Comunicação de Natália M Renda Correia
História do Movimento Associativo na República Argentina
Questöes de Género e de Geração
Pte. Associacao da Mulher Migrante Portuguesa na Argentina
Presentado no Seminario 23 -24-25-26 de Novembro 2011 em Maia
Porto - Portugal
Encontro Mundial de Mulheres da Diáspora Portuguesa
Somos uma raca antiga a morar na Argentina.
Foi Portugal que reconheceu, em primeiro lugar, o 1° governo Argentino e é por isso que a Bandeira Portuguesa pode estar tanto á direita como á esquerda, da "Bandera
Nacional".
O Associativismo começa por uma necessidade de estarem juntos, os
Inmigrantes, para recordarem a Saudade do seu País Natal.
Em Buenos Aires, o Encargado de Negócios de Portugal dessa altura, o Sr. Alvaro Paes de Faria, fez uma manifestacäo aos Portugueses residentes na Cidade, para manifestar-lhes o desejo e ponderar- lhes a convivencia de que, seguindo o exemplo de outras
colonias estrangeiras, formassem uma sociedade de Beneficencia Portuguesa destinada a auxiliar os compatriotas desvalidos, residentes no país.
Foi assím que um grupo de homens começa a trabalhar no ano 1828 e se funda a Caixa de Socorros “LUSITANIA” , pois o primeiro passo se tinha dado.
Continua como Sociedade Portuguesa de Socorros desde o ano 1883 até 1904, depois muda de nome e passa a chamarsse, “REAL SOCIEDADE PORTUGUESA DE SOCORROS desde 1905 até 1910. Continua como Sociedade Portuguesa de Socorros até que se construiuó do
Clube Portugués. Foi um continúo trabalho do Associativismo, anos de Historia, em que toda a Comunidade contribuiu para realizar essa grande Obra. A maioria eram socios do Clube Português.
Como Comunidade Estrangeira, dentro do Associativismo, somos a única que tem um Panteón, no Cimenterio da Recoleta, data desde o 26 de Abril de 1882 - onde descansam os restos de Eva Perón, de varios presidentes e das maiores pessoalidades das Letras, políticos etc. doado pelo Presidente Torcuato de Alvear, casado
com a primeira e única Dama estrangeira que teve o país: era Dona Regina Paccini de Alvear , Portuguesa, Cantante Lírica, mal vista pela Sociedade Argentina nessa altura, mas ela deu exemplo de amor ao desvalido demostrou ser uma Mulher de grande
humanidade, deixando obras que ainda hoje säo Orgulho do que fez uma primeira Dama Portuguesa.
O Associativismo continua com o Clube Portuguës que já fez 93 anos de vida no ano 2011, toda uma Historia dentro de essas paredes, por aí passaram muitas personalidades do Fado, da Música, das Letras e da Política.
Começa um novo movimento dentro desse Associativismo. É que um grupo de Homens das Beiras e do Norte de Portugal tem novas ideias - querem abrir uma nova Casa Portuguesa , e assim nasce o Centro Pátria Portuguesa, dentro do raio da Capital que, neste mês de Setembro 2011, fez 80 anos de vida.
Nascem ideias... novos Ranchos Folclóricos e criam o Grupo OsPauliteros de Miranda, esteve varios anos, e agora estao para voltara dinamizar este novo grupo.....Tem um Jovem de Vice-Pte.Sr. Dúlio Moreno e María Laura Rojas, que cantam Fados mostrando nossa Música a outros grupos Argentinos que se dedicam ao Fado, esta parte é muito interessante para toda a Comunidade, pois até agora näo tinhamos nada de semelhante.
Essa Instituicäo também tem O GRUPO COIMBRA, que toca música Portuguesa, e väo a diferentes lugares actuar para o público.
Dentro da Comunidade há muitos Ranchos Folclóricos de diferentes Associaçöes.
No ano 1978 se fundam 3 Associacöes perto da Cidade de Buenos Aires.
Somos poucos mas temos Associações em diferentes Províncias doPaís a 2000. Ks. a 600km. A 400ks. a 300ks. E continuam abrindo casas de Cultura. Dentro de estas Associacöes de tão longe, a que mais actividade tem é a de Comodoro Rivadavia .
Dentro do Associativismos as Mulheres têm feito o trabalho de transmitir aos seus filhos e netos a Cultura, as Costumes do País natal. Os descendentes quase todos vão para a Universidade.
As Mulheres convidavam os seus vizinhos portugueses, os seus conhecidos, para que frequentem a Casa Portuguesa. O resultado foi fantástico, hoje muita gente, descendentes de outras raças têm connosco convivio, como também Portugueses de diferentes lugares de Portugal.
A Língua Portuguesa, é e será o Orgulho de todos nós, espalhados pelo mundo fora, e quase todas as Entidades oferecem o ensino da Língua.
A primeira Professora a dar classes foi a Dra. Angela Rodrigues
Barros, também a primeira Bolseira do Brazil e de Portugal, uma
Argentina que foi Diretora de Línguas Vivas de Bs. As. E que , morou
muitos anos em Portugal a pesquizar sua Historia, para poder
transmiti-la .
Geração Luso- Descendente
As Instituicöes Portuguesa alguma delas estäo atravessando uma difícil situação por näo terem pessoal que queiram conduzi-las, caso de Mar del Plata, que vai fazer 50 anos de vida o ano que vem, e está com falta de Sócios que queiram continuar com a Entidade. Para cumprir com os Estatutos, teria de ser vendida, e passaría as mäos de um Lar da Cidade onde está.
Deixo uma ideia aqui: poderíam as Autoridades mandar um Professor de guitarra Portuguesa para incentivar o ensino desse instrumento (que na Argentina näo há?
Outra reflexäo: a gastronomia portuguesa é tão rica, porque não enviar um "chef"" para ensinar a fazer comidas típicas , näo só a nivel portugues como a nível das Diferentes comunidades de Outros Paises e das propiamente da Argentina... Temos que abrir-nos como fazem outras Comunidades!
Sabemos bem da diferença de preparação de um jovem Profissional e de uma
pessoa que fez a 4ª. Classe há 60 anos atrás.
Pergunto: nao sería saudavel deixar que os Jovens organizem eles o que queiram, para ver até donde chega a responsabilidade e o interesse de novas ideias. E que os maiores de idade ajudem , para que juntos possamos ter um convívio normal para que sigam funcionando para orgulho de todos, estes grupos Associativos!
SITUACÄO DE GENERO
E, por último, quero qualificar o trabalho das Mulheres, que sempre trabalharam á sombra dos homens - ainda hoje elas continuam a trabalhar da mesma maneira, nas pessoas da minha geração. Algumas puderam ocupar lugares em diferentes Associações, mas não foi fácil... tivemos que lutar muito e demostrar com trabalho que tinhamos capacidade para faze-lo.
A outras ainda näo lhe deram o lugar, como sabemos o Homem Portugués na Argentina tem dificuldade de partilhar cargos Directivos .
Agora, nas geracçõs jovens, a Mulher ocupa cargos ou profissões em igualdade
com o género masculino.
Aliás, tivemos um grande incentivo duma grande Mulher a Dra. María Manuela Aguiar que numa das visitas que fez ä Argentina, nos pediu: porque as Mulheres não se uniam e formavam uma Associacäo para fazer coisas diferentes? E foi assim que nasceu a Associacäo da Mulher Migrante na Rep. Argentina. Foi um grande desenvolvimento para as Mulheres , e uma liberatação, para que pudessem sair para assistir ás reuniöes e dessa maneira ganharem um espaco de afirmação pessoal.
Como disse, antes, as Associações que integram a Comunidade onde se inserem, nasceram para dar respostas aos socios, fazendo Festas, jogos de mesa, festividades de Romaría e RanchosFolclóricos.
Mas esta MULHER MIGRANTE veio para dar resposta ás dificultades Económicas que muitos compatriotas tiveram e têm. Mas agora contam com a Solidaridade desta Associacäo, que comecou a trabalhar, e, imediatamente, se viu o resultado - os pedidos vinham de todos lados até de Pcias. a 500 km. de distäncia, chegavam para pedir ajuda, e lá estava a Mulher Migrante para dar solução ao pedido.
O nosso trabalho teve enfoque na parte Social e de Voluntariado, chegando as casas dos Carentes Portugueses, ou dos casados com nossa raca, para dar ajuda aos seus problemas, foram muitos e de
diferente índole.
Também fizemos Teatro de Paródia, imitando Programas da Televisao, e contando anedotas sobre quando chegamos a Argentina, quando nao sabíamos o idioma - coisas que aconteciam e que, depois,
até tinham piada.
Neste contexto, a Asociação tem feito Seminarios, diferentes mostras de Cultura, Exposições diversas..... com meios audio- visuais, onde as pessöas que ajudamos davam testemunha do que sentíam. Foi emocionante ve-los!
Esta Associacao foi e será consequente com as áreas sócio – culturais, sendo uma Associacao de Inovaçãao Social .
Aqui podemos observar a evolução da Mulher no trabalho Associativo. Também damos o nosso trabalho ás autoridades do governo Portugués na Argentina , ajudando em tarefas que ligam com a comunidade inteira em diferentes cidades de Bs. As - Em busca de informação sobre os casos de necessidade, levando os cheques de Portugal dos subsídios até á propia morada das pessoas.
Neste quadro, e para finalizar, minhas Senhoras e meus e Senhores, posso dizer que o trabalho que tem feito a Associacao da Mulher Migrante na Argentina, tem sido brilhante, respeitado nao só pela Comundiade Portuguesa , e Sociedade Argentina, também por muitos outros paises da Comunidade Europeia e da América do Sul - muitas vezes recebemos pedidos de informação do Brasil, para saberem como implementámos a Associação, e como funcionámos.
Temos imensos convites de Associacöes de Bem Público, da Comunidade Europeia, como a Rúsia, Espanha, Italia e muitas mais.
Temos participado em Seminarios dedicados a pessöas que têm Capacidades Difentes .
O trabalho Voluntario é e será um exemplo de vida para todas as Mulheres que participam para dar seu tempo, ás diversas necessidades de que hoje padece a nossa gente Idosa, digna de ser respeitada pela trajetoria de vida que teve.
Só temos quatro Mulheres Presidentes de diferentes Associações.
Peço as Autoridades presentes que vejam de que maneira as Comendas e os prémios ao trabalho são atribuidos. Näo só devem ser para o Genero Masculino, o Feminimo também merece e espera reconhecimento, da mesma maneira.
Muito obrigado a todos, pela atencäo e agradeço á Dra. María Manuela Aguiar e á Dra. Rita Gomes duas Mulheres que admiro, elas conseguem de nós lá fora tudo o que desejarem, para continuar a trabalhar pelo nosso Portugal , que está a 10.000 km.
de distância, mas täo perto do nosso coração.
Agradeco ao Secretario das Comunidades Portuguesas, a sua Excia. o Dr. José Cesário, pela preocupação que manifesta pelas Comunidades espalhadas pelo mundo fora, também pelo convite que me fizeram, para representar a Associacao da Mulher Migrante na Argentina, neste Seminario na Maia nos días 24-25-26 de Novembro de 2011.
Obrigada.
