domingo, 5 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Como se fundaram as Academias do Bacalhau em Portugal?

A primeira Academia a ser fundada fora do continente africano, foi a Academia do Bacalhau do Funchal,
na Ilha da Madeira, no dia 10 de Julho de 1987.
Depois, outras se seguiram: Lisboa; Porto; Algarve; São Miguel; Costa do Estoril; Estremoz; Viseu; Aveiro;
Braga; Terceira; Coimbra; Faial e Setúbal.

PERMITAM-ME AGORA QUE REFIRA DE UMA MANEIRA MUITO ESPECIAL A MINHA MUI BRIOSA E
TRIPEIRA ACADEMIA DO BACALHAU DO PORTO, FUNDADA EM 16 DE SETEMBRO DE 1989.

ACADEMIA DO BACALHAU DO PORTO

Uma Receita de Sucesso.

A Academia do Bacalhau do Porto, há 22 anos a semear amizade, solidariedade e portugalidade, é hoje
uma Academia exemplar em Portugal e no mundo e uma referência cultural e filantrópica no distrito e
que apesar da crise não pára de crescer pois está perto de atingir 300 associados efectivos (Compadres e
Comadres) .

O ano passado bateram-se todos os recordes no que diz respeito a presenças nos Jantares-Tertúlia da Academia
do Bacalhau do Porto, com os dados oficiais a apontarem para uma média mensal de 140 compadres e comadres,
número este que significa um aumento de cerca 540 por cento face ao período compreendido entre 1996 e 2005.

A justificação para este crescimento sustentado deve-se à introdução de um conceito trazido do meu mundo
empresarial, ou seja, uma Gestão Por Objectivos, bem como um princípio que sempre me acompanhou e o
qual procuro passar aos mais novos, incentivando-os a sair da vulgaridade, como forma para alcançarem
sucesso nos seus projectos de vida.

“Sair da vulgaridade é fazer e ser diferente no sentido positivo”.

E, a verdade é que na Academia do Bacalhau do Porto, têm-se introduzido coisas novas, nomeadamente
a criação inédita de Vice-Presidências importantes tais como: Área da Saúde (Vasco Gama, médico
cardiologista e Director da Cardiologia do Centro Hospitalar de Gaia e Luís Ferraz, médico urologista e Director
de Urologia do mesmo Hospital); Área Cultural (Delfim Sousa, Director da Casa Museu Teixeira Lopes,
Nassalete Miranda, professora universitária e Júlio Couto, escritor); Área da Juventude (Francisco Rodrigues,
engenheiro, Marisa Pinho jornalista e Nuno Nóbrega, gestor); Área Jurídica (Rui Duarte e António Duarte-
advogados), sempre disponíveis quando solicitados, a prestarem a sua melhor ajuda a Compadres da nossa ou
doutras Academias do país e do estrangeiro,

A «receita» para o invulgar crescimento desta Academia está assim relacionada com a visão estratégica
de juntar à vertente de tertúlia, a vertente cultural, tornando os Jantares-Tertúlias mais apelativos por
força da presença de reconhecidas personalidades das mais diversas áreas, da saúde à economia, passando
pelo mundo académico, cultural, desportivo ou social, as quais apresentam interessantes e úteis palestras
subordinadas a temas das suas especialidades.
Mas, a mais importante e eficaz “receita” para o sucesso da Academia do Bacalhau do Porto, reside na
motivação, empenhamento e esforço colectivo daqueles Compadres e Comadres que me acompanham e
sentem o verdadeiro espírito desta Academia.

E permitam-me citar Aquilino Ribeiro, ”como quem alcança, não cansa”, vamos continuar nesta rota com
o mesmo, senão com redobrado entusiasmo e trabalho de equipa cada um dando o seu melhor para ajudar,
dentro das nossas possibilidades, os mais desfavorecidos tendo como prioridades Centros de acolhimento de
crianças, Lares para a terceira idade e Instituições Sociais que mitigam a fome a quem, sem culpa própria,
nada tem para comer.

Quanto à integração da Mulher neste movimento, há que reconhecer que numa primeira fase a necessidade
de se reforçarem os laços de fraternidade entre os portugueses, conduziu à criação das Academias muito
à semelhança dos clubes masculinos de influência anglo-saxónica. Torna-se claro que a Mulher não teve,
no início, uma presença constante nas primeiras tertúlias das Academias, situação que só ocorreu anos
mais tarde e duma forma progressiva, como aconteceu na Academia do Bacalhau do Porto, com alguma
resistência inicial, mas que acabou por singrar e este exemplo foi a pouco e pouco seguido pela maioria das
outras Academias. No que me diz respeito valeu a pena tal esforço e luta.

Mas para evitar confusões e más interpretações até já foi aprovada em Congresso Mundial uma moção
segundo a qual a mulher pode ocupar quaisquer lugares nos Órgãos Sociais das Academias, desde que
seja Comadre efectiva o mesmo é dizer, Comadre de pleno direito, ficando assim bem claro que os corpos
dirigentes não estão apenas destinados aos homens, pois as Academias do Bacalhau, não são nem nunca
serão “clubes machistas” sendo necessário e prioritário desmistificar, de uma vez por todas, esta absurda
ideia.
As senhoras, designadas Comadres sempre tiveram lugar nas Academias desde a saudosa Amália
Rodrigues, Vera Lagoa, a outras que até fizeram parte de Governos como a distinta Comadre Manuela
Aguiar, aqui presente e muitas mais.

Felizmente que a maioria das Academias soube interpretar correctamente estes princípios e até algumas,
como por exemplo a de Toronto, que tem como Presidente uma Comadre ou como a do Porto, que integra
nos seus Órgãos Sociais Comadres, Nassalete Miranda e outras, exemplares no bom desempenho das suas
funções, bem como na construção da boa imagem que hoje a nossa Academia desfruta em Portugal e no
mundo. Quem assim não pensa nem procede, não está a interpretar correctamente o verdadeiro espírito das
Academias, num mundo onde a Mulher desempenha cada vez mais, importantes papéis em todas as áreas.

