Fundação Professor Fernando de Pádua
Para a Promoção da Saúde e melhor Qualidade de Vida
A Fundação Professor Fernando de Pádua e o
Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva,
celebrando o Dia Internacional da Mulher,
redigiram a seguinte mensagem cuja divulgação muito apreciaríamos:
8 de Março – Dia Internacional da Mulher
A mulher tem maioria absoluta no Mundo, e sem a sua dádiva a espécie humana há
muito teria desaparecido da face da Terra!
Crianças lindas, adolescentes adoráveis, adultas formosas e idosas não menos… E
profissionais impecáveis.
Em tempo de falta de empregos devemos reconhecer que a Mulher pode acumular pelo
menos seis trabalhos: apoio dos pais, mulheres dos maridos, donas de casa, empregadas
domésticas, “ministras” das finanças, e administradoras de todos os horários e todas as
tarefas, sobretudo dos filhos, dentro e fora de casa!
E nós lhe pedimos mais: ser promotora da saúde para todos os seus.
- Cuidando da alimentação inteligente (mais leite e verduras, e menos sal e gorduras);
- Vigiando as bebidas (reduzindo as açucaradas e as alcoólicas);
- Incentivando o exercício (ginástica, desporto e passeios a pé);
- Dando o exemplo do combate ao tabagismo;
- E…reduzindo o stress (na vida dos outros!).
Por isso digo que todos os dias são dias… da Super Mulher!
A ASSOCIAÇÃO "MULHER MIGRANTE" ABRE ESTA TERTÚLIA A CONVERSA SOBRE AS MIGRAÇÕES E AS DIÁSPORAS PORTUGUESA E LUSÓFONAS. VAMOS FALAR DA NOSSA ASSOCIAÇÃO, DAS INICIATIVAS QUE ESTAMOS A DESENVOLVER E DA FORMA COMO PODEM COLABORAR CONNOSCO. UM CONVITE DIRIGIDO, POR IGUAL, A MULHERES E HOMENS, DE TODAS AS IDADES, EM TODAS AS LATITUDES.
quinta-feira, 8 de março de 2012
SAUDAÇÃO DIA INTERNACIONAL DA MULHER Homens e mulheres constituem os dois sexos, diferentes entre si, que compõem a Humanidade. As sociedades, em função das diferenças biológicas, foram construindo ao longo dos séculos representações, papeis e expectativas, também diferentes entre si, originando o que se passou a designar de género: género feminino e género masculino. Diferenças de género que, segundo Bordieu (1999), estão bem impressas nas estruturas mentais e sociais da humanidade. Para Knoppers (1988), estão reconhecidas três concepções de género: - entendido como um atributo pessoal, que resulta da interacção de factores biológicos, com factores sociais, dando lugar às diferenças de género; - baseada na noção de papeis, seja associada ao sexo, ou ao género, muito embora subsista ainda uma certa confusão relativa ao significado que , segundo Hall (1985), é atribuído a uns e a ontras; - concebendo o género em termos de relações sociais entre homens e mulheres, bem como entre o género e as estruturas sociais. Nesta perspectiva, Hall (1985) considera que dado que as relações se constroem socialmente, elas não são imutáveis, pelo que podem sofrer transformações No passado, as diferenças fundamentavam-se no reconhecimento aos homens e a exclusão às mulheres dos direitos inerentes à autonomia individual e à cidadania. As mulheres eram consideradas desiguais pelo Direito, desigualdade traduzida numa determinada hierarquia entre uns e outras: os homens, que constituíam um padrão em torno do qual e para a qual a sociedade se organizou; as mulheres, principalmente as casadas, uma “classe” inferior, com capacidade jurídica diminuída e, consequentemente, discriminada. Actualmente, o Direito português, considera ilegal, no quadro dos Direitos, Liberdades e Garantias Fundamentais, a discriminação em função do género, reconhecendo a igualdade de homens e mulheres: duas expressões concretas do conceito abstracto que é a Pessoa - as duas componentes da Humanidade. E, como tal, reconhece que todos os Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais são inerentes ao mero facto de se ser Pessoa, de ser Mulher, ou Homem. Mulheres e homens têm direitos iguais, porque a Humanidade se desenvolveu, porque as ciências avançaram, porque as sociedades evoluíram, porque a Justiça e a Democracia são assumidas como ideais em constante aprofundamento. E o Direito, que é uma construção humana, procurou assim acompanhar e encorajar progressos, avanços, evoluções e aprofundamentos. Hoje, não é aceitável que às mulheres corresponda um estatuto com menos direitos dos que são reconhecidos aos homens, como a título de exemplo, do acesso ou das condições de trabalho remunerado, quando simultaneamente, têm acumuladas responsabilidades familiares, que comodamente os cônjuges tantas vezes não partilham. Numa sociedade que se pretende justa e democrática, todos devem ter as mesmas oportunidades para aceder ao poder. E aqui introduzo o conceito de paridade. Um conceito e um objectivo, através do qual se pretende reconhecer com igualdade o valor das pessoas, não importa o género, a raça ou a etnia. Um conceito que dá visibilidade à igual dignidade dos homens e das mulheres, balizando renovar a organização social e, consequentemente, que os homens e as mulheres partilhem, de facto, direitos e responsabilidades, de forma a usufruírem, com plena igualdade e liberdade, da participação a todos os níveis e em todas as esferas. Associando-me às saudações feitas para a comemoração do dia internacional da mulher no próximo dia 8 de Março e acreditando veementemente na implementação de uma efectiva paridade entre géneros, que favorecerá a adaptação do ordenamento das sociedades democráticas às legítimas expectativas de um efectivo exercício de cidadania, cumprimento afectuosamente todas as mulheres e todas as jovens de Espinho, propondo que num horizonte próximo a ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ESPINHO comece a adoptar este paradigma de paridade com uma maior dimensão. Espinho, 13 de Fevereiro de 2006. A Presidente da Assembleia Municipal Graça Guedes
SAUDAÇÃO
Dia Internacional da Mulher
Ao longo da História, o ser humano caiu no erro grosseiro de depreciar o diferente.
Porém, outros seres humanos foram capazes de defender e de trabalhar em favor do “distinto” e do “diferente”.
Foram homens e mulheres livres, que se lançaram para abolir a escravidão em muitos lugares do planeta.
Foram brancos, os que promulgaram leis para a protecção dos índios e para a não discriminação dos negros.
Foram cristãos, os que pediram maior respeito para quem pertencia a outras religiões.
Em 8 de Março de 1857, operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fabrica para reivindicarem a redução de um horário diário de mais de 16 horas, para 10 horas. Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica, onde entretanto se declarou um incêndio. Cerca 130 mulheres morreram queimadas.
Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido comemorar o dia 8 de Março, como Dia Internacional da Mulher, em homenagem àquelas mulheres heróicas.
A comemoração do dia 8 de Março recorda, simbolicamente, a história destas corajosas operárias americanas, homenageando-as e, ao mesmo tempo, desperta a comunidade para a necessidade de um profundo sentido de respeito pela dignidade humana, de tolerância perante o “diferente” e de afirmação do relevante contributo da mulher na sociedade, contestando os preconceitos e limitações que tão frequentemente e em diferentes contextos ainda lhe são impostos; condenando todas as formas de discriminação de direitos sociais, políticos e económicos que ainda permanecem nas mentalidades menos esclarecidas.
A Assembleia Municipal de Espinho reunida em 28 de Fevereiro de 2008, associa-se a esta comemoração internacional, saudando todas as mulheres e, em especial, as espinhenses, esperando que as instituições da nossa Cidade nos acompanhem nesta comemoração, com acções que dignifiquem os valores humanos e onde não pode ficar esquecido o papel económico, social e familiar da mulher.
Espinho, 28 de Fevereiro de 2008
P´las Vogais do Partido Socialista
A Presidente da Assembleia Municipal
Graça Guedes
SAUDAÇÃO
Dia Internacional da Mulher
Ao longo da História, o ser humano caiu no erro grosseiro de depreciar o diferente.
Porém, outros seres humanos foram capazes de defender e de trabalhar em favor do “distinto” e do “diferente”.
Foram homens e mulheres livres, que se lançaram para abolir a escravidão em muitos lugares do planeta.
Foram brancos, os que promulgaram leis para a protecção dos índios e para a não discriminação dos negros.
Foram cristãos, os que pediram maior respeito para quem pertencia a outras religiões.
Em 8 de Março de 1857, operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fabrica para reivindicarem a redução de um horário diário de mais de 16 horas, para 10 horas. Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica, onde entretanto se declarou um incêndio. Cerca 130 mulheres morreram queimadas.
Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido comemorar o dia 8 de Março, como Dia Internacional da Mulher, em homenagem àquelas mulheres heróicas.
A comemoração do dia 8 de Março recorda, simbolicamente, a história destas corajosas operárias americanas, homenageando-as e, ao mesmo tempo, desperta a comunidade para a necessidade de um profundo sentido de respeito pela dignidade humana, de tolerância perante o “diferente” e de afirmação do relevante contributo da mulher na sociedade, contestando os preconceitos e limitações que tão frequentemente e em diferentes contextos ainda lhe são impostos; condenando todas as formas de discriminação de direitos sociais, políticos e económicos que ainda permanecem nas mentalidades menos esclarecidas.
A Assembleia Municipal de Espinho reunida em 28 de Fevereiro de 2008, associa-se a esta comemoração internacional, saudando todas as mulheres e, em especial, as espinhenses, esperando que as instituições da nossa Cidade nos acompanhem nesta comemoração, com acções que dignifiquem os valores humanos e onde não pode ficar esquecido o papel económico, social e familiar da mulher.
Espinho, 28 de Fevereiro de 2008
P´las Vogais do Partido Socialista
A Presidente da Assembleia Municipal
Graça Guedes
quarta-feira, 7 de março de 2012
COMUNICAÇÃO DO DEPUTADO CARLOS GONÇALVES
O papel das mulheres nas Comunidades Portuguesas
No Congresso da Mulher Migrante tive a oportunidade, na minha intervenção, de destacar o papel das mulheres migrantes, realçando o papel que tantas portuguesas tiveram, através das mais variadas áreas, na afirmação cívica e política das Comunidades Portuguesas no estrangeiro.
No meu círculo eleitoral, em que as Comunidades Portuguesas emigrantes datam dos anos 60 e 70, foram as mulheres que assumiram, de forma clara, o papel da gestão administrativa da família, foram elas que acompanharam os processos escolares dos filhos e, foram elas também que, no plano local, se envolveram em diversos projectos, sozinhas ou em parceria com as autoridades locais que acabaram por promover o envolvimento das nossas comunidades nas sociedades de acolhimento.
Dessa forma, é absolutamente natural terem sido essas mulheres a integrar as comissões de pais e as associações ligadas às paróquias locais que apoiavam os novos emigrantes na altura em que chegavam a um novo país e passavam por dificuldades de adaptação a um novo país e a uma nova sociedade.
Podemos mesmo dizer que todas estas mulheres, através do aprofundamento das suas redes familiares, contribuíram para a própria integração da comunidade portuguesa, ao mesmo tempo que iam construindo novos laços nas sociedades onde agora estavam integradas.
Este papel de destaque das mulheres emigrantes portuguesas ganhou uma nova dimensão quando alguns países de acolhimento deram o direito de voto aos portugueses aí residentes e quando as alterações legislativas permitiram uma paridade de direitos cívicos e políticos à nossa Diáspora.
Dou como exemplo a França país onde resido e sobre o qual tenho, naturalmente, um maior conhecimento sobre a comunidade portuguesa no seu todo e muito particularmente no papel que algumas mulheres portuguesas têm vindo assumir no plano local e nacional.
Pelo trabalho político e cívico que desenvolveram no país que as acolheu é hoje perfeitamente natural que sejam essas portuguesas de valor a surgir agora em destaque na vida política francesa, nomeadamente, com a inclusão de candidatas lusas às próximas eleições legislativas com verdadeiras possibilidades de chegar ao Parlamento francês.
Como disse numa outra ocasião, a escolha destas candidatas trouxe para o debate político francês uma componente de origem portuguesa que considero fundamental, ao mesmo tempo que são os instrumentos políticos de uma comunidade notável com uma capacidade de integração sem igual e que contribui, todos os dias, com o seu trabalho, para a vitalidade da economia do país em que residem.
É com verdadeiro orgulho que vejo estas portuguesas a participarem num acto eleitoral num país estrangeiro. Acredito que podem vir a alcançar um excelente resultado, permitindo que tenhamos uma deputada, ou deputadas, oriundas da comunidade portuguesa.
Na verdade, na política não impossíveis e penso que há sempre espaço para todos aqueles que acreditam em ideias e projectos e que trabalham neles para melhorar a vida dos cidadãos. A política tem em vista resolver os problemas dos cidadãos e nesse particular as mulheres, nomeadamente as emigrantes, pelas imensas dificuldades que tiveram de enfrentar, são verdadeiros exemplos de tenacidade e capacidade de vencer.
Carlos Gonçalves
No Congresso da Mulher Migrante tive a oportunidade, na minha intervenção, de destacar o papel das mulheres migrantes, realçando o papel que tantas portuguesas tiveram, através das mais variadas áreas, na afirmação cívica e política das Comunidades Portuguesas no estrangeiro.
No meu círculo eleitoral, em que as Comunidades Portuguesas emigrantes datam dos anos 60 e 70, foram as mulheres que assumiram, de forma clara, o papel da gestão administrativa da família, foram elas que acompanharam os processos escolares dos filhos e, foram elas também que, no plano local, se envolveram em diversos projectos, sozinhas ou em parceria com as autoridades locais que acabaram por promover o envolvimento das nossas comunidades nas sociedades de acolhimento.
Dessa forma, é absolutamente natural terem sido essas mulheres a integrar as comissões de pais e as associações ligadas às paróquias locais que apoiavam os novos emigrantes na altura em que chegavam a um novo país e passavam por dificuldades de adaptação a um novo país e a uma nova sociedade.
Podemos mesmo dizer que todas estas mulheres, através do aprofundamento das suas redes familiares, contribuíram para a própria integração da comunidade portuguesa, ao mesmo tempo que iam construindo novos laços nas sociedades onde agora estavam integradas.
Este papel de destaque das mulheres emigrantes portuguesas ganhou uma nova dimensão quando alguns países de acolhimento deram o direito de voto aos portugueses aí residentes e quando as alterações legislativas permitiram uma paridade de direitos cívicos e políticos à nossa Diáspora.
Dou como exemplo a França país onde resido e sobre o qual tenho, naturalmente, um maior conhecimento sobre a comunidade portuguesa no seu todo e muito particularmente no papel que algumas mulheres portuguesas têm vindo assumir no plano local e nacional.
Pelo trabalho político e cívico que desenvolveram no país que as acolheu é hoje perfeitamente natural que sejam essas portuguesas de valor a surgir agora em destaque na vida política francesa, nomeadamente, com a inclusão de candidatas lusas às próximas eleições legislativas com verdadeiras possibilidades de chegar ao Parlamento francês.
Como disse numa outra ocasião, a escolha destas candidatas trouxe para o debate político francês uma componente de origem portuguesa que considero fundamental, ao mesmo tempo que são os instrumentos políticos de uma comunidade notável com uma capacidade de integração sem igual e que contribui, todos os dias, com o seu trabalho, para a vitalidade da economia do país em que residem.
É com verdadeiro orgulho que vejo estas portuguesas a participarem num acto eleitoral num país estrangeiro. Acredito que podem vir a alcançar um excelente resultado, permitindo que tenhamos uma deputada, ou deputadas, oriundas da comunidade portuguesa.
Na verdade, na política não impossíveis e penso que há sempre espaço para todos aqueles que acreditam em ideias e projectos e que trabalham neles para melhorar a vida dos cidadãos. A política tem em vista resolver os problemas dos cidadãos e nesse particular as mulheres, nomeadamente as emigrantes, pelas imensas dificuldades que tiveram de enfrentar, são verdadeiros exemplos de tenacidade e capacidade de vencer.