Natália M. Renda Correia
A ASSOCIAÇÃO "MULHER MIGRANTE" ABRE ESTA TERTÚLIA A CONVERSA SOBRE AS MIGRAÇÕES E AS DIÁSPORAS PORTUGUESA E LUSÓFONAS. VAMOS FALAR DA NOSSA ASSOCIAÇÃO, DAS INICIATIVAS QUE ESTAMOS A DESENVOLVER E DA FORMA COMO PODEM COLABORAR CONNOSCO. UM CONVITE DIRIGIDO, POR IGUAL, A MULHERES E HOMENS, DE TODAS AS IDADES, EM TODAS AS LATITUDES.
domingo, 18 de março de 2012
CV JOAN MARBECK
Bio Data
Name: Joan Margaret Marbeck
Sex: Female
Date of Birth: 26th. June 1944
Place of Birth: 322 Jalan Bandar Hilir Melaka
Present Address: No.1 Jalan RK5/13 Rasah Kemayan, 70300 Seremban
Negri Sembilan D.K.
ID. No. 440626 04 5032
Profession: Kristang Language writer since 1990
Retired Government Pensioner since 1990
Specialist Music Teacher for Primary and Secondary Schools
from 1965 – 1990
Main Activities: 1990 – 2011
2011
Updated Website and launched www.joanmarbeck.com on 29th October 2011 in
commemoration of the 500th. Anniversary Celebrations.
Promoting ‘ Simply Mel’s ‘ a typical Melaka-Kristang Restaurant in Bangsar South,
Kuala Lumpur. Papiah Kristang Lessons take place once every
Month in conjunction with their High Tea Promotion. Next lesson on 19th. November
from 4pm.
Currently completing ‘ The Serani Series Set’ -1. Commemorative 500th Anniversary
Bahasa Serani Dictionary 2. Speak Serani 3. Bersu Serani
Proposed Launch for Serani Series January 2012
Proposed Internationa Creole Congress in collaboration with Federal University of Rio
de Janeiro to be held in Melaka tentatively June 2012
Proposed Kristang Language Workshops in collaboration with Melaka Museums
Corporation and Tourism Malaysia tentatively Dec. 2011
Visiting the Singapore Eurasian Association, to promote the Revival and use of the
Papiah Kristang Language among its members. July 2011
Invited to different households to speak and laugh at the 500 year old voice of the
Eurasians and enjoy the food and camadarie. It was overwhelming.
Translating a few Christmas Carols from English to Kristang for the Selangor
Philharmonic Choir for a Christmas performance in Perth. October 2011 and in Lutheran
Hall , Petaling Jaya, December 2011
2010
Campaigned for space in the Muzium Rakyat, Melaka Town Centre to set up Malacca-
Eurasian Community Muzium. August 2010. Engaged as Eurasian consultant by
PERZIM- Melaka Museums Corporation in May 2011
Organised Marbeck Family Meet – July 2010
Proposed to the Embassy of Brazil , Malaysia, the staging of the Kristang Musical ‘
Kazamintu na Praiya’ in Kuala Lumpur , Jan/ Feb.2010
2009
Entered Scripts of Kristang Monodrama ‘ Seng Marianne’ ( Without Marianne) again to
Lusophonia Festival Macau 2009
2008
Initiating the Celebration of the 500th. Anniversary of the Arrival of the Portuguese to
take place between 2009 -2011.
A Conference on the Revival and study of the Malacca Creole Portuguese Language and
a Subscription Dinner and Dance to support the Development of the Eurasian Heritage
in Malaysia has been proposed.
Printed brochures for distribution to create awareness in Dec. 2008
2007
Honoured as Digi Amazing Malaysian and named 'The Kristang Poet of Melaka'
Wrote and directed the Musical 'Kazamintu na Praiya' for 60 schoolchildren of different
races in Melaka who participated in the Digi Showcase on the 24th. Nov. 2007. Children
not of Kristang origin learnt the lyrics of songs written in the Kristang language without
difficulty and were able to perform and sing almost professionally only after 3 months
training.
2006
Wrote Kristang Monodrama ' Seng Marianne' ( Without Marianne) to enter for
Lusophonia Festival in Macau
2004
Published 'Linggu Mai' ( Mother Tongue) a set of 3 pedagogical items to revive the
Kristang Language. This set included a Reader, A Kristang Phrasebook and Finderlist as
well as a CD. This initiative was supported by the Fundacao Calouste Gulbenkian
2000
Published Mini-Conference Report on the preservation and development of the Malacca-
Portuguese Creole Language and Heritage. Publication
Supported by Fundacao Oriente- Macau.
1999
Attended UNESCO Conference in Melaka. Commended by Richard Engelhart on my
initiative to preserve the Language and Heritage of the Malacca-Portuguese creoles.
1997
Invited to speak to Masters students at the Universidadi Catholica, Rio de Janeiro, Brasil
on the ‘Papiah Kristang’ Language and its Survival and Revival
In Melaka.
1996
Organised a Mini – Conference on the preservation and development of the Malacca-
Portuguese Creole Language and Heritage in Malaysia. Jan.1996
Organised the Production of the Play ' Mind your own Business' as Secretary of the
Malacca Theatre Group.
Was invited to script and direct the Musical ' St. Francis Xavier- Patron Saint of the
Indies for the 100th. Anniversary of the Church of St. Francis Xavier, Melaka
1995
Published ' Ungua Adanza' ( An Inheritance ). 1st. Book to be written in the Kristang
Language and in an orthography similar to Bahasa Malaysia. This was also published
with a Grant from the Fundacao Calouste Gulbenkian.
1994
Attended a Symposium on Spanish and Portuguese- based Creoles held in Brasilia,
Brasil. Paper presented ‘ Experiencia unga Kristang na Malaka’ is recorded in Papia
Vol.3 No.2 1994
From 1970s –
Have been involved with Community Service Projects of the YWCA at Local and
National levels focusing on programs for Women and Girls of the Portuguese Settlement
as well as for marginalized families and Senior Citizens.
Member of the Selangor and Federal Territory Eurasian Association
The Malacca Portuguese Eurasian Association, frequent Guest of the Singapore
Eurasian Association and Eurasian Association of Western Australia.
Member of the Melaka Theatre group.
Name: Joan Margaret Marbeck
Sex: Female
Date of Birth: 26th. June 1944
Place of Birth: 322 Jalan Bandar Hilir Melaka
Present Address: No.1 Jalan RK5/13 Rasah Kemayan, 70300 Seremban
Negri Sembilan D.K.
ID. No. 440626 04 5032
Profession: Kristang Language writer since 1990
Retired Government Pensioner since 1990
Specialist Music Teacher for Primary and Secondary Schools
from 1965 – 1990
Main Activities: 1990 – 2011
2011
Updated Website and launched www.joanmarbeck.com on 29th October 2011 in
commemoration of the 500th. Anniversary Celebrations.
Promoting ‘ Simply Mel’s ‘ a typical Melaka-Kristang Restaurant in Bangsar South,
Kuala Lumpur. Papiah Kristang Lessons take place once every
Month in conjunction with their High Tea Promotion. Next lesson on 19th. November
from 4pm.
Currently completing ‘ The Serani Series Set’ -1. Commemorative 500th Anniversary
Bahasa Serani Dictionary 2. Speak Serani 3. Bersu Serani
Proposed Launch for Serani Series January 2012
Proposed Internationa Creole Congress in collaboration with Federal University of Rio
de Janeiro to be held in Melaka tentatively June 2012
Proposed Kristang Language Workshops in collaboration with Melaka Museums
Corporation and Tourism Malaysia tentatively Dec. 2011
Visiting the Singapore Eurasian Association, to promote the Revival and use of the
Papiah Kristang Language among its members. July 2011
Invited to different households to speak and laugh at the 500 year old voice of the
Eurasians and enjoy the food and camadarie. It was overwhelming.
Translating a few Christmas Carols from English to Kristang for the Selangor
Philharmonic Choir for a Christmas performance in Perth. October 2011 and in Lutheran
Hall , Petaling Jaya, December 2011
2010
Campaigned for space in the Muzium Rakyat, Melaka Town Centre to set up Malacca-
Eurasian Community Muzium. August 2010. Engaged as Eurasian consultant by
PERZIM- Melaka Museums Corporation in May 2011
Organised Marbeck Family Meet – July 2010
Proposed to the Embassy of Brazil , Malaysia, the staging of the Kristang Musical ‘
Kazamintu na Praiya’ in Kuala Lumpur , Jan/ Feb.2010
2009
Entered Scripts of Kristang Monodrama ‘ Seng Marianne’ ( Without Marianne) again to
Lusophonia Festival Macau 2009
2008
Initiating the Celebration of the 500th. Anniversary of the Arrival of the Portuguese to
take place between 2009 -2011.
A Conference on the Revival and study of the Malacca Creole Portuguese Language and
a Subscription Dinner and Dance to support the Development of the Eurasian Heritage
in Malaysia has been proposed.
Printed brochures for distribution to create awareness in Dec. 2008
2007
Honoured as Digi Amazing Malaysian and named 'The Kristang Poet of Melaka'
Wrote and directed the Musical 'Kazamintu na Praiya' for 60 schoolchildren of different
races in Melaka who participated in the Digi Showcase on the 24th. Nov. 2007. Children
not of Kristang origin learnt the lyrics of songs written in the Kristang language without
difficulty and were able to perform and sing almost professionally only after 3 months
training.
2006
Wrote Kristang Monodrama ' Seng Marianne' ( Without Marianne) to enter for
Lusophonia Festival in Macau
2004
Published 'Linggu Mai' ( Mother Tongue) a set of 3 pedagogical items to revive the
Kristang Language. This set included a Reader, A Kristang Phrasebook and Finderlist as
well as a CD. This initiative was supported by the Fundacao Calouste Gulbenkian
2000
Published Mini-Conference Report on the preservation and development of the Malacca-
Portuguese Creole Language and Heritage. Publication
Supported by Fundacao Oriente- Macau.
1999
Attended UNESCO Conference in Melaka. Commended by Richard Engelhart on my
initiative to preserve the Language and Heritage of the Malacca-Portuguese creoles.
1997
Invited to speak to Masters students at the Universidadi Catholica, Rio de Janeiro, Brasil
on the ‘Papiah Kristang’ Language and its Survival and Revival
In Melaka.
1996
Organised a Mini – Conference on the preservation and development of the Malacca-
Portuguese Creole Language and Heritage in Malaysia. Jan.1996
Organised the Production of the Play ' Mind your own Business' as Secretary of the
Malacca Theatre Group.
Was invited to script and direct the Musical ' St. Francis Xavier- Patron Saint of the
Indies for the 100th. Anniversary of the Church of St. Francis Xavier, Melaka
1995
Published ' Ungua Adanza' ( An Inheritance ). 1st. Book to be written in the Kristang
Language and in an orthography similar to Bahasa Malaysia. This was also published
with a Grant from the Fundacao Calouste Gulbenkian.
1994
Attended a Symposium on Spanish and Portuguese- based Creoles held in Brasilia,
Brasil. Paper presented ‘ Experiencia unga Kristang na Malaka’ is recorded in Papia
Vol.3 No.2 1994
From 1970s –
Have been involved with Community Service Projects of the YWCA at Local and
National levels focusing on programs for Women and Girls of the Portuguese Settlement
as well as for marginalized families and Senior Citizens.
Member of the Selangor and Federal Territory Eurasian Association
The Malacca Portuguese Eurasian Association, frequent Guest of the Singapore
Eurasian Association and Eurasian Association of Western Australia.
Member of the Melaka Theatre group.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Dia da Mulher
Fundação Professor Fernando de Pádua
Para a Promoção da Saúde e melhor Qualidade de Vida
A Fundação Professor Fernando de Pádua e o
Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva,
celebrando o Dia Internacional da Mulher,
redigiram a seguinte mensagem cuja divulgação muito apreciaríamos:
8 de Março – Dia Internacional da Mulher
A mulher tem maioria absoluta no Mundo, e sem a sua dádiva a espécie humana há
muito teria desaparecido da face da Terra!
