quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Para a MM Venezuela

Para a Associação Mulher Migrante, cuja primeira missão é mobilizar as portuguesas para participação cívica em todo o mundo, tem um enorme significado a filiação da Mulher Migrante na Venezuela nas suas estruturas e projectos, em perfeita sintonia de valores, propósitos e práticas.
É uma aliança com um poderoso movimento emergente, que nos oferece esplêndidas lições de modernidade. a que, através dos nossos programas de acção nos vários continentes, queremos dar visibilidade, como exemplo de dinamismo e de vontade de transformar as sociedades em que vivemos, num novo milénio. Vamos crescer em conjunto, na execução de objetivos comuns! Vamos fazer caminho partilhado com associações portuguesas dispersas da nossa Diáspora, que ganham em se conhecer e inspirar mutuamente!
De longe, geograficamente, mas de perto, com um sentimento de regozijo e de orgulho, acompanhámos este 2º Congresso, através das informações que nos chegaram pela internet e nos mantiveram a par da marcha da sua excelente organização, do primeiro ao último momento. Sabemos que constituiu uma manifestação impressionante da capacidade de refletir e agir coletivamente das suas participantes. E não tratando só aqueles temas que dantes se consideravam específicos de um “círculo feminino”, estreito e fechado, mas dos que respeitam ás suas comunidades como um todo, às realidades do país em que estão e do País de onde vieram, nos quais querem e podem ter opinião e influência e exercer direitos iguais, para melhor cumprirem os deveres da cidadania.
A Portugalidade na Venezuela está naturalmente enraizada nos sentimentos de pertença, que as mulheres sabem transmitir a partir do núcleo familiar e, cada vez mais, também, através da tessitura associativa, que desenvolvem com enfoque no campo cultural e social, sem procurarem o afrontamento ou segregação de género ou de geração. Nos dois Congressos da Mulher Migrante auspiciosamente sedeados em Caracas deram, efetivamente, provas uma grande abertura à colaboração entre todos. Esse desígnio de abrangência, de ir ao encontro dos outros, de dar atenção ao interesse geral, reflete-se, de um modo muito claro e direto, no conteúdo do relatório, conclusões e propostas do Congresso. No centro das preocupações estão matérias como: o ensino da língua; o enaltecimento do “ser português”;, a indispensabilidade de entrar no domínio das novas tecnologias, nas redes sociais; a renovação do associativismo, chamando os mais excluídos, os jovens e as mulheres; a urgente reforma do CCP (o Conselho das Comunidades Portuguesas); a necessidade de formação e intercâmbios no domínio das artes, do teatro, dos ”media”. Ao governo lembram a obrigação de corresponder e apoiar os esforços da sociedade civil, que tanto vem fazendo por toda a Venezuela. Todavia, não deixam, ao mesmo tempo, de denunciar os preconceitos contra as mulheres no universo das agremiações existentes, por parte de alguns dirigentes, que continuam a negar a evidência das capacidades femininas de decisão e de gestão da “res publica – e a afasta-las dos órgãos diretivos.
Esta abordagem coincide, em absoluto, com a que presidiu às primeiras experiências de uma política de género no espaço das comunidades do estrangeiro, que começou com a convocação de um Encontro Mundial de “Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo”, em 1985, (tornando, assim, Portugal precursor num domínio onde nunca um país de emigração havia levado a cabo reunião semelhante, com o fim de promover a participação feminina na vida da Diáspora)
Foi há precisamente 30 anos! E já então as notáveis portuguesas que deram rumo e futuro a esse Encontro se não limitaram a olhar para a sua própria situação. Pronunciaram-se tanto sobre o papel imprescindível das mulheres como mediadoras da integração familiar e guardiãs da nossa cultura e tradições no estrangeiro, como sobre as questões gerais e as prioridades políticas no apoio às suas comunidades, precisamente como tem sucedido nos recentes congressos da Mulher Migrante de Caracas. As pioneiras do dirigismo associativo e do jornalismo, na década de 80, pretendiam estabelecer uma plataforma em que pudessem dar continuidade aos trabalhos então entusiasticamente iniciados, mas isso não foi possível no