pública é o centro local de informação, tornando acessíveis aos seus utilizadores/clientes o conhecimento e a informação de todos os géneros os seus serviços devem ser oferecidos com base na igualdade de acesso para todos, sem distinção da idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social
- Direccionar fundos financeiros de cada país lusófono para a implementação de um modelo de serviços públicos de acesso local ao conhecimento, à aprendizagem ao longo da vida, para uma tomada de decisão independente no desenvolvimento cultural do indivíduo e dos grupos sociais, interligando este projecto com o da Biblioteca Digital Lusófona
- Criar e fortalecer hábitos de leitura nas crianças desde a primeira infância para todos independentemente da condição social e económica de cada um
- Apoiar a educação individual e a auto formação, assim como, a educação formal a todos os níveis
- A liberdade de acesso à informação independentemente, do suporte e fronteiras, é uma responsabilidade Da Biblioteca pública e dos profissionais de informação
- O livre acesso à Internet, oferecido pelas bibliotecas públicas contribui para que as comunidades e os indivíduos atinjam a liberdade, a prosperidade e o desenvolvimento
- A criação de um documento normativo de todas as bibliotecas lusófonas que, em articulação com o projecto da Biblioteca Digital Lusófona, disponibilize ao mundo a cultura de todos os países lusófonos com pontos de acesso gratuito na REDE DE BIBLIOTECAS LUSÓFONAS.
Eu passava agora a palavra à Dr.ª Manuela Aguiar.

Maria Manuela Aguiar
Dr.ª Isabel, eu só queria dizer que em toda a minha vida não me lembro de ter feito um pedido a um serviço que fosse tão prontamente e tão simpaticamente respondido, como foi este que fizemos à biblioteca para organizar aqui a "tertúlia", neste ambiente esplêndido, com livros à volta, de um lado, e o mar do outro lado. Muito obrigado. Acho que foram absolutamente extraordinários, de uma simpatia enorme. Até o programa imprimiram, não houve nada que não fizessem muito bem. Realmente, como escrevi ali no livro de entrada, se em Portugal houvesse mais serviços e mais pessoas assim, que grande país Portugal se tornaria. Muito obrigada.

Isabel de Sousa
De nada! Em nome da minha equipa agradeço à Sr.ª Dr.ª as palavras. Foi há dois dias que nos pediram isto e foi respondido imediatamente. Estava a fazer uma palestra… fora de Espinho e a Dr.ª Andreia fez a ligação e cinco minutos depois estava a dizer que sim.
Palmas
Vozes: Se todos fossem iguais a você! É isso aí, se todos fossem iguais a você Eu não sei eu acho que este tema é um tema…

ESPINHO, COMO COMUNIDADE

Graça Guedes
A simpatia do Dr. Durval Marques! Tinha nada mais nada menos que uma comemoração de uma viagem que fez com o Orfeão Académico do Porto, não é? Uma viagem a Moçambique, há 50 anos. Trocou tudo isso pela nossa companhia. Muito obrigado…
Bem, eu estou aqui a fazer pandam com a Dr.ª Manuela e com a Dr.ª Isabel ao meio, mas ela faz questão, porque sou Presidente da Assembleia Municipal …

Maria Manuela Aguiar
É a Primeira-dama de Espinho!

Graça Guedes
Escrevi isto no livro: este espaço foi a minha piscina (...) e também dancei aqui.
Este espaço foi feito nos finais dos anos 40 … Os meus pais eram accionistas e eu comecei a nadar aos três anos na piscina. Aqui passei a minha infância, a minha juventude. Vinha para cá, quando abria no dia 15 de Junho, fizesse sol ou chuva …eu cheguei a vir de galochas, guarda-chuva e impermeável, abrir a piscina e até ao dia em que fechava, a 30 de Setembro. Todos os dias. Esta sala tinha aquelas luzes, havia uma cremalheira que dava sol… Eram os bailes… Já de manhã falei um pouco disso, muito rapidamente. É um sítio, para mim, de saudades, recordações, de alegrias, de frustrações.
Não… não foi aqui que eu conheci o Pires da Rocha, não...
Não, não de frustrações um pouco mais tarde, quando isto deixou de ser assim (...)
Uma coisa que os meus pais me ensinaram, foi a solidariedade. A minha mãe fazia parte de um grupo de madrinhas do Hospital. E o Hospital de Espinho fez-se porque esse grupo se juntava todas as 5ªs feiras em tertúlias, faziam lençóis, faziam isto, faziam aquilo, faziam aqui os bailes em que havia angariação de fundos para se construir o Hospital. E foi assim ao longo de 10 anos. Este palco também foi para esses passos de solidariedade.Entretanto, a piscina foi restaurada e manteve a traça original, tal e qual, e, transitoriamente, é aqui a biblioteca…
Vocês, e desculpem tratar-vos por "vocês", minhas amigas e meus amigos, hão-de verificar, e agora estou a falar como Presidente da Assembleia Municipal, responsável pela terra, tenho que fazer um bocadinho de propaganda à Biblioteca Municipal, cujo desenho é de um arquitecto espinhense, que ela está a ser construída em frente ao Multimeios, entre a Multimeios e a Câmara... (...)
Eu tenho de vos dizer, esta Dr.ª Isabel é um espanto, já o seu pai era um espanto, era um artista – dono dos Móveis Sousa. Já acabou, mas realmente era o melhor que havia em marcenaria de arte, cópias de modelos antigo... (...) Não quero aqui criticar ninguém mas é só uma constatação. A Biblioteca estava adiada porque o projecto ia para quem devia ir. Até começar a ser construída estávamos numas instalações para onde passou a Universidade (...)

Graça Guedes
.Quando a Dr.ª Isabel chegou à Direcção da Biblioteca foi a revolução total, julgo que para ai num mês… não foi? Vieram para aqui e estão aqui nestas condições transitórias, mas super eficazes. Por isso, eu, como espinhense, gostaria também de expressar a minha estima, a minha admiração e as minhas felicitações. Tal como a Dr.ª Manuela disse, lembrámo-nos: e se pedíssemos à Biblioteca? E imediatamente as funcionárias apareceram, como caídas do céu…. E imediatamente dois e dois, quatro. Tudo pronto! … O meu reconhecimento e também o meu orgulho, como espinhense, nascida… A Dr.ª Manuela é de Gondomar, eu nasci cá.
Bom, mas posto isto, estamos aqui para a tertúlia...

Maria Manuela Aguiar
Querias dizer que eu sou da terra onde agora está o Valentim... Ele não é, mas eu, realmente, sou de lá! De uma família que tem séculos, em Gondomar.

Graça Guedes
Não, não! No fundo, era para ver se se animavam para falar porque se não... daqui a bocado, ele vai cantar
Vozes

Maria Manuela Aguiar
Temos aqui inscrito o pontapé de saída do Dr. Durval Marques. Vamos ouvir falar de uma tertúlia, que começou como tertúlia e acabou num dos maiores movimentos associativos, que há, hoje, no mundo português hoje.