Crianças lindas, adolescentes adoráveis, adultas formosas e idosas não menos… E
profissionais impecáveis.
Em tempo de falta de empregos devemos reconhecer que a Mulher pode acumular pelo
menos seis trabalhos: apoio dos pais, mulheres dos maridos, donas de casa, empregadas
domésticas, “ministras” das finanças, e administradoras de todos os horários e todas as
tarefas, sobretudo dos filhos, dentro e fora de casa!
E nós lhe pedimos mais: ser promotora da saúde para todos os seus.
- Cuidando da alimentação inteligente (mais leite e verduras, e menos sal e gorduras);
- Vigiando as bebidas (reduzindo as açucaradas e as alcoólicas);
- Incentivando o exercício (ginástica, desporto e passeios a pé);
- Dando o exemplo do combate ao tabagismo;
- E…reduzindo o stress (na vida dos outros!).
Por isso digo que todos os dias são dias… da Super Mulher!
Para a Promoção da Saúde e melhor Qualidade de Vida
A Fundação Professor Fernando de Pádua e o
Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva,
celebrando o Dia Internacional da Mulher,
redigiram a seguinte mensagem cuja divulgação muito apreciaríamos:
8 de Março – Dia Internacional da Mulher
A mulher tem maioria absoluta no Mundo, e sem a sua dádiva a espécie humana há
muito teria desaparecido da face da Terra!
Crianças lindas, adolescentes adoráveis, adultas formosas e idosas não menos… E
profissionais impecáveis.
Em tempo de falta de empregos devemos reconhecer que a Mulher pode acumular pelo
menos seis trabalhos: apoio dos pais, mulheres dos maridos, donas de casa, empregadas
domésticas, “ministras” das finanças, e administradoras de todos os horários e todas as
tarefas, sobretudo dos filhos, dentro e fora de casa!
E nós lhe pedimos mais: ser promotora da saúde para todos os seus.
- Cuidando da alimentação inteligente (mais leite e verduras, e menos sal e gorduras);
- Vigiando as bebidas (reduzindo as açucaradas e as alcoólicas);
- Incentivando o exercício (ginástica, desporto e passeios a pé);
- Dando o exemplo do combate ao tabagismo;
- E…reduzindo o stress (na vida dos outros!).
Por isso digo que todos os dias são dias… da Super Mulher!
SAUDAÇÃO DIA INTERNACIONAL DA MULHER Homens e mulheres constituem os dois sexos, diferentes entre si, que compõem a Humanidade. As sociedades, em função das diferenças biológicas, foram construindo ao longo dos séculos representações, papeis e expectativas, também diferentes entre si, originando o que se passou a designar de género: género feminino e género masculino. Diferenças de género que, segundo Bordieu (1999), estão bem impressas nas estruturas mentais e sociais da humanidade. Para Knoppers (1988), estão reconhecidas três concepções de género: - entendido como um atributo pessoal, que resulta da interacção de factores biológicos, com factores sociais, dando lugar às diferenças de género; - baseada na noção de papeis, seja associada ao sexo, ou ao género, muito embora subsista ainda uma certa confusão relativa ao significado que , segundo Hall (1985), é atribuído a uns e a ontras; - concebendo o género em termos de relações sociais entre homens e mulheres, bem como entre o género e as estruturas sociais. Nesta perspectiva, Hall (1985) considera que dado que as relações se constroem socialmente, elas não são imutáveis, pelo que podem sofrer transformações No passado, as diferenças fundamentavam-se no reconhecimento aos homens e a exclusão às mulheres dos direitos inerentes à autonomia individual e à cidadania. As mulheres eram consideradas desiguais pelo Direito, desigualdade traduzida numa determinada hierarquia entre uns e outras: os homens, que constituíam um padrão em torno do qual e para a qual a sociedade se organizou; as mulheres, principalmente as casadas, uma “classe” inferior, com capacidade jurídica diminuída e, consequentemente, discriminada. Actualmente, o Direito português, considera ilegal, no quadro dos Direitos, Liberdades e Garantias Fundamentais, a discriminação em função do género, reconhecendo a igualdade de homens e mulheres: duas expressões concretas do conceito abstracto que é a Pessoa - as duas componentes da Humanidade. E, como tal, reconhece que todos os Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais são inerentes ao mero facto de se ser Pessoa, de ser Mulher, ou Homem. Mulheres e homens têm direitos iguais, porque a Humanidade se desenvolveu, porque as ciências avançaram, porque as sociedades evoluíram, porque a Justiça e a Democracia são assumidas como ideais em constante aprofundamento. E o Direito, que é uma construção humana, procurou assim acompanhar e encorajar progressos, avanços, evoluções e aprofundamentos. Hoje, não é aceitável que às mulheres corresponda um estatuto com menos direitos dos que são reconhecidos aos homens, como a título de exemplo, do acesso ou das condições de trabalho remunerado, quando simultaneamente, têm acumuladas responsabilidades familiares, que comodamente os cônjuges tantas vezes não partilham. Numa sociedade que se pretende justa e democrática, todos devem ter as mesmas oportunidades para aceder ao poder. E aqui introduzo o conceito de paridade. Um conceito e um objectivo, através do qual se pretende reconhecer com igualdade o valor das pessoas, não importa o género, a raça ou a etnia. Um conceito que dá visibilidade à igual dignidade dos homens e das mulheres, balizando renovar a organização social e, consequentemente, que os homens e as mulheres partilhem, de facto, direitos e responsabilidades, de forma a usufruírem, com plena igualdade e liberdade, da participação a todos os níveis e em todas as esferas. Associando-me às saudações feitas para a comemoração do dia internacional da mulher no próximo dia 8 de Março e acreditando veementemente na implementação de uma efectiva paridade entre géneros, que favorecerá a adaptação do ordenamento das sociedades democráticas às legítimas expectativas de um efectivo exercício de cidadania, cumprimento afectuosamente todas as mulheres e todas as jovens de Espinho, propondo que num horizonte próximo a ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ESPINHO comece a adoptar este paradigma de paridade com uma maior dimensão. Espinho, 13 de Fevereiro de 2006. A Presidente da Assembleia Municipal Graça Guedes
SAUDAÇÃO
Dia Internacional da Mulher
Ao longo da História, o ser humano caiu no erro grosseiro de depreciar o diferente.
Porém, outros seres humanos foram capazes de defender e de trabalhar em favor do “distinto” e do “diferente”.
Foram homens e mulheres livres, que se lançaram para abolir a escravidão em muitos lugares do planeta.
Foram brancos, os que promulgaram leis para a protecção dos índios e para a não discriminação dos negros.
Foram cristãos, os que pediram maior respeito para quem pertencia a outras religiões.
Em 8 de Março de 1857, operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fabrica para reivindicarem a redução de um horário diário de mais de 16 horas, para 10 horas. Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica, onde entretanto se declarou um incêndio. Cerca 130 mulheres morreram queimadas.
Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido comemorar o dia 8 de Março, como Dia Internacional da Mulher, em homenagem àquelas mulheres heróicas.
A comemoração do dia 8 de Março recorda, simbolicamente, a história destas corajosas operárias americanas, homenageando-as e, ao mesmo tempo, desperta a comunidade para a necessidade de um profundo sentido de respeito pela dignidade humana, de tolerância perante o “diferente” e de afirmação do relevante contributo da mulher na sociedade, contestando os preconceitos e limitações que tão frequentemente e em diferentes contextos ainda lhe são impostos; condenando todas as formas de discriminação de direitos sociais, políticos e económicos que ainda permanecem nas mentalidades menos esclarecidas.
A Assembleia Municipal de Espinho reunida em 28 de Fevereiro de 2008, associa-se a esta comemoração internacional, saudando todas as mulheres e, em especial, as espinhenses, esperando que as instituições da nossa Cidade nos acompanhem nesta comemoração, com acções que dignifiquem os valores humanos e onde não pode ficar esquecido o papel económico, social e familiar da mulher.
Espinho, 28 de Fevereiro de 2008
P´las Vogais do Partido Socialista
A Presidente da Assembleia Municipal
Graça Guedes
SAUDAÇÃO
Dia Internacional da Mulher
Ao longo da História, o ser humano caiu no erro grosseiro de depreciar o diferente.
Porém, outros seres humanos foram capazes de defender e de trabalhar em favor do “distinto” e do “diferente”.
Foram homens e mulheres livres, que se lançaram para abolir a escravidão em muitos lugares do planeta.
Foram brancos, os que promulgaram leis para a protecção dos índios e para a não discriminação dos negros.
Foram cristãos, os que pediram maior respeito para quem pertencia a outras religiões.
Em 8 de Março de 1857, operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fabrica para reivindicarem a redução de um horário diário de mais de 16 horas, para 10 horas. Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica, onde entretanto se declarou um incêndio. Cerca 130 mulheres morreram queimadas.
Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido comemorar o dia 8 de Março, como Dia Internacional da Mulher, em homenagem àquelas mulheres heróicas.
A comemoração do dia 8 de Março recorda, simbolicamente, a história destas corajosas operárias americanas, homenageando-as e, ao mesmo tempo, desperta a comunidade para a necessidade de um profundo sentido de respeito pela dignidade humana, de tolerância perante o “diferente” e de afirmação do relevante contributo da mulher na sociedade, contestando os preconceitos e limitações que tão frequentemente e em diferentes contextos ainda lhe são impostos; condenando todas as formas de discriminação de direitos sociais, políticos e económicos que ainda permanecem nas mentalidades menos esclarecidas.
A Assembleia Municipal de Espinho reunida em 28 de Fevereiro de 2008, associa-se a esta comemoração internacional, saudando todas as mulheres e, em especial, as espinhenses, esperando que as instituições da nossa Cidade nos acompanhem nesta comemoração, com acções que dignifiquem os valores humanos e onde não pode ficar esquecido o papel económico, social e familiar da mulher.
Espinho, 28 de Fevereiro de 2008
P´las Vogais do Partido Socialista
A Presidente da Assembleia Municipal
Graça Guedes
quarta-feira, 7 de março de 2012
COMUNICAÇÃO DO DEPUTADO CARLOS GONÇALVES
O papel das mulheres nas Comunidades Portuguesas
No Congresso da Mulher Migrante tive a oportunidade, na minha intervenção, de destacar o papel das mulheres migrantes, realçando o papel que tantas portuguesas tiveram, através das mais variadas áreas, na afirmação cívica e política das Comunidades Portuguesas no estrangeiro.
No meu círculo eleitoral, em que as Comunidades Portuguesas emigrantes datam dos anos 60 e 70, foram as mulheres que assumiram, de forma clara, o papel da gestão administrativa da família, foram elas que acompanharam os processos escolares dos filhos e, foram elas também que, no plano local, se envolveram em diversos projectos, sozinhas ou em parceria com as autoridades locais que acabaram por promover o envolvimento das nossas comunidades nas sociedades de acolhimento.
Dessa forma, é absolutamente natural terem sido essas mulheres a integrar as comissões de pais e as associações ligadas às paróquias locais que apoiavam os novos emigrantes na altura em que chegavam a um novo país e passavam por dificuldades de adaptação a um novo país e a uma nova sociedade.
Podemos mesmo dizer que todas estas mulheres, através do aprofundamento das suas redes familiares, contribuíram para a própria integração da comunidade portuguesa, ao mesmo tempo que iam construindo novos laços nas sociedades onde agora estavam integradas.
