domingo, 16 de novembro de 2014

Prof Doutora Isabelle Oliveira

DISCURSO DE ABERTURA

MIGRAÇÕES, QUE PERSPECTIVAS?

24 de Junho de 2014

Universidade da Sorbonne – Salle Bourjac

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Na minha qualidade de Directora, é com muita honra e um

imenso prazer que recebo todos os presentes e, também gostaria de

vos dar as mais calorosas boas-vindas, neste espaço da Sorbonne

– símbolo magistral da mobilidade e da confrontação das ideias,

do diálogo espontâneo entre pensadores oriundos dos horizontes

mais longínquos e alicerçado numa prática da diplomacia do saber

que, para nós, se traduz na nossa capacidade e na nossa aspiração

de trabalhar em conjunto e de partilhar o saber que cumulamos e

aprimoramos além-fronteiras, com o objectivo comum de melhorar a

Para entrar no cerne da temática que nos reúne hoje,

começaria este meu intrometimento com o seguinte: “Se nos

preocupamos realmente com o futuro da diáspora portuguesa, não

repitamos os erros do passado”.

 Lembro que, em todas as análises sobre os tempos que correm

duas palavras são constantes: mudança e crise no seu sentido lato.

Na realidade, uma e outra fazem parte da nossa própria evolução. A

primeira inspirou um dos mais belos sonetos de Camões, o poeta que

identificamos com o País, em que observa que "o mundo é composto

de mudança, tomando sempre novas qualidades". Só que agora os

tempos se aceleraram e as mudanças, por vezes demasiado rápidas

e bruscas, deixam-nos como que desamparados e muitas vezes sem

Julgo, por isso, que devemos lançar um novo olhar sobre

a nossa diáspora muito mais exigente, e acreditar no seu futuro

potencial que passa também pelo olhar que temos de nós próprios. E

esse tem de ser um olhar auto-confiante.

Respeitados pelo seu trabalho, pela sua dinâmica, e

pela integração exemplar nos tecidos sociais locais, os nossos

compatriotas são hoje a imagem de um Portugal bem longe dos

clichés do passado. Sucesso e ambição de uma boa parte nos

diferentes sectores de actividade, sobretudo das novas gerações, não

resultaram no afastamento em relação ao país de origem, mesmo

quando a ideia do regresso se perdeu num passado longínquo por

se sentirem simplesmente rejeitados e relegados para um segundo

plano. Pelo contrário, a grande maioria mantém vivo o orgulho

nas suas raízes lusitanas e uma relação de afectividade profunda

com Portugal. Devemos por isso olhar a diáspora portuguesa sem

paternalismos caducos e avaliá-la por aquilo que na realidade

representa no mundo. Se “onde há portugueses, há Portugal”, é

nosso dever ir além de actos esporádicos de suposto apoio, como

que num afago de grande sentimentalismo da nossa portugalidade,

trabalhando em conjunto com eles para pôr em relevo e capitalizar

o progressos e destaque que têm logrado no estrangeiro e de que

Portugal pode e deve beneficiar ao longo dos tempos e sobretudo se

Gostaria aqui de lhes prestar um tributo: eles representam,

em geral, enfrentando o risco e assumindo a ambição, o Portugal

que quer seguir em frente; e isso contrasta com o “Portugal do medo

mergulhado em saudosismos” que, dentro das suas fronteiras, tantas

vezes alimenta pessimismo e inacção.

Para concluir, tal como afirmou Jean-Jacques Rousseau: «Sem

vontade, não há acção verdadeira». É neste espírito de empenho

contínuo, e com uma vontade renovada de enfrentar os desafios, que

vos convido a empreender o debate e a chegar a conclusões valiosas

e instrutivas para a vossa acção futura. Gostaria de congratular a

Associação Mulher Migrante, em particular a Dra Manuel Aguiar e a

Dra Rita Gomes, por todo o trabalho que já empreenderam e que

ainda têm pela frente dentro desta nova realidade das migrações,

e termino esta minha alocução desejando-vos um excelente dia de

partilha e de trabalhos frutíferos!

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