Carlos Gonçalves
segunda-feira, 5 de março de 2012
DOUTORA NASSALETE MIRANDA - COMISSÁRIA DA eXPOSIÇÃO "FEMININO PLURAL"
COLECTIVA DE PINTIRA E DE ESCULTURA
FEMININO PLURAL
A Arte é o maior espaço de diálogo entre povos e suas culturas.
A Arte é embaixatriz de sentires e de olhares, em movimento cruzado de
gestos intemporais, de palavras desenhadas em pautas, em palco e no
teclado e de metáforas filmadas e esculpidas em barro e em bronze.
A Arte dança em verso e nas telas, e senta-se à mesa com todos os que
levam no bolso um poema e os que abrem a janela ao pôr-do sol.
A Arte de 30 mulheres pintoras e escultoras junta-se neste final de
Outono 2011 no Forum da Maia, no âmbito do 3º Encontro Mundial de
Mulheres Portuguesas na Diáspora, a todas as outras artes da palavra e
da intervenção social e profissional de centenas de mulheres lusas em
partilha policromática de múltiplas formas e texturas.
Esta exposição, que dá pelo nome sugestivo Feminino Plural acontece na
certeza de que é pela Cultura que tudo se combate, da exclusão social à
intervenção política. E acontece pela primeira vez neste âmbito, o que
significa um passo em frente nos propósitos das mulheres da diáspora.
Mulheres portuguesas que mostram a sua arte fora do País, umas
já radicadas há décadas no estrangeiro, como a surrealista Isabel
Meyrelles outras que adoptaram a geografia portuguesa, como a
brasileira “naíf”Constância Néry, a espanhola Ana del Rio, a columbiana
Angela Mathias ou a moçambicana Elsa Lé, mas todas a teimarem nesta
linguagem universal que é a Arte.
Sentir a Cultura impõe-se hoje mais do que ontem e, inevitavelmente,
menos do que amanhã.
Precisa-se sentir a Cultura em crescendo, de mãos dadas e em colectivo
de responsabilidade para com o futuro – esse futuro que começa sempre
no momento.
Sentir a Cultura sem preconceitos, sem barreiras e sem fronteiras é
olhar mais além, é criar raízes de desenvolvimento e de modernidade.
Sentir a Cultura como elemento humano, como um órgão vital da
civilização e da independência dos povos é trabalho de todos e de cada
um.
É neste sentir e empenho em afirmar Portugal pela Cultura que
dizemos PRESENTE: as artistas plásticas, as, e os, participantes no
Encontro, a Associação da Mulher Migrante, a Secretaria de Estado das
Comunidades Portuguesas e a Câmara Municipal da Maia.
Como é “pelo sonho que vamos” é aí, no sonho, que os nossos encontros
e reencontros estão marcados, porque sabemos que onde está uma
portuguesa está um mundo multifacetado de saberes, que áss vezes só
necessita de uma pequena oportunidade para os mostrar.
A História dos povos faz-se assim, de iniciativas que revelam
criatividade, inovação, algum arrojo e uma vontade férrea de fazer
caminho em que os obstáculos são torneados com a solidariedade,
generosidade e sentido de responsabilidade colectiva para o futuro.
Agradeço reconhecida, não só enquanto comissária desta exposição
mas sobretudo como portuguesa, a generosidade de todas as artistas
plásticas que integram esta mostra que pode ser vista e sentida
entre “sorriso” maiatos até 31 de Dezembro.
Nassalete Miranda
Comissária
Directora do jornal cultural “As Artes entre As Letras”
Maia, 24 de Novembro 2011
FEMININO PLURAL
A Arte é o maior espaço de diálogo entre povos e suas culturas.
A Arte é embaixatriz de sentires e de olhares, em movimento cruzado de
gestos intemporais, de palavras desenhadas em pautas, em palco e no
teclado e de metáforas filmadas e esculpidas em barro e em bronze.
A Arte dança em verso e nas telas, e senta-se à mesa com todos os que
levam no bolso um poema e os que abrem a janela ao pôr-do sol.
A Arte de 30 mulheres pintoras e escultoras junta-se neste final de
Outono 2011 no Forum da Maia, no âmbito do 3º Encontro Mundial de
Mulheres Portuguesas na Diáspora, a todas as outras artes da palavra e
da intervenção social e profissional de centenas de mulheres lusas em
partilha policromática de múltiplas formas e texturas.
Esta exposição, que dá pelo nome sugestivo Feminino Plural acontece na
certeza de que é pela Cultura que tudo se combate, da exclusão social à
intervenção política. E acontece pela primeira vez neste âmbito, o que
significa um passo em frente nos propósitos das mulheres da diáspora.
Mulheres portuguesas que mostram a sua arte fora do País, umas
já radicadas há décadas no estrangeiro, como a surrealista Isabel
Meyrelles outras que adoptaram a geografia portuguesa, como a
brasileira “naíf”Constância Néry, a espanhola Ana del Rio, a columbiana
Angela Mathias ou a moçambicana Elsa Lé, mas todas a teimarem nesta
linguagem universal que é a Arte.
Sentir a Cultura impõe-se hoje mais do que ontem e, inevitavelmente,
menos do que amanhã.
Precisa-se sentir a Cultura em crescendo, de mãos dadas e em colectivo
de responsabilidade para com o futuro – esse futuro que começa sempre
no momento.
Sentir a Cultura sem preconceitos, sem barreiras e sem fronteiras é
olhar mais além, é criar raízes de desenvolvimento e de modernidade.
Sentir a Cultura como elemento humano, como um órgão vital da
civilização e da independência dos povos é trabalho de todos e de cada
um.
É neste sentir e empenho em afirmar Portugal pela Cultura que
dizemos PRESENTE: as artistas plásticas, as, e os, participantes no
Encontro, a Associação da Mulher Migrante, a Secretaria de Estado das
Comunidades Portuguesas e a Câmara Municipal da Maia.
Como é “pelo sonho que vamos” é aí, no sonho, que os nossos encontros
e reencontros estão marcados, porque sabemos que onde está uma
portuguesa está um mundo multifacetado de saberes, que áss vezes só
necessita de uma pequena oportunidade para os mostrar.
A História dos povos faz-se assim, de iniciativas que revelam
criatividade, inovação, algum arrojo e uma vontade férrea de fazer
caminho em que os obstáculos são torneados com a solidariedade,
generosidade e sentido de responsabilidade colectiva para o futuro.
Agradeço reconhecida, não só enquanto comissária desta exposição
mas sobretudo como portuguesa, a generosidade de todas as artistas
plásticas que integram esta mostra que pode ser vista e sentida
entre “sorriso” maiatos até 31 de Dezembro.
Nassalete Miranda
Comissária
Directora do jornal cultural “As Artes entre As Letras”
Maia, 24 de Novembro 2011
COMUNICAÇÃO DA PROFª DOUTORA ISABEL PONCE DE LEÃO
Migrações no feminino
Isabel Ponce de Leão
Professora Catedrática
Universidade Fernando Pessoa
CLEPUL
Porto
Aprendí pronto que al emigrar se pierden las muletas que han servido de
sostén hasta entonces, hay que comenzar desde cero, porque el pasado
se borra de un plumazo y a nadie le importa de dónde uno viene o qué
ha hecho antes.
Isabel Allende
O nome de Maria Helena Vieira da Silva andará sempre associado à diáspora
portuguesa, penitente percurso em que Mulher e Pintora assumem a
cumplicidade e a comunhão fraterna inviabilizadoras de destrinça. De facto, a
pintora não existe sem a mulher ou, parafraseando Heidegger, “o artista é a
origem da obra. A obra é a origem do artista. Nenhum é sem o outro”.
Suiça, Paris, Rio de Janeiro, o mundo são lugares onde – onde sente
saudades pátrias e onde reaprende a viver. Artista e mulher carrega o estigma
do isolamento mesmo na sua terra que se lhe tornou madrasta e muito
tardiamente reconheceu a sua genialidade.
A migração foi, porventura, a sua evasão, como aconteceu com outros artistas
e escritores portugueses com quem se relacionou. Refiro-me a Sophia e a
Agustina que, sem abandonarem o solo pátrio, fogem, pela escrita para outras
paragens sempre carentes do regresso. Um outro jeito, não menos doloroso,
de migrar.
Em Longos dias têm cem anos, a propósito de uma visita a casa de Sophia
de Mello Breyner, Agustina Bessa-Luís escreve: “Arpad disse que estavam
ali as três mulheres de mais talento em Portugal. […] Maria Helena pintava,
eu escrevia romances, a Sophia fazia poesia” (Bessa-Luís, 2009: 15-16). E
afastando-se, de imediato, da vertente artística para a humana acrescenta: “A
Sophia era um caso – uma mulher que tem a cortesia de parecer vulnerável.
Eu era um caso – incerteza apaixonada. Vieira era um caso – uma mulher
justa” (Bessa-Luís, 2009: 16).
Estas foram as três mulheres que, incorporando o mistério da criação,
marcaram artística e culturalmente o Portugal do século XX pois perseguiram
com uma notável akribeia o conciliábulo ética / estética através de uma
produção assinalável, em termos quantitativos e qualitativos, instaurando
assim dinâmicas salvívicas. De facto, “se todos os artistas da terra parassem
durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota
de música, fazia-se um deserto extraordinário” (Bessa-Luís, 2008: 20). É
justamente esse deserto que, por elas e com elas, nunca aconteceu dando-nos
conta, como deram, de que “O ponto de partida de todos os sistemas estéticos
deve ser a experiência pessoal de uma emoção particular” (Bell, 2009: 22).
Assim conceberam obras que provocam o que Clive Bell denomina “emoção
estética”.
Colho Vieira da Silva como protagonista e convoco os olhares de Agustina
e de Sophia, que sobre ela recaem, de forma a relevar uma tríade feminina
enformadora de uma diáspora física e mental.
Maria Helena, a pintora, a “mulher justa” a que alude Agustina que, sobre
ela escreveria ainda: “Falava pouco. Olhava, sobretudo. Olhava com uma
intensidade fria, como se estivesse a atravessar um rio e se dividisse entre o
perigo e o prazer. O fundo arenoso onde se recortavam peixes prateados dava-
lhe aquela expressão suspensa e maravilhada; mas, de repente, o remoinho
da água trazia a noção da forte corrente, e, um pouco mais, era a dúvida,
um temor concentrado, a razão alertada. O rosto exprimia angústia, os olhos
abriam-se mais e ganhavam uma cor cristalina” (Bessa-Luís, 2008: 303-304).
Ora este retrato de Agustina ao convocar a linguagem do olhar para
caracterizar Vieira da Silva vem, muito justamente, ao encontro da ideia de
que, e seguindo os ditames de Dilthey (1994), o potencial criativo, longe de
se instituir um processo psíquico especial, emana do quotidiano, do contracto
intrínseco entre o ser humano e as suas vivências, de opções definidas e
assumidas perante as vicissitudes da vida que ora espanta, ora atemoriza
A arte de Maria Helena Vieira da Silva teve a peculiaridade de, citando
Malraux, “transformar a vida em destino” instituindo-se viagem gerada na
legítima emigração de quem procura o espaço favorável à sua expressão sem
nunca negligenciar a sensibilidade marcada pelas suas raízes.
O seu génio pessoal encontrou em Paris o meio adequado à libertação,
à ruptura com uma tradição figurativa sem negligenciar, contudo, a praxis
essencial de analogia com a realidade. É aí que, durante a década de 30,
integra a geração da Nova Escola de Paris mantendo, contudo, alguma
independência de certos –ismos de uma Europa efervescente.
Estava lançado o destino de Maria Helena na sua ligação ao abstraccionismo
propondo obras onde era clara a fragmentação de motivos figurativos num
processo destrutivo das formas significantes em demanda do onírico. Refiro
uma arte que, privilegiando formas e cores, nega temas e figuras e bane o
compromisso com a realidade. Sou, contudo, cauta ao pensar o
abstraccionismo em Vieira da Silva que a própria considera, em entrevista
concedida em 1978, ter sido “uma escolha difícil, mas tinha que partir de
dentro, devia ser uma escolha racional. Para pintar pensando com a cabeça e
fazendo com a mão”. Tinha consciência, Maria Helena, de que “a obra de arte
reflecte-se na superfície da consciência […] [e que] a análise dos seus
elementos constitui uma ponte em direcção à vida interior da obra” (Kandinsky,
2006: 25-26). O seu percurso culmina na abstracção a partir da figuração. Os
pontos, elementos originais da pintura e as linhas oriundas dos seus
movimentos, entram nos planos que têm no quadrado a sua forma
esquemática e original, jogando-se em vibrações dramáticas de modo
a “encontrar a vida, tornar sensível a sua pulsação e verificar a ordem de tudo
o que vive”, evidenciando “que é um trabalho de síntese que conduz às
revelações exteriores” (Kandinsky, 2006: 143). Pode-se afirmar que na sua
pintura “la catégorie spatiale a basculé la catégorie temporelle. Espace et
temps ont révélé leur étroite liaison” (Vallier, 1988: 21). “Depois, Maria Helena
era também consciente de que a sua arte era o repositório de experiências
vividas – onde se destaca a emigração para França – e de uma saturada
atenção aos clássicos” (Ponce de Leão, 2011).
Uma “mulher justa” (Bessa-Luís, 2009: 16) lhe chama Agustina, uma “mulher
[…] que sabe, duma maneira rápida e sem drama, o que é aceitar o mundo: é
perder o direito à inocência” (Bessa-Luís, 2008: 187). Talvez por isso abandona
a Europa no deflagrar da 2.ª Guerra Mundial. Abandono físico porque o
país e a cidade acolhedores – Brasil, Rio de Janeiro – recebem com ela a
amargura que qualquer guerra provoca. É aí que pinta “Le Désastre” (1942),
representação horrenda do conflito europeu, tumultuária, titânica e “vazia
crucificação, onde o acento futurista dum Rossolo parece petrificar-se em gente
feita de estilhas, sob um céu estilhaçado, ou hangar, estrutura mecânica de
um mundo absurdo” (França, 1988: 7). É no Brasil, mas com o pensamento
na Europa que Maria Helena, através deste quadro, bem como de “Le feu”
(1944) e de “Histoire maritime-tragique” (1944), faz a iniciação da sua obra
maior. “Le Désastre” (1942) é “a última pintura possível de uma época, de um
clima pictural, e a primeira a anunciar outra época e outro clima, e a propor-
lhe, pelo absurdo, uma negação de figuração em si própria sensível, mas
terminal” (França, 1988: 8). Trata-se de uma pintura de agouros em que o
encontro da artista com o real se faz de inquietações, interrupções, factos e
memórias. Retomando a figuração pinta os movimentos terríveis da guerra
numa linguagem de occídio só suplantada pelo “Guernica” de Picasso.
Maria Helena demanda, contudo, a verdadeira cidade dos homens e é pelo
paisagismo ou naturalismo abstracto que se liga à cultura dos espaços em
que viveu – França, Brasil, Portugal – inequivocamente testemunhados na
diáspora de uma vida, de uma obra. As suas telas espelham a cumplicidade
que não o corte com as modalidades tradicionais da figuração em sistemas
progressivos sem que com isso pactuem com a utópica ablação do real.
Contornando hierarquias formais, cria os seus valores exclusivos e emana-os
num idiolecto próprio que, fraccionando os espaços, lhes confere uma fluidez
e infinitude metafóricas que demandam a ambiguidade. Nesta ambiguidade
constrói espaços cheios e vazios que convivem na globalidade do quadro
conferindo-lhe movimento. Entre o delírio e o rigor, geometrias várias insinuam
os diferentes sentidos, enquanto processos pictóricos sugerem distâncias e
movimentos.