Este papel de destaque das mulheres emigrantes portuguesas ganhou uma nova dimensão quando alguns países de acolhimento deram o direito de voto aos portugueses aí residentes e quando as alterações legislativas permitiram uma paridade de direitos cívicos e políticos à nossa Diáspora.
Dou como exemplo a França país onde resido e sobre o qual tenho, naturalmente, um maior conhecimento sobre a comunidade portuguesa no seu todo e muito particularmente no papel que algumas mulheres portuguesas têm vindo assumir no plano local e nacional.
Pelo trabalho político e cívico que desenvolveram no país que as acolheu é hoje perfeitamente natural que sejam essas portuguesas de valor a surgir agora em destaque na vida política francesa, nomeadamente, com a inclusão de candidatas lusas às próximas eleições legislativas com verdadeiras possibilidades de chegar ao Parlamento francês.
Como disse numa outra ocasião, a escolha destas candidatas trouxe para o debate político francês uma componente de origem portuguesa que considero fundamental, ao mesmo tempo que são os instrumentos políticos de uma comunidade notável com uma capacidade de integração sem igual e que contribui, todos os dias, com o seu trabalho, para a vitalidade da economia do país em que residem.
É com verdadeiro orgulho que vejo estas portuguesas a participarem num acto eleitoral num país estrangeiro. Acredito que podem vir a alcançar um excelente resultado, permitindo que tenhamos uma deputada, ou deputadas, oriundas da comunidade portuguesa.
Na verdade, na política não impossíveis e penso que há sempre espaço para todos aqueles que acreditam em ideias e projectos e que trabalham neles para melhorar a vida dos cidadãos. A política tem em vista resolver os problemas dos cidadãos e nesse particular as mulheres, nomeadamente as emigrantes, pelas imensas dificuldades que tiveram de enfrentar, são verdadeiros exemplos de tenacidade e capacidade de vencer.
Carlos Gonçalves
No Congresso da Mulher Migrante tive a oportunidade, na minha intervenção, de destacar o papel das mulheres migrantes, realçando o papel que tantas portuguesas tiveram, através das mais variadas áreas, na afirmação cívica e política das Comunidades Portuguesas no estrangeiro.
No meu círculo eleitoral, em que as Comunidades Portuguesas emigrantes datam dos anos 60 e 70, foram as mulheres que assumiram, de forma clara, o papel da gestão administrativa da família, foram elas que acompanharam os processos escolares dos filhos e, foram elas também que, no plano local, se envolveram em diversos projectos, sozinhas ou em parceria com as autoridades locais que acabaram por promover o envolvimento das nossas comunidades nas sociedades de acolhimento.
Dessa forma, é absolutamente natural terem sido essas mulheres a integrar as comissões de pais e as associações ligadas às paróquias locais que apoiavam os novos emigrantes na altura em que chegavam a um novo país e passavam por dificuldades de adaptação a um novo país e a uma nova sociedade.
Podemos mesmo dizer que todas estas mulheres, através do aprofundamento das suas redes familiares, contribuíram para a própria integração da comunidade portuguesa, ao mesmo tempo que iam construindo novos laços nas sociedades onde agora estavam integradas.
Este papel de destaque das mulheres emigrantes portuguesas ganhou uma nova dimensão quando alguns países de acolhimento deram o direito de voto aos portugueses aí residentes e quando as alterações legislativas permitiram uma paridade de direitos cívicos e políticos à nossa Diáspora.
Dou como exemplo a França país onde resido e sobre o qual tenho, naturalmente, um maior conhecimento sobre a comunidade portuguesa no seu todo e muito particularmente no papel que algumas mulheres portuguesas têm vindo assumir no plano local e nacional.
Pelo trabalho político e cívico que desenvolveram no país que as acolheu é hoje perfeitamente natural que sejam essas portuguesas de valor a surgir agora em destaque na vida política francesa, nomeadamente, com a inclusão de candidatas lusas às próximas eleições legislativas com verdadeiras possibilidades de chegar ao Parlamento francês.
Como disse numa outra ocasião, a escolha destas candidatas trouxe para o debate político francês uma componente de origem portuguesa que considero fundamental, ao mesmo tempo que são os instrumentos políticos de uma comunidade notável com uma capacidade de integração sem igual e que contribui, todos os dias, com o seu trabalho, para a vitalidade da economia do país em que residem.
É com verdadeiro orgulho que vejo estas portuguesas a participarem num acto eleitoral num país estrangeiro. Acredito que podem vir a alcançar um excelente resultado, permitindo que tenhamos uma deputada, ou deputadas, oriundas da comunidade portuguesa.
Na verdade, na política não impossíveis e penso que há sempre espaço para todos aqueles que acreditam em ideias e projectos e que trabalham neles para melhorar a vida dos cidadãos. A política tem em vista resolver os problemas dos cidadãos e nesse particular as mulheres, nomeadamente as emigrantes, pelas imensas dificuldades que tiveram de enfrentar, são verdadeiros exemplos de tenacidade e capacidade de vencer.
Carlos Gonçalves
segunda-feira, 5 de março de 2012
DOUTORA NASSALETE MIRANDA - COMISSÁRIA DA eXPOSIÇÃO "FEMININO PLURAL"
COLECTIVA DE PINTIRA E DE ESCULTURA
FEMININO PLURAL
A Arte é o maior espaço de diálogo entre povos e suas culturas.
A Arte é embaixatriz de sentires e de olhares, em movimento cruzado de
gestos intemporais, de palavras desenhadas em pautas, em palco e no
teclado e de metáforas filmadas e esculpidas em barro e em bronze.
A Arte dança em verso e nas telas, e senta-se à mesa com todos os que
levam no bolso um poema e os que abrem a janela ao pôr-do sol.
A Arte de 30 mulheres pintoras e escultoras junta-se neste final de
Outono 2011 no Forum da Maia, no âmbito do 3º Encontro Mundial de
Mulheres Portuguesas na Diáspora, a todas as outras artes da palavra e
da intervenção social e profissional de centenas de mulheres lusas em
partilha policromática de múltiplas formas e texturas.
Esta exposição, que dá pelo nome sugestivo Feminino Plural acontece na
certeza de que é pela Cultura que tudo se combate, da exclusão social à
intervenção política. E acontece pela primeira vez neste âmbito, o que
significa um passo em frente nos propósitos das mulheres da diáspora.
Mulheres portuguesas que mostram a sua arte fora do País, umas
já radicadas há décadas no estrangeiro, como a surrealista Isabel
Meyrelles outras que adoptaram a geografia portuguesa, como a
brasileira “naíf”Constância Néry, a espanhola Ana del Rio, a columbiana
Angela Mathias ou a moçambicana Elsa Lé, mas todas a teimarem nesta
linguagem universal que é a Arte.
Sentir a Cultura impõe-se hoje mais do que ontem e, inevitavelmente,
menos do que amanhã.
Precisa-se sentir a Cultura em crescendo, de mãos dadas e em colectivo
de responsabilidade para com o futuro – esse futuro que começa sempre
no momento.
Sentir a Cultura sem preconceitos, sem barreiras e sem fronteiras é
olhar mais além, é criar raízes de desenvolvimento e de modernidade.
Sentir a Cultura como elemento humano, como um órgão vital da
civilização e da independência dos povos é trabalho de todos e de cada
um.
É neste sentir e empenho em afirmar Portugal pela Cultura que
dizemos PRESENTE: as artistas plásticas, as, e os, participantes no
Encontro, a Associação da Mulher Migrante, a Secretaria de Estado das
Comunidades Portuguesas e a Câmara Municipal da Maia.
Como é “pelo sonho que vamos” é aí, no sonho, que os nossos encontros
e reencontros estão marcados, porque sabemos que onde está uma
portuguesa está um mundo multifacetado de saberes, que áss vezes só
necessita de uma pequena oportunidade para os mostrar.
A História dos povos faz-se assim, de iniciativas que revelam
criatividade, inovação, algum arrojo e uma vontade férrea de fazer
caminho em que os obstáculos são torneados com a solidariedade,
generosidade e sentido de responsabilidade colectiva para o futuro.
Agradeço reconhecida, não só enquanto comissária desta exposição
mas sobretudo como portuguesa, a generosidade de todas as artistas
plásticas que integram esta mostra que pode ser vista e sentida
entre “sorriso” maiatos até 31 de Dezembro.
Nassalete Miranda
Comissária
Directora do jornal cultural “As Artes entre As Letras”
Maia, 24 de Novembro 2011
FEMININO PLURAL
A Arte é o maior espaço de diálogo entre povos e suas culturas.
A Arte é embaixatriz de sentires e de olhares, em movimento cruzado de
gestos intemporais, de palavras desenhadas em pautas, em palco e no
teclado e de metáforas filmadas e esculpidas em barro e em bronze.
A Arte dança em verso e nas telas, e senta-se à mesa com todos os que
levam no bolso um poema e os que abrem a janela ao pôr-do sol.
A Arte de 30 mulheres pintoras e escultoras junta-se neste final de
Outono 2011 no Forum da Maia, no âmbito do 3º Encontro Mundial de
Mulheres Portuguesas na Diáspora, a todas as outras artes da palavra e
da intervenção social e profissional de centenas de mulheres lusas em
partilha policromática de múltiplas formas e texturas.
Esta exposição, que dá pelo nome sugestivo Feminino Plural acontece na
certeza de que é pela Cultura que tudo se combate, da exclusão social à
intervenção política. E acontece pela primeira vez neste âmbito, o que
significa um passo em frente nos propósitos das mulheres da diáspora.
Mulheres portuguesas que mostram a sua arte fora do País, umas
já radicadas há décadas no estrangeiro, como a surrealista Isabel
Meyrelles outras que adoptaram a geografia portuguesa, como a
brasileira “naíf”Constância Néry, a espanhola Ana del Rio, a columbiana
Angela Mathias ou a moçambicana Elsa Lé, mas todas a teimarem nesta
linguagem universal que é a Arte.
Sentir a Cultura impõe-se hoje mais do que ontem e, inevitavelmente,
menos do que amanhã.
Precisa-se sentir a Cultura em crescendo, de mãos dadas e em colectivo
de responsabilidade para com o futuro – esse futuro que começa sempre
no momento.
Sentir a Cultura sem preconceitos, sem barreiras e sem fronteiras é
olhar mais além, é criar raízes de desenvolvimento e de modernidade.
Sentir a Cultura como elemento humano, como um órgão vital da
civilização e da independência dos povos é trabalho de todos e de cada
um.
É neste sentir e empenho em afirmar Portugal pela Cultura que
dizemos PRESENTE: as artistas plásticas, as, e os, participantes no
Encontro, a Associação da Mulher Migrante, a Secretaria de Estado das
Comunidades Portuguesas e a Câmara Municipal da Maia.
Como é “pelo sonho que vamos” é aí, no sonho, que os nossos encontros
e reencontros estão marcados, porque sabemos que onde está uma
portuguesa está um mundo multifacetado de saberes, que áss vezes só
necessita de uma pequena oportunidade para os mostrar.
A História dos povos faz-se assim, de iniciativas que revelam
criatividade, inovação, algum arrojo e uma vontade férrea de fazer
caminho em que os obstáculos são torneados com a solidariedade,
generosidade e sentido de responsabilidade colectiva para o futuro.
Agradeço reconhecida, não só enquanto comissária desta exposição
mas sobretudo como portuguesa, a generosidade de todas as artistas
plásticas que integram esta mostra que pode ser vista e sentida
entre “sorriso” maiatos até 31 de Dezembro.
