segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

MARIA ANTÓNIA JARDIM O Ovo do sagrado Feminino


PENSAR A LÍNGUA NO FEMININO


A Sacerdotisa celebra
A Papisa abençoa
A Fada põe a virtude
A Maga mexe o caldeirão
O Sagrado Feminino nasce
Sujeito, verbo, complemento?
Com que sintaxe?
Pessoa
Acção
Escolha
A gramática da vida muda
O feminino pré-estutura a vida
Adivinha
Metáfora
Ovo
Vestido do sol e da lua
Mistério
Mulher

Maria Antónia Jardim

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015





MULHERES MIGRANTES ELEITAS para o CCP 2015

MARIA VIOLANTE MARTINS, presidente da Associação das Mulher Migrantes Portuguesas da Argentina, MILÚ DE ALMEIDA e FÁTIMA PONTES, Presidente e Vice-presidente da Associação da Mulher Migrante da Venezuela, concorreram às eleições para o CCP, neste mês de setembro de 2015, como cabeças de lista e venceram. Entraram no Conselho pelo voto das suas comunidades e entraram também na história desta instituição e na do movimento associativo, que lhe dá força identitária e personalidades com um saber de experiência feito em terra estrangeira..
Chegam as três de um associativismo feminino, que, pela primeira vez, na nossa Diáspora ultrapassa as fronteiras de uma região ou de um país, e inclui nos seus principais objetivos a igualdade de participação cívica e política das mulheres. Pela primeira vez, vimos as suas dirigentes a tomar a iniciativa de constituir listas para o CCP - listas abertas, paritárias - a fim de assumirem a defesa dos intereses das comunidades a que pertencem e dos seus compatriotas no interior do órgão que os representa face ao governo de Portugal.
O CCP foi inicialmente um universo de homens, que dominavam as intituições das comunidades - sua primordial base de recrutamento, nos termos da lei fundadora. Aliás, ainda hoje, num modelo de eleição por sufrágio universal, a maioria dos seus membros são homens, a que acresce uma minoria de mulheres, quase todas e todos provenientes do viveiro de lideranças e de notoriedade, que é o associativismo.
É certo que, desde o começo do século XX, coexistiam em algumas das então chamadas "colónias" da emigração portuguesa um amplo círculo das organizações masculinas e um pequeno círculo feminino, uma elite pioneira, que, em casos contados, deu vida a empreendimentos de ampla dimensão - por exemplo, as sociedades fraternais da Califórnia. Todavia, as mulheres dirigentes de ONG's, qualquer que fosse o seu poder de facto, nos anos 80, não se sentiram suficientemente motivadas para intervir numa instância consultiva, à qual o Governo reconhecia uma enorme importância, como plataforma para debate de questões prioritárias e definição das grandes linhas das políticas públicas neste setor. A que se deve o alheamento mais ou menos voluntário das mulheres? Não é fácil dar respostas a uma interrogação que, de início, não se colocou, talvez por se considerar - tal era a desproporção da sua presença no todo institucional - uma inevitabilidade. Talvez pelo facto de funcionarem em paralelo, à margem do associativismo-padrão, onde pontificava o outro sexo. Ou - é uma outra hipótese plausível - por terem o seu enfoque matricial em domínios que julgaram fora das prioridades do CPP - a entreajuda entre as próprias associadas, o voluntariado beneficente, o puro bem-fazer, em conformidade com a tradição.
Como sabemos, o movimento feminista de novecentos veio colocar a tónica na defesa dos direitos de cidadania e no acesso à educação e ao trabalho profissional ( sem abandonar a vocação beneficente e humanitário), mas não curou nunca, diretamente, da situação das mulheres migrantes. Estas foram, de facto, insolitamente esquecidas. Marginalização, na altura, tanto mais definitiva quanto nas Diásporas, não surgiu, de uma forma autónoma e espontânea, militância num ativismo norteado pela ideia da igualdade, no campo político e social. O obra visível das portuguesas expatriadas na esfera pública floresceu, como dissemos, sobretudo, em moldes menos reivindicativos, mais consonantes com uma configuração consevadora dos papéis de género.