Enredam-se telas e fios tecidos em memórias longínquas de Portugal,
Brasil e França. E há portas e pontes, gares e baptistérios, bibliotecas e,
muito particularmente labirínticas cidades. É o mundo pictórico das linhas
verticais e horizontais estabelecedoras do dialogismo tempo / espaço na
construção do onírico. Aí se encontram as “Bibliothèques”, por ventura o
seu motivo mais obsessivo (1947-1974), arquivo de memórias, arquivo do
mundo no sentido borgeano do termo. Arquivo do tempo também. Camões,
Pessoa, Sophia, René Char, o tal dos presságios, comparecem como pontos
matriciais de uma trajectória em construção. É através desses lugares de
arquivos de experiências e memórias que ensaia o acesso às cidades, às suas
cidades que se vão descobrindo na tela num lento processo de construção
de espaços múltiplos. Depois surge o traço que fende os limites, estilhaça
a unidade agilizando a bidimensionalidade numa demanda polissémica.
Assim “estratigrafiza a paisagem, desmultiplica construções, arruamentos,
filamentos, estruturas, movimentos. Como se a cidade vista fosse apenas
uma teia de sugestões erguida com a sabedoria de Ariadne” (AA. VV., 2010:
30). “Maisons Grises” (1950), “Blanche” (1958), “Lisbonne” (1962), “Palais des
glaces” (1965), “Gaya” (1971) são apenas algumas das telas-teia que encerram
catedrais, bibliotecas, prédios, jardins, povoamentos de labirínticas cidades.
É delas que se parte num trajecto que vai do deslumbramento perturbador
e inquiridor face ao próprio acto de pintar, até ao esplendor encantatório de
um universo que a pintora vê como locus obsidente e a que abre toda a sua
disponibilidade interior com vista à reedificação.
A ideia de diáspora – voluntária e involuntária – é filão matricial da pintura
de Vieira da Silva. Há uma permanente demanda de novos horizontes na
determinação com que pinta o ausente como se estivesse presente, numa
manifesta sede de infinito.
A esta obsessão pela viagem, a este desejo de transcendência arduamente
tecido cabe a noção de heterotopia a que alude Foulcault. Trata-se de uma
procura dos “lugares que estão fora de todos os lugares” com a capacidade e o
poder “de justapor em um só lugar real vários espaços, vários posicionamentos
que são em si próprios incompatíveis” (Foulcault, 2001: 418). Este desejo, esta
procura dos espaços encontra eco na obra de Sophia, a tal mulher “que tem a
cortesia de parecer vulnerável.” (Bessa-Luís, 2009: 16),
com quem Maria Helena privou e comungou afinidades de lutas e vivências.
A sua pintura projecta-se em poemas labirínticos onde observador e pintor,
poeta e leitor se fundem e confundem no espaço insaciável e sempre iniciático
apenas com paralelo na teia de Penélope. Assim escreve Sophia (2004a: 68)
em “Maria Helena Vieira da Silva ou o Itinerário Inelutável”
Minúcia é o labirinto muro por muro
Pedra contra pedra livro sobre livro
Rua após rua escada após escada
Se faz e se desfaz o labirinto
Palácio é o labirinto e nele
Se multiplicam as salas e cintilam
Os quartos de Babel roucos e vermelhos
Passado é o labirinto: seus jardins afloram
E do fundo da memória sobem as escadas
Encruzilhada é o labirinto e antro e gruta
Biblioteca rede inventário colmeia –
Itinerário é o labirinto
Como o subir dum astro inelutável –
Mas aquele que o percorre não encontra
Toiro nenhum solar nem sol nem lua
Mas só o vidro sucessivo do vazio
E um brilho de azulejos íman frio
Onde os espelhos devoram as imagens
Exauridos pelo labirinto caminhamos
Na minúcia da busca na atenção da busca
Na luz mutável: de quadrado em quadrado
Encontramos desvios redes e castelos
Torres de vidro corredores de espanto
Mas um dia emergiremos e as cidades
Da equidade mostrarão seu branco
Sua cal sua aurora seu prodígio.
Processo de construção labiríntico, obsessivo, sofrido. Sobre este poema diz
Agustina: “é uma das mais belas poesias de Sophia de Mello Breyner, em
que ela deixa conhecer a fascinação: uma certa rigidez da forma acentua a
distância, e assegura a imutabilidade” (Bessa-Luís, 209: 92).
Uma outra diáspora. Os mesmos temas e as mesmas formas ligam as duas
artes e encorpam o movimento duplo de abertura e fechamento que remete
para tudo de quanto paradoxal tem a arte. A voz poética reconstrói uma
paisagem interminável de espaços conhecidos mas não particularizados
por entre os quais o vazio espreita. Os poemas de Sophia e os quadros de
Maria Helena remetem para a concomitância de itinerários paradoxais, como
paradoxais são as figuras que os percorrem – incessante peleja pela libertação
do olhar e do pensamento num também incessante fazer e desfazer da teia.
Também em “Tríptico ou Maria Helena, Arpad e a pintura” (Andresen, 2004b:
10) se presentifica o carácter pictórico da poesia de Sophia bem como a
afeição pela arte de quem, de alguma maneira, provoca a já referida “emoção
estética”:
I
Eles não pintam o quadro: estão dentro do quadro
II
Eles não pintam o quadro: julgam que estão dentro do quadro
III
Eles sabem que não estão dentro do quadro: pintam o quadro
Sophia aproxima-se aqui de um geometrismo onde os actores, sendo também
espectadores, se desdobram entre dois espaços e duas funções. O dentro
e o fora convergem na tela numa clara alusão ao período em que o casal
viveu no Rio de Janeiro. São dessa altura numerosos auto-retratos bem
como o que poderei chamar um processo meta-pictural uma vez que Arpad,
aquele que “pinta como quem ama a realidade – submetendo-a a puríssimos
fragmentos”, (Bessa-Luís, 2009: 21), pintou Maria Helena na feitura de telas,
que fazem parte do seu espólio, numa curiosa troca e acumulação de papéis.
Há na arte de Vieira da Silva uma projecção subjectiva da sua experiência
geracional, instituída pelo trabalho, o dever, a pesquisa que demanda campos
heterotópicos de igual modo observados em certos poemas de Sophia que
acabam por questionar o poder do espaço. O passado ensina “que a evolução
da humanidade consiste na espiritualização de numerosos valores. Entre
estes valores a arte ocupa o primeiro lugar” (Kandinsky, 2008: 48), sobretudo
se, como é o caso, existe uma relação entre a obra e a emoção que a gerou
no artista ou a emoção que ela é capaz de fomentar no espectador / leitor.
Nas telas-teia de Maria Helena e nos poemas-teia de Sophia “adivinham-se
catedrais, labirintos, bibliotecas, jardins, vendavais, arrebatamentos de estio”
(AA. VV. 2010: 32) produtos de itinerâncias físicas e mentais.
Depois há o olhar de Maria Helena, já apreciado por Agustina e também
referido por Sophia (Andresen, 1994: 31):
Atenta antena
Athena
De olhos de coruja
Na obscura noite lúcida
A pintora não existe sem a mulher. Atenção à arte. Tal como Athena pugnou
por Ulisses, Maria Helena pugnará por ela na demanda de Ítaca. Uma Ítaca
perdida na migração e no exílio mas achada pela razão (“Athena”), pela
sabedoria (“coruja”) e por muito muito trabalho que para a pintora foi “um
baptismo e uma extrema-unção […] a sua fé e o seu sacramento maior”
(Agustina, 2009: 172). De facto, a leitura das suas composições, para além
do prazer estético, provoca a percepção de um voluntário hard labour que
desconstrói, para de novo edificar, a paisagem citadina. “Quando Maria Helena
pinta ‘como se obedecesse a uma força superior’, a paz é um absurdo, como
a realidade concreta é um absurdo que é preciso recrear para que se torne
afecto do homem, obra sua” (Bessa-Luís, 2008: 22). Deve-se-lhe o fenómeno
geracional genesíaco do esplendor do abstraccionismo português, que em
muito influenciou nomes como os de Manuel Cargaleiro e Mário Cesariny.
A quebra de identidade, a orfandade cultural, o desenraizamento afectivo
que a sua condição de migrante podia carrear foi contrariada pela arte que,
pospondo molduras jurídicas e institucionais, se tornou elemento coadjuvante
de uma atitude de denúncia ou de chamada de atenção mais branda para
uma visão holística da realidade. Por outro lado, é também à sua condição
migrante1 que Maria Helena deve muita da sua habilidade artística gerada em
experiências vivenciais, em aprendizagens diversas nos espaços que percorreu
como refere Agustina: “Deixou Portugal Vieira da Silva por esperanças que as
montanhas parecem cortar de um lado e conceder o mar pelo outro. São assim
os portugueses, curiosos do que a terra lhes proíbe e ansiosos do mar que lhes
promete. Boas terras pisou Vieira da Silva; escolheu-as decerto para que o
1
Opto por esta denominação em detrimento de e/imigrante, por me parecer que, afinal, o
emigrante se torna imigrante no país de acolhimento, concitando em torno de si os dois
conceitos, ainda que os seus direitos e deveres tenham, naturalmente, características de índole
diversa, direi mesmo, quase antagónicas.
contentamento andasse a par com o trabalho”. (Bessa-Luís, 2009: 135-136)
De facto, “aquele que emigra é como o que vai ao fundo dos abismos onde
nem a morte chega sem medo, para daí trazer uma imagem amada, a imagem
da terra em que se criou. Passa-se muito fora de Portugal para que Portugal
seja mais nosso” (Bessa-Luís, 2008, 93). Talvez por isso seja sistemática
a Presença de Portugal nas telas de Vieira da Silva. Assim, o elemento
paisagístico da terra pátria presentifica-se em obras como “Pour Expliquer
Sintra à Arpad” (1932), “Alentejo” (1960) “Porto” (1962), “Vieux Lisbonne”
(1968), “Lisbonne Bleue” (1969); o pendor folclórico-etnográfico é visível
em “Santo António de Lisboa” (1949) ou “Arraial” (1950); num magnífico díptico
– “A Poesia está na Rua I / II” (1974)2 –, evocador da Revolução dos Cravos
surge uma outra cidade, espaço da liberdade colectiva que a poesia convoca.
Um Portugal policromo, perfeitamente identificado no seu “Testament” (S/A,
1994, s/p) onde se pode ler:
Je lègue à mes amis
[…]
un vermillon pour faire circuler le sang allègrement
un vert mousse pour apaiser les nerfs
un jaune d’or : richesse
[…]
“A grandeza dum espírito está na pluralidade e plenitude da sua sensibilidade.
Todo o vasto espírito é sempre um tanto santo e outro demoníaco. Todo o
artista exagera ou dilui, aviva ou simplifica” (Bessa-Luís, 2008: 22). Poesia,
prosa e pintura com nome de mulher e “para a mulher, não existe a noção de
criação, ela está dentro do mistério, faz parte dele” (Bessa-Luís, 2009: 168).
Cá dentro ou lá fora, migrantes reais ou ficcionais, Maria Helena, Sophia e
Agustina afagam todo esse mistério que envolve a diáspora, “tendência fatal
dos portugueses que se manifesta desde o primeiro bocejo” (Bessa-Luís, 2008:
94). Podem olhar, sem parcimónia umas para as outras; são conscientes de
que a arte serve “para abolir o absurdo” (Bessa-Luís, 2009: 22) e que, tal como
refere Picasso – “Pinto igual que outros escriben su biografia. Los cuadros
terminados son las páginas de mi diário” –, configura a escrita do eu.
Bibliografia
AA. VV. Abstracção. Arte Partilhada. Lisboa: Fundação Millenium bcp, 2010.
2
Sobre esta obra, escreve Agustina (2009, 78): “Quando Sophia Breyner, então deputada
socialista, pediu a Vieira para que ela fizesse um cartaz para festejar o 25 de Abril, o resultado
foi enigmático. Maria Helena pintou, conforme a sua primeira inspiração, algo como uma
igreja em ruínas. […] Nesse momento, em que devia reportar-se a um festim, como Sócrates
convidado a comparecer em casa de Ágaton, onde estarão presentes tanto os retóricos, como
os pedantes e os ricos de Atenas, nesse momento Vieira pinta uma igreja; isto é: deixa-se ficar
solitária, não estranha à festa, mas fiel à sua íntima condição de pessoa imperdoável, como foi
o próprio Sócrates na sua actualidade”.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Dual. Lisboa: Caminho, 2004a.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner Andresen. Ilhas. Lisboa: Caminho, 2004b..
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner Andresen. Musa. Lisboa: Caminho, 1994.
AZEVEDO, Fernando de. Vieira da Silva o longínquo desastre. Colóquio Artes, n.º 77.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,1988, pp. 14-16..
BESSA-LUÍS, Agustina. Dicionário Imperfeito. Lisboa: Guimarães Editores, 2008..
BESSA-LUÍS, Agustina. Longos Dias têm Cem Anos. Lisboa: Guimarães Editores,
2009.
BELL, Clive. Arte. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009.
DILTHEY, Wilhelm. (1994). Sistema de Ética. S. Paulo: Ícone, 1994.
FRANÇA, José-Augusto. Vieira da Silva 1958. Colóquio Artes, n.º 77. Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1988, pp. 5-12.
FOUCAULT, Michel. Outros espaços. Estética: literatura e pintura, música e cinema.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011, pp.411-422.
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70, 2005.
KANDINSKY, Wassily. Gramática da Criação. Lisboa: Edições 70, 2008.
KANDINSKY, Wassily. Ponto, Linha, Plano. Lisboa: Edições 70, 2006.
S / A. Presença de Portugal na obra de Arpad Szenes e Vieira da Silva. Lisboa:
Fundação Arapad Szenes – Vieira da Silva, 1994.
PONCE DE LEÃO, Isabel. Maria Helena Vieira da Silva. Ulyssei@s.
[em linha], Março de 2011. Disponível em searchText=vieira+da+silva&sortBy=nome&page=base_recorddetail&baseid=2&search
=+Pesquisar+&recordid=53>. (Consultado em 10.04.2011).
VALLIER, Dora. Pour Vieira da Silva 1988. Colóquio Artes, n.º 77. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1988, p. 21.
Isabel Ponce de Leão
Professora Catedrática
Universidade Fernando Pessoa
CLEPUL
Porto
Aprendí pronto que al emigrar se pierden las muletas que han servido de
sostén hasta entonces, hay que comenzar desde cero, porque el pasado
se borra de un plumazo y a nadie le importa de dónde uno viene o qué
ha hecho antes.
Isabel Allende
O nome de Maria Helena Vieira da Silva andará sempre associado à diáspora
portuguesa, penitente percurso em que Mulher e Pintora assumem a
cumplicidade e a comunhão fraterna inviabilizadoras de destrinça. De facto, a
pintora não existe sem a mulher ou, parafraseando Heidegger, “o artista é a
origem da obra. A obra é a origem do artista. Nenhum é sem o outro”.
Suiça, Paris, Rio de Janeiro, o mundo são lugares onde – onde sente
saudades pátrias e onde reaprende a viver. Artista e mulher carrega o estigma
do isolamento mesmo na sua terra que se lhe tornou madrasta e muito
tardiamente reconheceu a sua genialidade.
A migração foi, porventura, a sua evasão, como aconteceu com outros artistas
e escritores portugueses com quem se relacionou. Refiro-me a Sophia e a
Agustina que, sem abandonarem o solo pátrio, fogem, pela escrita para outras
paragens sempre carentes do regresso. Um outro jeito, não menos doloroso,
de migrar.
Em Longos dias têm cem anos, a propósito de uma visita a casa de Sophia
de Mello Breyner, Agustina Bessa-Luís escreve: “Arpad disse que estavam
ali as três mulheres de mais talento em Portugal. […] Maria Helena pintava,
eu escrevia romances, a Sophia fazia poesia” (Bessa-Luís, 2009: 15-16). E
afastando-se, de imediato, da vertente artística para a humana acrescenta: “A
Sophia era um caso – uma mulher que tem a cortesia de parecer vulnerável.
