quarta-feira, 2 de junho de 2010

PORTUGAL
Território e Cultura

"Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses
Possam dezer que são pera mandados
Mais que pera mandar, os Portugueses"

Há anos, um dos nossos grandes políticos, intelectual, professor catedrático, propôs que o Dia de Portugal passasse a ser aquele em que se comemora a batalha que consolidou no trono o primeiro rei, Dom Afonso Henriques, como sendo o dia em que, por esse facto, se abre o caminho à independência nacional.
Nunca me tinha encontrado em maior desacordo com ele - pessoa que estimo e admiro... A meu ver, uma Nação pode fundar-se em inevitáveis confrontos bélicos, mas é na vivência, na persistência, na cultura que se refunda, duravelmente, pelo que acentuar este último aspecto, sem desvalorizar o primeiro, só é de enaltecer...
Foi preciso, é certo, um território nosso para existirmos, mas a Nação construiu-se pela vontade política de sermos Portugueses, com a nossa língua, crenças, tradições, feitos e projectos colectivos, independência verdadeira (para dedidir, e "pera mandar", na expressão do Poeta), com a capacidade de continuar um percurso histórico, cada vez mais longo, cada vez mais disperso, pelas sete partidas do mundo, com uma presença universal encarnada em milhões de cidadãos expatriados...
"Portugal é mais uma cultura do que uma organização rígida".
Lembro-me de ouvir estas palavras do Dr. Francisco Sá Carneiro, em 1980. Ficaram comigo, para sempre, como uma síntese feliz do que somos e queremos ser: uma cultura em expansão - em comunidades situadas na geografia de todos os continentes. Uma língua das mais faladas a nível planetário, no século XXI, um elo de ligação entre povos que partilham passado, presente e, previsivelmente, partilharão futuro.
Por isso, mais do que guerras, confrontos, conflitos, dentro de fronteiras e no espaço de um império (que também os houve e foram uma parte do processo de "Expansão"...), o que perdura, como matriz deste Portugal maior, é a sua cultura e experiência de convívio com outras culturas.
Que imagem do País, captado nesta sua essência esplêndida e eterna, poderíamos nós encontrar, melhor do que a dos poemas Camões, melhor do que a da Diáspora - a dos portugueses habitam, ainda agora, muitos dos lugares do nosso mítico passado?
A proposta que comecei por referir é, afinal, bem característica de uma certa forma de insatisfação nacional, a obsessão da mudança pela mudança, ou de uma subserviente a imitação de exemplos estrangeiros. Tendo nós encontrado uma fórmula ideal de nos olharmos, de nos mostrarmos, de bem connosco e com os outros, no simbolismo do dia nacional, ainda assim havia quem quisesse uma alternativa, evocando querelas e pelejas entre mãe e filho, entre clãs da aristocracia da época, apartando a Galiza, hoje cada vez mais próxima, distanciando de nós, na celebração, a memória dos Lusíadas de tempos idos, e dos novos Lusíadas, os emigrantes do tempo que corre!
Não teve acolhimento a sugestão e, assim, Portugal continuará, de uma forma tão original e tão expressiva dos seus valores, a rememorar Camões e as Comunidades Portuguesas, a 10 de Junho.
E, como bem sabemos, os que tivemos, como eu tive, a sorte de viver esta comemoração, ano após ano, junto de muitas e diversas comunidades da Diáspora, a celebração é mais sentida, mais emotiva, mais agregadora, fora do próprio território pátrio do dentro dele.
Esta é para mim, por tudo isto, uma data muito especial, cheia de recordações e de saudades. Uma ocasião para dizer aos amigos do Brasil e de outras comunidades, que eles são, para nós, motivo de imenso orgulho e, sobretudo em momentos de assustadora crise e de incerteza, como os que atravessamos, uma razão de esperança!
É a hora de reler os versos do Poeta, e, nas suas palavras inspiradas, adivinhar ou buscar a profecia:
"Olhai como depois de um grande medo
Tão desejado bem logo se alcança".

Maria Manuela Aguiar

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