Nassalete Miranda
Comissária
Directora do jornal cultural “As Artes entre As Letras”
Maia, 24 de Novembro 2011
COMUNICAÇÃO DA PROFª DOUTORA ISABEL PONCE DE LEÃO
Migrações no feminino
Isabel Ponce de Leão
Professora Catedrática
Universidade Fernando Pessoa
CLEPUL
Porto
Aprendí pronto que al emigrar se pierden las muletas que han servido de
sostén hasta entonces, hay que comenzar desde cero, porque el pasado
se borra de un plumazo y a nadie le importa de dónde uno viene o qué
ha hecho antes.
Isabel Allende
O nome de Maria Helena Vieira da Silva andará sempre associado à diáspora
portuguesa, penitente percurso em que Mulher e Pintora assumem a
cumplicidade e a comunhão fraterna inviabilizadoras de destrinça. De facto, a
pintora não existe sem a mulher ou, parafraseando Heidegger, “o artista é a
origem da obra. A obra é a origem do artista. Nenhum é sem o outro”.
Suiça, Paris, Rio de Janeiro, o mundo são lugares onde – onde sente
saudades pátrias e onde reaprende a viver. Artista e mulher carrega o estigma
do isolamento mesmo na sua terra que se lhe tornou madrasta e muito
tardiamente reconheceu a sua genialidade.
A migração foi, porventura, a sua evasão, como aconteceu com outros artistas
e escritores portugueses com quem se relacionou. Refiro-me a Sophia e a
Agustina que, sem abandonarem o solo pátrio, fogem, pela escrita para outras
paragens sempre carentes do regresso. Um outro jeito, não menos doloroso,
de migrar.
Em Longos dias têm cem anos, a propósito de uma visita a casa de Sophia
de Mello Breyner, Agustina Bessa-Luís escreve: “Arpad disse que estavam
ali as três mulheres de mais talento em Portugal. […] Maria Helena pintava,
eu escrevia romances, a Sophia fazia poesia” (Bessa-Luís, 2009: 15-16). E
afastando-se, de imediato, da vertente artística para a humana acrescenta: “A
Sophia era um caso – uma mulher que tem a cortesia de parecer vulnerável.
Eu era um caso – incerteza apaixonada. Vieira era um caso – uma mulher
justa” (Bessa-Luís, 2009: 16).
Estas foram as três mulheres que, incorporando o mistério da criação,
marcaram artística e culturalmente o Portugal do século XX pois perseguiram
com uma notável akribeia o conciliábulo ética / estética através de uma
produção assinalável, em termos quantitativos e qualitativos, instaurando
assim dinâmicas salvívicas. De facto, “se todos os artistas da terra parassem
durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota
de música, fazia-se um deserto extraordinário” (Bessa-Luís, 2008: 20). É
justamente esse deserto que, por elas e com elas, nunca aconteceu dando-nos
conta, como deram, de que “O ponto de partida de todos os sistemas estéticos
deve ser a experiência pessoal de uma emoção particular” (Bell, 2009: 22).
Assim conceberam obras que provocam o que Clive Bell denomina “emoção
estética”.
Colho Vieira da Silva como protagonista e convoco os olhares de Agustina
e de Sophia, que sobre ela recaem, de forma a relevar uma tríade feminina
enformadora de uma diáspora física e mental.
Maria Helena, a pintora, a “mulher justa” a que alude Agustina que, sobre
ela escreveria ainda: “Falava pouco. Olhava, sobretudo. Olhava com uma
intensidade fria, como se estivesse a atravessar um rio e se dividisse entre o
perigo e o prazer. O fundo arenoso onde se recortavam peixes prateados dava-
lhe aquela expressão suspensa e maravilhada; mas, de repente, o remoinho
da água trazia a noção da forte corrente, e, um pouco mais, era a dúvida,
um temor concentrado, a razão alertada. O rosto exprimia angústia, os olhos
abriam-se mais e ganhavam uma cor cristalina” (Bessa-Luís, 2008: 303-304).
Ora este retrato de Agustina ao convocar a linguagem do olhar para
caracterizar Vieira da Silva vem, muito justamente, ao encontro da ideia de
que, e seguindo os ditames de Dilthey (1994), o potencial criativo, longe de
se instituir um processo psíquico especial, emana do quotidiano, do contracto
intrínseco entre o ser humano e as suas vivências, de opções definidas e
assumidas perante as vicissitudes da vida que ora espanta, ora atemoriza
A arte de Maria Helena Vieira da Silva teve a peculiaridade de, citando
Malraux, “transformar a vida em destino” instituindo-se viagem gerada na
legítima emigração de quem procura o espaço favorável à sua expressão sem
nunca negligenciar a sensibilidade marcada pelas suas raízes.
O seu génio pessoal encontrou em Paris o meio adequado à libertação,
à ruptura com uma tradição figurativa sem negligenciar, contudo, a praxis
essencial de analogia com a realidade. É aí que, durante a década de 30,
integra a geração da Nova Escola de Paris mantendo, contudo, alguma
independência de certos –ismos de uma Europa efervescente.
Estava lançado o destino de Maria Helena na sua ligação ao abstraccionismo
propondo obras onde era clara a fragmentação de motivos figurativos num
processo destrutivo das formas significantes em demanda do onírico. Refiro
uma arte que, privilegiando formas e cores, nega temas e figuras e bane o
compromisso com a realidade. Sou, contudo, cauta ao pensar o
abstraccionismo em Vieira da Silva que a própria considera, em entrevista
concedida em 1978, ter sido “uma escolha difícil, mas tinha que partir de
dentro, devia ser uma escolha racional. Para pintar pensando com a cabeça e
fazendo com a mão”. Tinha consciência, Maria Helena, de que “a obra de arte
reflecte-se na superfície da consciência […] [e que] a análise dos seus
elementos constitui uma ponte em direcção à vida interior da obra” (Kandinsky,
2006: 25-26). O seu percurso culmina na abstracção a partir da figuração. Os
pontos, elementos originais da pintura e as linhas oriundas dos seus
movimentos, entram nos planos que têm no quadrado a sua forma
esquemática e original, jogando-se em vibrações dramáticas de modo
a “encontrar a vida, tornar sensível a sua pulsação e verificar a ordem de tudo
o que vive”, evidenciando “que é um trabalho de síntese que conduz às
revelações exteriores” (Kandinsky, 2006: 143). Pode-se afirmar que na sua
pintura “la catégorie spatiale a basculé la catégorie temporelle. Espace et
temps ont révélé leur étroite liaison” (Vallier, 1988: 21). “Depois, Maria Helena
era também consciente de que a sua arte era o repositório de experiências
vividas – onde se destaca a emigração para França – e de uma saturada
atenção aos clássicos” (Ponce de Leão, 2011).
Uma “mulher justa” (Bessa-Luís, 2009: 16) lhe chama Agustina, uma “mulher
[…] que sabe, duma maneira rápida e sem drama, o que é aceitar o mundo: é
perder o direito à inocência” (Bessa-Luís, 2008: 187). Talvez por isso abandona
a Europa no deflagrar da 2.ª Guerra Mundial. Abandono físico porque o
país e a cidade acolhedores – Brasil, Rio de Janeiro – recebem com ela a
amargura que qualquer guerra provoca. É aí que pinta “Le Désastre” (1942),
representação horrenda do conflito europeu, tumultuária, titânica e “vazia
crucificação, onde o acento futurista dum Rossolo parece petrificar-se em gente
feita de estilhas, sob um céu estilhaçado, ou hangar, estrutura mecânica de
um mundo absurdo” (França, 1988: 7). É no Brasil, mas com o pensamento
na Europa que Maria Helena, através deste quadro, bem como de “Le feu”
(1944) e de “Histoire maritime-tragique” (1944), faz a iniciação da sua obra
maior. “Le Désastre” (1942) é “a última pintura possível de uma época, de um
clima pictural, e a primeira a anunciar outra época e outro clima, e a propor-
lhe, pelo absurdo, uma negação de figuração em si própria sensível, mas
terminal” (França, 1988: 8). Trata-se de uma pintura de agouros em que o
encontro da artista com o real se faz de inquietações, interrupções, factos e
memórias. Retomando a figuração pinta os movimentos terríveis da guerra
numa linguagem de occídio só suplantada pelo “Guernica” de Picasso.
Maria Helena demanda, contudo, a verdadeira cidade dos homens e é pelo
paisagismo ou naturalismo abstracto que se liga à cultura dos espaços em
que viveu – França, Brasil, Portugal – inequivocamente testemunhados na
diáspora de uma vida, de uma obra. As suas telas espelham a cumplicidade
que não o corte com as modalidades tradicionais da figuração em sistemas
progressivos sem que com isso pactuem com a utópica ablação do real.
Contornando hierarquias formais, cria os seus valores exclusivos e emana-os
num idiolecto próprio que, fraccionando os espaços, lhes confere uma fluidez
e infinitude metafóricas que demandam a ambiguidade. Nesta ambiguidade
constrói espaços cheios e vazios que convivem na globalidade do quadro
conferindo-lhe movimento. Entre o delírio e o rigor, geometrias várias insinuam
os diferentes sentidos, enquanto processos pictóricos sugerem distâncias e
movimentos.
Enredam-se telas e fios tecidos em memórias longínquas de Portugal,
Brasil e França. E há portas e pontes, gares e baptistérios, bibliotecas e,
muito particularmente labirínticas cidades. É o mundo pictórico das linhas
verticais e horizontais estabelecedoras do dialogismo tempo / espaço na
construção do onírico. Aí se encontram as “Bibliothèques”, por ventura o
seu motivo mais obsessivo (1947-1974), arquivo de memórias, arquivo do
mundo no sentido borgeano do termo. Arquivo do tempo também. Camões,
Pessoa, Sophia, René Char, o tal dos presságios, comparecem como pontos
matriciais de uma trajectória em construção. É através desses lugares de
arquivos de experiências e memórias que ensaia o acesso às cidades, às suas
cidades que se vão descobrindo na tela num lento processo de construção
de espaços múltiplos. Depois surge o traço que fende os limites, estilhaça
a unidade agilizando a bidimensionalidade numa demanda polissémica.
Assim “estratigrafiza a paisagem, desmultiplica construções, arruamentos,
filamentos, estruturas, movimentos. Como se a cidade vista fosse apenas
uma teia de sugestões erguida com a sabedoria de Ariadne” (AA. VV., 2010:
30). “Maisons Grises” (1950), “Blanche” (1958), “Lisbonne” (1962), “Palais des
glaces” (1965), “Gaya” (1971) são apenas algumas das telas-teia que encerram
catedrais, bibliotecas, prédios, jardins, povoamentos de labirínticas cidades.
É delas que se parte num trajecto que vai do deslumbramento perturbador
e inquiridor face ao próprio acto de pintar, até ao esplendor encantatório de
um universo que a pintora vê como locus obsidente e a que abre toda a sua
disponibilidade interior com vista à reedificação.
A ideia de diáspora – voluntária e involuntária – é filão matricial da pintura
de Vieira da Silva. Há uma permanente demanda de novos horizontes na
determinação com que pinta o ausente como se estivesse presente, numa
manifesta sede de infinito.