Eu era um caso – incerteza apaixonada. Vieira era um caso – uma mulher
justa” (Bessa-Luís, 2009: 16).
Estas foram as três mulheres que, incorporando o mistério da criação,
marcaram artística e culturalmente o Portugal do século XX pois perseguiram
com uma notável akribeia o conciliábulo ética / estética através de uma
produção assinalável, em termos quantitativos e qualitativos, instaurando
assim dinâmicas salvívicas. De facto, “se todos os artistas da terra parassem
durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota
de música, fazia-se um deserto extraordinário” (Bessa-Luís, 2008: 20). É
justamente esse deserto que, por elas e com elas, nunca aconteceu dando-nos
conta, como deram, de que “O ponto de partida de todos os sistemas estéticos
deve ser a experiência pessoal de uma emoção particular” (Bell, 2009: 22).
Assim conceberam obras que provocam o que Clive Bell denomina “emoção
estética”.
Colho Vieira da Silva como protagonista e convoco os olhares de Agustina
e de Sophia, que sobre ela recaem, de forma a relevar uma tríade feminina
enformadora de uma diáspora física e mental.
Maria Helena, a pintora, a “mulher justa” a que alude Agustina que, sobre
ela escreveria ainda: “Falava pouco. Olhava, sobretudo. Olhava com uma
intensidade fria, como se estivesse a atravessar um rio e se dividisse entre o
perigo e o prazer. O fundo arenoso onde se recortavam peixes prateados dava-
lhe aquela expressão suspensa e maravilhada; mas, de repente, o remoinho
da água trazia a noção da forte corrente, e, um pouco mais, era a dúvida,
um temor concentrado, a razão alertada. O rosto exprimia angústia, os olhos
abriam-se mais e ganhavam uma cor cristalina” (Bessa-Luís, 2008: 303-304).
Ora este retrato de Agustina ao convocar a linguagem do olhar para
caracterizar Vieira da Silva vem, muito justamente, ao encontro da ideia de
que, e seguindo os ditames de Dilthey (1994), o potencial criativo, longe de
se instituir um processo psíquico especial, emana do quotidiano, do contracto
intrínseco entre o ser humano e as suas vivências, de opções definidas e
assumidas perante as vicissitudes da vida que ora espanta, ora atemoriza
A arte de Maria Helena Vieira da Silva teve a peculiaridade de, citando
Malraux, “transformar a vida em destino” instituindo-se viagem gerada na
legítima emigração de quem procura o espaço favorável à sua expressão sem
nunca negligenciar a sensibilidade marcada pelas suas raízes.
O seu génio pessoal encontrou em Paris o meio adequado à libertação,
à ruptura com uma tradição figurativa sem negligenciar, contudo, a praxis
essencial de analogia com a realidade. É aí que, durante a década de 30,
integra a geração da Nova Escola de Paris mantendo, contudo, alguma
independência de certos –ismos de uma Europa efervescente.
Estava lançado o destino de Maria Helena na sua ligação ao abstraccionismo
propondo obras onde era clara a fragmentação de motivos figurativos num
processo destrutivo das formas significantes em demanda do onírico. Refiro
uma arte que, privilegiando formas e cores, nega temas e figuras e bane o
compromisso com a realidade. Sou, contudo, cauta ao pensar o
abstraccionismo em Vieira da Silva que a própria considera, em entrevista
concedida em 1978, ter sido “uma escolha difícil, mas tinha que partir de
dentro, devia ser uma escolha racional. Para pintar pensando com a cabeça e
fazendo com a mão”. Tinha consciência, Maria Helena, de que “a obra de arte
reflecte-se na superfície da consciência […] [e que] a análise dos seus
elementos constitui uma ponte em direcção à vida interior da obra” (Kandinsky,
2006: 25-26). O seu percurso culmina na abstracção a partir da figuração. Os
pontos, elementos originais da pintura e as linhas oriundas dos seus
movimentos, entram nos planos que têm no quadrado a sua forma
esquemática e original, jogando-se em vibrações dramáticas de modo
a “encontrar a vida, tornar sensível a sua pulsação e verificar a ordem de tudo
o que vive”, evidenciando “que é um trabalho de síntese que conduz às
revelações exteriores” (Kandinsky, 2006: 143). Pode-se afirmar que na sua
pintura “la catégorie spatiale a basculé la catégorie temporelle. Espace et
temps ont révélé leur étroite liaison” (Vallier, 1988: 21). “Depois, Maria Helena
era também consciente de que a sua arte era o repositório de experiências
vividas – onde se destaca a emigração para França – e de uma saturada
atenção aos clássicos” (Ponce de Leão, 2011).
Uma “mulher justa” (Bessa-Luís, 2009: 16) lhe chama Agustina, uma “mulher
[…] que sabe, duma maneira rápida e sem drama, o que é aceitar o mundo: é
perder o direito à inocência” (Bessa-Luís, 2008: 187). Talvez por isso abandona
a Europa no deflagrar da 2.ª Guerra Mundial. Abandono físico porque o
país e a cidade acolhedores – Brasil, Rio de Janeiro – recebem com ela a
amargura que qualquer guerra provoca. É aí que pinta “Le Désastre” (1942),
representação horrenda do conflito europeu, tumultuária, titânica e “vazia
crucificação, onde o acento futurista dum Rossolo parece petrificar-se em gente
feita de estilhas, sob um céu estilhaçado, ou hangar, estrutura mecânica de
um mundo absurdo” (França, 1988: 7). É no Brasil, mas com o pensamento
na Europa que Maria Helena, através deste quadro, bem como de “Le feu”
(1944) e de “Histoire maritime-tragique” (1944), faz a iniciação da sua obra
maior. “Le Désastre” (1942) é “a última pintura possível de uma época, de um
clima pictural, e a primeira a anunciar outra época e outro clima, e a propor-
lhe, pelo absurdo, uma negação de figuração em si própria sensível, mas
terminal” (França, 1988: 8). Trata-se de uma pintura de agouros em que o
encontro da artista com o real se faz de inquietações, interrupções, factos e
memórias. Retomando a figuração pinta os movimentos terríveis da guerra
numa linguagem de occídio só suplantada pelo “Guernica” de Picasso.
Maria Helena demanda, contudo, a verdadeira cidade dos homens e é pelo
paisagismo ou naturalismo abstracto que se liga à cultura dos espaços em
que viveu – França, Brasil, Portugal – inequivocamente testemunhados na
diáspora de uma vida, de uma obra. As suas telas espelham a cumplicidade
que não o corte com as modalidades tradicionais da figuração em sistemas
progressivos sem que com isso pactuem com a utópica ablação do real.
Contornando hierarquias formais, cria os seus valores exclusivos e emana-os
num idiolecto próprio que, fraccionando os espaços, lhes confere uma fluidez
e infinitude metafóricas que demandam a ambiguidade. Nesta ambiguidade
constrói espaços cheios e vazios que convivem na globalidade do quadro
conferindo-lhe movimento. Entre o delírio e o rigor, geometrias várias insinuam
os diferentes sentidos, enquanto processos pictóricos sugerem distâncias e
movimentos.
Enredam-se telas e fios tecidos em memórias longínquas de Portugal,
Brasil e França. E há portas e pontes, gares e baptistérios, bibliotecas e,
muito particularmente labirínticas cidades. É o mundo pictórico das linhas
verticais e horizontais estabelecedoras do dialogismo tempo / espaço na
construção do onírico. Aí se encontram as “Bibliothèques”, por ventura o
seu motivo mais obsessivo (1947-1974), arquivo de memórias, arquivo do
mundo no sentido borgeano do termo. Arquivo do tempo também. Camões,
Pessoa, Sophia, René Char, o tal dos presságios, comparecem como pontos
matriciais de uma trajectória em construção. É através desses lugares de
arquivos de experiências e memórias que ensaia o acesso às cidades, às suas
cidades que se vão descobrindo na tela num lento processo de construção
de espaços múltiplos. Depois surge o traço que fende os limites, estilhaça
a unidade agilizando a bidimensionalidade numa demanda polissémica.
Assim “estratigrafiza a paisagem, desmultiplica construções, arruamentos,
filamentos, estruturas, movimentos. Como se a cidade vista fosse apenas
uma teia de sugestões erguida com a sabedoria de Ariadne” (AA. VV., 2010:
30). “Maisons Grises” (1950), “Blanche” (1958), “Lisbonne” (1962), “Palais des
glaces” (1965), “Gaya” (1971) são apenas algumas das telas-teia que encerram
catedrais, bibliotecas, prédios, jardins, povoamentos de labirínticas cidades.
É delas que se parte num trajecto que vai do deslumbramento perturbador
e inquiridor face ao próprio acto de pintar, até ao esplendor encantatório de
um universo que a pintora vê como locus obsidente e a que abre toda a sua
disponibilidade interior com vista à reedificação.
A ideia de diáspora – voluntária e involuntária – é filão matricial da pintura
de Vieira da Silva. Há uma permanente demanda de novos horizontes na
determinação com que pinta o ausente como se estivesse presente, numa
manifesta sede de infinito.
A esta obsessão pela viagem, a este desejo de transcendência arduamente
tecido cabe a noção de heterotopia a que alude Foulcault. Trata-se de uma
procura dos “lugares que estão fora de todos os lugares” com a capacidade e o
poder “de justapor em um só lugar real vários espaços, vários posicionamentos
que são em si próprios incompatíveis” (Foulcault, 2001: 418). Este desejo, esta
procura dos espaços encontra eco na obra de Sophia, a tal mulher “que tem a
cortesia de parecer vulnerável.” (Bessa-Luís, 2009: 16),
com quem Maria Helena privou e comungou afinidades de lutas e vivências.
A sua pintura projecta-se em poemas labirínticos onde observador e pintor,
poeta e leitor se fundem e confundem no espaço insaciável e sempre iniciático
apenas com paralelo na teia de Penélope. Assim escreve Sophia (2004a: 68)
em “Maria Helena Vieira da Silva ou o Itinerário Inelutável”
Minúcia é o labirinto muro por muro
Pedra contra pedra livro sobre livro
Rua após rua escada após escada
Se faz e se desfaz o labirinto
Palácio é o labirinto e nele
Se multiplicam as salas e cintilam
Os quartos de Babel roucos e vermelhos
Passado é o labirinto: seus jardins afloram
E do fundo da memória sobem as escadas
Encruzilhada é o labirinto e antro e gruta
Biblioteca rede inventário colmeia –
Itinerário é o labirinto
Como o subir dum astro inelutável –
Mas aquele que o percorre não encontra
Toiro nenhum solar nem sol nem lua
Mas só o vidro sucessivo do vazio
E um brilho de azulejos íman frio
Onde os espelhos devoram as imagens
Exauridos pelo labirinto caminhamos
Na minúcia da busca na atenção da busca
Na luz mutável: de quadrado em quadrado
Encontramos desvios redes e castelos
Torres de vidro corredores de espanto
Mas um dia emergiremos e as cidades
Da equidade mostrarão seu branco
Sua cal sua aurora seu prodígio.
Processo de construção labiríntico, obsessivo, sofrido. Sobre este poema diz
Agustina: “é uma das mais belas poesias de Sophia de Mello Breyner, em
que ela deixa conhecer a fascinação: uma certa rigidez da forma acentua a
distância, e assegura a imutabilidade” (Bessa-Luís, 209: 92).
Uma outra diáspora. Os mesmos temas e as mesmas formas ligam as duas
artes e encorpam o movimento duplo de abertura e fechamento que remete
para tudo de quanto paradoxal tem a arte. A voz poética reconstrói uma
paisagem interminável de espaços conhecidos mas não particularizados
por entre os quais o vazio espreita. Os poemas de Sophia e os quadros de
Maria Helena remetem para a concomitância de itinerários paradoxais, como
paradoxais são as figuras que os percorrem – incessante peleja pela libertação
do olhar e do pensamento num também incessante fazer e desfazer da teia.
Também em “Tríptico ou Maria Helena, Arpad e a pintura” (Andresen, 2004b:
10) se presentifica o carácter pictórico da poesia de Sophia bem como a
afeição pela arte de quem, de alguma maneira, provoca a já referida “emoção
estética”:
I
Eles não pintam o quadro: estão dentro do quadro
II
Eles não pintam o quadro: julgam que estão dentro do quadro
III
Eles sabem que não estão dentro do quadro: pintam o quadro
Sophia aproxima-se aqui de um geometrismo onde os actores, sendo também
espectadores, se desdobram entre dois espaços e duas funções. O dentro
e o fora convergem na tela numa clara alusão ao período em que o casal
viveu no Rio de Janeiro. São dessa altura numerosos auto-retratos bem
como o que poderei chamar um processo meta-pictural uma vez que Arpad,
aquele que “pinta como quem ama a realidade – submetendo-a a puríssimos
fragmentos”, (Bessa-Luís, 2009: 21), pintou Maria Helena na feitura de telas,
que fazem parte do seu espólio, numa curiosa troca e acumulação de papéis.
Há na arte de Vieira da Silva uma projecção subjectiva da sua experiência
geracional, instituída pelo trabalho, o dever, a pesquisa que demanda campos
heterotópicos de igual modo observados em certos poemas de Sophia que
acabam por questionar o poder do espaço. O passado ensina “que a evolução
da humanidade consiste na espiritualização de numerosos valores. Entre
estes valores a arte ocupa o primeiro lugar” (Kandinsky, 2008: 48), sobretudo
se, como é o caso, existe uma relação entre a obra e a emoção que a gerou
no artista ou a emoção que ela é capaz de fomentar no espectador / leitor.
Nas telas-teia de Maria Helena e nos poemas-teia de Sophia “adivinham-se
catedrais, labirintos, bibliotecas, jardins, vendavais, arrebatamentos de estio”
(AA. VV. 2010: 32) produtos de itinerâncias físicas e mentais.
Depois há o olhar de Maria Helena, já apreciado por Agustina e também
referido por Sophia (Andresen, 1994: 31):
Atenta antena
Athena
De olhos de coruja
Na obscura noite lúcida
A pintora não existe sem a mulher. Atenção à arte. Tal como Athena pugnou
por Ulisses, Maria Helena pugnará por ela na demanda de Ítaca. Uma Ítaca
perdida na migração e no exílio mas achada pela razão (“Athena”), pela
sabedoria (“coruja”) e por muito muito trabalho que para a pintora foi “um
baptismo e uma extrema-unção […] a sua fé e o seu sacramento maior”
(Agustina, 2009: 172). De facto, a leitura das suas composições, para além
do prazer estético, provoca a percepção de um voluntário hard labour que
desconstrói, para de novo edificar, a paisagem citadina. “Quando Maria Helena
pinta ‘como se obedecesse a uma força superior’, a paz é um absurdo, como
a realidade concreta é um absurdo que é preciso recrear para que se torne
afecto do homem, obra sua” (Bessa-Luís, 2008: 22). Deve-se-lhe o fenómeno
geracional genesíaco do esplendor do abstraccionismo português, que em
muito influenciou nomes como os de Manuel Cargaleiro e Mário Cesariny.