Concluindo, “a presença da mulher é absolutamente necessária e imprescindível em todas as Tertúlias e
não somente, como algumas Academias permitem, nos Jantares de Natal ou Aniversários” pois à mulher
se deve, a consolidação de ligação do núcleo familiar a Portugal no que respeita: à preservação da língua
portuguesa ensinada e falada em casa; aos costumes portugueses (religiosos, gastronómicos, etnográficos,
etc); à transmissão de valores e princípios educacionais, bem como, à prática de economia familiar de
poupança.

BEM-HAJA POIS A TODA AS COMADRES DAS ACADEMIAS DO BACALHAU DO MUNDO
Termino afirmando “em primeira mão” que face à gravíssima situação com que estamos confrontados a

SOLIDARIEDADE DA ACADEMIA DO BACALHAU DO PORTO DECLAROU GUERRA SEM TRÉGUAS CONTRA A
CRISE.

Muito ainda ficou por dizer mas saúdo-vos pela paciência e generosidade com que me ouviram.

MUITO OBRIGADO E APROVEITO A OPORTUNIDADE PARA A TODOS VÓS E VOSSAS FAMÍLIAS,
DESEJAR UM BOM NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO, COM MUITAS SAÚDE, PAZ E SUCESSO.

César Gomes de Pina

Maia, 25 de Novembro de 2011

“Papel da Mulher na Integração Social nas Academias do
Bacalhau no Mundo”

Dr. César Gomes de Pina

APRESENTAÇÃO DO ORADOR

Para nos falar deste interessante tema e deste curioso movimento
filantrópico, genuinamente português, nascido há quase meio
século na África do Sul e hoje espalhado pelos quatro cantos do
mundo vamos conversar com Dr. César Gomes de Pina, Gestor
Empresarial, que desde 2006 é o Presidente da Academia do
Bacalhau do Porto e sem dúvida o seu grande impulsionador ao
longo destes 22 anos de existência.

Homem determinado e amigo do seu amigo, considera que a
Presidência da Academia, nunca foi um simples “hobby”, mas
sim uma verdadeira paixão e a experiência mais gratificante e
enriquecedora da sua vida.

Com a muita dedicação, amor e entusiasmo contagiante, conseguiu
através duma correcta Gestão Por Objectivos e num esforço
colectivo com todos os associados, fazer da Academia do Bacalhau
do Porto, uma Academia “exemplar em Portugal e no Mundo”, bem
como uma referência cultural e de solidariedade do Distrito do Porto,
tendo sido recentemente distinguida com o Troféu Portugalidade e
Solidariedade.

O Dr. César Gomes de Pina, foi Capitão Miliciano em Moçambique
e findo o seu serviço militar, professor do Ensino Secundário em

Lourenço Marques e Gestor duma multinacional americana.

Após a descolonização e depois duma breve passagem pela África
do Sul, ao serviço daquela empresa, regressou definitivamente
a Portugal com sua esposa e dois filhos, tendo exercido como
professor do ensino secundário nos Liceus de Guimarães, Gaia e
Espinho, antes de ingressar como Gestor Comercial e de Marketing
no Grupo Amorim durante cerca de 20 anos, ao fim dos quais se
reformou, dedicando-se a tempo inteiro de “alma e coração” à
Academia do Bacalhau do Porto em particular e ao movimento das
Academias do Bacalhau no mundo em geral.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

INTERVENÇÃO DE PAULO RAMALHO, Vereador das Relações Internacionais da

Exmo. Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr.
José Cesário;

Exma. Senhora Presidente da Direcção da Associação Mulher Migrante,
Dra. Rita Gomes;

Dra. Manuela Aguiar, em si, particular amiga, cumprimento toda a
comissão organizadora que preparou este “Encontro Mundial de Mulheres
Portuguesas na Diáspora”;

Um cumprimento especial para todas as pessoas que participaram
neste encontro, designadamente para os palestrantes e moderadores
que permitiram durante estes três dias, a construção de importantes
reflexões, bem como a partilha de conhecimentos e experiências
absolutamente fundamentais para a afirmação da língua portuguesa, da
nossa cultura, ao fim e ao cabo, da nossa identidade, da nossa maneira de
ser e de estar no mundo, com particular enfoque, no contributo da mulher
portuguesa;

Por último, permitam-me ainda, um cumprimento muito especial,
para todas aquelas portuguesas e portugueses que nos visitaram do
estrangeiro, onde habitualmente residem e trabalham, e que nos vieram
aqui recordar que a grande Comunidade Portuguesa está muito para além
dos dez milhões que habitam o território nacional.

Foi um prazer enorme ter-vos recebido a todos aqui na Maia, e espero,
sinceramente, que se tenham sentido como na vossa própria casa. Estas
portas estarão sempre abertas ao vosso dispor.

A Maia que é um território de muitos emigrantes. De muitos que ainda lá
estão, e outros que já regressaram.

Aliás, a nossa Câmara Municipal presta particular relevo à sua política
de Relações Internacionais, não só enquanto instrumento de promoção
do nosso território, do seu potencial social e económico, mas também
enquanto instrumento de cooperação e promoção de desenvolvimento
junto daqueles povos, que não sendo portugueses de nacionalidade, são
e serão sempre nossos irmãos, nossos iguais, nessa grande Nação que é a
Comunidade Lusófona, a Nação da Língua Portuguesa.

E sobre esta questão, permitam-me duas breves notas sobre a experiência
da Maia neste domínio:

-a primeira, relativa aos acordos de geminação; Os Protocolos de
Geminação entre municípios nacionais e estrangeiros, podem ser muito
mais que simples instrumentos de afirmação da amizade entre dois
povos; Podem e devem ser, hoje, instrumentos de promoção do nosso
território e da nossa cultura, e mesmo da internacionalização da nossa
economia, se formos capazes de integrar de forma activa nas acções
desses protocolos, as nossas comunidades locais de emigrantes; Os nossos
emigrantes, minhas amigas e meus amigos, são cada vez mais, potenciais
embaixadores do nosso país, muitos deles, já plenamente integrados, de
forma activa, na própria vida política do país de acolhimento; Mas sempre
portugueses, de alma e coração, disponíveis para servir os interesses do
seu país de origem; Encontrei recentemente esta realidade em França, em
Mantes-la-jolie, em Toronto e Sault-Sant-Marie no Canadá e Nelspruit, na
África do Sul;

-sobre a afirmação da Língua Portuguesa, é importante que, mesmo
nestas alturas de crise, essa afirmação continue a ser considerada uma
prioridade; E Senhor Secretário de Estado, pode ter a certeza que os
Municípios, e a Maia é disso exemplo, estarão sempre disponíveis para
dar o seu contributo, por mais modesto que seja; E esse contributo,
na minha humilde opinião, será sempre mais eficaz, quando traduzido
em acções concretas e dirigidas para as pessoas; Nesta matéria, a Maia
também tem feito algo; nesta altura temos cerca de trinta jovens de
São Tomé e Príncipe a estudar em estabelecimentos de ensino da Maia,
com bolsas de estudo pagas pelo orçamento do Município; O Estado,
hoje, não pode fazer tudo; Os Municípios têm também que assumir a sua

responsabilidade nesta matéria.