UM MOVIMENTO SOLIDÁRIO
As Academias do Bacalhau

Durval Marques
A ideia se criar a primeira Academia do Bacalhau surgiu num jantar oferecido ao jornalista de "O Primeiro de Janeiro" do Porto, Manuel Dias, que na altura estava de visita à África do Sul e que teve lugar no "Hotel Moulin Rouge", em Hillbrow - Joanesburgo, em Março de 1968. Estiveram presentes nesse jantar, além daquele jornalista, o Eng.º José Ataíde (já falecido e que ao tempo era Administrador-Delegado da Sonarep - África do Sul), Ivo Cordeiro (recentemente falecido e que foi Delegado do ICEP, na África do Sul), Rui Pericão e Durval Marques. Depois desse jantar, realizaram-se algumas reuniões entre os quatro, para se estabelecer alguns princípios e se pôr a ideia em marcha e, no dia 10 de Junho desse mesmo ano (1968), realizou-se então um grande jantar no Restaurante Chave d'Ouro, em que se comemorou, e pela primeira vez em Joanesburgo, o Dia de Portugal e se inaugurou também a Academia do Bacalhau de Joanesburgo, a que hoje se chama de Academia Mãe.
Foi seu primeiro presidente o Eng.º José Ataíde, que era a pessoa mais idosa daquele grupo de quatro e que costumava referir-se ao facto de ter sido escolhido como presidente com as seguintes palavras: "Na Academia somos todos iguais, pelo que todos são presidentes, mas como alguém tem que dirigir os almoços e tocar o badalo, é só nessa acepção que me considero presidente."
E por falar em badalo, instrumento que se entendeu dever ser usado para impor alguma ordem nos almoços, ele foi feito, e oferecido à Academia, pela Bronzarte, de que eram sócios os saudosos compadres Paulo dos Santos, Latino Carocho e Guy Ferraz. Foi também a Bronzarte que ofereceu os badalos às outras Academias que entretanto se foram criando e, se não favoreceu todas elas, foi porque essa firma acabou por encerrar a sua actividade.
O "Gavião de Penacho" foi importado do "Orfeão Universitário do Porto", organismo de que fiz parte durante 5 anos da sua vida académica, e que era cantado pelos estudantes quando, em grupo, davam azo à sua alegria, à sua boa disposição e até a uma certa dose de alguma salutar irreverência.
É de salientar que, quando o "Orfeão Universitário do Porto", em 1969, fez a sua primeira digressão pela África do Sul, a convite da Academia, os estudantes sentiram-se como que em casa, quando cantavam com os compadres locais o seu "Gavião de Penacho".
Os almoços começaram por ter lugar às sextas-feiras, porque, sendo a maior parte dos portugueses católicos, esse dia era considerado como de jejum, dia em que se não devia portanto comer carne. Depois de alguns anos, mudaram-se os almoços para as quintas-feiras, por ser o dia mais conveniente para a maioria dos compadres, por a sexta-feira ser o melhor dia para os seus negócios. Escolheu-se o bacalhau como prato dos almoços, porque se pretendia estreitar e consolidar uma verdadeira e sã amizade entre todos e o bacalhau, conhecido como "fiel amigo", representava o símbolo dessa amizade. Além do bacalhau, o vinho era português, o azeite também e até o pão (papo-seco) era confeccionado por padaria portuguesa.
O nome “Academia” queria significar mais uma Tertúlia, que congregava pessoas ligadas por uma sólida amizade e que pretendiam valorizar-se e obter o merecido reconhecimento no país de acolhimento, e não qualquer conexão com habilitações académicas, que os seus membros pudessem ou não possuir. De resto, como na Academia os títulos, as posições sociais e de negócios não tinham cabimento nas salas das nossas reuniões, uma tal ligação com habilitações escolares estaria totalmente fora de qualquer contexto. Decidiu-se pelo tratamento de Compadre, porque era esse o nome que se usava dar ao melhor amigo que se escolhia para ser padrinho dos nossos filhos e, na Academia, o denominador comum de união entre todos era exactamente a amizade. Segundo os "Princípios e Objectivos das Academias", que foram feitos para a Academia Mãe e que acabaram por ser adoptados por todas as outras Tertúlias que sucessivamente se foram criando, a definição de Academia do Bacalhau é a seguinte:
"Tertúlia de amigos, que se reúnem sem finalidades políticas, religiosas ou de negócios."
E, entre os seus Objectivos, para além dos que referem ao encorajamento e desenvolvimento de laços de amizade entre os seus membros, independentemente da posição social e grau de cultura de cada um e ainda ao da difusão da sua cultura e valores tradicionais, há um princípio que constitui como que a essência, a razão de ser das Academias, e que é o de: "fomentar, encorajar e desenvolver a assistência moral e material junto dos nossos semelhantes necessitados".
Na Academia Mãe sempre se prestou assistência, começando-se logo nos seus primeiros tempos de existência, e o dinheiro, quando necessário, aparecia em cima da mesa dos almoços ou jantares, contribuindo cada um com o que quisesse e pudesse.
Entretanto, já com outras Academias a funcionar, começaram a surgir imensos casos a necessitar de assistência, principalmente de compatriotas provenientes de Moçambique e, um pouco mais tarde, de Angola, o que originou a que, no IV Congresso das Academias do Bacalhau, realizado na Suazilândia, de 8 a 10 de Novembro de 1974, fosse tomada a decisão de se criar a Sociedade Portuguesa de Beneficência da África do Sul, que começou a funcionar em 1975, embora só fosse oficialmente registada em 13/03/79.
A sua primeira sede ficou instalada mesmo ao lado do Restaurante Chave d'Ouro, onde se reunia a Academia Mãe, e localizava-se no 1.º Andar do Camperdown Building nº. 99, na esquina da Pol1y & Kerk Streets, em Joanesburgo. A Sociedade está agora a funcionar, em amplas instalações próprias, em: 219 - 3rd Street, Albertskroon, Joanesburgo 2195 - África do Sul, onde se situa também o Lar de Santa Isabel, que constitui uma admirável obra de acolhimento para os portugueses da terceira idade e que é considerado um dos melhores lares de idosos do país. Daqui nasceu o movimento das Academias do Bacalhau, que é hoje constituído por 50 Tertúlias espalhadas pelos quatro cantos do mundo e todas elas ligadas pelos mesmos princípios de: amizade e solidariedade. Todas elas apoiam uma ou mais obras de beneficência.
Em Maputo, por exemplo, apoiam a Casa do Gaiato, tendo ajudado a construir o edifício das oficinas e também a capela; em Luanda, dão ajuda a um lar da terceira idade e a uma instituição dos meninos da rua; em Caracas, construíram uma casa para idosos, onde se gastaram cerca de 5 milhões de dólares; em Joanesburgo criou-se um lar para a terceira idade “Lar de Santa Isabel”, que é uma das melhores instituições para idosos da África do Sul, etc., etc.
Realizam-se todos os anos Congressos das Academias do Bacalhau, em sistema rotativo e por ordem de antiguidade das Tertúlias, o último dos quais (o XXXVII) teve lugar em Toronto, em Outubro do ano passado. O deste ano de 2009 (o XXXVIII), efectua-se em Outubro, em Pietermaritzburg, capital de Kwazulu-Natal, na África do Sul e o de 2010 (o XXXIX), em Paris.
Quando há 41 anos se criou a primeira Academia (a Academia-Mãe), em Joanesburgo, os almoços eram quase exclusivos para homens, porque estes trabalhavam na cidade e era muito difícil, por razão das distâncias, que a eles se pudessem juntar as suas mulheres e também outras senhoras. Estas, no entanto, estavam sempre presentes aos jantares, que tinham quase sempre uma ou outra atracção (conjuntos para dança, cantores, fadistas e outros) e que os prolongavam até às primeiras horas da madrugada.
Entretanto, durante este curto período, abriram-se umas poucas excepções nos convívios dos almoços, onde estiveram presentes algumas distintas e queridas senhoras, a quem foram entregues Diplomas de Comadres, das quais se destacam: Amália Rodrigues (foi a primeira Senhora a receber um Diploma da Academia do Bacalhau), Dr.ª Manuela Aguiar e Dr.ª Vera Lagoa.
Hoje, 41 anos depois da fundação deste movimento de Amizade e Bem-Fazer, as Academias do Bacalhau espalhadas pelo mundo constituem possivelmente a organização mais importante da Diáspora, estão abertas a receber, em pé de igualdade Comadres e Compadres e têm já três Senhoras a ocupar o lugar de Presidente das respectivas Academias, como são os casos das Tertúlias de Toronto, Nova Inglaterra e Brasília.

Maria Manuela Aguiar
Eu vou acrescentar uma coisa. Quando a Academia era formada pelos homens, as "comadres" que compareciam nos convívios, como mulheres dos "compadres". Mas, as que, já nessa altura tinha o diploma de membro honorário da Academia do Bacalhau, eram compadres ou comadres?

Voz
Sei, sei, eu percebo... Então eram compadres ou comadres?

Maria Manuela Aguiar
Havia a dúvida. Não sendo casada com nenhum compadre não poderiam ser comadres, mas compadres honorários. O que acham? … A Rainha de Inglaterra… não vamos comparar, mas...
(risos)
Vozes
Why not?

Maria Manuela Aguiar
A Rainha de Inglaterra é, por exemplo, Queen, Duchess, … Tem dezenas de títulos, no feminino, e um, por tradição, no masculino. "Count" ou "Baron", não me lembro e, para efeito de argumento, o título, em concreto, não interessa...

Durval Marques
Posso esclarecer?

Maria Manuela Aguiar
Com certeza! Estamos aqui a debater um ponto importante, a gramática do "género", a discriminação da gramática...

Durval Marques
Inicialmente, como disse, as Academias eram só para homens.
A primeira excepção foi Amália Rodrigues. Foi nomeada como nossa Sócia, como comadre da Academia. O cidadão, compadre, a cidadã, comadre…

Maria Manuela Aguiar
Mas eu não me importava: se a Rainha me quisesse fazer duque de qualquer coisa em vez de duquesa… Olhem que é verdade: a Rainha de Inglaterra tem um título qualquer no masculino!

Voz
Eles iam a restaurantes cinco estrelas...homens de negócios da África do Sul!

Maria Manuela Aguiar
Eu sempre fui uma grande apoiante da Academia do Bacalhau, porque acho excelente que, em volta de uma mesa, não se faça somente conversa.
O Dr. Durval entrou em alguns pormenores, um ritual é muito interessante… Ele, que é formado pela Universidade do Porto, transportou para a Academia do Bacalhau algumas das respectivas praxes!
O Presidente com o tal referido badalo, impõe ali o cumprimento de regras rígidas, cuja infracção dá multa pesada...
Eles não podem falar de religião, eles não podem falar de política... há uma série de restrições, feitas para arrecadar dinheiro... falam, pagam logo uma multa! E, se ninguém se enganar, inventam alguma coisa… para porem dinheiro em cima da mesa, para fins de beneficência!... Acho genial esta ideia.
Sempre compreendi que fossem 100% homens... Também há associações 100% femininas! Fazia sentido um almoço de homens de negócios, porque não havia mulheres nesse sector... Hoje, já vai havendo... mas as mulheres entraram, apesar de tudo, mais na política e muito pouco nos negócios, devo dizer. Bom, vão entrando, à medida que as coisas mudam… A Academia adaptou-se aos tempos. Hoje as mulheres estão lá em pé de igualdade. No Porto, por exemplo, a Academia tem muitas senhoras.

Voz
O que é preciso para se ser sócio?

Durval Marques
Ser convidado por um compadre ou comadre…

Maria Manuela Aguiar
Está convidada, Dr.ª!

Voz
bola preta… é bola preta

Maria Manuela Aguiar
Bola preta? Mas a Dr.ª não apanha bola preta...

Voz – Ó Durval, vamos lá a saber uma coisa. Na Academia do Bacalhau um casal pode estar duplamente inscrito ou só um é que pode estar inscrito?

Durval Marques
Podem os dois...

Manuela da Rosa
Quando começou a Academia do Bacalhau, o meu marido é que estava à frente...

.Durval Marques
Claro!

A LIGA DA MULHER DA ÁFRICA DO SUL

Manuela da Rosa
E nessa altura começavam-se a fazer os jantares e a convidar as comadres, as esposas, que também iam.
Um dia, e eu disse: vou convidar as senhoras que estiverem no jantar do bacalhau, se quiserem juntar-se todas e fazer uma organização de mulheres… Era a 1ª vez que se ia fazer, com estatutos e com tudo, queríamos a coisa realmente formalizada, como deve ser.
(...) convidei as senhoras, as que estavam interessadas nessa organização com fins culturais, etc. Também íamos para os hospitais ajudar as pessoas, traduzir para português isto e aquilo, mas o nosso fim especial não foi propriamente caridade, embora nós, mulheres, saibamos que a beneficência é uma coisa necessária… mas o nosso fim era outro…
Vou dar um testemunho, que é verdadeiro. Trabalhei muitos anos na escola da Associação, quase 40 anos … E o que eu notava nos clubes, é que as pessoas tinham vindo da aldeia, … pessoas inocentes, boas, trabalhavam em todo o lado, mas o tema das conversas, o tema das conversas era muito rudimentar. Os comentários que faziam eram sobre quererem um vestido de noite, ou sobre aquela que trazia não sei que sapatos... E eu ficava triste. Convidavam-me – eu ia para o jantar das associações e pensava assim: realmente, porque não havemos de dar mais um pedacinho de elevação às conversas das senhoras? Temos de lhes dar outros conhecimentos… Eram donas de casa, eram exímias donas de casa, que tinham muito jeito para culinária e outras coisas boas.
Começámos a fazer competições, a ver qual é que fazia, sei lá… um prato mais interessante, para também podermos defender as nossas coisas, os nossos doces tradicionais, os nossos sabores. E começámos a faze-lo, para pessoas desse nível, ficavam muito felizes porque sabiam, faziam realmente doces extraordinários. Arranjaram-se prémios para dar, com júri.
Houve pessoas que escreveram livros…
E, às vezes, convidávamos médicas. Temos, pelo menos, duas ou três médicas que estiveram connosco. Falaram sobre o cancro da mama, e tantos problemas sobre os quais as mulheres precisam de ser esclarecidas... sobre a saúde…
Programas interessantes! As donas de casa vinham e outras, profissionais, engenheiras, aprender coisas tão variadas. Até sobre os astros: havia uma pequena formada em astronomia, em matéria planetária... preparava aquilo de uma maneira realmente extraordinária, com slides muitas vezes (...)
Tenho aqui ao meu lado a Lígia, que é a Presidente da Liga.