A quebra de identidade, a orfandade cultural, o desenraizamento afectivo
que a sua condição de migrante podia carrear foi contrariada pela arte que,
pospondo molduras jurídicas e institucionais, se tornou elemento coadjuvante
de uma atitude de denúncia ou de chamada de atenção mais branda para
uma visão holística da realidade. Por outro lado, é também à sua condição
migrante1 que Maria Helena deve muita da sua habilidade artística gerada em
experiências vivenciais, em aprendizagens diversas nos espaços que percorreu
como refere Agustina: “Deixou Portugal Vieira da Silva por esperanças que as
montanhas parecem cortar de um lado e conceder o mar pelo outro. São assim
os portugueses, curiosos do que a terra lhes proíbe e ansiosos do mar que lhes
promete. Boas terras pisou Vieira da Silva; escolheu-as decerto para que o
1
Opto por esta denominação em detrimento de e/imigrante, por me parecer que, afinal, o
emigrante se torna imigrante no país de acolhimento, concitando em torno de si os dois
conceitos, ainda que os seus direitos e deveres tenham, naturalmente, características de índole
diversa, direi mesmo, quase antagónicas.
contentamento andasse a par com o trabalho”. (Bessa-Luís, 2009: 135-136)
De facto, “aquele que emigra é como o que vai ao fundo dos abismos onde
nem a morte chega sem medo, para daí trazer uma imagem amada, a imagem
da terra em que se criou. Passa-se muito fora de Portugal para que Portugal
seja mais nosso” (Bessa-Luís, 2008, 93). Talvez por isso seja sistemática
a Presença de Portugal nas telas de Vieira da Silva. Assim, o elemento
paisagístico da terra pátria presentifica-se em obras como “Pour Expliquer
Sintra à Arpad” (1932), “Alentejo” (1960) “Porto” (1962), “Vieux Lisbonne”
(1968), “Lisbonne Bleue” (1969); o pendor folclórico-etnográfico é visível
em “Santo António de Lisboa” (1949) ou “Arraial” (1950); num magnífico díptico
– “A Poesia está na Rua I / II” (1974)2 –, evocador da Revolução dos Cravos
surge uma outra cidade, espaço da liberdade colectiva que a poesia convoca.
Um Portugal policromo, perfeitamente identificado no seu “Testament” (S/A,
1994, s/p) onde se pode ler:
Je lègue à mes amis
[…]
un vermillon pour faire circuler le sang allègrement
un vert mousse pour apaiser les nerfs
un jaune d’or : richesse
[…]
“A grandeza dum espírito está na pluralidade e plenitude da sua sensibilidade.
Todo o vasto espírito é sempre um tanto santo e outro demoníaco. Todo o
artista exagera ou dilui, aviva ou simplifica” (Bessa-Luís, 2008: 22). Poesia,
prosa e pintura com nome de mulher e “para a mulher, não existe a noção de
criação, ela está dentro do mistério, faz parte dele” (Bessa-Luís, 2009: 168).
Cá dentro ou lá fora, migrantes reais ou ficcionais, Maria Helena, Sophia e
Agustina afagam todo esse mistério que envolve a diáspora, “tendência fatal
dos portugueses que se manifesta desde o primeiro bocejo” (Bessa-Luís, 2008:
94). Podem olhar, sem parcimónia umas para as outras; são conscientes de
que a arte serve “para abolir o absurdo” (Bessa-Luís, 2009: 22) e que, tal como
refere Picasso – “Pinto igual que outros escriben su biografia. Los cuadros
terminados son las páginas de mi diário” –, configura a escrita do eu.
Bibliografia
AA. VV. Abstracção. Arte Partilhada. Lisboa: Fundação Millenium bcp, 2010.
2
Sobre esta obra, escreve Agustina (2009, 78): “Quando Sophia Breyner, então deputada
socialista, pediu a Vieira para que ela fizesse um cartaz para festejar o 25 de Abril, o resultado
foi enigmático. Maria Helena pintou, conforme a sua primeira inspiração, algo como uma
igreja em ruínas. […] Nesse momento, em que devia reportar-se a um festim, como Sócrates
convidado a comparecer em casa de Ágaton, onde estarão presentes tanto os retóricos, como
os pedantes e os ricos de Atenas, nesse momento Vieira pinta uma igreja; isto é: deixa-se ficar
solitária, não estranha à festa, mas fiel à sua íntima condição de pessoa imperdoável, como foi
o próprio Sócrates na sua actualidade”.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Dual. Lisboa: Caminho, 2004a.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner Andresen. Ilhas. Lisboa: Caminho, 2004b..
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner Andresen. Musa. Lisboa: Caminho, 1994.
AZEVEDO, Fernando de. Vieira da Silva o longínquo desastre. Colóquio Artes, n.º 77.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,1988, pp. 14-16..
BESSA-LUÍS, Agustina. Dicionário Imperfeito. Lisboa: Guimarães Editores, 2008..
BESSA-LUÍS, Agustina. Longos Dias têm Cem Anos. Lisboa: Guimarães Editores,
2009.
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Calouste Gulbenkian, 1988, p. 21.
sábado, 3 de março de 2012
COMUNICAÇÃO DA PROFª DOUTORA MARIA DA CONCE
Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas na Diáspora
24-26 de Novembro de 2011
Professora Doutora Maria da Conceição Pereira Ramos
Universidade do Porto – Faculdade de Economia
e CEMRI – UAb
e-mail: cramos@fep.up.pt
Comunicação
Trabalho e empreendedorismo social da mulher portuguesa na diáspora
Resumo
A constituição de uma grande diáspora portuguesa e feminina é visível na sua forte representação nos países de acolhimento, onde o trabalho é uma dimensão essencial de autonomia, de integração e de socialização.
Os portugueses imigrantes, homens e mulheres, no passado e no presente, denotam capacidade de organização, de liderança e de comprometimento em organizações de voluntariado, de ordem associativa, organizações sem fins lucrativos, pertencendo ao terceiro sector, à economia social e solidária.
O conjunto de iniciativas socioculturais e político-cívicas (ensino da língua, promoção e divulgação da cultura portuguesa, apoio social, assistência jurídico-informativa, ….) ajudam na integração social dos migrantes e na aproximação e visibilidade da comunidade.
Assinale-se a importância do trabalho das mulheres migrantes, muito dele voluntário, e do seu empreendedorismo para o sistema económico e a solidariedade social. Estas mulheres são agentes de mudança e de desenvolvimento nos países de origem e de acolhimento, onde a sua participação contribui para o aumento da cidadania e da coesão social.
“E aonde chegue um emigrante lusíada chega uma criatura convivente, prestante, diligente e influente, que concilia, congrega, desbrava, cria riqueza, funda instituições benemerentes, semeia humanidade. E chegam sempre portugueses aos mais recônditos confins do globo, de saquita ao ombro e de cordialidade na voz e na alma”.
Miguel Torga, Diário XV, Círculo de Leitores, 2001, p. 1471-1472.
1 – Trabalho das mulheres migrantes e intercâmbios culturais e económicos
Os migrantes, homens e mulheres, têm uma importância fundamental na diáspora de Portugal no mundo, seja pelo seu número, seja pelo papel activo que desempenham no mercado de trabalho, nas redes sociais e associativas, na economia e desenvolvimento dos países de acolhimento e de origem. A constituição de uma grande diáspora portuguesa e feminina é visível na forte representação atingida nos países de acolhimento, onde o seu trabalho é uma dimensão essencial de integração e de socialização.
Importância das mulheres portuguesas nalguns países europeus
Países Nº Portugueses % mulheres
Reino Unido (2009) 96 000 50%
Bélgica (2007) 29 800 49%
França (2007) 491 000 47%
Alemanha (2009) 205 300 46%
Suíça (2009) 205 300 45%
Holanda (2009) 15 400 45%
Fonte: OCDE (2011)
A França e a Alemanha são países de emigração mais antiga, sobretudo a partir dos anos sessenta do século XX, onde os fluxos migratórios já estão consolidados, existindo “segundas” e “terceiras” gerações de migrantes (Ramos, 1999). No Reino Unido e na Suíça, os fluxos de mobilidade são mais recentes e as “segundas” gerações são ainda jovens.
No ano de 2011, as estimativas referem que terão saído 120 mil cidadãos de Portugal. Imperativos de ordem económica e profissional determinam a grande parte destes movimentos migratórios. O aumento da emigração dos mais qualificados ao nível mundial é uma tendência dos últimos anos (Ramos, 2008b). Cerca de 20% dos licenciados portugueses emigram (Docquier e Marfouk, 2006). Actualmente, uma parte significativa desta emigração ocorre no espaço da livre circulação da União Europeia e assume uma lógica temporária e não definitiva, mas também assistimos à descoberta de novos destinos extra-europeus, como o Brasil e Angola. Engenheiros, arquitectos, gestores, face à recessão do sector da construção, começam a dirigir-se para estes destinos mais distantes, onde a oferta de emprego é grande. Enfermeiros, farmacêuticos e médicos-dentistas, por exemplo, têm na Europa o destino privilegiado, estando as mulheres fortemente representadas nestes novos fluxos, nomeadamente associados à saúde e à educação.
Existe uma procura do trabalho feminino na economia global, tanto para actividades mais qualificadas, como menos qualificadas, nas novas tecnologias, na saúde, na educação, nos serviços pessoais e sociais, nomeadamente para o trabalho doméstico e de enfermagem (Ramos, 2009, 2011a). A feminização das migrações internacionais é uma das principais características da nova era das migrações. As mulheres representam 53% dos migrantes na Europa, a taxa mais elevada em relação aos outros continentes (OSCE/OIM/OIT, 2006).
Da análise da emigração portuguesa, constatamos que a emigração feminina transforma a natureza do projecto migratório, reconvertendo-o de temporário em definitivo, ou em mais prolongado. O panorama não se alterou significativamente, até à segunda metade do século XX. É visível o elevado grau de masculinidade na saída de portugueses no período de 1955 a 1974 e incremento da emigração familiar de 1970 a 1974 (Arroteia, 1983; Ramos, 1990). A feminização das migrações ganhou visibilidade no seguimento do choque petrolífero de 1973-74, com as alterações no mercado de trabalho e a reunificação familiar. A família assume um papel determinante no projecto migratório, seja na integração no país de acolhimento, seja na decisão de regresso a Portugal.
A capacidade de decisão e de intervenção das mulheres migrantes portuguesas, bem como o papel activo que desempenham ao nível económico, social e cultural, tem vindo a aumentar. O trabalho, a educação, as competências linguísticas e multiculturais, e a dupla nacionalidade são factores importantes para a integração e a participação cidadã nos países de acolhimento e de origem (Ramos et al, 2007).
Existe heterogeneidade de situações no que respeita à inserção das migrantes portuguesas em diferentes sociedades, sejam de emigração recente ou antiga, sejam mais favoráveis ao emprego e ao empreendedorismo do que outras. No Brasil, por exemplo, os imigrantes portugueses estabeleceram-se nas áreas urbanas e dedicaram-se às actividades comerciais, estando as mulheres portuguesas e o seu trabalho representadas em diferentes estudos (Boschilia, 2005; Pascal, 2005). A importância das mulheres migrantes nos serviços, especialmente trabalho doméstico (Cox, 2006), nomeadamente das mulheres portuguesas, na Europa, é uma realidade (Ramos, 1990, 2009).
As taxas de actividade das emigrantes portuguesas nos países de acolhimento são muito elevadas, superiores às da população residente, autóctone e estrangeira, e a experiência migratória permite-lhes adquirir novas competências. Estando afectadas a serviços pessoais e sociais, têm resistido melhor do que os homens ao contexto de crise actual no mercado de trabalho (OCDE, 2010, 2011), dado que o emprego das mulheres se situa em sectores (sociais e serviços domésticos, por exemplo) que não sofreram tanto com a crise económica. É possível também que as mulheres migrantes tenham aumentado a sua participação no mercado de trabalho, a fim de compensar as perdas de rendimentos dos homens migrantes.
Assinale-se, no entanto, a importância das mulheres migrantes entre os trabalhadores com modalidades atípicas, temporárias e precárias de emprego, onde acumulam algumas discriminações, ocupando mais frequentemente do que as autóctones empregos para os quais são sobrequalificadas e sendo mais afectadas pelo desemprego (Ramos, 2010). É escassa a informação sobre as condições de trabalho das pessoas imigrantes e o efeito que têm sobre a saúde. A invisibilidade das condições de trabalho das mulheres no sector doméstico é um exemplo. Natália Ramos (1993, 2009, 2010, 2011) tem analisado algumas das questões que se colocam à família e à mulher trabalhadora e mãe imigrante em contexto migratório, e às politicas públicas a implementar visando a sua integração, saúde e desenvolvimento.
Nos países de acolhimento, o trabalho das mulheres migrantes é essencial na área dos serviços, verificando-se uma mobilidade ascendente das “segundas” e “terceiras” gerações, nomeadamente através do acesso ao sector público e às actividades mais qualificadas e por conta própria. A inserção laboral das mulheres migrantes é um factor fundamental de autonomia, rompendo muitas vezes com o controlo patriarcal e a situação de “doméstica” antes da emigração, mas é igualmente um factor de socialização e de ajustamento a valores da sociedade de acolhimento, importantes para a integração e o exercício da cidadania.
Há que destacar os projectos de vida das “novas gerações de migrantes”, relacionados com a sua integração social, cultural, laboral e política, nas sociedades de acolhimento e no quadro da União Europeia e dos novos direitos de cidadania (Ramos, 2003b, 2004, 2005, 2007; La Barre, 2006). Os conhecimentos multiculturais e linguísticos abrem novas perspectivas de emprego às gerações descendentes de portugueses, no quadro da globalização. Neste sentido é pertinente estudar os novos comportamentos de mobilidade e a interacção país de origem/país de acolhimento. Os “novos trabalhadores globais” incluem as populações migrantes, necessárias à eficácia económica. Para as empresas, num contexto de globalização, ter pessoal qualificado, capaz de trabalhar em diversos ambientes culturais e em constante mobilidade, é um factor de competitividade. A internacionalização da economia portuguesa passa pela disponibilidade no mercado de trabalho de recursos humanos, tendo este potencial linguístico, cultural e profissional (Ramos, 2003a).
As mulheres migrantes ganham independência, empoderamento e qualificações, no projecto migratório, tendo um papel decisivo na gestão do orçamento familiar e das poupanças. A sua capacidade empreendedora e o peso crescente no envio de remessas financeiras para Portugal, é evidente. As mulheres migrantes contribuem, cada vez mais, para essas remessas, as quais trazem vantagens para o país de origem, no plano social, educativo e sanitário (Martin, 2007; Ramos, 1990, 2003a). A sua capacidade de poupança e de gestão são importantes contributos para a economia familiar e o desenvolvimento, recomendando a ONU às autoridades bancárias, que foquem a sua atenção nas mulheres migrantes, nas suas remessas e apoiem o seu empreendedorismo. Como constatamos (Ramos, 1990), no estudo da emigração portuguesa em França, a contribuição financeira da mulher é importante, por vezes acumulando horas de trabalho como doméstica em particulares, com limpeza de escritórios à noite, com trabalho de porteira, podendo ganhar um salário superior ao do marido (cf. também Leandro, 1995). A autonomia financeira, impensável antes da emigração, acompanha igualmente a usura e desgaste profissional, com longas jornadas de trabalho.
Os migrantes, mulheres e homens, desenvolvem práticas transnacionais e relações sociais de natureza múltiplas, ligando as sociedades de origem e as de acolhimento, através de transacções culturais e económicas. As mulheres migrantes contribuem para diferentes transformações e inovações, novas dinâmicas familiares e demográficas e mudanças progressistas que afectam as mentalidades, os hábitos de vida, a educação e a igualdade entre os géneros (Ramos, 2008a).
2 - Economia solidária, voluntariado e empreendedorismo social migrante feminino
O sector não lucrativo, referido por terceiro sector, economia social ou sector voluntário, é constituído por diferentes instituições organizadas sob a forma de associação, fundação, misericórdia, cooperativa, mutualidade, clube, etc., prosseguindo variados objectivos. As características comuns deste tipo de organização, numa perspectiva económica, residem na regra de não distribuição dos lucros gerados na actividade e no desenvolvimento de uma actividade que prossegue o bem-estar social (Ramos, 2011b).