Para terminar, uma palavra para a Jaqueline Silva, cuja intervenção ouvi
ontem com muita atenção. Jaqueline, você não é uma apátrida como se
definiu ontem. Nem acho que seja uma luso-francesa. Se quer a minha
opinião, você é simplesmente uma portuguesa do mundo, desta nova
realidade que nos trouxe a Globalização.

Muito obrigado, e um abraço para todos.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

PINTORA ANA MARIA

Quando decidi falar da mulher migrante e de arte, lembrei-me do nome que descobri na adolescência...Vieira da Silva, confesso que só depois me apercebi que aquela pintura magnífica era de uma muher...Maria Helena. Afinal a pintura podia ser metafísica, abstrata e bela.
Partiu, mas nunca se afastou de todos aqueles que a procuraram e que fizeram da diáspora a sua causa, ainda que muitas vezes interior. Com ingenuidade, descobri nas reproduções de Vieira da Silva dias de rigor e encanto, de estranhas perspectivas, cores entrelaçadas e as magníficas bibliotecas, para as quais não tenho palavras. Por tudo isto, Vieira da Silva - artista e mulher tem um lugar muito especial, mesmo ao lado da metáfora mais bela - o conhecimento da intuição.


praia da granja pintora ana maria

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

COMUNICAÇÃO CUSTÓDIO PORTÁSIO

Autor: Custódio Portásio, 33 anos, viveu em Portugal até 2001 e em França até 2006, nos últimos 5 anos tem vivido no Luxemburgo. Estudou gestão e organização de empresas, têm um mestrado em auditoria financeira e actualmente prepara um doutoramento em ciência política. É um professional do sector finananceiro lulxemburguês, onde exerce actualmente um cargo de direcção. Dirigente associativo, participa há 16 anos em diferentes projectos associativos, sociais, culturais, políticos e de promoção da cultura e língua portuguesas. Político amador nas horas vagas, curioso de espírito, “vagabundo das comunidades” por adopção e cidadão
do mundo por natureza.

Exmo. Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário,
Exmo. Sr. Deputado eleito pelo Círculo Europa, Dr. Carlos Gonçalves,
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal da Maia, Dr. António Gonçalves Bragança Fernandes
Exma Sra. Presidente da Direcção da Associação Mulher Migrante, Dra. Rita Gomes,
Exma Sra Presidente da Assembleia da Associação Mulher Migrante, Dra. Manuela Aguiar,
Caras amigas, caros amigos,

Começo por agradecer o convite que recebi da Associação Mulher Migrante, na pessoa da Sra Presidente da Direcção, Dra Rita Gomes.

É para mim uma honra estar aqui presente e participar pela segunda vez no Encontro Mundial de Mulheres
Portuguesas na Diáspora e neste congresso como orador no painel “Trabalho e Empreendedorismo no
Contexto da Integração e do Regresso”.

Não sendo um especialista em matéria de empreendedorismo feminino, manifesto um interesse particular
pelas dinâmicas associadas ao empreendedorismo em geral e em particular ao empreendedorismo feminino,
jovem, social e migrante.

Como residente no Grão-Ducado do Luxemburgo, é deste país que vos apresentarei algumas das iniciativas
promovidas pelo espírito empreendedor luxemburguês e que se consubstanciam em boas práticas a serem
divulgadas. Práticas essas que se destacam ao nível das mais variadas vertentes do empreendedorismo,
nomeadamente por aquelas que atrás mencionei e que se manifestam na promoção do empreendedorismo,
da mobilidade e da inovação, factores de sucesso que em períodos de crise constituiem um incentivo ao
crescimento económico a médio e longo prazo e à excelência do modelo económico do país.

Começarei por uma pequena revista de imprensa de enquadramento, relativa ao tema deste painel
e num segundo momento apresentarei brevemente alguns projectos desenvolvidos no âmbito do
empreendedorismo feminino.

Primeira parte - Breve revista de imprensa…

” A equipa de Femmes magazine lança hoje o seu portal internet dedicado às mulheres. (…)
Não havia nada e pareceu-nos que tinhamos legitimidade para o criar [frase de Maria Pietrangelli e Patricia
Sciotti]. ”
Paperjam, 24 de Novembro de 2011

” Lançamento dos troféus Inspiring Woman of the Year & Top Company for Gender Equity, ao nível da
Grande-Região. (…)
Organizado pelo Grupo Moraru no âmbito da responsabilidade social do grupo, sob a designação de
Womens Leaders in Europe, em parceria com a ESSEC Business School e com o patrocínio de Viviane
Reding, Vice-Presidente da Comissão Europeia, responsável pela Justiça, Direitos Fundamentais e
Cidadania. (…)
Inspiring Woman of the Year propõe-se reconhecer a importância dos modelos que inspiram e influênciam
as mulheres, destacando aquelas que não só tiveram sucesso nas suas carreiras, como inspiram quem as
rodeia e motivam os mais novos.