As primeiras conselheiras do CCP ganharam o lugar nessa magna assembleia de líderes comunitários, não pela dinâmica coletiva (feminina), antes tão só pela vontade de intervenção cívica e pelo prestígio individualmente grangeado entre os seus pares. Não é surpreendente que tenham vindo sobretudo do jornalismo - caso de CUSTÓDIA DOMINGUES, de MARIA ALICE RIBEIRO, desde 1983 e , depois, de MANUELA DA LUZ CHAPLIN, advogada, que mantinha uma colaboração regular e importante na imprensa luso americana..
Creio que MANUELA DA ROSA, fundadora da Liga da Mulher Portuguesa da África do Sul, terá sido a primeira conselheira oriunda de uma estrutura feminina (aliás não "feminista", no sentido revolucionário ou, pelo menos, fortemente reivindicativo, da palavra). Não tendo tido, provavelmente em razão do sexo, acesso a cargos de relevo na hierarquia do Conselho, nem por isso deixou de ter sempre uma voz influente, tal como aquelas cujos nomes acima lembrámos.
A uma conselheira deve o CCP o ficar na história como o improvável, mas autêntico, impulsionador do embrião de políticas atentas às especificidades da situação das migrantes . Foi Maria Alice Ribeiro, quem propôs, em 1984, uma audição governamental de portuguesas da Diáspora, que a SECP levou a cabo logo em 1985. Foi um auspicioso primeiro passo, que se queria continuar, com a formação de uma organização internacional, no plano da sociedade civil, e, a nível das políticas governamentais, através de conferências periódicas na órbita do Conselho - uma forma hábil de inclusão das mulheres na vertente consultiva do Conselho.
A Associação "Mulher Migrante" foi criada, quase uma década depois, em 1993, para reavivar aquela valiosa herança, levando por diante o projeto de ampla cooperação transnacional para uma participação igualitária na vida das comunidades e do país.
O segundo CCP é posterior (1996) e não tem manifestado, até agora, particular propensão para agir no domínio da igualdade de género, apesar de em muitos outros campos ter sido um poderoso e insubstituível instrumento de co -participação nas políticas de emigração, de expansão da língua e da cultura portuguesas, de aprofundamento dos laços com o País de origem e de integração no país de residência.
É a hora de o CCP se preocupar mais com os fenómenos de exclusão não só da metade feminina, como também dos mais idosos e experientes, dos jovens, da nova emigração. Para isso, contamos com a intervenção das Mulheres Migrantes e com os aliados que, com toda a probabilidade, encontrarão no interior do Conselho.
Apesar de a Associação Mulher Migrante - a que está sedeada em Lisboa, com ramificações pelo mundo - não ter tido qualquer interferência na apresentação das candidaturas ou nas campanhas vitoriosas das suas associadas da Argentina e da Venezuela, vè nelas a comprovação da eficácia de uma estratégia de envolvimento cívico das portuguesas do estrangeiro, desenvolvida, em colaboração com sucessivos governos, sobretudo a partir dos "Encontros para a Cidadania", nas Américas, África e Europa entre 2005 e 2009, continuados com os Encontros mundiais de 2011 e 2013 e outras ações integradas no que podemos chamar "congressismo". Daí que partilhemos o sabor e o significado destas vitórias, com um sentimento de esperança num CCP mais próximo da realidade das comunidades e mais eficaz, porque o equilíbrio de género é, obviamente, uma mais valia. da representação democrática