A esta obsessão pela viagem, a este desejo de transcendência arduamente
tecido cabe a noção de heterotopia a que alude Foulcault. Trata-se de uma
procura dos “lugares que estão fora de todos os lugares” com a capacidade e o
poder “de justapor em um só lugar real vários espaços, vários posicionamentos
que são em si próprios incompatíveis” (Foulcault, 2001: 418). Este desejo, esta
procura dos espaços encontra eco na obra de Sophia, a tal mulher “que tem a
cortesia de parecer vulnerável.” (Bessa-Luís, 2009: 16),
com quem Maria Helena privou e comungou afinidades de lutas e vivências.
A sua pintura projecta-se em poemas labirínticos onde observador e pintor,
poeta e leitor se fundem e confundem no espaço insaciável e sempre iniciático
apenas com paralelo na teia de Penélope. Assim escreve Sophia (2004a: 68)
em “Maria Helena Vieira da Silva ou o Itinerário Inelutável”
Minúcia é o labirinto muro por muro
Pedra contra pedra livro sobre livro
Rua após rua escada após escada
Se faz e se desfaz o labirinto
Palácio é o labirinto e nele
Se multiplicam as salas e cintilam
Os quartos de Babel roucos e vermelhos
Passado é o labirinto: seus jardins afloram
E do fundo da memória sobem as escadas
Encruzilhada é o labirinto e antro e gruta
Biblioteca rede inventário colmeia –
Itinerário é o labirinto
Como o subir dum astro inelutável –
Mas aquele que o percorre não encontra
Toiro nenhum solar nem sol nem lua
Mas só o vidro sucessivo do vazio
E um brilho de azulejos íman frio
Onde os espelhos devoram as imagens
Exauridos pelo labirinto caminhamos
Na minúcia da busca na atenção da busca
Na luz mutável: de quadrado em quadrado
Encontramos desvios redes e castelos
Torres de vidro corredores de espanto
Mas um dia emergiremos e as cidades
Da equidade mostrarão seu branco
Sua cal sua aurora seu prodígio.
Processo de construção labiríntico, obsessivo, sofrido. Sobre este poema diz
Agustina: “é uma das mais belas poesias de Sophia de Mello Breyner, em
que ela deixa conhecer a fascinação: uma certa rigidez da forma acentua a
distância, e assegura a imutabilidade” (Bessa-Luís, 209: 92).
Uma outra diáspora. Os mesmos temas e as mesmas formas ligam as duas
artes e encorpam o movimento duplo de abertura e fechamento que remete
para tudo de quanto paradoxal tem a arte. A voz poética reconstrói uma
paisagem interminável de espaços conhecidos mas não particularizados
por entre os quais o vazio espreita. Os poemas de Sophia e os quadros de
Maria Helena remetem para a concomitância de itinerários paradoxais, como
paradoxais são as figuras que os percorrem – incessante peleja pela libertação
do olhar e do pensamento num também incessante fazer e desfazer da teia.
Também em “Tríptico ou Maria Helena, Arpad e a pintura” (Andresen, 2004b:
10) se presentifica o carácter pictórico da poesia de Sophia bem como a
afeição pela arte de quem, de alguma maneira, provoca a já referida “emoção
estética”:
I
Eles não pintam o quadro: estão dentro do quadro
II
Eles não pintam o quadro: julgam que estão dentro do quadro
III
Eles sabem que não estão dentro do quadro: pintam o quadro
Sophia aproxima-se aqui de um geometrismo onde os actores, sendo também
espectadores, se desdobram entre dois espaços e duas funções. O dentro
e o fora convergem na tela numa clara alusão ao período em que o casal
viveu no Rio de Janeiro. São dessa altura numerosos auto-retratos bem
como o que poderei chamar um processo meta-pictural uma vez que Arpad,
aquele que “pinta como quem ama a realidade – submetendo-a a puríssimos
fragmentos”, (Bessa-Luís, 2009: 21), pintou Maria Helena na feitura de telas,
que fazem parte do seu espólio, numa curiosa troca e acumulação de papéis.
Há na arte de Vieira da Silva uma projecção subjectiva da sua experiência
geracional, instituída pelo trabalho, o dever, a pesquisa que demanda campos
heterotópicos de igual modo observados em certos poemas de Sophia que
acabam por questionar o poder do espaço. O passado ensina “que a evolução
da humanidade consiste na espiritualização de numerosos valores. Entre
estes valores a arte ocupa o primeiro lugar” (Kandinsky, 2008: 48), sobretudo
se, como é o caso, existe uma relação entre a obra e a emoção que a gerou
no artista ou a emoção que ela é capaz de fomentar no espectador / leitor.
Nas telas-teia de Maria Helena e nos poemas-teia de Sophia “adivinham-se
catedrais, labirintos, bibliotecas, jardins, vendavais, arrebatamentos de estio”
(AA. VV. 2010: 32) produtos de itinerâncias físicas e mentais.
Depois há o olhar de Maria Helena, já apreciado por Agustina e também
referido por Sophia (Andresen, 1994: 31):
Atenta antena
Athena
De olhos de coruja
Na obscura noite lúcida
A pintora não existe sem a mulher. Atenção à arte. Tal como Athena pugnou
por Ulisses, Maria Helena pugnará por ela na demanda de Ítaca. Uma Ítaca
perdida na migração e no exílio mas achada pela razão (“Athena”), pela
sabedoria (“coruja”) e por muito muito trabalho que para a pintora foi “um
baptismo e uma extrema-unção […] a sua fé e o seu sacramento maior”
(Agustina, 2009: 172). De facto, a leitura das suas composições, para além
do prazer estético, provoca a percepção de um voluntário hard labour que
desconstrói, para de novo edificar, a paisagem citadina. “Quando Maria Helena
pinta ‘como se obedecesse a uma força superior’, a paz é um absurdo, como
a realidade concreta é um absurdo que é preciso recrear para que se torne
afecto do homem, obra sua” (Bessa-Luís, 2008: 22). Deve-se-lhe o fenómeno
geracional genesíaco do esplendor do abstraccionismo português, que em
muito influenciou nomes como os de Manuel Cargaleiro e Mário Cesariny.
A quebra de identidade, a orfandade cultural, o desenraizamento afectivo
que a sua condição de migrante podia carrear foi contrariada pela arte que,
pospondo molduras jurídicas e institucionais, se tornou elemento coadjuvante
de uma atitude de denúncia ou de chamada de atenção mais branda para
uma visão holística da realidade. Por outro lado, é também à sua condição
migrante1 que Maria Helena deve muita da sua habilidade artística gerada em
experiências vivenciais, em aprendizagens diversas nos espaços que percorreu
como refere Agustina: “Deixou Portugal Vieira da Silva por esperanças que as
montanhas parecem cortar de um lado e conceder o mar pelo outro. São assim
os portugueses, curiosos do que a terra lhes proíbe e ansiosos do mar que lhes
promete. Boas terras pisou Vieira da Silva; escolheu-as decerto para que o
1
Opto por esta denominação em detrimento de e/imigrante, por me parecer que, afinal, o
emigrante se torna imigrante no país de acolhimento, concitando em torno de si os dois
conceitos, ainda que os seus direitos e deveres tenham, naturalmente, características de índole
diversa, direi mesmo, quase antagónicas.
contentamento andasse a par com o trabalho”. (Bessa-Luís, 2009: 135-136)
De facto, “aquele que emigra é como o que vai ao fundo dos abismos onde
nem a morte chega sem medo, para daí trazer uma imagem amada, a imagem
da terra em que se criou. Passa-se muito fora de Portugal para que Portugal
seja mais nosso” (Bessa-Luís, 2008, 93). Talvez por isso seja sistemática
a Presença de Portugal nas telas de Vieira da Silva. Assim, o elemento
paisagístico da terra pátria presentifica-se em obras como “Pour Expliquer
Sintra à Arpad” (1932), “Alentejo” (1960) “Porto” (1962), “Vieux Lisbonne”
(1968), “Lisbonne Bleue” (1969); o pendor folclórico-etnográfico é visível
em “Santo António de Lisboa” (1949) ou “Arraial” (1950); num magnífico díptico
– “A Poesia está na Rua I / II” (1974)2 –, evocador da Revolução dos Cravos
surge uma outra cidade, espaço da liberdade colectiva que a poesia convoca.
Um Portugal policromo, perfeitamente identificado no seu “Testament” (S/A,
1994, s/p) onde se pode ler:
Je lègue à mes amis
[…]
un vermillon pour faire circuler le sang allègrement
un vert mousse pour apaiser les nerfs
un jaune d’or : richesse
[…]
“A grandeza dum espírito está na pluralidade e plenitude da sua sensibilidade.
Todo o vasto espírito é sempre um tanto santo e outro demoníaco. Todo o
artista exagera ou dilui, aviva ou simplifica” (Bessa-Luís, 2008: 22). Poesia,
prosa e pintura com nome de mulher e “para a mulher, não existe a noção de
criação, ela está dentro do mistério, faz parte dele” (Bessa-Luís, 2009: 168).
Cá dentro ou lá fora, migrantes reais ou ficcionais, Maria Helena, Sophia e
Agustina afagam todo esse mistério que envolve a diáspora, “tendência fatal
dos portugueses que se manifesta desde o primeiro bocejo” (Bessa-Luís, 2008:
94). Podem olhar, sem parcimónia umas para as outras; são conscientes de
que a arte serve “para abolir o absurdo” (Bessa-Luís, 2009: 22) e que, tal como
refere Picasso – “Pinto igual que outros escriben su biografia. Los cuadros
terminados son las páginas de mi diário” –, configura a escrita do eu.
Bibliografia
AA. VV. Abstracção. Arte Partilhada. Lisboa: Fundação Millenium bcp, 2010.
2
Sobre esta obra, escreve Agustina (2009, 78): “Quando Sophia Breyner, então deputada
socialista, pediu a Vieira para que ela fizesse um cartaz para festejar o 25 de Abril, o resultado
foi enigmático. Maria Helena pintou, conforme a sua primeira inspiração, algo como uma
igreja em ruínas. […] Nesse momento, em que devia reportar-se a um festim, como Sócrates
convidado a comparecer em casa de Ágaton, onde estarão presentes tanto os retóricos, como
os pedantes e os ricos de Atenas, nesse momento Vieira pinta uma igreja; isto é: deixa-se ficar
solitária, não estranha à festa, mas fiel à sua íntima condição de pessoa imperdoável, como foi
o próprio Sócrates na sua actualidade”.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Dual. Lisboa: Caminho, 2004a.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner Andresen. Ilhas. Lisboa: Caminho, 2004b..
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner Andresen. Musa. Lisboa: Caminho, 1994.
AZEVEDO, Fernando de. Vieira da Silva o longínquo desastre. Colóquio Artes, n.º 77.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,1988, pp. 14-16..
BESSA-LUÍS, Agustina. Dicionário Imperfeito. Lisboa: Guimarães Editores, 2008..
BESSA-LUÍS, Agustina. Longos Dias têm Cem Anos. Lisboa: Guimarães Editores,
2009.
BELL, Clive. Arte. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009.
DILTHEY, Wilhelm. (1994). Sistema de Ética. S. Paulo: Ícone, 1994.
FRANÇA, José-Augusto. Vieira da Silva 1958. Colóquio Artes, n.º 77. Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1988, pp. 5-12.
FOUCAULT, Michel. Outros espaços. Estética: literatura e pintura, música e cinema.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011, pp.411-422.
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70, 2005.
KANDINSKY, Wassily. Gramática da Criação. Lisboa: Edições 70, 2008.
KANDINSKY, Wassily. Ponto, Linha, Plano. Lisboa: Edições 70, 2006.