Top Company for Gender Equity propõe-se reconhecer e homenagear uma organização que apresenta
resultados mensuráveis no recrutamento, manutenção e evolução de uma percentagem equilibrada, entre
homens e mulheres a todos os níveis hierárquicos.”
Agefi, Outubro de 2011

“As mulheres são agentes da mudança (…) enquanto mães e irmãs, professoras e médicas, artistas e
artesãs, empresárias e empreendedoras. ”
Rainha Elisabeth II, extracto do discurso pronúnciado no Dia da Commonwealth, 14 de Julho de 2011

” Women Leaders in Europe : As mulheres nos conselhos de administração… quotas ou não ?
Em 2002, a Noruega era o primeiro país a impor quotas de mulheres nos conselhos de administração. (…)
Hoje, nese país nórdico, há uma percentagem elevada de mulheres nos conselhos de administração : 44%.
A seguir à Noruega, segue-se a Espanha, que em 2007 dotou-se de uma lei impondo a partir de 2015 pelo
menos 40% de mulheres nos conselhos de administração, e mais recentemente a França também legislou
sobre o lugar das mulheres nos conselhos de administração.
No Luxemburgo, a Ministra para a Igualdade de Oportunidades exprimiu-se contra as quotas, mas é a favor
de uma participação equilibrada de mulheres e homens na tomada de decisão. ”
Agefi, 7 de Fevereiro de 2011

” A Gëlle Fra (estátua da mulher dourada, parte integrante do monumento aos mortos das duas guerras
mundiais, deslocada para a exposição mundial de Shangai e que antes de voltar ao lugar de origem, integrou
uma uma exposição tenmporária) reuniu mais de 70 participantes no evento Connected Women organizado
pela PwC Luxemburgo.
Mais de 70 mulheres empreendedoras, líderes e artistas de reconhecido valor no Grão-Ducado
do Luxemburgo e da Grande-Região encontraram-se (…), uma oportunidade para estas mulheres
confraternizarem em torno de um tema cultural e num ambiente descontraído. ”
Paperjam, 24 de Janeiro de 2011

” Segundo um estudo mundial da Accenture, a resiliência é uma competência indispensável às mulheres para
progredirem nas suas carreiras.
Os quadros dirigentes de todo o mundo estimam que a resiliência, ou seja, a capacidade de responder a
desafios e a transformá-los em oportunidades, é uma qualidade essencial para progredir na carreira.
Estima-se que as mulheres sejam ligeiramente mais resilientes (53%) do que os homens (51%). ”
Accenture, Março de 2010

” De 19 a 22 de Novembro de 2003 teve lugar o lançamento do projecto de investigação europeu Gender
training methods partnership, co-financiado pela Comissão Europeia no âmbito do programa Socrates
Grundtvig 2. (…)
O projecto focaliza-se sobre os métodos pedagógicos utilizados no domínio do género, ou seja, na igualdade
de oportunidades entre homens e mulheres na formação contínua.”
Agefi, 1 de Dezembro de 2003


Segunda parte - Alguns projectos levados a cabo no Luxemburgo…

PAN Igualdade – Plano nacional de igualdade entre homens e mulheres, lançado em 2006, pela Ministra
para a Igualdade de Oportunidades, Françoise Hetto-Gaasch e reconduzido para o período 2009-2014:
www.mega.public.lu/actualites/actu_min/2010/02/pan_egalite/index.html

International Cross-Mentoring Program for Women at Board Levels – Lançado por Rita Knott:
www.cross-mentoring.net & www.femaleboardpool.eu

Inspiring Woman of the Year & Top Company for Gender Equity – Lançado por Clara Moraru:
ambos explicados num dos “retalhos” de imprensa já mencionados: www.inspiringwomen.lu

Plano de acção a favor da diversidade na empresa – Lançado por Robert Denneald, presidente da Fedil -

Business Federation Luxembourg:
www.agefi.lu/Mensuel-Article.aspx?date=Nov-2011&mens=172&rubr=1127&art=14887&query=fedil+lance+plan+action


Femmes Leaders – associação presidida por Eliane Fuch, que visa preparar as futuras gerações de

mulheres líderes e contribuir para que as mulheres participem activamente no desenvolvimento económico,
na criação de emprego, na gestão estratégica e na performance das empresas.
Femmes Leaders organiza anualmente a Leadership Academy: www.femmesleaders.eu

FFCEL – Fédération des Femmes Cheffes d’ntreprise du Luxembourg – criada em 2004, a federação
recebe mulheres que estão ou que se querem lançar no empreendedorismo no Luxemburgo.
O lema da actual presidente da associação, Miriam Mascherin é “sinergia, responsabilidade e visibilidade”.
Esta associação incentiva a mulhere a acedere às funções de direcção, forma-a e informa-a, ajuda-a a
resolver problemas relacionados com o exercício das suas actividadese e apoia-a junto da classe política:
www.ffcel.lu

Conseil National des Femmes du Luxembourg – organismo de investigação e de informação sobre o
direito das mulheres: www.cnfl.lu

Cid-femmes – Centro de informação e documentação sobre as mulheres.
Foi criado em 1992, por um grupo de mulheres que pertenciam ou eram próximas do Movimento de
Libertação das Mulheres no Luxemburgo (MLF).
Este centro promove, através de uma biblioteca pública com cerca de 26000 obras, a informação sobre as
mulheres ; sensibiliza o público em geral, nomeadamente mulheres e jovens, através de formações diversas
visando a transformação dos papéis tradicionais atribuídos na sociedade aos homens e às mulheres.
Promove a investigação sobre as mulheres e a evolução dos movimentos feministas no Luxemburgo e na
Europa : www.cid-femmes.lu

Femmes en détresse – a associação tem por objectivo oferecer às mulheres, às suas crianças, e às
jovens meninas uma protecção eficaz contra a violência, através do desenvolvimento e gestão de casas de
acolhimento para mulheres et jovens meninas em situação de perigo ; centros de informação e de consulta.
Esta associação contribui para o melhoramento das condições de vida das mulheres, ajudando-as a
integrarem-se na vida económica e social, garantindo-lhes uma ajuda psicológica, jurídica e social e
oferecendo-lhes formações específicas : www.fed.lu

Antenne d’Écoute – é um serviço multi-língua (português, espanhol, italiano, francês, inglês e indi) criado
em 2008 pela Associação Amizade Portugal-Luxemburgo, por iniciativa de Teresa Pignatelli, consultora em
Programação Neurolinguística (PNL) e que tem como primeiro objectivo escutar e, sempre que possível,
encontrar uma solução para melhor gerir a situação tida como problema. Inicialmente o projecto era
composto por uma equipa de três mulheres : a Teresa, coordenadora do projecto e consultora em PNL ; a
Madalena, assitente social ; e a Joana, psicóloga.
Hoje o projecto conta com uma equipa de 8 profissionais : 7 mulheres e um homem :
http://www.amitie.lu/index.php?option=com_content&view=category&id=51&Itemid=67

Notas finais…

Estes são alguns dos exemplos que pretendia trazer a esta conferência.