Maria Manuela Aguiar
Temos aqui estas duas senhoras que, uma e outra, pertenceram ao Conselho das Comunidades Portuguesas, órgão de elite, onde as mulheres eram raras.
Uma vez, há 4 ou 5 anos, estava eu na Namíbia e comecei a ouvir uma frases estranhíssimas. Só falavam dos Talibãs. Talibãs, entre portugueses? Fiquei completamente perdida no meio daquela conversa. Depois é que me explicaram que os Talibãs eram, naquela linguagem cifrada, os membros do Conselho das Comunidades a nível local, todos homens. Do outro lado, quase só mulheres a tentarem organizar-se.
O CCP, ainda hoje, não tem muitas mulheres, apesar de já ter beneficiado do regime de quotas, mas então era pior...
A partir daí, eu própria, que, como sabem, não me preocupo demais com as consequências do que digo, num Colóquio da Associação "Mulher Migrante", que a Rita estava presidindo, falei do Conselho das Comunidades como um órgão ainda bastante misógeno, de "Talibãs", e a frase veio nos jornais. Foi uma chamada de atenção, tal como acontecera na Namíbia, e com mais efeito mediático. As coisas são para se dizer… E isto tem a sua força: "os Talibãs!" Como mensagem de que é preciso mudar.
Sobre o sistema de quotas no CCP escrevi um artigo - posso disponibiliza-lo, se quiserem - em que procurei fazer as contas aos ganhos reais, separando os casos das mulheres que eram cabeça de lista , e que, à partida, tinham a eleição garantida, e, portanto, não precisavam de quotas para entrar - é o caso destas duas senhoras da RAS, aqui presentes, e de muito poucas mais... - e daquelas que ficavam em 2º ou 3º lugar, que, realmente, podem ter sido agora ajudadas pelas quotas.
Fiz as contas, assim, e algum ganho se verificou, mas não é um ganho extraordinário. Como foi a primeira eleição feita pelo com imposição de quotas pode dar uma ideia do que virá a ser a sua aplicação … nas autárquicas e noutras eleições.

UM PROJECTO LUSÓFONO

António Pacheco
A propósito da lusofonia… e também da língua portuguesa. Em 1989, fui trabalhar com refugiados Moçambicanos do lado Sul-africano da fronteira. Havia para cima de 50.000 refugiados …. Elas… eles vinham de várias partes do país mas, de facto, contactámos através da língua portuguesa. O projecto começou (...) com a questão de um professor de português e fomos à Embaixada, ao consulado… "Os professores de português são para os portugueses" - não podiam ser dispensados para ir fazer esse tipo de trabalho. Depois pensámos…. Porque não fazer uma revista em português só para refugiados, utilizando a língua … e utilizando o inglês?
Mas precisávamos, obviamente, de financiamento. Eu hoje não sei se foi a Academia do Bacalhau, se não (que ajudou...). Nós precisávamos entre os refugiados de distribuir uma publicação na língua portuguesa e posso dizer que era vista como um acto de paixão… eles agarravam nas revistas! … A Manuela estava lá nessa altura...

Maria Manuela Aguiar
Fiquei muito impressionada. Lembro-me que estávamos debaixo de uma árvore enorme, sentados em hemiciclo, e um jovem Moçambicano, não me lembro bem do nome, Pedro, não era? Dizia ele que também para um Moçambicano a língua era um factor identitário… Comovente a forma como eles falavam da nossa língua comum, com paixão, sim, com paixão. A alemães ou italianos, pediam outras coisas, farinha ou arroz, ou materiais de construção... De nós só queriam o ensino do português. Para mim esse apego tão forte foi uma surpresa! Uma aprendizagem...

António Pacheco
As refugiadas, na África do Sul, para poderem sobreviver tinham que esconder que eram Moçambicanas, portanto o português para elas era uma coisa fantástica … Fui ter com ele, vestido quase como missionário...

Maria Manuela Aguiar
Com este ar de missionário que ele ainda hoje tem!...

António Pacheco
Cheguei lá e disse: nós queremos fazer uma revista com estas características e com este fim, que ajudar, de facto, os refugiados a continuarem ligados ao seu país, a continuarem ligados à língua,... E por aí fora. Durante 2 anos a revista foi subsidiada… Capas bonitas, fotografias...

Voz – Como é que se chamava?

António Pacheco
(...) queria dizer o princípio. Nós fomos à Bíblia... ao começo, ao início.
Durante dois anos, nunca mais vi o Durval mas, durante esses dois anos, o dinheiro esteve lá sempre, certo, para a revista. E foi o elo primeiro entre a comunidade portuguesa na África do Sul - havia outros obviamente, não quero ser injusto - e os Moçambicanos, que estavam ali . Todos irmanados numa coisa que era a língua portuguesa.
Era este depoimento que eu queria deixar aqui. Eu acho que hoje há alguma dúvida em relação ao facto de a língua portuguesa ser realmente o elo de ligação. Mas, quando deixar de haver a língua portuguesa para unir as pessoas que estão fora, os emigrantes, os portugueses da diáspora, nós deixamos de ter o poder que temos hoje, deixamos de existir

Voz – É igual ao albanês!

Maria Manuela Aguiar
Exactamente! Portugal, sozinho, é a Albânia do ocidente...

Voz – É isso!

Maria Manuela Aguiar
Os portugueses ainda não se aperceberam disso … é fundamental o Brasil e a África

Vozes - Brasil...

Maria Manuela Aguiar
Sim, é claro, mas a África lusófona também tem milhões e vão crescendo, em grandes países de futuro... (...)
A partir de agora, é capaz de não ser má ideia, quem quiser fazer um "statement" - ai, desculpem ! Devo falar apenas em português, esta língua maravilhosa, mas o inglês saiu-me porque ia propor que fosse falar, um a um, ou uma a uma, como se estivessem numa espécie de "Hyde Park Corner".

Voz – Exactamente, em cima da cadeira ou em cima de um caixote...

Maria Manuela Aguiar
Sim, mas não é preciso subir, basta tomar a palavra...

NO ESTRANGEIRO, FALAR PORTUGUÊS EM FAMÍLIA

Participantes não identificados: "... Muitas pessoas, que vão para o estrangeiro… mandam os filhos para a escola portuguesa mas dentro de casa fala-se inglês "...." ainda quando é inglês, ainda vá, mas quando é inglês com português"…
"Na França é a mesma coisa. Em todo o lado"…" muitas vezes necessário explicar aos pais, que é uma coisa que eles não entendem … às mães sobretudo...

Maria Manuela Aguiar
... Mas sabe porque é que fazem isso, Manuela? É porque as mães entendem que para os filhos serem cidadãos iguais aos outros, no país onde estão, têm sobretudo que falar a língua do país e não o português. Não estou a dizer que esteja certa ou errado...

Voz – É assim, é...

Maria Manuela Aguiar
Concordo… o que eu estou a explicar é o que as pessoas pensam.
Vêm de um meio rural, não sabem a outra língua, valorizam muito quem saiba. Querem que os filhos saibam falar a língua do país e dizem que é a mais importante para eles…
Nós o que temos de explicar às pessoas é que aprender uma língua não impede, antes facilita, a aprendizagem da outra...
E não só aos portugueses...
Por exemplo, na América há, de vez em quando, vagas, como que "Macartistas", contra o que é estrangeiro, não americano, e, neste sentido, houve, há alguns anos, um surto desses contra o ensino das línguas estrangeiras, como se afectassem a qualidade do inglês, não foi?
Isto a nível da política de ensino de um país ou Estado é completamente ridículo! A este nível não se pode ignorar que, quanto mais línguas a pessoa sabe, mais facilidade tem de aprender outras línguas e de as falar todas bem. No Conselho da Europa tive um colega que dominava cerca de 20 línguas...
É como, noutro domínio, por exemplo, defender que os imigrantes devem participar politicamente só no país de residência ou no de origem. Em boa verdade, se os cidadãos estiverem despertos para as realidades da política, querem participar nos dois países, seguem a vida política dos dois países. E, se não tiverem interesse nenhum na política, não acompanham nem uma nem outra. Isto é que é a verdade, não é? E com as línguas a mesma coisa pode acontecer. Mas explicar isto a quem não têm, digamos, a nossa mentalidade, a nossa visão das coisas da cultura, não é fácil. Mas não é caso para desistir.

Maria Amélia Paiva
... Esta realidade é uma realidade que se vive no Canadá e em todas as Comunidades, e, como dizia a Dr.ª Manuela Aguiar, há este preconceito em relação à aprendizagem (...) para que os miúdos melhor se integrem na sociedade onde estão inseridos, na língua do país onde estão. Mas, além disso, há também a necessidade dos pais de menores habilitações literárias aprenderem com os filhos a língua do país onde vivem, e isso é uma realidade que marca muito a vida familiar. Os pais melhoram o seu inglês, o seu francês, o seu alemão, e por aí fora, falando em casa com os filhos. Os filhos trazem da escola a aprendizagem e os pais melhoram o seu domínio dessa língua... e por isso temos que os entender.

Vozes - Não posso estar mais de acordo consigo!

Maria Amélia Paiva
… O estudo de uma jovem universitária que fez uma tese sobre isso... os miúdos são, muitas vezes, utilizados na ida ao hospital, na ida à polícia … é, portanto, natural que uma comunidade que está a integrar-se, a passar todos esses obstáculos, tenha várias estratégias.
... No Canadá, por exemplo, há a possibilidade, e sempre houve, e continua a haver, da aprendizagem de língua estrangeira, o próprio governo canadiano a disponibiliza aos imigrantes. Mas as pessoas têm outras prioridades, a prioridade de ganharem dinheiro … a língua é sempre a última coisa …
As comunidades portuguesas, como muitas outras, tendem a viver juntas, tendem a trabalhar em empresas de portugueses e tendem, muitas vezes, a fazerem toda a sua vida em português.

Voz – Eu sei...

Maria Amélia Paiva
E por isso, às vezes, até para combater isso, eles têm nos miúdos, nos filhos, nos netos, etc., esse interlocutor privilegiado.
Eu defendo completamente, em quase todas as minhas intervenções, a aprendizagem da língua, o papel dos pais e dos avós …. Quanto a falarem em casa em português, não posso estar mais de acordo, mas percebo quais são as circunstâncias que o dificulta.

Voz – eu entendo, eu também estive como imigrante … mas uma coisa é certa, é que essa criança vem do estrangeiro para Portugal e é um estranho!