Maria Manuela Aguiar

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

DE MALACA, os votos de JOAN MARBECK , BONG NATAL

Dear Manuela, I am glad to hear from you and hope you are very well. Yes, Christmas is here again and I am anxiously awaiting for my eldest son David to be home.
Yes, although still being a little lame because of my arthiritis and Type 2 Diabetes, I persevere passionately in the dissemination of my precious secret Language of Malaysian-Eurasian Community. There are struggles and opposition at times coming from the Community but nothing for me is too big to overcome. It is my privilege to preserve this beautiful language of my people and I will do it till the end.
Yes, Manuela I shall translate what I have written above into Kristang and a few lines more as my little contribution to the your 2015 Publication. I hope the little message below will meet with your approval. Keep well and happy till we meet again.
Bong Natal kung Bong Anu Nobu
Ung Grandi Abrasah - Joan Margaret Marbeck.

Kristang Translation:
Kaiya Manuela, Yo mutu allegrih ubih bos teng bong. Seng, Natal ta beng! Kung tantu ansiada, yo sperah yo sa krensa David beng Kaza di Switzerland pra Natal.
Seng, yo agora pun jah fikah empoku empodih andah, kontu yo sa ossu ngkah fossa mas. Yo pun teng Dibitis. Sorti, sorti mizinia yo misteh tomah kontu yo kereh fikah fossa lantah peu -mang, skribeh nus sa Linggu ateh tudu jenti na Malasia kung jenti di mas tantu otru Terra dah respetu kung nos sa singku sentu anu Linggu Kristang. Isti jah fikah yo sa ramedi. Yo nadih parah ateh yo mureh.
Keng-keng kereh yosa Kristang discionario- The Commemorative Bahasa Serani Dictionary, podih komprah isti na Heeren House, na No. 1 Heeren Street na Malaka, pra justu RM5 ( Singku pataka ). Keng-keng kereh prendeh skribeh isti Linggu podih olah na pagina FACEBOOK yosa, - Joan Margaret Marbeck. Yo skribeh sorti-sorti na Linggu Kristang. Otru dia yo jah dah nomi-nomi Kumiria Kristang pra Natal kung Kukis-Kukis Kristang pra Natal.
Bong Natal kung Bong Anu nobu tudu.
Ung grandi abrasah.
Joan Margaret Marbeck

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015




Precilia, a menina que um dia sonhou viver em Portugal...


« A França está em estado de guerra », declara o Presidente da República francesa, François Hollande, nos primeiros minutos do dia 14 de Novembrode 2015. Precisamente na véspera, quiseram apagar a luz da Cidade Luz. A luz das Luzes, essas Luzes que venceram os obscurantismos de todo o tipo, essas Luzes que levaram Paris a ser o coração que bateu numa célebre Revolução, há 226 anos, que teve por base essa ideia fantástica que “os homens nascem livres e iguais em direitos”... Desde a Revolução Francesa, até essa trágica noite de 13 de Novembro de 2015, foi para a França, mas também para o resto do mundo, a escolha de arrasar a vida vivida, a vida festejada, a vida em conjunto. E eramos todos alvo: eu e você, o francês de gema ou mais recente, o refugiado, o migrante, o europeu e o estrangeiro, que passará a ser francês ou não, mas para quem a geografia da França «Abre como uma palma aos sopros do mar. Para que o pássaro do largo venha para cá e se entregue». (Nathalie de Oliveira, vereadora luso-francesa, na câmara municipal de Metz, França e membro das Comissões Nacionais do PS, França e Portugal, outro excelente exemple de « ponte » bem conseguida)


Assim descreve a Nathalie o estado de sítio onde se encontra França, no acordar da fatídica sexta-feira 13 de Novembro de 2015, uma data que ficará nas nossas memórias pelas razões todos e mais alguma, mas uma que tem a ver com o ponto focado no texto, o da integração, assimilação, acolhimento,…na sociedade francesa, com a simbologia de ver morrer no mesmo local, o Bataclan, pelo menos dois luso-descendentes, sendo um terrorista e outro, vítima, ambos nascidos em França, de casais mistos, mas com uma ligação a Portugal e à França, completamente opostas. Será isso que ditou o percurso radicalmente diferente, apesar do infortúnio da morte quase igual ? Quase, porque Quem vai ficar para a história, tanto francesa como portuguesa, é a Precilia Correia. No Observatório dos Luso-Descendentes, pelo menos, vamos querer mantê-la viva, como símbolo de ligação a Portugal de todos os filhos da Diáspora portuguesa.


A vida e a história da Precilia davam de facto um « case-study » ou um estudo muito interessante sobre todos os clichés e ideias bem arrumadas e reconfortantes sobre migrações e os seus supostos padrões e verdades absolutas. Fruto de uma união entre um luso-descendente 1.5 e uma francesa mononacional, portanto luso-descendente de 2ª geração 2.0, a Precilia tinha todas as probabilidades da sua ligação a Portugal já ser « diluida » como dizem a maior parte dos investigadores na matéria… « essa ligação só se mantém mesmo para quem nasce em Portugal ». Pois é, ou não é, nem tudo é branco ou preto, em nada na vida e ainda menos no "poliedro" que constitui a história das migrações, como repete incansavelmente a Dra Maria Beatriz Rocha Trindade….


