terça-feira, 5 de julho de 2011

O primeiro voto feminino em Portugal... Guião da Profª Arcelina Santiago, para a representação dos alunos da Escola Domingos Capela

Indicações cénicas
Local: Clube Estefânia
Horário: 10 horas
Mesa de voto da Assembleia eleitoral de S. Jorge de Arroios – mesa com urna
Total de Personagens
10 mulheres – (só vão 7) Associação de Propaganda Feminista
7 homens
mesa constituída por 2 homens ( Presidente e secretário)
Personagens:
Secretário da Mesa – Carlos ou o Rui Nunes
Senhor Constâncio de Oliveira - Rui Marques
Senhor Joaquim Beja - Diogo Oliveira
Homem 1 - Joel
Homem 2 e 3 e 4 – Hugo, Rui Nunes e Diogo Santos



Muitos homens chegam ao local. Enquanto aguardam, chegam as mulheres da Associação. da Propaganda Feminista e são muito bem recebidas. Todos as cumprimentam com ar muito cordial e simpático.
O secretário da mesa eleitoral anuncia:
Carlos / Rui - São agora 10 horas e esta Assembleia Eleitoral de S. Jorge de Arroios, que tem lugar no Clube Estefânia, irá proceder à 1º chamada de cidadãos eleitores. Dou a palavra ao Senhor Presidente da Assembleia Eleitoral, Sr. Constâncio Oliveira.
Constâncio de Oliveira faz a chamada para reconhecimento dos recenseados.
- Muito bom dia! Passo a fazer o reconhecimento dos presentes devidamente recenseados , a saber:
Sr. António de Sousa Santos Pais ( homem 1);
Sr. José Henriques de Menezes e Melo ( homem 2);
Sr. Joaquim Belo; ( Diogo Oliveira)
Sr. Apolinário de Jesus – falta
Sr. João Reis e Cunha ( homem 3)
Um a um, anunciam a sua presença com um presente e mostram o seu cartão, à excepção do Sr Apolinário de Jesus que falta à chamada. Depois, dirigem-se para a mesa de voto e exercem de imediato o seu direito de voto.
Seguidamente , os homens dirigem-se à mesma de voto e votam. Permanecem depois, no local seguindo o desenrolar dos acontecimentos.
Entretanto, com todos os homens e mulheres , em volta, curiosos, aproxima-se Carolina Beatriz Ângelo, dizendo:
- Exmo Senhor Presidente desta Assembleia Eleitoral eu sou Carolina …… médica, viúva de ……




Reúno assim todas as condições para votar.

O Presidente, perplexo, diz:
– Minha senhora, a lei não permite que uma mulher possa votar. Só o poderão fazer chefes de família ou os que souberem ler e escrever. Estamos a falar de homens…
Carolina Beatriz Ângelo responde convicta:
- Desculpe, Senhor Presidente, queira ler a sentença judicial que trago em minha posse. Pelo facto de me ter tornado chefe de família, sou letrada, posso então concluir que reúno todas as condições para poder exercer este direito, apenas prerrogativa dos homens.
( mostra o documento que tira da malinha).
O Presidente começa a ler o documento mas, de imediato, conclui:
- Peço desculpa , isto é deveras insólito. Tenho de consultar a mesa.
Começa um burburinho na assistência. De entre os homens , um homem, Joaquim Beja levanta a voz e diz:
- Será preciso isto? Não é um direito legítimo querer esta senhora votar? O artigo 64º diz “ nenhum cidadão recenseado e reconhecido como o próprio , poderá ser inibido de votar, excepto se aparecer em manifesto estado de embriaguez” . Assim sendo, não tem esta Assembleia competência para se intrometer naquilo que a lei determina . Daí, ser imprópria esta consulta à mesa.
Todos reagem , dizendo,
(Joel) - É verdade , não está correcta esta situação!.
( Hugo) – É incrível! Sujeitar esta senhor a tal situação!
Uma das mulheres da Associação aproxima-se de Joaquim Beja e pergunta :
( Tânia) -Pode dizer-me o seu nome, ilustre cavalheiro, defensor da nossa justa causa?
(Daniela) – Graças a Deus temos homens inteligentes e lúcidos em Portugal!
Enquanto os membros da mesa continuam a consultar os documentos, entusiasmado e indiferente à pergunta colocada pela senhora, o homem continua:
(Diogo) - Não é a nossa República sinónimo de liberdade e igualdade? Como poderemos ficar indiferentes quando ela discrimina as mulheres, tal como se verifica nesta Assembleia?
Outra mulher volta a perguntar-lhe:
(Inês) - Sendo membro da Associação da Propaganda das Mulheres , vejo na sua intervenção, um defensor da liberdade e igualdade. Sentimo-nos orgulhosas por saber que há homens solidários com a nossa causa, poder-nos-á fazer o favor de dizer o seu nome?
- Joaquim Beja.
Todas dizem:
(Daniela, Mariana, Tânia, Inês, Patrícia, Bárbara e Nazaré)
- Obrigada em nome de todas as mulheres sufragistas!
Todos os presentes replicam em conjunto ( homens):
- Muito bem!
Entretanto, o Presidente depois de ter estado envolvido na consulta da Lei com o secretário da Mesa, interrompe, dirigindo-se a Carolina Beatriz Ângelo:
- Minha Senhora, antes de mais, quero felicitá-la pela sua determinação na defesa de uma causa nobre. É este um acto de coragem e inteligência que a fez vir aqui , tornando-se a 1º mulher a votar em Portugal. È merecedora da nossa admiração!
- Viva! – dizem todos e batem palmas.
Carolina intervém:
- Muito obrigada, senhor Presidente por essas palavras tão elogiosas. Elas não são apenas para mim mas para todas as mulheres que represento. Prometo que as divulgarei junto das sufragistas de todo o mundo civilizado para que saibam que os mais inteligentes homens portugueses estão connosco, compartilhando do mesmo ideal.
(Todos batem palmas e logo de imediato ficam como que mudos e como estátuas).
( O narrador diz para terminar)
Foi este um acto corajoso de uma mulher notável - Carolina Beatriz Ângelo, .Este foi um grande passo para uma longa caminhada que estava ainda para ser trilhada, na conquista pelo direito ao voto por parte das mulheres. Foi longa a caminhada, só passados mais 20 anos e curiosamente, com o Estado Novo, (pelo decreto lei nº 19694 de 5 de Maio de 1931) em 1931, é que, pela 1º vez, na história política do país, as mulheres foram consideradas como eleitoras, mas em termos muito, muito limitativos. O sufrágio universal feminino só acontecerá com o 25 de Abril.
Hoje, homens e mulheres devem por isto tudo, reconhecimento a esta mulher a quem prestamos aqui uma simbólica homenagem - Carolina Beatriz Ângelo!
( Voltam a animar-se os intervenientes. Batem palmas e dizem vivas a Carolina Beatriz Ângelo)
( Ficam em cena enquanto a assistência bater palmas, retirando-se depois).

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