O empreendedorismo social é uma actividade inovadora de criação de valor social, que pode ser desenvolvido em diferentes esferas – económica, educativa, social e espiritual – com actividades realizadas por indivíduos e organizações, incluindo o sector público, organizações comunitárias, organizações de acção social e instituições de caridade (Weerawardena e Mort, 2006).
O empreendedorismo social está associado ao desenvolvimento de projectos (de indivíduos ou de comunidades, não necessariamente envolvidos numa organização) que visam o interesse geral, o chamado bem comum, ou dar resposta a necessidades sociais não satisfeitas. O empreendedorismo social tem sido visto como um agente de mudança social, tanto em áreas de preocupação social como na área das políticas sociais públicas (Waddock e Post, 1991).
Falar de empreendedorismo migrante feminino é ir além do empreendedorismo económico e abranger áreas como o empreendedorismo associativo, cultural, social ou político, com impacto na capacidade de intervenção e poder das mulheres migrantes. Tem sido pouco estudado este empreendedorismo social, propiciador de práticas de inovação social com impacto na sociedade, mais vasto do que o grupo migrante a que se destina.
A economia solidária coloca desafios e oportunidades de inovação social nas suas relações com o Estado e a sociedade civil. A inovação social diz respeito a novas estratégias, conceitos, ideias e organizações que respondem a necessidades sociais de todos os tipos – desde as condições de trabalho e de educação, até ao desenvolvimento comunitário e à saúde – e que alargam e reforçam a sociedade civil. A inovação é uma componente crucial do empreendedorismo social. Evidenciando a importância desta questão, o ano de 2011 foi o ano europeu consagrado ao voluntariado e, nomeadamente, ao associativismo migrante.
As associações de migrantes portugueses desenvolvem-se sobretudo depois de 1974, através de um reforço institucional da área emigratória. Em 1980, assinale-se a criação do Conselho das Comunidades Portuguesas no Mundo, facilitando o apoio às associações que dele fizerem parte (DL nº 373/80 de 12 de Setembro). Foi “a primeira experiência de audição e diálogo institucional, entre o governo português, a sua emigração e a sua diáspora. Era um órgão consultivo do governo, constituído por representantes eleitos no mundo associativo, apelando à força e ao papel central que as associações têm na construção e preservação das comunidades de emigrantes” (Aguiar, 2009:257).
As mulheres portuguesas na diáspora têm um importante papel nas redes sociais, através das relações interpessoais fomentadas pelo trabalho, associações, geminações, actividades em paróquias. Estas imigrantes participam no quadro de associações mistas, sobretudo criadas e dirigidas por homens.
Destaca-se a capacidade de organização, de liderança e de comprometimento dos homens e mulheres migrantes portugueses, em organizações de voluntariado, sem fins lucrativos, de ordem associativa, organizações pertencendo ao terceiro sector, à economia social e solidária (Ramos, 2011a,b). Assinala-se assim a importância do trabalho das pessoas migrantes, muito dele voluntário , e do seu empreendedorismo para o sistema económico e a solidariedade social.
Assistiu-se ao desenvolvimento do movimento associativo português no mundo, com objectivos assistenciais, culturais e recreativos (DGACCP, 2010). A beneficência foi uma das características do associativismo migrante em todo o mundo desde o início de oitocentos. No Brasil, a comunidade portuguesa foi a primeira a estabelecer uma cadeia de instituições de voluntariado, apoio a trabalhadores, hospitais, bibliotecas, alfabetização,... (Trindade, 1988; Fonseca, 2009). Tais entidades tiveram um importante papel, por exemplo, no Rio de Janeiro, numa cidade onde a colónia portuguesa era grande e quando no Brasil, do século 19 e início do século 20, o Estado pouco intervinha nas relações profissionais, não tendo políticas de saúde, habitação, previdência ou lazer, e funcionando o associativismo como um meio dos indivíduos conquistarem e exercerem os seus direitos como cidadãos.
A promoção da cidadania dos homens e das mulheres migrantes é um factor importante de coesão social, entendida esta como “a capacidade de uma sociedade assegurar o bem estar de todos os seus membros, minimizar as disparidades e evitar a polarização” (Conselho da Europa, 2004, in Ramos et al, 2009).
A instalação das famílias vai dirigir o movimento associativo para outras funções. Com a chegada de mulheres e famílias, o associativismo ultrapassa a sua fase inicial de mero centro de convívio, café, tertúlia, para adquirir a vertente cultural, de transmissão de tradições e saberes da cultura portuguesa, acompanhados pela música, folclore, festas populares, gastronomia, artesanato, teatro, exposições, palestras, cursos de língua. As mulheres vão determinar novas orientações ao nível de actividades socioculturais e socioeducativas, mas também como secretárias e algumas funções directivas (CEDEP, 1986; Ramos, 1990). Dentro do processo migratório, a mulher tem um papel importante na transmissão de tradições e saberes e da cultura portuguesa no estrangeiro (culinária, canto, dança…).
As iniciativas socioculturais e político-cívicas (ensino da língua, promoção e divulgação da cultura portuguesa, apoio social, assistência jurídico-informativa...), realizadas por homens e mulheres migrantes no movimento associativo, promovem a sua integração social e participação cívica, são veículo de aproximação comunitária, visibilidade da comunidade e meio de conservação e de transmissão do património cultural. A necessidade de manter e cultivar a identidade cultural da comunidade portuguesa e de criar mecanismos para a defesa dos seus interesses na sociedade de acolhimento fez surgir no mundo, cerca de 3000 associações de portugueses (DGACCP), o mais vasto movimento associativo comunitário, nomeadamente em França, onde já existiam, em 1980, 460 associações (Ramos, 1990:586). A propensão associativa dos portugueses no estrangeiro é ressaltada por muitos autores e considerada superior à que se verifica no próprio país. As actividades das associações dirigem-se sobretudo aos membros da comunidade .
Também na vida política, a participação das mulheres migrantes começa a ser visível, sobretudo das jovens gerações na diáspora, como podemos constatar em França. No movimento associativo, as mulheres destacaram-se, sobretudo as novas gerações, desde os anos 80 do século XX em França, na dinamização de actividades culturais e recreativas (Ramos, 1990, 1999). Muitos jovens, sobretudo do sexo feminino, estão motivados em participar com outros jovens, através de associações por si constituídas, quer para se debruçarem sobre a sua realidade e os seus problemas específicos, quer para encontrarem as melhores formas de preservar a cultura portuguesa nos países onde vivem.
As mulheres portuguesas têm-se progressivamente envolvido em organizações políticas, cívicas e filantrópicas, num crescente processo de associativismo.
O associativismo migrante português tem sido maioritariamente liderado por homens, apesar das mulheres terem criado organizações próprias. Datam do final do século XIX, as pioneiras sociedades fraternais ou de socorros mútuos femininas da Califórnia (Adão, 2005). Na 2.ª metade do século XX, a “Sociedade Beneficente das Damas Portuguesas” de Caracas (1969), a “Liga da Mulher Portuguesa” da África do Sul, ou a “Associação da Mulher Imigrante Portuguesa” da Argentina (1998). Data de 1994, a criação em Portugal da Associação Mulher Migrante. A Sociedade de beneficência de Caracas foi fundada por um grupo de portuguesas com fins exclusivamente beneficentes, sendo os primeiros fundos destinados principalmente ao custeio de rendas de casa de famílias cujos responsáveis estavam doentes ou impossibilitados de trabalhar (A. Vieira, in AAVV, 1986:87).
Os líderes associativos, homens e mulheres, trabalham como membros activos, exercendo influência sobre os membros da comunidade, dada a responsabilidade dos postos que ocupam e do papel informal que desempenham. A liderança, sobretudo exercida por homens, encontra-se associada a determinadas qualidades pessoais e à habilidade com que utilizam os seus recursos: domínio da língua do país de acolhimento; formação académica; nível de rendimentos; competências políticas e credibilidade no seio do grupo (Labelle et al., 1994). Enquanto representantes e porta-vozes das comunidades migrantes, os líderes associativos estão frequentemente ligados à acção política e a reivindicações face ao poder instituído. Detentores de importantes redes de conhecimentos, procuram exercer influência junto de instituições sociais, partidos políticos, etc., procurando melhorar as condições de vida dos seus conterrâneos.
3 – Empreendedorismo e solidariedade associados à Igreja e à Obra Católica das Migrações
É importante assinalar as iniciativas da sociedade civil, da Igreja Católica e das comunidades cristãs que, em Portugal ou nos países de destino, permitem experiências de acolhimento e integração dos migrantes.
A criação das irmandades da Misericórdia, com a sua acção assistencial, médica e social em favor dos carenciados, é um exemplo de difusão de uma das instituições religiosas mais antigas que se espalharam após os Descobrimentos dos portugueses, e foram responsáveis pela criação de numerosas albergarias, hospitais e igrejas, onde se cuidava dos mais necessitados. As Santas Casas de Misericórdia no Brasil, por exemplo, devem-se principalmente à acção da Igreja e acompanharam a fixação de colónias de portugueses no Brasil, país onde se desenvolveram, desde 1539, 110 Santas Casas de Misericórdia (Khoury, 2004), após a criação da Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia em Lisboa (em 1498).
Verifica-se a cooperação pessoal e institucional entre estruturas da administração pública, da sociedade civil, da Igreja Católica e de outras igrejas, a nível nacional e internacional, relativamente ao esclarecimento dos migrantes e à respectiva integração em contextos interculturais. Cada vez mais o serviço social da paróquia inclui a componente da mobilidade humana.
Veja-se o papel da Obra Católica Portuguesa das Migrações, fundada juridicamente em 1962 (existia desde 1958), para canalizar o apoio espiritual e religioso aos emigrantes, nomeadamente às comunidades portuguesas no estrangeiro, por exemplo, em termos de capelães, mas também a assistência social aos emigrantes. A Igreja tem sido uma estrutura de enquadramento dos emigrantes, criando numerosas missões católicas nos países de imigração.
A chegada da imigração obrigou a reestruturar os serviços diocesanos, que passaram a incorporar novas valências e a atender os imigrantes através dos Secretariados Diocesanos das Migrações. Há ofertórios, uma vez por ano, em Agosto, na semana Nacional das Migrações, organizada desde 1973, constituindo a base do trabalho das migrações ao nível nacional. Uma parte dessa colecta reverte para o Secretariado Nacional das Migrações, outra para os secretariados locais.
A Igreja Católica dispõe de serviços sociais desenvolvidos e vocacionados para várias áreas, entre as quais a das migrações. Os Secretariados têm apoiado os imigrantes em diferentes domínios (cursos de português, apoio jurídico, bolsa de emprego, apoio à procura de habitação, ….), estabelecendo contactos com o SEF, Segurança Social, albergues nocturnos, entidades patronais, sindicatos, serviços de saúde, hospitais, agências funerárias, senhorios, Consulados dos imigrantes em Portugal, Embaixadas de Portugal e Consulados no exterior, etc.
As mulheres contribuíram sempre, fortemente e de forma benévola, para as actividades sociais associadas à Igreja Católica.
4 - Reflexões finais e recomendações - Migrações, género e co-desenvolvimento
Temos vindo a assinalar, como fizemos também no trabalho para o Conselho da Europa (Ramos et al, 2009), como a participação mais igualitária de homens e mulheres nas migrações contribui para a coesão social e o desenvolvimento. Para potenciar os efeitos positivos das migrações e diminuir os impactos negativos nas sociedades de origem, é necessário construir o co-desenvolvimento através da contribuição das populações migrantes, e das suas associações, nos países de imigração e de emigração. Definimos o co-desenvolvimento pelos laços que “reúnem os migrantes, os governos e outras instâncias públicas e privadas, à volta de um projecto de colaboração visando contribuir para o desenvolvimento do país de origem dos migrantes” (Conselho da Europa, 2007, in Ramos et al, 2009:89).
O co-desenvolvimento implica as associações de migrantes que aspiram a ter um papel de transformação social da sociedade de origem; as organizações locais do país de origem, que orientam os recursos para as necessidades de desenvolvimento; as colectividades territoriais dos países de partida, que desejam contribuir para a definição dos objectivos de desenvolvimento das associações de migrantes; as associações do país de acolhimento, capazes de fornecer apoio em termos de financiamento, formação e formalização do projecto; as colectividades territoriais e outras instituições dos países de acolhimento, envolvidas nesta forma de cooperação.
Assinalemos algumas prioridades a ter em conta:
- É necessário prosseguir a pesquisa sobre as comunidades portuguesas e a sua feminização.
- É importante que os estudos, os programas e as políticas de migrações internacionais sejam sensíveis às questões de género, tendo em atenção a situação social e a inclusão das mulheres e homens migrantes e assegurando o desenvolvimento das suas capacidades de participação no projecto migratório.
- É necessário assumir a igualdade de direitos e deveres entre toda a população, nacional ou estrangeira, denunciando situações injustas, como a discriminação salarial ou o acesso ao mercado de trabalho.
- A área do empreendedorismo social migrante deve merece maior atenção por parte dos investigadores e dos poderes públicos.
- Faltam dados rigorosos, globais, actualizados periodicamente, sobre a verdadeira contribuição do voluntariado e do empreendedorismo social, nomeadamente feminino. No que toca ao movimento associativo migrante, há que registar actividades, funções e cargos ocupados por mulheres e homens, bem como formar para o voluntariado.
- É importante compreender o verdadeiro impacto económico, social e cultural das migrações, tendo a comunicação um papel importante na informação, sensibilização da opinião pública, influenciando mesmo a elaboração de políticas públicas (OCDE, 2010; OIM, 2011).
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24-26 de Novembro de 2011
Professora Doutora Maria da Conceição Pereira Ramos
Universidade do Porto – Faculdade de Economia
e CEMRI – UAb
e-mail: cramos@fep.up.pt
Comunicação
Trabalho e empreendedorismo social da mulher portuguesa na diáspora
Resumo
A constituição de uma grande diáspora portuguesa e feminina é visível na sua forte representação nos países de acolhimento, onde o trabalho é uma dimensão essencial de autonomia, de integração e de socialização.
Os portugueses imigrantes, homens e mulheres, no passado e no presente, denotam capacidade de organização, de liderança e de comprometimento em organizações de voluntariado, de ordem associativa, organizações sem fins lucrativos, pertencendo ao terceiro sector, à economia social e solidária.
O conjunto de iniciativas socioculturais e político-cívicas (ensino da língua, promoção e divulgação da cultura portuguesa, apoio social, assistência jurídico-informativa, ….) ajudam na integração social dos migrantes e na aproximação e visibilidade da comunidade.
Assinale-se a importância do trabalho das mulheres migrantes, muito dele voluntário, e do seu empreendedorismo para o sistema económico e a solidariedade social. Estas mulheres são agentes de mudança e de desenvolvimento nos países de origem e de acolhimento, onde a sua participação contribui para o aumento da cidadania e da coesão social.
“E aonde chegue um emigrante lusíada chega uma criatura convivente, prestante, diligente e influente, que concilia, congrega, desbrava, cria riqueza, funda instituições benemerentes, semeia humanidade. E chegam sempre portugueses aos mais recônditos confins do globo, de saquita ao ombro e de cordialidade na voz e na alma”.
Miguel Torga, Diário XV, Círculo de Leitores, 2001, p. 1471-1472.
1 – Trabalho das mulheres migrantes e intercâmbios culturais e económicos
Os migrantes, homens e mulheres, têm uma importância fundamental na diáspora de Portugal no mundo, seja pelo seu número, seja pelo papel activo que desempenham no mercado de trabalho, nas redes sociais e associativas, na economia e desenvolvimento dos países de acolhimento e de origem. A constituição de uma grande diáspora portuguesa e feminina é visível na forte representação atingida nos países de acolhimento, onde o seu trabalho é uma dimensão essencial de integração e de socialização.