No caso da Precilia Correia, como provavelmente de milhares de luso-descendentes bem instalados, integrados (e não « espalhados ») pelo Mundo, a sua ligação a Portugal era tão forte que até tinha o sonho de viver em Portugal, para sempre, e conseguiu, de certa forma, mas não em vida, infelizmente, apesar das várias tentativas…Foi numa delas, há 4 anos atrás, que se aproximou da nossa organização, o Observatório dos Luso-Descendentes, onde encontrou um porto de abrigo, face aos problemas e falta de resposta com que se deparou, nomeadamente a impossibilidade de arranjar um emprego que lhe permitiria ficar e construir uma vida em Portugal… à imagem de tantos outros jovens portugueses da mesma geração, e nascidos em Portugal. Porque seria diferente para ela? Antes pelo contrário, sentiu na pele uma certa discriminação que só não aconteceu no processo de tirar a carta de condução, que foi o que levou de Portugal, para além das centenas de fotografias que não se cansava de tirar de Lisboa e da sua gente e cuja beleza denota a sensibilidade e amor, com que o fazia… símbolo do amor pelo país das suas origens !


No caso do pai da Precília, ele sim, nasceu em Portugal, acompanhou os pais para França, com 7 anos de idade, sendo então um luso-descendente 1.5, mas sem ligação a Portugal, antes pelo contrário! Já quase não domina a língua portuguesa, nem ele nem os pais vão ser sepultados em Portugal, e não queria que a filha o fosse. e muito menos entende esse desejo dela em vida!


E contrariando todos os cenários dos especialistas, é a mãe da Precilia, francesa, nascida em França de 2 pais franceses, divorciada há muitos anos do pai da Precilia, que cultiva quase religiosamente essa ligação: fez questão de manter o apelido português, comprou um apartamento em Almada, onde vem quase mensalmente passar fins de semana e férias…e foi a única a lutar pela concretização do sonho da filha de « ser enterrada em Portugal, no caso de falecer mais cedo, no cemitério com vista para o Rio ».


Face ao apelo dessa mãe desesperada perante as reticências do pai e as dificuldades burocráticas do lado português, decidimos ajudar, como organização amiga e solidária da Precilia, na concretização desse derradeiro sonho dela, tão simbólico de um dos objectivos de trabalho do Observatório dos Luso-descendentes, que é de criar pontes com a Diáspora Luso-Descendente do Mundo inteiro….que laço de amor mais forte poderiamos querer tecer ?


Em suma, gostaria de concluir de maneira muito sintética, porque o texto já vai longo, pois achei que era necessário esta pormenorização dos « retratos da E/I migração envolvidos »para deixar muitas portas abertas de reflexão sobre a dificuldade e o perigo de etiquetar movimentos migratórios, mas sobretudo uma mensagem de esperança para a gestão da diáspora portuguesa, assim como temas de estudos sociológicos práticos. Será que a grande diferença no percurso de pesquisa identitária (sentida pela maioria dos Luso-Descendentes numa fase ou noutra das suas vidas) da Precilia Correia e do Ismaël Mostefai se deveu, à primeira ter arranjado uma esperança na sua ligação à Portugal, enquanto que o segundo a preencheu com ilusões islamistas radicais? O que/quem falhou na transmissão dos valores? O  que deveria/deverá ser feito?
Tenho esperança por ti e graças a ti... Merci Precilia, até sempre, pois vamos recordar-te!

Emmanuelle AFONSO, Presidente Fundadora do O.L.D (Observatório dos Luso-Descendentes)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O CCP e as POLÍTICAS de GÉNERO


1- Num momento em que o CCP, renovado por um processo eleitoral, tem de repensar a sua atuação, para ocupar, mais e melhor, o espaço privilegiado, que é o seu, no diálogo e cooperação entre portuguesas e portugueses do mundo inteiro e na sua representação perante o Governo, a diplomacia, as entidades públicas de Portugal (e não só, mas também face, aos meios de comunicação nacionais, a sociedade civil), num momento em que está essencialmente voltado para hoje e amanhã, é interessante lançar um olhar retrospetivo sobre a sua evolução, em especial no que respeita ao equilíbrio de participação de género, de gerações, de formação profissional e experiência de vida, de comunidades antigas e recentes, de áreas geográficas....
Como tornar esta singular instituição mais inclusiva, mais democrática, mais capaz de levar a Lisboa toda uma grande diversidade de situações em mudança e de problemas, novos ou recorrentes, a solucionar na emigração?.
São aspetos da maior importância para que o CCP cumpra as expetativas e os meios nele investidos. Todavia, nesta breve reflexão iremos considerar, antes de mais, a primeira forma de equilíbrio acima mencionada, por ser uma daquelas em que o CCP fez história, por razões muito diversas, e em que se espera, no futuro próximo grandes progressos. A paridade, globalmente, é ainda uma meta utópica, mas já foi alcançada em alguns países, como a Venezuela, a Argentina, Macau.