Assim, de forma modesta pretendi, apesar do tempo limitado, apresentar-vos algumas das iniciativas que em
terras grão-ducais se desenvolvem para promover o papel da mulher no mundo empresarial.

Note-se porém que muitas destas iniciativas são, desde a sua criação, fruto da ambição de algumas
mulheres que, no Luxemburgo, se distinguem pelo espírito empreendedor,

As boas práticas devem ser partilhadas além-fronteiras e termino citando a frase de há pouco, pronunciada
pela rainha Elisabeth II, no seu discurso do Dia da Commonwealth: « as mulheres são agentes da
mudança ».

Obrigado pela vossa atenção e boa sorte para a continuação dos trabalhos deste congresso.

Custódio Portásio

COMUNICAÇÃO ISABELLE OLIVEIRA

CONGRESSO MUNDIAL DA MULHER

0. Nota de introdução

É bom recuar no tempo e relembrar que ao longo dos séculos emergiram

inúmeras teorias pseudo-científicas que pretendiam demonstrar a inferioridade física da

mulher e, por conseguinte, a sua inferioridade intelectual. Basta enunciar algumas delas

como a frenologia de Gall que procurou demonstrar a superioridade intelectual dos

homens pela forma exterior do crânio; ou a teoria de Bischoff segundo a qual a fase de

desenvolvimento intelectual das mulheres se limitava à infância; ou ainda a de Moebius,

autor da inferioridade mental da mulher cujo título indicava claramente as suas

intenções e na qual assentou a sua argumentação a propósito do tamanho do cérebro;

Kormiloff quis demonstrar que o sangue das mulheres tinha menos hemoglobina e mais

água do que o sangue dos homens; Quételet pensava que a mulher sofria de capacidades

inferiores a nível pulmonar, esquelético, vocal, etc... que causavam fraqueza e doenças

crónicas; Spencer tentou demonstrar que a actividade intelectual era incompatível

com a reprodução. As mulheres sendo fisicamente inferiores seriam apenas guiadas

pelo seu útero quando os homens utilizariam o seu cérebro. A fisiologia feminina –

menstruação, gravidez - colocaria as mulheres num estado de constante debilidade física

que implicaria uma diminuição das suas capacidades mentais e morais. (Ortiz 1993).

Há alguns atrás, suponha-se ainda que a mulheres não seriam suficientemente

inteligentes para votar. Elas tinham de pedir a autorização ao marido para trabalhar

e abrir uma conta no banco. Ainda não controlavam o seu próprio corpo e no fundo,

porque temos de dizer as coisas como são, era-lhes recusado o direito de ter uma

sexualidade. Quantas foram as mulheres que tiveram de abandonar o sonho de estudar,

ou de terem uma profissão, porque na altura isso não era para elas? Quantas tiveram de

enfrentar o desprezo da família, amigos e conhecidos porque eram divorciadas, mães

solteiras, solteiras, ou porque não tinham filhos? Tudo isto aconteceu ainda ontem.

As suas conquistas parecem-nos hoje evidentes, mas são, na realidade, ainda bem

frágeis e recentes. Assistimos à ruptura com um modelo de mulher uniforme cuja única

2

função social era a de esposa e de mãe e da qual os direitos resultavam dos seus deveres.

Quando se fala hoje de igualdade de género parece fundamental começar por constatar

que se assiste a progressos mas em paralelo subsiste grandes áreas de discriminação que

importa não silenciar ou subestimar.

Este Congresso propõe-se assim convidar-nos para o debate de grandes temas, através

de uma metodologia de convivência entre o exercício da crítica, a aceitação pedagógica

da dúvida e a busca de novos caminhos e de novas perspectivas. Razão pela qual este

Congresso será um processo amplo de debate e de construção partilhada, de todos e para

todos.

- Generosidade, dedicação, trabalho, responsabilidade, família, paz, vida: são estes os

valores das mulheres. São estes os valores que elas colocam no centro da sociedade

sendo elas o motor dessa mesma sociedade.

1. O novo rosto da emigração portuguesa

As motivações que levaram os portugueses a emigrar durante os anos 60

são bem diferentes daquelas que se verificam nos dias de hoje. Uma nova geração

de emigrantes, mais qualificada, está a conduzir este fenómeno para um novo

patamar, onde a variedade de funções e o enquadramento social em que se inserem

os portugueses nos países de acolhimento em muito se distinguem do cenário que

aconteceu há quatro décadas. Surge assim uma outra maneira de encarar a análise

de necessidades numa emigração sedenta de mudança a que podemos qualificar

de “conjuntural”.

Actualmente, abriu-se uma nova era da emigração portuguesa, sobretudo com

jovens de formação técnica e científica que procuram oportunidades de enriquecimento

profissional, o que também num futuro próximo trará reflexos para o desenvolvimento

do país. – Para exemplificar, em França tem-se verificado uma tendência ao aumento

da população emigrante com menos de 28 anos de idade onde a taxa de crescimento

da emigração permanente é já superior à da emigração temporária. É nesta emigração

permanente que nos aproximamos mais de uma paridade entre os dois sexos, ao passo

que a emigração temporária continua a ser predominantemente masculina. O aumento

do desemprego em Portugal levou sobretudo jovens quadros a abandonarem o país na

expectativa de conseguirem melhores oportunidades e salários na esperança de uma

3

vida melhor. Estes emigrantes com outro perfil e outro tipo de competências já não são

de reduzido nível de instrução e, mesmo sem conhecer a língua do país que os recebe,

possuem o domínio do inglês que é, hoje em dia, uma língua de abertura facilitando

assim a sua integração no país de acolhimento.

No meu local de trabalho, verifico que um número significativo de jovens

portugueses se integra nos melhores “quadros” não só por encontrarem um meio

favorável para a sua realização sócio-profissional mas também de auto-estima. Esta

nova emigração mais heteróclita começa assim a criar um núcleo mais elitista no

conjunto dos sectores da vida profissional, económica e cultural das sociedades de

acolhimento. A realidade migratória continua, deste modo, a ser altamente dinâmica.