Maria Amélia Paiva
É preciso perceber uma outra coisa, as segundas e as terceiras gerações não são portuguesas como nós, como os nossos avós e é preciso perceber essa realidade.
Deixe-me só terminar, eu digo isto por várias razões, porque, muitas vezes, as próprias primeiras gerações discriminam as segundas e as terceiras - eu vou ser um bocadinho dura - quando criticam o português daquele jovem, esquecendo-se que, por vezes, também o inglês deles, o francês ou o inglês deles, é o que é, não é perfeito.
O importante é que as pessoas comuniquem, o importante é que eles venham para os clubes e associações.
Quando se queixam: " Sr.ª. Cônsul, os jovens não aparecem, os jovens não querem vir", (respondo) "já lhes deram espaço, já lhes deram responsabilidade, se eles quiserem falar inglês?". O português para eles é a 2ª língua e, nalguns casos, é a 3ª. É preciso ter alguma flexibilidade. Nós temos que os conquistar!

MACAU

António Bondoso
(...) Já que se falou um pouco de Lisboa e da questão da língua… queria só chamar a atenção para um pequeno pormenor. Recebi há dias um mail, que posso disponibilizar para quem quiser, com todo o gosto, uma comunicação de uns amigos de Macau onde está em perigo a livraria. E gostaria que este assunto, porque a Diáspora tem muita força.... (fosse tratado...).Seria óptimo que pudessem passar a palavra durante o vosso encontro, durante o dia de amanhã e depois, enfim, espalhá-la, porque há uma petição a correr … já vai quase em 3700 assinaturas. (…) A livraria - é uma questão muito estranha: é do IPOR, é do MNE, é do MEC, é de muitos e não é de nenhum. E é um grande negócio que se está a tentar gerar ali, através da Fundação Oriente, porque a Livraria Portuguesa é um espaço nobre na cidade de Macau. E, enfim, eu não sei avaliar, hoje, quanto é que valerá aquele espaço, mas vale muito certamente e, por isso, a Fundação quererá alienar o espaço, eventualmente, para bibliotecas particulares. Mas é uma pena porque, para além do sentimento, foram ali apresentados tantos livros, não só em língua portuguesa mas em língua chinesa, inglesa … num espaço tão nobre e era uma pena perder-se... Muito obrigado. Obrigado a todos.

GOA

Graça Guedes
...Eu só queria dar uma achega em termos de paradigma: a Sr.ª Cônsul falou no Instituto Camões. A propósito, direi que, às vezes, os investimentos que o Estado faz que não dão frutos. Eu vou contar uma história que se passou comigo. Fui bolseira da Fundação Oriente e estive um mês em Goa. Fiquei alojada na casa da Fundação Oriente e, no dia seguinte, o Presidente muito simpaticamente convidou-me para jantar. E dizia: "vou aproveitar, pois está aí a Sr.ª do Instituto Camões e assim, dois em um, o jantar é para as duas".
Era no Marriott. Bom, era no Marriot, e eu fui vestir-me assim, melhorzinho, para ir jantar ao Marriot. Ele foi buscar-me à Fundação e deixou-me no hotel, dizendo: "Venho já, vou agora buscar a outra Senhora".
Ele estava com a mulher e o filho e, portanto, não cabíamos todos no carro.
E esperamos, esperamos, esperamos e eu pensei: a Sr.ª mora a 10 km do Marriot. Até que finalmente chega a Sr.ª, de havaianas, com uma saia compridona estilo indiano, um top... Nem boa tarde, nem bom dia, nem boa noite, nem a mim nem à mulher do Presidente da Fundação, que era mais ou menos da idade dela.
Descemos para jantar. Era serviço volante e, claro, o Sr. Presidente começou: "bem vindas", etc. e tal… E ela: "eu estou cheia de fome". Levantou-se e foi servir-se. Enquanto ele escolheu os vinhos ela já tinha vindo e estava com o prato, a comer. Depois, fomo-nos servir e quando nós lá estávamos, ela já estava a ir buscar outro prato. E, a certa altura, da pouca conversa que fez, disse: "ai o Marriot! Eu venho para aqui todos os dias de manhã, estou aqui praticamente o dia no SPA..."…
Eu só lhe fiz esta pergunta: "você não está aqui para o ensino da língua portuguesa?".
Ah, e depois, quando acabou o jantar, o Sr. Presidente levou-nos ao Hotel e, afinal, ela morava do outro lado da rua.
O azar daquela Goa, que tem uma pessoa da Fundação, do Instituto Camões, que está a representar Portugal e é responsável pelo ensino da língua portuguesa e está a fazer pouco de nós. Eu tive vergonha!

Vozes – infelizmente isso não é caso único...

A VERTENTE ECONÓMICA DA LÍNGUA

Voz não identificada
Há outra vertente que eu gostaria de abordar. Que foi iniciada esta tarde mas, obviamente, não havia tempo. Como diz a Dr.ª Manuela Aguiar, agora é que é a altura.
É uma vertente muito importante e que eu menciono sempre, a acho que os jovens são muito sensíveis a ela e temos que ser pragmáticos, porque doutra forma não vamos lá. É assim que os nossos concorrentes vão para o terreno. É a vertente económica! Hoje, à tarde, a Profª Isabel Oliveira, que está em França, mencionava isso e mencionava bem: a opção dela por ir para as línguas aplicadas.
Nós temos de nos deixar de pensar apenas que a língua só é importante porque o Camões foi um fantástico poeta e o Fernando Pessoa também. Às vezes, as pessoas ficam-se por aí e esquecem-se que há muitas outras oportunidades. Oportunidades de negócios, de emprego para os nossos jovens, que sabem falar inglês, que sabem falar francês e que sabem falar português. Isto é um currículo que muitas empresas procuram e muitos jovens portugueses, da diáspora portuguesa começam a perceber isso, cada vez mais. Portanto, é importante ter esta versão economicista, sim, mas sem ela não vivemos...

(Risos)

Voz: todas as vias são boas para chegar à língua e para a defender

Maria Manuela Aguiar
A Doutora Ana Paula também quer falar…
Há empresas canadianas que estão à procura de falantes portugueses. Quem quer falar, levanta-se e fala.

Voz
Essa questão é importantíssima e eu chamei à atenção para ela …
É impressionante vermos, nos programas comunitários, a quantidade de jovens luso descendentes... quando nós vamos a ver são jovens luso descendentes, que vêm da França, que vêm da Suíça, que vêm do Brasil. Os jovens já começaram a descobrir essa potencialidade... é uma competência que hoje as empresas valorizam. Saber português na África do Sul é muito importante

Voz: Agora pode falar

Isabel de Sousa
... o diálogo está a ser interessante, e interessava- me e por isso é que estava à espera.
Antes de passar a palavra, aqui à Dra., queria dizer que temos ali para ofertas as actas do 1º encontro dos escritores da lusofonia que se fizeram cá em Espinho... contos... uma biografia de escritores que a DGLB o Instituto do livro nos cedeu, para oferecermos neste Encontro. Está ali na mesa de entrada. Podem pegar para levar.
Muito obrigada .

O RECITAL DA DR-ª ELSA NORONHA

Sou Elsa de Noronha, e sou filha do considerado 1º poeta Moçambicano de língua portuguesa. Rui de Noronha.
Rui de Noronha em 1929 - ele nasceu em 1909, portanto, em 1929 vinte e poucos anos, 20, 21 por aí - entendeu nessa altura, 1929, que a administração portuguesa colonial lá existente em Moçambique não estava a pugnar pela língua portuguesa, que viria um dia a ser o veículo de comunicação entre todos os moçambicanos. Há 7 línguas divididas em 7 dialectos e portanto uma língua de comunicação seria eventualmente o português e não outra.
Ele dizia isso em 1929 e estamos a discutir agora a mesma coisa.
E bom, eu sou filha dele e passaram-se anos, anos e muitos anos e eu pensava: ainda morro sem ver nada do seu trabalho, porque, como não sou de literaturas, tinha entregue o espólio, para fazerem algo sobre o assunto. Mas como se passaram quase 40 anos e eu não via nada. Bem, não sei se repararam eu já fiz 25… 3 vezes, e eu disse assim: bem, tenho de ser eu a fazer alguma coisa.
Resumindo e concluindo, encontrei uma pessoa que nem nasceu em Moçambique, nasceu em Angola, que aceitou fazer pandam comigo e criámos uma Associação que se chama espaço Rui Noronha.
Associação para divulgar não só o poeta Moçambicano, mas outros poetas de língua portuguesa. Criámos a Associação porque, para editar um livro, não tínhamos uma editora, porque o único editor que aceitou cinco dias depois morreu. Deu-lhe uma coisa… o único que aceitou defender esta dama, morreu! E, então, construímos a Associação, uma Associação e ela está a funcionar, legalmente e tudo o mais.
(...) não sabia o que isto ia acontecer. A esta hora eu pensava já estar em Lisboa, mas, quando me disseram que havia uma tertúlia da lusofonia, fiquei. Amanhã de manhã, às 8 horas da manhã apanho o comboio e vou. Tenho um recital de poesia, à tarde, e tenho que lá estar porque a minha vida, desde 1982 até agora, tem sido assim…
Sou professora de contabilidade mas isso é outra coisa, … o que eu gosto de fazer é na área da poesia - não é a literatura em si, mas a arte de transmitir a poesia.
E trago este livro - trazia um só, para oferecer - e, neste momento, ofereço-o à Biblioteca.
(Palmas)

Já vou para a mesa. Não posso carregar esta tralha toda e mais esta prima do Canadá que anda sempre comigo. Esta prima que … é a canadiana ...
(Risos)

E este é o CD, que dura para aí… não chega a uma hora. 50 m ou coisa parecida. E o resumo do livro, porque o livro é o desenvolvimento. Temos um CD, que também ofereço, e que costuma vir acompanhado com o livro. Isto é assim: se a gente faz um CD, as finanças mandam-nos pagar (na altura ) 21% ; se a gente faz um livro ,as finanças mandam pagar 5% . Mas se a gente mete os dois num envelopezinho, que é o que a gente tem feito, só paga os 5%. Os 21 não pagamos.
(Palmas)

Aqui a professora de contabilidade ajuda … é fundamental !

Maria Manuela Aguiar
E agora, Dr.ª Elsa, com essa bela voz que Deus lhe deu vai recitar um poema?

Elsa Noronha
Já agora … em termos de língua portuguesa eu decidi seguir algumas pegadas do Rui, do Rui de Noronha. Editei o 1º CD recital de língua portuguesa quando estava quase a reformar-me – a passar a outra actividade... Não posso da-lo, porque está esgotado. Depois, há um 2º recital de língua portuguesa “Natal, pedir a Paz, exigir a paz”. Há um 3º, está esgotado, que é Brasil e África só… só Brasil e África ...