2- Na sua primeira vida, entre 1981 e 1988, o CCP era eleito dentro do círculo das associações de nacionais, tal como acontecia com o Conselho francês, à época o único de natureza governamental existente na Europa. Espelhava, naturalmente, a realidade de um universo associativo de rosto masculino: não havendo entre os seus representantes uma única mulher.Um outro segmento era composto por membros dos órgãos de comunicação social, numa rotação entre os da imprensa escrita e dos meios audiovisuais e foi no interior deste segundo grupo que se registaram, nas eleições de 1983, as primeiras presenças femininas, Maria Alice Ribeiro (Canadá) e Custódia Domingues (França).
Era de menos, e, em 1984, a reação veio de dentro do próprio Conselho, durante a reunião regional da América do Norte, pela iniciativa de Maria Alice Ribeiro, do Canadá . Foi ela que propôs a convocação de um encontro mundial de Portuguesas do estrangeiro, A ideia obteve aí um fácil consenso e o governo deu-lhe sequência logo no ano seguinte, na cidade de Viana do Castelo. A seleção das participantes foi feita com base em comunicações apresentadas por mulheres dirigentes na esfera associativa ou envolvidas na atividade jornalística - as duas vertentes em que se centrava, nessa data, como dissemos, o CCP. Mulheres com voz, influência, cargos diretivos eram, nos anos 80, uma minoria - como, apesar de um inegável progresso, ainda são, agora, na generalidade das comunidades. A elite feminina presente em Viana distinguiu-se pela sageza, pela abertura de espírito e deu a um encontro histórico a marca da sua visão e capacidade de chegar a consensos e de pensar o futuro.
Falaram da especificidade de género nas migrações, mas também da emigração como um todo - o ponto de vista feminino, até essa altura ignorado, desconhecido, sobre sociedades em transformação, às quais queriam poder dar, livre e responsavelmente, a sua parte - e, por isso, ousaremos concluir que essa primeira audição governamental foi uma espécie de "Conselho no feminino", preenchendo um vazio absoluto, convertendo-se em prenúncio de leis e programas visando a paridade, que tardaram décadas. De facto, logo em 1987, a SECP iniciou o processo de instituição de uma Conferência para a Igualdade de Participação, que, a par de outras conferências temáticas, iria funcionar na órbita do Conselho. Mas, no verão desse ano, caiu o Governo, e com o novo Executivo caiu o CCP e tudo o que com ele se relacionava, como era o caso das conferências periódicas.

3- Um parêntesis para realçar o facto do Encontro de Viana ser inédito, em termos europeus (e, ao que se afirmou, nas sessões d 1º Encontro, universais, pois ninguém tinha conhecimento de convocatória semelhante por parte de um governo face às suas expatriadas). Portugal era, por sinal, um Estado improvável para se tornar pioneiro neste domínio, pois as suas políticas foram, desde a era da colonização à das migrações contemporâneas, um exemplo negativo e retrógrado, quando comparado com Espanha e outros países culturalmente próximos, como destaca um dos maiores historiadores da Expansão, CR Boxer.
A discriminação manteve-se ao longo do século XX, até à revolução do 25 de abril, visto que a saída das mulheres foi sempre mais dificultada do que a dos homens, apesar desta ser, também, quase continuamente, condicionada ou limitada por leis e repressão policial. E nem mesmo a revolução democrática, que trouxe a completa liberdade de emigrar para mulheres e homens, significou, de imediato, ações concretas em favor da igualdade de participação, que, dentro de fronteiras, era prosseguida sobretudo pela Comissão para a Condição Feminina (uma designação que foi objeto de sucessivas mudanças e hoje se denomina Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género).
Esta visão territorialista da questão da igualdade de género foi, pois, subita e inesperadamente, invertida em 1984/85, rompendo com a indiferença tradicional e antecipando medidas que as organizações internacionais e o direito comparado só viriam a adotar muitos anos depois. Lembrá-lo é uma forma de homenagear as pioneiras do Conselho das Comunidades, que eram tão poucas quanto notáveis e estiveram, em 1993, entre as fundadoras da Associação Mulher Migrante.