Isto é extremamente positivo e é bom que os portugueses sejam apreciados e

reconhecidos no exterior pelo seu valor.

Apesar da mobilidade de uma percentagem elevada de quadros, uma parte

significativa destes emigrantes são ainda pessoas de nível cultural baixo, praticamente

ligados a profissões menos qualificadas, como a construção civil, empregados da

restauração, prestação de serviços de pouca qualificação. Porém, pessoas essas com

características muito diferentes às que estávamos habituados. Acresce que Portugal

ainda mal despertou para este fenómeno de uma nova emigração, desde que a União

Europeia se tornou um espaço de liberdade de circulação. Há, de facto, uma nova vaga

de emigrantes que requer um novo quadro de análise porque permanece hoje como um

fenómeno pouco visível assente num fluxo silente já que o país não tem conhecimento

que as pessoas partem ficando assim muito isoladas e vulneráveis. Assistimos assim a

novas realidades como situações de exploração de portugueses em países onde deveriam

usufruir dos mesmos direitos que os autóctones.

Verifica-se, por exemplo, em França que não há igualdade de tratamento o que é

uma contradição numa Europa que se proclama respeitadora dos direitos de cidadania.

Os portugueses, como cidadãos europeus, já não sendo considerados emigrantes são

tratados como tal ou pior ainda. Por outro lado, notamos que partes dos problemas

de exploração a que os portugueses acabam muitas das vezes sujeitos têm origem no

grande negócio que é o trabalho temporário, o que designamos em França por “ínterim”.

Por tudo isto, num país estrangeiro, as pessoas ficam entregues a si próprias, sem

conhecerem a realidade local nem saberem a quem recorrer em caso de dificuldades que

possam vir a surgir.

4

É verdade que os emigrantes de outrora não são os emigrantes de hoje

obedecendo a outros contornos o que implica principalmente uma participação maior

dos poderes políticos e dos mais diversos sectores da sociedade na discussão desta nova

realidade que foge aos cânones do passado.

Profª Doutora Isabelle Oliveira
Universidade da Sorbonne/CNRS

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EULÁLIA MORENO

Os Fados de Todas Nós

Eulália Moreno *

A conquista de Ceuta em 1415 deu início a Diáspora portuguesa seguida pela colonização da Ilha da Madeira em meados de 1425. Menos de um século depois aberta a rota do Cabo para o Índico ( em 1497), descoberto o Brasil (em 1500) e povoadas as ilhas adjacentes de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe eram já patentes as conseqüências demográficas e outras advindas do fenômeno da expansão ultramarina. Em Gil Vicente, Sá de Miranda, João de Barros entre outros há a consciência, se não o alarme, da nova situação criada para a sociedade portuguesa.

Garcia de Resende ( 1470-1536) escreveu :

“Vijmos muyto espalhar
portugueses no viver,
Brasil, Ilhas povoar
A aas Índias yr morar,
Natureza lhes squecer:
Veemos no reyno metter
Tantos captivos crescer,
E yremse hos naturaes
Que se assi for, seram mais
Elles que nos, a meu ver”


Órfãs, Meretrizes, Degredadas e Feiticeiras

Nos primeiros séculos de colonização houve uma verdadeira escassez de mulheres brancas para a colônia. O caráter migratório aventureiro dos colonos portugueses, que buscavam enriquecimento rápido, pensando num breve retorno a Portugal desestimulava um padrão migratório familiar. Raras eram as mulheres que desembarcavam, por exemplo, no Brasil. Os homens chegavam e se deparavam com uma população feminina indígena livre de todos os preconceitos e uniam-se a várias mulheres ao mesmo tempo gerando filhos mestiços.

Essa situação fora dos padrões europeus horrorizava os jesuítas. Em carta ao rei de Portugal, Manuel da Nóbrega , fundador da cidade de São Paulo, pedia ao monarca português que enviasse ao Brasil mulheres portuguesas, “muitas e quaisquer delas” e acrescentava: "Se El-Rei determina povoar mais esta terra, é necessário que venham muitas mulheres órfãs e de toda qualidade até meretrizes, porque há aqui várias qualidades de homens; e os bons e os ricos casarão com as órfãs; e deste modo se evitarão pecados e aumentará a população no serviço de Deus “.Não importava a condição social, moral ou economica dela, pois bastava que fosse "branca" e produzisse filhos "portugueses" na colonia para ser considerada "superior" às mulheres índias e negras, no imaginário colonial.

As que chegavam sózinhas eram normalmente as degredadas, forçosamente exiladas na colonia. O século XVII foi marcado pela chegada constante de “visionárias”, acusadas de feitiçaria, que eram sentenciadas ao exílio na colonia. Nem todas permaneceram no Brasil, parte regressando a Portugal após os cinco anos de pena de degredo.

Nos séculos seguintes, a imigração portuguesa não perdeu o seu caráter masculino. O Norte de Portugal na época era conhecido por ter o predomínio de mulheres exercendo atividades agrícolas tradicionais, pois muitos dos homens emigraram. As mulheres (e as crianças) portuguesas desembarcaram em maior número no Brasil quando alguma crise afligia Portugal, como durante a epidemia de filoxera que destruiu temporariamente a indústria do vinho do Porto em meados do século XIX.

Após a independência a mulher portuguesa que desembarcava no Brasil, geralmente pobre, se empregava como criada nos serviços domésticos. Frequentemente os textos da época faziam referência implícita à prostituição de portuguesas no Brasil.

O início do século XX foi um momento que representou uma reviravolta nas características da imigração portuguesa ao Brasil, uma vez que as mulheres passaram a representar uma parcela considerável dos imigrantes. A legislação portuguesa dificultava a migração de pessoas do sexo feminino, uma vez que exigia a emissão de passaporte e as mulheres dependiam da autorização dos pais ou do marido para imigrar.