Claudia Ferreira
E eu não ganhei um!.. Eu tenho um programa de rádio para 700 mil pessoas…

Elsa Noronha
Então vamos falar depois, já a seguir.
Depois, há um 4º recital de poesia, também, de Portugal …. E de Timor, mas com incidência maior em Moçambique. E um 5º, este que aqui está.
São 5 recitais de língua portuguesa, porque não encontrei, na altura, ninguém que estivesse a fazer este trabalho, e até hoje duvido que haja alguém o esteja a fazer…
São antologias faladas, ditas, antologia de língua portuguesa, poetas de língua portuguesa.
O livro fica aí e mais o CD para a biblioteca…
Não teria posto aqui mais uns? Tinha posto mais… se calhar estão ali dentro, devem estar ali. Não vou vende-los. Lá em casa vendo-os mas aqui não…

Voz: Já agora, porque não, Dr.ª Elsa?

Elsa Noronha
Não, não sei. Sei lá ! Faz-se um sorteio. Devia ter trazido mais, mas não posso com o peso… Ali, quem reclamou...

Claudia Ferreira
Eu quero o Brasil

Elsa Noronha
Está esgotado. Nós vamos conversar para eu mandar uma cópia. Está esgotado
Voz: Vai fazer agora pirataria da sua própria obra
Risos

Voz: Auto pirataria

Claudia Ferrreira
Os meus ouvintes são 60% brasileiros. E os portugueses também contam.
20% Portugueses da velha guarda e o resto chineses, japoneses e espanhóis… O programa existe há 30 e tantos anos …eu quero levar essa da antologia Brasil

Vozes: Mas já ouviu a Dr.ª Elsa cantar?
Vamos lá – canta… canta…

Elsa Ferreira
Eu vou beber água… tenha aqui o copo onde bebi vinho
Vinho e água ligam bem. Eu estava com sede
Há pessoas que são capazes de olhar para um poema antes e dize-lo logo. Eu tenho poemas que me levaram mais de 30 horas a preparar antes de o ler no palco.
Preciso de o sentir. Ás vezes, preciso de o escrever, preciso que ele penetre
Tenho de o interiorizar, para o interiorizar mesmo que não o diga de cor. È só por isso que eu não vou ler porque realmente não posso. Antes de cantar alguma coisa, porque eu não vou cantar em português...
Voz: Mas nós adoramos, em qualquer língua ...
Não tem importância, a música é uma linguagem universal

Elsa Noronha
Vou dizer alguns poemas

Quero cantar,
Fazer poesia, ir ao campo colher flores
Quero chorar e ter muito amor para dar
Quero gritar a liberdade que Deus me deu ao nascer
Quero dar sem me obrigarem
Quero ter o meu viver
Por favor não quero mais estar viva só porque
Quero amar a toda a gente sem ter nada que temer
Só assim serei mulher
Só assim serei feliz
Gritando a todos bem alto
Vivi a vida que eu quis
(palmas)

Não sei se continue nesta toada, se…

(Força, força)...

Fina D’ Armada, mulher portuguesa

"Também é possível ser mulher,
É possível ser mulher sem ser pecado
Nascer de Eva sem mito amaldiçoado
É possível ser mulher e não só corpo
Mercadoria de estrada e de afectos
Sem uso e sem preço de objectos
É possível mudar costumes
Mudar normas
Amar sem sofrimento, sem tortura...
É possível conhecer a liberdade
Divisar outro amanhã, outro horizonte
Subir à árvore e voar para lá do monte
É possível saltar muros jamais saltados
Descobrir a luz de estradas por achar
E caminhos que nunca foram encontrados
É possível ter história...
Deixar nomes em Avenidas e na arte
E na música e na pedra. Em qualquer parte
É possível dirigir empresas, multidões
É possível a paz construtiva
E o amor implementar entre as nações
É possível ser mulher sem ser pecado
Ser na terra simplesmente criadora... "
(Palmas)

De Heliodoro Baptista – Poeta Moçambicano. Não vou ler o poema todo, queria ler só um, um excerto de "A mulher do meu país":
Há ainda todo o peso do mundo
sobre os teus ombros. O peso concreto
de uma opressão que vem da hora do primeiro fogo
- e, é distante como a própria idade da pedra.

Mas hoje - agora, neste país,
neste 1º ano duma liberdade a amadurecer
como um sol definitivo entre as nossas veias
juramos-te que serás livre e emancipada
como o país que exige
como o homem merece.
(Palmas)

De Rui de Noronha, meu pai, 1932: "a Preta"
A preta é simplesmente mulher, eduquem-na, instruam-na, guiem-na com o carinho e o mimo com que guiais e educais uma criança e tereis na preta uma futura mãe. Mãe no dilatado sentido de mulher que educa, que guia e ampara os primeiros passos dos filhos...
No berço está o futuro de um povo, vigiai um berço e vigiareis um povo, vigiai uma mulher e vigiareis um berço".
(Palmas)

"Há uma razão para cada um de nós se encontrar neste mundo. Temos de descobrir a razão porque existimos... como podemos servir a humanidade e quais serão os nossos talentos especiais, porque cada um de nós possui um talento especial, que ninguém mais possui. Cada um de nós tem uma maneira especial de exprimir … talento que também mais ninguém possui… razão para cada um de nós se encontrar neste mundo, temos de descobrir a razão porque existimos".
(Palmas)

Eu às 8 da manhã tenho mesmo que ir embora, porque… porque tenho um recital de poemas, deste género, a 8 de Março...

Maria Manuela Aguiar:
Por sorte, nós tivemos aqui a antevisão... E vai cantar também?

Elsa de Noronha
Vou cantar qualquer coisa. Ah, não. Antes disso… "O batuque". A pedido, a pedido…
Eu não o trouxe, vou ver se consigo dizer todo de cor. O batuque é um poema escrito por uma mulher portuguesa, Manuela Amaral, que viveu tantos anos em África.
Vou tentar, porque eu não o trouxe. Eu estudei-o e interpretei-o em vida dela… e perguntei se ela autorizava … Se eu tenho que fazer uma interpretação e se o escritor está vivo eu peço-lhe autorização. Se não está e eu conheço, eventualmente, alguém da sua família, peço-lhes autorização, se não olha…

O batuque , o batuque
O batuque, tuque, tuque

Esperai por mim, minhas irmãs negras:
Estarei convosco antes do amanhecer
tuque, tuque
No vosso batuque as minhas mãos brancas
tuque, tuque
baterão o compasso ao som das marimbas
tuque, tuque
Sem ter cansaço, vossos corpos ágeis
Dançarão ritmos sagrados, dançarão
Sobre o capim a arder
O batuque não é alegria
nem alegria, nem tristeza
É oração e é esperança

O batuque, o batuque
O batuque, tuque, tuque

Bailai e rezai minhas irmãs negras
bailai e rezai antes do sol romper
(Separam-nos os muros de um hospício de alienados, onde estou pensando...)
Fora, no escuro da selva,
tuque, tuque
Nossos irmãos doentes acendem fogueiras
E agachados sobre a relva, esperam
Esperam energia para entra na dança
Bailai e rezai, minhas irmãs negras!
Movida pela vossa alegria,
Antes que nasça o dia e surjam novos afãs
Antes do astro da noite
celebrar a sua morte
E ainda antes do sol nascer
Tomada da vossa sorte
Convosco hei-de ser!
Estarei no batuque
Tuque, tuque,
tuque, tuque,
tuque, tuque..."
(Palmas)

Agora cultura europeia: Ave-maria, de Gounot...
Vamos ver como me saio desta...
(canta e é muito aplaudida)

Vou terminar com Summertime, há aqui muita gente a falar inglês!
(Palmas e risos)

Cantou, de novo, como se tivesse 30 anos. Uma voz poderosa e fascinante e uma maneira de "saber cantar" igual à sua maneira de "saber dizer" poemas.
E, assim, com muitas, muitas palmas, com alguém a dizer "inolvidável", com abraços de despedida, terminou a Tertúlia da Lusofonia.

Maria Eduarda Fonseca


Comentários
Maria Teresa Aguiar disse
A Eduarda aposentou-se recentemente da Caixa Nacional de Pensões, mas antes, nos anos 80, foi assessora no Gabinete da Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, e, mais tarde, por algum tempo, funcionária do Consulado de Genebra.
O gosto pelas questões da emigração, como se vê, perdura. A par do gosto por tudo quanto é africano.
Viveu uns anos em Luanda e, como me confidenciou, para ela, a Tertúlia da Lusofonia, com aquele espantoso final, oferecido pelo talento de Elsa Noronha, foi o ponto alto deste Encontro.
Por isso foi "voluntária" para fazer este trabalho de selecção de textos. Nós agradecemos!

Maria Manuela Aguiar disse...
Também para mim constituiu um "momento alto" esta Tertúlia, onde tivemos tempo para falar sem os constrangimentos de um programa sobrecarregado - o tempo que nos faltou nos paineis e conferências, no Centro Multimedia... Foi. aliás, por prever essa situação que surgiu a ideia da reunião informal na Biblioteca, logo aceite pela Dr. Isabel de Sousa.
Nessa noite. tinhamos inicialmente previsto um espectáculo, ou uma ida ao "casino" - na boa tradição espinhense, já que o crescimento desta terra se fez à volta da praia de mar, do Casino, dos Cafés-concerto, das tertúlias de café (e graças à bendita linha de caminho de ferro para o Porto e para o interior!).
Mas, quanto a espectáculo de música e poesia, tão consentâneo com o "espírito" do nosso congresso, ninguém seria capaz de superar Elsa Noronha!