4- Na sua segunda vida, em 1996, o CCP tornou-se um órgão eleito por sufrágio direto e universal, seguindo os novos moldes dos congéneres espanhóis, italiano e francês (este a partir de grandes alterações introduzidas a partir de 1982). Mas, de facto, em muitos domínios, (ensino, cultura, segurança social, recuperação da nacionalidade, participação cívica e política) as suas recomendações foram numa linha de continuidade.
Apesar da fraca proporção de mulheres conselheiras, o CCP não retomou, a nível das reuniões plenárias ou regionais, a ideia de um forte chamamento cívico da metade feminina a uma intervenção mais ativa no quotidiano do Conselho e das comunidades. As exceções foram o Canadá, com Maria Alice Ribeiro (sempre ela!) e Manuel Leal, que colocaram esta problemática nas prioridades da agenda do Conselho local - dinamizando, com sucesso, colóquios e work shops em diversas cidades - os EUA, com Manuela Chaplin e João Morais e o Uruguai, com Luis Panasco Caetano, que se envolveu ativamente na promoção do associativismo feminino no sul da América .
O impulso para a participação mais igualitária, dentro da instituição acabou por vir de fora, não em cumprimento de uma recomendação dos conselheiros, mas em consequência da aplicação a este órgão dos princípios básicos da Lei da Paridade, que rege a composição do Assembleia da República, das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas e das Autarquias
E, por acaso, fruto da cronologia eleitoral, a primeira experiência da aplicação da chamada "lei das quotas" foi justamente a elaboração das listas para o Conselho. Um teste positivo, já que a proporção da mulheres aumentou graças ao novo dispositivo legal e elas provaram a sua igual competência para o exercício de funções. Porém, não se pode dizer que o reconhecimento da sua competência se tenha traduzido na importância dos cargos institucionais, a que (não) têm sido chamadas. Refiro-me, por exemplo, à presidência do CCP ou das suas múltiplas comissões.
No passado distante ou próximo, esta verdadeira "assembleia" dos portugueses do estrangeiro foi, sempre, no que respeita a cargos formais, um "mundo de homens", ficando muito longe do exemplo da Assembleia da República, onde presidência, vice-presidência, chefia de delegações internacionais, dos grupos parlamentares e de comissões por deputadas já não é surpresa..
.
5- A composição do Conselho saído das eleições de setembro passado, está muito longe da igualdade de género, com apenas 12 mulheres conselheiras, com a paridade a ser alcançada em poucos países. A Venezuela figura nos anais da instituição, com a liderança feminina das listas vencedoras no conjunto das duas áreas consulares, com os nomes de Milú de Almeida e de Fátima Pontes, que encabeçaram listas rigorosamente paritárias. O mesmo se diga da Argentina, com Maria Violante Martins, e de Macau, com Rita Santos - ambas presidiram às listas mais votadas.
O  feito não decorre de imposição da lei, que não exige tanto - é função de uma realidade comunitária, concretamente do associativismo (e no caso da Venezuela e da Argentina do associativismo feminino), em que as mulheres se distinguem. A verdade da intervenção cívica e associativa feminina teve, assim, reflexos diretos nas candidaturas e no voto popular, e com isso perfez o ideal democrático.
Há anos que esta tendência para a subida a patamares de igualdade se vem acentuando na Venezuela, graças a um associativismo feminino em rápido e generalizado crescimento. Sem esquecer o papel desempenhado há décadas pela Sociedade de Beneficência das Damas Portuguesas de Caracas, penso na recente proliferação de movimentos de solidariedade, de convívio, de cultura - entre os quais, as Academias da Espetada e, mais recentemente, com uma intensa agenda centrada em aspetos culturais e sociais e na intervenção cívica, a Associação Mulher Migrantes da Venezuela, que, a partir de Caracas e Valência, se vem expandindo por todo o país..

6- O movimento feminino em algumas, raras, comunidades lusas, sobretudo das Américas, caso paradigmático dos EUA e, em particular, da Califórnia, tem um longa e admirável trajetória. Algumas das suas principais dirigentes estiveram presentes no Encontro de 1985, onde surgiu a ideia da criação de uma organização mundial de mulheres portuguesas.Todavia não foi possível concretiza-la nos anos seguintes, Na década de 90, a Associação Mulher Migrante veio retomar esse projeto e . em 1995, convocou um novo encontro mundial  -  o maior até hoje realizado em Portugal. 20 anos depois, a "Mulher Migrante" tem uma rede que se estende, ainda que de forma díspar, pelos vários continentes, e vê, nas comunidades onde a implantação é mais forte, caso da Argentina e da Venezuela, dirigentes suas a fazerem história no CCP - história da própria instituição, história do feminismo e história da emigração e Diáspora.
 Elas são o presente, e serão o futuro do envolvimento das mulheres na vida cívica, mulheres a intervir, lado a lado, com os homens, para resolver as grandes questões que se põem na sua comunidade, ao serviço do País - é para isso que querem direitos iguais. Concretamente no CCP, para lutarem por mudanças, que lhe permitam, mais e melhor, trabalhar, divulgar o trabalho feito, impulsionar os estudos sobre as migrações, contribuir para a federalização do associativismo, para a inclusão dos grupos mais marginalizados (como têm sido coletivamente as mulheres).
Queremos um CCP mais conhecido (e mais reconhecido por tudo o que tem feito!), dando no interior do país a imagem das portuguesas e dos portugueses da Diáspora e a cada comunidade a imagem do país, que é o seu.