Importância das mulheres portuguesas nalguns países europeus
Países Nº Portugueses % mulheres
Reino Unido (2009) 96 000 50%
Bélgica (2007) 29 800 49%
França (2007) 491 000 47%
Alemanha (2009) 205 300 46%
Suíça (2009) 205 300 45%
Holanda (2009) 15 400 45%
Fonte: OCDE (2011)
A França e a Alemanha são países de emigração mais antiga, sobretudo a partir dos anos sessenta do século XX, onde os fluxos migratórios já estão consolidados, existindo “segundas” e “terceiras” gerações de migrantes (Ramos, 1999). No Reino Unido e na Suíça, os fluxos de mobilidade são mais recentes e as “segundas” gerações são ainda jovens.
No ano de 2011, as estimativas referem que terão saído 120 mil cidadãos de Portugal. Imperativos de ordem económica e profissional determinam a grande parte destes movimentos migratórios. O aumento da emigração dos mais qualificados ao nível mundial é uma tendência dos últimos anos (Ramos, 2008b). Cerca de 20% dos licenciados portugueses emigram (Docquier e Marfouk, 2006). Actualmente, uma parte significativa desta emigração ocorre no espaço da livre circulação da União Europeia e assume uma lógica temporária e não definitiva, mas também assistimos à descoberta de novos destinos extra-europeus, como o Brasil e Angola. Engenheiros, arquitectos, gestores, face à recessão do sector da construção, começam a dirigir-se para estes destinos mais distantes, onde a oferta de emprego é grande. Enfermeiros, farmacêuticos e médicos-dentistas, por exemplo, têm na Europa o destino privilegiado, estando as mulheres fortemente representadas nestes novos fluxos, nomeadamente associados à saúde e à educação.
Existe uma procura do trabalho feminino na economia global, tanto para actividades mais qualificadas, como menos qualificadas, nas novas tecnologias, na saúde, na educação, nos serviços pessoais e sociais, nomeadamente para o trabalho doméstico e de enfermagem (Ramos, 2009, 2011a). A feminização das migrações internacionais é uma das principais características da nova era das migrações. As mulheres representam 53% dos migrantes na Europa, a taxa mais elevada em relação aos outros continentes (OSCE/OIM/OIT, 2006).
Da análise da emigração portuguesa, constatamos que a emigração feminina transforma a natureza do projecto migratório, reconvertendo-o de temporário em definitivo, ou em mais prolongado. O panorama não se alterou significativamente, até à segunda metade do século XX. É visível o elevado grau de masculinidade na saída de portugueses no período de 1955 a 1974 e incremento da emigração familiar de 1970 a 1974 (Arroteia, 1983; Ramos, 1990). A feminização das migrações ganhou visibilidade no seguimento do choque petrolífero de 1973-74, com as alterações no mercado de trabalho e a reunificação familiar. A família assume um papel determinante no projecto migratório, seja na integração no país de acolhimento, seja na decisão de regresso a Portugal.
A capacidade de decisão e de intervenção das mulheres migrantes portuguesas, bem como o papel activo que desempenham ao nível económico, social e cultural, tem vindo a aumentar. O trabalho, a educação, as competências linguísticas e multiculturais, e a dupla nacionalidade são factores importantes para a integração e a participação cidadã nos países de acolhimento e de origem (Ramos et al, 2007).
Existe heterogeneidade de situações no que respeita à inserção das migrantes portuguesas em diferentes sociedades, sejam de emigração recente ou antiga, sejam mais favoráveis ao emprego e ao empreendedorismo do que outras. No Brasil, por exemplo, os imigrantes portugueses estabeleceram-se nas áreas urbanas e dedicaram-se às actividades comerciais, estando as mulheres portuguesas e o seu trabalho representadas em diferentes estudos (Boschilia, 2005; Pascal, 2005). A importância das mulheres migrantes nos serviços, especialmente trabalho doméstico (Cox, 2006), nomeadamente das mulheres portuguesas, na Europa, é uma realidade (Ramos, 1990, 2009).
As taxas de actividade das emigrantes portuguesas nos países de acolhimento são muito elevadas, superiores às da população residente, autóctone e estrangeira, e a experiência migratória permite-lhes adquirir novas competências. Estando afectadas a serviços pessoais e sociais, têm resistido melhor do que os homens ao contexto de crise actual no mercado de trabalho (OCDE, 2010, 2011), dado que o emprego das mulheres se situa em sectores (sociais e serviços domésticos, por exemplo) que não sofreram tanto com a crise económica. É possível também que as mulheres migrantes tenham aumentado a sua participação no mercado de trabalho, a fim de compensar as perdas de rendimentos dos homens migrantes.
Assinale-se, no entanto, a importância das mulheres migrantes entre os trabalhadores com modalidades atípicas, temporárias e precárias de emprego, onde acumulam algumas discriminações, ocupando mais frequentemente do que as autóctones empregos para os quais são sobrequalificadas e sendo mais afectadas pelo desemprego (Ramos, 2010). É escassa a informação sobre as condições de trabalho das pessoas imigrantes e o efeito que têm sobre a saúde. A invisibilidade das condições de trabalho das mulheres no sector doméstico é um exemplo. Natália Ramos (1993, 2009, 2010, 2011) tem analisado algumas das questões que se colocam à família e à mulher trabalhadora e mãe imigrante em contexto migratório, e às politicas públicas a implementar visando a sua integração, saúde e desenvolvimento.
Nos países de acolhimento, o trabalho das mulheres migrantes é essencial na área dos serviços, verificando-se uma mobilidade ascendente das “segundas” e “terceiras” gerações, nomeadamente através do acesso ao sector público e às actividades mais qualificadas e por conta própria. A inserção laboral das mulheres migrantes é um factor fundamental de autonomia, rompendo muitas vezes com o controlo patriarcal e a situação de “doméstica” antes da emigração, mas é igualmente um factor de socialização e de ajustamento a valores da sociedade de acolhimento, importantes para a integração e o exercício da cidadania.
Há que destacar os projectos de vida das “novas gerações de migrantes”, relacionados com a sua integração social, cultural, laboral e política, nas sociedades de acolhimento e no quadro da União Europeia e dos novos direitos de cidadania (Ramos, 2003b, 2004, 2005, 2007; La Barre, 2006). Os conhecimentos multiculturais e linguísticos abrem novas perspectivas de emprego às gerações descendentes de portugueses, no quadro da globalização. Neste sentido é pertinente estudar os novos comportamentos de mobilidade e a interacção país de origem/país de acolhimento. Os “novos trabalhadores globais” incluem as populações migrantes, necessárias à eficácia económica. Para as empresas, num contexto de globalização, ter pessoal qualificado, capaz de trabalhar em diversos ambientes culturais e em constante mobilidade, é um factor de competitividade. A internacionalização da economia portuguesa passa pela disponibilidade no mercado de trabalho de recursos humanos, tendo este potencial linguístico, cultural e profissional (Ramos, 2003a).
As mulheres migrantes ganham independência, empoderamento e qualificações, no projecto migratório, tendo um papel decisivo na gestão do orçamento familiar e das poupanças. A sua capacidade empreendedora e o peso crescente no envio de remessas financeiras para Portugal, é evidente. As mulheres migrantes contribuem, cada vez mais, para essas remessas, as quais trazem vantagens para o país de origem, no plano social, educativo e sanitário (Martin, 2007; Ramos, 1990, 2003a). A sua capacidade de poupança e de gestão são importantes contributos para a economia familiar e o desenvolvimento, recomendando a ONU às autoridades bancárias, que foquem a sua atenção nas mulheres migrantes, nas suas remessas e apoiem o seu empreendedorismo. Como constatamos (Ramos, 1990), no estudo da emigração portuguesa em França, a contribuição financeira da mulher é importante, por vezes acumulando horas de trabalho como doméstica em particulares, com limpeza de escritórios à noite, com trabalho de porteira, podendo ganhar um salário superior ao do marido (cf. também Leandro, 1995). A autonomia financeira, impensável antes da emigração, acompanha igualmente a usura e desgaste profissional, com longas jornadas de trabalho.
Os migrantes, mulheres e homens, desenvolvem práticas transnacionais e relações sociais de natureza múltiplas, ligando as sociedades de origem e as de acolhimento, através de transacções culturais e económicas. As mulheres migrantes contribuem para diferentes transformações e inovações, novas dinâmicas familiares e demográficas e mudanças progressistas que afectam as mentalidades, os hábitos de vida, a educação e a igualdade entre os géneros (Ramos, 2008a).
2 - Economia solidária, voluntariado e empreendedorismo social migrante feminino
O sector não lucrativo, referido por terceiro sector, economia social ou sector voluntário, é constituído por diferentes instituições organizadas sob a forma de associação, fundação, misericórdia, cooperativa, mutualidade, clube, etc., prosseguindo variados objectivos. As características comuns deste tipo de organização, numa perspectiva económica, residem na regra de não distribuição dos lucros gerados na actividade e no desenvolvimento de uma actividade que prossegue o bem-estar social (Ramos, 2011b).
O empreendedorismo social é uma actividade inovadora de criação de valor social, que pode ser desenvolvido em diferentes esferas – económica, educativa, social e espiritual – com actividades realizadas por indivíduos e organizações, incluindo o sector público, organizações comunitárias, organizações de acção social e instituições de caridade (Weerawardena e Mort, 2006).
O empreendedorismo social está associado ao desenvolvimento de projectos (de indivíduos ou de comunidades, não necessariamente envolvidos numa organização) que visam o interesse geral, o chamado bem comum, ou dar resposta a necessidades sociais não satisfeitas. O empreendedorismo social tem sido visto como um agente de mudança social, tanto em áreas de preocupação social como na área das políticas sociais públicas (Waddock e Post, 1991).
Falar de empreendedorismo migrante feminino é ir além do empreendedorismo económico e abranger áreas como o empreendedorismo associativo, cultural, social ou político, com impacto na capacidade de intervenção e poder das mulheres migrantes. Tem sido pouco estudado este empreendedorismo social, propiciador de práticas de inovação social com impacto na sociedade, mais vasto do que o grupo migrante a que se destina.
A economia solidária coloca desafios e oportunidades de inovação social nas suas relações com o Estado e a sociedade civil. A inovação social diz respeito a novas estratégias, conceitos, ideias e organizações que respondem a necessidades sociais de todos os tipos – desde as condições de trabalho e de educação, até ao desenvolvimento comunitário e à saúde – e que alargam e reforçam a sociedade civil. A inovação é uma componente crucial do empreendedorismo social. Evidenciando a importância desta questão, o ano de 2011 foi o ano europeu consagrado ao voluntariado e, nomeadamente, ao associativismo migrante.
As associações de migrantes portugueses desenvolvem-se sobretudo depois de 1974, através de um reforço institucional da área emigratória. Em 1980, assinale-se a criação do Conselho das Comunidades Portuguesas no Mundo, facilitando o apoio às associações que dele fizerem parte (DL nº 373/80 de 12 de Setembro). Foi “a primeira experiência de audição e diálogo institucional, entre o governo português, a sua emigração e a sua diáspora. Era um órgão consultivo do governo, constituído por representantes eleitos no mundo associativo, apelando à força e ao papel central que as associações têm na construção e preservação das comunidades de emigrantes” (Aguiar, 2009:257).
As mulheres portuguesas na diáspora têm um importante papel nas redes sociais, através das relações interpessoais fomentadas pelo trabalho, associações, geminações, actividades em paróquias. Estas imigrantes participam no quadro de associações mistas, sobretudo criadas e dirigidas por homens.
Destaca-se a capacidade de organização, de liderança e de comprometimento dos homens e mulheres migrantes portugueses, em organizações de voluntariado, sem fins lucrativos, de ordem associativa, organizações pertencendo ao terceiro sector, à economia social e solidária (Ramos, 2011a,b). Assinala-se assim a importância do trabalho das pessoas migrantes, muito dele voluntário , e do seu empreendedorismo para o sistema económico e a solidariedade social.
Assistiu-se ao desenvolvimento do movimento associativo português no mundo, com objectivos assistenciais, culturais e recreativos (DGACCP, 2010). A beneficência foi uma das características do associativismo migrante em todo o mundo desde o início de oitocentos. No Brasil, a comunidade portuguesa foi a primeira a estabelecer uma cadeia de instituições de voluntariado, apoio a trabalhadores, hospitais, bibliotecas, alfabetização,... (Trindade, 1988; Fonseca, 2009). Tais entidades tiveram um importante papel, por exemplo, no Rio de Janeiro, numa cidade onde a colónia portuguesa era grande e quando no Brasil, do século 19 e início do século 20, o Estado pouco intervinha nas relações profissionais, não tendo políticas de saúde, habitação, previdência ou lazer, e funcionando o associativismo como um meio dos indivíduos conquistarem e exercerem os seus direitos como cidadãos.
A promoção da cidadania dos homens e das mulheres migrantes é um factor importante de coesão social, entendida esta como “a capacidade de uma sociedade assegurar o bem estar de todos os seus membros, minimizar as disparidades e evitar a polarização” (Conselho da Europa, 2004, in Ramos et al, 2009).
A instalação das famílias vai dirigir o movimento associativo para outras funções. Com a chegada de mulheres e famílias, o associativismo ultrapassa a sua fase inicial de mero centro de convívio, café, tertúlia, para adquirir a vertente cultural, de transmissão de tradições e saberes da cultura portuguesa, acompanhados pela música, folclore, festas populares, gastronomia, artesanato, teatro, exposições, palestras, cursos de língua. As mulheres vão determinar novas orientações ao nível de actividades socioculturais e socioeducativas, mas também como secretárias e algumas funções directivas (CEDEP, 1986; Ramos, 1990). Dentro do processo migratório, a mulher tem um papel importante na transmissão de tradições e saberes e da cultura portuguesa no estrangeiro (culinária, canto, dança…).
As iniciativas socioculturais e político-cívicas (ensino da língua, promoção e divulgação da cultura portuguesa, apoio social, assistência jurídico-informativa...), realizadas por homens e mulheres migrantes no movimento associativo, promovem a sua integração social e participação cívica, são veículo de aproximação comunitária, visibilidade da comunidade e meio de conservação e de transmissão do património cultural. A necessidade de manter e cultivar a identidade cultural da comunidade portuguesa e de criar mecanismos para a defesa dos seus interesses na sociedade de acolhimento fez surgir no mundo, cerca de 3000 associações de portugueses (DGACCP), o mais vasto movimento associativo comunitário, nomeadamente em França, onde já existiam, em 1980, 460 associações (Ramos, 1990:586). A propensão associativa dos portugueses no estrangeiro é ressaltada por muitos autores e considerada superior à que se verifica no próprio país. As actividades das associações dirigem-se sobretudo aos membros da comunidade .
Também na vida política, a participação das mulheres migrantes começa a ser visível, sobretudo das jovens gerações na diáspora, como podemos constatar em França. No movimento associativo, as mulheres destacaram-se, sobretudo as novas gerações, desde os anos 80 do século XX em França, na dinamização de actividades culturais e recreativas (Ramos, 1990, 1999). Muitos jovens, sobretudo do sexo feminino, estão motivados em participar com outros jovens, através de associações por si constituídas, quer para se debruçarem sobre a sua realidade e os seus problemas específicos, quer para encontrarem as melhores formas de preservar a cultura portuguesa nos países onde vivem.
As mulheres portuguesas têm-se progressivamente envolvido em organizações políticas, cívicas e filantrópicas, num crescente processo de associativismo.
O associativismo migrante português tem sido maioritariamente liderado por homens, apesar das mulheres terem criado organizações próprias. Datam do final do século XIX, as pioneiras sociedades fraternais ou de socorros mútuos femininas da Califórnia (Adão, 2005). Na 2.ª metade do século XX, a “Sociedade Beneficente das Damas Portuguesas” de Caracas (1969), a “Liga da Mulher Portuguesa” da África do Sul, ou a “Associação da Mulher Imigrante Portuguesa” da Argentina (1998). Data de 1994, a criação em Portugal da Associação Mulher Migrante. A Sociedade de beneficência de Caracas foi fundada por um grupo de portuguesas com fins exclusivamente beneficentes, sendo os primeiros fundos destinados principalmente ao custeio de rendas de casa de famílias cujos responsáveis estavam doentes ou impossibilitados de trabalhar (A. Vieira, in AAVV, 1986:87).