Mas também se abordaram questões polémicas, como o "sistema de quotas".
Aqui deixo o artigo meu, que referi, durante a Tertúlia, e que foi publicado em Maio de 2008

ENSAIO PARA A LEI DA PARIDADE (O CCP)
Se bem me lembro, foi em 5 de Abril de 1981, no salão dos espelhos do Palácio Foz, ladeada por vários membros do Governo da República, representantes dos Governos dos Açores e Madeira e deputados, com pompa e circunstância e larga cobertura mediática, que presidi a uma breve e histórica sessão de abertura do primeiro Conselho das Comunidades Portuguesas. Os espelhos reflectiam os rostos dos conselheiros, rostos masculinos. Mulher, apenas uma jovem jornalista de Paris, Custódia Domingues, com o estatuto de observadora… Desde então, a diminuta participação feminina tem sido uma constante na vida do CCP, através das suas várias encarnações. O CCP para 2008 / 2012, que acaba de ser eleito, a 20 de Abril, se não for por outras boas razões – e esperamos que também seja – pelo menos por uma já assegurou um lugar na História, não só na da própria instituição, como na do sistema eleitoral português. De facto, converteu-se na nossa primeira experiência de aplicação da legislação para a paridade, antes das eleições para a Assembleia da República, o Parlamento Europeu e as autarquias, em 2009. A todas se aplica a Lei Orgânica nº 3/2006, de 21 de Agosto – a Lei da Paridade, que obriga a um mínimo de 33% de representação de um ou outro sexo nas candidaturas concorrentes e a ordenação das listas, por forma a que não haja mais de dois candidatos do mesmo sexo colocados consecutivamente. A Portaria nº 112/2008 de 6 de Fevereiro, que regulamenta o CCP, inspira-se nessa estatuição e significa a ruptura com um passado em que a maioria das listas era formada apenas por homens. A partir de 2008, pelo menos o terceiro homem baixa de lugar, para dar lugar a uma mulher. O impacte positivo da lei foi a meu ver sobretudo conseguido pelo número de mulheres colocadas nesse 3º lugar… Há 13 mulheres no total de 58 Conselheiros eleitos. São mais de 20% - longe dos 33% que a legislação visa assegurar, mas longe também dos 8% do Conselho anterior. Face aos números disponíveis (ainda não a titulo oficial) começamos por perguntar: foram alcançadas as metas da paridade? Em que medida a margem de visível progresso (uma vez que mais do que duplicou a participação das mulheres), se deve ao intervencionismo do legislador? Para responder, teremos de comparar o que é e o que poderia ter sido, sem a regra da paridade, a presença feminina. Ou seja, comparar uma certeza com meras hipóteses… É preciso olhar, antes do mais, o posicionamento das candidatas, que alcançaram a titularidade deste órgão. Na verdade, parece-nos razoável afirmar que aquelas que surgem à cabeça de uma lista são as que, com quotas ou sem quotas, estariam no CCP. Só cinco das eleitas encabeçavam listas: na Austrália (uma reeleição), no Canadá, na Venezuela, na Suíça e em França. O segundo lugar é de leitura mais ambígua. Admitamos que se ele era, no cálculo de probabilidades, considerado ainda na zona de elegibilidade há que assimilá-lo ao primeiro. Se não, ao terceiro… Contamos duas eleitas, nessas circunstâncias, no Canadá e na Venezuela. Na dúvida, vamos supor, que só beneficiaram, em linha recta, da norma impositiva as seis eleitas no 3º lugar: em Macau, Brasil, (São Paulo / Santos), África do Sul, Alemanha, Reino Unido e Suíça. Cerca de 50% das eleitas, o que não é de menosprezar. Constatação óbvia: a eficácia da lei foi nula nos pequenos círculos, onde se elege apenas um representante. Aí as mulheres ficaram, quase sempre, de fora – na Argentina, no Uruguai, na Bélgica, no Luxemburgo, na Suécia. Tal como nos círculos em que se verifica o fraccionamento de voto pelas várias listas em confronto: no Brasil (com uma excepção devida à inesperada vitória dos três representantes da lista de Santos, que fizeram o pleno no círculo de São Paulo); na França (salvo em Estrasburgo) ou nos EUA, onde não há uma só eleita! Lista única nos grandes círculos, ou lista votada esmagadoramente, é o que mais favorece a consecução dos objectivos da Lei. O que mais a prejudica é a dispersão, ou um maior equilíbrio entre múltiplas candidaturas. Uma contingência, que se torna, afinal, factor de crucial importância. Prognóstico para 2009: reservado… A ver vamos o que acontece, muito em particular nas autárquicas, que são aquelas onde se regista o maior desfasamento no número de homens e mulheres (94% e 6% respectivamente). Aí dificilmente se atingirá o patamar dos 20%, muito dependendo da concentração ou dispersão de votos por várias listas. Por exemplo, num executivo de 7 membros o 4-3 assegura, no mínimo, duas mulheres no executivo, tal como o 7-0, enquanto o 2-2-2-1 pode dar-nos uma presidência e vereação 100% masculina…

Recordando o 8 de Março em Espinho

Drª MARIA MANUELA AGUIAR
Cidadãs da Diáspora e algumas dezenas dos participantes do "Encontro em Espinho" comemoraram o "Dia Internacional da Mulher", num almoço realizado no Complexo de Ténis desta cidade - um convívio, que prolongou, afinal, os trabalhos dos dias 6 e 7, continuando o debate sobre as migrações, com as mulheres num lugar central.
O microfone passou de mão em mão, ao longo de quase três horas.
As "representantes" dos "Encontros para a Cidadania" tomaram a palavra para nos falar das suas comunidades, e da vontade de mobilizar as emigrantes, à sua volta, para uma maior intervenção cívica e política. E também nos deram conta dos progressos registados, após aqueles "Encontros", no que respeita à colocação destes temas em agenda (nosso objectivo imediato), por se saber quanto as questões, quer das mulheres, quer da emigração, em geral, são, entre nós, desvalorizadas e esquecidas, e quanto isso dificulta o encontrar de soluções - como nos disse, numa brilhantíssima conferência de encerramento do "Encontro em Espinho", o Prof. Doutor Eduardo Victor Rodrigues...), e também, na abertura de novos espaços à intervenção cívica das mulheres, dos jovens, dos idosos, dos estrangeiros, dos migrantes, nas sociedades em que vivem ( nosso objectivo principal).
Depois, foram muitos os que quiseram deixar, ali, oralmente, o seu testemunho, ou mensagem simpatia e de união, em torno desta causa comum, da igualdade entre as pessoas, mulheres ou homens.
Rita Gomes lembrou, numa curta e emocionada intervenção aquelas e aqueles que já partiram, mas vivem na nossa memória, e são parte de um percurso que seguimos, por elas e por eles.
Por fim, lemos, entre muitas, as mensagens: do Dr. António Braga, desde o início do Encontro, foi merecedor de muitas referências como grande impulsionador destas tniciativas, a Drª Maria Barroso Soares, a Presidente de Honra, que abriu o "Encontro" e nos acompanhou nesse primeiro dia, da Drª Isaura Gomes, Presidente da Câmara de Mindelo, que nos convida para um próximo reunião em Cabo Verde; do Dr. António Gomes da Costa, Presidente da Federação das Associações Portuguesas e Luso Brasileiras, que sempre se tem interessado pelo nosso trabalho.
E, obviamente, concluimos saudando os responsáveis pelas instituições de Espinho, que connosco, tão bem e de forma tão espontânea e generosa, colaboraram e o Presidente da Câmara José Mota, um amigo e um aliado imprescidível ao êxito de um empreendimento - que, de facto, só ousamos, porque o seu apoio estava garantido, quando ainda nenhum outro o estava... O enorme aplauso com que lhe agradecemos, exprimia bem o sentimento geral!
Esta uma primeira síntese do que aconteceu neste convívio. Ficamos à espera de outros relatos e comentários neste blog, que prossegue, até considerarmos ter obtido os elementos para a publicação sobre o "Encontro" .
Houve várias formas de presença, de manifestação de amizade e de consonância de ideais nas iniciativas que, em Espinho, se organizaram para falar sobre as Cidadãs da Diáspora.

MESTRE ARCELINA SANTIAGO
O Encontro em Espinho “Mulheres da Diáspora” culmina com um almoço comemorativo e simbólico, das Mulheres da Diáspora, no dia Internacional da Mulher.
A necessidade de todos os anos, a nível internacional, ser agendada esta comemoração prova que a situação das mulheres é ainda precária em todo o mundo, que a igualdade ainda não foi reposta e, por isso, a democracia ainda não está ainda verdadeiramente consolidada. No novo paradigma de sociedade global estas fragilidades são também mais visíveis.
A situação das mulheres na sociedade continua a reproduz formas de discriminação que terão de ser combatidas. As mudanças urgem para que a democracia seja consolidada
Palavras-chave: Dia Internacional da mulher, mudanças situação precária.
Este dia é, essencialmente, um convite à reflexão sobre o papel da mulher na sociedade, ainda repleto de limitações e preconceitos. Disso, são provas os diversos testemunhos, narrativas de vida de mulheres (também de mulheres migrantes). Serve também como alerta para uma tomada de consciência da necessidade de se estabelecerem estratégias mais eficazes e contínuas que contribuam para um maior equidade entre os géneros e pela dignificação da Pessoa.
A igualdade de género não é só uma causa ou utopia: é o modelo de organização social que a Constituição Portuguesa preconiza e que determina que o Estado promova como tarefa fundamental (artigos 9º alínea h, 13º,26º,109º, Constituição da República Portuguesa). A igualdade do género não é uma opção de opinião pessoal de que se possa desinteressar o Estado de direito porque é uma das bases em que assenta a República.
Como especialistas nestas questões têm também referido, o conceito “ Direito da Igualdade de género” tem em conta o modo assimétrico como a sociedade vê as mulheres e os homens, mas que, partindo da realidade dessa assimetria produzida e mantida pelos papéis sociais que, em todo o mundo, secundarizam as mulheres perante os homens, tem por objectivo ultrapassá-la e gerar a igualdade. Não se assume o diferencialismo como forma de organização social, ou seja, a armadilha de que o feminino é um mundo em si e o masculino é um outro. Este conceito reflecte a tese de que, embora, na prática, a normatividade social reforce a desigualdade por causa do sexo, o direito recusa esta situação e quer alterá-la, para que se atinja a participação equilibrada de homens e mulheres em todas as esferas da vida, concretizando afinal o “ primado da cultura sobre a natureza”, como Badinter refere (2003).
Porque a Constituição, a legislação nacional, o direito comunitário e o direito internacional integram normas que proíbem a discriminação e reconhecem a igualdade de homens e mulheres e normas que visam operacionalizar esse reconhecimento para concretização na vida real, será necessário que todos, homens e mulheres, possamos contribuir para a implementação de uma verdadeira equidade entre os géneros.
Começo, então, por lamentar que, até ao momento, a Estratégia de Lisboa, na perspectiva do género, tenha ficado muito aquém, do que era proposto, pois, na prática, os vários Estados-Membros não colocaram ainda, nas suas agendas políticas, o tema da igualdade como absoluta prioridade e a colaboração apenas aconteceu entre governos nacionais.
Também o quadro europeu para a igualdade - 2007 definia uma política de igualdade como verdadeira prioridade, sobretudo no que respeita à saúde sexual e reprodutiva, ao emprego e à qualidade do trabalho feminino, à vida familiar e à inclusão social das mulheres mas , nem por isso, aconteceram mudanças significativas, tal como era esperado, como nos dão prova os estudos recentes, as estatísticas, as narrativas os de vida e testemunhos de mulheres em todo o mundo. Com o mundo inteiro a viver uma forte recessão e uma grave e intensa crise económica, acontece serem os mais frágeis a serem esquecidos e por isso, a necessidade de continuar a colocar, na agenda do dia, de todos os dias, a luta incessante por uma sociedade paritária.
Em relação ao nosso país e, de acordo com diversos estudos nesta área, o panorama afigura-se mais preocupante, dado que as mulheres são, em Portugal as que mais sofrem com o flagelo do desemprego, as que auferem menores salários, mesmo tendo maior qualificação e as que se situam em menor número em lugares de gestão, liderança e cargos políticos. São elas que mais sujeitas estão ao tráfico para fins de exploração sexual e as que figuram no maior número de vítimas de violência doméstica. São também as que mais se ocupam com o desempenho de tarefas domésticas e dos cuidados, quer ascendentes quer descendentes, tarefas essas não remuneradas e com pouco reconhecimento social.
Se muito pouco foi feito até aqui, será necessário que, doravante, aconteça uma maior intervenção das administrações nacionais, locais, das empresas, dos parceiros sociais e da sociedade civil em todo o processo, nomeadamente na definição de medidas concretas a favor da conciliação entre a vida profissional, familiar e privada, nomeadamente: a promoção de estruturas de guarda de crianças e de outras pessoas dependentes, de boa qualidade e a preços acessíveis; medidas eficazes em prol dos homens tais como a promoção de sistemas adequados de licenças parentais; organização de campanhas de sensibilização tendo em vista um maior investimento dos homens na esfera familiar; maior equilíbrio na divisão da tarefas entre os géneros, principalmente no papel da responsabilidade das tarefas sociais de cuidados; medidas que possam esbater as discrepâncias salariais e ainda legislação que abranja a protecção social, incluindo a assistência médica e a educação.
Será necessário que, em termos o locais, o poder político e sociedade civil, mais próximas dos problemas que afectam as mulheres, possam desenvolver acções dinâmicas e medidas de discriminação positiva no sentido de apoiar as mulheres em termos psicológicos, sociais, profissionais, incentivando a criação de modelos positivos que possam enriquecer a perspectiva da igualdade. Seguramente que só desta maneira se poderá promover uma sociedade mais justa, equilibrada e com melhor qualidade de vida, principalmente quando todos reconhecemos que a igualdade entre homens e mulheres é um instrumento de coesão social e de desenvolvimento económico.
Arcelina Santiago
Mestre em Ciências Sociais, Políticas e Jurídicas da Universidade de Aveiro