Maria Manuela Aguiar
Dezembro de 2015

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Embaixador Luis Cristina de Barros sobre Carlos Correia

" CONHECI O CARLOS CORREIA , HÁ 20 ANOS . NA ALTURA , ESTAVA EU
COLOCADO NA EMBAIXADA EM LUANDA . O CARLOS CHEGOU UNS MESES DEPOIS ,
VINDO DO GABINETE DE UM ANTERIOR SECRETÁRIO DE ESTADO DAS COMUNIDADES
. AO FIM DE POUCO TEMPO , JÁ ÉRAMOS AMIGOS , E A NOSSA AMIZADE FOI-SE
REFORÇANDO , MAIS E MAIS , ATÉ AO DIA EM QUE FOI TRAGICAMENTE
INTERROMPIDA , QUANDO ELE " SE APAGOU " , À MINHA FRENTE , NO INÍCIO
DE MAIS UM DAQUELES ALMOÇOS , ONDE FALÁVAMOS DE TUDO E DE NADA , EM
CAVAQUEIRA ABERTA E CÚMPLICE .

ERA UM HOMEM NATURALMENTE TÍMIDO E CONCILIADOR , QUE SÓ SE ABRIA
VERDADEIRAMENTE COM QUEM ELE CONSIDERAVA SER SEU AMIGO . MAS TAMBÉM
ERA DE UMA INEXCEDÍVEL AMABILIDADE , LEALDADE E SENSIBILIDADE (
FACILMENTE SE COMOVIA ) PARA COM AQUELES COM QUEM TRABALHAVA , MUITAS
VEZES COM O SACRIFÍCIO DA SUA VIDA FAMILIAR . ERA UM HOMEM DE FAMÍLIA
- ADORAVA A FILHA , QUE ERA A MENINA DOS SEUS OLHOS ,A MULHER , OS
NETOS E O GENRO .

ORGULHO-ME DE QUE TIVESSE SIDO MEU AMIGO , E ESTOU CERTO DE QUE O
MESMO SENTIMENTO É PARTILHADO POR TODOS OS QUE TIVERAM O PRIVILÉGIO DE
SER SEUS AMIGOS . SEMPRE O LEMBRAREMOS COM IMENSA SAUDADE , E TAMBÉM
PELOS MARAVILHOSOS MOMENTOS DE CONVÍVIO , QUE JUNTOS TODOS TIVEMOS .

Mulheres no CCP CONSELHEIRA DRª FÁTIMA PONTES

La dimensión y proyección de la Mulher  Migrante en una Comunidad pluralista, en Venezuela