imediato… Decorreram alguns anos até que, em 1993, nasceu em Lisboa, com algumas das protagonistas do Encontro Mundial e com a mesma finalidade, a Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade. Uma designação assim tão lata permite-lhe atuar em várias frentes, como tem feito, ao longo de mais de 20 anos, colocando o enfoque nas migrações, no estudo e na luta contra o fenómeno da discriminação e preconceito contra as mulheres, os estrangeiros, as minorias étnicas, os jovens, os seniores…. Isto é, começando na solidariedade e cooperação “com” as mulheres e continuando na solidariedade e cooperação “das” mulheres para com todos os excluídos. Por isso, escolheu como lema esta frase lapidar: “não há estrangeiros numa sociedade que vive os Direitos Humanos”. Assume, pois, o multiforme combate por uma verdadeira democracia, que não deixe ninguém de fora…
Olhando a história deste movimento em que nos integramos, pugnando por mais democratismo e mais cidadania, é interessante notar um facto por demais esquecido: foi no CCP que ele nasceu como ideia, em 1984, por proposta de uma das primeiras mulheres que nele tiveram assento (a jornalista de Toronto, Maria Alice Ribeiro). Uma recomendação aprovada consensualmente e que teve sequência logo no ano seguinte, no 1º Encontro de Mulheres Portuguesas. Isso explica por que razão, o governo convocou para essa primeira audiência, justamente as duas componentes principais do próprio CPP, no seu modelo original, nos anos 80 - representantes eleitos de coletividades e jornalistas.. Era uma primeira consulta ou audição , com mulheres que deveriam pertencer. mas não pertenciam, ao CCP, órgão consultivo, quase 100% masculino . E essa ligação umbilical estava destinada a manter-se,: a Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas SECP, por despacho de 21 de Abril de 1987, criou a “Conferência para a Participação das Mulheres Migrantes”, a funcionar, com regularidade, na órbita do CCP - no contexto de uma reforma que instituía diversas Conferências, vistas como uma forma de alargar o âmbito do diálogo do Governo e dos próprios Conselheiros com setores importantes da sociedade civil.
O governo caiu, nesse ano, o CCP entrou, logo depois, em longa hibernação, e, por isso, a reunião periódica das Portuguesas da Diáspora caiu no esquecimento. E, a meu ver, foi pena, porque teria antecipado o futuro!
Mas a ideia de avançar para um forum de cooperação internacional do associativismo feminino renasceu, foi incorporada nos planos da“Mulher Migrante” – à margem do CCP, é certo – e, através de uma parceria entre a Associação e a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas”. se concretizou, a partir de 2005, a vontade dos governos de desenvolver politicas com a componente de género – primeiro com os “Encontros para a Cidadania” (2005/2009), seguidamente, com a realização de Encontros Mundiais e de conferências e colóquios temáticos (2011/2015)
È uma resposta firme à situação de desigualdade de participação que subsiste em muitas estruturas existentes na Diáspora. Permite às mulheres fazerem coisas diferentes, essenciais e admiráveis para o progresso das Comunidades. Talvez um dia seja prescindível, quando a igualdade for um dado adquirido, um dia que ainda não está na linha do horizonte. Mas já está conseguido um ambiente de forte cooperação, um harmonioso relacionamento do associativismo feminino num quadro global.
A metade invisível das comunidades, a feminina, apareceu nestas iniciativas do que chamamos “congressismo”, com enorme capacidade de inovação e generosidade.
As portuguesas da Venezuela tem tido uma intervenção de primeiro plano nos encontros internacionais, como paradigma de modernidade e de polivalência, num movimento que principiou e prossegue na área da beneficência, se estende à cultura, à convivialidade, com as famosas Academias da Espetada (combinando as vertentes lúdica e de bem-fazer) à luta pelos direitos de cidadania, sobretudo com a Mulher Migrante.
No associativismo feminino, para já, e, cada vez mais, no geral ou misto as portuguesas ou luso-venezuelanas estão hoje na vanguarda, no mundo das comunidades de cultura portuguesa.
É justo reconhece-lo! E felicitá-las, como faço, com muito gosto e amizade


Maria Manuela Aguiar

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