PROFª `NATÁLIA RENDA CORREIA
OLÁ, Dr.ª Manuela
Como está, espero que tudo bem, pelas noticias que trouxe a D. Violante foi um sucesso o fechamento dos Congressos que se realizaram em diferentes paises, pois bem, tanto trabalho prévio... em boa hora tudo esteve ao melhor nível.
Para mim sempre é muito grato saber do triunfo dos trabalhos que fazem as Mulheres, embora tenham apoio dos homens, mas a iniciativa é diferente onde uma Mulher toma a decisão. Parabéns pelo esforço, já vi todo o trabalho e recompilação que fez durante todos os Encontros. Agora quero contar-lhe que ontem a Associaçâo Mulher Migrante (sua filha) festejou o Dia Internacional da Mulher, no Clube Português com uma homenagem à grande do Fado AMÁLIA, o DVD. O relato foi feito pelo nosso conselheiro e realmente é um grande trabalho, fazendo un relato da vida desta grande Mulher, que pelo que diz ela em declarações às radios, nunca foi Feliz. Vivemos seus primeiros días do canto, quando foi condecorada pelo Presidente Dr. Mário Soares e Dra. María Barroso, acompanhado nessa oportunidade pelo atual Presidente Cavaco Silva e Esposa. As pessoas que assistiram a este acontecimento foram muito felizes por tudo o que puderam ver ... coisas que nunca tinham visto da grande Amália.
Premiamos a Mulher 2009, é uma Sra. da Associação, a Sra. Mirta Tossoni , actualmente a nossa Tesoureira, grande pessoa pela humanidade e pelo criterio que tem nas suas participaçôes dentro da Comissão Directiva, como outros trabalhos realizados na comunidade Argentina, numa Sociedade de Fomento- ajudaram a construir uma Escola para meninos carenciados e muitas outras tarefas ligadas com a Comunidade Boliviana que emigrara para a Argentina. Esta senhora está casada com um Português e é pelo trabalho feito, sendo Argentina, que foi eleita pelas colegas da Associação.
Hoje nos programas radiais dos Clubes falavam da nossa festa de ontem, é muito estimulante escutar as diferentes Sras. ligar para a Rádio e fazer seu comentário.
O Sr. Embaixador representou a sua Mulher, que estava em Portugal. GRANDE HOMEM, realmente! Teve palavras gratas para todas nós, foi uma honra que estivesse connosco.
Sei que a Dra. gosta de estar informada, é por isso que lhe mando este "informe".
Um grande abraço desde meu coração

PROFª NATÁLIA RENDA CORREIA
Feliz Dia da Mulher
Feliz Dia de La Mujer
Estimadas Amigas de PORTUGAL - que hoje estão no Congresso de Espinho - Porto, que lutam pela Igualdade dos direitos da Mulher, como as que longe da sua terra e trabalham para melhorar as condiçôes do género feminino,
Amigas que estâo em BRAZIL... FRANÇA - SUÉCIA... e outros paises,
A todas colegas que defendem os direitos da Mulher... lhes desejo
"""UM MUITO FELIZ DÍA DA MULHER"""".
Amigas del Voluntariado del Hospital Vicente Lopez,
amigas personales, compañeras de lucha en el que hacer diario... mi admiración por la tarea que realizan para todas.
FELIZ DÍA DE LA MUJER

8 de Março de 2009
Natália M. Renda Correia


DR.ª MARIA BARROSO
Dia da Mulher em Montreal
Impossibilitada de estar convosco por razões de compromissos tomados antes, quero afirmar-vos, porém, que me sinto junto de vós, em pensamento e coração.Já tivemos ocasião de nos encontrarmos – por mais de uma vez – nessa terra tão bela e sedutora que é o Canadá. Vossos pais foram seduzidos por essa parte do mundo, embora levados, a maioria das vezes, por razões de carências ou dificuldades encontradas no nosso país dessa época. E foi o acolhimento generoso e fraterno que encontraram no novo país que os estimulou a trabalharem e a sentirem-se parte integrante dele. E o vosso esforço admirável, obviamente!
Mas o que me emociona no contacto convosco é, para além da gesta por vossos pais e por vós próprias vivida, a maneira como souberam impor-se nessa sociedade, na nova sociedade, integrando-se nela e enriquecendo-a com a vossa postura, inteligência, saber e elevando e honrando o nome do país onde mergulham as vossas raízes. Por isso sinto que representa para mim, de certa forma, uma perda lamentável o não estar hoje convosco, com as que aí vivem e com as que se deslocam de outras partes do mundo a essa.Os problemas que vão debater são muito importantes e já tenho tido ocasião de o fazer quer aí, quer nos outros países por onde temos andado – a Dra. Manuela Aguiar, minha querida amiga, outras queridas amigas também e eu – e nos quais devemos insistir até que consigamos vê-los, definitivamente, resolvidos.
Para bem das mulheres e da sociedade em geral.
É que os Direitos Humanos não podem ser apenas declarações de intenção mas deverão ser respeitados, sobretudo os das mulheres que ainda os vêem feridos. Fizemos já grandes progressos mas não os suficientes para que a mulher viva com a dignidade a que tem direito e lhe é conferida pelos documentos que desde há muitos anos assim o declaram.
A mulher migrante tem sido alvo da nossa imensa solidariedade e, por isso, não a queremos esquecer e lhe desejamos levar o apoio, a solidariedade e a amizade que ela nos merece. E lembrá-lo, nestes dias em que celebramos o Dia da Mulher, é para nós um verdadeiro imperativo da nossa consciência de cidadãs portuguesas.
Abraço todas muito afectuosamente e desejando-vos que mantenham a vossa determinação e coragem nesta grande batalha dos Direitos Humanos cuja vitória respeita a toda a Humanidade.
Maria de Jesus Barroso Soares
22 de Março de 2009


DR.ª GORETTI SÁ
Relatório sobre a Comemoração do Dia Internacional da Mulher
Comemoração do Dia Internacional da Mulher. A discriminação é uma realidade que tem acompanhado gerações e gerações. A discriminação de género não só está enraizada na nossa sociedade como dita muitos dos actuais comportamentos desviantes e muitas das violações de Direitos Humanos cometidas na actualidade. As mulheres e raparigas de todo o mundo enfrentam situações de discriminação de género ao longo dos seus percursos de vida. Um pouco por todo o mundo, elas são vítimas de violência sexual, assédio e perseguição. Sofrem violações dos seus direitos básicos, ficando com mazelas físicas e psicológicas para toda a vida. Os seus direitos humanos – direito à liberdade sem violência, à igualdade e à educação – são violados.
A Escola e outras instituições deverão constituir espaços seguros de aprendizagem, para a construção profissional e pessoal das Mulheres e Jovens. Por isso, diferentes autoridades estatais e administrativas, como os professores e outros profissionais deverão proporcionar a discussão da discriminação de género. A violência existente, por exemplo, entre casais, considerada, por vezes, como “normal”, obriga-nos à acção urgente e imediata. Neste contexto, a educação para os direitos humanos é considerada um elemento fulcral para a existência de uma cultura de paz, baseada nos direitos humanos, como oposição a uma cultura de violência.
No dia 6 de Março de 2009, a Escola Secundária Dr. Manuel Laranjeira comemorou o Dia Internacional da Mulher. No âmbito da disciplina de Área de Estudo da Comunidade, do décimo segundo ano, do Curso de Animação Sociocultural, os professores Goreti Sá e José Neves organizaram duas sessões de debate sobre a discriminação de género, dirigidas por três colaboradores da Amnistia Internacional Portugal. Uma sessão foi vocacionada para os alunos das turmas A e B, do sétimo ano de escolaridade, que decorreu na Biblioteca da Escola. A outra sessão foi dirigida aos alunos do décimo segundo ano, do Curso de Animação Sociocultural, que decorreu no Anfiteatro.
A comemoração do Dia Internacional da Mulher incluiu também uma exposição no polivalente da Escola, com cartazes de divulgação da “Origem do Dia Internacional da Mulher”, da “Breve História da Amnistia Internacional” e dos “Direitos das Mulheres”. Contou, igualmente, com uma apresentação de cinco mulheres activistas, duas das quais portuguesas, Maria da Conceição Zagalo e Manuela Silva, defensoras da Responsabilidade Social e da Paz e dos Direitos Humanos, respectivamente. Os alunos do décimo segundo ano da turma F, do Curso de Artes Visuais, sob a coordenação dos professores Madalena Pinho e Sérgio Silva, participaram nesta iniciativa com a realização de lindíssimos trabalhos de pintura e fotografia, entre outros, que contribuíram para tornar mais bela a exposição. Também podiam ser admiradas imagens de rostos de Mulheres oriundas de diferentes partes do mundo e, consequentemente, de diferentes culturas, com o objectivo de sensibilizar a comunidade escolar para a aceitação da diversidade cultural. A professora Adélia Reis promoveu a actividade “Mulher na poesia”, solicitando aos seus alunos a recolha de poesias sobre a Mulher. As alunas do curso de Animação Sociocultural foram fotografadas pelos alunos da turma G do décimo ano, do Curso de Multimédia. Os alunos manipularam posteriormente as fotografias, no sentido de evidenciarem nas jovens sinais de violência. As fotografias estavam exibidas num placard com o título “Diga não à violência contra as Mulheres”. Esta actividade foi orientada pela professora Isabel Couto. Todas as portas das salas de aula de cada um dos pavilhões continham informação sobre factos e números da violência sobre as Mulheres, fornecidos pela AI Portugal.
No seguimento de um contacto efectuado junto da instituição “Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género”, foram oferecidos cartazes, panfletos, livros e outra documentação concebida para ajudar os estudantes no processo de consciencialização sobre as questões de género.
No mesmo dia, os alunos, do décimo primeiro ano, das turmas A e D, acompanhados das professoras Silvina Silva e Susana Resende, participaram na conferência “Migrações e Mudança. Os Actores e o Género”, no âmbito da iniciativa “Mulheres da Diáspora – Encontro em Espinho”, que decorreu de 6 a 8 de Março de 2009, no Centro Multimeios.
Esta iniciativa teve como objectivos sensibilizar toda a comunidade escolar para a valorização da dignidade da Mulher e apelar quer para a participação activa na promoção e defesa dos seus direitos, quer para a responsabilização de cada um de nós na sua protecção.Aproveitamos para agradecer o elevado empenho dos colaboradores da AI Portugal, de todos os professores e alunos, dos órgãos de gestão e dos funcionários, na dinamização das actividades, para comemorar, este dia na Escola.
Agradecemos, igualmente, o convite da Dra. Arcelina Santiago para a participação dos alunos e professores da nossa Escola no encontro “Mulheres da Diáspora”. A todos muito, muito obrigada, sobretudo em nome das Mulheres e Raparigas que estão impedidas de agir livremente e precisam da nossa acção por elas.
Goretti Sá Escola Secundária Dr. Manuel