La mujer Luso-Descendiente tiene un papel protagónico, productivo y relevante, por su experiencia dada, por la valoración ética del trabajo de los inmigrantes llegados, en los años de 1940 a la actualidad, siempre con una línea de solidaridad y compañerismo, democratizando ese algo nuevo, que va más allá de la experiencia a lo sencillo.
El papel significativo de la Mujer Migrante en Venezuela, donde estamos inmersos en este siglo XXI, es que vamos a hacer, las promotoras de la inclusión, de la experiencia, la sencillez e integración participativa, en los conceptos básicos de una sociedad pluralista, donde se comienza a reivindicar sus derechos, su autonomía, su profesionalidad, su imagen, su abnegación, sus valores, su Asociativismo; y de llevar con orgullo la herencia cultural dada por sus padres.
La Asociación Mulher Migrante en Venezuela, es una institución destacada, ya que estamos realizando un trabajo de contacto, de la mano de cada persona, en cada ciudad donde se crean los nuevos comités regionales de la asociación. Esto con el fin de comprender, el fenómeno de las verdaderas necesidades que acarrea en cada punto, ejemplo palpante, lo vimos en la Isla de Margarita, con una necesidad muy grande de aprender el idioma portugués, y no hay sitios, ni personal docente, donde estudiar dicho idioma. En Venezuela queremos ahondar en este punto, ya que notamos la necesidad, de que se abran más cursos y que sea validado por el Ministerio de Educación de Portugal, para así garantizar la educación y la potencialidad de los Lusos-Descendientes.
Para culminar, como Luso-descendiente, en este largo devenir de mi trabajo dentro del Asociativismo, y mi profesión en Venezuela; quiero expresar mi gran agradecimiento a la Asociación Mulher Migrante de Venezuela, por darme la oportunidad y apoyarme para llegar a ser electa Conselheira Das Comunidades Portuguesas de la Región Centro-Occidental de Venezuela. Fue muy destacada, ya que esta Asociación, inscribió una lista para dichas elecciones y obtuvo tres (3) Conselheiros de los seis (6) que necesitábamos en Venezuela. O sea obtuvimos la mitad. Todo un éxito.  Mis compañeros ganadores en la lista de Mulher Migrante son, la Dra. Milú Almeida y el Sr. Leonel Moniz Da Silva.
Existe la buena voluntad, el trabajo, la experiencia y la idea de llevar con orgullo el día a día, el arco iris de la vida, de nuestro Portugal y de Venezuela, que hoy marca la diferencia, de ser libre y democrática, en una sociedad pragmática, conservadora, multifacética y pluralista.

Pd. Dra. María Fátima De Pontes Loreto.
Conselheira electa Das Comunidades
Portuguesas en Venezuela.

A dimensão e projecção da Mulher  Migrante numa Comunidade pluralista, em Venezuela


La mujer Luso-Descendiente tiene un papel protagónico, productivo y relevante, por su experiencia dada, por la valoración ética del trabajo de los inmigrantes llegados, en los años de 1940 a la actualidad, siempre con una línea de solidaridad y compañerismo, democratizando ese algo nuevo, que va más allá de la experiencia a lo sencillo.

O papel significativo da Mulher Migrante em Venezuela, onde estamos inmersos neste século XXI, é que vamos fazer, as promotoras da inclusão, da experiência, a singeleza e integração participativa, nos conceitos básicos de uma sociedade pluralista, onde se começa a reivindicar seus direitos, sua autonomia, sua profesionalid, sua imagem, sua abnegación, seus valores, seu Asociativismo; e de levar com orgulho a herança cultural dada por seus pais.

A Associação Mulher Migrante em Venezuela, é uma instituição destacada, já que estamos a realizar um trabalho de contacto, da mão da cada pessoa, na cada cidade onde se criam os novos comités regionais da associação. Isto com o fim de compreender, o fenómeno das verdadeiras necessidades que acarreta na cada ponto, exemplo palpante , vimo-lo na Ilha de Margarita, com uma necessidade muito grande de aprender o idioma português, e não há lugares, nem pessoal docente, onde estudar dito idioma. Em Venezuela queremos afundar neste ponto, já que notamos a necessidade, de que se abram mais cursos e que seja validado pelo Ministério de Educação de Portugal, para assim garantir a educação e a potencialidade dos Lusos-Descendentes.

Para culminar, como Luso-descendente, neste longo devir de meu trabalho dentro do Asociativismo, e minha profissão em Venezuela; quero expressar meu grande agradecimento à Associação Mulher Migrante de Venezuela, por dar-me a oportunidade e apoiar-me para chegar a ser eleita Conselheira Dás Comunidades Portuguesas da Região Centro-Ocidental de Venezuela.
Foi muito destacada, já que esta Associação, inscreveu uma lista para ditas eleições e obteve três (3) Conselheiros dos seis (6) que precisávamos em Venezuela. Ou seja obtivemos a metade. Tudo
um sucesso.  Meus colegas ganhadores na lista de Mulher Migrante são, a Dra. Milú Almeida e o Sr. Leonel Moniz Dá Silva.

Existe a boa vontade, o trabalho, a experiência e a ideia de levar com orgulho no dia a dia, o arco íris da vida, de nosso Portugal e de Venezuela, que hoje marca a diferença, de ser livre e democrática, numa sociedade pragmática, conservadora, multifacética e pluralista.

Pd. Dra. María Fátima De Pontes Loreto.
Conselheira eleita Dás Comunidades
Portuguesas em Venezuela.