A partir da década de 1890, verifica-se uma mudança no comportamento migratório português. As mulheres, que antes ficavam para trás, passaram a acompanhar seus homens na viagem migratória. Assim, a migração familiar e feminina portuguesa cresceu 41% entre 1891 e 1899 e 36% entre 1910 e 1919. Essas mulheres dividiam com seus maridos pequenos negócios, como padarias, bares e quitandas, trabalhavam como operárias, lavadeiras, costureiras, em áreas completamente diferentes das quais exerciam em suas aldeias de origem, muitas vezes tendo que trabalhar em jornada dupla para poder sobreviver e vencer os desafios no novo país de acolhimento.

A partir de meados do século XX os países de acolhimento se multiplicariam e as Marias de Portugal partiriam não apenas em navios rumo a outros continentes mas a “ salto” para cumprirem os seus fados em outros países europeus.

Apaixonadas, batalhadoras , honestas e com mãos abençoadas para toda obra

Na maior rede social da Internet, o Facebook, algumas mulheres criaram um grupo “ Mulheres Portuguesas na Diáspora” que se tornou um ponto de referência para relatos muito ricos de histórias de vida. Esse foi o ponto de partida desta comunicação que não pretende ser nada mais além do que um breve resumo do que está disponível no referido grupo. A pedido de algumas, o anonimato foi preservado. Há feridas cicatrizadas e outras que sangrarão para sempre. Em comum, uma fé inabalável e o amor por Portugal.

“ Me enamorei do filho do dono das terras onde os meus pais trabalhavam , e mal tive o meu filho deixei-o aos cuidados de familiares e vim tentar a sorte no Brasil onde moravam uns tios que me mandaram a carta de chamada. Vim trabalhar como babá, aqui as pessoas ricas gostavam muito de portuguesas para olharem pelos filhos. Sofri muito porque estava eu a criar filhos dos outros enquanto o meu , pobrezinho, sabe-se lá se tinha o que comer, o que vestir e o que calçar. Alguns anos depois conheci um “patrício” que tinha emigrado e era dono de um pequeno comércio. Nos casamos, fiquei a trabalhar com ele e tivemos dois filhos. Ele sabia da minha vida , do meu filho que tinha ficado em Portugal . Estourou a guerra em África e para que o meu rapaz não fosse para lá ele conseguiu uma pessoa que arranjou a papelada e ele veio para cá.O reencontro não foi muito bonito, nós não nos conhecíamos.Ele só ficou por cá três anos, conheceu uma brasileira com quem se casou e emigrou para a Venezuela. Nunca mais o vi, nunca mais tive notícias. Nunca retornei a Portugal e o Brasil a quem dei o meu suor e as minhas lágrimas, ficará também com os meus ossos.”
A.P., 85 anos, natural da Beira Alta, , emigrante no Brasil

“ Minha história começa quando o meu pai teve que emigrar no ano de 1968 quando eu tinha 7 anos. Para minha mãe não foi fácil ficar em Portugal com 4 filhos e de gerir uma casa de forno onde se vendia o pão alentejano , ter que peneirar amassar o pão e cozer e vender .Para meu pai também não foi nada fácil ter que ir para um país tão distante sem saber falar a língua. Ele sequer sabia ler e escrever ..Embarcou em Santa Apolonia com destino a Alemanha pois iria trabalhar para o porto de Hamburgo , um trabalho bem duro pois tinham que carregar muitos quilos às costas nada comparado com os dias de hoje que é tudo à força de máquinas. Entretanto foi para o porto de Bremen .Ai trabalhou mais uns tempos e como tinha uma cunhada no sul da Alemanha, em Donaueschingen ,ela arranjou ao meu pai um trabalho na fábrica onde ela trabalhava .Mais tarde por intermédio de um amigo conseguiu arranjar um trabalho na Opel em Bochum onde ficou ate a sua reforma ..Depois de estar estável mandou a minha mãe e uma irmã ir. Isso aconteceu em 1973 .Eu e os meus outros dois irmãos ficamos com os avós maternos , pois nos ainda andávamos na escola .Eu andava na altura no 2° ano do Ciclo. Deu-se a revolução de 1974 ainda fui mais os colegas festejar para as ruas com os cravinhos nas mãos.Em Agosto de 1974 meus pais vieram e levaram-me com eles para a Alemanha .No outro ano a seguir foram os outros dois irmãos e assim já estava a família toda completa .Vivíamos num prédio no quarto andar numa casa com um quarto , sala ,cozinha e casa de banho .Os pais dormiam no quarto , nós raparigas na sala e o meu irmão na cozinha .A partir daí a minha vida mudou totalmente de criança para mulher pois com treze anos ainda tinha o direito de ir frequentar a escola na Alemanha mas meus pais se opuseram e minha mãe levava-me com ela para o trabalho !!Ela ia fazer limpeza num hospital onde eu lhe ajudava , comecei eu a fazer tudo o que me vinha de trabalhos dos mais variados , em limpeza, trabalhei a fazer pizzas a cortar cebolas para fazer a carne no espeto, numa lavanderia a passar a ferro.Enfim de tudo o que me aparecia porque eu ainda era uma menor .Em 1978 conheci meu marido pensei em casar pois tinha na altura 17 anos .O casamento aconteceu em Dezembro de 1978 .E vim para a terra onde meu marido se encontrava pois ele sendo também um emigrante português e emigrado em 1971 .Começamos a nossa vida de casados trabalhando e economizando para fazer uma casinha em Portugal pois é o sonho de todos os portugueses um dia voltarem a sua terra natal. Assim se concretizou o sonho da casinha , tivemos dois filhos que estudaram em escolas alemãs, um com trinta e um ano que já casou e nos deu duas netinhas de mãe alemã e o outro com 28 anos. Hoje passados quase 38 anos e o marido 41 ainda continuamos na Alemanha pensando um dia regressar a Portugal quando tivermos a nossa reforma .Os nossos filhos estão cá ,vivem cá e agora estão as nossas netas !!!!Mas será que esse dia virá ou não ? Decisão difícil de tomar !!!!E só o tempo o dirá !!

Silvia Messias , 51 anos, natural de Beja , emigrante na Alemanha


“Sou emigrante desde a minha tenra idade de 3 anos...primeiro emigrei com meus pais para França... Aos 7 anos meu pai decidiu que eu deveria fazer a escola primária em Portugal e assim aconteceu...Aos 13 anos regressei de novo a França... Aos 19 anos conheci meu marido que vivia na Alemanha então casei e fui viver para a Alemanha...Ao fim de 20 anos de vivência na Alemanha ,a saudade do nosso Portugal bateu à porta e decidi ir viver para Portugal onde aguentei 5 anos... Agora há cerca de um ano e meio emigrei de novo para França onde continuo a viver e não tenciono sair... Aqui está mais um retrato rápido da emigração...”