Participantes do "Encontro de Espinho"

O "Encontro em Espinho" reuniu cerca 200 pessoas.
Facto inesperado, e que gostaríamos de ver repetido, a presença de muitos estudantes da "Escola Segura" da PSP das Escolas Manuel Larangeira e Domingos Capela (60 a 70) na sala de sessões, e de alguns deles também no apoio à organização, no secretariado e no serviço -e um impecável serviço - do "buffet", durante as pausas para café e na "Tertúlia da da Lusofonia".
Participação, também, de um número significativo de professores - de universidades do Porto, de Braga, de Leiria, de Lisboa - e de estudantes das universidades do Porto, de Coimbra, de Aveiro - dos cursos de Sociologia, Psicologia, Direito, Relações Internacionais, Belas Artes... - e da Universidade Sénior de Espinho.
Consultada a lista de presenças, encontramos uma grande variedade de profissões e um "leque geracional" alargado, também: há reformados, estudantes, funcionários públicos, desportistas campeões em várias modalidades, empresários, jornalistas - os principais jornais da cidade, o JN, o Mundo Português - psicólogos, economistas, advogados, engenheiros, médicos, diplomatas, muitos professores universitários e investigadores - uma grande "Cimeira universitária de especialistas" no domínio das migrações! - conselheiros das "Comunidades" (CCP), e alguns (não muitos...) políticos.
Entre os políticos, destaque para o Presidente da Câmara de Espinho, que, como já foi salientado, mas não será demais repeti-lo, foi o grande suporte destas iniciativas - Encontro, Tertúlia, Comemoração do "Dia Internacional da Mulher" - directamente e através dos serviços da Câmara - do Centro Multimeios, e do seu próprio Gabinete, onde Maria José Vieira foi a "alma" da organização. A Dr.ª Isabel de Sousa e as funcionárias da Biblioteca Municipal deram-nos, também, uma preciosa colaboração, a merecer um agradecimento muito especial.
Outras Instituições de Espinho nos honraram com a sua presença - caso da PSP de Espinho, do Comando dos Bombeiros, do Centro de Saúde, das Direcções de Escolas, do Lions.
Da Assembleia Municipal, a Presidente, Graça Guedes. O Presidente da Junta de Freguesia de Paramos, Américo Castro.
Da Assembleia da República, estavam convidados todos os Deputados da Emigração, assim como as Deputadas que mais têm colaborado, ao longo destes 15 anos, com a "Mulher Migrante" (caso de Celeste Correia e Rosa Albernaz).
Por razões de agenda, houve os que não puderam vir. Aqui estiveram José Cesário e Carlos Páscoa, como oradores, e Luís Montenegro, deputado por Aveiro e vereador da Câmara de Espinho.
Mais numeroso acabou sendo o grupo de antigos deputados: Carlos Luís, que durante anos representou os emigrantes da Europa, e é agora o Secretário-Geral do INATEL, Amélia e Amândio de Azevedo - da Assembleia Constituinte - Dias Costa, emigrante e actualmente funcionário consular na Suiça. E ainda, Maria Barroso, a nossa "Presidente de Honra", José Mota e eu mesma.
Decisivo para a participação de cinco representantes dos "Encontros para a Cidadania", foi o apoio da Direcção- Geral de Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas e do próprio Secretário de Estado, Dr. António Braga. Não pôde comparecer em Espinho, mas foi lembrado, sempre que se falou dos seminários da Diáspora, que se lhe ficam a dever. E enviou mensagem que publicamos, considerando-a uma forma de presença.
Das Regiões Autónomas, veio a nova Directora das Comunidades dos Açores, Drª Rita Machado Dias, falar de uma realidade singular, como é a da emigração e das grandes comunidades oriundas da Região.
Brasileiros, moçambicanos, guineenses, angolanos estiveram, lado a lado, com portugueses emigrantes ou ex-emigrantes do Luxemburgo, de França, da Suiça, da RAS, do Canadá, da Venezuela, vindos sem qualquer apoio financeiro, que a organização não tinha meios para facultar...

E, por fim, menção à mensagem da Presidente da Câmara de Mindelo, Cabo Verde, que nos convida para um Encontro semelhante a este, em Cabo Verde - 2010.
Quem sabe? Deus queira!

Continuar o Encontro de Espinho

Maria Manuela Aguiar
Presidente da Assembeia Geral da Associação "Mulher Migrante"

O ” Encontro em Espinho - Cidadãs em Diáspora” trouxe a Portugal cinco "relatoras" dos “Encontros para a Cidadania – A Igualdade entre Mulheres e Homens”, que se realizaram entre 2005 e 2009.
Não foi, como o de Viana, em 1985, e o de Espinho, em 1995, um congresso mundial de cidadãs vindas da diáspora, mas uma iniciativa em que elas, o seu papel, os seus problemas, o seu itinerário migratório, ocupavam o centro do debate.
Em diálogo, estiveram, sim, para além dessas cinco ilustres representantes, muitos investigadores, académicos, nomes prestigiados dos vários ramos da Ciência que se cruzam no domínio das migrações, defensores dos direitos dos estrangeiros, dirigentes associativos das diásporas lusófonas, cidadãos interessados nestas matérias.
Como é habitual nas realizações da Associação Mulher Migrante, o enfoque foi dado às migrações, numa perspectiva global e não necessaria ou especificamente “feminina”, mas com as mulheres no lugar que é o seu, com a voz e a visibilidade que lhes é negada, tantas vezes, noutros “meetings” ou “fora”.
De facto, o percurso da metade feminina da nossa emigração tem sido, em regra, desvalorizado, desde logo porque é muito menos estudado do que o do homem, como fenómeno autónomo, com as suas características, umas comuns e outras próprias - o que se pode dizer, "mutatis mutandis" da emigração masculina.
E é também inegável que, apesar da evolução a que vimos assistindo, no sentido de uma participação cívica mais igualitária dos sexos, há ainda um défice de oportunidades – de presença, de opinião, de palavra, de influência… - que afasta as mulheres das instâncias de decisão e de poder, muito em particular a nível das próprias comunidade portuguesa. Do movimento associativo, que tanto precisa de se renovar, alargando a base de sustentação, e ganhando um suplemento de ânimo, que elas poderão garantir-lhe.
Este é, a nosso ver, um objectivo prioritário: excluir a axclusão!
Olhar a Mulher como Cidadã, e Cidadã de duas Pátrias, no contexto da emigração, que, para ela se tornou, tanto ou mais do que para o Homem, um caminho de auto-afirmação e auto-confiança. Promover a sua maior participação na vida colectiva.
E o certo é que, nas comunicações e nos debates, dest dois dias vividos em Espinho, foi emergindo, não só um novo paradigma de intervenção feminina nas comunidades do estrangeiro, mas também um novo perfil de mulher-emigrante: mais jovem, mais independente, mais qualificada, que parte à procura de valorização profissional, sozinha, ou com o marido, em pé de igualdade, desde a primeira hora.
Falámos muito de uma realidade de que, tradicionalmente, salvo em situação de crise pontual, se fala tão pouco nos “media” e no discurso político em Portugal, como afirmou o Prof. Eduardo Vitor Rodrigues, na última e excelente conferência do "Encontro": a de um movimento de saída que aumentou tremendamente, desde o começo do século. Quase em exclusivo para a Europa (Inglaterra, Irlanda, Espanha…) embora, no actual quadro de depressão económica , pareça procurar, de novo, os destinos longínquos, em África, em Angola, um grande país lusófono, agora em paz e em processo de reconstrução.
É cedo para fazer o balanço final de um “Encontro” tão cheio de reflexões,de troca de idéias e de experiências, de análise comparada de casos e situações.
Sabemos que parar seria perder toda a caminhada...
Por isso, não damos o “Encontro em Espinho” por terminado. Vai prosseguir, de diversas formas, ao longo deste ano do 15º aniversário da “Mulher Migrante” e para além dele.
Através do blog, que antecedeu e acompanhou a sua realização e ficou aberto, como repositório de informação,e pronto a receber novos contributos.
E, agora, na TERTÚLIA, como é evidente!
No Último trimestre de 2009, editaremos uma publicação, com as comunicações, as mensagens do blogue, as "actas" das reuniões, e tencionamos apresenta-la em vários "seminários", dentro e fora do país, para não deixar no esquecimento, os resultados de um trabalho realizado por tanta gente, em tantas partes do mundo com a finalidade de saber mais para agir melhor.