S / A. Presença de Portugal na obra de Arpad Szenes e Vieira da Silva. Lisboa:
Fundação Arapad Szenes – Vieira da Silva, 1994.
PONCE DE LEÃO, Isabel. Maria Helena Vieira da Silva. Ulyssei@s.
[em linha], Março de 2011. Disponível em searchText=vieira+da+silva&sortBy=nome&page=base_recorddetail&baseid=2&search
=+Pesquisar+&recordid=53>. (Consultado em 10.04.2011).
VALLIER, Dora. Pour Vieira da Silva 1988. Colóquio Artes, n.º 77. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1988, p. 21.
Isabel Ponce de Leão
Professora Catedrática
Universidade Fernando Pessoa
CLEPUL
Porto
Aprendí pronto que al emigrar se pierden las muletas que han servido de
sostén hasta entonces, hay que comenzar desde cero, porque el pasado
se borra de un plumazo y a nadie le importa de dónde uno viene o qué
ha hecho antes.
Isabel Allende
O nome de Maria Helena Vieira da Silva andará sempre associado à diáspora
portuguesa, penitente percurso em que Mulher e Pintora assumem a
cumplicidade e a comunhão fraterna inviabilizadoras de destrinça. De facto, a
pintora não existe sem a mulher ou, parafraseando Heidegger, “o artista é a
origem da obra. A obra é a origem do artista. Nenhum é sem o outro”.
Suiça, Paris, Rio de Janeiro, o mundo são lugares onde – onde sente
saudades pátrias e onde reaprende a viver. Artista e mulher carrega o estigma
do isolamento mesmo na sua terra que se lhe tornou madrasta e muito
tardiamente reconheceu a sua genialidade.
A migração foi, porventura, a sua evasão, como aconteceu com outros artistas
e escritores portugueses com quem se relacionou. Refiro-me a Sophia e a
Agustina que, sem abandonarem o solo pátrio, fogem, pela escrita para outras
paragens sempre carentes do regresso. Um outro jeito, não menos doloroso,
de migrar.
Em Longos dias têm cem anos, a propósito de uma visita a casa de Sophia
de Mello Breyner, Agustina Bessa-Luís escreve: “Arpad disse que estavam
ali as três mulheres de mais talento em Portugal. […] Maria Helena pintava,
eu escrevia romances, a Sophia fazia poesia” (Bessa-Luís, 2009: 15-16). E
afastando-se, de imediato, da vertente artística para a humana acrescenta: “A
Sophia era um caso – uma mulher que tem a cortesia de parecer vulnerável.
Eu era um caso – incerteza apaixonada. Vieira era um caso – uma mulher
justa” (Bessa-Luís, 2009: 16).
Estas foram as três mulheres que, incorporando o mistério da criação,
marcaram artística e culturalmente o Portugal do século XX pois perseguiram
com uma notável akribeia o conciliábulo ética / estética através de uma
produção assinalável, em termos quantitativos e qualitativos, instaurando
assim dinâmicas salvívicas. De facto, “se todos os artistas da terra parassem
durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota
de música, fazia-se um deserto extraordinário” (Bessa-Luís, 2008: 20). É
justamente esse deserto que, por elas e com elas, nunca aconteceu dando-nos
conta, como deram, de que “O ponto de partida de todos os sistemas estéticos
deve ser a experiência pessoal de uma emoção particular” (Bell, 2009: 22).
Assim conceberam obras que provocam o que Clive Bell denomina “emoção
estética”.
Colho Vieira da Silva como protagonista e convoco os olhares de Agustina
e de Sophia, que sobre ela recaem, de forma a relevar uma tríade feminina
enformadora de uma diáspora física e mental.
Maria Helena, a pintora, a “mulher justa” a que alude Agustina que, sobre
ela escreveria ainda: “Falava pouco. Olhava, sobretudo. Olhava com uma
intensidade fria, como se estivesse a atravessar um rio e se dividisse entre o
perigo e o prazer. O fundo arenoso onde se recortavam peixes prateados dava-
lhe aquela expressão suspensa e maravilhada; mas, de repente, o remoinho
da água trazia a noção da forte corrente, e, um pouco mais, era a dúvida,
um temor concentrado, a razão alertada. O rosto exprimia angústia, os olhos
abriam-se mais e ganhavam uma cor cristalina” (Bessa-Luís, 2008: 303-304).
Ora este retrato de Agustina ao convocar a linguagem do olhar para
caracterizar Vieira da Silva vem, muito justamente, ao encontro da ideia de
que, e seguindo os ditames de Dilthey (1994), o potencial criativo, longe de
se instituir um processo psíquico especial, emana do quotidiano, do contracto
intrínseco entre o ser humano e as suas vivências, de opções definidas e
assumidas perante as vicissitudes da vida que ora espanta, ora atemoriza
A arte de Maria Helena Vieira da Silva teve a peculiaridade de, citando
Malraux, “transformar a vida em destino” instituindo-se viagem gerada na
legítima emigração de quem procura o espaço favorável à sua expressão sem
nunca negligenciar a sensibilidade marcada pelas suas raízes.
O seu génio pessoal encontrou em Paris o meio adequado à libertação,
à ruptura com uma tradição figurativa sem negligenciar, contudo, a praxis
essencial de analogia com a realidade. É aí que, durante a década de 30,
integra a geração da Nova Escola de Paris mantendo, contudo, alguma
independência de certos –ismos de uma Europa efervescente.
Estava lançado o destino de Maria Helena na sua ligação ao abstraccionismo
propondo obras onde era clara a fragmentação de motivos figurativos num
processo destrutivo das formas significantes em demanda do onírico. Refiro
uma arte que, privilegiando formas e cores, nega temas e figuras e bane o
compromisso com a realidade. Sou, contudo, cauta ao pensar o
abstraccionismo em Vieira da Silva que a própria considera, em entrevista
concedida em 1978, ter sido “uma escolha difícil, mas tinha que partir de
dentro, devia ser uma escolha racional. Para pintar pensando com a cabeça e
fazendo com a mão”. Tinha consciência, Maria Helena, de que “a obra de arte
reflecte-se na superfície da consciência […] [e que] a análise dos seus
elementos constitui uma ponte em direcção à vida interior da obra” (Kandinsky,
2006: 25-26). O seu percurso culmina na abstracção a partir da figuração. Os
pontos, elementos originais da pintura e as linhas oriundas dos seus
movimentos, entram nos planos que têm no quadrado a sua forma
esquemática e original, jogando-se em vibrações dramáticas de modo
a “encontrar a vida, tornar sensível a sua pulsação e verificar a ordem de tudo
o que vive”, evidenciando “que é um trabalho de síntese que conduz às
revelações exteriores” (Kandinsky, 2006: 143). Pode-se afirmar que na sua
pintura “la catégorie spatiale a basculé la catégorie temporelle. Espace et
temps ont révélé leur étroite liaison” (Vallier, 1988: 21). “Depois, Maria Helena
era também consciente de que a sua arte era o repositório de experiências
vividas – onde se destaca a emigração para França – e de uma saturada
atenção aos clássicos” (Ponce de Leão, 2011).
Uma “mulher justa” (Bessa-Luís, 2009: 16) lhe chama Agustina, uma “mulher
[…] que sabe, duma maneira rápida e sem drama, o que é aceitar o mundo: é
perder o direito à inocência” (Bessa-Luís, 2008: 187). Talvez por isso abandona
a Europa no deflagrar da 2.ª Guerra Mundial. Abandono físico porque o
país e a cidade acolhedores – Brasil, Rio de Janeiro – recebem com ela a
amargura que qualquer guerra provoca. É aí que pinta “Le Désastre” (1942),
representação horrenda do conflito europeu, tumultuária, titânica e “vazia
crucificação, onde o acento futurista dum Rossolo parece petrificar-se em gente
feita de estilhas, sob um céu estilhaçado, ou hangar, estrutura mecânica de
um mundo absurdo” (França, 1988: 7). É no Brasil, mas com o pensamento
na Europa que Maria Helena, através deste quadro, bem como de “Le feu”
(1944) e de “Histoire maritime-tragique” (1944), faz a iniciação da sua obra
maior. “Le Désastre” (1942) é “a última pintura possível de uma época, de um
clima pictural, e a primeira a anunciar outra época e outro clima, e a propor-
lhe, pelo absurdo, uma negação de figuração em si própria sensível, mas
terminal” (França, 1988: 8). Trata-se de uma pintura de agouros em que o
encontro da artista com o real se faz de inquietações, interrupções, factos e
memórias. Retomando a figuração pinta os movimentos terríveis da guerra
numa linguagem de occídio só suplantada pelo “Guernica” de Picasso.
Maria Helena demanda, contudo, a verdadeira cidade dos homens e é pelo
paisagismo ou naturalismo abstracto que se liga à cultura dos espaços em
que viveu – França, Brasil, Portugal – inequivocamente testemunhados na
diáspora de uma vida, de uma obra. As suas telas espelham a cumplicidade
que não o corte com as modalidades tradicionais da figuração em sistemas
progressivos sem que com isso pactuem com a utópica ablação do real.
Contornando hierarquias formais, cria os seus valores exclusivos e emana-os
num idiolecto próprio que, fraccionando os espaços, lhes confere uma fluidez
e infinitude metafóricas que demandam a ambiguidade. Nesta ambiguidade
constrói espaços cheios e vazios que convivem na globalidade do quadro
conferindo-lhe movimento. Entre o delírio e o rigor, geometrias várias insinuam
os diferentes sentidos, enquanto processos pictóricos sugerem distâncias e
movimentos.
Enredam-se telas e fios tecidos em memórias longínquas de Portugal,
Brasil e França. E há portas e pontes, gares e baptistérios, bibliotecas e,
muito particularmente labirínticas cidades. É o mundo pictórico das linhas
verticais e horizontais estabelecedoras do dialogismo tempo / espaço na
construção do onírico. Aí se encontram as “Bibliothèques”, por ventura o
seu motivo mais obsessivo (1947-1974), arquivo de memórias, arquivo do
mundo no sentido borgeano do termo. Arquivo do tempo também. Camões,
Pessoa, Sophia, René Char, o tal dos presságios, comparecem como pontos
matriciais de uma trajectória em construção. É através desses lugares de
arquivos de experiências e memórias que ensaia o acesso às cidades, às suas
cidades que se vão descobrindo na tela num lento processo de construção
de espaços múltiplos. Depois surge o traço que fende os limites, estilhaça
a unidade agilizando a bidimensionalidade numa demanda polissémica.
Assim “estratigrafiza a paisagem, desmultiplica construções, arruamentos,
filamentos, estruturas, movimentos. Como se a cidade vista fosse apenas
uma teia de sugestões erguida com a sabedoria de Ariadne” (AA. VV., 2010:
30). “Maisons Grises” (1950), “Blanche” (1958), “Lisbonne” (1962), “Palais des
glaces” (1965), “Gaya” (1971) são apenas algumas das telas-teia que encerram
catedrais, bibliotecas, prédios, jardins, povoamentos de labirínticas cidades.
É delas que se parte num trajecto que vai do deslumbramento perturbador
e inquiridor face ao próprio acto de pintar, até ao esplendor encantatório de
um universo que a pintora vê como locus obsidente e a que abre toda a sua
disponibilidade interior com vista à reedificação.
A ideia de diáspora – voluntária e involuntária – é filão matricial da pintura
de Vieira da Silva. Há uma permanente demanda de novos horizontes na
determinação com que pinta o ausente como se estivesse presente, numa
manifesta sede de infinito.