Alzira Macedo, 43 anos, natural de Bragança , emigrante na França

“No dia 21 de novembro de 2007 vi me forçada a abandonar o meu país! Mas mais doloroso abandonar os meus preciosos: a minha menina tinha 5 aninhos e o meu menino tinha simplesmente 3 mesitos, mas para poder lutar por uma vida melhor para eles decidi vir para Inglaterra....As pessoas que me trouxeram só arranjaram trabalho para mim e não para o meu marido. Foi tão doloroso para todos nós....todos os dias ouvia crianças a chamar pelos pais e as minhas lágrimas simplesmente corriam cara abaixo de tanta dor e saudade...ao fim de um tempo consegui trazer o meu marido mas mais uma vez tive de deixar os meus bebes para trás (pois as pessoas com quem eu morava não queriam que os trouxesse) e então aí foram 4 meses sem os ver....Cada dia que passava tornava se mais impossível de viver sem eles......Sofri muito mas agora estamos todos juntinhos , graças a Deus! “

Claudia Fernandes, 32 anos, natural de Setubal, emigrante na Inglaterra

“ Todas nós sofremos por ter emigrado, não importa para onde. O meu pai emigrou com toda a família para a Argentina e para isso precisou vender uma herança que era da minha mãe, ela nunca o perdoou por isso. Acho que era o nosso destino mas perdemos a nossa identidade porque em Portugal somos emigrantes e onde moramos somos estrangeiras... então qual é o nosso país?? Só por isso já temos um pesadelo que nunca tiramos de cima dos ombros embora digam que as Mulheres vencem muitas batalhas. Mas sofremos muito, muitas vezes em silêncio, só Deus sabe o que sofremos . Conheci muitos portugueses aqui que, como eu, nunca mais voltaram a Portugal porque muitos não conseguiram ficar ricos, passaram tempos muito difíceis, alguns até fome passaram para conseguir juntar algum dinheiro. Sou professora de música e para não perder a minha nacionalidade portuguesa não pude dar aulas em escolas públicas ou privadas mas fiz parte de uma orquestra de música clássica e com ela me apresentei em vários programas de televisão. Um dia destes tenho que escrever um livro, é o que me falta fazer”.

N.C., 63 anos, natural de Aveiro , emigrante na Argentina

“Eu emigrei para a Austrália, sem nada, só com a minha roupinha vestida ...eu ,meu marido e o meu filho de 15 meses ao colo . Viemos com a minha irmã para enfrentar e recomeçar a vida sem saber o que nos esperava..o não saber a língua foi o problema principal. Deus nos ajudou , hoje já tenho 40 anos como emigrante e ja temos 3 netos . Penso que vamos acabar os nossos dias por aqui em Sidney , neste país que nos acolheu de braços abertos . Enfim, mas só Deus é que pode saber onde e como será o nosso fim, como se costuma dizer porque o dia de amanhã ninguém o viu e ninguém o sabe, portanto está nas mãos de Deus. Que Ele nos ajude a todos e nos abençoe!

Lucy Mendonça, 60 anos, natural da Guarda, emigrante na Austrália

“Emigrei para a França e fui morar com a minha irmã que era porteira num prédio da avenue Kleber em Paris. O meu cunhado trabalhava nas obras de saneamento durante a noite e assim sobrava lugar pra mim na cama com a minha irmã porque só tínhamos um quarto, com um lavatório que servia também de pia de cozinha e a sanita era um balde. O prédio tinha sete andares e nós morávamos no último mas não podíamos utilizar os três elevadores, subíamos a pé. Arranjei trabalho numa banca de frutas perto da Bastilha, acordava todos os dias às 5 da manhã, vida muito dura e depois que consegui a confiança do patrão que era da Argélia, passei a dormir nos fundos do comércio . Um lugarzinho pequeno mas que era o meu cantinho onde eu tinha a minha cama e as minhas coisinhas. Um dia um freguês perdeu a carteira com muito dinheiro junto das verduras. Eu encontrei e fui devolver não esperando nada mais do que um “ merci”. O dono da carteira era um senhor de origem judaica, dono de uma rede de lojas de tecidos nas proximidades de Montmartre e me convidou para trabalhar numa das lojas. Foi a minha sorte! Depois de alguns meses eu já me desembaraçava no francês e fiquei gerente nessa loja para depois de alguns anos ser gerente geral de mais de 20 lojas. No trabalho conheci o meu marido que é francês e que gosta muito de Portugal. Não tivemos filhos mas temos um casal de “ caniches” e muitos sobrinhos com que vamos todos os anos passar férias a Portugal. A França foi boa para mim, os franceses também e eu aprendi que a honestidade sempre compensa”.

Vitória Guimarães, 53 anos, natural de Braga, emigrante na França.


Bibliografia :

Arroteia, Jorge Carvalho, “A Emigração Portuguesa, suas origens e distribuição”, Editora ICALP, Lisboa, 1983 ;
Brettell, Caroline B. , “ Homens que Partem, Mulheres que esperam”, Editotra Dom Quixote, Lisboa, 1991

Ferreira, Cristina , “ Breve Olhar sobre a Imigração Portuguesa: Portugal Emigrante”. Lusitano: Jornal de Portugueses Residentes no Estrangeiro, 17 jun., 1998, página 2 ;

Lobo, Eulália Maria Lahmeyer, “ Portugueses em Brasil em el siglo XX”, Madrid, Editora Mapfre, 1994

Serrão, Joel , “A Emigração Portuguesa; Sondagem Histórica”, Editora Horizonte, Lisboa, 1982 ;


Foto : Foto de Passaporte de uma família portuguesa, 1992, “ Imigração Portuguesa no Brasil”, série Resumoe, número 5, Memorial do Imigrante, São Paulo, 1999

* Jornalista, brasileira , emigrante em Portugal desde 1974 e colaboradora do jornal Mundo Lusíada, publicação quinzenal editada em São Paulo.