Os líderes associativos, homens e mulheres, trabalham como membros activos, exercendo influência sobre os membros da comunidade, dada a responsabilidade dos postos que ocupam e do papel informal que desempenham. A liderança, sobretudo exercida por homens, encontra-se associada a determinadas qualidades pessoais e à habilidade com que utilizam os seus recursos: domínio da língua do país de acolhimento; formação académica; nível de rendimentos; competências políticas e credibilidade no seio do grupo (Labelle et al., 1994). Enquanto representantes e porta-vozes das comunidades migrantes, os líderes associativos estão frequentemente ligados à acção política e a reivindicações face ao poder instituído. Detentores de importantes redes de conhecimentos, procuram exercer influência junto de instituições sociais, partidos políticos, etc., procurando melhorar as condições de vida dos seus conterrâneos.
3 – Empreendedorismo e solidariedade associados à Igreja e à Obra Católica das Migrações
É importante assinalar as iniciativas da sociedade civil, da Igreja Católica e das comunidades cristãs que, em Portugal ou nos países de destino, permitem experiências de acolhimento e integração dos migrantes.
A criação das irmandades da Misericórdia, com a sua acção assistencial, médica e social em favor dos carenciados, é um exemplo de difusão de uma das instituições religiosas mais antigas que se espalharam após os Descobrimentos dos portugueses, e foram responsáveis pela criação de numerosas albergarias, hospitais e igrejas, onde se cuidava dos mais necessitados. As Santas Casas de Misericórdia no Brasil, por exemplo, devem-se principalmente à acção da Igreja e acompanharam a fixação de colónias de portugueses no Brasil, país onde se desenvolveram, desde 1539, 110 Santas Casas de Misericórdia (Khoury, 2004), após a criação da Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia em Lisboa (em 1498).
Verifica-se a cooperação pessoal e institucional entre estruturas da administração pública, da sociedade civil, da Igreja Católica e de outras igrejas, a nível nacional e internacional, relativamente ao esclarecimento dos migrantes e à respectiva integração em contextos interculturais. Cada vez mais o serviço social da paróquia inclui a componente da mobilidade humana.
Veja-se o papel da Obra Católica Portuguesa das Migrações, fundada juridicamente em 1962 (existia desde 1958), para canalizar o apoio espiritual e religioso aos emigrantes, nomeadamente às comunidades portuguesas no estrangeiro, por exemplo, em termos de capelães, mas também a assistência social aos emigrantes. A Igreja tem sido uma estrutura de enquadramento dos emigrantes, criando numerosas missões católicas nos países de imigração.
A chegada da imigração obrigou a reestruturar os serviços diocesanos, que passaram a incorporar novas valências e a atender os imigrantes através dos Secretariados Diocesanos das Migrações. Há ofertórios, uma vez por ano, em Agosto, na semana Nacional das Migrações, organizada desde 1973, constituindo a base do trabalho das migrações ao nível nacional. Uma parte dessa colecta reverte para o Secretariado Nacional das Migrações, outra para os secretariados locais.
A Igreja Católica dispõe de serviços sociais desenvolvidos e vocacionados para várias áreas, entre as quais a das migrações. Os Secretariados têm apoiado os imigrantes em diferentes domínios (cursos de português, apoio jurídico, bolsa de emprego, apoio à procura de habitação, ….), estabelecendo contactos com o SEF, Segurança Social, albergues nocturnos, entidades patronais, sindicatos, serviços de saúde, hospitais, agências funerárias, senhorios, Consulados dos imigrantes em Portugal, Embaixadas de Portugal e Consulados no exterior, etc.
As mulheres contribuíram sempre, fortemente e de forma benévola, para as actividades sociais associadas à Igreja Católica.
4 - Reflexões finais e recomendações - Migrações, género e co-desenvolvimento
Temos vindo a assinalar, como fizemos também no trabalho para o Conselho da Europa (Ramos et al, 2009), como a participação mais igualitária de homens e mulheres nas migrações contribui para a coesão social e o desenvolvimento. Para potenciar os efeitos positivos das migrações e diminuir os impactos negativos nas sociedades de origem, é necessário construir o co-desenvolvimento através da contribuição das populações migrantes, e das suas associações, nos países de imigração e de emigração. Definimos o co-desenvolvimento pelos laços que “reúnem os migrantes, os governos e outras instâncias públicas e privadas, à volta de um projecto de colaboração visando contribuir para o desenvolvimento do país de origem dos migrantes” (Conselho da Europa, 2007, in Ramos et al, 2009:89).
O co-desenvolvimento implica as associações de migrantes que aspiram a ter um papel de transformação social da sociedade de origem; as organizações locais do país de origem, que orientam os recursos para as necessidades de desenvolvimento; as colectividades territoriais dos países de partida, que desejam contribuir para a definição dos objectivos de desenvolvimento das associações de migrantes; as associações do país de acolhimento, capazes de fornecer apoio em termos de financiamento, formação e formalização do projecto; as colectividades territoriais e outras instituições dos países de acolhimento, envolvidas nesta forma de cooperação.
Assinalemos algumas prioridades a ter em conta:
- É necessário prosseguir a pesquisa sobre as comunidades portuguesas e a sua feminização.
- É importante que os estudos, os programas e as políticas de migrações internacionais sejam sensíveis às questões de género, tendo em atenção a situação social e a inclusão das mulheres e homens migrantes e assegurando o desenvolvimento das suas capacidades de participação no projecto migratório.
- É necessário assumir a igualdade de direitos e deveres entre toda a população, nacional ou estrangeira, denunciando situações injustas, como a discriminação salarial ou o acesso ao mercado de trabalho.
- A área do empreendedorismo social migrante deve merece maior atenção por parte dos investigadores e dos poderes públicos.
- Faltam dados rigorosos, globais, actualizados periodicamente, sobre a verdadeira contribuição do voluntariado e do empreendedorismo social, nomeadamente feminino. No que toca ao movimento associativo migrante, há que registar actividades, funções e cargos ocupados por mulheres e homens, bem como formar para o voluntariado.
- É importante compreender o verdadeiro impacto económico, social e cultural das migrações, tendo a comunicação um papel importante na informação, sensibilização da opinião pública, influenciando mesmo a elaboração de políticas públicas (OCDE, 2010; OIM, 2011).
Referências Bibliográficas
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quinta-feira, 1 de março de 2012
COMUNICAÇÃO DE DEPUTADO CARLOS PÁSCOA
O tempo e os modos de viver a Cidadania
Para falarmos em viver a cidadania precisamos começar
por definir o que é cidadania.
Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da
sociedade para melhorar sua vidas e a de outras pessoas.
Ser cidadão é nunca se esquecer das pessoas que mais
necessitam.
A cidadania deve ser divulgada através de instituições
de ensino e meios de comunicação para o bem estar e
desenvolvimento da nação.
A cidadania consiste no simples gesto de não jogar papel
rua, não sujar os muros, respeitar os sinais e placas,
respeitar os mais velhos (assim como a todas as outras
pessoas), saber dizer obrigado, desculpe, por favor
e bom dia quando for o caso … até saber lidar com o
abandono e a exclusão de pessoas necessitadas, o direito
das crianças carentes e outros grandes problemas que
enfrentamos em nosso país.
Como surgiu a cidadania?
A ideia de cidadania surgiu na Idade Antiga, após Roma
conquistar a Grécia (séc. V d.c.), se expandindo para
o resto da Europa. Apenas homens (de maior) eram
cidadãos. Diminuindo assim a ideia de cidadania, já que
mulheres, crianças, estrangeiros e escravos não eram
considerados cidadãos.
Na Idade Média (2ª era – séc. V até XV d.c.), surgiram na
Europa, os feudos (ou fortalezas particulares). A ideia
de cidadania se acaba, pois os proprietários dos feudos
passaram a mandar em tudo, e os servos que habitavam
os feudos não podiam participar de nada.
Após a Idade Média, terminaram-se as invasões Bárbaras,
terminando-se também os feudos, entrando assim, em
uma grande crise.
Os feudos se decompõem, formando cidades e depois
países (os Estados Nacionais).
Entra a 3ª era (Idade Moderna – séc. XV ao XVIII d.c.). Os
países formados após o desaparecimento dos feudos
foram-no em consequência da união de dois grupos: Rei e
a Burguesia.
O Rei mandava em tudo e tinha um grande poder, graças
aos impostos que recebia. Com todo esse dinheiro nas
mãos, o Rei construía exércitos cada vez mais fortes, além
de dar apoio político à Burguesia.
Em consequência dessa união, a Burguesia ficava cada
vez mais rica e era ela quem dava apoio económico aos
Reis (através dos impostos).
Com o tempo o Rei começou a atrapalhar a Burguesia,
pois usava o poder para manipulá-la. A Burguesia ficava
cada vez mais rica e independente, vendo o Rei como um
perigo e um obstáculo ao seu progresso. Para acabar com
o Absolutismo (poder total do Rei), foram realizadas cinco
grandes revoluções burguesas:
- Revolução Industrial
- Revolução Filosófica (Iluminismo)
- Revolução Francesa
- Independência dos Estados Unidos
- Revolução Inglesa
Todas essas cinco revoluções tinham o mesmo objetivo:
tirar o Rei do poder.
Com o fim do Absolutismo, surge um novo tipo de Estado,
o Estado de Direito cuja principal característica é: “todos
têm direitos iguais perante a Constituição”, ocorrendo
assim, uma grande mudança na Cidadania.
A Burguesia precisava do povo e o convencia de que
todos estavam contra o Rei e lutando pela igualdade.
Acontece a grande contradição: Cidadania X Capitalismo.
A Cidadania é a participação de todos em busca de
benefícios sociais e igualdade, a sociedade capitalista se
alimenta da pobreza.
Começaram a ocorrer pressões contra os capitalistas por
parte dos trabalhadores, que visavam uma vida melhor e
sem exploração no trabalho.
Da função de político, o homem passa para a função de
consumidor, o que é alimentado de forma acentuada pela
mídia.
Isso se mantém até aos dias de hoje (ideia de consumo).
Para mudar essas ideias, as pessoas devem criar seus
próprios conceitos e a escola aparece como um fator
fundamental.
Na evolução dos tempos a Cidadania foi ajustando o ser
humano proporcionando-lhe qualidade de vida.
Para terminar gostaria de deixar uma mensagem aos
jovens.
Caros jovens, não permitam que a ideia de que somos
desinteressados da realidade em que vivemos se prolifere:
levante, lute e combata.
Enquanto houver uma criança passando fome, um idoso
abandonado, um jovem que não se levanta para que
um idoso se sente nos meios de transporte, enquanto
não tivermos o hábito de dizer bom dia e obrigado, não
teremos Cidadania.
Conquiste seu título honroso de cidadão combatendo
as atrocidades que se alastram pela nossa sociedade.
É através da Cidadania que alcançaremos uma melhor
qualidade de vida.
Maia, 26 de Novembro de 2011
Carlos Páscoa
Deputado à Assembleia da República
Para falarmos em viver a cidadania precisamos começar
por definir o que é cidadania.
Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da
sociedade para melhorar sua vidas e a de outras pessoas.
Ser cidadão é nunca se esquecer das pessoas que mais
necessitam.
A cidadania deve ser divulgada através de instituições
de ensino e meios de comunicação para o bem estar e
desenvolvimento da nação.
A cidadania consiste no simples gesto de não jogar papel
rua, não sujar os muros, respeitar os sinais e placas,
respeitar os mais velhos (assim como a todas as outras
pessoas), saber dizer obrigado, desculpe, por favor
e bom dia quando for o caso … até saber lidar com o
abandono e a exclusão de pessoas necessitadas, o direito
das crianças carentes e outros grandes problemas que
enfrentamos em nosso país.
Como surgiu a cidadania?
A ideia de cidadania surgiu na Idade Antiga, após Roma
conquistar a Grécia (séc. V d.c.), se expandindo para
o resto da Europa. Apenas homens (de maior) eram
cidadãos. Diminuindo assim a ideia de cidadania, já que
mulheres, crianças, estrangeiros e escravos não eram
considerados cidadãos.
Na Idade Média (2ª era – séc. V até XV d.c.), surgiram na
Europa, os feudos (ou fortalezas particulares). A ideia
de cidadania se acaba, pois os proprietários dos feudos
passaram a mandar em tudo, e os servos que habitavam
os feudos não podiam participar de nada.
Após a Idade Média, terminaram-se as invasões Bárbaras,
terminando-se também os feudos, entrando assim, em
uma grande crise.
Os feudos se decompõem, formando cidades e depois
países (os Estados Nacionais).
Entra a 3ª era (Idade Moderna – séc. XV ao XVIII d.c.). Os
países formados após o desaparecimento dos feudos
foram-no em consequência da união de dois grupos: Rei e
a Burguesia.
O Rei mandava em tudo e tinha um grande poder, graças
aos impostos que recebia. Com todo esse dinheiro nas
mãos, o Rei construía exércitos cada vez mais fortes, além
de dar apoio político à Burguesia.
Em consequência dessa união, a Burguesia ficava cada
vez mais rica e era ela quem dava apoio económico aos
Reis (através dos impostos).
Com o tempo o Rei começou a atrapalhar a Burguesia,
pois usava o poder para manipulá-la. A Burguesia ficava
cada vez mais rica e independente, vendo o Rei como um
perigo e um obstáculo ao seu progresso. Para acabar com
o Absolutismo (poder total do Rei), foram realizadas cinco
grandes revoluções burguesas:
- Revolução Industrial
- Revolução Filosófica (Iluminismo)
- Revolução Francesa
- Independência dos Estados Unidos
- Revolução Inglesa
Todas essas cinco revoluções tinham o mesmo objetivo:
tirar o Rei do poder.
Com o fim do Absolutismo, surge um novo tipo de Estado,
o Estado de Direito cuja principal característica é: “todos
têm direitos iguais perante a Constituição”, ocorrendo
assim, uma grande mudança na Cidadania.
A Burguesia precisava do povo e o convencia de que
todos estavam contra o Rei e lutando pela igualdade.
Acontece a grande contradição: Cidadania X Capitalismo.
A Cidadania é a participação de todos em busca de
benefícios sociais e igualdade, a sociedade capitalista se
alimenta da pobreza.
Começaram a ocorrer pressões contra os capitalistas por
parte dos trabalhadores, que visavam uma vida melhor e
sem exploração no trabalho.
Da função de político, o homem passa para a função de
consumidor, o que é alimentado de forma acentuada pela
mídia.
Isso se mantém até aos dias de hoje (ideia de consumo).
Para mudar essas ideias, as pessoas devem criar seus
próprios conceitos e a escola aparece como um fator
fundamental.
Na evolução dos tempos a Cidadania foi ajustando o ser
humano proporcionando-lhe qualidade de vida.
Para terminar gostaria de deixar uma mensagem aos
jovens.
Caros jovens, não permitam que a ideia de que somos
desinteressados da realidade em que vivemos se prolifere:
levante, lute e combata.
Enquanto houver uma criança passando fome, um idoso
abandonado, um jovem que não se levanta para que
um idoso se sente nos meios de transporte, enquanto
não tivermos o hábito de dizer bom dia e obrigado, não
teremos Cidadania.
Conquiste seu título honroso de cidadão combatendo
as atrocidades que se alastram pela nossa sociedade.
É através da Cidadania que alcançaremos uma melhor
qualidade de vida.
Maia, 26 de Novembro de 2011
Carlos Páscoa
Deputado à Assembleia da República
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