A esta obsessão pela viagem, a este desejo de transcendência arduamente
tecido cabe a noção de heterotopia a que alude Foulcault. Trata-se de uma
procura dos “lugares que estão fora de todos os lugares” com a capacidade e o
poder “de justapor em um só lugar real vários espaços, vários posicionamentos
que são em si próprios incompatíveis” (Foulcault, 2001: 418). Este desejo, esta
procura dos espaços encontra eco na obra de Sophia, a tal mulher “que tem a
cortesia de parecer vulnerável.” (Bessa-Luís, 2009: 16),
com quem Maria Helena privou e comungou afinidades de lutas e vivências.
A sua pintura projecta-se em poemas labirínticos onde observador e pintor,
poeta e leitor se fundem e confundem no espaço insaciável e sempre iniciático
apenas com paralelo na teia de Penélope. Assim escreve Sophia (2004a: 68)
em “Maria Helena Vieira da Silva ou o Itinerário Inelutável”
Minúcia é o labirinto muro por muro
Pedra contra pedra livro sobre livro
Rua após rua escada após escada
Se faz e se desfaz o labirinto
Palácio é o labirinto e nele
Se multiplicam as salas e cintilam
Os quartos de Babel roucos e vermelhos
Passado é o labirinto: seus jardins afloram
E do fundo da memória sobem as escadas
Encruzilhada é o labirinto e antro e gruta
Biblioteca rede inventário colmeia –
Itinerário é o labirinto
Como o subir dum astro inelutável –
Mas aquele que o percorre não encontra
Toiro nenhum solar nem sol nem lua
Mas só o vidro sucessivo do vazio
E um brilho de azulejos íman frio
Onde os espelhos devoram as imagens
Exauridos pelo labirinto caminhamos
Na minúcia da busca na atenção da busca
Na luz mutável: de quadrado em quadrado
Encontramos desvios redes e castelos
Torres de vidro corredores de espanto
Mas um dia emergiremos e as cidades
Da equidade mostrarão seu branco
Sua cal sua aurora seu prodígio.
Processo de construção labiríntico, obsessivo, sofrido. Sobre este poema diz
Agustina: “é uma das mais belas poesias de Sophia de Mello Breyner, em
que ela deixa conhecer a fascinação: uma certa rigidez da forma acentua a
distância, e assegura a imutabilidade” (Bessa-Luís, 209: 92).
Uma outra diáspora. Os mesmos temas e as mesmas formas ligam as duas
artes e encorpam o movimento duplo de abertura e fechamento que remete
para tudo de quanto paradoxal tem a arte. A voz poética reconstrói uma
paisagem interminável de espaços conhecidos mas não particularizados
por entre os quais o vazio espreita. Os poemas de Sophia e os quadros de
Maria Helena remetem para a concomitância de itinerários paradoxais, como
paradoxais são as figuras que os percorrem – incessante peleja pela libertação
do olhar e do pensamento num também incessante fazer e desfazer da teia.
Também em “Tríptico ou Maria Helena, Arpad e a pintura” (Andresen, 2004b:
10) se presentifica o carácter pictórico da poesia de Sophia bem como a
afeição pela arte de quem, de alguma maneira, provoca a já referida “emoção
estética”:
I
Eles não pintam o quadro: estão dentro do quadro
II
Eles não pintam o quadro: julgam que estão dentro do quadro
III
Eles sabem que não estão dentro do quadro: pintam o quadro
Sophia aproxima-se aqui de um geometrismo onde os actores, sendo também
espectadores, se desdobram entre dois espaços e duas funções. O dentro
e o fora convergem na tela numa clara alusão ao período em que o casal
viveu no Rio de Janeiro. São dessa altura numerosos auto-retratos bem
como o que poderei chamar um processo meta-pictural uma vez que Arpad,
aquele que “pinta como quem ama a realidade – submetendo-a a puríssimos
fragmentos”, (Bessa-Luís, 2009: 21), pintou Maria Helena na feitura de telas,
que fazem parte do seu espólio, numa curiosa troca e acumulação de papéis.
Há na arte de Vieira da Silva uma projecção subjectiva da sua experiência
geracional, instituída pelo trabalho, o dever, a pesquisa que demanda campos
heterotópicos de igual modo observados em certos poemas de Sophia que
acabam por questionar o poder do espaço. O passado ensina “que a evolução
da humanidade consiste na espiritualização de numerosos valores. Entre
estes valores a arte ocupa o primeiro lugar” (Kandinsky, 2008: 48), sobretudo
se, como é o caso, existe uma relação entre a obra e a emoção que a gerou
no artista ou a emoção que ela é capaz de fomentar no espectador / leitor.
Nas telas-teia de Maria Helena e nos poemas-teia de Sophia “adivinham-se
catedrais, labirintos, bibliotecas, jardins, vendavais, arrebatamentos de estio”
(AA. VV. 2010: 32) produtos de itinerâncias físicas e mentais.
Depois há o olhar de Maria Helena, já apreciado por Agustina e também
referido por Sophia (Andresen, 1994: 31):
Atenta antena
Athena
De olhos de coruja
Na obscura noite lúcida
A pintora não existe sem a mulher. Atenção à arte. Tal como Athena pugnou
por Ulisses, Maria Helena pugnará por ela na demanda de Ítaca. Uma Ítaca
perdida na migração e no exílio mas achada pela razão (“Athena”), pela
sabedoria (“coruja”) e por muito muito trabalho que para a pintora foi “um
baptismo e uma extrema-unção […] a sua fé e o seu sacramento maior”
(Agustina, 2009: 172). De facto, a leitura das suas composições, para além
do prazer estético, provoca a percepção de um voluntário hard labour que
desconstrói, para de novo edificar, a paisagem citadina. “Quando Maria Helena
pinta ‘como se obedecesse a uma força superior’, a paz é um absurdo, como
a realidade concreta é um absurdo que é preciso recrear para que se torne
afecto do homem, obra sua” (Bessa-Luís, 2008: 22). Deve-se-lhe o fenómeno
geracional genesíaco do esplendor do abstraccionismo português, que em
muito influenciou nomes como os de Manuel Cargaleiro e Mário Cesariny.
A quebra de identidade, a orfandade cultural, o desenraizamento afectivo
que a sua condição de migrante podia carrear foi contrariada pela arte que,
pospondo molduras jurídicas e institucionais, se tornou elemento coadjuvante
de uma atitude de denúncia ou de chamada de atenção mais branda para
uma visão holística da realidade. Por outro lado, é também à sua condição
migrante1 que Maria Helena deve muita da sua habilidade artística gerada em
experiências vivenciais, em aprendizagens diversas nos espaços que percorreu
como refere Agustina: “Deixou Portugal Vieira da Silva por esperanças que as
montanhas parecem cortar de um lado e conceder o mar pelo outro. São assim
os portugueses, curiosos do que a terra lhes proíbe e ansiosos do mar que lhes
promete. Boas terras pisou Vieira da Silva; escolheu-as decerto para que o
1
Opto por esta denominação em detrimento de e/imigrante, por me parecer que, afinal, o
emigrante se torna imigrante no país de acolhimento, concitando em torno de si os dois
conceitos, ainda que os seus direitos e deveres tenham, naturalmente, características de índole
diversa, direi mesmo, quase antagónicas.
contentamento andasse a par com o trabalho”. (Bessa-Luís, 2009: 135-136)
De facto, “aquele que emigra é como o que vai ao fundo dos abismos onde
nem a morte chega sem medo, para daí trazer uma imagem amada, a imagem
da terra em que se criou. Passa-se muito fora de Portugal para que Portugal
seja mais nosso” (Bessa-Luís, 2008, 93). Talvez por isso seja sistemática
a Presença de Portugal nas telas de Vieira da Silva. Assim, o elemento
paisagístico da terra pátria presentifica-se em obras como “Pour Expliquer
Sintra à Arpad” (1932), “Alentejo” (1960) “Porto” (1962), “Vieux Lisbonne”
(1968), “Lisbonne Bleue” (1969); o pendor folclórico-etnográfico é visível
em “Santo António de Lisboa” (1949) ou “Arraial” (1950); num magnífico díptico
– “A Poesia está na Rua I / II” (1974)2 –, evocador da Revolução dos Cravos
surge uma outra cidade, espaço da liberdade colectiva que a poesia convoca.
Um Portugal policromo, perfeitamente identificado no seu “Testament” (S/A,
1994, s/p) onde se pode ler:
Je lègue à mes amis
[…]
un vermillon pour faire circuler le sang allègrement
un vert mousse pour apaiser les nerfs
un jaune d’or : richesse
[…]
“A grandeza dum espírito está na pluralidade e plenitude da sua sensibilidade.
Todo o vasto espírito é sempre um tanto santo e outro demoníaco. Todo o
artista exagera ou dilui, aviva ou simplifica” (Bessa-Luís, 2008: 22). Poesia,
prosa e pintura com nome de mulher e “para a mulher, não existe a noção de
criação, ela está dentro do mistério, faz parte dele” (Bessa-Luís, 2009: 168).
Cá dentro ou lá fora, migrantes reais ou ficcionais, Maria Helena, Sophia e
Agustina afagam todo esse mistério que envolve a diáspora, “tendência fatal
dos portugueses que se manifesta desde o primeiro bocejo” (Bessa-Luís, 2008:
94). Podem olhar, sem parcimónia umas para as outras; são conscientes de
que a arte serve “para abolir o absurdo” (Bessa-Luís, 2009: 22) e que, tal como
refere Picasso – “Pinto igual que outros escriben su biografia. Los cuadros
terminados son las páginas de mi diário” –, configura a escrita do eu.
Bibliografia
AA. VV. Abstracção. Arte Partilhada. Lisboa: Fundação Millenium bcp, 2010.
2
Sobre esta obra, escreve Agustina (2009, 78): “Quando Sophia Breyner, então deputada
socialista, pediu a Vieira para que ela fizesse um cartaz para festejar o 25 de Abril, o resultado
foi enigmático. Maria Helena pintou, conforme a sua primeira inspiração, algo como uma
igreja em ruínas. […] Nesse momento, em que devia reportar-se a um festim, como Sócrates
convidado a comparecer em casa de Ágaton, onde estarão presentes tanto os retóricos, como
os pedantes e os ricos de Atenas, nesse momento Vieira pinta uma igreja; isto é: deixa-se ficar
solitária, não estranha à festa, mas fiel à sua íntima condição de pessoa imperdoável, como foi
o próprio Sócrates na sua actualidade”.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Dual. Lisboa: Caminho, 2004a.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner Andresen. Ilhas. Lisboa: Caminho, 2004b..
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner Andresen. Musa. Lisboa: Caminho, 1994.
AZEVEDO, Fernando de. Vieira da Silva o longínquo desastre. Colóquio Artes, n.º 77.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,1988, pp. 14-16..
BESSA-LUÍS, Agustina. Dicionário Imperfeito. Lisboa: Guimarães Editores, 2008..
BESSA-LUÍS, Agustina. Longos Dias têm Cem Anos. Lisboa: Guimarães Editores,
2009.
BELL, Clive. Arte. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009.
DILTHEY, Wilhelm. (1994). Sistema de Ética. S. Paulo: Ícone, 1994.
FRANÇA, José-Augusto. Vieira da Silva 1958. Colóquio Artes, n.º 77. Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1988, pp. 5-12.
FOUCAULT, Michel. Outros espaços. Estética: literatura e pintura, música e cinema.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011, pp.411-422.
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70, 2005.
KANDINSKY, Wassily. Gramática da Criação. Lisboa: Edições 70, 2008.
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